Somar com o outro é muito mais do que atender meras vaidades

Somar com o outro é muito mais do que atender meras vaidades

“Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo.” Sylvia Plath

Como ainda desconhecemos o real significado da cumplicidade? Quando perceberemos que, para garantirmos empatia, precisamos nos mover em direção ao querer comum? Somar com o outro é muito mais do que atender meras vaidades. Ainda que dispostos dos próprios anseios, o querer o bem implica compartilhar do afeto sem nada em troca, da consciência humana de simplicidade e perseverança sem pensar no adiante, mas no instante.

Fala-se do amor e dos sentimentos com propriedade de quem conhece todos os pormenores, mas, abatido pela cegueira arrogante, trata com sons os sentires que não precisam ser explicados. É querer ouvir e não praticar. E nessa dança egoísta e conservadora, julga reconhecimento do próximo numa espécie de obrigação. A cumplicidade percorre outros descaminhos. Ela deixa de ser onírica quando encarada na ponta dos lábios e nas mãos do coração. Sem sofrer de desprazeres e sem sucumbir por feridas passadas. A cumplicidade abraça o perdão.

Não obstante, o cúmplice do amor é o próprio. A mesma metade vista no colo que repara, admira e impulsiona para novos voos. Aceitar menos implica a desistência da cumplicidade, resultando assim, no furtivo desaparecimento da poesia a dois. Desafinados não reconhecem o mais. Nem do amor e muito menos da vida.

Um bom encontro é de dois

Um bom encontro é de dois

“Fundamentalmente, um organismo vive em seu ambiente ao manter suas diferenças, e mais importante, ao assimilar o ambiente e suas diferenças; e é na fronteira que os perigos são rejeitados, os obstáculos são superados e as coisas assimiláveis são selecionadas e integradas. Agora, aquilo que é selecionado e assimilado é sempre novo; o organismo persiste ao assimilar o novo, ao mudar, crescer. O que é difuso, sempre igual, ou indiferente não é um objeto de contato.”

Fritz Perls

Dentre as necessidades primordiais do ser humano encontra-se a necessidade de pertencimento. Se fossemos seres solitários provavelmente não teríamos sobrevivido e evoluído enquanto espécie, nós nascemos programados para pertencer, o funcionamento de nosso organismo é feito para tanto. Nós desenvolvemos a comunicação oral, escrita e corporal, sentimos, pensamos, para pertencer. Sem a sensação de pertencimento estaríamos fadados a viver uma vida muito pobre em experiências e crescimento.

É essa sensação de “fazer parte” ocorre através do contato; o contato nos proporciona o entendimento do “eu” e do “não-eu”, o contato que é feito com nós mesmos e com o outro. Essa necessidade vital faz com que todas nossas atitudes, escolhas, crenças, palavras, relações, tenham como denominador comum o intuito de fazer contato, para poder fazer parte.

O contato é o sangue vital para o crescimento, o único meio de mudar a si mesmo e a experiência que se tem do mundo, o que resulta de um encontro saudável com o outro é amor, mudança, evolução, pertencimento. E o mais paradoxal do contato é o fato de que ele não acontece na mesmice, o que acontece na mesmice é confluência, fusão, contato mesmo só existe naquilo que nos é diferente, instigante, intrigante.

Mas, se buscamos sempre o contato, se todos as nossas atitudes existem com o objetivo de pertencer, por que muitas vezes falhamos? Por que vivenciamos tantos conflitos? Por que causamos desconexões?

Uma das razões pode estar na má qualidade de nossa comunicação. Em geral, nos comunicamos muito mal, com nós mesmos e com os outros. Raramente conseguimos comunicar com verdade o que sentimos e necessitamos, mais raramente ainda sabemos acessar nossas necessidades e supri-las de maneira autêntica e saudável.

Outra causa importante de desencontros pode estar no fato de que o contato só acontece na fronteira e essa fronteira, com exceção das fronteiras físicas, nunca é fixa. Ao contrário, ela é fluída, instável, maleável e muito complexa. Mas, se a fronteira não é tão fácil de ser percebida, o que podemos perceber de maneira mais clara é que não existe contato na invasão de sua fronteira. O contato só ocorre na fronteira.

Sendo assim, quando falamos algo que não nos foi perguntado, quando fazemos algo que não nos foi pedido, quando não enxergamos ou respeitamos os nossos limites e os limites do outro, invadimos a fronteira de contato, e essa invasão gera mais desconexão do que conexão.

E como já foi citado antes, o encontro com o outro, com o diferente, é o maior propulsor de nosso crescimento espiritual, das nossas experiências de vida mais essenciais e significativas. Somos seres únicos, irrepetíveis, diferentes e é isso que nos une. Portanto, se queremos fazer contato com o outro de maneira harmoniosa, é fundamental aprendermos a respeitar as fronteiras desse contato, e é muito importante fazer isso sem deixar de respeitar nossa própria essência. Não é saudável perder-se de si para poder pertencer, como já foi citado, tornar-se igual aos outros para poder pertencer não é fazer contato, pois na mesmice não há contato.

Portanto, nesse processo de encontro com outro, é fundamental entender que não fazer contato, ou seja, não pertencer, também faz parte do risco dessa busca por pertencimento e isso é saudável, desde que seja feito também com respeito ao outro, o que muita vezes não acontece. Se queremos evoluir é importante estarmos abertos para o que nos é diferente, mesmo quando não existe conexão. Fritz Perls, o pai da Gestalt-terapia, certa vez disse: “Eu sou eu, você é você. Se por acaso nos encontrarmos, é lindo. Se não, não há o que fazer”.

Sim, um bom encontro é sempre de dois; quando ele ocorre é lindo, quando não ocorre, não há nada a fazer.

Se pudesse, que conselhos você daria para si mesmo?

Se pudesse, que conselhos você daria para si mesmo?

Se pudesse, que conselhos você daria para si mesmo?

Sabe aquela situação difícil pela qual  você está passando? Aquela preocupação que não sai da sua cabeça? Aquele problema que parece sem saída? Aquele sofrimento que se apegou em você?

A vida pode ter variados significados e essa interpretação é algo muito pessoal. Entre tantos, um possível é que a vida consiste em uma série de acontecimentos que nos insere e nos tira da zona de conforto. Como ondas no mar, diante de um fundo de tranquilidade e paz, várias oscilações acontecem, fazendo-nos seguir novos rumos e passar por novas experiências.

Muitas vezes, estamos nessa movimentação de ondas gigantes e/ou intensas e não sabemos como superá-las. Parece que a forma como nadávamos antes não nos ajuda a passar por essas novas adversidades e tomamos - sem saber bem o motivo - aquele belo caixote.

A resposta para sair ou passar melhor por essas situações é entendermos que estamos, na verdade, mal posicionados. Estamos parados no local onde a onda está arrebentando e, por isso, levamos aquele caldo.

Mas e se fôssemos um pouco mais a fundo, onde a onda se inicia, e ficássemos observando as suas oscilações, sem que isso nos alterasse tanto? Essa seria uma boa opção, não?

Mas como sair do lugar em que estamos hoje?

Muitas vezes, estamos tão condicionados com as nossas crenças de que a arrebentação é o nosso lugar, que não conseguimos enxergar que tudo não passa de mais uma onda que vem e vai. Temos, nesse caso, que ampliar o nosso olhar, observar o início de tudo e ver como isso se forma.

Uma das melhores formas que temos para isso é ouvirmos os conselhos: alguém que está vendo tudo da areia nos orienta sobre onde é o nosso lugar e como sair da situação.

E se, dessa vez, em vez de procurarmos um conselheiro externo, passássemos a procurar nosso próprio conselheiro? Aquela voz ou aquele pensamento que está dentro de nós, ansioso para ser ouvido; o nosso Guru interno?

Mas como encontrar o nosso guru interno?

No silêncio, na natureza, em um lugar que nos inspire, no estado meditativo, local religioso, naquela música que nos acalma, no sonho, correndo…

Pergunte-se: qual conselho eu me daria?

Relaxe e respire lentamente. Pense em 3 ou 5 conselhos e escreva-os em uma folha. Não julgue e nem critique, apenas escreva.

Guarde-os e, nos dias seguintes, leia-os e os mantenha com você. Siga o conselho do seu guru/mestre interior. Ele é o caminho que vai tirá-lo desta situação.

Om

Mães Possíveis

Mães Possíveis

Minha avó não foi uma mãe perfeita para minha mãe. Minha mãe não foi uma mãe perfeita para mim. Eu, certamente, não sou uma mãe perfeita para meus filhos.
E minha filha não será uma mãe perfeita para os filhos dela. E isso é maravilhoso, posto que a perfeição não existe. A gente vai sendo mãe um pouquinho a cada nova experiência, alegria ou desafio. A gente acerta às vezes. A gente erra às vezes.
Mas a coisa mais bonita desse amor intenso e imperfeito é que quanto mais o tempo passa, melhores coisas brotam de nós. Quando a gente acerta, o coração fica feliz.
Quando a gente erra, a gente pede perdão. E ensinar a perdoar é um inequívoco ato de amor.

E o mundo anda precisando mesmo é de amor! Daquele amor, sem risco calculado, e liberto de definições. Amor possível que dá a cada um de nós a oportunidade de exercer diferentes papéis. Amor que invade tudo com a simplicidade necessária para tirar de nossas costas o peso insuportável de uma ditadura afetiva qualquer. Para ser mãe, não é preciso amar incondicionalmente; mas é absolutamente necessário que se esteja disposto a descobrir formas inclusivas de amar. Ser mãe não é particularidade feminina. Aliás, a beleza reside nisso: é possível ser mãe, sendo mulher ou homem; porque a maternidade é da categoria das coisas que abrangem, não das que limitam.

ABRIR OS BRAÇOS E A MENTE PARA TODA FORMA DE AMAR

A vida não cansa de nos lançar perguntas novas para nos tirar da confortável poltrona dos saberes definitivos. Ainda bem! E, ainda que muitos insistam em fazer “ouvidos moucos”, teimem em fingir que a pergunta não é para ele… Ainda assim, a mais irredutível e inatingível das pessoas, uma hora tem que se confrontar com o fato inquestionável: não há verdade que dure mais de alguns dias (às vezes horas, ou até minutos), sem ser questionada. Para essas pessoas a vida reserva abordagens bem menos ignoráveis do que as mansas perguntas. Diante do pouco caso, a vida usa de verdadeiros Tsunamis para nos desorganizar. E, se não for por bem, será pela força que seremos arrancados de nossas torres de certeza. E aqueles que insistirem na ignorância hão de ficar tão sós com suas preciosas verdades que, um dia, acabarão por retroceder e lamentar não ter compreendido que o amor não suporta fórmulas prontas.

MÃES POSSÍVEIS

A maternidade é uma experiência intensa e desorganizadora. Diante da iminência de gerar um filho, dentro ou fora da própria barriga, a pessoa parece ter sido presenteada com um baú mágico cheio de lentes especiais; uma para cada dia da vida, até que a vida termine. Não ousemos imaginar que seremos contemplados com uma vida cor de rosa, cheia de bilhetinhos amorosos e experiências idílicas e perfeitas. Essa é uma escolha (sim, é uma escolha!), que ao ser feita, transformará nossa rotina de forma inquestionável. Assim que tomamos a decisão de ser mãe, abrimos mão de ver o mundo com os mesmos olhos todos os dias. Todos os dias descobrimos uma porção nossa desconhecida, capaz de feitos inimagináveis que vão desde curar dor de tombo com um sopro mágico, até curar dor de amor com uma xícara de chocolate quente. E junte-se a essa desafiadora tarefa, a vida profissional, afetiva, acadêmica e o que mais seja esperado na existência de um ser humano que continua a existir individualmente; apenas optou fazer caber nessa vida uma nova vida pela qual se responsabilize, material e emocionalmente.

UM GRANDE DESAFIO

É! Ninguém disse que seria fácil. Nada de manual de instrução, garantias ou previsões certeiras. No entanto, pouco importa se o filho nasceu do encontro de um óvulo com um espermatozoide dentro de nós, foi gerado a milhares de quilômetros ou só veio a nos conhecer como mãe, já com alguns anos contados. Dentro de cada um de nós, homens ou mulheres, mora uma mãe. Esse ser mitológico, com poderes terrenos e afetivos, que também falha, sente insegurança, medo e cansaço. Portanto, se você é uma dessas pessoas que se dispôs a tão desafiadora tarefa, não espere um carrossel no parque; mas espere uma vida de possibilidades e inúmeras experiências que o levarão às mais diferentes formas de amar.

ADOTAR UMA CRIANÇA É CARREGAR UM CORAÇÃO FORA DO PEITO

A palavra adoção tem origem do latim “adoptio”, que em nossa língua significa “tomar alguém como filho”. Ação de adotar, tomar para si com cuidados. Sendo assim, todos os filhos são adotados. E, se não o forem, alguma coisa estará tremendamente equivocada. As experiências de relatos de adoção trazem em si uma revelação de iluminar a alma: a grande maioria dos pais que se dispuseram a adotar uma criança, nascida biologicamente de outro casal, contam que foram escolhidos pela, ou pelas crianças. A experiência é descrita como um encontro de almas, proporcionado pelo encontro de olhares. Os olhos, sempre os olhos! E não será assim também com os filhos nascidos do nosso próprio útero?! Tem que ser! Tomar alguém para si com cuidados é, sem dúvida, um compromisso racional e amoroso com forte poder de transformação pessoal. Então… Fica aqui um convite àqueles que possuem um coração capaz de amar incondicionalmente: Tratemos de adotar como filhos, aqueles que nasceram de nós, e aqueles que nunca tocaremos com nossas próprias mãos; mas, que somos capazes de tocar com cuidados assumidos, numa missão de sermos “mães do mundo”! E que tenhamos, então, de fato, UM FELIZ DIA DAS MÃES, em todos os dias de todos os anos!

MUDE UMA VIDA

Ao apadrinhar uma criança de uma das comunidades apoiadas pela ActionAid, você passa a apoiar projetos nas áreas de alimentação, saúde, educação, direito das mulheres e afrodescendentes e moradia, sempre em parceria com uma organização da própria comunidade. A criança e todos os que vivem naquela região são beneficiados, desenvolvendo meios e criando oportunidades para superar a pobreza. Com a ActionAid, você tem a certeza de gerar benefícios reais que vão mudar a vida de uma criança e de sua comunidade. Conheça algumas histórias de crianças que precisam de ajuda para mudar suas vidas.

Sejamos fora da caixinha

Sejamos fora da caixinha

Mesmo antes de nascermos começamos a receber rótulos. No começo, apenas os aceitamos e queremos honrá-los. Posteriormente, passamos a criá-los e defendê-los.

Sinto que gostamos de rótulos, pois eles nos fazem sentir únicos. É como se fosse essencial personalizar uma caixinha com etiquetas que nos definem e que fazem as pessoas se lembrarem de nós. Que fazem com que nós mesmos tenhamos como nos descrever. Nós simplesmente nos apegamos a essa caixinha. E alguns se apegam tanto, que nunca mais querem mudá-la.

Talvez esses sejam os ditos “personalidade forte”. Já outros, estão sempre buscando um conjunto de rótulos mais bonitos para colocar lá. E ai de quem ouse questionar minha preciosa caixinha, principalmente para sugerir que um rótulo feio deveria estar ali ou que um daqueles que mais aprecio não devem ficar.

O problema é que, se você se confunde com a sua caixinha, pode acabar entrando num vazio imenso sem entender o porquê, já que possui tantos rótulos bonitos para mostrar. Já que sua caixinha é colorida, tem glitter e toca música quando aberta. Já que tantos gostam dela.

contioutra.com - Sejamos fora da caixinha

Acontece que você não é sua caixinha e talvez tenha perdido tanto tempo com ela que se esqueceu de se encontrar. Talvez você não tenha percebido que mudou e que, há tempos, já é completamente diferente do que está lá. Talvez você tenha ignorado o que pensa e o que sente por julgar que não combinaria com a sua caixinha e por medo de como julgariam seu novo conteúdo. Por medo de afastar quem você ama.

E que graça tem todo essa trabalho de ornamentação para agradar os olhos alheios se ele não condiz com a realidade? Pior ainda, se nem ao menos soubermos quem somos?

Quem não consegue expressar o que é sente raiva, mesmo que inconscientemente, de quem tem coragem de colocar na caixinha só o que vem de dentro. Quem não consegue ou não quer se  expressar, julga com estranheza o que é original, tanta fabricar caixinhas socialmente aceitáveis, cria um dominó de julgamento e desrespeito pela caixinha dos outros.

Por outro lado, pessoas que têm rótulos condizentes com sua essência, não precisam esbravejar por ai “Ei, olhe meu rótulo, esse é real, eu sou mesmo assim!” Não. Normalmente, elas não se importam se os outros as aprovam ou não. Exigem apenas o respeito que todos merecem. Afinal, só estão sendo o que são. Nada podem fazer em relação a isso. Feio ou bonito, trata-se apenas da realidade. E elas se sentem livres pra mudar, pra melhorar, pois já não se importam com o desconforto que isso traz aos outros desde que estejam em paz consigo mesmas. Elas não se importam se não há palavras no nosso dicionário para descrever seu real estado de ser. Palavras são muito limitadas perto da realidade.

Estamos sempre buscando rotular uns aos outros e esquecemos que a vida é pura mudança. Damo-nos o direito de mudar somente um pouco por vez e em situações especiais. Por que nos limitamos? Por que temos medo de nos perder? De perder nossos rótulos, de esquecer o que existe dentro da caixinha? Por que não deixamos o outro mudar também? Por que me sinto ameaçado quando percebo que meu companheiro/amigo/parente está mudando? Somos livres, pois!

E, no fim, somente quando nos libertarmos dessa necessidade de entender e controlar caixinhas é que poderemos nos relacionar de forma genuína uns com os outros. Caixinhas com rótulos reais. Nunca perfeitos, mas que apenas são e deixam ser em paz.

Amores dizem adeus, algumas vezes

Amores dizem adeus, algumas vezes

“Não ser amado é apenas questão de pouca sorte, mas não ser capaz de amar é uma desgraça”. Albert Camus
O quanto somos capazes de amar? Será mesmo que existe uma forma de mensurar o amor ou ele simplesmente é delineado conforme os nossos anseios e quereres? Algumas pitadas de sorte se fazem necessárias? Indo mais afundo nessas questões, quem está descrevendo o calvário do coração no livro chamado destino?

Querendo congelar instantes, perpetua-se um viver agridoce, que nubla e finca pés e mãos num passado sem sentido. O passado está morto. É um sopro de outrora que não pode ser reconstruído de acordo com caprichos. Segundas chances não foram criadas para pavimentar o terreno gasto, ainda que seja confortável estar de pé sobre o conhecido.

Amores dizem adeus, algumas vezes. E nem por isso devem ser considerados menos. Porque é mais toda vez que o peito inflama, o carinho desabrocha e a vontade de querer bem supera condições sociais de certo e errado. O torto no amar é não ser capaz de ser.

A graça e a amplitude deste sentimento tão essencial aos instantes é a possibilidade de caminhar em novas direções. Sem medidas e regras, permitindo a sua transição para novos mares. Para faróis tempestuosos ou tranquilos, mas que signifiquem o permitir estar e não o obrigado a estar.

Pouca sorte, desgraça e outros agouros prevalecem para os presentes no até logo. Erroneamente, entendem o adeus como partida, mas no fundo, ele é o início.
Adeus, amores passados. É tempo de sorrir para o presente em diante.

O que você precisa saber antes de morar em mim

O que você precisa saber antes de morar em mim

Por Fellipo Rocha

Se os meus olhos são as janelas da minha alma, minha boca é a porta e, o beijo […] – a chave.

Peço que repare na bagunça e pense, pense muito bem antes de entrar. A casa é pequena, mas comporta muitas coisas. Os cômodos do meu coração estão abarrotados de tentativas, repletos de receios, e guardam pilhas intermináveis das minhas mais vulneráveis expectativas.

Agora me responda: Tem certeza que quer entrar? Se a resposta for positiva, peço que entre com calma. Na sala do meu coração você encontrará centenas de filmes, que me fizeram rir e chorar – no abrigo de outros braços. Músicas que embalaram altos e baixos – com outros amores. Muitas fotos de viagens que fiz e coisas que quis, mas que hoje não passam de antigos e distantes rumores.

Na cozinha você sentirá o cheiro de muitos jantares. Temperos que eu costumava adorar e hoje já não posso suportar. Velas apagadas pela ação implacável do tempo. Talheres que alimentaram outras bocas e taças que embriagaram outros corpos.

Meu banheiro exala o cheiro de tantos perfumes, sabonetes e loções – quanto de decepções. Fios de cabelos distintos entopem o ralo do esgoto, enquanto escovas de dente diversas ocupam o chão. A água do meu chuveiro já lavou outros suores e o espelho sobre a pia já refletiu dias melhores.

O quarto do meu coração é o cômodo mais bagunçado, guarda tantas lembranças boas – quanto amores dilacerados. Nele você encontrará todo o prazer que dei e recebi. Todas as lágrimas que derramei e todas as alegrias que senti. Vários livros de cabeceira. Roupas por todos os lados. Noites em que fui feliz, e outras em que desejei dormir e nunca mais ter acordado.

Agora preciso que me diga: Tem certeza que quer continuar? Sim? Então caminhe até o quintal. Lá você verá quem fui e quem sou. Os espinhos que colhi, quando flores plantei e os fracassos que colhi – quando esperanças semeei. Mas verá também um pedaço de terra fértil, que resistiu bravamente e, anda precisando – urgentemente – de água, adubo, calor e amor.

Agora me responda com toda a sinceridade que reside em ti: Deseja assumir a responsabilidade de revitalizar a minha horta? Quer me ajudar a varrer o chão, lavar os pratos e pintar as paredes? Está disponível para me auxiliar na troca dos móveis e com a nova decoração? Carregará comigo todo o lixo para fora? Quer – do fundo do seu coração – habitar o meu?

Sim? Perfeito, cuide bem de tudo – a casa agora também é sua.

Mar amar

Mar amar

por Fernanda Pompeu
imagem Régine Ferrandis

Pezinhos na areia fofa e molhada de água salgada das pequenas ondas. Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, anos 1960. Não tinha shopping, não tinha vitrine de big prédios residenciais. Havia dunas de areia, vento forte, minha avó Affonsina e o mar.

O mar que eu percebia pela primeira vez. Ele que me acompanharia por toda vida. Primeiros registros – como sacou o publicitário Washington Olivetto – são o primeiro sutiã, aquele que a gente nunca esquece. Portanto lembrei do mar da infância quando, aos 40 anos, visitei o Cabo de São Vicente, no Algarve português. Que tontura! Olhar o mar a partir do Cabo é se debruçar para o infinito de água e sal, para as lágrimas e os depois. Portugal cheira a sardinhas, a perceves, a conquistas.

Quer morrer no mar, mas o mar secou, o poeta Carlos Drummond diz ao José, sujeito que não sabe mais o que fazer, nem para onde ir. Mas, meu poeta querido, o mar nunca seca. Secam os rios, os chãos, as bocas. Até o amor seca. Já o mar é planeta molhado. Se um dia secar, acaba tudo. Acabam as formigas, os bois, as pérolas, bijuterias, guerras e poemas.

Sem o mar, Isidore Ducasse, aliás Conde de Lautréamont, jamais teria escrito Os Cantos de Maldoror, publicado em 1869. Nessa narrativa estranha e fantástica, há o mar coração, mar travessia. Mar hipocrisia, mar humano. Lembrei agora de uma pequena joia do Paulo Leminski: Aqui nesta pedra alguém sentou olhando o mar. O mar não parou pra ser olhado. Foi mar pra tudo quanto é lado.

Se não existisse mar, talvez nem houvesse literatura. Pois mesmo nas narrativas de sertões, interiores, grotões o mar está sempre presente. Seja em sonho, desejo, ou qualquer outro sentimento. Faz alguns anos, viajando pela Bolívia sem saída para o mar, me veio a certeza de que todo e qualquer país tem direito ao mar. É isto: o mar é direito inegociável. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, esqueceu de pôr este artigo: Todas as pessoas têm direito a ver o mar, sem necessidade de passaporte ou qualquer outra burocracia.

Até em países extremamente desiguais – como o Brasil – o mar leva a fama de ser de todos. O de Copacabana, o do Farol da Barra, do Gonzaga, da Iracema, Boa Viagem, Icaraí, Praia Grande. Até o do Desterro, da Boa Morte, do Coração Partido, da Enseada do Botafogo. Simples. O mar é de todo mundo, porque é de ninguém.

O significado dos nossos chapéus

O significado dos nossos chapéus

No livro “A insustentável leveza do ser” há uma passagem em que o narrador nos presenteia com uma reflexão sobre um fragmento da vida de Sabina, uma das personagens do romance, que, devido à ausência de significado do chapéu de coco que vestia sua cabeça para o amante com quem ela se encontrara – chapéu que havia sido objeto erótico e sentimental de um relacionamento anterior -, identifica um abismo gigante entre eles.

O mesmo chapéu que, dentro de uma determinada história, fora motivo de excitação e, posteriormente, um gatilho de comoção, um hino à memória compartilhada, agora, ao ser vestido, nada significava para o presente telespectador, tratava-se de uma língua desconhecida que os distanciava.

É claro que, conforme o narrador ainda nos aponta através de uma bonita metáfora, as pessoas sempre podem compor em conjunto as partituras musicais de suas vidas, porém, na medida em que ficamos mais maduros, elas tendem a ficar mais acabadas e os objetos e palavras passam a ter um significado diferente na vida de cada um.

E eu penso que é justamente na existência de significações compartilhadas que reside a beleza de nossos relacionamentos. Muitos acabam, por diferentes motivos – e, dentre eles, o medo -, vestidos de uma superficialidade que sufoca a espontaneidade necessária à construção de um sentimento comum que ficará atrelado, sob a testemunha única de seus criadores, às palavras e objetos.

As pessoas especiais não são, necessariamente, aquelas com as quais compartilhamos uma quantia significativa de momentos; mas aquelas cuja verdade e intensidade transbordam e passam a morar, em forma de sentimento que um dia evocará saudade, em fonemas e contextos.

A graça gigantesca que eu e meu pai encontrávamos na careta que criamos e cultivamos por toda a minha infância não ficará estampada nos lábios de mais ninguém, ainda que eu venha a reproduzi-la fielmente. Não ríamos porque a careta era engraçada (ainda que fosse); ríamos pelo prazer do hábito compartilhado, ríamos pelo pacto silencioso que o trejeito inventado selava.

E, muitas vezes, o que chamamos de saudade se manifesta quando os representantes das significações compartilhadas surgem e o outro não está mais lá para dividi-las, para nos presentear com o afago da compreensão silenciosa e simultânea.

Ainda bem que, por mais rara que possa se tornar, jamais estaremos livres da sinfonia de novos motivos a serem compartilhados que surge quando conhecemos o outro e nos deixamos conhecer, afinal, poucas coisas nos fazem sentir tão vivos quanto caminhar ao lado de alguém que conhece o significado dos nossos chapéus.

15 filmes baseados em fatos reais

15 filmes baseados em fatos reais

Filmes baseados em fatos reais são bons por, pelo menos, dois motivos. Em primeiro lugar, fazem com que vejamos personagens famosos a partir de um ângulo diferente, conhecendo suas fraquezas, problemas e alegrias. Em segundo lugar, demonstram que não há nada impossível na vida. O importante é acreditar nos próprios sonhos e, dia após dia, correr atrás dos seus objetivos.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Saving Mr.Banks

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É a história da complicada relação entre o lendário Walt Disney e Pamela Trevers, autora do icônico livro infantil Mary Poppins. Disney prometeu a suas filhas que rodaria um filme baseado em seu personagem literário favorito, mas não imaginava que a realização da ideia levaria quase 20 anos. O longa mostra os dois famosos a partir de ângulos inesperados, expondo seus segredos e mistérios do passado. Obviamente, a atuação espetacular da dupla Tom Hanks e Emma Thompson merece uma atenção especial.

A Duquesa

The Duchess

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O filme trata do complicado destino da famosa duquesa de Devonshire, que muito jovem foi obrigada a casar por conveniência. O casamento lhe deu status social, riqueza e fama, mas não o mais importante: o amor. Porém, a corajosa garota desafiou a alta sociedade e começou um romance com o futuro primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Charles Grey.

Prenda-me se For Capaz

Catch me, if you can

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Frank Abagnale Jr. é um dos golpistas mais lendários da história dos EUA. Quando tinha apenas 21 anos, já havia trabalhado como médico, advogado e piloto de uma companhia aérea comercial. Tudo sem diploma. Frank falsificava cheques de milhões de dólares com muita facilidade e sempre se safava, enganando agentes da CIA. Mas, cedo ou tarde, é preciso pagar…

Cinderella Man

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O peso pesado James J. Braddock precisou deixar o boxe devido a uma série de derrotas e problemas de saúde. No entanto, a Grande Depressão de 1929 nos Estados Unidos e os anos de desemprego e de fome obrigam o atleta a voltar ao esporte para ganhar algum dinheiro para sua família. Ninguém acredita no ex-boxeador, mas para surpresa de todos, ele vence luta após luta.

Ray

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É a história de vida do grande músico de jazz norte-americano Ray Charles, que viveu muitos altos e baixos: infância pobre, cegueira, racismo, luta contra o vício em drogas. Porém, Ray conseguiu superar tudo isso e deixar sua marca na história do jazz americano.

Escritores da Liberdade

Freedom Writers

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História real de uma turma em uma escola situada num bairro afroamericano. Uma jovem professora tenta estimular nos alunos o amor pela literatura e pelo idioma, e enche os estudantes de esperança em uma vida de sucesso.

Amor e Inocência

Becoming Jane

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A bela e triste história de amor entre a famosa escritora inglesa Jane Austen e Tom Lefroy. A jovem Jane deve se casar por conveniência, mas o coração busca sentimentos verdadeiros.

Johnny e June

Walk the Line

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É um filme biográfico dedicado à complicada história de vida do lendário cantor country Johnny Cash e sua segunda mulher, June Carter. Apesar dos diversos problemas na carreira artística e do alcoolismo de Johnny, o casal conservou o amor e a fidelidade mútua até a velhice.

Tudo por um Sonho

Chasing Mavericks

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Filme surpreendentemente belo sobre o sonho e a força do espírito humano. O jovem Jay decide desafiar as poderosas ondas Maverick, de 25 metros. E, para isso, pede ajuda ao lendário surfista Hesson, que havia prometido a sua mulher que deixaria o surf para sempre.

Sete Anos no Tibet

Seven Years in Tibet

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O filme narra a história da incrível amizade entre um viajante e alpinista alemão e o Dalai Lama. Por ironia do destino, Heinrich Harrer, um oficial do Reich, vai parar no Tibet, na misteriosa cidade de Lhasa, onde irá passar sete longos anos que mudarão sua vida.

Orgulho e Esperança

Pride

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A trama se desenvolve na Grã-Bretanha de 1984, durante a greve dos mineiros. Um grupo de ativistas homossexuais decide apoiar os mineiros e arrecadar dinheiro para eles. No entanto, os mineiros não recebem a notícia sobre as doações com muita animação, pois se sentem incomodados pela orientação sexual dos seus apoiadores. O filme tem elementos de drama e comédia, e o desenrolar da história é surpreendente.

McFarland dos EUA

McFarland, USA

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Um ex-treinador de futebol americano despedido de seu trabalho anterior por maltratar os alunos se muda para uma pequena cidade na fronteira com o México. O protagonista decide treinar os garotos daquele povoado que não se destacavam nem nos estudos, nem nos esportes. Para surpresa de todos, a ideia funciona.

Miss Potter

Miss Potter

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O filme fala sobre a vida da escritora britânica de literatura infantil Beatrix Potter, que teve a coragem de ir contra sua família e a sociedade. A garota mostrou valentia e determinação que não eram típicas das mulheres de seu tempo e, em vez de casar, decidiu ser escritora.

Apenas uma Chance

One Chance

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É a comovente e incrível história de um rapaz britânico que, desde a infância, sonha em ser cantor de ópera. Porém, ele só consegue realizar seu sonho ao entrar no concurso de TV Britain´s Got Talent.

Um Sonho Possível

The Blind Side

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Uma família endinheirada e religiosa adota um adolescente afroamericano que não tem onde morar. Desta maneira, o ajudam a fazer novos amigos, entrar na universidade, ter sucesso nos esportes e chegar a ser um famoso jogador de futebol americano.

Carta de um ansioso ao seu amor

Carta de um ansioso ao seu amor

Amor, demorei algum tempo para escrever essa carta, pois estava tentando lutar contra minha ansiedade. Fingindo que ela não estava lá. Fingindo que tudo estava bem por fora quando por dentro meu mundo desmoronava como se devastado por um forte terremoto.

Muitas vezes você me viu sorrir enquanto eu chorava por dentro. Muitas vezes te dei meu silêncio quando minha alma gritava em alto e bom tom as coisas mais insanas. A ansiedade é assim, ela faz coisas pequenas parecerem muito maiores do que realmente são.

Então amor, quando eu vir te contar sobre um receio bobo, que para qualquer um pode parecer uma piada, me leve à sério. Pegue nas minhas mãos, se sente ao meu lado e procure me ouvir, pois certamente eu estou sofrendo muito, sofrendo a ponto de vir falar sobre esse sofrimento com você.

Quando eu te perguntar se há fundamento naquilo que não tem razão de ser, não ria ou se silencie achando que eu não preciso de uma resposta. Seja forte. Diga que os meus receios não têm fundamento, se não tiverem. Me abrace e me mostre que não faz sentido a gente se preocupar com coisas que podem nunca acontecer. Ajude a boa voz que há em mim vencer aquela outra que insiste em duvidar do melhor.

Me acolhe no seu peito e entende que não há graça em qualquer aflição, por mais boba que ela pareça. Me acolhe e me mostra o melhor. Desestrutura as aflições que nascem do inconsciente, por tanto tempo protelado. Eu sei que as respostas para meus medos, para meus temores, para minhas preocupações estão em mim, guardadas em alguma pequena gaveta.

Mas quantas gavetas há dentro da gente! Eu já comecei a abri-las, comecei a limpá-las, a analisar tudo que guardei e também aquilo que me foi dado, mas ainda não cheguei na gaveta que resguarda essa ansiedade inquietante e avassaladora.

Eu já entendi que nada é irrevogável, que estão nos meus bolsos as chaves para as portas as quais tranquei, que eu preciso seguir as pistas que me levam para dentro de mim, as pistas que explicam de onde vem aquilo que ainda não entendo bem. Mas às vezes, em um dia no qual estou mais frágil, pode acontecer da ansiedade chegar de mansinho e bagunçar minhas ideias jogando tudo para cima. Quebrando os vasos de flores que coloquei sobre as mesas.

A ansiedade atira ovos nas vidraças, quebra potes de açúcar e pisa sobre nossos sonhos. Ela degrada o bonito que construímos com esforço. Ela gosta de gritar que a gente não tem poder de vencer as dificuldades, que a gente não consegue.

E aí você pode chegar com um sorriso para o que seria um jantar romântico e encontrar, sem razões evidentes, a casa toda bagunçada. A ansiedade adora fazer a gente acreditar que as coisas são mais difíceis do que realmente são. Adora ver a gente achando pelo em ovo e sofrendo com um milhão de pensamentos que aparecem do nada e nos tomam de assalto, fazendo estardalhaço com a nossa calmaria.

Amor, quando ouvir palavras saltarem desenfreadas da minha boca, quando perceber que estou tremendo por dentro e por fora, me beija e cala suave a minha ansiedade com o silêncio do seu amor.

Sozinhos podemos muito, mas sozinhos não podemos tudo. Às vezes eu preciso colocar minha bússola ao lado da sua para saber se estou entendendo as coisas da forma como são. Às vezes eu preciso partilhar da sua segurança, preciso ver pelos seus olhos o sol depois da chuva a iluminar o melhor que posso ser.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

E só porque não me enquadro

E só porque não me enquadro

Por esses tempos anda tudo dividido entre o certo e o errado. Claro ou escuro, bonito ou feio, homem ou mulher… Tolerância é palavra gasta de fala e rasa de uso… Fico de cá pensando nas nuances de cinza, que existem infinitas entre o preto e o branco. Seja na fumaça que polui o céu, ou no charme dos cabelos… dos homens. É. Porque até isso, de certa forma, ou de todas, é negado às mulheres.

Não sou dada a ficar discutindo o sexo das cãs ou o perfil das anciãs. Sempre acho que se os disparates são absurdos, não se deve lhes dar a satisfação do olhar ou relevo da atenção. Mas tem coisa que é tão fortemente acintosa que traz o sangue pros olhos ou dá vontade de rir. Além do quê advogo em causa própria visto que, de vez em quando, me mandam pintar os fios brancos…

Homem pode ter ruga no rosto e prata nos cabelos. Tem direito a envelhecimento digno, atraente e reconhecido. A mulher não… (E digo isso com o olhar seco, em tom de constatação fria, sem partido, que obviamente, menina antiga e inconformada que sou, tomarei mais tarde.) E porquê?

Porque mulher tem que estar sempre a postos. Cheirosa. E preparada. E depilada. E tantas outras coisitas sedutoras más, que haja amor próprio pra dar conta. Não que isso tudo não seja bom e faça bem à imagem que aparecerá sorrindo do espelho. O que é de gosto é regalo de toda a vida que se move dentro do peito. Mas a partir do momento que se estabelece a obrigação de um padrão do qual não se pode fugir, aí a conversa tem que tomar outro rumo.

Juntando essas pontas, me vem um filme que fala do empoderamento feminino bem antes do termo ganhar entendimento, voz ou tomar posse dos direitos: A excêntrica família de Antônia. Ali o universo das mulheres é tratado não como bandeiras a serem agitadas ou camufladas, mas com uma identidade genuína, onde situações que são mais fruto das contingências do que das escolhas, ganham contorno pela postura que se toma diante delas. Retratos e histórias, que embora pareçam ter um colorido excessivo, fazem pensar … e muito. Quantas vezes o entorno dita a regra e aponta o dedo… acua quem não se molda. E por mais que a personalidade seja forte e o caráter seja liso, é preciso ser macio pra envergar e não quebrar. E ter resiliência, que é a capacidade de voltar a forma original, para o quando de levantar.

Mais do que tratar de crenças ou certezas, o que é mostrado de forma bem clara nesse filme é que a liberdade das escolhas está diretamente ligada aos gritos de independência proclamados durante a vida. E que as pequenas permissões que nos damos no dia a dia é que vão contar na construção de um ser liberto de fato e farto de afeto, com menos travas e dogmas e culpas. Eu quero… mas eu só posso na medida em que sou autor das minhas possibilidades e me entendo refém das consequências. Nem sempre dá pra saber o que espera depois da curva da esquina, mas com muito modo e pouco siso a gente pode se preparar pra qualquer aventura.

Já foi dito e redito que fazer coisas fora do horário, da agenda e do esperado podem trazer um bem ao ego, à saúde e ao coração. Se orgulhar da própria ousadia é sensação única! Claro que sem a conta dos parâmetros, pois o trivial de um é o transgressor do outro. Dentro das audácias e dos limites individuais há que se permitir. Sempre. Seja uma bola de sorvete de chocolate, uma tatuagem escondidinha na nuca ou assumida no tornozelo, um cinema ou um namoro no meio de uma tarde de terça-feira ou… um simples fio de cabelo branco. Às vezes não se enquadrar é bom… até na gente mesmo.

::: De 1995 e da diretora holandesa Marleen Gorris, A excêntrica família de Antonia, derrotou o nosso “O Quatrilho”, e levou o Oscar. Esse talvez seja o único ponto indigesto, para um brasileiro, de um belo filme que trata do feminino e das várias questões que o permeiam. A independência, a força de trabalho, o abuso sexual, a inserção em uma sociedade machista e patriarcal, o homossexualismo, o aborto ou o direito à decisão de ser mãe são alguns pontos bem abordados. Por esses caminhos passeia Antônia, mulher forte de lida e larga de atitude que vai agregando por bem querer e olhar doce, alguns desencaixados no mundo… um desfile de personagens caricatos na medida de refletir as desproporções da própria vida. Vale cada minuto. E até engolir o orgulho.:::

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione

“Se admitirmos que a vida humana pode ser regida pela razão, está destruída a possibilidade da vida”. (Into the Wild)

Vivemos através de uma bolha protetora, onde emocionar-se é o mesmo que ser vulnerável diante do outro.

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione. Algo que tire o seu chão e a previsibilidade treinada diariamente como forma de camuflagem diante do mundo. O mundo nos cobra certas atitudes, decoros e comportamentos didáticos e muitas vezes, insensíveis naquilo que diz respeito aos mais variados assuntos. Não por um tipo de senso operacional e robótico, mas simplesmente por compreender que para suavizar os golpes imprevisíveis da vida, necessitamos da proteção de um coração castrado, cicatrizado, e alarmantemente frio. Mas por quê?

Há tantas vivências, informações, cores e sabores para serem descobertos e, ainda assim, demonstrar emoções e as suas consequências, de braços abertos e olhos marejados, seriam o mesmo que atirar-se num abismo existencial. Quando foi que começamos a carecer de tato, sensibilidade, ternura?

Emocionar-se de fora para dentro é limitar o ser. Reprimir a admiração por um livro, a falta de palavras para descrever uma música, a euforia dramática de assistir um filme, quiçá os memoráveis momentos passados com entes queridos ou simplesmente a contemplação crua de uma bela paisagem.

Nascemos emocionados, mas conforme crescemos render-se aos “caprichos” do coração transformou-se em um sinal de fraqueza imperdoável. Talvez seja por isso que ainda não sejamos capazes de reconhecer relacionamentos, laços emocionais almejados, mas cada vez mais frágeis quando temos tudo e pouco no mesmo tempo e quantidade.

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione. E isto não é necessariamente despir-se de lágrimas, mas de algo além. Pode ser algo como encher-se de ternura, cordialidade, respeito, altruísmo, igualdade. Os exemplos são diversos e as emoções também, obviamente. Deve haver alguma coisa que ainda te emocione, impulsione, desconstrua e reconstrua o seu modo de pensar, agir, viver e sentir. Não é contraste. É brilho.

Não existe isso de utopia quando se trata de legitimar o coração

Não existe isso de utopia quando se trata de legitimar o coração

Venha, o amor está mais à frente. Pode imaginar o quanto é querido? Esculpido de coisas simples e gestos serenos. Eu falo e você escuta. Você fala e eu escuto. É uma troca. E nessa união de sentimentos e presenças, o tempo é nosso aliado. Sem arrependimentos, sem meias palavras. O carinho que aconchega, preenche e reestrutura os corpos com poesia, riscando lábios, transferindo sorrisos.

O amanhã concebido e sentido por nós. Quantos passos são necessários para o descobrimento? Descaminhos criados para caber o tanto que se quer. Fazendo da tua vida o que teu coração te dá. Deixe o passado para depois, amor. Nada de engessar os sonhos e colocá-los numa prateleira inalcançável. Talvez possamos escolher novos olhares para as mesmas vistas. Não existe isso de utopia quando se trata de legitimar o coração. Cada segundo conta carinho, cada minuto conta admiração e cada hora conta respeito. Inteiros sequenciais para suprir os processos incompreensíveis do acaso. Vou vivendo querendo encontrar a outra metade. A meta que completa a sinceridade do amor. Grito e escrevo em urgência. Embaralho palavras na esperança de receber você, onde quer que esteja. Saiba que, de todas as formas possíveis para exemplificar o quanto é precioso o nosso entrelaçar de mãos, nenhuma delas pode mensurar pra onde devo ir quando não as tenho aqui comigo.

Venha, o amor está mais à frente. Pode enxergá-lo? Adiante do não querer lá está. Você silêncio e eu também. É sinestesia. E já não sendo necessárias palavras, meias ou inteiras, o tempo nós é que construímos. Sem arrogâncias. O carinho aquece, invade e finca os corpos com poesia, riscando sorrisos. Os lábios dançam.

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