Rezar é bom, mas tem de rezar direito: primeiro a gente agradece, depois a gente pede.

Rezar é bom, mas tem de rezar direito: primeiro a gente agradece, depois a gente pede.

Eu rezo, sabe? Não é coisa muita, não. Nada assim formal. De cor, não sei mais que duas orações. Mas eu rezo assim mesmo. Fecho os olhos em silêncio, penso numa coisa boa do passado, do presente, do futuro, e agradeço por ela.

Aqui, bem dentro da minha gratidão, cabe um mundo inteiro de gente, de bichos, de coisas, datas, lembranças, histórias, saudades, cheiros e sons, gostos e imagens, amores e dores, tantas dores. Cabe todo mundo aqui. Quem veio, quem foi, quem ficou, quem virá. Cabe sem aperto. E a mim só cabe, primeiro, agradecer.

É preciso gratidão, sabe? Deitar os joelhos no chão, de manhã, na beira da cama, e agradecer. A gente tem de agradecer primeiro, por tudo, antes de mais nada.

Você pode até achar que não tem o que agradecer, que a vida anda bruta, que isso e aquilo, por isso vai logo pedindo o que precisa. Mas eu ainda acho que é preciso mostrar gratidão. A gente precisa agradecer. Nem que seja por ainda poder pedir.

Primeiro a gente agradece, depois a gente pede. A ordem é essa. E não custa nada respeitá-la.

Pedir antes de agradecer é mais ou menos como passar a carroça na frente do burro. Não pode, não. É falta de modos. Se você não entra em casa dos outros sem pedir licença, não esquece de dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “por favor” e “obrigado” quando deve, não joga lixo na rua nem maltrata quem quer que seja, não peça nada sem antes agradecer!

Quem agradece diz a Deus que aproveita o que tem, que valoriza o que conseguiu e que faz por merecer. Agradecer é uma forma bonita de mostrar respeito e fé. Pressupõe que a gente sabe o que tem, reconhece que ganhou porque se fez merecedor e que rezar não quer dizer “esperar cair do céu”.

Quando a gente esquece de agradecer e sai enviando pedidos de toda sorte a Deus, ao nosso Anjo da Guarda e a todos os santos, a oração perde a força. Não vale nada. Não chega lá. Quando a gente reza, é preciso rezar direito. Rezar na ordem correta, simples e poderosa: primeiro a gente agradece, depois a gente pede.

A solidariedade pode melhorar o mundo- Zygmunt Bauman

A solidariedade pode melhorar o mundo- Zygmunt Bauman

Por Zygmunt Bauman

Pelo que eu saiba, foi um economista, o professor Guy Standing, que cunhou (e acertou em cheio!) o termo precariat. Ele o fez para substituir ao mesmo tempo os termos proletariado e classe média, que já haviam atingido amplamente a data de validade e haviam se tornado “termos zumbis”, como certamente teriam sido definidos por Ulrich Beck.

Como sugere o blogueiro que se esconde atrás do pseudônimo Ageing Baby Boomer (isto é, um filho do baby boom com muitos anos de idade), “é o mercado que define as nossas escolhas e nos isola, impedindo que qualquer um ponha em discussão o modo em que essas escolhas são definidas. Quem faz a escolha errada será punido. Mas o que torna o mercado tão cruel é o fato de que ele não se dá conta minimamente de que certas pessoas estão muito melhor equipadas do que outras a escolher bem, porque possuem o capital social, o saber ou os recursos financeiros”.

O que “unifica” o precariado, o que mantém unido esse conjunto extremamente diversificado, tornando-o uma categoria coesa, é a sua condição de máxima fragmentação, pulverização, atomização. Todo os precários sofrem, independentemente da sua proveniência ou pertencimento, e cada um sofre sozinho. Mas todos esses sofrimentos suportados individualmente mostram uma surpreendente semelhança entre si. Reduzem-se a uma única coisa: a pura e simples incerteza existencial, uma assustadora mistura de ignorância e de impotência que é fonte inexaurível de humilhação.

Contudo, esses sofrimentos não se somam, ao contrário, se dividem e separam aqueles que os sofrem, negando-lhes o conforto de um destino comum, e fazem parecer risíveis os apelos à solidariedade.

Essa condição, muito visível embora se tente dissimulá-la com todos os meios, testemunha que as autoridades – que têm o poder de conceder ou negar direitos – recusaram-lhes os direitos reconhecidos a outros seres humanos, “normais” e, portanto, respeitáveis. Desse modo, ela testemunha, indiretamente, a humilhação e o desprezo de si que são uma consequência inevitável do aval, por parte da sociedade, da indignidade e da ignomínia que atinge algumas pessoas.

A política emergente – a desejada alternativa a mecanismos políticos já desacreditados – tende a ser horizontal e lateral, ao invés de vertical e hierárquico. Para mim, ela lembra um enxame: como enxames de insetos, alianças e reagrupamentos são criações efêmeras, fáceis de unir, mas difíceis de manter unidas pelo tempo necessário para “se institucionalizarem”, isto é, para construírem estruturas duráveis. Elas podem se virar sem quartéis generais, burocracia, líderes, supervisores ou chefes. Unificam-se e se dispersam quase espontaneamente e com a mesma facilidade. Cada momento da sua vida é intensamente apaixonado, mas notoriamente as paixões intensas desaparecem rapidamente. Não se pode erigir uma sociedade alternativa sobre a paixão unicamente: a ilusão da sua viabilidade consome grande parte das energias que se exigiria para construí-la.

Se as revoluções não são produtos da desigualdade social, os campos minados sim. Os campos minados são áreas disseminadas de explosivos espalhados ao acaso: pode-se ter a certeza de que, uma vez ou outra, algum deles irá explodir, mas qual e quando não se pode determinar com algum grau de certeza. Como as revoluções sociais são eventos com um propósito e com um objetivo, é possível fazer algo para localizá-las e frustrá-las a tempo, enquanto isso não vale para as explosões dos campos minados.

Quando o campo minado foi predisposto por soldados de um exército, pode-se enviar outros soldados, pertencentes a um outro exército, para extrair as minas e desarmá-las: “O soldado antibombas erra uma só vez”. Mas esse remédio, embora insidioso, não está disponível no caso dos campos minados predispostos pela desigualdade social: quem deve semear as minas e depois extraí-las é o mesmo exército, que não pode deixar de adicionar novos dispositivos aos velhos, nem evitar colocar o pé em cima mais e mais vezes. Semear minas e cair vítimas das suas explosões são uma mesma coisa.

Todas as variedades de desigualdade social brotam da divisão entre ricos e pobres, como Miguel de Cervantes Saavedra já observava há meio milênio. No entanto, em épocas diversas, possuir ou não possuir objetos diversos são, respectivamente, a condição mais apaixonadamente desejada e a mais apaixonadamente sofrida.

Dois séculos atrás, na Europa, ainda há poucas décadas em alguns lugares distantes da Europa, e ainda hoje em alguns campos de batalha de guerras tribais ou parques de diversões das ditaduras, o objetivo principal que opunha em conflito ricos e pobres era pão ou o arroz. Graças a Deus, à ciência, à tecnologia e a certos expedientes políticos razoáveis, não é mais assim.

Mas isso não significa que a velha divisão esteja morta e sepultada: ao contrário… Hoje em dia, os objetos do desejo cuja ausência é mais agudamente sentida são muitos e variados, e o seu número aumenta dia após dia, assim como as tentações para obtê-los.

E assim crescem a ira, a humilhação, o rancor e o ressentimento suscitados por não tê-los. E com eles o desejo de destruir o que você não pode ter. Saquear as lojas e dar-lhes chamas são gestos que podem derivar do mesmo impulso e gratificar o mesmo desejo.

Hoje, os europeus são 333 milhões, mas dentro de 40 anos, na atual taxa média de natalidade (já em queda em todo o continente), cairão para 242 milhões. Para preencher a lacuna serão necessários ao menos 30 milhões de novos desembarques, senão a nossa economia europeia sofrerá um colapso, e com ela o padrão de vida que prezamos tanto. Mas como podemos integrar comunidades diferentes?

Em um pequeno mas interessante estudo, Richard Sennett sugere que “uma colaboração informal e sem limites prefixados é a melhor maneira de fazer a experiência da diferença”. Nessa frase, cada palavra é decisiva. “Informalidade” significa que não há regras de comunicação pré-estabelecidas: tem-se a confiança de que se autodesenvolvam na medida em que aumenta o alcance, a profundidade e a significância da comunicação: “Os contatos entre pessoas dotadas de competências ou de interesses diferentes são ricos quando são desordenados, e fracos são regulamentados”.

“Sem limites prefixados” significa, além disso, que o resultado deveria seguir uma comunicação presumivelmente prolongada, ao invés de ser pré-estabelecido de modo unilateral: “Deseja-se descobrir a outra pessoa sem saber onde isso o levará. Em outros termos, deseja-se evitar a férrea norma da utilidade que estabelece um propósito – um produto, um objetivo político – fixado antecipadamente”.

E, por fim, “colaboração”: “Supõe-se que as várias partes ganhem todas com a troca, e não que uma só ganhe às custas das outras”. Eu acrescentaria: é preciso aceitar que, nesse jogo particular, tanto ganhar quanto perder só são concebíveis juntos. Ou todos ganhamos ou todos perdemos. Tertium non datur.

Sennett resume a sua sugestão como segue: “Os escritórios e as ruas se tornam desumanos quando dominam a rigidez, a utilidade e a competição. Tornam-se humanos quando promovem interações informais, sem limites prefixados, colaborativas”.

Eu penso que todos nós, que somos chamados e desejamos ensinar, poderíamos e deveríamos aprender a nossa estratégia com esse triplo preceito, lacônico mas abrangente, expresso por Richard Sennett. Aprender nós mesmos a pô-la em ato, mas também – e isto é o mais importante – transmiti-la àqueles que são chamados e desejam aprender conosco.

Zygmunt Bauman traduzido por Moisés Sbardelotto

Espelho meu, me mostre além das aparências

Espelho meu, me mostre além das aparências

Espelho meu, você só me mostra o que quero ver. Você não mente, é crítico, implacável, criterioso, mas só retrata o que posso ver e, com sorte mudar, com outra roupa, outro jeito de o usar o cabelo.

Quem me mostra o que sou além do que é possível ver no espelho, é o outro. E, por generosidade, indiferença ou mesmo omissão, geralmente não deixa transparecer meu reflexo tão claramente, pois decerto eu me assustaria.

A gente se conhece tão profundamente quanto conhece um motor de propulsão de um foguete. Desejar se conhecer é uma coisa. A gente estuda, se aprofunda, usa as ferramentas, mas a parcela de conhecimento é ínfima.
Analisamos as descobertas como juiz e parte. Ou nos exaltamos, ou culpamos.

Se a auto estima estiver boa, a gente se admira, se baixa, se despreza, se abandona.

Se reconhecer é um divisor de águas. O espelho se torna acessório inútil, como um óculos sem as lentes.
Se reconhecer é se conhecer por detrás das palavras, do verniz social, do comportamento coletivo. É captar as sensações instantâneas que cada impulso provoca. É ser causa e consequência das mais encantadoras virtudes e mais desprezíveis defeitos.

Se reconhecer é conhecer de forma lúcida o que se é, ainda que lutando para ser de outro jeito.

É possível conhecer minimamente o outro, tamanha a exposição, e de tanta observação, mas a si mesmo, aí já é outra questão.

Só mesmo esse outro, que achamos conhecer bem, para nos mostrar, ainda que através de códigos e sinais, como nos contemplar no espelho que vai além de qualquer aparência.

Gente que acha que sabe tudo…só acha!

Gente que acha que sabe tudo…só acha!

Passar pela vida sem nunca topar com os “adoráveis donos da verdade” é quase tão impossível quanto fazer mergulhos no Mar Morto; escalar o Himalaia de biquíni ou usar um casaco de lã no Sertão Nordestino. Gente que vomita definições e certezas é igual a erva daninha: brota em qualquer lugar! E como falam! Falam sobre suas tristezas, alegrias e demandas com tamanha propriedade que, se você não ficar esperto, vai achar que os tais sabem mais da sua vida do que você! Despejam conselhos em suas orelhas com aquele ar de pretensa bondade, como se fosse um milagre você ter sobrevivido até agora sem suas sapientíssimas orientações! Desfiam um rosário de grandes feitos, e sucessos e vitórias, como se a vida deles (para o bem ou para o mal), fosse da sua conta ou estivesse concorrendo a algum tipo de premiação de virtude e competência! Portanto, arme-se de paciência. No fundo, os donos da verdade não passam de um punhado de gente “sem noção”!

PRESTES A EXPLODIR

A incapacidade para coordenar e compreender que a existência de diferentes pontos de vista é fundamental para a evolução e construção de relações libertas da necessidade de comando, pautam o comportamento das pessoas intolerantes, insensíveis às necessidades do outro e isoladas em sua tosca arrogância. Blindados em suas cascas de respostas prontas e imediatas, esses indivíduos se alimentam da mansidão daqueles cujos espíritos não têm sede de poder, nem se fortalecem na subjugação de quem quer que seja.

As reações diante da negação de suas vontades ou da oposição às suas determinações lembram shows de pirotecnia. Os donos da verdade, sustentam sua pose às custas de temperamentos explosivos, por meio dos quais tentam amedrontar a quem ouse lhes negar audiência. O fato é que tanto estardalhaço, revela muito barulho para pouca consistência. Falta aos sabichões, segurança em si mesmos e argumentos capazes de sustentar seus arraigados discursos.

ALGUÉM TEM QUE POR LIMITES

Como um caminhão, desabalado e sem freios numa ladeira íngreme, essa gente que pensa que sabe tudo, não conta com a existência de alguém que os possa deter. Seguem ditando regras e ritos, como se o mundo tivesse obrigação de ouvi-los e obedecê-los. E, tanto faz se o poder que ostentam é concreto ou não passa de elucubração de seus sonhos megalomaníacos. O limite que se pode delinear, diante de tanta petulância, só pode ser constituído nas mãos de quem, com firmeza e serenidade, consegue manter-se imune às artimanhas ou deliberações autoritárias. Com argumentos sólidos e coerentes, os donos da verdade não sabem lidar; ficam mudos, irritados e ariscos. Sendo assim, respire fundo, conte até mil, olhe com compaixão para essa criatura atormentada e não ceda, de jeito nenhum a chantagens ou ameaças. Afinal, o latido, neste caso, é muito mais assustador do que o cão!

contioutra.com - Gente que acha que sabe tudo...só acha!

MUDAR DE IDEIA É ALTAMENTE LIBERTADOR

Deve ser exaustivo manter uma vida inteira presa nos mesmos trilhos. Não há curvas, nem atalhos, muito menos desvios. Ideias cristalizadas roubam da pessoa a leveza necessária para enxergar outras possibilidades, quando as estratégias já ultrapassadas, perdem sua força e eficácia. A satisfação de um desejo não pode custar a liberdade de mudar de ideia, de jeito, de lugar. As mudanças são como sopros de ar fresco a renovar os ânimos e abrir os olhos invisíveis da alma a uma chance, novinha em folha, de fazer diferente o que já se faz automaticamente. Assim sendo, gente que pensa que sabe tudo, sofre de paralisação mental; de tão apegados que são às suas convicções, perdem valiosas oportunidades de aprendizado e crescimento.

PÍLULAS DE HUMILDADE

Quanto mais competitivo for o ambiente, quanto mais será favorecido o surgimento de relações baseadas em disputas de poder. Não é de se admirar que os locais de trabalho sejam os cenários mais recorrentes para a atuação daqueles que não resistem ao desejo de fazer valer suas opiniões a todo custo. Esse comportamento impede todos os envolvidos na relação de viver oportunidades de troca e reflexão. Comportamentos alimentados pela ambição excessiva costumam deformar o caráter, levando a pessoa a lançar mão de artefatos pouco éticos para alcançar seus objetivos. A humildade é um santo remédio para livrar os sabichões do redemoinho formado por suas posturas egocêntricas e arrogantes. Um milímetro cedido a cada dia, de repente, pode levar o dono da verdade para longe da ruína definitiva de suas relações pessoais, afetivas e profissionais. Então, se o todo poderoso, dono da razão tem importância afetiva para você, tente ajuda-lo a engolir algumas “pílulas de humildade”. Se der certo, todo mundo sai ganhando!

E SE A CRIATURA FOR IRREDUTÍVEL?

Por mais que tentemos tirar de nossas mãos a responsabilidade por tudo quanto nos acontece; ora pondo a culpa no destino, ora pondo a culpa no outro, a verdade é que são as escolhas que fazemos a cada instante do dia, que modulam o ambiente à nossa volta e nossa maneira de nos relacionarmos com os demais. Portanto, se a vida trouxe para você um dono da verdade de presente, escolha não ser engolido; escolha entender que se alguém curte cultivar a crença de que suas opiniões são as únicas e de que sua ajuda é desnecessária, além de não ser bem-vinda, precisa também curtir a opção de viver isolado e só. Que o espertíssimo vá cuidar da vida dele e deixe você cuidar da sua. Afinal, a vida é breve demais para nos darmos ao luxo de gastar tempo com quem não está minimamente interessado em como nos sentimos, sobre o que pensamos e no que temos a dizer. Diante de um dono da verdade convicto e irredutível, a melhor alternativa é a distância! Afinal, quem sabe o isolamento e a possibilidade de ouvir nada além de sua própria voz gritando verdades, desperte a criatura de seus insanos sonhos de grandeza e dominação!

Na roda da vida

Na roda da vida

“Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu.”
Chico Buarque

Há dias e mais dias…
Há dias em que a gente questiona se é isso mesmo: se estamos vivendo bem, fazendo o certo, se estamos fazendo bem o Bem, se é assim que queremos viver.
Há dias em que a gente interroga a vida: as voltas e rodopios que ela dá.
Para que isso, por que assim, o que afinal está acontecendo?

“Viver é negócio muito perigoso”, “viver é um descuido prosseguido”, dizia Guimarães Rosa. Mesmo assim, não desistimos de querer ter voz ativa sobre a vida, sobre os acontecimentos e sobre o tempo. Tal como os amantes que mesmo discordando e brigando não abrem mão de ficarem juntos, acreditando que um dia, um mudará o outro e, aí sim, serão felizes para sempre. Essa é nossa postura frente à vida .

Há dias em que a roda-vida mostra-se uma bela dama, dá-nos liberdade de escolha, deixa-se conduzir por nossas mãos e nos seduz com seu encanto. É a mais pura paixão! Um enorme arco-íris de emoções nasce em nossos corações, e nós bailamos com leveza e graça.

Há dias em que ela parece mais preguiçosa, menos voraz em relação às horas, permitindo que respiremos devagar.
Proporciona-nos poucas novidades e, quando amantes das pequenas coisas, absorvemos tudo com mais sabor. É pura magia e diversão!

Há dias em que se mostra generosa, a cada volta que ela dá, uma surpresa boa nos espera, um presente que chega de repente, uma dádiva que nos escolhe para dar a mão.

Mas há dias em que a roda parece enlouquecida, é um verdadeiro ciclone, vira tudo de cabeça para baixo, arranca aquilo que está em desenvolvimento. Sentimos medo e atordoamento e não sabemos para onde correr. Nem sequer somos ouvidos, pouco importa nosso querer. A gente reage, “vai contra a corrente” , tranca as mãos, emperra, estanca, mas ela é soberana. É só desolação!

Nesses momentos, a roda é uma roca ceifando desejos e ilusões. O cotidiano, com seus sonhos e projetos acalentados, é mexido e remexido, não deixando pedra sobre pedra. É a roda girando e levando para longe nosso sossego e segurança.

“Na volta do barco é que sente, o quanto deixou de cumprir…”
Dias passam, outros vêm, e nós não cansamos de nos perguntar: onde erramos, o que deveríamos ter feito e que não fizemos, o que poderíamos ter evitado e que não evitamos?

“Roda mundo…”
Seu giro é impessoal e indiferente ao nosso querer.
Seus propósitos nem sempre conseguimos entender, e ela vai desenhando figuras fantásticas sempre diferentes no ar. Será moinho, será pião, roda gigante?

Capturados pela grande aventura, fascinados por sua força de atração e pelas lembranças dos momentos vividos, respiramos fundo e mergulhamos como crianças, seduzidos novamente pela velha cantiga de roda tão bela e tão louca chamada Vida.

Há um dia em que uma força mansa e tenaz nos tira da roda. A volta foi completada e é o momento de voltar para casa.

Esse passo não é ensinado a ninguém. Quem dançou com altivez e coragem todos os movimentos da roda, com certeza, saberá soltar as mãos e se deixar levar para o definitivo encontro amoroso com o seu Criador e se tornar, assim, encantado .

O que aprendemos com a decepção?

O que aprendemos com a decepção?

Viver por si só, já é uma imensa descoberta, pois a cada conquista nos descobrimos, a cada empenho, conversa, encontro e porque não dizer que podemos nos conhecer um pouco mais na decepção?

A vida é permeada de diversos sentimentos, sejam eles bons, ruins, construtivos ou ameaçadores. A todo o tempo, estamos pensando, sentindo e desejando mais. Na lista de predileções humanas, a decepção sentimento rejeitado, é colocado entre aqueles cujo sentido sempre amarga a experiência do vivenciar.

Assim, a decepção se faz presente por si mesma, pois ela faz parte da vida. Então, sem pedir licença, ou marcar horário, ela simplesmente se apresenta e muitas vezes, vem acompanhada por alguns sentimentos também resignados, como a tristeza, melancolia, mau humor, e alguns outros que aproveitam a viagem. Portanto, a decepção mal administrada prejudica a qualidade de vida, podendo gerar quadros de ansiedade e depressão.

Mas como vivenciá-la de forma diferente e desviar-se de uma posição enfraquecida diante à vida?

A decepção pode ser encarada como um impulso para ação, um despertar de uma motivação, um olhar diferente para o desejo e o desafio, ela pode vir a ser uma força construtiva. Ela, no final da historia , faz com que o homem entre em sua própria “caverna”, ou seja, reconheça a si mesmo e assim enxergue suas inseguranças, precariedades e incertezas.

O desapontamento pode ser encarado como oportunidade e porque não como crescimento? Pois, se vivêssemos em um estado constante de plenitude pouco saberíamos de nós mesmos, pouco melhoraríamos e teríamos a motivação para conquistar algo. É exatamente essa discrepância que nos permite alcançar algo novo.

Sem frustação não existe necessidade, não existe razão para mobilizar os próprios recursos, para descobrir a própria capacidade para se fazer alguma coisa que se tenha vontade.

Para lidarmos com nossas emoções de uma forma funcional e positiva precisamos aprender a lidar com nossas frustações, pois quando mais tivermos um conhecimento sobre nós mesmos, mais vamos conhecer sobre aquilo que nos provoca dor.

A mudança de postura diante de uma frustação acontece quando percebemos que precisamos mudar nossa forma de lidar com ela. Como dizia Jean-Jacques Rousseau, (1712-1778) filósofo, teórico político e escritor suíço… “Pelos mesmos caminhos não se chega sempre aos mesmos fins.”

Lingia Menezes de Araújo

Psicóloga Clínica
Tel.: (31) 3150 -9950 / 9576-9032 / 8671-1127
Rua Miguel de Souza Arruda-233-Alvorada
CEP 32041-470 -Contagem/MG

Referências:
DANTAS, J.B. Angústia e Existência na Contemporaneidade. Rio de Janeiro. Editora Rubio, 2011.

O impulso de falar justamente o que não devemos

O impulso de falar justamente o que não devemos

Por Benedict Carey – The New York Times

As visões parecem subir do sistema de esgoto cerebral nas piores horas possíveis – durante uma entrevista de emprego, uma reunião com o chefe, um apreensivo primeiro encontro, um importante jantar.

E se eu começasse uma guerra de comida com esses canapés?

Zombasse da gagueira do anfitrião?

Quebrasse o gelo com um comentário racial?

“Esse único pensamento é suficiente”, escreveu Edgar Allan Poe em “O Demônio do Perverso”, um ensaio sobre impulsos indesejados. “O impulso se desenvolve numa vontade, a vontade num desejo, o desejo numa compulsão incontrolável”. Ele acrescenta, “Não existe na natureza um desejo tão demoniacamente impaciente, como o daquele que, estremecendo frente à borda de um precipício, medita a respeito de mergulho”.

Ou medita sobre a pergunta: estou doente?

Em alguns casos, a resposta pode ser sim. Porém, uma grande maioria das pessoas não age, ou raramente o faz, em tais compulsões – e sua suscetibilidade a rudes fantasias reflete, na verdade, o funcionamento normal de um cérebro social e sensitivo, segundo um artigo publicado na semana passada no jornal Science. “Há todo tipo de ciladas na vida social, em todo lugar que olhamos; não apenas erros, mas os piores erros possíveis chegam a nossas mentes, e chegam com muita facilidade”, diz o autor do artigo, Daniel M. Wegner, um psicólogo de Harvard.

“E ter a pior coisa entrando em nossa mente, em algumas circunstâncias, pode aumentar a probabilidade de que uma crise aconteça”. A investigação das compulsões perversas tem um rico histórico (como poderia não ter?), passando pelas histórias de Poe e do Marquês de Sade, até os desejos reprimidos de Freud a observação de Darwin de que muitas ações são realizadas “em oposição direta a nossa vontade consciente”. Na última década, psicólogos sociais documentaram o quão comuns são essas vontades contrárias – e quando apresentam as maiores chances de alterar o comportamento de uma pessoa. Num nível fundamental, funcionar socialmente significa controlar os próprios impulsos.

O cérebro adulto gasta, na inibição, pelo menos a mesma energia que gasta na ação, sugerem alguns estudos, e a saúde mental depende da manutenção de estratégias para ignorar ou reprimir pensamentos profundamente perturbadores – da própria morte inevitável, por exemplo. Essas estratégias são programas gerais, subconscientes ou semi-conscientes, que habitualmente funcionam em piloto-automático. Impulsos perversos parecem surgir quando as pessoas focam intensamente em evitar erros ou tabus específicos. A teoria é bastante direta: para não revelar que um colega é um grande hipócrita, o cérebro precisa inicialmente imaginar exatamente isso; a simples presença daquele catastrófico insulto, por sua vez, aumenta as chances de que o cérebro cuspa tudo para fora.

“Sabemos que o que é acessível em nossas mentes pode exercer uma influência no julgamento e comportamento simplesmente por estar ali, flutuando na superfície da consciência”, disse Jamie Arndt, psicólogo da Universidade do Missouri. As evidências empíricas dessa influência têm se amontoado nos últimos anos, conforme Wegner explica no novo artigo. No laboratório, psicólogos fizeram pessoas expulsarem um pensamento de suas mentes – o de um urso branco, por exemplo – e descobriram que os pensamentos ficam voltando, aproximadamente uma vez por minuto.

Da mesma forma, pessoas tentando não pensar numa palavra específica citam-na continuamente durante testes rápidos de associação de palavras. Os mesmos “erros irônicos”, como Wegner os chama, são fáceis de evocar no mundo real. Jogadores de golfe instruídos para evitar um erro específico, como lançar longe demais, o fazem com mais frequência quando estão sob pressão, segundo estudos. Jogadores de futebol instruídos a chutar um pênalti em qualquer lugar do gol menos um local específico, como o canto inferior direito, olham para esse ponto com maior frequência que qualquer outro.

Esforços para ser politicamente correto podem ser particularmente traiçoeiros. Em um estudo, pesquisadores das universidades Northwestern e Lehigh fizeram 73 estudantes lerem uma vinheta sobre um colega ficcional, Donald, um homem negro. Os estudantes viram uma foto dele e leram uma narrativa sobre sua visita a um shopping com um amigo. No estacionamento lotado, Donald não estacionou na vaga para deficientes, embora estivesse com o carro de sua avó, que tinha um passe, mas esbarrou em outro carro para se enfiar numa vaga comum. Ele insultou uma pessoa coletando dinheiro para um fundo do coração, enquanto seu amigo contribuía com alguns trocados.

E assim continuou. A história propositalmente retratava o protagonista de maneira ambígua. Os pesquisadores pediram que aproximadamente metade dos alunos tentasse reprimir estereótipos ruins de homens negros enquanto liam e, em seguida, julgasse o personagem Donald em critérios como honestidade, hostilidade e preguiça. Esses alunos avaliaram Donald como significativamente mais hostil – mas também mais honesto – do que os alunos que não tentaram reprimir os estereótipos. Para resumir, a tentativa de banir preconceitos funcionou, até certo ponto. Porém, o estudo também trouxe “uma forte demonstração de que a supressão de estereótipos faz com que os mesmos se tornem hiperacessíveis”, concluíram os autores.

Fumantes, pessoas que bebem com frequência e usuários habituais de outras substâncias conhecem bem demais essa confusão: o esforço para reprimir o desejo por um cigarro ou uma bebida pode trazer à mente todas as razões para quebrar o hábito; ao mesmo tempo, o desejo aparentemente fica mais forte. O risco de que as pessoas irão escorregar ou “perder” depende, em parte, do nível de estresse a que estão submetidas, diz Wegner.

Concentrar-se para não olhar fixamente uma enorme verruga no rosto de um novo conhecido, enquanto troca mensagens de texto e tenta acompanhar uma conversa, aumenta o risco de que você diga: “Nós fomos comprar verruga – quero dizer, verdura. Verdura!” “Pode haver certo alívio em simplesmente acabar com tudo, fazer o pior acontecer, para que você não precise mais se preocupar com o monitoramento”, disse Wegner. O que pode ser difícil de explicar, é claro, seria caso você acabasse de abaixar as calças durante um jantar com os amigos.

‘Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.’

‘Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.’

“Todo mundo é confuso como vozes na noite.”
Fernando Pessoa

Quando ainda estudante de psicologia, lembro-me de uma professora que tinha um jeito muito carinhoso de aproximar-se de alguém que estava com depressão. Ela perguntava: “Quem roubou sua caixa de lápis de cor”?

Ou então, “..hoje parece que o vermelho não está aí!”, para falar da falta de vitalidade, energia e disposição que presenciava naquela pessoa.

Sabemos que as cores revelam o nosso estado de espírito e de saúde, influenciam nossa conduta e até mesmo as nossas emoções.

Podemos brincar com a ideia da caixa de lápis de cor, dizendo que na tristeza –sentimento não patológico – os lápis de cor não foram perdidos, mas precisam ser apontados.

Na depressão, porém, tudo é diferente. A sensação é de não ter nenhum lápis colorido. Só há lugar para apatia e para o vazio. A vitalidade é quase nula. Há uma sensação de perda muito grande e o mundo mostra-se carregado de ameaças.

A pessoa com depressão sente-se despojada de certas formas de sentir e ser, e tem dificuldade em conviver socialmente; até mesmo com os familiares. Afasta-se do contato para evitar a dor e a vergonha, pois não consegue compartilhar dos sentimentos de alegria e otimismo que o Outro demonstra ter.
A depressão é uma doença do corpo inteiro e não só do cérebro.

Atualmente a O.M S. estima que a depressão afeta trezentos e quarenta milhões de pessoas em todo o mundo e que o número dobrou nos últimos cinquenta anos . Mas, mesmo com todas as informações, ainda é uma doença incompreendida e bem pouco tolerada.

Na História da Humanidade, encontramos desde sempre o procedimento de atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem e com a depressão isso parece ser ainda mais forte. É comum essas pessoas sentirem-se incompreendidas ou “cobradas” por não conseguirem reagir de forma diferente. Assim, além de enfrentar o sofrimento psíquico, a pessoa também sofre com o preconceito.

É necessário e urgente termos, frente às doenças da alma, maior compreensão e aceitação, e não nos fecharmos em resistências tolas.

Se formos sensíveis, inteligentes e humanos podemos fazer dessa situação uma ótima oportunidade de viver com o Outro a experiência de companhia, amizade e solidariedade. Ficar perto um pouquinho, tocá-lo e ouvir esse ser humano tão debilitado emocionalmente são os bálsamos necessários para os hematomas da alma. Não é necessário ter uma explicação convincente sobre o porquê da doença ou dizer palavras sábias de fortalecimento. O fundamental é a intenção de acolher.

Para essas situações das quais ninguém está imune de viver, Arthur da Távola deixou-nos uma bela receita:

“Só quem já foi capaz de sentir os muitos sentimentos do mundo é capaz de saber algo sobre as outras pessoas e aceitá-las, com tolerância.
Sentir os muitos sentimentos do mundo não é ser uma caixa de sofrimentos.
Isso é ser infeliz. Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.”

O prazer de ver o mundo como uma linda caixa de gizes coloridos, que está ao nosso dispor, vem devagar nas pessoas com depressão, e cabe a todos nós ajudá-las nesse processo. Mas, para isso, precisamos crer na capacidade de renovação de cada ser humano e lembrar que toda doença pede ação, mas também, o exercício da paciência.

Dez vantagens grisalhas

Dez vantagens grisalhas
USA, New Jersey, Jersey City, Senior woman sitting in bed and suffering from insomnia

1- 
Você não precisa mais ouvir: Aproveite o momento, pois a juventude passa rápido. Ela já passou inteira para você. Agora, você pode atualizar suas aventuras em Trancoso, Cuzco, Canoa Quebrada pregando fotos na parede do seu quarto.

2- Você sorri quando ouve o cara de 40 anos dizer que está envelhecendo. Pensa: Ele não tem a mínima noção do que é ficar velho. Mas não adianta contar para ele. Não precisa pressa, ele vai aprender.

3- 
Você entra no metrô cheio e tem uma cadeirinha te esperando. Então você pode, sentada, olhar os outros correrem. Correria para você é perda de tempo. Você compreendeu que o melhor sempre alcançamos devagar.

4- Quando jovem você sentia um certo constrangimento de dormir no meio de um filme. Agora você sabe que há filmes que merecem mais do que seu sono. Merecem seu ronco.

5- A pergunta O que vão pensar de mim? Vai definhando em importância. Relevante é o que você pensa sobre você. Os anos fizeram você enxergar que o eu interior é impenetrável e intransferível.

6- Você não tem medo das pedrinhas no caminho do cotidiano. Pois tropeçou muitíssimo. Não tem medo de perder trem, avião, festa. Você já perdeu pessoas muito amadas. Daí, por que se aborrecer com miudezas?

7- Os novinhos supõem que você tem experiência. Mas também acreditam que se o mundo mudou, certamente você está antiquada. Você não fica com raiva, porque lembra que cometeu igual engano em relação ao seu avô e a sua avó.

8-Você desiste de assistir a propagandas na tv. Só aparecem jovens viajando, bebendo cerveja, dirigindo carros, contratando operadoras de celulares. Apesar de você ter mais dinheiro do que eles, nenhuma empresa quer te seduzir.

9- Você também não precisa mais brincar de seduzir. Sabe que a sedução é um jogo como tantos outros. Já jogou tanto que os dados viciaram. Hoje, está mais interessada na sinceridade, mesmo quando ela se volta contra você.

10- O único que você não se acostuma é com a invisibilidade. Algumas vezes, as pessoas nem veem você. Mas, parando para observar, até nisso há uma vantagem. Você pode derramar algumas lágrimas que o estranho ao seu lado nem vai notar. Também pode rir alto e ninguém vai ligar.

A Síndrome do Coitadinho

A Síndrome do Coitadinho

Hoje eu vou falar de um tema inquietante e bastante questionador também, a síndrome do coitadinho. O que é a síndrome do coitadinho? É uma das mazelas mais comuns da sociedade, principalmente no mundo de hoje, onde grande parte das pessoas tem medo de encarar a vida de frente e de cabeça erguida, sendo maduras e auto confiantes.

A principal característica de uma pessoa que sofre da síndrome do coitadinho é se colocar como VÍTIMA DAS CIRCUNSTÂNCIAS, e se colocar como vítima traz sempre aquela ideia de que a culpa é do outro. O que acontece com essas pessoas é que elas não desenvolveram a sua saúde psíquica e emocional. Assim como o nosso corpo precisa de exercícios, a nossa mente e o nosso espírito também precisam de exercícios. Em minha opinião, as melhores formas de exercitar a mente e o espírito são: estar perto de pessoas que lhe façam crescer como ser humano e buscar o autoconhecimento e a espiritualidade. Seguindo isso a possibilidade de você ser um coitadinho é muito pequena, porque você vai estar emocionalmente equilibrado e não vai precisar ser vítima para conseguir o que quer.

Eu vou ser bem sincero com os leitores. Eu não tenho muita paciência com os que se fazem de coitadinhos. Sabe por quê? Porque eles são verdadeiros SUGADORES DE ENERGIA. Eu percebo que algumas pessoas que se aproximam de mim ficam falando sem parar e esperam que eu seja um remédio para elas. Isso acontece porque elas estão tão perturbadas emocionalmente que vêm sugar a minha energia positiva. Elas vêm com um papo clássico: “Eu não devia ter feito isso…”, “Eu não devia ter feito aquilo…”, “Fulano de tal não devia ter feito tal coisa comigo…”, “Fulano devia ter me tratado com respeito…”. E tudo fica só no devia, devia, devia… Essas pessoas ficam falando sem parar esperando uma atitude de pena e condolência, mas eu não faço isso não, aprendi que não se deve agradar a todos. Se alguém quiser esperar de mim uma alguma coisa que não posso fazer vai esperar sentado, porque não vou fazer. Isso não é arrogância meus amigos, isso é sinceridade, transparência e autenticidade, coisas que cada vez mais estou aprendendo a desenvolver.

Eu não me canso de falar que a nossa vida é o resultado dos nossos pensamentos e sentimentos. Eu procuro de várias formas diferentes nutrir bons pensamentos. É um exercício diário. Eu faço isso porque tenho como um dos maiores ideais a felicidade e a saúde completa (corpo, alma e espírito).

Por que as pessoas que se fazem de coitadinhos sofrem tanto? Elas sofrem porque só se focam no seu sofrimento, em vez de se focarem nas soluções dos seus problemas. Eu também adoro falar sobre as grandes personalidades mundiais. Essas pessoas de sucesso conseguiram os seus sucessos porque não dormiram no ponto com reclamações e lamentações, ou seja, focaram toda a sua energia apenas no sucesso. Dispuseram de muita energia para conseguir atingir suas metas e planos.

Agora eu vou falar o mais pesado de tudo. Não me leve a mal, mas eu preciso ser ríspido para falar de um tema como esse. Sabe qual é o antídoto e o principal remédio para um coitadinho? O DISTANCIAMENTO. Isso mesmo! Eu já comprovei por fatos que se você se distancia de um coitadinho ele vai pouco a pouco começar a refletir sobre a sua vida e se perguntar: “Será que eu tenho sido uma pessoa boa para os outros?”, “Será que a minha presença está agradando os meus amigos?”, “O que será que eu posso fazer para ser mais agradável?”, “O que será que eu fiz que incomodou tanto?” etc.

O distanciamento é um excelente remédio, porque os coitadinhos são viciados em falar, e falam repetidamente as mesmas coisas. São como um disco arranhado que insiste em tocar o mesmo verso. É muito chato estar perto de alguém que não tem assunto, que só sabe falar de raivas, de descontentamentos, de injustiças pessoais, de humilhações etc. Chega! Não precisa ser assim! Porque que ao invés de ficar falando de tanta chatice, você que se faz de coitadinho, não fala que vai comprar um bom livro para refletir sobre as questões humanas? Vai fazer uma terapia, um ioga, uma meditação? Ou que vai se esforçar para conviver em paz com aquela pessoa que lhe faz raiva? Ou que vai ser mais tolerante? Mais prestativo? Mais humilde? Menos invejoso? Tenho certeza que se eles procedessem assim deixariam de ser coitadinhos.

Vou concluir falando de uma coisa importantíssima para eliminar de vez a Síndrome do Coitadinho. Faça a seguinte pergunta: “Eu estou agregando valor à vida das pessoas?”. É uma pergunta muito simples e ao mesmo tempo muito complexa. O que é agregar valor à vida de uma pessoa? É fazê-la querer estar perto de você. É ser relevante no círculo social. É ser aquela pessoa que faz falta quando não está presente. É ser aquela pessoa que traz um ar diferente a todo ambiente em que adentra. Enfim, agregar valor é ser RELEVANTE.

Então! Você quer ser relevante ou quer ser coitadinho? Eu optei por ser relevante! É um caminho que se trilha diariamente. Não dá para ser relevante se você faz sempre as mesmas coisas, se você vive de mesmices, se você se nega a fluir com a vida, e sentir aquilo que ela tem de melhor. Inclusive tem uma frase brilhante do grande Albert Einstein em que indiretamente ele está falando dos que se fazem de coitadinhos: “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Reflita sobre essa frase…

Quando vier a primavera – Alberto Caeiro – Fernando Pessoa.

Quando vier a primavera – Alberto Caeiro – Fernando Pessoa.

Quando vier a primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
Heterónimo de Fernando

Interpretação: Pedro Lamares

Disk Denúncia “Ontem ele me beijou e me deixou marcas, mas não eram de batom.”

Disk Denúncia “Ontem ele me beijou e me deixou marcas, mas não eram de batom.”

4 dados sobre violência contra a mulher.

1. 48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos homens.

2. 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos.

3. 56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão:xingou, empurrou, agrediu com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo.

4. 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente.

São dados retirados do site Compromisso e Atitude

São por essas e tantas outras razões que Nina Oliveira e Gabi da Pele Preta interpretam Disk Denúncia, uma forte canção sobre a cultura de violência contra a mulher que ainda insiste em nossa sociedade.

Regra número 1 da boa convivência: para subir o nível, desça do salto.

Regra número 1 da boa convivência: para subir o nível, desça do salto.

Não importa quanto dinheiro você tenha. Não interessa o quanto você estudou mais que os outros. Valem nada seu sobrenome famoso, seu cargo importante, sua cidadania estrangeira, seus parentes no governo ou seu foro privilegiado. No fim, somando tudo isso o resultado será nada. Está faltando é compaixão entre nós.

Sabe aquela história de inverter os papéis e se colocar no lugar do outro? Essa coisa que a gente chama de empatia, compreensão? Então. De nada adianta se, depois desse exercício de transferência, a gente não se compadece da situação alheia.

Sem compaixão, seguiremos sobrevoando a miséria que julgamos não ser nossa, fingindo seriedade, sem nada fazer a respeito. Tratar o outro como você gostaria de ser tratado se estivesse no lugar dele não é só uma questão de bom senso. É uma prova de decência.

Não é preciso doar toda a sua fortuna para a caridade, não. Mas seria bom um gestozinho nobre aqui, uma mãozinha na consciência ali. Coisa simples, sabe? Já viu como em todo canto há pessoas se achando melhores do que as outras? Sempre tão certas de ter herdado a sabedoria divina, saem por aí maltratando funcionários, prestadores de serviço e outras figuras em “condição inferior” com a única tarefa de desvalorizá-las, enquanto pontificam sua supremacia em clichês como “as oportunidades são iguais para todos”, “sou rico porque trabalhei mais” ou “só vagabundo pede esmola”, esticando até o limite o elástico da generalização.

Será assim mesmo? Eu tenho dúvidas. Grandes e dolorosas dúvidas latejando feito calo. Por exemplo: você já reparou como se comportam certos motoristas no trânsito em relação às pessoas que panfletam folhetos publicitários no semáforo? Se ainda não, eu conto como é: certos motoristas fecham a cara, o vidro e o tempo quando alguém do lado de fora lhes estende um panfleto comercial no semáforo. Isso é chato, feio e desumano. Não custa nada aceitar esse material de bom grado. Não para fazer valer o investimento que alguém fez nesse tipo de propaganda. É pela pessoa que está ali trabalhando.

Antes de argumentar que esses motoristas fecham o vidro por “questão de segurança”, pense. Você sabe muito bem o que significa “contexto”. Em geral, quem distribui folhetos promocionais nos semáforos o faz em horário comercial, à luz do dia. E você também sabe diferenciar uma pessoa “suspeita” de um trabalhador com um maço de papéis na mão distribuindo de carro em carro.

E tudo bem se você não vai comprar apartamento com dois dormitórios e varanda gourmet em ótima localização. Não importa se o que se está divulgando ali não lhe interessa. É só pegar o folheto! E se puder dizer “bom dia”, “boa tarde” e “obrigado” a quem lhe entregar esse material, tanto melhor. Repito. A pessoa está ali trabalhando!

Depois, em casa, você tira os folhetos do carro, joga no lixo reciclável e pronto! É tão simples! Claro que você não tem a obrigação de fazê-lo. Ninguém tem. Mas eu insisto: é tão simples!

Já ouvi dizerem por aí, assim, na maior, que a diferença entre quem está dentro dos carros e quem está fora, panfletando, é o grau de esforço anterior de cada um. Segundo essa generalização esdrúxula, quem está ali fora, sujeitando-se à humilhação imposta por alguns dos que estão dentro, é porque não estudou nem se esforçou o bastante. Típico raciocínio preconceituoso, simplista, superficial e boboca que, aos poucos, vai nos transformando em uma sociedade cínica e incapaz de pensar seus problemas.

As coisas nem sempre são tão simples assim, sabe? Nem sempre se trata do que muitos de nós se acostumaram a chamar de “vitimismo”, enfiando num mesmo balaio todos os cidadãos que, por algum motivo, “não deram certo na vida”.

Agora, e daí se o sujeito que entrega panfletos no semáforo estudou menos que a pessoa de dentro do carro? Isso os torna mesmo diferentes a ponto de um se achar melhor que o outro?

Só para constar, eu já fiz esse tipo de serviço. Distribuí folhetos no semáforo para divulgar um evento em 1994. E não estou me vitimizando, não. Eu estava na faculdade e o dinheiro que ganhei com aquilo na época foi providencial. Levei comigo para a lida o meu irmão caçula, que naquele tempo tinha 15 anos, e ele fez uma graninha também. O que ganhamos panfletando ajudou em nossa casa. Foi um trabalho honesto e que nos ensinou muito sobre a vida e sua gente. Acredite. Eu sei do que estou falando!

Tem gente dentro do carro que olha o panfleteiro como se tivesse acabado de tirá-lo do próprio nariz!

Tem gente que torna o mundo pior assim, aos pouquinhos, fingindo não perceber.

Tem gente que vai achar este texto um mimimi monumental, tão certa de que há coisa mais importante para discutir, tão convencida de que a nossa incapacidade para a empatia e a compaixão nada tem a ver com a intolerância que se espalha por todo canto, tão confortável em cima de seu salto alto.

Mas também tem gente que vai pensar um pouquinho no assunto. Eu agradeço por isso. GRAÇAS A DEUS, tem gente que ainda pensa. Pensemos juntos. Desçamos do salto. Subamos o nível. Está faltando compaixão aqui embaixo.

Os 6 melhores diálogos de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

Os 6 melhores diálogos de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

Por Luisa Bertrami D’Angelo

Continuou sentada, de olhos fechados, e meio que acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastava abrir os olhos para que tudo se transformasse na realidade monótona… (p. 170-171)

“Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: ‘Quem é que eu sou?’. Ah, essa é a grande charada!” (p. 26)

“Era muito mais agradável em casa”, pensou a pobre Alice, “quando não vivia crescendo e diminuindo desse jeito, nem recebendo ordens de camundongos e coelhos. Quase gostaria de não ter caído aquela toca de coelho… porém… porém… é bem curioso, sabe, esse tipo de vida! Queria saber o que foi que aconteceu comigo! Quando lia contos de fada, imaginava que essas coisas nunca aconteciam, e agora estou no meio de um deles! E quando crescer, vou escrever um livro… mas já estou crescida agora”, acrescentou num tom triste. “Pelo menos não há mais espaço para crescer neste lugar”.
“Mas neste caso”, pensou Alice, ” nunca vou ficar mais velha do que sou? Por um lado, será um alívio… jamais serei velha… mas, por outro lado… sempre ter lições para aprender! Oh, eu não gostaria disso!” (p. 50)

“Quem é você?”, disse a Lagarta.
Não era um começo de conversa muito estimulante. Alice respondeu um pouco tímida: “Eu… eu… no momento não sei, minha senhora… pelo menos sei quem eu era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então”.
“O que você quer dizer?”, disse a Lagarta ríspida. “Explique-se!”
“Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora”, disse Alice, “porque já não sou eu, entende?”
“Não entendo”, disse a Lagarta.
“Receio não poder me expressar mais claramente”, respondeu Alice muito polida, “pois, para começo de conversa, não entendo a mim mesma. Ter muitos tamanhos num mesmo dia é muito confuso.” (p. 61)

“Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu ainda mais o sorriso. “Vamos, parece ter gostado até agora”, pensou Alice, e continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?”
“Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato.
“O lugar não importa muito…”, disse Alice.
“Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato. (p. 84)

“Nesta direção”, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, ambos são loucos.”
“Mas eu não ando com loucos”, observou Alice.
“Oh, você não tem como evitar”, disse o Gato, “somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.”
“Como é que sabe que eu sou louca?”, disse Alice.
“Você deve ser”, disse o Gato, “senão não teria vindo pra cá.” (p. 84-85)

Alice suspirou cansada. “Acho que você poderia aproveitar melhor o seu tempo”, disse, “em vez de desperdiçá-lo propondo charadas que não têm resposta.”
“Se você conhecesse o Tempo como eu conheço”, disse o Chapeleiro, “não falaria em desperdiçá-lo, como se fosse uma coisa. É um senhor.”
“Não entendo o que você quer dizer”, disse Alice.
“Claro que não entende!”, disse o Chapeleiro, atirando a cabeça desdenhosamente para trás. “Acho que você nunca sequer falou com o Tempo!”
“Talvez não”, respondeu Alice cautelosamente, “mas sei que tenho de bater o tempo, quando estudo música.”
“Ah! Isso explica tudo”, disse o Chapeleiro. “Ele não suporta ser batido. Agora, se você mantivesse boas relações com o Tempo, ele faria quase tudo o que você quisesse com o relógio. Por exemplo, vamos supor que fossem nove da manhã, bem na hora de começar as aulas. Você só teria de sussurrar uma dica para o Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos! Uma e meia, hora do almoço!” (p. 94-95)

Edição: L&PM Pocket, 2007

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