15 fotos emocionantes de crianças que acabaram de ser adotadas

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De acordo com a organização Together We Rise, que dá suporte a orfanatos e centros de adoção, diariamente 1.200 crianças são deixadas para adoção nos Estados Unidos, uma vida preenchida muitas vezes com sonhos e incertezas. Para combater isso, a Together We Rise reúne voluntários para ajudar as crianças em um orfanato, e para incentivar as famílias a adotar.

Dois anos atrás, a organização começou a postar fotos de crianças recém-adotadas no Facebook e Instagram. A resposta foi imediata, e os seguidores aplaudiram a iniciativa. Veja algumas de suas fotos felizes abaixo, no momento exato em que foram adotadas. Se você tiver uma foto feliz com sua família adotiva, compartilhe com a gente, também.

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Saudade é ausência que nunca parte

Saudade é ausência que nunca parte

“Ó fantasia da minha vida, meu sonho gostoso, meu gozo / Ó minha estrela, essa saudade me deixa assim tão nervoso”. (Gonzaguinha)

Saudade é ausência que nunca parte. Como um quadro bordado por memórias, que inerente ao tempo e independente dos níveis de exposição, finca-se de formas das quais precisamos conviver com, pois saudade transborda e através dela somos movidos. Entristecidos são os corações sem as lacunas da saudade.

Saudade da chuva no rosto, do céu ensolarado, do beijo no cinema, da música favorita, do abraço apertado, e principalmente, dos sorrisos desmedidos. Saudade também do domingo em alvoroço por uma reunião de qualquer pretexto, das tardes observando paisagens e imaginando “como elas se formaram”?

Saudade não é falta, porque a falta implicaria em jamais ter existido algo ou alguém que despertasse o sentimento do sorrir ao recordar daqueles dias, cenas e sensações extrassensoriais que repaginam até mesmo a mais cinza das imagens.

Saudade que em doses fragmentais, muito parece o saudosismo. O leve bem-estar e a reverência das horas, objetos e pessoas intranquilas, mas que num determinado tempo tranquilo, tiveram muito para ser dito, ouvido e sentido. Então sim, saudosismo é saudade.

Morro ou vivo de saudade? Se morro é por reconhecer que ela me acompanhará adiante e além. Mas se vivo, talvez seja porque de alguma forma, ela instiga o meu ser a não estar numa espécie de adeus.

Se alguém abusar da sua boa vontade, o defeito é dele. Não seu.

Se alguém abusar da sua boa vontade, o defeito é dele. Não seu.

Sim, alguém vai fazer mau uso da sua bondade, da sua disposição de ajudar, do seu desejo de contribuir. Alguém vai atravessar o samba e desdenhar da sua amizade, atropelar o bom senso, invadir o seu espaço, mexer nas suas coisas, chutar o seu cachorro quando você não estiver olhando. Vai, sim.

Um dia, você vai estender a mão e é provável que lhe passem a perna. Acontece. Quando acontecer, releve. A culpa não é sua. Ainda que um parasita lhe sugue o sangue, que um falso amigo lhe atribua absurdos, manipule os fatos, maldiga sua mãe, mesmo que um cafajeste tome dinheiro emprestado em seu nome, fuja do país e lhe deixe devendo na praça, você não precisa mudar o que é.

Tem sempre alguém por aí disposto a abusar da sua boa vontade. Mas isso não é desculpa para deixar de ser bom. É só um sinal de que é preciso virar a página, voltar para dentro, retomar o rumo e seguir em frente. Decerto, tem alguém em outro canto precisando de você.

Pense bem. Se cada traição, cacetada, esculacho ou desengano sofrido por alguém de bem o fizesse “mudar de lado” e se vingar do mundo, você e eu já nem estaríamos aqui. Nós já nos teríamos destruído sem dó, sem escrúpulos, sem compaixão.

Sem essa antiga, esquisita, inexplicável e poderosa inclinação de alguns de nós para a bondade, a decência e a beleza, o mundo já restaria deserto, vazio de gente. Habitado somente por vermes e demônios e pequenos animais.

Mania estranha essa de jogar a culpa no outro. Sempre “o outro”. Já viu? Fulano defende daqui sua má educação porque todo mundo é grosso, então ele só se adaptou. Sicrano se orgulha de sua esperteza, fura as filas no cinema, no trânsito, até no banco de órgãos porque “o mundo é dos espertos” e, afinal, se ele não fizer assim, outro espertalhão vai fazer no lugar dele. Beltrano, por sua vez, rola na carniça, faz tudo o que é errado e justifica que “é assim mesmo”, que o “mundo inteiro” é desse jeito e que ele só está fazendo o mesmo por questão de sobrevivência.

Então, quando uma boa alma perverte essa lógica e faz o que lhe parece uma coisa boa, alguém avisa profético e pragmático:

“Não seja trouxa. Ninguém vai fazer o mesmo por você.”

A boa alma responde: “e daí? Faço porque quero. Não porque espero que façam o mesmo por mim”.

Ela faz porque quer. Mas eu tenho a impressão de que ela faz mesmo é porque desconfia de que tantas desculpas, conjecturas e pressupostos para nos isentar da responsabilidade de fazer o que é certo e o que é bom estão nos transformando em cínicos fantásticos, hipócritas colossais, especialistas em esperar que a salvação para todos os nossos problemas desabe do céu sem mais.

Não, do céu não vai cair. É preciso fazer o que é bom agora. E se uma pessoa aqui e outra ali não souberem receber ou abusarem da sua boa vontade, o problema será delas. Não seu.

Quantos rostos desconhecidos você viu hoje? Para ler como lemos a multidão que por nós passa

Quantos rostos desconhecidos você viu hoje? Para ler como lemos a multidão que por nós passa

É menos por desatenção do que por ironia que começo o título com uma questão quantitativa, dessas que tantos nos perseguem no dia a dia, das mais importantes questões às mais triviais: quantos anos você tem? Quantos anos de experiência? Quantos filhos? Quantos parceiros já teve? Quantos lugares já visitou? Quantos artigos já publicou? Quanto recebe por mês? Ou quantos “quantos” subtendidos já respondeu para se fazer “conhecido”, para conseguir chegar aonde quer, para ser selecionado, avaliado – Daqui há 10 anos, como se vê? E daqui há cinco? – quantos pontos valem seus sonhos? Quantos méritos? Quantos fracassos?

Contando e sendo contados, não são contos, narrativas que que nos deliciam ou nos revelam no decorrer das relações. Quantas contas, quantos números, pontos de soma, subtração, divisão. Somos estatitizados segundo às regras de uma proposta que mede nossa humanidade com base num capital. Tanta tecnologia, somos programados para avaliações objetivas, valorizados segundo quocientes binários como se fôssemos feitos de códigos. Vivemos sob olhar de julgamento entre a culpa latente e a competição crônica.

Há muito pouco dos momentos em que as pessoas que se veem, quando estão ali entre os seus em torno de uma fogueira a se aquecerem do frio da rotina automática, embalando um violão, descansando da vida. Ali se revelam alguns nas palavras, outros nos silêncios. Rostos conhecidos no clã da experiência de viver.

Não é sem consciência que somos tão hostilizados por tão pouco. Sabemos disso, vivemos isso. Ainda que no íntimo, todos gostaríamos de viver em um mundo que nos tratasse com um pouco mais de humanidade, com o mínimo de respeito – fosse nos bancos, nos hospitais ou no cemitério. Queríamos ao menos um pouco mais de dignidade, para viver, para morrer… Há muito dessa gentileza que nos dispensam por dinheiro ou pela sua impressão – andar bem vestido para ser bem tratado, frequentar lugares caros para ser bem visto. Ainda estamos submetidos – sendo contados e não há nada de mais humano nisso. Dispensam respeito às cédulas, aos números abstratos reais ou fictícios que se manifestam por um cartão.

Poucos sabem o quanto é bom ser bem tratado, bem recebido, receber um sorriso, ou cederem-lhe um lugar, um aperto de mão, ou um abraço, que venha de um estranho, e que venha simplesmente porque ele te reconhece como um ser humano. Mais nada, apenas isso: ser reconhecido como ser humano. Este é, ao meu ver, o primeiro reconhecimento essencial para sentir-se reconhecido em qualquer outro aspecto da vida – primeiro ser reconhecido como ser humano, aí então, depois, ser reconhecido como profissional, como esposa ou esposo, como filho, como pai mãe irmão irmã tio, como bom jogador de algum jogo, como estudante, como o que for. Primeiro – humano.

Parece tão bobo, tão ingênuo, mas é o que é. É ser reconhecido como membro da própria espécie, afirmar-se como tal pela percepção do outro, porque se nos reconhecemos como parte é enquanto parte de algo que nos recebe. Sem sentir esse reconhecimento uma vez que seja na vida, a fome de reconhecimento torna-se selvagem e indiscernível, tenta avançar por todos os lados, nunca sacia, passa por cima do que lhe contrapõe, destrói e desmorona – constrói castelos vazios sobre os escombros da humanidade despedaçada. Sobram os pedaços de um ser que esqueceu-se de ser sequer para si. Sobra o vazio.

Quantos rostos desconhecidos você viu hoje e recorda? Uma expressão desolada para o chão, um sorriso espontâneo para o nada, um olhar distante na janela… Já se perguntou, alguma vez, diante dessas expressões nunca vistas, completamente desprovidas de afeto seu, de contato pessoal, por quantos lugares esses rostos passaram, o que eles viveram, qual história eles guardam?

É uma verdade que poucas vezes encaramos, que como nós vistos desconhecidos por tantos rostos, muitos que nunca nos conhecerão e que nunca conheceremos, todos tem história, todos têm vida, todos têm sonhos – ou tiveram um dia – todos estão indo para algum lugar, voltando de algum lugar, desejando algo, sentindo muitos algos, esperando… esperando para serem reconhecidos, esperando para perceberem-se vivos e desengessarem a expressão de paisagem no encontro de outro rosto humano, encontro mobilizados por esses revolucionários gestos pequenos que nos desestabilizam da mania de contar números e nos inspiram a contar histórias. Que nos inspiram a viver qualitativamente.

Carl Sagan – uma lição de vida

Carl Sagan – uma lição de vida

Carl Sagan foi não só um dos mais importantes cientistas da sua época (era astrobiólogo, astrofísico, cosmólogo e escritor), foi também um grande divulgador da ciência, alguém dotado de sensibilidade única quando o assunto era falar sobre os mistérios do Universo – que tentava não só desvendar com sua mente brilhante, mas também explicá-lo de modo que todos pudessem entender. Sua famosa série televisiva Cosmos, que foi ao ar na década de 80, é um marco da divulgação científica. Em seus 12 capítulos é possível encontrar sensíveis lições de humanidade, ética, tolerância e humildade.

Recentemente foi exibida uma nova versão de Cosmos, transmitida em mais 170 países. Dessa vez o programa foi liderado por Neil de Grasse Tyson, outro grande cientista que também teve Sagan como mentor e inspiração.

Carl Sagan fazia ciência parecer poesia. Fazia parecer, não: ele conseguia demonstrar que ciência também é poesia.  Ao traduzir ideias complexas, ele nos fazia refletir sobre o nosso lugar neste vasto universo, sobre como somos pequenos e insignificantes. Suas lições permanecem atuais e urgentes para qualquer geração.

Para quem ainda não teve o devido contato com a obra dessa grande mente, aí vai uma dica: há um tempo um cara chamado Reid Gower fez um tributo à ele, unindo lindas imagens e uma trilha sonora animal com excertos de narrações feitas pelo próprio Sagan em uma série de 7 pequenos capítulos. Aproveitem a jornada.

Às vezes tudo o que a gente precisa é abandonar a causa

Às vezes tudo o que a gente precisa é abandonar a causa

Sabe aquele dia que parece que a vida se tornou um emaranhado de fios de alta tensão?

Por onde quer que você tente desfazer os nós, enfiar as mãos, encontrar soluções, os outros lados se embolam mais. É que nem bijuteria antiga enferrujada, aquelas correntinhas guardadas juntas num porta-joias antigo e você pode ficar horas na frente da TV, esticando as linhas nos joelhos, e a coisa não desenrola: desfaz um nó aqui e cria outro acolá.

Sabe quando parece que a vida se tornou aquele bendito cubo mágico, que você quebra a cabeça resolvendo um dos lados, alinhando a mesma cor, e quando vai trabalhar na outra face, bagunça tudo o que já tinha conseguido?

Você já teve essa sensação de que algumas situações quanto mais mexe mais fede?

De que aquela repetição de atos e conversas além de não estar levando a lugar nenhum, muito menos dissolvendo os problemas, está causando dores de estômago, esgotamento emocional, enjoo em todas as partes do corpo, pois é como ouvir a estridência de uma mesma música 521 vezes, ou engolir pelos ouvidos aquelas mesmas falas. É como estar viciado em jogar na cara verdades que vêm de dores, é como querer resolver os dramas trazendo ele à tona a cada 5 minutos. É como querer fechar as feridas cutucando-as sem parar. É como querer lavar a alma, resolver a vida, limpar a casa, mas jogando as merdas todas no ventilador.

E depois de tantos nós desfeitos e refeitos, depois dos bolos todos no estômago, depois da exaustão dos dias, você pensa: e se eu simplesmente desistir dessa luta insana? E se eu seguir o conselho de minha avó:’o que não tem remédio, remediado está!’

E se você perceber que pode simplesmente abandonar uma discussão no meio, pode jogar aqueles colares enroscados no lixo, pode dar um chute metafórico em tudo, porque tudo isso está sim ‘macumbando’ seu coração, amargando sua alma e atrasando sua vida?

Há sempre a opção eject, pedir pra sair, pular do trem em movimento, desligar telefone na cara, sair andando sem mais nem menos. Fechar a boca e não engolir mais nenhum sapo. Há sempre a opção de não participar da fervura do momento, de não ter as respostas na ponta da língua, de não querer falar mais para não deixar as emoções mentirem pela sua própria boca.

Porque às vezes a gente é caldeirão em ebulição e está precisando apenas de um tempo quieto, de decantação para as coisas começarem a fazer mais sentido.

Porque a vida parece não parar, mas a gente pode sim escolher a paz sem razão, abandonar o sem solução, aceitar não ter decisões, viver um dia de cada vez, sem medo do que vier, ou não vier, porque o que importa é o agora.

Importa é conseguir respirar, conseguir se desenterrar e se resgatar no meio de tudo isso.

Importa é deixar a vida agir em nós com seu tempo e razão e sorrir tranquilos sabendo que tudo o que vem de um não atropelo e sim de uma fluidez de dentro é o que realmente faz sentido.

Às vezes tudo o que a gente precisa é abandonar a causa.

Precisamos falar sobre seu amor da vida inteira: “o próprio”

Precisamos falar sobre seu amor da vida inteira: “o próprio”

Quando alguém diz “se cuida” é porque sabe que em algum momento você pode se distrair e cuidar mais dos outros do que de si mesmo. Cuidar do outro não é pecado nem crime, desde que você esteja em dia com o seu amor próprio.

Amar a si mesmo é um exercício diário que nos coloca em consonância com o ser que nos habita. Mas, antes de se amar, você deve se conhecer, e se amar pelo que descobrir. Não importa o quê.

O amor próprio não é autoexplicativo nem vem com bula. O amor próprio não sente culpa pelo que vê. Não acusa o reflexo no espelho. Não ataca. Aceita o que é, e ama. Apenas ama.

Se há algo a ser transformado, não se ofende. É paciente. Ama com o problema em vigência e ama ainda mais com a resolução, com o avanço, com a busca, com a vitória.

A descoberta do amor próprio se dá pelas vias mais improváveis. Às vezes, você o descobre por meio de uma fratura exposta na alma. A fragilidade desperta o amor que deveríamos nos doar todos os dias. Usamos o estoque de amor para estancar o sangramento e descobrimos que não é preciso buscar amor fora de nós para aplacar o que dói.

Quando nos deparamos com os machucados mais doloridos, descobrimos em nós mesmos, o remédio e a cura, e iniciamos o flerte com o amor, o próprio.

O autoconhecimento não oferece todas as certezas, mas abre vias para caminharmos por dentro de nós sem nos ferir com os cacos de outras guerras porque já sabemos quais as estradas que nos conduzem aos abismos, e só iremos lá com o preparo necessário. Sabemos que temos a ferramenta primordial, o amor pelo que somos, e assim, não tememos a queda livre, pois somos capazes de levantar com classe a cada descida.

O amor próprio recupera a íntima carícia, que às vezes, oferecemos aos egos alheios, e esquecemos de nutrir a nossa alma que padece pelos cantos do ser. O amor próprio não é aquela voz que diz “Se cuida”. Ele é o próprio cuidado.

Um amor “on the rocks”, por favor?

Um amor “on the rocks”, por favor?

Tem horas que é preciso ser pragmático. Deixar as ilusões românticas de lado. Dar um basta na fé. Se refugiar na raiva. Sentir o fracasso correndo nas veias. Parar com a balela de dar a outra face. Esquecer o perdão em uma ilha deserta. Suar profusamente de tanta desilusão acumulada. Ser humano. Simplesmente.

É isso mesmo. Não se trata de um texto sobre desistir de um amor por perceber que ele ficaria melhor sem a nossa companhia. Desejar sua felicidade em outros braços. Ser quase um iluminado. E os iluminados sentem ódio. Pode ter certeza. Nem que seja ódio de quem odeia. O texto é sobre o ócio depressivo. Aquele que nasce da mais profunda tristeza após o término de um relacionamento. Deitar na cama e ouvir a mesma melodia repetidas vezes. Dá para imaginar cenário mais perverso?

Em tempos de amor líquido é quase indecente desejar um amor “on the rocks”. Precisamos mesmo criar novas expressões para justificar a falta de interesse no outro e quem sabe até pela humanidade em geral? Isso é a boa e velha depressão. Não é uma nova condição humana causada pela velocidade dos meios de comunicação atuais. Se fosse assim, muitas relações amorosas seriam automaticamente restabelecidas quando houvesse a interrupção dos serviços de transmissão de dados.

A verdade que não se quer admitir é que seu parceiro não perceberia sua existência mesmo que vocês fossem para uma ilha deserta sem acesso a equipamentos eletrônicos de espécie alguma. Ele se entreteria com as estrelas, a lua, os sapos coaxantes, a areia da praia e até mesmo os mosquitos. Você continuaria no último lugar da lista de prioridades, bem depois do velho fax.

Por essas e outras é que colocar uma inocente pedra de gelo não vai fazer muita diferença. Embora muitos ainda insistam em utilizar esse recurso. De um lado o líquido (representando a impermanência das relações humanas) e de outro o sólido (representando a nossa resistência). Sabemos que a fusão será inevitável, mas mesmo assim colocamos a pedra de gelo no copo com água. Ela nos dá a ilusão temporária de que há algo diferente na bebida. Para alguns fica bem melhor. Para outros perde o sabor. O resultado final é sempre o mesmo.

Então, o que fazer? DESISTIR! Sair pela porta da frente correndo e só parar quando estiver em território seguro. Quem nadou nas águas salgadas do mar morto sabe que é difícil submergir. Corre-se o risco de ficar eternamente na superfície. Melhor navegar para outros mares. De preferência bem distantes. Tirar a poeira de sua bússola interna e partir. Ser novamente um descobridor.

As fases de um amor podem ser tão vertiginosas como as dos estados físicos da água. As mudanças bruscas são inevitáveis. Não somos as mesmas pessoas de ontem. Estamos em constante transformação. Se fossemos adaptar a lição do poeta Vinicius de Moraes, seria algo assim: que não seja permanente, posto que é líquido. Mas que seja sólido enquanto dure.

Depois dos 25 você percebe que precisa de mais tempo para realizar tudo que sonhou

Depois dos 25 você percebe que precisa de mais tempo para realizar tudo que sonhou

Um belo dia você acorda e já não tem mais vinte e poucos anos, agora você já está quase na família dos trinta. Você imaginava que quando chegasse a esse ponto já estivesse no emprego dos sonhos, ganhando muito bem, junto do amor da sua vida, colhendo os frutos de uma vida de estudos e dedicação profissional. Contudo, as coisas não aconteceram bem assim.

Se você conseguiu ir morar sozinho, certamente não foi em um duplex. Agora você está alugando um pequeno imóvel e pagando os olhos da cara por isso. Sim, morar sozinho dá trabalho, você também já notou isso, mas nem de longe você pensa em voltar ao ninho familiar. A casa de seus pais era mais confortável, mas hoje você não abre mais mão da sua autonomia.

Agora você não precisa mais explicar que não foi abduzido por algum extraterrestre mal-intencionado quando resolve sair de casa sem avisar. A idade permite que você não precise dar satisfações. Você percebeu, com uma certa ansiedade, que a vida está se fazendo e que seja lá o que acontecer, os frutos serão colhidos lá na frente, não agora.

Você já entendeu que os amigos de verdade são aqueles que aceitam seus “nãos” tão bem quanto seus “sins”. Também já entendeu que aqueles que não aceitavam um “não” como resposta não eram tão amigos assim. Você não vai agradar todo mundo e tão pouco anseia por isso nessa altura. Você não entra mais em roubadas em nome das amizades, como fazia antes e isso é reconfortante. Agora você é mais seletivo e quer distância de amigos, amores, empregos e familiares tóxicos.

Você já percebeu que o amor da vida não tem data nem lugar pra chegar. Que as pessoas mais interessantes que conheceu estavam em lugares inesperados e não em grandes eventos nos quais você projetou imensas expectativas.

Cozinhar deixou de ser um passatempo e se tornou algo cotidiano. Sim, com certeza você gostaria de ter prestado mais atenção em como fazer aquele prato delicioso quando tinha mais tempo ou até mesmo gostaria de ter mais dotes culinários. Agora seu estômago depende da sua disposição.

Antes você ouvia que era jovem demais para realizar seus sonhos, agora os outros te dizem que é tarde demais para isso. E você entende que com o tempo e seus encargos fica um pouco mais difícil largar tudo e cair no mundo.

O seu lar é um cantinho especial, arquitetado por você. Com o melhor que conseguiu com móveis promocionais e objetos de liquidação, mas é onde você pode deixar as coisas do seu jeito e isso não tem preço. Você se sentiu como um cachorro em dia de mudança quando teve que fazer mercado pela primeira vez, comprar produtos de limpeza os quais nem sabia que existiam, quando teve que manejar alguns eletrodomésticos, quando entendeu que louças e roupas não se lavam sozinhas, contudo agora você já está expert em ordenar as coisas na sua casa.

Depois dos vinte e cinco a ideia de que somos imortais cai por terra. Possivelmente em algum ponto você teve que refletir acerca da morte ao presenciá-la rondando parentes, conhecidos ou amigos próximos.

Agora o tempo tem mais valor para você. Ele não deve mais ser desperdiçado levianamente e quando um filme não te agrada, por exemplo, você não perde mais tempo assistindo-o até o final.  Você passa a observar mais o que as pessoas fazem, e menos o que elas dizem e não tem mais paciência para enrolação.

Você vive plenamente a sua sexualidade. Você entende que um relacionamento tem que somar e não subtrair tudo aquilo que você, com sua independência, alcançou. Os manuais de conquista já não servem mais, se é que um dia serviram, e você compreende que a única forma de conquistar verdadeiramente alguém é sendo você mesmo.

Você não atende à todas as ligações telefônicas e passa a ser mais seletivo com tudo, inclusive com relacionamentos amorosos. Você entende que nunca as pessoas foram tão livres para começar e terminar relacionamentos, mas que o fim deles traz inevitavelmente dor. Dessa forma você aprendeu a ser mais responsável consigo e com os outros ao entrar em uma relação.

Emagrecer já não é tão fácil, mas você nunca esteve tão confortável com seu corpo. Você aprendeu a se cuidar sozinho.

Você descobriu que a sua própria companhia é maravilhosa. Que a alucinação da juventude ficou no passado, agora você age com mais segurança e ponderação. Sabe de cor e salteado que é caindo que se aprende a levantar. Você entende que ninguém é perfeito e que a vida não se faz sozinha. Que a vida acontece diferente para cada um, em um tempo particular que merece ser respeitado sem um pessimismo desconcertante ou uma animação alucinada.

Você descobriu que seus sonhos dependem de suas próprias iniciativas para se tornarem reais e que isso pode levar algum tempo, mas você não liga para isso, afinal você agora sabe que ainda está no começo da vida.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Breves notas sobre toxicodependência

Breves notas sobre toxicodependência

Em todos os programas de recuperação de toxicodependentes, independentemente do modelo especifico que possam seguir, considera-se invariavelmente que as drogas são agentes de prazer, sendo essa a variável fundamental no desenrolar da adição. Nesta ótica, se as drogas não provocassem prazer, não existiria adição.

Dito isto, não perderei muito tempo a falar sobre a perspetiva moralista que se encontra na base do posicionamento em questão. Todos sabemos o quanto a imensa fração moralista das nossas sociedades censura o prazer, inclinando-se apressadamente a punir, ou mesmo a excluir, os que considera desmesurados abusadores do mesmo (do prazer), como seria então o caso dos toxicodependentes.

Penso mesmo que esta dimensão punitiva é uma condição pré-determinante, no campo da exclusão social dos toxicodependentes. Curiosamente, os programas de recuperação e as técnicas de tratamento difundidas, não andam muito longe da inclinação a punir estes desmesurados abusadores do prazer, recompensado depois o melhor que podem, os que se tornam abstinentes.

Mas desiludam-se ambos, técnicos da cura dos viciados no prazer e fração moralista da nossa sociedade, pois a equação “droga = prazer” reflete contundentemente o equivoco cientifico-moral, no qual radicam as vossas convicções.

Efetivamente, o que os toxicodependentes procuram nas drogas não é o prazer, é uma cura para a dor. Portanto, não procuram nas drogas um prazer perigoso, mas desmesuradamente ambicionados, procuram sim um método radical para escapar ao desprazer, através da permanência o mais continuada possível, num sempre ansiado estado de ausência de tensões, nirvânico, que então permita escapar à angústia. Neste quadro, se os próprios toxicodependentes dizem que se drogam por prazer, devemos compreender que tal se deve a três fatores fundamentais:

Por um lado eles não podem evocar a dor a que procuram escapar, mas à qual não têm acesso, pois esta encontra-se, obviamente, sujeita à ação dos mais severos mecanismos defensivos, regra geral associados à recusa da realidade psíquica;

Por outro lado, perante a possibilidade do alivio da dor propiciado pelos químicos, óbvio será que eles deduzam do consumo um prazer inflacionado (e muito, veja-se neste sentido o mito do flash orgásmico);

Por outro lado ainda, dizendo que se drogam por prazer – no contrabalanço da falta de sentido que sempre os ameaça –, eles procuram compreensivelmente afirmar a sua legitima humanidade, já que o prazer é, afinal de contas, a determinação que melhor define a condição humana (e os moralistas receiam isto).

Mas, para reproduzir o discurso do paciente, não precisamos de psicólogos, pois não? Até porque, na verdade, quem conhecendo os efeitos das drogas, não necessita delas para escapar à angústia, sabe bem que eles são demasiado pálidos e desinteressantes, para justificar, em seu nome, o tão deteriorante percurso da carreira toxicómana.

Neste quadro, como nota colateral, convém sempre lembrar a brevidade da ressaca, a cujas manifestações físicas, como é óbvio, é impossível subtrair os efeitos somáticos da angústia inflacionada pelo medo da privação. Para além deste aspecto ser claramente negligenciado, a brevidade da ressaca, como dizia, com o culminar da qual a toxicodependência raramente termina, em muito enfraquece a teoria da infernal dependência física, fundamentada antes de mais numa suposta pré-condição genética (para a qual nunca existiram provas científicas efetivas). Mas poucos parecem querer pensar nisso. (…)

Em suma, a toxicodependência não é mais do que uma das possíveis estratégias para escapar à dor mental (ao sofrimento psíquico), sempre inscrita no âmbito de uma perturbação psicopatológica que a antecede, cuja natureza, como saberão, quase nunca escapa às características definitórias das estruturas estado-limite.

O toxicodependente é, portanto, no seio de um grupo de pacientes bastante difíceis, um paciente redobradamente difícil. E é tão difícil por quê? Porque não é fácil persuadir um paciente, com semelhante grau de intolerância à frustração, a abdicar da única cura para a dor que até à data conheceu (a droga), quando não lhe podemos oferecer a breve termo, algo de comparável eficácia no campo da redução das tensões penosas (pelo menos ele assim sente e resistentemente crê), ou seja, no campo da aspiração ao Nirvana, como lugar onde se escapa à angústia.

Mas este é, perversamente, o caminho indicado pela finalidade da pulsão de morte; vem dai a sua força. E chegados aqui já dissemos muito, mas muito mais falta dizer. (…)

Ser ansioso pode indicar que você é mais inteligente

Ser ansioso pode indicar que você é mais inteligente

Quando o assunto envolve algum tipo de pesquisa científica, certamente um dos campos mais complexos nesse quesito é aquele que avalia a inteligência humana, justamente pelo fato de que inteligência é um fator abstrato demais e, por isso, difícil de ser compreendido, medido e comparado.

Ainda assim, há métodos que nos permitem avaliar níveis de aprendizagem, como acontece nas escolas, por meio da realização de provas e trabalhos. Seguindo essa linha, muitos cientistas já realizaram pesquisas para comparar níveis de estresse e ansiedade com aprendizado. Não é de hoje que a relação entre uma coisa e outra é sugerida – ou você nunca ouviu, por acaso, que a ignorância é uma dádiva?

O raciocínio de que não saber alguma coisa é reconfortante permite deduzir que saber pode ser algo ameaçador. É o mesmo princípio de “os ignorantes são felizes”. Desconsiderando as interpretações mais filosóficas da afirmação e nos atendo apenas à ignorância como antônimo de inteligência, será, então, que os inteligentes são menos felizes ou, nesse caso, mais ansiosos?

Ao que tudo indica, sim

contioutra.com - Ser ansioso pode indicar que você é mais inteligente

Um estudo conduzido pelo psicólogo Alexander Penney, de Ontario, no Canadá, avaliou o aprendizado de mais de 100 acadêmicos universitários. Surpreendentemente, os estudantes que se consideram mais ansiosos e preocupados são aqueles que alcançaram as maiores pontuações em um teste de inteligência verbal.

Outro estudo, realizado em Israel em 2012, também relacionou inteligência com ansiedade. Na ocasião, 80 estudantes participaram de um experimento que avaliava como eles reagiam a uma situação com alto nível de nervosismo e ansiedade.

Sem saber que seriam “enganados”, eles foram avisados de que participariam de uma experiência com um software novo. Acontece que enquanto faziam os testes, seus computadores estavam programados para travar, como se estivessem com algum tipo de vírus. Em seguida, uma pessoa aparecia, alarmando a situação e aconselhando que os alunos chamassem uma equipe de assistência técnica urgentemente.

Enquanto corriam atrás de algum tipo de assistência, os estudantes desesperados nem faziam ideia, mas passariam por outros testes. No hall da universidade, alguém os abordaria pedindo para que participassem de uma pesquisa; na sequência, outro “estudante” derrubaria um calhamaço de papel em cima dos pés das pobres cobaias deste estudo maluco.

O resultado foi claro: aqueles alunos mais estressadinhos e ansiosos por causa dos imprevistos foram os que conseguiram resolver o problema do computador mais cedo. Além do mais, ficou claro que as pessoas mais ansiosas eram também as que se empenhavam mais para terminar seus trabalhos.

O psiquiatra Jeremy Coplan, de Nova York, estudou os níveis de inteligência de pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade generalizada: aqueles com níveis mais altos de ansiedade eram também os que tinham maiores índices de Q.I.

Acredita-se que essa relação entre ansiedade e inteligência tem a ver com o fato de que pessoas mais ansiosas e preocupadas conseguem pensar em formas diferentes de resolver problemas, pois são capazes de analisar todos os ângulos de um problema – logicamente, quem faz esse exercício chega aos melhores resultados.

Grandes pensadores, estudados em todo o mundo, sofriam de ansiedade – só para citar alguns exemplos: Nikola Tesla, Charles Darwin e Kurt Gödel. É lógico que, em alguns casos, a ansiedade não é uma coisa positiva e produtiva e, se chega a atrapalhar o trabalho ou os estudos de uma pessoa, é preciso procurar ajuda médica.

E aí, você acredita que pode ser uma pessoa ansiosa? Acha que isso tem relação com a forma como você resolve seus problemas? Conte para a gente nos comentários!

Fonte: Mega Curioso | Slate/David Wilson, via Bio Sem Limite

Carta aberta de um ex-ansioso

Carta aberta de um ex-ansioso

Deitado na cama, eu olho para o relógio, passaram-se apenas dez minutos desde a última vez que o olhei. Decido me levantar e ir à cozinha beber um copo d’água. O coração continua batendo em um ritmo frenético, segue em sintonia com a cabeça que dói de forma incontrolável. Não vou tomar outro analgésico; se os três que já tomei hoje não fizeram efeito, o quarto provavelmente não fará. Volto a deitar e tento me acalmar, quero apenas dormir e não sentir o meu peito sufocado por uma falta de ar perturbadora. Quero somente viver sem essa ansiedade que suga toda a minha energia e me impede de respirar.

Se alguém já passou por uma situação parecida com essa, deve saber que um dos maiores males que existe hoje se relaciona a doenças psicossomáticas e, no caso, a ansiedade. O sujeito ansioso faz de tudo para acalmar-se e ter o mínimo necessário para continuar vivendo. Toma chá calmante, faz Yoga, mata-se na academia e, quando o caso é extremo, muitas vezes recorre ao remédio.

No entanto, na maioria dos casos, nada disso funciona. E por quê? Porque o problema é interior e cabe ao próprio indivíduo solucionar. Obviamente, essa solução pode e até deve contar com a ajuda de outra pessoa, inclusive de um profissional. Mas a questão é mais profunda e apenas o ansioso, mesmo com ajuda, pode solucionar esse problema.

Durante muito tempo, fui ansioso – na verdade, muito ansioso -, de modo que a situação retratada no início do texto é extremamente pessoal. Vivemos em um mundo que cobra muito de nós, a mídia vende a imagem de sucesso e cria em nós a demanda do modelo que ela vende. Não se admitem a dor, o choro, a tristeza, o fracasso. Todos devem ser “vencedores”, ter “sucesso” e “sorrir” o tempo inteiro. Não há tempo a perder com “banalidades”, precisamos seguir a cartilha e sermos exemplos de sucesso.

E quanto aos nossos sonhos? Ao que queremos de fato fazer? Ao modo como queremos levar a nossa vida? Será que a obediência a esses ditames não é uma ditadura? Será que o desenvolvimento de uma série de problemas e doenças não é desencadeado pelo estilo de vida que cultuamos?

Pois bem, creio que sim e, durante muito tempo, por mais que não fosse um servo voluntário desse modelo de vida “feliz”, ficava angustiado com o fato de não conseguir responder satisfatoriamente a um mundo que eu nem acreditava como o correto. Paradoxal? Sim, mas, ainda que sejamos considerados inadequados, estamos imersos nesse mundo e, em vários momentos, vemo-nos pondo em prática as regras da cartilha da “felicidade”.

Não é possível ser saudável com tantas cobranças, com tanto peso nas costas. Cada indivíduo é formado por dores e feridas diferentes, assim como possui sonhos e desejos distintos dos demais. Viver aprisionado em um modelo que determina o que se deve fazer e o que é a felicidade, algo tão subjetivo, é realmente o passaporte para se ficar doente.

E, assim, surge a ansiedade. Apertando o peito, retirando o ar, retirando o sono, trazendo dores e até mesmo o ânimo da vida. Todavia, nós não somos máquinas para vivermos vidas robotizadas, com um sorriso no rosto o tempo inteiro. Não somos máquinas, a ponto de não chorarmos ou ficarmos tristes. E, o mais importante, não somos deuses, para sermos o gabarito do mundo, tendo a obrigação de acertar sempre e ser exemplos do que o status quo considera perfeição.

Sempre haverá questões que não saberemos responder. A vida é um mistério, é uma ponte que se atravessa sem saber o que há do outro lado. Entretanto, devemos atravessá-la, ao nosso modo, ao nosso tempo, chorando quando o peito for invadido com uma frente fria de dor e descansando sempre que precisarmos recuperar o fôlego. Não fomos fabricados em série, portanto, seguir modelos só faz mal, bem como, independentemente do que acredite, sempre haverá algo que não conseguirá compreender e é preciso que aprendamos a aceitar as nossas vicissitudes, a finitude da vida e as pedras que existem no caminho.

Não há resposta para tudo, nem eu, nem você, nem ninguém conseguirá encontrar a fórmula de ouro da vida. Sendo assim, não aceite regras que o converterão em uma máquina que deve ser infalível. Não coloque sobre si pesos desnecessários. Fazemos o possível, mas nem sempre esse possível traz o que queríamos.

Erros todos cometem, então, perdoe-se. Se a maior parte da vida é incontrolável, não se preocupe com esta, pois será apenas um ansioso, sobrecarregado de cobranças, esmagado por angústia, que não dorme, não respira e não vive.

Preocupe-se com a parte que você controla e use sua energia naquilo que realmente você quer, naquilo que traz alegria ao seu coração. Aprenda a aceitar que, embora haja coisas que não queríamos que fizessem parte da vida, elas fazem, mas é o que você faz com aquilo que você controla que te define e, assim, não permita que o mercado, a sociedade e/ou você mesmo retirem o seu animus, a sua alma, dando-lhe pesos que o sufocam e o transformam num ansioso, pois a vida é muito curtam para que esteja tão sufocado a ponto de não senti-la.

Como não acredito em fórmulas prontas, essa carta não é uma verdade última, mas acredito que a beleza da vida reside nas singularidades que as pessoas possuem e, quando isso é suprimido por uma doença que, em geral, é causada por um modo de vida estressante, individualizante e opressor, só me resta deixar essas palavras, com a esperança de que cada um possa sentir o âmago da existência e ter o ânimo necessário para atravessar a ponte chamada vida, descobrindo as suas dores e finitudes, enxergando, também, todas as belezas que existem ao longo da caminhada.

A palavra mais doce

A palavra mais doce

Bom dia mãe!

Hoje senti saudades de você e quis passar o dia ao seu lado.

É bom ter você perto de mim.

Eu sei que às vezes, você se sente cansada, se olha no espelho

e vê como o tempo passa rápido e vai deixando as suas marcas.

Mas quero lhe dizer que não importa como você esteja, gosto de tudo em você.

Para mim, não faz nenhuma diferença se você já não tem mais a mesma pele, o mesmo cabelo ou o mesmo corpo de alguns anos atrás.

Se para você eu não envelheço, aos meus olhos você também é sempre a mesma.

Como eu gosto de conversar com você!

Me amarro nesse seu sorriso, no seu jeito de ser.

Entendo as suas razões de se preocupar tanto comigo.

Afinal, o mundo anda muito violento

E além disso, é difícil às vezes, enfrentar e superar as dificuldades do dia -a-dia.

Tem aquele cafezinho que só você sabe fazer? Aliás, há muita coisa que só você sabe fazer:

– amar da forma perfeita, por exemplo.

Quando cheguei aqui, disse que hoje senti saudades de você e quis passar o dia ao seu lado.

Nunca esquecerei de suas palavras:

-” filha, estou todos os dias à sua espera e sempre disponível para ficar ao seu lado.” (Minha mãe, era assim: a ternura em pessoa).

Quero que saiba que a palavra mais doce que para sempre pronunciarei será: MÃE !!

Se a esperança for embora, peça com amor que ela volta.

Se a esperança for embora, peça com amor que ela volta.

Não tem jeito. A vida vai ser sempre esse bate e assopra sem fim. Esse jogo marcado em que a gente apanha, cai, levanta e finge não saber que continua desabando. Finge não notar que está em queda livre e que, se não correr mais, não trabalhar mais, não levantar mais cedo, se não tentar mais forte mudar de ares, de rumo, de planos, de emprego, em breve vai se esborrachar lá embaixo.

Você sabe. Este mundo vai cada vez mais caro e a lógica é simples: se a gente não faz nada além do que se habituou a fazer, a gente ganha cada vez menos e vive cada vez pior. É triste, mas a vida se dividiu entre os que precisam trabalhar cada vez mais e os que se dispõem a pagar cada vez menos. Isso é coisa que a gente ignora, deixa pra lá, muda de assunto para não tornar o dia insuportável, mas é assim que é.

A gente segura a onda, faz o que pode, o que gosta, mantém a dignidade, empurra na subida um caminhão carregado de pedra, sabendo que se o soltar um segundo ele volta e nos atropela primeiro. Mas é duro. Tem dia em que a esperança fecha a loja e pendura na porta um aviso: “saí, não sei se volto”.

Só Deus sabe como é duro fazê-la voltar. Esperança quando vai embora é fogo. Só retorna com garantias. Faz exigências, requisita fiadores, reivindica proteções. Quem perde a esperança vive num mato sem cachorro, um chove-não-molha, uma indecisão brutal, uma fraqueza na alma, um sei-lá-o-quê dolorido que só.

Resgatar a esperança é um gesto de bravura extrema. Requer presença de espírito, força de vontade e uma vigorosa fé de que o amor, ele mesmo, ainda resta escondido em algum lugarzinho perdido dentro da gente. Se tiver amor, é metade do caminho andado. O amor é um cão farejador. Exímio especialista, bicho experimentado nas artes de resgatar a esperança perdida.

Para sentir esperança de novo é preciso sentir amor. Assim, sem mais, sentir amor. Sentir amor por alguém, por um ofício, uma causa, uma ideia, uma lembrança. Sentir amor por si mesmo. Sentir amor. A vida só persiste porque ainda há amor pulsando entre nós. Sentir amor nos fortalece, alimenta, liberta, nos revive e nos leva adiante tanto quanto o ódio nos consome, nos amarra e enfraquece. Sentir amor é o caminho para retomar a esperança nos braços.

Quando tem amor, você acorda num dia frio, em casa, percebe a sua gente ali, do seu lado, e se dá conta de que empurrar o caminhão ainda vale a pena, paga todo o esforço. E que sentir amor pelos seus é a mais alta e mais completa fortuna do ser humano.

Com amor a esperança volta. Ela volta assoviando uma canção tão linda, mas tão linda que deve ter sido feita pelo próprio São Francisco de Assis de manhã, rindo de olhar seus bichinhos correrem um atrás do outro no paraíso.

Ela volta, reabre a loja e anuncia numa faixa enorme, colorida e generosa: “voltei! Não vou embora mais não”.

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