Alma errada- Mário Quintana

Alma errada- Mário Quintana

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

Mário Quintana

Declaração de males

Declaração de males

 Ilmo. Sr. Diretor do Imposto de Renda.

Antes de tudo devo declarar que já estou, parceladamente, à venda.
Não sou rico nem pobre, como o Brasil, que também precisa de boa parte do meu dinheirinho.
Pago imposto de renda na fonte e no pelourinho.
Marchei em colégio interno durante seis anos mas nunca cheguei ao fim de nada, a não ser dos meus enganos.
Fui caixeiro. Fui redator. Fui bibliotecário.
Fui roteirista e vilão de cinema. Fui pegador de operário.
Já estive, sem diagnóstico, bem doente.
Fui acabando confuso e autocomplacente.
Deixei o futebol por causa do joelho.
Viver foi virando dever e entrei aos poucos no vermelho.
No Rio, que eu amava, o saldo devedor já há algum tempo que supera o saldo do meu amor.
Não posso beber tanto quanto mereço, pela fadiga do fígado e a contusão do preço.
Sou órfão de mãe excelente.
Outras doces amigas morreram de repente.
Não sei cantar. Não sei dançar.
A morte há de me dar o que fazer até chegar.
Uma vez quis viver em Paris até o fim, mas não sei grego nem latim.
Acho que devia ter estudado anatomia patológica ou pelo menos anatomia filológica.
Escrevo aos trancos e sem querer e há contudo orgulhos humilhantes no meu ser.
Será do avesso dos meus traços que faço o meu retrato?
Sou um insensato a buscar o concreto no abstrato.
Minha cosmovisão é míope, baça, impura, mas nada odiei, a não ser a injustiça e a impostura.
Não bebi os vinhos crespos que desejara, não me deitei sobre os sossegos verdes que acalentara.
Sou um narciso malcontente da minha imagem e jamais deixei de saber que vou de torna-viagem.
Não acredito nos relógios… the pule cast of throught… sou o que não sou (all that I am I am not).
Podia ter sido talvez um bom corredor de distância: correr até morrer era a euforia da minha infância.
O medo do inferno torceu as raízes gregas do meu psiquismo e só vi que as mãos prolongam a cabeça quando me perdera no egotismo.
Não creio contudo em myself.
Nem creio mais que possa revelar-me em other self.
Não soube buscar (em que céu?) o peso leve dos anjos e da divina medida.
Sou o próprio síndico de minha massa falida.
Não amei com suficiência o espaço e a cor.
Comi muita terra antes de abrir-me à flor.
Gosto dos peixes da Noruega, do caviar russo, das uvas de outra terra; meus amores pela minha são legião, mas vivem em guerra.
Fatigante é o ofício para quem oscila entre ferir e remir.
A onça montou em mim sem dizer aonde queria ir.
A burocracia e o barulho do mercado me exasperam num instante.
Decerto sou crucificado por ter amado mal meu semelhante.
Algum deus em mim persiste
mas não soube decidir entre a lua que vemos e a lua que existe.
Lobisomem, sou arrogante às sextas-feiras, menos quando é lua cheia.
Persistirá talvez também, ao rumor da tormenta, algum canto da sereia.
Deixei de subir ao que me faz falta, mas não por virtude: meu ouvido é fino e dói à menor mudança de altitude.
Não sei muito dos modernos e tenho receios da caverna de Platão: vivo num mundo de mentiras captadas pela minha televisão.
Jamais compreendi os estatutos da mente.
O mundo não é divertido, afortunadamente.
E mesmo o desengano talvez seja um engano.
Paulo Mendes Campos  

Texto extraído do livro “O amor acaba”, Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 259, organização de Flávio Pinheiro.

O amor, quando se revela…- Fernando Pessoa

O amor, quando se revela…- Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa

Por que não eu?

Por que não eu?

Oportunidades não são iguais para todos; sobretudo num país como o nosso, onde a equidade, além de ser um sonho distante, não é um desejo legítimo e unânime. Há muitos que, gozando de situação social privilegiada, não fazem questão alguma de modificá-la; outros tantos, sequer pensam a respeito. Há ainda, aqueles que já estiveram expostos às vicissitudes da vida, as mais diversas; mas, tendo conseguido acesso a condições melhores, esquecem-se de suas origens. Não nos esqueçamos, também, daqueles que embora empreguem inúmeros esforços, enfrentam dificuldades e privações. No entanto; e felizmente, há uma categoria de gente que, com muitos, poucos ou quase nenhum recurso, encontram jeito, tempo e lugar para doar-se. Exatamente! Doar-se! Porque para doar a si, não é necessário dispor de “coisas”; basta dispor de vontade e algum amor.

Um pouco de reflexão e de disposição para sair do “modo automático”, de repente, é capaz de abrir diante de nós um leque de descobertas inquietantes. As grandes tragédias, por exemplo. Somos apresentados, com alguma frequência a situações de catástrofe que, em sua magnitude, arrebatam vidas, destroem bens, desestruturam famílias. O choque da notícia, ao invadir nossa rotina, causa espanto, medo, comoção. Mas, com o passar dos dias, a tragédia do outro vai ocupando cada vez menos espaço na mídia e na nossa vida, sendo substituída por outras manchetes mais impactantes e ficando relegadas às gavetas do esquecimento.

Esquecer é nosso maior recurso de proteção. Esquecemos as dores sofridas, esquecemos amores perdidos, esquecemos dificuldades vividas. Caso não nos fosse concedida a bênção do esquecimento, enlouqueceríamos em pouquíssimo tempo. Por sorte, ou felicidade, os acontecimentos e pessoas mais extraordinárias de nossas vidas ficam guardadas com a prima mais amorosa do esquecimento, a memória. Guardamos na memória cantinhos de vida que nos tocaram, pela doçura, dureza ou sobressalto; guardamos pessoas que vieram morar dentro de nós, pela relevância ou delicadeza; guardamos tombos inesquecíveis, conquistas inolvidáveis, aprendizados indispensáveis.

Aprendemos que cabem a nós tarefas e missões das quais não podemos e nem devemos querer escapar. Aprendemos que o tempo, esse sábio senhor, guarda tudo em seu lugar, a depender de sua proporção e importância. Aprendemos que duas mãos unidas fazem do peso insuportável, um fardo possível de carregar. Aprendemos que as melhores coisas que podemos conquistar não podem ser guardadas em cofres. Aprendemos que sem frio na barriga a vida não passa de um carrossel enfadonho e previsível. Aprendemos que a nossa parte é tudo aquilo que honrarmos acolher, com coragem na alma, luz nos olhos e doçura no coração.

E, no decorrer do caminho, vamos tendo encontros felizes com pessoas intensas e admiráveis que, só por existirem já fazem brotar na gente o que de melhor podemos ser. Porque toda gente, tem em si um brilho que é só seu; um atributo único, feito para iluminar a vida com seu jeito de existir no mundo.

Há Pedros, Marianas e Sofias que, sendo ainda tão jovens, exibem em seu caráter, integridade, afetividade e coragem para abraçar carreiras, não apenas por seu retorno ou notoriedade, mas pelo compromisso que assumiram em fazer o outro sentir-se acolhido, protegido e respeitado; que fazem a gente ousar acreditar que o ser humano ainda é digno de confiança. Há Joãos de corações enormes, cujo maior objetivo na vida é cuidar de todos com desvelado carinho, sem distinção; cujo abraço imenso não escolhe a quem abrigar, socorrer e acalentar; cuja simplicidade desconcertante, guarda um homem íntegro, honesto e amoroso. Há Elianes, que são capazes de amar seus pais, com amor desmedido de mãe; que têm sempre um colo pronto para quem dele precisar; que ofertam sempre uma palavra boa para iluminar a gente por dentro; que são pura alegria, mesmo quando têm inúmeros motivos para estarem tristes. Há Marias que parecem nunca se cansar, não conhecer dificuldades e ter a capacidade de carregar no peito, como filhos, todo aqueles que a quiserem chamar de mãe; que são o lastro da família, o chão, o teto e as paredes desse lugar sagrado que chamamos de lar. Há Rosanas, Paulos e Mirians que amam, como se fossem seus, sobrinhos postiços que a vida trouxe de presente; que tem as mãos sempre firmes e prontas a acolher mais um irmão ou irmã; que são queridos e respeitados por sua retidão e generosidade. Há Beths que estão sempre prontas a nos ouvir; a guardar nossos segredos; a nos fazer ficar fortes, mesmo quando morremos de medo; que nos amam pelo que somos, sem nunca julgar os nossos erros, por mais assustadores que eles sejam. Há Rosas, que são puro amor; que acolhem o irmão sem teto, dando-lhe além do alimento físico, razões para acreditar que a vida ainda vale a pena; que se transformam em palhacinhas amorosas para levar sorrisos a rostinhos cuja alegria foi roubada pela doença. Há Ricardos e Rodrigos que tiveram o capricho de nascer juntos, no mesmo dia, no mesmo ventre; homens honrados e talentosos, com almas antigas e corações de menino; que são amados e admirados por sua genuína e imensa capacidade de amar.

Há, enfim, jeitos infinitos de transmutar esse mundo num lugar menos árido, mais possível e mais digno. Há inúmeras oportunidades, não de receber apenas. Mas de oferecer, de coração, alguma parte mais bonita de nós. Que os Pedros, Sofias, Joãos, Elianes, Marias, Rosanas, Paulos, Mirians, Beths, Ricardos e Rodrigos nos sirvam de estrela, a guiar nossa vontade, na direção do desejo de fazer diferente e diferença. E, se formos capazes de enxergar no outro a sua porção mais humana e iluminada, comecemos fazendo uma pequena parte hoje, mais uma amanhã, e depois, e depois. Pois essa pequena parte há de crescer, germinar e se espalhar. Assim, se a vida espera que tenhamos o atrevimento para assumir a difícil missão de subverter a ordem desigual, cabe perguntar, por fim: Por que não eu? – Por que não você? – Por que não nós?

A gente tem que continuar…

A gente tem que continuar…

Algumas séries me fisgam pelas beiradas. São frases, ditas no meio de um episódio, que me levam a refletir os últimos acontecimentos de minha vida, e de repente estou apaixonada pelas personagens, feito a Teresa, de “Três Teresas”, na noite de ontem. Lá pelas tantas, a frase: “O mundo da gente começa a morrer antes da gente… e a gente tem que continuar…” _ Pronto. Foi a deixa para meu pensamento voar, entender alguns desencaixes, suportar certas partidas, colocar algumas peças no lugar.

A gente tem que continuar mesmo depois que o arroz queima, a água seca, o vinho entorna. A gente continua depois de descobrir que os defeitos pioram com a idade e as qualidades viram hábito no dia a dia. A gente tem que continuar depois do luto, da partida, da despedida, das horas frias, do caminho incerto. A gente continua e aprende a cantar “apesar de você, amanhã há de ser outro dia…” para o amor que não deu certo, para as falhas recorrentes, para nós mesmos que nem sempre somos aqueles que gostaríamos de ser. Apesar de nós mesmos, de nossas fissuras e desencantos, a gente tem que continuar…

E aprendemos que ter que continuar é muito mais que traçar um caminho que justifique nossa esperança por dias melhores. É saber deixar pra trás com sabedoria, entendendo que a vida é constituída de muitas histórias, e que finalizar um capítulo não significa dar fim ao que somos.

O mundo da gente começa a morrer antes da gente, e aceitar nossa responsabilidade em deixar o mundo se modificar, se despedir ou se transformar requer coragem. Coragem de romper com modelos antigos do que fomos e assumir com maturidade novas versões _ muitas vezes melhores _ de nós mesmos.

De vez em quando nos habituamos a antigos nós. Preferimos a dificuldade do que é conhecido à facilidade de novos e perfeitos voos. Desdenhamos a felicidade como quem se empenha em ser infeliz e construímos muros a nos proteger da vida que chega trazendo ares de esperança e novidade. Preferimos nos refugiar no que é conhecido, e nem sempre melhor.

Muita esperança chega junto ao fim de ano e a promessa de novos dias, limpinhos, pra gente escrever a história da melhor maneira que puder. Talvez precisemos aprender a aceitar as novas realidades que inevitavelmente ocorrerão.
Haverá a mãe que terá que se adaptar ao fim da licença maternidade, a adolescente que verá seu namoro ruir, o homem que receberá o pedido de divórcio numa manhã aparentemente comum, a senhorinha que vai enviuvar, os pais que levarão seu menino ao aeroporto para fazer intercâmbio, a menina que verá o fim da infância num teste de gravidez, a decepção do jovem, o casamento da moça dos sonhos, o ninho vazio, as novas dores da maturidade, a traição, o recomeço, a renegociação com a vida.

Talvez seja isso. Aprender a renegociar com a vida, descobrindo que novas portas estão sendo abertas, mesmo que haja a tendência de nos fixarmos em cadeados fechados. O mundo da gente começa a morrer antes da gente, mas o futuro também guarda boas surpresas, e o que se pode chamar de “nosso mundo” não existe só no passado, mas na realidade que construímos diariamente e somente nós podemos lapidar.

A gente tem que continuar. Que os dias tragam o reconhecimento de nossos presentes, dádivas reais que permanecem além da morte de nosso mundo ou de um tempo. O que ninguém nos tira: a capacidade de nos recriarmos em qualquer tempo. A alegria de nos percebermos resistindo, apesar de tudo. A satisfação de percebermos nossa coragem. E finalmente, a paz de nos aceitarmos por inteiro.

Imagem: Via pinterest, por Edouard Boubat

Não, não deixa a vida te levar, não. Esse trabalho é teu mesmo.

Não, não deixa a vida te levar, não. Esse trabalho é teu mesmo.

Faz um favor a ti mesmo e a nós todos: assume a tua responsabilidade. Não “deixa a vida te levar”, não. Isto só funciona no samba. Nem o próprio cantor que deu fama ao chavão acredita. Ele trabalha, canta, grava, ensaia, dá entrevistas. Se deixasse mesmo que “a vida” o levasse sozinha, ficaria em casa esperando tudo cair do céu. E não é o caso.

Pensa, criatura. Se deixares “a vida” te levar, assim, feito mágica, na brisa, sem nada fazeres a respeito, ela vai levar-te, sim, mas direto, sem escalas, para o fim mais fácil e óbvio de todos: a tua morte sem mais, ora essa.

Para, mas para já, de levar fé em lugar comum, fórmula fácil, solução mágica. Tu não vais ganhar na loteria se não fizeres tuas apostas. E, cá entre nós, tem gente que faz isso toda semana, há um milhão de anos, e jamais foi sorteado. Então, facilitemos as coisas: é bem provável que tu jamais ganhes na loteria.

Sonho sem plano é tempo jogado no lixo. Tu podes sonhar, sim. É claro que podes. Mas dá aí o teu jeito de realizar o que sonhas. Pensa a respeito, encontra caminhos, investiga saídas. Na pior das hipóteses, vais perceber que sonhavas o sonho errado e vais largar o osso, partir para outra, seguir em frente.

Quem não trabalha pelo que sonha é qual cachorro correndo atrás do próprio rabo. Mas quem se deixa levar pelo vento, inerte, conformado, esperando sentado que a vida faça por ele o que ele devia fazer por ela é pior ainda: é um tronco morto boiando à deriva.

O máximo que a vida faz sozinha é existir. Pronto. Ganhaste a vida! Ela é tua. Parabéns! Agora, o resto é de tua alçada. Agradece e vai. Vai ganhá-la de fato. És tu quem deve levar a vida a algum lugar. E não o contrário!

Sê feliz e agradece, sim. Muito. Agradece por acordares de manhã. E segue teu rumo. Ao trabalho! Para de pedir a Deus o que é de teu departamento conseguir. Ele ajuda, mas tu tens de fazer a tua parte. É certo que Deus só dá o que é de teu merecimento. Ele ajuda a quem sai em busca, quem toma o leme, agarra as rédeas, aperta o passo e segue para onde quer e pode.

Não, não deixa a vida te levar, não. Isto é uma fantasia boboca e irresponsável. Só funciona no samba. Se o fizeres, vais jogar no lixo o que te foi dado de mais sagrado e valioso: a vida e a chance de levá-la adiante.

Quem espera que a vida caminhe sozinha é gente chata, enfadonha e cansativa. Vive clamando e reclamando dela. Faz de tudo, simpatia, promessa, dívida, menos o óbvio: tornar-se dono e senhor da própria vida, tomá-la pela mão e levá-la adiante.

Vai, pega tuas coisas, te apronta e sai. Leva tua vida em frente que esse trabalho é teu. Toma teu rumo. Esse trabalho é só teu.

Sou da época em que as coisas eram feitas para durar, inclusive o amor

Sou da época em que as coisas eram feitas para durar, inclusive o amor

Olhando ao nosso redor com um pouco mais de atenção, percebemos que todos parecemos estar passando pela vida sem olhar à nossa volta, sem sair de nós mesmos, de nosso mundinho egoísta e apressado. Não dispomos de tempo, tampouco de disposição, para relaxar e prestar atenção no que ocorre além de nós, no que vive lá fora, tão perto, mas tão longe.

A tecnologia avança num ritmo frenético, a ponto de tornar obsoletos produtos recém-lançados, promovendo o consumismo desenfreado de objetos que cairão em desuso dali a pouco. Tudo, aliás, parece ter duração curta: as músicas, os artistas, os eletrodomésticos, as roupas, os produtos, e, infelizmente, os sentimentos acabam entrando nesse rol material, perdendo em muito sua essência humana.

Talvez porque as pessoas confiavam mais umas nas outras, quando o mundo não era tão competitivo, ou porque se preocupavam menos com a necessidade de possuir itens que carregassem status, fato é que antigamente éramos mais amigos uns dos outros. Vizinhos conheciam-se e relacionamentos duravam, resistindo ao tempo e ao espaço, tudo isso sem internet. Os sentimentos tinham longuíssima duração, pois moravam em nós.

Hoje não se retém nada por muito tempo, nem conhecimento, nem objetos, nem convicções, muito menos pessoas. Por isso mesmo, é triste assistirmos ao vai-e-vém dos relacionamentos fugazes e superficiais, haja vista a desistência precoce do continuar lutando junto de alguém. Poucos persistem na manutenção do amor em suas vidas, desistindo tão logo surge o primeiro problema a ser enfrentado.

Uma coisa é descartar objetos, outra muito diferente é o descarte de pessoas. Sim, muitos de nós descartamos de nossas vidas, num piscar de olhos, quem não nos agrada em algum aspecto, bloqueando pessoas no Facebook e na vida. Porém, nenhum relacionamento está isento de adversidades e de discrepâncias, ou seja, caso não lutemos pelas pessoas que estão junto de nós, perderemos todas elas pelo caminho.

É preciso deixar morar em nós o amor que sentimos pelas pessoas, para que possamos nos tornar mais dispostos a ser gente, a viver além do eu, mais solidários e mais felizes, capazes de enxergar e valorizar quem está ao nosso lado com verdade. É preciso humanizar-se, sentir, compadecer-se, cultivando a gratidão junto a todos que fazem parte de nossas vidas e a tornam mais gostosa de se viver.

O mundo necessita de mais tempo longe das preocupações e atribulações diárias. As pessoas precisam parar para refletir sobre o que vêm fazendo de suas vidas e o que vêm sendo na vida de quem está ali ao lado. Sem essa reflexão contínua, vamos nos robotizando, endurecendo nossos corações e nos tornando fechados aos encontros afetivos que alimentam a nossa essência mais humana.

Viver sem cultivar o amor nem vale a pena, no final das contas. Sem amor, não teremos a chance de chegar ao fim da vida munido de lembranças doces e mágicas, que nos darão força contra a solidão. Sem praticar o amor, tudo se torna frio e insosso, porque, sem amor, sobrevive-se, mas sem viver de verdade.

Onde estão as pessoas interessantes? Tati Bernardi

Onde estão as pessoas interessantes? Tati Bernardi

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia.

Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar.

Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”. Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.

Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora.

O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it sounds?” Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos, para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra.

Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats… me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a tal da química. Mas então onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,… e eu? Até quando vou continuar
achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?

Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.

A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?

Tatiane Bernardi Teixeira Pinto é uma publicitária paulistana, autora de quatro livros e muito conhecida no mundo virtual por seus textos, site e blog.

Você precisa aprender a deixar ir

Você precisa aprender a deixar ir

Deixar partir talvez seja o ato mais altruísta que alguém pode ter dentro de um relacionamento.

Como em tudo nessa vida, no amor também é preciso saber a hora de parar. Deixar ir talvez seja o ato mais altruísta que alguém pode ter dentro de um relacionamento. Afinal, pra que serve uma presença que lá no fundo deseja se ausentar?

Se você se acostumar a receber migalhas, é isso que terá para o resto da vida. Migalhas não alimentam ninguém. Exija mais, mereça mais. Lutar pela atenção de alguém que prefere não te enxergar é um erro. Se for pra lutar, que seja pra que você consiga enxergar melhor, a si mesma e ao mundo ao seu redor. Por isso, esqueça essa história de que o que os olhos não veem o coração não sente. Isso é só uma desculpa de gente que gosta de fechar os olhos, acreditando que assim as coisas ficarão mais fáceis.

Pessoas não são laranjas pela metade. Também não são tampas de panelas ou qualquer outra metáfora esdrúxula que se usa por aí. Elas são inteiras e quanto mais cedo você entender isso, mais cedo irá parar de tentar “se encontrar” em outro alguém. Projetar é um dos erros mais recorrentes em relacionamentos, pois quando o período de sonho passa, nem sempre o que sobra daquela projeção é o suficiente pra continuar.

Ninguém nasce um par, um par se faz através das experiências do cotidiano, das cervejas no boteco da esquina, das estórias pra dormir, das brigas por motivos banais, dos compromissos adiados, das mentiras que escolhemos não contar e das verdades doloridas. É no dia-a-dia que o milagre do bem querer se faz presente.

E mesmo depois que um par está feito, é possível que seja necessário a separação. Nada sob o sol foi feito pra durar eternamente. Pessoas vêm, pessoas vão. Afetos se renovam ou se destroçam feito casa de palha em meio a um vendaval. Não depende só de você, acredite.

É preciso fazer com que a eternidade caiba em cada minuto e cada hora em que estamos juntos de quem a gente gosta. Despedir-se e guardar o que de melhor aconteceu, os aprendizados, os xingamentos novos, os novos livros, as novas bandas, os novos hábitos. São nos pequenos atos que residem a grandeza de dividir seu tempo com alguém. Por isso, não faz sentido se desgastar quando o que você precisa é entender que deixar ir é um ato de amor maior, para nós mesmos e para o outro.

Respeitar a partida da mesma forma que apreciamos a chegada, é disso que precisamos.

Os pequenos detalhes são os que fazem a diferença

Os pequenos detalhes são os que fazem a diferença

Geralmente não somos conscientes de que o importante não são as coisas extraordinárias, e sim os detalhes cotidianos e as pessoas que nos rodeiam, até que seja tarde e sintamos falta de tudo isso.

Dez em cada dez pessoas adoram os pequenos detalhes de cada dia. Aqueles que jogar conversa fora, que brincam no BetWinner casino, aqueles que não precisam de datas importantes nem clichês e que alimentam no cotidiano uma grande lista de motivos pelos quais vale a pena seguir em frente, pelos quais devemos ser humildes e conhecer o dom de cuidar todos os dias das pessoas que amamos.

Porque são os pequenos detalhes os que causam o maior impacto, os que mostram a grandeza das pessoas e os que nos roubam enormes sorrisos. Os detalhes sempre são o mais importante, pois são o que nos faz crescer e sermos melhores a cada dia.

“No final, você se dá conta de que o mínimo detalhe é sempre o mais importante. As conversas às três da manhã, os sorrisos espontâneos, as fotos desastrosas que o fazem rir a gargalhadas, os poemas de dez palavras que lhe tiram lágrimas. Os livros que ninguém mais conhece e se tornam seus favoritos, uma flor que se põe no cabelo, um café que você toma sozinho. Isso é o que verdadeiramente vale a pena; as pequenas coisas que causam grandes emoções”. – Entre letras y cafeína –

Os pequenos detalhes são os que realmente nos apaixonam pela vida.

Os pequenos detalhes apaixonam porque fazem a diferença e dão à vida o status que lhe corresponde, pois são o reflexo da grandeza das pessoas e de nossa capacidade de amar de maneira constante e sem condições.

“Esperamos dia após dia que frases de filmes nos salvem de cair no abismo, ou que ganhemos na loteria para que sejamos milionários e possamos nos dedicar a aquilo que gostamos.”

Mas na realidade a vida nos presenteia diariamente, a cada segundo e em cada pequeno detalhe. Detalhes como nos levantarmos todos os dias e termos ao nosso lado a pessoa que amamos. Detalhes como um ataque de riso, uma conversa até as 3 horas da manhã ou a visão de um entardecer.

O que é verdadeiramente importante e nos mantém vivos é o cotidiano, mas só nos damos conta disso quando algo dá errado ou perdemos o que tínhamos. Quando algo falha, quando nos decepcionamos, também há algo que revive em nosso interior.
Porque os pequenos detalhes funcionam como avisos, como uma maneira de falar a linguagem da vida e de nos convertermos em colecionadores de momentos emocionais intensos e inesquecíveis.

Os pequenos detalhes fazem grandes momentos. Fazer dieta, ir à academia ou sermos produtivos em nosso trabalho são bons objetivos diários, mas nos esquecemos do mais importante: temos que nos converter em colecionadores de momentos emocionais.

“Porque os momentos emocionais são os que nos dão alegria diante da vida. Para nos acostumarmos a isso, podemos começar a manter um diário emocional, no qual registremos se tivemos algum momento especial em que se refletiram nossos sentimentos e emoções.”

Após alguns dias colecionando situações deste tipo, nos surpreenderá como estamos nos tornando mais atentos com nossas relações. Graças a estes esforços, iremos reforçar nossos laços com os demais, já que fazê-lo durante um tempo pode fazer uma grande diferença.

A criação de um mapa do amor também pode nos ajudar a ser mais atentos em relação às pessoas mais próximas. Nosso cérebro armazenará esta informação de tal maneira que nos sintamos mais familiarizados com os detalhes da vida dos demais.

Isso ajuda a criar relações mais felizes e estáveis, pois quanto mais conhecermos as experiências, sensações e preferências diárias dos outros, mais fácil será nos conectar emocionalmente com estas pessoas.

contioutra.com - Os pequenos detalhes são os que fazem a diferença

Que detalhes devemos destacar no mapa do amor?

A seguir iremos mostrar parte da lista que o psicólogo John Gottman nos propõe, indicando o que temos que saber na hora de elaborar este guia de pequenos detalhes do cotidiano:

• O prato preferido das pessoas especiais;
• Seus filmes, programas de televisão e livros preferidos;
• Pelo menos duas pessoas que eles admiram profundamente;
• Seus animais preferidos;
• Seu destino ideal para as férias;
• A primeira coisa que comprariam se ganhassem na loteria;
• Algo que poderíamos fazer para melhorar a relação que temos com ele ou ela;
• O que ele ou ela queria mudar em nós;
• Qual é a sua forma preferida de passar uma tarde em casa;
• Qual é a atividade na qual ele ou ela se sente mais competente;
• Quais são suas ambições secretas;
• Quais são as melhorias pessoais que ele ou ela quer realizar em sua vida;
• Quais são seus restaurantes favoritos;
• Quais são suas revistas favoritas;
• Que tipo de literatura prefere;
• Qual é o seu passatempo preferido quando está doente;
• Qual é o seu presente de aniversário ideal;
• Quais são suas tensões ou preocupações atuais;
• Qual é a sua forma preferida de conseguir nossa atenção;
• Qual é o seu sonho mais importante;
• Quais são as razões pelas quais mais se sente orgulhoso de si mesmo.

contioutra.com - Os pequenos detalhes são os que fazem a diferença

Os homens também gostam dos pequenos detalhes.

Costumamos pensar de que os homens não se interessam pelos pequenos detalhes, que não apreciam o que é simples e sutil e que consideram que certas coisas são uma perda de tempo. Entretanto, isso não é verdade.

Por isso temos que reivindicar que eles também merecem detalhes como palavras, beijos e abraços inesperados. Os homens também esperam as surpresas, porque eles também merecem amor.

Sejam homens ou mulheres, devemos valorizar todos os dias as pessoas que temos ao nosso redor. Uma boa maneira de fazer isso é demonstrar pequenos detalhes, com cuidados e atenções especiais.

É primordial fazer com que as pessoas que amamos se sintam especiais, demonstrar que elas têm um peso fundamental em nossas vidas. Porque no cotidiano nos esquecemos de que o importante é mostrar afeto e fazer com que as pessoas que nos rodeiam entendam que são imprescindíveis para nós. É algo que, sem dúvida, mantém o amor fresco.

Imagens: Puuung.

A vida dos seus amigos não é tão incrível quanto você imagina

A vida dos seus amigos não é tão incrível quanto você imagina

Por Fernando Bumbeers 

Uma equipe de pesquisadores, liderados pela psicóloga Sarah W. Helms, chegou à conclusão que adolescentes superestimam a vida de seus amigos. Em outras palavras, eles acreditam que os amigos saem mais, namoram mais, bebem mais – todas atividades que, para os jovens, seriam associadas a pessoas mais legais.

O estudo foi realizado em duas partes. Em um primeiro momento os pesquisadores dividiram 235 alunos do ensino médio de um colégio público em quatro categorias (“atletas”, “populares”, “nerds” e “valentões” – lembrou de O Clube dos Cinco?), para saber se algum grupo achava outro mais divertido. Naturalmente, os atletas e populares foram os mais superestimados.

O método foi simples: primeiro eles perguntaram para os alunos com qual frequência eles tinham um comportamento considerado “arriscado” (como beber, fumar ou fazer sexo) e “benéfico”. Depois, perguntaram quais grupos partilham os mesmo comportamentos.

O resultado foi assustador: sempre achamos ser menos legais que nossos amigos. Por exemplo, os que não estavam no grupo dos atletas sempre achavam os atletas mais legais. Ao mesmo tempo, os atletas achavam os populares mais legais e assim sucessivamente.

A segunda parte do estudo foi feita com outros 166 alunos do nono ano de outro colégio, com renda menor e em uma zona rural dos EUA. Os pesquisadores usaram o mesmo método para descobrir quem era popular e quem não era. A diferença foi o tempo: eles repetiram as perguntas por dois anos. Concluíram que o comportamento que os adolescentes diziam ser de pessoas “legais”, como beber ou fumar, tornava-se um hábito entre eles.

A psicologia explica esse efeito como “ignorância pluralística”, um estado onde muitos membros de um grupo têm crenças erradas sobre o comportamento de outros membros, superestimando-os e sendo influenciados.

Então, não pense que seu amigo tem uma vida tão excitante assim. Ela é tão divertida – ou sem graça – quanto a sua!

Unicef lança “contos que não são de fadas” sobre crianças refugiadas

Unicef lança “contos que não são de fadas” sobre crianças refugiadas

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova York, via Rádio Onu

Histórias verdadeiras de menores inspiram iniciativa global #actofhumanity, com três filmes de animação; campanha enfatiza que não importa de onde venham, cada criança tem direitos e merece uma chance.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, lançou três filmes de animação que contam histórias reais de crianças fugindo de conflitos e explicam o horror que as colocou nesta situação.

A série “Contos que Não São de Fadas”, em tradução livre, faz parte da iniciativa #actofhumanity, ou “ato de humanidade”.
Direitos.

A campanha enfatiza que crianças são crianças, não importa de onde venham, e que cada uma delas tem direitos e merece uma chance justa.

A chefe de comunicação do Unicef, Paloma Escudero, fez um alerta: “não importa aonde estejam no mundo, quando uma criança refugiada ou migrante chega a seu destino, isto é o início de uma outra jornada, não o fim do caminho”.

Atos de Humanidade

Escudero afirmou que todos os dias, em todos os lugares, pessoas estão ajudando esses menores com pequenos “atos de humanidade”. Ela ressaltou que essas ações raramente se tornam notícia, mas estão fazendo “toda a diferença do mundo” para crianças refugiadas e migrantes. Segundo a chefe de comunicação da agência, o Unicef “quer exibir esses atos de humanidade para inspirar outros e mostrar o caminho a seguir”.

Histórias

Uma das histórias que compõem a série, “Ivine e o Travesseiro”, ilustra a história verdadeira de uma menina de 14 anos. Depois de uma fuga perigosa da Síria, Ivine se estabelece em um campo de refugiados na Alemanha, onde tem outros desafios.

“Malak e o Barco” conta a história de uma menina de sete anos em um barco furado. A terceira animação descreve a história de Mustafa, um menino que após deixar sua casa, se pergunta quem sobrou para ser seu amigo.

Casa

Paloma Escudero lembrou que as histórias dessas três crianças não são incomuns. Pelo menos 65 milhões de crianças e jovens em todo o mundo estão em movimento, fugindo de conflitos, pobreza e condições climáticas extremas e “buscando uma vida mais estável e um lugar para chamar de casa”.

Redes Sociais

O Unicef quer envolver o público com mensagens nas redes sociais e pretende produzir mais animações. O pedido da agência é simples: mostre um ato de humanidade a crianças e jovens refugiados e migrantes; use a hashtag #actofhumanity para compartilhar histórias e inspirar outras pessoas.

Falar é fácil, quero ver é ouvir

Falar é fácil, quero ver é ouvir

O homem sempre pareceu sentir dificuldade em se conectar, de fato, com o outro. Essa falta de habilidade em criar laços e permitir se infectar por aquilo que está no outro demonstra aquilo que Erich Fromm chamava como a incapacidade que o homem possui para amar e isso, em grande parte, deve-se à dificuldade de ouvir e, por conseguinte, de saber se colocar no lugar do outro, isto é, ter empatia.

Hoje, mais do que nunca, possuímos ferramentas que possibilitam a conexão entre as pessoas. No entanto, paradoxalmente, estamos cada vez mais nos distanciando, de modo que a nossa “conexão” só existe enquanto o wi-fi está ligado. Isso se deve, a meu ver, ao fato de que a grande rede possibilitou que qualquer um pudesse ser protagonista e, assim, ter voz perante um sem número de pessoas presente nessa imensa rede. Ou seja, o desenvolvimento tecnológico possibilitou o aumento exponencial de vozes, mas não de ouvidos.

Esse comportamento faz com que eu me torne incapaz de absorver sequer uma frase pronunciada por uma pessoa, visto que, na minha ânsia em ser sempre o protagonista, desprezo o papel que o outro representa na minha vida. Dessa forma, se alguém me diz, por exemplo, que está sem dormir há três dias, eu digo que estou há sete; se o pai dela está doente, eu digo que o meu morreu; quando diz que está desempregada, eu digo que estou com dívidas até o pescoço. Isto é, não me importa o que o outro disse, importa-me apenas aquilo que sinto e que me incomoda.

Sendo assim, como é possível se conectar a alguém, inexistindo um diálogo? Como posso tentar entender o que entristece o outro, se sou incapaz de ouvi-lo? Essa carência do ouvir, potencializada com o desenvolvimento dos aparatos tecnológicos, convalidou que o problema da empatia, de colocar-se no lugar do outro, nem de longe foi apaziguado, pelo contrário, já que os microfones estão abertos e disponíveis para todos que reverenciam seus monólogos.

A grande questão é que as pessoas não se dão conta de que falar sem um interlocutor não melhora em nada aquilo que sentem. Ou será que reações do tipo “hum, sei como é” e centenas de likes em desabafos no Facebook são suficientes para que nos sintamos ouvidos? Mas, obviamente, se queremos ser ouvidos, devemos estar dispostos a ouvir e aqui reside o cerne do problema.

Saber ouvir é extremamente trabalhoso e traz dor de cabeça, por isso, falar é fácil, ao passo que saber ouvir é uma raridade. É preciso, antes de tudo, ter a tal da empatia, palavrinha na moda, que anda na boca do povo, vejam só, mas sobre cujo significado quase ninguém ainda aprendeu. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir a sua dor, de estar disposto a se sujar para vasculhar o que há de oculto nas longitudes do outro, de ter compaixão e sentir o peso do fardo que o outro carrega.

Como andamos bem preguiçosos, poucos possuem a raridade de ouvir e, assim, caminhamos de um lado a outro do palco, falando e falando, sem interrupções ou qualquer sinal que demonstre que não estamos sozinhos e que aquilo que sentimos pode ser visto no reflexo de um olhar.

Como já disse, estar disposto a dividir as angústias que o outro carrega, colocando-se no lugar deste e tentando compreender as tormentas que o afligem, não é fácil, todavia, esse é o único modo de ser um “empata” e, consequentemente, um bom ouvinte. De se tornar alguém que é capaz de entender que, nesta terra, a vida é dura e que todos nós precisamos de um afago e de uma palavra que demonstre que aquilo que falamos não se perderá como lágrimas na chuva.

Alguém que tenha a sensibilidade necessária para permitir ser tocado por uma dor que não é sua. Alguém que tenha a coragem para elevar a sua existência além de si mesmo e mergulhar em águas profundas. Alguém que sabe a importância de ser abraçado com os olhos, quando tudo parece não fazer sentido. Alguém que sabe o quão belo é estar ligado a outra pessoa e ter ouvidos dispostos a escutar até as angústias mais silenciosas do coração de quem se ouve, pois só ao ouvir permitimos estar conectados e ter o divino se manifestando nessa ligação.

Bendita família, maldita família

Bendita família, maldita família

Há alguns dias, presenciei uma cena comovente: dois irmãos, ambos idosos, conversavam. Um deles, o mais velho, havia perdido a esposa. Mesmo que seu falecimento não tenha vindo de surpresa, já que também era idosa e já estava doente há longo tempo, o marido tinha dificuldade de aceitar o ocorrido. E esse era o teor da conversa: o irmão mais novo consolava o mais velho e tentava ajudá-lo a aceitar a morte da esposa. Em certo momento, os dois se calaram e o irmão mais velho começou a chorar, ali, à minha frente, um choro profundo e sincero. O irmão mais novo o abraçou e lá ficaram, entrelaçados por um instante. De repente, começaram a falar do passado, das brigas que tiveram, das dores de cabeça que o mais novo havia dado aos pais e de muitas outras coisas. E falaram das aventuras e dos amores vividos e de Gertrude, uma moça na qual ambos se apaixonaram na juventude e que fez com que os se tornassem rivais e não se falassem por um tempo. No desenrolar da conversa, começaram a rir das recordações e das loucuras vividas, até que o irmão mais velho olhou sério para o mais novo, colocou a mão em seu ombro e agradeceu por tudo. Marcante para mim foi quando ele disse que “sem você, meu irmão, eu não suportaria essa dor que agora sinto e não teria mais coragem de continuar”. E a resposta do irmão também foi interessante: “Somos uma família. E família existe é para isso”.

Foi uma dessas cenas que mexem com a gente. Mexeu tanto comigo que passei os últimos dias refletindo sobre o tema família, sobre o bem que ela nos faz, mas também sobre o mal e o sofrimento que ela nos pode trazer. Bendita família, maldita família…

Bendita é a família quando nos abriga e ampara, sendo uma ilha no oceano da vida, onde encontramos aconchego e solidariedade, maternidade, paternidade e irmandade. Ela é bendita quando nos abraça nos momentos difíceis, quando nos conhece bem e nos aceita como somos. E foi essa bendição familiar que me comoveu na conversa dos dois irmãos e foi ali que vi o sentido saudável e positivo da família que, sim, é para isso que existe.

Tanto faz se grande ou pequena, rica ou pobre, só com pai ou só com mãe ou mesmo sem pai e sem mãe, tanto faz a constelação: toda família é bendita quando consegue ser família de verdade, mais que uma casta ou linhagem, unida não somente pelo sangue, mas que vai além disso, servindo de plataforma para crescermos e nos fortalecermos num ambiente de amor e respeito.

Devemos nos sentir abençoados e sortudos quando temos uma família assim, que nos acolhe sem impor ou cobrar nada, que nos ama e aceita incondicionalmente, que nos dá o sentimento de não estarmos sozinhos neste mundo e que sempre nos inspira e nos dá coragem para continuar, por mais dura que seja a situação que atravessamos.

Ao ver aqueles dois irmãos tão próximos e amigos, aquela irmandade verdadeira, senti o desejo profundo de que todos nós tivéssemos essa sorte, que todos nós tivéssemos uma boa família, uma bendita família. Feliz e comovido, desejei isso de coração, mas, ao mesmo tempo, triste e pensativo, constatei que isso nem sempre é assim.

Muitos não se sentem assim abençoados, pelo contrário: sentem-se mal-aventurados, desafortunados, sozinhos nos momentos difíceis no oceano da vida por não terem uma ilha de aconchego, nem de solidariedade, nem de maternidade, nem de paternidade e muito menos de irmandade, apesar de terem uma família, uma maldita família, desunida e egoísta, que impõe e cobra, que castiga e rejeita ao invés de amparar ou, ainda pior, fica indiferente ao seu sofrimento.

Maldita é a família quando nos torna malditosos, quando nos desencoraja e faz com que nos sintamos sós, é a família que nos maltrata, que nos violenta, que não consegue ser mais que uma casta ou linhagem, que tem o mesmo sangue, mas só isso, que também nos faz crescer, mas pela dor e pela decepção e não pelo respeito e pelo amor. A família maldita não enlaça, não incentiva, não constrói, apenas destrói e inibe nosso desenvolvimento e nossa liberdade de sermos quem realmente somos.

Maldita é a família quando é conturbada, perdida em si mesma e fazendo com que nos sintamos igualmente perdidos, nos endurecendo ao invés de nos fortalecer, incutindo em nós valores errados e uma frustração que, por mais que nos libertemos, nos acompanha por toda a vida, nos deixando tristes sempre que pensamos em tudo que foi, mas não deveria ter sido, e em tudo que deveria ter sido, mas nunca foi.

Tanto faz se bendita ou maldita, não existe família perfeita. Mesmo em uma família bendita, há brigas, desentendimentos e sofrimento, mas a diferença é que nela também há apoio e resgate dos laços primeiros, enquanto que, numa família maldita, os únicos denominadores comuns são os elos biológicos e o sofrimento de todos, já que ninguém pode realmente ser feliz em uma família assim.

O problema é que não podemos escolher em que família nascemos, não podemos decidir se nossa família é bendita ou maldita, se nos faz bem ou nos faz sofrer. Ao nascermos, não podemos escolher se teremos pais que de tudo farão para que sejamos independentes, fortes e felizes ou se eles apenas se preocuparão com a própria sorte e as próprias animosidades, por mais mesquinhas que sejam. Não podemos escolher se teremos pais verdadeiros ou meros genitores e se nossos irmãos e irmãs estarão realmente ao nosso lado para o que der e vier ou se eles somente vão cobrar aquilo que poderia vir de nós.

Não, não podemos escolher. Família bendita ou maldita é questão de sorte, de destino, de onde a cegonha nos larga quando entramos neste mundo. E assim, só nos resta aceitar, com gratidão se for bendita ou com condescendência se for maldita, prosseguindo nosso caminho e levando conosco o melhor que pudermos levar do seio familiar, mesmo que esse seio seja falso, de silicone ou borracha de pneu, já que de nada adianta lutar contra o que não podemos mudar.

Quando temos a sorte de ter uma família bendita, devemos simplesmente ser gratos pelo destino ter sido complacente conosco. Já quando não temos essa sorte, o caminho é aceitar a dor de ter uma família maldita, buscando então alternativas, buscando pessoas que não tenham o mesmo sangue nosso, mas que sejam “madeira da mesma árvore” ou “farinha do mesmo saco”, que nos aceitem, nos acolham e nos fortaleçam, dando-nos o amor e o respeito que a família não pôde ou não quis nos dar.

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