Sobre a Ciência e o Inconsciente

Sobre a Ciência e o Inconsciente

O inconsciente concebido do ponto de vista da bioquímica dos processos cerebrais não pode, como aliás se tem mostrado óbvio, dar conta do campo da significação (assim como das suas falhas e lacunas), abrangido pelo inconsciente psicanalítico. Apenas um deficitário conhecimento deste segundo campo, pode permitir formular a hipótese contrária.

Estará a querer enganar o mundo, quem afirmar que conhece o cérebro, aquela insondável nebulosa (na qual, na verdade, estamos ainda muito perdidos), ao ponto de poder compreender a complexidade dos processos em questão, pois o conhecimento existente sobre os processos cerebrais não dá para sondar nem de muito longe, o campo mental da significação inconsciente, explorado pela psicanálise.

Na verdade estamos mesmo a “anos luz” de distância de uma tal integração do conhecimento. Parece-me muito bem que continuemos a tentar reduzir cada vez mais essa distância, mas o que a ciência não pode é dizer que já lá chegou, nem que está lá perto, pois para tal afirmar, como saberão, teria que atropelar os seus próprios princípios, rígidos e rigorosos, de verificabilidade metódica experimental.

Afinal de contas é nesta ótica da verificabilidade experimental que a ciência sempre excluiu do campo dos seus objetos de estudo, o inconsciente psicanalítico; e até à data não se encontra em condições de fazer outra coisa, pois essa outra coisa exigiria reformulações epistemológicas que são contra a sua própria natureza fazer.

Neste estado de coisas, a tentativa de assimilar o inconsciente à bioquímica dos processos cerebrais – um inconsciente cerebral geneticamente transmitido, alojado num cérebro sem mente –, corresponde precisamente à tentativa de aplicar à psicanálise, da qual o inconsciente é o principal pilar, um derradeiro golpe de graça, concedendo-lhe um lugar no qual tombará destituída de si mesma, vendo radicalmente perdida a sua especificidade e a sua identidade própria, para sucumbir subordinada à ditadura do conhecimento advogada pelo método único, vislumbrando-se então mais de perto, no horizonte desimpedido de obstáculos, aquele distópico “Admirável Mundo Novo”.

Neste sentido, se bem me faço entender, a neuropsicologia e a neuropsicanálise, que a tantos psicólogos e psicanalistas fascinam, podem ser efetivamente mobilizadas como ardilosas armadilhas (e digo podem, não que o sejam necessariamente).

Perante isto, encarando de frente as tendências dos nossos tempos, resta-nos o alívio de saber que, dada a sua natureza inexorável, o conhecimento jamais se deixará subordinar a um continente restrito (um método único), que lhe imponha limites que não lhe cabem; e estamos cá para o lembrar, tantas vezes quantas forem necessárias.

13 dicas para os pais com crianças hospitalizadas:

13 dicas para os pais com crianças hospitalizadas:

Escrevo esse artigo ainda no hospital, 9 dias e 8 noites sem dormir ou comer adequadamente, e, possivelmente, os dizeres desse singelo artigo, não fiquem tão concatenados como eu gostaria, entretanto, tenho pressa em escrever e compartilhá-lo com outras mães e pais que possam necessitar dessas orientações.

Nesse tempo, li alguns textos e refleti muito sobre a situação de mães/pais que acompanham seus filhos nas internações. Se uma dor de barriga ou febre do filho causa angústia, acompanhar um filho durante uma internação hospitalar, é algo extremamente difícil para os pais.

As crianças captam facilmente as emoções dos seus pais, ou seja, a criança senti o quê os pais sentem, portanto, dentro do possível, faz-se importante que os pais mantenham-se calmos e confiantes em seu tratamento e recuperação.

Crianças emocionalmente saudáveis e com boa auto-estima conseguem se recuperar mais rapidamente, dessa forma, seguem algumas dicas para atravessar esse período de hospitalização:

  1. Explique para a criança onde vocês estão e o que é um hospital;
  2. Facilite a relação da criança com a equipe que cuidará dela nesse período, por exemplo, pode dizer que esses profissionais estão trabalhando para deixá-la melhor;
  3. Fale sobre os motivos que levaram à internação, ou seja, explique de forma simples e na linguagem da criança, a doença que apresenta nesse momento;
  4. Sobre os procedimentos: informe-se com a equipe que acompanha seu filho sobre como será o tratamento. Às vezes eles necessitarão coletar material para exames tais como: sangue, fezes, urina. Pergunte sobre as medicações e sobre como elas serão administradas, se por via oral ou endovenosa. Essas informações são importantes passar para a criança, mesmo para os bebês que já compreendem que algo não vai bem, pois se as crianças que não sabem como acontecerá o tratamento podem ficar ansiosas;
  5. Diante das medicações endovenosas, coleta de sangue e outros procedimentos mais invasivos, nunca diga que não vai doer, explique que vai doer um pouco, mas é necessário. A criança fica assustada diante de pessoas desconhecidas que precisam mexer em seu corpo para examinar e fazer procedimentos que, às vezes, são dolorosos, portanto, se você disser a verdade, ela não ficará tensa o tempo todo e isso facilitá aos profissionais a realização das avaliações físicas;
  6. Fale das suas emoções para seu filho, pois a mãe/pai são os espelhos da criança. Certamente ela não consegue compreender muitas das suas emoções nesse momento e ouvir como os pais se sentem, o ajudará a nomear e entender os seus sentimentos;
  7. Fortaleça o emocional do seu filho; pode dizer que confia nele e em sua recuperação e que passarão juntos por esse processo;
  8. Informe-se, caso seu filho tenha uma doença crônica, síndrome ou doença congênita, pois é importante saber sobre os seus sintomas, evolução e prognóstico, muitas vezes sabendo e reconhecendo os sinais iniciais da patologia, pode-se tratar antes do agravamento, evitando uma nova internação;
  9. Apóie-se:  há grupos muito interessantes no Facebook que são compostos por mães e pais que estão disponíveis para acolher e compartilhar as experiências que tiveram com a doença/síndrome, internações e tratamentos;
  10. Caso necessário, procure um psicólogo para conseguir se organizar mentalmente e, indiretamente, organizar as emoções do filho que está doente nesse momento;
  11. Pergunte para seu filho como está se sentindo, caso ainda não tenha muitos recursos com a linguagem, peça para desenhar a internação/doença e explicar o desenho, isso poderá ajudar a compreender a situação e organizar-se psicologicamente;
  12. Sobre a alta: diga quando vão sair da internação somente quando tiver certeza da data;
  13. Faça planos juntos para realizar depois da alta e cumpra-os, ensine o seu filho a valorizar a saúde e a celebrar a vida.

Agradeço à equipe da pediatria do hospital Santa Casa Anna Cintra em Amparo-SP que nos acolheu e encaminhou para o tratamento especializado que meu filho necessitava.

Esse texto, como gratidão, dedico á equipe da UTI pediátrica e ao setor de pediatria do Hospital Vera Cruz de Campinas – SP. Equipe que pude confiar que e que cuidou do meu filho com competência e profissionalismo. Enxerguei nos olhos de cada profissional o amor em exercer a profissão e cuidado que direcionam aos seus pequenos pacientes. Muito obrigada!

Vamos olhar as coisas de uma forma diferente?

Vamos olhar as coisas de uma forma diferente?

Quando eu era pequena, nunca me vesti com aquela roupa rosa, nunca usei lacinhos, nem gostava de brincar de casinha ou maquiagem, nunca segui a risca aquele estereótipo que se espera de uma menina. Gostava mais da companhia dos meninos, brincava de pique, bolinha de gude e bola. Sim, tudo o que tivesse uma bola envolvida eu gostava de brincar: basquete, vôlei, futebol e queimado.

Quase não tinha bonecas e nem gostava tanto desse tipo de brinquedo ou brincadeiras. Gostava de me vestir com roupas que me deixassem a vontade para correr, para brincar, para me sujar, porque as crianças não tem medo de cair e se divertir. Então, usava muitas roupas largas, como shorts e camisas, tudo que me permitisse ser eu mesma.

Isso nunca foi algo pensado, premeditado, por isso nunca foi uma questão para mim. Eu sempre fui assim, sempre gostei dessas coisas, eu sempre fui desse jeito. E o que me deixa muito triste e preocupada com a infância das crianças, é que isso hoje em dia, é visto como um problema pelas pessoas sejam os próprios pais ou educadores.

Uma vez, ouvi um comentário sobre uma menina, uma criança dos seus sete anos que se comportava como eu quando era pequena. Os parentes mais próximos estavam alertando os pais que esse jeito de ser, deveria ser corrigido, porque senão quem sabe o que ela ia se tornar? Eu achei um absurdo, mas percebi não só o tom de julgamento dos parentes como também a preocupação iminente no olhar dos pais.

Parece bobagem ou algo isolado, mas não é bem assim. Infelizmente, esse tipo de comentário maldoso e esse tipo de mentalidade é muito comum e amplamente disseminada na nossa sociedade como um todo. Não é a exceção, ainda. Apesar, que esse tipo de comentário tem sido mais combatido nos dias de hoje e tem cada vez menos adeptos a esse binômio masculino/ feminino de ver as coisas. Acho sim que de forma geral, as coisas estão caminhando, mesmo que seja lentamente.

Por isso, precisamos sim falar sobre isso, falar por que ainda atribuímos características e comportamentos baseados no gênero: se é menina tem que ser assim, se é um menino tem que ser assado. Tentar abrir os olhos e ver como aprisionamos as crianças ainda pequenas numa caixa, em um estereótipo, em uma cartilha invisível de como as meninas e meninos devem agir e interagir no mundo a sua volta, o que é e não é permitido.

Como eu disse, para mim quando eu era criança, nunca foi uma questão ser diferente das outras meninas. Mas, conforme fui crescendo comecei a me dar conta do preconceito que existia nas pessoas, algumas brincadeiras e piadas pelo meu jeito de ser e até pela minha forma de andar.

Eu não posso falar pelos meus pais e como eles pensavam. Não sei se isso foi visto como um problema ou não, se chegou a ser algo conversado entre eles. Mas meus pais nunca criticaram, sugeriram ou disseram como eu devia ser ou me vestir. Eu sempre tive a oportunidade de ser eu mesma, ter os amiguinhos que eu queria, brincar do que eu quisesse e me vestir com aquilo que eu gostava de usar. E eu sei que infelizmente, isso ainda é um privilégio.

Há uma sexualização precoce das crianças e daí vem a demonização do que não é considerado “normal”, seja para as meninas ou meninos que não se encaixem em um padrão de comportamento esperado. Ou seja, não é visto com bons olhos se uma menina gosta exclusivamente de brincar de bola, jogar vídeo game ou esportes. Da mesma forma, se um menino gosta mais de brincar de casinha, passar roupa ou de boneca é visto com estranheza e piadinhas maliciosas.

Não se engane, para os meninos a pressão é ainda maior. Em uma sociedade patriarcal e machista, onde mariquinha ou fresco são usados como ferramenta de insultos, como algo pejorativo e considerado um xingamento por quem o diz com o objetivo de desqualificar quem escuta, não é nada fácil ser aquele menino que tem a voz mais fina do grupo, que não gosta de jogar bola ou prefere a companhia das meninas nas brincadeiras.

Eles são sim, discriminados pelas pessoas que deveriam aceitá-los como são, seus próprios amigos. É assustador como as crianças podem ser cruéis, segregar e excluir quem elas acham que não se enquadra no grupinho seja por qualquer motivo for.

Isso é sim muito grave. Bullying é coisa séria e não uma simples chacota e brincadeira inofensiva. Ser discriminado por ser quem se é, dói, machuca. E o que mais me preocupa é a covardia do ato porque a criança que é atacada, ainda não tem as ferramentas necessárias para se defender sobre isso.

Eu realmente espero e desejo que o futuro seja diferente com as crianças que estão por vir. Cada vez mais esse tipo de preconceito seja combatido a tal ponto que não seja mais a mentalidade coletiva. Com mais informação, com mais diálogo, com mais compreensão, as coisas começam a mudar, as pessoas começam a pensar diferente e a sociedade então muda.

Não importa o tempo que isso leve, mas as coisas mudam sim. O que é considerado como “normal” sempre muda, sempre se adapta, sempre sofre metamorfose e não podia ser diferente. Afinal, não é algo absoluto ou da natureza como gostam de falar. É criado, inventado, propagado, é o inconsciente coletivo. E isso sempre muda. Graças a Deus.

Ninguém poderá realmente te ferir no dia em que você verdadeiramente se amar

Ninguém poderá realmente te ferir no dia em que você verdadeiramente se amar

Por Sílvia Marques

Achamos que nos amamos. Achamos porque desejamos coisas boas para nós. Desejamos um bom emprego, uma vida social animada, uma casa confortável, alguém para amar e nos amar.

Porém, se alguém nos rejeita, nos ofende injustamente ou ignora a nossa presença, sentimos a atitude desagradável penetrar a nossa carne como a lâmina muito fina e muito fria de um punhal mortal. Por quê? Porque lá no fundo, em uma parte escondidinha do nosso coração, acreditamos que por alguma razão a ofensa tem o seu fundo de verdade e demos lá os nossos motivos para sermos rejeitados ou ignorados.

Concordo que às vezes realmente pisamos na bola e recebemos o troco. Não me refiro a este tipo de situação. Me refiro a um tipo de contexto em que você é educado, gentil, prestativo e leva torta na cara sem saber o porquê.

Nunca entenderemos realmente as reais motivações das pessoas. Cada um de nós é um universo complexo e vasto, cheio de obscuridades, muitas vezes, para nós mesmos. Se em muitos casos não compreendemos nem os nossos sentimentos, como poderemos entender com clareza os alheios?

O mais importante é não se subjugar porque o outro não nos aplaudiu, virou a cara quando sorrimos e não respondeu ao nosso bom dia. O mais importante é não se recriminar porque o outro não simpatiza com a gente, não concorda com o nosso jeito de ser e prefere conversar com outras pessoas. O mais importante é não se culpar porque quem amamos não nos amou. Você não é sem graça só porque quem você amou não viu encanto algum em você. Você não é a última das mulheres ou o último dos homens só porque quem você amou, preferiu namorar alguém que você considera um/uma idiota ou até mesmo preferiu ficar sozinho/sozinha.

No dia em que você se amar mesmo, para valer, a opinião de ninguém contará tanto assim porque lá no fundo o que importa mesmo é como nos vemos e como nos acolhemos.

As 25 melhores fotos de noivado

As 25 melhores fotos de noivado

Fotógrafos de 35 países diferentes apresentaram as suas mais incríveis fotos de noivado para o Junebug Weddings, uma comunidade virtual dedicada a ajudar seus integrantes a planejar casamentos.

As fotografias dessa coleção foram escolhidas por sua qualidade, beleza, excelência, técnica e personalidade distinta. Não só por esses fatores, mas também pela conotação extremamente emocionante das fotos, os fotógrafos responsáveis foram magistrais.

Deparar-se com essas fotos é, para casais e pessoas solteiras, uma verdadeira inspiração. Das imagens são suscitadas diversas sensações e emoções, incluindo empatia, paixão e graciosidade.

Nestas fotografias melódicas, casais interagem entre si através de uma conexão emocional sólida, demonstrando, tanto o homem quanto a mulher, a potência de sua união afetiva.

Em pessoas mais sensitivas, principalmente, essas fotos irão surtir um efeito caloroso, passional e abrasante.

A gratidão é visível no semblante das pessoas que participaram desse ensaio fotográfico.

Os fotógrafos identificaram o momento certeiro para registrar esses 25 casais: quando eles parecem estar no ápice de seus relacionamentos.

Os casais são tão bem figurados nessas fotos que parecem estar contracenando em um filme. Mas a diferença é que as cenas são reais.

Esta série fotográfica promovida pela Junebug Weddings desmantela a vergonha de ser feliz, e nos mostra um pouco da virtude que é compartilhar momentos de alegria genuína. Veja as fotos:

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*Mais informações

Não é não

Não é não

“A violência contra mulheres é uma construção social, resultado da desigualdade de forças nas relações de poder entre homens e mulheres. É criada nas relações sociais e reproduzida pela sociedade.” Nadine Gasman, porta-voz da ONU Mulheres no Brasil.

A cada 11 minutos surge um caso, em média, de estupro no Brasil. No mundo, segundo a ONU, 7 a cada 10 mulheres já foram ou serão violentadas em algum momento da vida. Mesmo com esses dados chocantes, ainda há quem defenda que a violência contra a mulher não pode ser associada à cultura do estupro. Usar o termo cultura para ações tão abomináveis é desleal, eles dizem. De acordo com a Sociologia, a cultura possui tanto aspectos tangíveis – sejam eles objetos e símbolos que estão dentro de um contexto, como também podem ser intangíveis – ideias e normas que regulam o comportamento de um grupo de indivíduos. Indo além, tais valores e características podem ser medidas como desejáveis e indesejáveis. O que isso quer dizer? Significa que certos conceitos e costumes de uma determinada cultura, algumas vezes são benéficos e outras nocivos. Logo, nem toda forma de cultura implica, necessariamente, numa evolução da sociedade. Por isso, usar e reafirmar a existência preocupante da cultura do estupro é tão fundamental para ser debatido e combatido. Não somente pelas autoridades, mas também por todos os cidadãos. Questionar a vítima do estupro é salientar e expandir o desejo e o desrespeito da sociedade machista em que vivemos. Emile Durkheim (sociólogo, psicólogo social e filósofo francês; 1858 – 1917) acreditava que os fenômenos sociais têm necessariamente uma dimensão cultural pois são também fenômenos simbólicos.

O caso da jovem, violentada por 33 homens que, independente dos fatores antecedentes da vítima, mostra mais uma vez esse descaso e sensação de impotência de quem sofre violência. Cruel, suja, assustadora. O triste é que isso se tornou rotineiro, tornando difícil alguns aceitaram, ou, sequer protestarem contra. Mas veja bem, a discussão e a constante luta contra a cultura do estupro não começou no mês passado no Rio de Janeiro. Ela faz parte desde o princípio da história datada do homem. No cinema, o assunto também já fora abordado, em especial, na produção The Accused (Acusados, 1988), estrelado por Jodie Foster, com roteiro de Tom Topor e dirigido por Jonathan Kaplan. Na trama, Sarah Tobias (Foster) foi para um bar. Usava roupas provocantes. Bebeu. Fumou maconha. Flertou. Foi estuprada por 3 homens enquanto outros 3 aplaudiam e incitavam. Ela disse não. Não bastou. A narrativa que, mostra apenas como tudo aconteceu no último ato da produção, discute, seriamente, justamente essa base cultural e machista acerca do estupro. O sistema judicial questiona. Outros personagens questionam. Até mesmo a advogada de Sarah, questiona. Até quando? Inerente às circunstâncias, ela disse não. Tantas outras mulheres já disseram não. Mas continua. Permanece. Fere.

O não por si só é a prova incontestável. O legítimo argumento. Mas há quem continue a ficar incomodado com o uso da cultura no estupro. Estão errados. Ainda que consentido no primeiro beijo e na primeira carícia se, em algum momento, o não surgir, acabou. É estupro. Estejam presentes um, dois, três ou quantos homens primitivos e caóticos praticarem o ato de fato. A tecla do estupro deve sim ficar sendo repetida, dia após dia. Nas casas, nas ruas, nas escolas e nos veículos de comunicação. Estupro não é política. Estupro não é sobre gosto. Estupro não é sobre fé. Todos esses outros assuntos podem ser conversados e cabíveis de possíveis divergências. Menos o estupro. A violência contra não só mulheres, mas também contra crianças, jamais pode cair no discurso de “a minha opinião é que não houve”, “a minha opinião é que ela procurou”, “a minha opinião é que ela se ela não tivesse feito isso ou aquilo”. Jamais. É para ser fixado. Tesão é respeito. Desejo é respeito. Amor é respeito. Quando a curva inclina para qualquer objetivo diferente estamos aplaudindo, incitando e sorrindo a favor da cultura do estupro. A mulher não é posse. Nenhum ser humano é posse. Seja para atender vontades ou expectativas.  Que termine aqui o virar os olhos para um novo caso de estupro e violência. Que termine aqui a pequenice de querer estar certo sobre como o outro deve se comportar diante de qualquer pessoa. Que termine aqui a inércia da sociedade. Não é não. Nunca talvez e muito menos sim.

 

Livro sobre o Azheimer: Ausência, de Flávia Cristina Simonelli

Livro sobre o Azheimer: Ausência, de Flávia Cristina Simonelli

 

Ausência, romance da escritora Flávia Cristina Simonelli, é um livro que apresenta o leitor ao dia a dia de uma pessoa afetada pelo Alzheimer.

Reconhecido e indicado pela ABRAZ- Associação Brasileira de Alzheimer, o livro descreve o percurso de Ervin de Apolinário, um renomado professor que começa a apresentar os sintomas da doença, e segue mostrando como a sintomatologia repleta de lapsos, esquecimentos, negação e até agressividade afeta sua relação consigo mesmo e com todos os que estão ao seu redor.

Daniel, médico que trata do paciente, é mais uma figura envolta na trama de maneira significativa quando não consegue se desvencilhar de reflexões acerca do caso. Nele, vemos mais uma pessoa invadida por questões existenciais de extrema relevância e que seguirão um rumo próprio dentro da história.

contioutra.com - Livro sobre o Azheimer: Ausência, de Flávia Cristina SimonelliNo Brasil, Ausência é um livro relançado pelo selo Via Leitura, da Edipro, e já está em sua terceira edição. O romance foi publicado também na Itália com o patrocínio da Fundação Biblioteca Nacional.

Através de suas 256 páginas, permite a todas as pessoas que estão envolvidas com a temática do Alzheimer, ou mesmo que possuem interesse pelo assunto, uma relação mais próxima e empática com o que acontece com quem vivencia a doença, suas perdas reais e reconstruções possíveis.

“Ao escrever Ausência, eu quis tentar transpor um limiar como escritora que me levasse a novos ângulos de percepção entre mim e o mundo; um livro é um universo criado, que ao mesmo tempo em que não pode abarcar, em ficção, todas as realidades da vida, é completamente coerente e inteiro em si mesmo, capaz de permitir a vivência de novos pontos de vista. O ponto de vista de Ervin, um homem que sabe que está perdendo a si mesmo; e o ponto de vista de outro homem, Daniel, que vê ruir todas as estruturas que constituíram sua vida até então…” Flávia Cristina Simonelli
Uma leitura que dá vida e transmite realidade ao mesmo tempo em que apresenta a essência da vida de quem lida com os sintomas do Alzheimer. Afinal, o livro nos obriga a pensar: “O que é um homem sem memória?”

contioutra.com - Livro sobre o Azheimer: Ausência, de Flávia Cristina SimonelliFlavia Cristina Simonelli graduou-se em Letras e Administração pela Universidade de São Paulo.

É escritora e aconselhadora biográfica, e tem seus textos publicados no site:
www.aconselhamentobiografico.org

Um olhar sobre a velhice

Um olhar sobre a velhice

Durante muitos anos o atendimento mais comum para o idoso foi o asilo, um recurso reconhecido pela necessidade de abrigo e proteção por abandono ou inexistência do grupo familiar.

A partir dos anos 70, com a aceleração do processo de envelhecimento no país, vão sendo criados recursos para atender às necessidades e anseios manifestados pelo número crescente de idosos.

Tanto os recursos institucionais, como os comunitários se dirigem à integração do idoso na sociedade. A partir do momento em que o idoso fica dentro de casa, ele perde a iniciativa, a capacidade de fazer novas relações, a criatividade desaparece e eles passam a produzir várias doenças físicas e psicológicas.

Para atender esta crescente população idosa, com a promoção da saúde, surgiram aos poucos programas e atividade física e serviços para a terceira idade. Estes grupos têm origem na comunidade e proporciona a ressocialização e o exercício da mobilidade, com opções para que os idosos se sintam independentes e tome suas iniciativas próprias. Abordar-se-á a atividade física no capítulo III.

A família sofreu transformações do ponto de vista sócio-econômico, mas ainda se constitui em um núcleo de apoio e atende às funções de socialização, cuidado, proteção e ajuda econômica para com os idosos.

Quando a idade avança, as condições do idoso o submetem à fragilização e atingido este quadro, os membros da família devem estimular sua independência, valorizando a capacidade física e intelectual que ele ainda possui.

Até meados do século XX, os psicólogos deram pouca ou nenhuma atenção ao desenvolvimento do adulto na segunda metade da vida.
Grande parte dos estudos da psicologia se concentrava na juventude, baseados na ideia de Sigmund Freud de que a personalidade se forma na infância e permanece relativamente idêntica durante a idade adulta.

Carl G. Jung lançou os alicerces de uma psicologia analítica voltada para a idade adulta ao defender a ideia de individuação, processo que se dá ao longo de toda a vida – e pelo qual nos tornamos os seres humanos completos que estamos destinados a ser. Pois, dizia ele, que nenhum de nós vem ao mundo por acaso, tendo a vida um uma finalidade única.

Ao considerarmos que o envelhecimento não ocorre baseado em um plano-mestre, mas sim como resultado de eventos ao longo da história de cada um, destacamos estas Teorias Biológicas do Envelhecimento. ( HAYFLICK, 1994:225. )

-Alteração na aparência e nas capacidades das pessoas que envelhecem

1-A pele frequentemente torna-se enrugada, seca e seborréica e aparece ceratose actinica;
2-O cabelo torna-se grisalho e mais fino; a calvície acentua-se;
3-A deterioração dos dentes provoca sua queda;
4-A altura e o peso tendem a diminuir;
5-As cavidades toráxicas e abdominal aumentam;
6-As orelhas alongam-se e o nariz alarga-se;
7-As células adiposas invadem a musculatura e a força
muscular diminui;
8-A postura e altura são afetadas por alterações músculo-esqueléticas;
9-A densidade óssea diminui, influenciada por sexo e raça;
10-Há alteração na absorção, distribuição, excreção e na cinética de ligação de drogas
11-Há perda de células insubstituíveis, principalmente no cérebro, coração e músculos;
12-A musculatura esfriada diminui aproximadamente pela metade aos 80 anos;
13-Há declínio de neurotransmissores como dopamina, noradrelina, serotonina, hidroxilase e acetilcolina; aumento de monoaminoxidase (MAO).

– Alterações na personalidade do idoso

1-Redução da capacidade de controle dos afetos;
2-Irritabilidade;
3-Depressão;
4-Desconfiança;
5-Susceptibilidade;
6-Autoritarismo;
7-Rigidez;
8-Apego ao passado, tendência a idealizá-lo;
9-Misoneísmo (aversão ao novo);
10-Propensão ao isolamento;
11-Misantropia (aversão à sociedade, a outras pessoas e à convivência);
12-Preocupação excessiva com a propriedade e a segurança;
13-Dificuldade de adaptação a situações novas;
14-Conflito habitual com as gerações jovens;
15-Consciência de dificuldades aumentadas na aquisição de conhecimentos;
16-Redução dos interesses;
17-Tendência a ocupar-se repetidamente dos mesmos temas;
18-Recusa em aceitar o envelhecimento e em reduzir seu estilo de vida e suas possibilidades.

Ao considerarmos que o envelhecimento não ocorre baseado em um plano-mestre mas sim como resultado de eventos ao longo da história de cada um, destacamos estas Teorias Biológicas do Envelhecimento. ( HAYFLICK, 1994:225. )

1-Teoria da Exaustão – o corpo contém uma quantidade fixa de energia que é gradualmente dissipada, desenrolada como uma corda de relógio.
2-Teoria da Acumulação – o material deletério que se acumula dentro das células acaba por matá-las com o correr do tempo (ex: lipofuccina ou corpos de hirano). Desenvolve-se tardiamente na vida.
3-Teoria da Programação Biológica – as células são geneticamente programadas para viver por um período específico de tempo, morrendo inevitavelmente após o término desse tempo.
4-Teoria do Erro – com a senescência, alterações ocorrem na estrutura da molécula do DNA (ácido desoxirribonucléico). Quando os erros são transmitidos para o RNA (ácido ribonucléico) mensageiro há um grande desenvolvimento de enzimas de defesa que levam, finalmente, à morte da célula e do organismo.
5-Teoria da Eversão (ligação cruzada) – há uma mudança nas ligações que unem as cadeias de polipeptídeos do colágeno, assim tornando-o menos permeável e elástico e, portanto, menos capaz de manter a vida normal.
6-Teoria Imunológica – com o tempo, há uma redução nos mecanismos protetores do sistema imune, que podem se tornar autoagressivos, levando à destruição dos tecidos corporais.
7-Teoria do “Relógio do Envelhecimento” – diz-se que este “relógio” reside no hipotálamo. O hipotálamo é fundamental para uma variedade de funções endócrinas e cerebrais e a perda de células neste local tem um papel particularmente importante no declínio dos mecanismos homeostáticos com a idade.
8-Teoria dos Radicais Livres – os radicais livres podem causar danos ao DNA. A ligação cruzada do colágeno e o acúmulo de pigmentos da idade são causados por radicais livres (moléculas com elétrons ímpares que existem normalmente no corpo, bem como produzidos por radiação ionizante, ozônio e toxinas químicas.

Recentemente, o cientista Giusepe Attardi do Instituto de Tecnologia da Califórnia e outros pesquisadores na Itália, em artigo na Science, informam ter encontrado um tipo de mutação genética relacionado com o envelhecimento em geral. Esta descoberta poderá comprovar que, pelo menos em termos, a velhice é resultado de mutação no DNA, que acreditam possam ser atribuídas à ação dos radicais livres ou a um cansaço do sistema de auto-reparação das próprias células. (23.10.1999:12.Ciência.JB).

É difícil determinar o início do período final da vida, quer sob o ponto vista médico, quer sob o ponto de vista social.

Se para uns a idade da aposentadoria marca o seu começo, para outros ela é arbitrariamente fixado aos 75 anos. Para outros, ainda, o aparecimento dos primeiros sinais de dependência é que evidencia a entrada definitiva neste tempo de declínio.

Dentre os mitos médicos sobre o envelhecimento há o que diz que a velhice começa aos 65 anos de idade. Esta é a ideia que poderia ser chamada de ‘envelhecimento burocrático’. Com a necessidade de estabelecer um limite exato para a concessão de benefícios e aposentadorias, para a estratificação de dados populacionais e outros é que surgiram os números ‘mágicos’ de 60 e 65 anos de idade para limitar as faixas etárias de adultos e idosos. Por que não 61, 63?

Os maiores efeitos do estabelecimento de uma idade delimitadora parece ser a “comodidade burocrática” e a considerável carga psicológica colocada sobre os indivíduos ao serem rotulados de ‘velhos’ ou ‘idosos’, com todas as consequências pessoais, sociais e culturais que advém disso. (JACKBEL NETO 1996:15)

Ao se desvincular da vida pública para mergulhar num mundo particular e privado, o idoso se vê excluído do espaço mais amplo em que se movia até então. Marginalizado, confinado aos estreitos limites para onde a sociedade o expulsa, vai perdendo socialmente uma identidade conhecida para mergulhar numa espécie de limbo.

Agora é um aposentado e deve se retirar para a quietude de seus aposentos, se deixar ver o menos possível e criar à sua volta um silêncio respeitoso seguindo a mesma trilha de todos os outros velhos excluídos. Pode parecer exagerada a afirmação, mas não há qualquer dúvida quanto à realidade: a sociedade rejeita aquele que não mais produz e já não gera riqueza.

É nossa cultura que despreza e agride homens e mulheres envelhecidos, sua memória e conhecimento para aceitar apenas o velho que ainda contribui de alguma forma para o crescimento.
Assim são aceitos políticos, artistas e criadores em geral, porque eles continuam como força atuante e modificadora.

Na velhice, a diminuição do poder aquisitivo, a solidão, a perda de identidade, o não acolhimento da singularidade e da diferença deste tempo de vida, tudo contribui para enfraquecer ainda mais o idoso, já destituído de seus papéis sociais. Na própria família, ele é segregado desde que não seja mais útil e produtivo. Esta violência contra o idoso tem crescido com o pensamento da atualidade, onde só é aceito quem é belo, atraente e rico.

Cada pessoa, ao longo de sua trajetória existencial, vive de modo singular suas mudanças biológicas, psicológicas, intelectuais e espirituais, compondo assim o seu ciclo de vida. E é esta composição que poderá garantir a experiência de envelhecer sem a fragmentação consequente das transformações internas e externas que ocorrem em cada ser, mais acentuadamente, à medida que envelhecem. Durante nossa vida, o corpo vai gradativamente se desgastando, mas a mente tem a capacidade de tornar-se cada dia mais viva e ativa.

O envelhecimento exprime ao mesmo tempo uma ideia de perda e outra de aquisição. Nossa sociedade reserva à juventude o benefício e à velhice o déficit.

Um dos aspectos do envelhecimento, a aquisição, concerne a história de vida do indivíduo, enquanto a perda, – outro elemento que é citado com mais frequência – se refere ao que é mais visível, e surge da dificuldade em discernir o limite entre o envelhecimento normal, o patológico e o patogênico.

O envelhecimento, como processo normal, é a expressão da temporalidade da pessoa, adere à história de sua vida. Envelhecemos como vivemos, nem melhor, nem pior. Trata-se de uma questão de equilíbrio entre aquisição/perda. (JACK DE MESSY,1992:16).

A capacidade do homem de reconhecer a limitação de sua existência e agir em conformidade com essa descoberta pode ser sua maior conquista psicológica. A aceitação da transitoriedade é efetuada pelo ego, que realiza o trabalho emocional que precede, acompanha e segue as separações. Sem esses esforços não se poderia alcançar uma concepção válida do tempo, dos limites e da inconstância das catexias.

Mas a vida, como dizia Rainer Maria Rilke a propósito de Rodin, “está nas pequenas coisas como nas grandes: no que é apenas visível e no que é imenso”. (FERREIRA, 1997 :360.)

A natureza faz lentamente o seu caminho e o corpo vai pouco a pouco se adaptando às limitações inerentes ao tempo vivido. Do velho não se exige a força física e as leis e costumes o dispensam dos encargos que pedem mais vigor. Perdidos os prazeres da boa mesa e do perfeito desempenho sexual, restam possibilidades de substituição por outros prazeres em tempos de urgência e fazeres atropelados.O cuidado com o físico é primordial para a sensação de segurança e bem-estar.

Sendo a vida o solo nutriente da alma, não podemos perder o contato com o contínuo vir-a-ser no estar vivos. Quem fracassar em acompanhar o processo de vida, ficará suspenso, tenso e rígido, olhando para o passado como se fosse a única razão de engajamento. Assim, as pessoas se retiram ou são retiradas do processo vital, fixando-se em recordações com um medo secreto da morte.

Mas a velhice longe de ser passiva e inerte pode ser sempre atarefada e fervilhante, ocupada em atividades relacionadas com o gosto de cada um. Pois a vida não é uma operação passiva e um organismo tem de se abrir e sair em busca daquilo que precisa – tornando a vida um exercício de busca e exploração de todos os possíveis.

Para Alexander Lowen, (1975:50)
“uma pessoa é a soma de suas experiências da vida, cada uma das quais é registrada na sua personalidade e estruturada em seu corpo”.

A leitura do nosso corpo é uma leitura infinita. O registro corporal é, sem dúvida, aquele que fornece as características da pessoa de idade avançada: cabelos brancos, ou calvície, rugas, reflexos menos rápidos, compressão da coluna vertebral, enrijecimento.

E como ninguém existe fora do corpo vivo, é através dele que nos expressamos e nos relacionamos com o mundo à nossa volta. Se somos nosso corpo e nosso corpo somos nós, ele poderá expressar quem somos e dizer de nossa forma de estar no mundo. O corpo é um sistema energético e a energia está envolvida no movimento de todas as coisas, tanto vivas quanto inertes.

Eu nunca quis você pra mim, eu só queria você por perto

Eu nunca quis você pra mim, eu só queria você por perto

Por Léo Luz

Eu nunca quis te prender. Nunca quis você em casa vinte e quatro horas por dia, a salvo das intempéries do mundo e longe de todas as outras pessoas. Eu nunca te quis submissa ou passiva, muito menos te quis dependente de mim. Nunca foi a minha vontade te afastar dos seus estudos, do seu trabalho, dos seus amigos. Eu nunca quis ser uma sombra assustadora sobre a sua liberdade e sobre a sua independência. Apesar de eu querer você na minha vida, eu não quero você só na minha vida. Nunca passou pela minha cabeça competir com as coisas que você gosta, eu só queria ser mais uma delas. Você ia continuar conhecendo pessoas, fazendo suas coisas, suas atividades, porque eu nunca quis você para mim, eu só queria você comigo.

Enquanto eu dizia que queria compartilhar a minha vida com você, você ouvia que eu queria a sua vida para mim. Eu queria alguém para dividir as coisas ruins e somar as coisas boas, e você achava que eu queria te poupar de tudo, tentar tomar conta da sua vida e resolver todos os problemas do mundo. A minha vontade é essa mesmo, e se eu pudesse, eu te pouparia de todos os perigos e sofrimentos do mundo. Mas eu não posso e não faria isso. Se eu fizesse, você deixaria de ser você. Mas é porque temos opiniões diferentes sobre o que é liberdade.

Para você, liberdade é poder fazer o que quiser, sem ter que dar satisfação ou se preocupar com ninguém. Para mim, não. Para mim, liberdade é saber que, mesmo tendo que dar satisfação ou me preocupar, eu posso fazer o que eu quiser. Assim como a coragem não é a ausência de medo, e sim o controle do medo, a liberdade não é não se prender a ninguém e poder fazer o que quiser. Liberdade é ter a coragem e a maturidade de, sim, abrir mão de fazer alguma coisa para ficar em casa vendo um filme, se você quiser. Liberdade não é a obrigação de fazer qualquer coisa, e sim saber que você poderia fazer qualquer coisa, se quisesse.

Eu queria pegar o carro e fugir pra qualquer lugar com você por dois dias, mas você só achava que eu queria te roubar do seu mundo. Eu queria que você passasse trinta horas na minha casa, e você só se preocupava que havia faltado a algum compromisso e que isso te fazia mal. Eu me propus a encontrar um meio termo — mesmo eu não sendo uma pessoa de meios termos, eu estava disposto a fazer isso. Mas você preferiu não correr o risco. Eu prefiro ter alguém para me ajudar a suportar as coisas ruins, você prefere ficar sozinha e não correr o risco de ver seu perfeito e alinhado trem do planejamento sair dos trilhos por alguns segundos. Mesmo sabendo que as vezes em que eu tirei seu trem dos trilhos foram os nossos melhores momentos juntos. Eu prefiro aumentar os trilhos, você prefere me jogar pra fora do trem.

Eu te propus tratarmos a nossa dor no joelho com analgésicos, e sermos felizes nos momentos sem dor e tentarmos superar juntos os momentos de dor. Você preferiu amputar a perna, se livrando de vez da dor, mas abrindo mão também do lado bom. Eu tentava ver o lado bom das nossas brigas — estávamos nos ajustando. Você sempre via o lado ruim da coisas boas, como quando você me dizia que sentiu saudades, que seus sentimentos com relação a mim eram ambíguos ou quando eu percebia nitidamente uma centelha de paixão por mim nos seus olhos. E a centelha estava lá. Mas você fechava a janela pro vento não aumentar as chamas. Nós poderíamos ter sido tudo o que eu dizia que nós seríamos, porque você nunca entendeu o que eu queria e, assim sendo, recusou a minha proposta de o que você pensava que eu queria. Você teve medo de me oferecer algo que eu nunca quis, você se negou a ser o que eu nunca quis que você fosse. Será que um dia você vai entender o que eu queria e me deixar não ser a sua vida, mas somente estar na sua vida.

Por que algumas pessoas não conseguem ficar sozinhas

Por que algumas pessoas não conseguem ficar sozinhas

por Nathalí Macedo

A solidão é uma droga. Essa primeira frase, sozinha, responderia a pergunta aí em cima. Mas, calma, eu juro que esse texto fará algum sentido, nem que seja te mostrar que pode haver textos sem sentido algum, mas que você lerá até a última linha. Vai entender.

É impossível ser feliz sozinho, já dizia o Vinícius, e quem sou eu para discordar? Nada melhor que um corpo quente em noite fria, um brinde com cerveja gelada em domingo de praia, com bons amigos e um bem-querer ao lado, já que ninguém é de ferro.

Eu só não poderia escrever um texto apenas pra te dizer que a solidão é ruim. Preciso, afinal, aprender a fugir do clichê. Acontece que algumas pessoas simplesmente não conseguem ficar sozinhas nunca. Elas precisam de companhia para fazer as refeições, para ir ao cinema, passar os feriados e até pra fazer o número dois – acredite você ou não.

Essas pessoas se recusam à própria companhia. Querem tanto conhecer outras pessoas e outros mundos, que esquecem de olhar o seu próprio mundo. E aí, adeus autoconhecimento.

Mas desfrutar da própria companhia é igualmente necessário – e maravilhoso. Aquela taça de vinho acompanhada da sua música predileta não necessariamente precisa de um brinde. Se você quer ir ao seu restaurante predileto e ninguém quer ir junto, você não precisa comer miojo ou recorrer ao delivery. Vá consigo mesmo. Parece filosofia barata de um forever alone que passa as noites de sexta escrevendo sobre um assunto qualquer, e pode até ser que sim.

Eu gosto da solidão para coisas rasas ou profundas. Gosto de estar sozinha para pensar sobre o sentido da vida ou simplesmente desmanchar as pontas duplas do meu cabelo. Para escutar minha música predileta a todo volume sem fones de ouvido. Pra falar sozinha, andar pelada pela casa, dançar de um jeito que eu nunca dancei em pista nenhuma, a não ser de pijama em cima da cama.

E é por toda essa liberdade solitária que eu não compreendo pessoas que dependem tanto do outro. Que mal saíram de um relacionamento e já estampam letreiros luminosos de “procura-se”, sem sequer se dar o direito de digerir os próprios sentimentos. Vão se atropelando, se apoiando em quem quer que seja, porque, na verdade, não conseguem se valer sozinhos. É triste ver pessoas que simplesmente não sabem lidar consigo mesmas, não conseguem passar um sábado sequer em casa vendo TV e comendo pipoca – sozinhos. Só de vez em quando, pra se descobrir, se conhecer e, acima de tudo, se amar. Depois, volta-se para os amigos e os amores, naturalmente.

Nascemos sozinhos e assim morreremos, disso ninguém duvida. Construir relações bonitas no decorrer da vida é o que há de mais lindo, mas depender delas é o início de uma catástrofe pessoal.

Era uma vez o amor em sua primeira vez.

Era uma vez o amor em sua primeira vez.

Então é isso. Já vão longe a espera, o frio na barriga, a data agendada. Nós conseguimos! Entre sete bilhões de pessoas no mundo, você e eu nos encontramos. Sabe-se lá por obra do quê, de quem, mas nos achamos. Somos dois e cá estamos, cada um em seu canto e a seu tempo dizendo: enfim, nós.

Mas e depois disso? Vem o quê? O que acontece agora que não há mais segredo, que passou o encontro breve depois da espera longa? Agora que passamos da condição de completos estranhos para a de recém-conhecidos tateando no escuro corredor que leva ao coração do outro? O que vem depois da primeira vez?

Você não sabe, não deve ter percebido, mas no instante ligeiro da nossa garrafa de vinho inicial eu saltei várias vezes para um tempo em que jamais estivemos, mas que desde sempre se fez nosso. Vi nossos futuros encontros, nossas próximas vezes, nossos dias seguintes, nossas noites vindouras.

Enquanto estivemos ali, nos descobrindo, apertados a uma mesa pequena e redonda, afastando nossos medos com as pontas dos dedos, como você queria, meu olhar perdido escorregou para longe, deslizou na enxurrada que corria franca com a chuva lá fora. E foi parando nos buracos, nos vãos e nas curvas do que há de vir.

Vi você e vi a mim mesmo nessas paragens, construindo nosso depois de amanhã, multiplicando nossas lembranças. Porque o amor deve ser isso mesmo, né? Esse escandaloso milagre da multiplicação. Vi encontros e partidas, esperas, chegadas. Vi nossos enganos, nossa saudade, nossa alegria do encontro seguinte, nossa paixão avassaladora, nosso amor se acalmando e se deitando em nosso colo, sob a sombra de uma tristeza sempre à espreita, uma sensação de que a qualquer tempo a festa acaba.

Lá estávamos nós, eu vi, namorando o amor de cada um, juntos, certos de que a vida terá sempre uma manhã de domingo preguiçosa para nossos pés cansados do caminho. Lá estavam a Terra girando azul, a manteiga derretendo amarela no pão. E a vida seguindo em preto, branco e todas as cores.

Então o tempo breve que dura uma primeira garrafa de vinho acabou. Meus olhos voltaram do futuro para a presença dos seus e o nosso início chegou ao fim. Passou a chuva, a noite, o café, o piano esperando na sala.

A mim, a nós, não cabe perguntar o que será depois. Porque a resposta é simples: depois da primeira vez vem a segunda. Depois a terceira, a quarta, a quinta e a sexta, os sábados e os domingos, e todas as outras vezes se sucedendo em fila, como eucaliptos num bosque infinito de expectativas. Como a vida que recomeça sempre, ao final de cada encontro que lhe dá sentido e som e fúria. O resto é o nada, o único caminho que a tudo leva.

Sonata de Outono é uma máxima do cinema

Sonata de Outono é uma máxima do cinema

“É preciso aprender a viver. Eu pratico todo o dia. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Eu tateio cegamente. Se alguém me ama como sou posso finalmente ter a coragem de olhar para mim mesma. Essa possibilidade é pouco viável.” (Sonata de Outono; Bergman, Ingmar; 1978)

Falar sobre o cinema do sueco Ingmar Bergman não é tarefa fácil. Desde o início da sua carreira, o cineasta, que começou a dar os primeiros passos no teatro, buscou incessantemente trabalhar os maiores desígnios do ser humano e suas emoções de forma reflexiva. Nem sempre algo confortável para quem assiste. Sonata de Outono absorve muito disso, caracterizando-se assim, uma verdadeira obra-prima da história do cinema.

A trama simples, discorrida em pouco mais 90 minutos, mostra os efeitos da relação das filhas (Liv Ullman e Lena Nynam) e sua mãe (último papel da icônica Ingrid Bergman). Angústias e mágoas crescentes ao longo dos anos dão o tom nos diálogos fortes e repletos de poesia incomum. O suposto descaso da mãe para com as filhas e o ex-marido, e as consequências dessa ausência durante o tempo em que a mãe decidiu priorizar a carreira de pianista internacional. Encontrar paralelos com a realidade de outras famílias não é mero acaso. Bergman constantemente pautou suas produções baseadas não somente nas próprias vivências, como também na daqueles que o cercam. Períodos históricos fizeram parte do cerne do sueco.

Mas voltando para Sonata de Outono, a produção abraça o sentir agridoce das experiências emocionais das personagens. Essa imersão ora dolorosa ora empática, discute e faz o espectador questionar-se sobre o quanto é guardado dentro do ser para não ferir o outro. É conturbado identificar o momento certo para expor verdades, mas, principalmente, Sonata de Outono desconstrói essa noção de que falar a verdade é a mesma coisa que sinceridade. Essa dualidade distinta permeia toda a trajetória do longa que, além de fazer chorar até o mais frio dos corações, serve ainda como um sopro de autoconhecimento. A quebra das expectativas. A subversão da indiferença. A inviabilidade do desamor.

Bergman dirige cuidadosamente. Ele passeia por planos e abre espaço para as atuações de uma vida. Nyman, Ullman e Ingrid Bergman entregam interpretações tão poderosas e carregadas que é impossível desviar os olhos da tela ou sequer pensar em ter a atenção desviada por qualquer outro gesto e fala que estejam fora do filme. Uma fotografia inebriante. Uma trilha sonora composta de êxito.

É claro que existem na filmografia de Ingmar Bergman diversos trabalhos igualmente importantes e até mesmo comentados, mas em Sonata de Outono a assertividade beira a perfeição. Uma obra-prima do início ao fim.

14 sinais de abuso verbal

14 sinais de abuso verbal

Abuso verbal ocorre sempre quando um agressor faz observações ofensivas sobre outra pessoa, no caso, a vítima. As formas mais comuns desse tipo de violência são: questionar a capacidade intelectual da pessoa e zombar de sua constituição física e moral. A principal vítima é a mulher.

As palavras são incrivelmente poderosas: elas podem nos levantar ou nos derrubar, acalmar-nos ou ferir-nos. Pessoas se esquecem disso.

O abuso verbal faz parte de praticamente todos os relacionamentos íntimos e sociais. A convivência acarreta em conflitos, os quais são naturais e, até certo ponto, positivos. Mas a convivência também pode acarretar em confrontos, os quais são sempre esmagadores, negativos. O abuso verbal é um subproduto do confronto.

Abusar verbalmente é diferente de repreender. O abuso verbal tem o objetivo de ofender; a repreensão, de corrigir.

É muito fácil identificar sinais de abuso verbal, uma vez que eles afetam claramente os pensamentos, crenças e emoções da vítima. O difícil é controlar as consequências desses sinais, que indicarão os possíveis sintomas e efeitos colaterais.

Em geral, abusadores usam táticas de intimidação para impor sua força e dominação sobre uma vítima. Durante a experiência de agressão verbal, o abusador costuma implantar ideias e suposições na mente da vítima de tal forma que esta chega a duvidar de seus próprios pensamentos, ou até desacreditar de suas percepções.

Gritos, xingamentos, insultos, julgamentos. Algumas manifestações de abuso verbal são óbvias, mas muitas delas são encobertas e, portanto, menos reconhecíveis.

Existem casos em que pessoas até recebem abusos verbais, mas não chegam a sofrer por eles (pelo menos não conscientemente), assim como há situações – a maioria delas – em que pessoas se sentem extremamente tristes e inferiorizadas por conta disso.

Os agressores desejam que a vítima reaja aos seus ataques, pois essa é a maneira mais evidente de saber que a agressão surtiu efeito. Quando a vítima reage a um abuso verbal, está recompensando quem o praticou.

Muitos seguranças de festas e bares, por exemplo, reagem de forma violenta e agridem clientes que praticaram comportamentos inadequados, sejam eles quais forem, porque esses profissionais aproveitam da posição de autoridade para validar suas reprimendas, mesmo quando são injustas. Esses seguranças querem mostrar serviço, havendo ou não necessidade para isso. Situação semelhante ocorre com policiais em resposta agressiva a criminosos e infratores. Na verdade, esse dilema de justiça existe sempre quando o nível de força e/ou influência é determinado por uma hierarquia.

O abuso verbal pode ser tão doloroso quanto o físico e emocional. Todo mundo já sofreu, sofre e com certeza sofrerá por isso, fato que implica na necessidade de proteção contra esse tipo de violência.

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14 sinais de abuso verbal

Em seu livro Como Enfrentar a Violência Verbal, publicado no meio da década de 90, a autora americana Patricia Evans escreve sobre a natureza dos relacionamentos abusivos e esclarece como responder positivamente em casos de crise. Ela diz:

“Desde que este livro foi lançado, há mais de 20 anos, a incidência de violência verbal só cresceu. Por exemplo, uma em cada três adolescentes americanas é vítima de abuso.”

Tendo em vista o frequente e crescente número de ocorrências de abuso verbal, e considerando todas as suas consequências negativas, torna-se importante compreender os sinais que originam tal agressão. Segundo Evans:

“Se você foi vítima de abuso verbal, certamente já escutou de maneira sutil, e de outras nem tão sutis assim, que a sua percepção da realidade e os seus sentimentos estão errados. A vítima de violência verbal vive num mundo que fica cada vez mais confuso. Muitas vezes, ela não tem testemunha nem conta com alguém que entenda sua experiência. Como consequência, você pode duvidar de sua própria experiência e ao mesmo tempo não perceber que está fazendo isso.”

No livro, Evans lista os 14 sinais que acusam um abuso verbal. Esses sinais são descritos sob as perspectivas da vítima e do agressor, papeis que todos já cumpriram ao menos uma vez na vida, e provavelmente ainda cumprirão outras vezes. Os sinais são:

1. Xingamento

Xingar é uma das formas mais evidentes de abuso verbal, praticada pelo agressor para ferir ou prejudicar sua vítima.

2. Ameaça

Ameaças são expressões diretas de abuso verbal. Na base da submissão, o agressor amedronta ou aterroriza a vítima. As ameaças podem ser tão debilitantes quanto a violência física explícita.

3. Ordenação

É uma forma ostensiva de abuso verbal. O agressor costuma tratar sua vítima não como pessoa, mas como serva que existe para satisfazer seus desejos e necessidades. Quando o agressor ordena, é uma indicação de que ele acredita ter direito de interferir no livre-arbítrio da vítima.

4. Julgamento e crítica destrutiva

Aqui, o agressor mostra plena falta de aceitação da vítima. O agressor acredita que pode julgar a vítima melhor do que ela mesma. Comentários disfarçados de críticas construtivas são, muitas vezes, críticas destrutivas. Além de criticar a vítima pessoalmente, o agressor fala mal dela para outras pessoas a fim de denegrir sua imagem e prejudicar sua reputação.

5. Acusação

Acusações consistem de declarações ou réplicas feitas pelo agressor com o intuito de transferir a culpa e a responsabilidade para a vítima.

6. Banalização

É quando o agressor diz, de várias maneiras, que o que a vítima faz ou pensa é ridículo ou insignificante. Agressores verbais tendem a banalizar os hábitos, interesses e hobbies das vítimas, bem como suas realizações.

7. Negação

Um agressor frequentemente vai negar que tenha sido abusivo com a vítima, e provavelmente irá desconsiderar o fato de que seu comportamento foi inaceitável.

8. Esquecimento

Isso inclui negação e manipulação. Convenientemente, o agressor se esquece de incidentes ou promessas que foram importantes para a vítima. Negar pela simples alegação de “esquecer” pode ir além do esquecimento normal, ao ser um ato abusivo.

9. Retenção

A retenção envolve, basicamente, reter-se da intimidade normal e necessária em um relacionamento afetivo. A vítima de abuso verbal pode sentir isso através de um silêncio prolongado, uma falta de vontade de interagir, ou simplesmente tendo a impressão de que não pode compartilhar suas experiências. Quando a vítima está retida, não há relação íntima, e pouca ou nenhuma troca de sentimentos. Assim, ela acaba se sentindo sozinha e chega a perguntar o que fez de errado para irritar a outra pessoa, no caso, seu agressor.

10. Contrariedade

Neste caso, o agressor opõe-se a qualquer pensamento, opinião ou sentimento da vítima. A realidade de um relacionamento é ofuscada quando as percepções das pessoas são sempre opostas. Contrariar de forma recorrente torna qualquer discussão impossível, já que não importa o que o outro diga, a resposta virá em desacordo. Este é um motivo de briga bastante comum.

11. Desconto

Quando o agressor, de forma abusiva, dá pouco valor aos sentimentos e ações da vítima. Caso ela se sinta magoada por isso, pode ficar mais sensível, e até pensar que suas experiências são produtos da imaginação. Qualquer declaração de desconto por parte do agressor acaba subtraindo o ímpeto da vítima de confiar nos seus próprios pensamentos, crenças e percepções.

12. Bloqueio e desvio

São formas de o agressor prevenir, controlar ou mudar o tópico de uma discussão com a vítima. Um exemplo de bloqueio é quando o agressor se recusa a discutir um problema, enquanto desvia o assunto para outro que sirva aos seus próprios interesses. A vítima tenta se defender e explicar a real necessidade da conversa, mas o agressor foge do tema.

13. Piadas disfarçadas

Quando o abuso verbal é disfarçado de uma piada, simplesmente ela não é engraçada, e ainda machuca. Pode ser um comentário depreciativo dito com um sorriso, mas que na verdade é um ataque à competência da vítima, suas habilidades ou valores. Alguns agressores assustam as vítimas e depois riem sarcasticamente, como se fossem hilários, quando na verdade essa tentativa de susto os fez agir como idiotas insensíveis.

14. Raiva abusiva

A raiva é algo com a qual todas as vítimas e agressores estão familiarizados. A inexplicável explosão de cólera de um agressor pode deixar a vítima completamente indefesa, como costuma acontecer nos casos de abuso verbal precedido de violência física.


Muitas pessoas sofrem de abuso verbal e emocional em segredo durante anos, sem entender o que está acontecendo ou por que elas se sentem tão mal. Além disso, elas não percebem quão facilmente essas formas aparentemente leves de abuso podem ser precursoras para a violência física.

Este livro de Patricia Evans ajuda a vítima a entender como reconhecer o abuso, valida a percepção da vítima do que está acontecendo e oferece sugestões sólidas sobre o que fazer para controlar abusos e proteger-se.

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O que podemos aprender quando estamos na merda

O que podemos aprender quando estamos na merda

por Bruna Grotti

Shit happens. Merdas acontecem. Contingit stercore, em latim. Nas melhores famílias – e nas piores também. A única diferença é a profundidade e a maciez do monte de merda. Uns dias, a gente pisa e mal suja a sola do chinelo. Outros dias, a única coisa que nos resta fazer é abrir os dedos, mais ou menos naquele espírito do clássico “está no inferno, abraça o capeta”. Afundou o pé na merda, abre os dedinhos e deixa ela te possuir.

Pode parecer loucura – e talvez até seja –, mas a merda tem o seu valor. E uma função social pra lá de nobre. Em primeiro lugar, ela é adubo – ou seja, é uma propulsora da fertilidade. E é justamente por isso que não é de se espantar que as melhores ideias geralmente surjam quando estamos na merda. Em segundo lugar, considerando que toda merda nada mais é do que um ex-prisioneiro agora liberto, apesar de fedida, ela é a representação da esperança e da iniciativa. Se ela está descontente dentro de um intestino qualquer, fará barulho até conseguir sair. E é isso que você, cara pálida, deveria fazer toda vez que se sentisse aprisionado – seja por um trabalho sacal ou por um relacionamento sanguessuga.

Mas é que a gente se julga tão superior que tem certeza de que pode controlar a merda. Esteja ela no intestino, esteja na cabeça. Agora é hora de focar no trabalho, depois eu resolvo essa merda. Agora eu quero descansar, depois eu dou um jeito nessa merda. Agora eu tô me divertindo, depois eu penso nessa merda. Mas de nada adianta maturar a merda. Seja dentro do intestino, seja dentro da cabeça, demorar a colocá-la no mundo só vai fazer o processo ainda mais doloroso. Só vai lhe render ou um par de hemorroidas, ou um par de noites mal dormidas. Só vai lhe fazer morrer de constipação ou morrer de desgosto. Só vai fazê-lo sujar as calças na frente da escola inteira e, então, entender que já é tarde demais.

E aí a gente aprende. Quem está na merda invariavelmente aprende. Cedo ou tarde, voluntária ou involuntariamente. A ser mais humilde. A ser mais sincero. A ser mais solidário. A se preocupar mais consigo mesmo. A ser mais comprometido com a própria felicidade. Não há processo de crescimento que não envolva estar na merda, meu amigo. Dar a volta por cima é arte. Estar na merda faz parte.

Nota da autora, que aprendeu essa historinha com uma amiga do trabalho: Era uma vez um passarinho friorento e perdido num pasto no inverno. Eis que uma vaca passa e caga nele. A princípio, ele fica bravo – afinal, está afundado em merda. Mas quando a merda começa a esquentá-lo, ele fica feliz. Tão feliz a ponto de cantar. É quando o gato descobre o passarinho escondido na merda e o come. Morais da história: nem sempre quem caga em você é seu inimigo. Nem sempre quem te tira da merda é seu amigo.

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