Julieta – A complexidade desconcertante das mulheres de Almodóvar

Julieta – A complexidade desconcertante das mulheres de Almodóvar

Com paisagens, cenários, diálogos e silêncios de tirar o fôlego, Julieta de Almodóvar tem a rara capacidade de nos atingir lá naquele espacinho íntimo feminino. O filme conversa conosco numa linguagem que desperta a perturbadora certeza de que, sendo mulheres, somos mães alucinadas pela segurança dos filhos; irmãs e amigas num ponto de fusão entre intimidade e competição; filhas rebeldes, amorosas e indecifráveis; o lastro familiar que agrega valores e crenças; a vadia cega pela satisfação de seu prazer, custe o que custar.

Tudo isso, num caldo emocional que desorganiza a gente por dentro, dada a intensidade dos sentimentos tão controversos que compõem a ilógica lógica feminina. Julieta, assim como Antía – a filha, Ava – a amiga e rival, Marian – a protetora e algoz, Beatriz – a luz afetiva e a sombra do distanciamento, entrelaçam suas vidas numa intrincada trama que se desenrola e traz à tona experiências de amor, desamor, raiva, inveja, rupturas, coragem, medo, perdas, reencontros e redenção.

O fio condutor, uma carta escrita pela mãe à filha ausente, afastada em um autoexílio, cujo objetivo é purgar a dor partilhada em silêncio e libertar-se de anos de coisas que deixaram de ser ditas, sentimentos engolidos a seco e mágoas que de tão negadas, viraram pedra no peito, onde antes havia amor.

O vigésimo filme da riquíssima carreira de Almodóvar como cineasta, encarna um drama, segundo o próprio autor, sobre mulheres “imperfeitas, mas defensáveis, como são vocês, como somos todos”. O elenco, em sua maioria, vive pela primeira vez a experiência de trabalhar com Almodóvar. A ideia de escrever essa história vem de 2009, quando o cineasta comprou os contos Destino e Silêncio, de Alice Munro – escritora sueca e ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura.

Dos textos originais de Munro, Almodóvar conservou apenas uma sequência de cenas que se desenrolam no vagão de um trem. Lá fora, ventos fortíssimos e a noite escura e fria; dentro do trem, encontros intensos, cujas consequências reverberarão em flashes, ao longo de toda a trama.

A história é rica em sentimentos que parecem prontos a explodir, mas são contidos às custas de um abatimento que invade as personagens femininas, fazendo-as estampar nos olhos aquele sentimento diluído e denso que fica depois de uma dor aguda. Não há choros libertadores, apenas lágrimas ardidas que não ousam ir além de um traço fino desenhado no rosto.

Julieta, é desses filmes que não podemos nos privar de ver; que vamos querer rever, na ânsia de termos perdido algum detalhe, posto que estivemos o tempo todo imersos e arrebatados, vivendo junto com os personagens na tela. É dessas experiências que nos fazem olhar para nossas próprias relações em busca de algum nó que precisa ser desfeito, de algum canto da vida que precisa ser revisitado e de algum silêncio que precisa ser quebrado para nos devolver a voz.

Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas

Nem sempre nós ficamos com os amores das nossas vidas

Por Heidi Priebe (tradução)

Eu acredito em grandes amores.

Mas falo e namoro como se não acreditasse.

Eu não tenho expectativas fúteis para o romance. Eu não estou à espera de sentir aquela sensação estranha de estar a flutuar. Eu sou um daqueles indivíduos raros, talvez um pouco cansados, que realmente gosta deste ambiente atual de conexão entre as pessoas e é feliz por viver numa época em que a monogamia não é necessariamente a norma.

Mas eu acredito em grandes amores, porque já tive um.

Eu tive esse amor que tudo consome. O amor do tipo “eu não posso acreditar que isto existe no mundo físico.”

O tipo de amor que irrompe como um incêndio incontrolável e então se torna brasa que queima em silêncio, confortavelmente, durante anos. O tipo de amor que escreve romances e sinfonias. O tipo de amor que ensina mais do que tu pensaste que poderias aprender, e dá de volta infinitamente mais do que recebe.

É amor do tipo “amor da tua vida”.

E eu acredito que funciona assim:

Se tu tiveres sorte, conhecerás o amor da tua vida. Tu estarás com ele, aprenderás com ele, darás tudo de ti a ele e permitirás que a sua influência te mude em medidas insondáveis. É uma experiência como nenhuma outra.

Mas aqui está o que os contos de fadas não te vão dizer – às vezes encontramos os amores das nossas vidas, mas não conseguimos mantê-los.

Nós não chegamos a casar-nos com eles, nem passamos anos ao lado deles, nem seguraremos as suas mãos nos seus leitos de morte depois de uma vida bem vivida juntos.

Nós nem sempre conseguimos ficar com os amores da nossa vida, porque no mundo real, o amor não conquista tudo. Ele não resolve as diferenças irreparáveis, não triunfa sobre a doença, ele não preenche fendas religiosas e nem nos salva de nós mesmos quando estamos perdidos.

Nós nem sempre chegamos a ficar com os amores das nossas vidas, porque às vezes o amor não é tudo o que existe. Às vezes tu queres uma casa num pequeno país com três filhos e ele quer uma carreira movimentada na cidade. Às vezes tu tens um mundo inteiro para explorar e ele tem medo de se aventurar fora do seu quintal. Às vezes tu tens sonhos maiores do que os do outro.

Às vezes, a maior atitude de amor que tu podes ter é simplesmente deixar o outro ir.

Outras vezes, tu não tens escolha.

Mas aqui está outra coisa que não te vão contar sobre encontrar o amor da tua vida: não viveres toda a tua vida ao lado dele não desqualifica o seu significado.

Algumas pessoas podem amar-te mais em um ano do que outras poderiam te amar em cinquenta anos. Algumas pessoas podem ensinar-te mais em um único dia do que outras durante toda a sua vida.

Algumas pessoas entram nas nossas vidas apenas por um determinado período de tempo, mas causam um impacto que mais ninguém pode igualar ou substituir.

E quem somos nós para chamar essas pessoas de algo que não seja “amores das nossas vidas”?

Quem somos nós para minimizar a sua importância, para reescrever as suas memórias, para alterar as formas em que nos mudaram para melhor, simplesmente porque os nossos caminhos divergiram? Quem somos nós para decidir que precisamos desesperadamente substituí-los – encontrar um amor maior, melhor, mais forte, mais apaixonado que pode durar por toda a vida?

Talvez nós devêssemos simplesmente ser gratos por termos encontrado essas pessoas.

Por termos chegado a amá-las. Por termos aprendido com elas. Pelas nossas vidas se terem expandido e florescido como resultado de tê-las conhecido.

Encontrar e deixar o amor da tua vida não tem que ser a tragédia da tua vida.

Deixá-lo pode ser a tua maior bênção.

Afinal, algumas pessoas nunca chegam sequer a encontrá-lo.

Foto de Diego Rezende da Pexels

É preciso se perder para então se encontrar

É preciso se perder para então se encontrar

Às vezes é quando você se perde que encontra um novo caminho, um novo você. Distante das coisas incômodas, das pessoas nocivas e dos programas que pouco agregam, o momento de reservar para si, algo mais. Começar novas leituras, pesquisar um álbum diferente para ouvir, assistir uma peça ou um filme completamente diferente do habitual. Todos são exercícios que auxiliam, mas que não são determinantes. Porque autoconhecimento é nutrido por vontade e, quanto mais o tempo passa, mais você percebe sobre diferentes gostos. Pode parecer que está se tornando seletivo demais, afinal, até mesmo os relacionamentos já não carregam o ímpeto de outrora. Mas não, isso tudo corresponde sobre não estar satisfeito com o velho. O coração, agora calejado, preza intimamente por ligações que somam, instigam e refletem outro tipo de comportamento. É o verdadeiro viver desabrochando dentro de você.

Ninguém sabe todas as respostas e os que vivem em certezas, certamente bem menos. Mas quando você permite se abraçar, reconhecendo a própria solidão, nada parece assim tão complicado. Porque solidão faz bem. Estar consigo exige coragem e muito amor. E é no amor primeiro o princípio do outro. Demandar carinho, admiração e cuidado vindo de dentro, prepara e renova o fôlego no caso de tropeços e inquietudes jogadas pela vida. Não há tempo perdido. Não há silêncio ignorado. Não há arrependimento mantido. A confusão emocional do passado dá lugar para o sorriso de quem quer construir o hoje com mãos firmes e prazeres estendidos e sentimentos compreendidos. Se perder não é desespero, fuga ou qualquer outro escape filosofal. Reconhecer a necessidade da mudança não é mentir pra si e tampouco fingir ser quem não é. Nada disso. Estar fora da zona de conforto mostra evolução. E como precisamos todos evoluir. Deixando num canto todos os conceitos datados, enlatados e maltratados aos corações.

É preciso se perder para então se encontrar. É uma escolha. Uma escolha que implica disposição e entrega. Mas não menos sentir. Pois não importa o final do caminho, desde que se esteja conhecendo cada instante ao longo do coração, do seu coração. Não é por lá que tudo começa?

O dom e o fardo de sentir profundamente em um mundo de beleza e dor

O dom e o fardo de sentir profundamente em um mundo de beleza e dor

Algum lugar do mundo, 12 de julho de 2016

Tem horas que só queria que os sentimentos passassem por dentro de mim e fossem embora. Não queria ser morada de tantos andares. Queria ser pátio com rede provisória. Poderiam até chegar, tirar um cochilo ou outro, mas sem se instalarem e cobrarem serviço de quarto. Estadia sem café da manhã incluso. Check-out no horário.

Existe tanta coisa aqui dentro entupida. Como se minhas mãos fossem um funil, por onde tentam sair diversos sentimentos aspirantes a palavras. E como posso cobrar que alguém entenda toda essa confusão se eu mesma me perco e me deixo levar? Se, frequentemente, confundo a realidade com essas vozes a murmurar.

Queria eu, nestes momentos mais perdidos, ser menos dotada de sentir, abdicar de tanta capacidade à reflexão. Tem horas que se levar tão a sério parece uma grande bobagem. E realmente é, na minha opinião.

Mais difícil ainda, sendo alguém intenso (chamaremos assim para aliviar a conversa), é não interpretar como descaso o sossego alheio. Confesso que soa assim. Principalmente aquele que vem como gota d’água desnecessária, em discretas brincadeiras, comentários sem maldade e sem peso, mas que fazem a cabeça transbordar por já encontrar-se saturada de sentimentos e pensamentos sem freio.

E, transbordando, estes (quase seres) resolvem não esperar por sua triagem no funil. Querem simplesmente sair, pois tem medo de apodrecerem antes de serem digeridos. Aumentam de tamanho, desproporcionalmente e, se não forem sossegados, causam confusão sem fim. Fazem greve, organizam motim. É necessário tirar hora-extra para acalmar a rebelião.

Há quem diga que sentir profundamente seja um dom neste mundo em que vivemos. Necessitando, porém, ser administrado com maestria ou acaba por tornar-se maldição.

Por vezes, só gostaria de conseguir viver com mais leveza sem perder a paixão. Encarar com mais clareza o que é real ou não. Só queria não esperar do outro, o que espero de mim. O que me cobro, no que me afogo, no que me enterro, no que me sufoco, no que me agarro e me impulsiono e chego até mesmo a voar, raras vezes sem rumo, porém. Mas voo alto, a ponto de ver o horizonte com muita clareza, mesmo na falta de necessária destreza.

E quando caio (pois jamais desceria de tão bela visão por gosto) a terra não é suficiente para mim. Vou para as águas, sinto as ondas quebrarem na minha pele, onde me debato, até desistir. E canso de lutar e afundo, no profundo, no escuro, onde só me resta o silêncio e a falta de ar.

Hei de ter paciência comigo mesma e com o outro. A mim, quando sinto que interiorizar demais é sina enquanto, verdadeiramente, não há benção maior que poder conhecer-se aos poucos. Ao outro, quando trata com descaso e medo tanta reflexão, mas que por vezes encontra nela empatia, conselho e explicação.

Nada que a idade não traga, a paz na alma e a calma de ser somente observador, de aceitar que sentir intensamente é um dom e um fardo em um mundo tão bivalente, pleno de beleza e dor.

Mães e filhas: o vínculo que cura, o vínculo que fere

Mães e filhas: o vínculo que cura, o vínculo que fere

Cada filha leva consigo a sua mãe. É um vínculo eterno do qual nunca poderemos nos desligar. Porque, se algo deve ficar claro, é que sempre teremos algo de nossa mãe.

Para termos saúde e sermos felizes, cada uma de nós deve conhecer de que maneira nossa mãe influenciou nossa história e como continua influenciando. Ela é a que, antes de nascermos, ofereceu nossa primeira experiência de carinho e de sustento. E é através dela que compreendemos o que é ser mulher e como podemos cuidar ou descuidar do nosso corpo.

Nossas células se dividiram e se desenvolveram ao ritmo das batidas do coração; nossa pele, nosso cabelo, coração, pulmões e ossos foram alimentados pelo sangue, sangue que estava cheio de substâncias neuroquímicas formadas como resposta a seus pensamentos, crenças e emoções. Quando sentia medo, ansiedade, nervosismo, ou se sentia muito aborrecida pela gravidez, nosso corpo se inteirou disso; quando se sentia segura, feliz e satisfeita, também notamos.
– Christiane Northrup –

O legado que herdamos de nossas mães

“A maior herança de uma mãe para uma filha é ter se curado como mulher”
– Christiane Northrup –

Qualquer mulher, seja ou não seja mãe, leva consigo as consequências da relação que teve com sua progenitora. Se ela transmitiu mensagens positivas sobre seu corpo feminino e sobre a maneira como devemos trabalhá-lo e cuidá-lo, seus ensinamentos sempre irão fazer parte de um guia para a saúde física e emocional.

No entanto, a influência de uma mãe também pode ser problemática quando o papel exercido for tóxico, devido a uma atitude negligenciada, ciumenta, chantagista ou controladora.

Quando conseguimos compreender os efeitos que a criação teve sobre nós, começamos a compreender a nós mesmas, a nos curarmos, e a sermos capazes de assimilar o que pensamos de nosso corpo ou a explorar o que consideramos possível conseguir na vida.

A atenção materna, um nutriente essencial para toda a vida

Quando uma câmera de TV filma alguém do público em algum evento esportivo ou qualquer outro acontecimento… O que as pessoas costumam gritar? “Oi, mãe!”

Quase todos nós temos a necessidade de sermos vistos por nossas mães, buscamos sua aprovação. Na origem, esta dependência obedece às questões biológicas, pois precisamos delas para subexistir durante muitos anos; no entanto, a necessidade de afeto e de aprovação é forjada desde o primeiro minuto, desde que olhamos nossa mãe para sabermos se estamos fazendo algo certo ou se somos merecedores de uma carícia.

Assim como indica Northrup, o vínculo mãe-filha está estrategicamente desenhado para ser uma das relações mais positivas, compreensivas e íntimas que teremos na vida. No entanto, isso nem sempre acontece assim…

Com o passar dos anos, esta necessidade de aprovação pode se tornar patológica, gerando obrigações emocionais que propiciam que nossa mãe tenha o poder sobre nosso bem-estar durante quase toda a nossa vida.

O fato de que nossa mãe nos reconheça e nos aceite é um sede que temos que saciar, mesmo que tenhamos que sofrer para conseguir isso. Isso supõe uma perda de independência e de liberdade que nos apaga e nos transforma.

contioutra.com - Mães e filhas: o vínculo que cura, o vínculo que fere

Como começar a crescer como mulher e filha?

Não podemos escapar desse vínculo, pois seja ou não saudável, sempre estará ali para observar nosso futuro.
A decisão de crescer implica limpar as feridas emocionais ou qualquer questão que não tenha sido resolvida na primeira metade de nossa vida. Esta transição não é uma tarefa fácil, pois primeiro temos que detectar quais são as partes da relação materna que requerem solução e cicatrização.

Disso depende nosso senso de valor presente e futuro. Isso acontece porque sempre há uma parte de nós que pensa que devemos nos dar em excesso para a nossa família ou para o nosso parceiro para sermos merecedoras de amor.

A maternidade e, inclusive, o amor de mulher continuam sendo sinônimos culturais na mente coletiva. Isso supõe que nossas necessidades sejam sempre relegadas ao cumprimento ou não das dos demais. Como consequência, não nos dedicamos a cultivar nossa mente de mulher, senão a moldá-la ao gosto da sociedade na qual vivemos.

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As expectativas do mundo sobre nós podem ser muito cruéis. De fato, eu diria que constituem um verdadeiro veneno que nos obriga a esquecer nossa individualidade.

Estas são as razões que fazem tão necessária a ruptura da cadeia de dor e cicatrização íntegra de nossos vínculos, ou as lembranças que temos deles. Devemos estar cientes de que estes vínculos se tornaram espirituais há muito tempo e, portanto, cabe a nós fazermos as pazes com eles.

Fonte consultada: Mães e filhas de Christiane Northrup

Os 10 piores hábitos de comunicação

Os 10 piores hábitos de comunicação

Um simples mau hábito de comunicação é suficiente para causar vários problemas. Às vezes, o custo de uma má comunicação é imediato; em outras, as consequências negativas assumem forma com o tempo.

Hoje em dia, com múltiplas ferramentas disponíveis para se comunicar, é mais difícil trabalhar a postura e boas condutas nas horas de conversação e interatividade.

Conversar é uma atividade humana primordial, que toma boa parte do cotidiano das pessoas. De acordo com Martin Heidegger, “só há mundo onde há linguagem”. A comunicação é vital à civilização.

Em conversas informais, mensagens de texto, na elaboração de e-mails e na escrita de um documento, por exemplo, nós, muitas vezes, somos acometidos pela pressa, e acabamos errando no linguajar.

Erros de concordância verbal e nominal, ignorância em relação à pontuação, gramática e ortografia, letras trocadas, palavras sem sentido. Todos esses erros são comuns e podem parecer banais, irrelevantes, mas, certamente, eles prejudicam na transmissão de uma comunicação eficaz.

Toda pessoa tem seus vícios de comunicação, os quais são persistentes, prolixos e podem transformar-se em hábitos corroboráveis da linguagem.

Quando os maus hábitos de comunicação insurgem, a reputação de um comunicador se torna comprometida, assim como sua credibilidade.

Apesar de nós errarmos muito e consecutivas vezes no expressar, é sensato pensar mais de duas vezes antes de falar ou escrever. Um certo rigor é recomendável para todos aqueles que desejam se certificar da compreensão de suas mensagens.

Para se fazer entender, e ser compreendido, a linguagem de uma pessoa não é mais importante do que seu caráter, embora a forma como se comunica seja deveras determinante para a assimilação da parte de todos. Segundo um provérbio chinês, “a língua é um sabre que pode trespassar o corpo”.

A linguagem nasceu para facilitar relações culturais e clarificar os pensamentos dos envolvidos em uma conversa discernível. O impacto de uma comunicação assertiva favorece o desenvolvimento de qualquer sociedade coesa e produtiva.

Geoffrey Tumlin, especialista em comunicação, afirma:

“Este é o melhor momento na história humana para ser um comunicador competente. É verdade que pode ser extremamente difícil se libertar dos maus hábitos associados com a distração, a celeridade, a auto-expressão e o excesso que caracterizam grande parte da nossa comunicação na era digital. No entanto, se estivermos dispostos a abandonar alguns de nossos hábitos de comunicação ruins, podemos otimizar as oportunidades de forma produtiva e significativa com outras pessoas.”

Muitos dos problemas do mundo digital atual são suscitados por má comunicação e compreensão entre as partes.

Apesar da avançada tecnologia eliminar fronteiras entre as pessoas, em um mundo vertiginosamente tecnológico, aumentam-se os problemas de comunicação presencial, explícita, cara a cara. Como afirmou o já falecido jornalista e humorista Millôr Fernandes:

“Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério é o de perto.”

Alguns hábitos não só prejudicam uma comunicação, como a desmantelam completamente. E, por mais que esses hábitos sejam passíveis de acontecer várias vezes em determinadas circunstâncias, representam, intencionalmente ou não, uma falta de decoro para com quem se fala.

Agir é mais impactante do que pensar, porém, fazer algo sem pensar pode ser mais perigoso do que qualquer pensamento. A ação mostra o ardor de um trabalho, mas é o pensamento que forja a intenção de agir. Em paralelo, pode-se dizer que, porque a fala é uma reação a um ouvido, dizeres impensados resultam em ouvires (e interpretações) incoerentes.

Mas a comunicação não é tudo o que importa para o entendimento de pessoas, coisas e relações. O filósofo francês Paul Ricoeur disse o seguinte:

“Não pode haver uma totalidade da comunicação. Com efeito, a comunicação seria a verdade se fosse total.”

O silêncio, em uma ou outra situação, é a melhor forma de comunicação, ou então a mais adequada. Pode-se falar muito sem falar nada. Além disso, bem disse Benjamin Disraeli, “há pessoas silenciosas que são muito mais interessantes do que os melhores oradores”. De fato, algumas pessoas são mais valorizadas em seu silêncio do que quando estão verbalizando.

Uma das finalidades da comunicação é fazer-se entender, embora seja preferível, eventualmente, desentender ou ser desentendido.

Ao nos expressarmos, facilmente podemos perder o ritmo e a coerência de nossa fala, muitas vezes de forma imperceptível. Essas falhas, entretanto, deturpam a eloquência de uma mensagem e, devido à precariedade no canal de comunicação, ambos os envolvidos assumem perspectivas erradas do que se fala ou ouve.

Bem, poucas coisas são mais impróprias e desagradáveis para uma comunicação do que esses 10 hábitos a seguir:

1. Falar sem ouvir

Como disse Goethe, “falar é uma necessidade, escutar é uma arte.” É provável que as pessoas já imaginem o quão desagradáveis podem ser as situações que acontecem a partir de uma simples falha de ouvir. A negligência de escuta é um hábito muito comum, e um problema fundamental. Uma marca registrada de má audição é quando a pessoa fala interminavelmente (como em um monólogo) ou não faz qualquer pergunta relacionada ao que o outro falou (como se acometida pelo desinteresse). Habilidades pobres de escuta resultam em falhas de comunicação, oportunidades perdidas, além de menor produtividade devido a erros e esforços redundantes.

2. Interromper

Todos nós temos uma coisa em comum quando falamos: queremos ser ouvidos. As pessoas que interrompem as outras com frequência podem acabar cortando uma linha de raciocínio, comprometendo a integridade da mensagem. Às vezes, o ato de interromper é inevitável, mas são poucos que fazem isso quando é realmente necessário. Apesar de muitos acharem que suas interjeições (ou intromissões) são importantes para complementar o que o outro está dizendo, isso também pode demonstrar uma falta de envolvimento. Como disse o escritor e pintor Malcolm de Chazal, “a melhor forma de ser escutado é fazer de cada ser um auditório completo e, do auditório inteiro, um único ser”.

3. Mergulhar em distrações

Vivemos em terras rodeadas por mares de distração, e estes não saem de nosso horizonte. A revolução digital facilitou a hipercomunicação, mas tornou mais difícil, para qualquer um, ouvir. Celular, tablet e laptop, por exemplo, são recursos de comunicação viciantes, e por isso nós abusamos deles. No entanto, quando alguém solicita nossa atenção ou está nos falando algo e, ao mesmo tempo, ficamos mergulhados nas águas profundas da distração, isso demonstra uma clara falta de respeito, um péssimo hábito de comunicação, e o mais evidente sinal de ruído.

4. Envolver em multitarefas

Independentemente de quem estamos falando, as conversas merecem total atenção, e não apenas olhares indiferentes por estarmos envolvidos em multitarefas simultâneas. Esse é um hábito do qual todos são passíveis de ser culpados. Mesmo que estejamos realizando uma atividade simples que permita uma conversa sincronizada com outra pessoa, corremos o risco de quebrar o elo comunicativo ao direcionar o foco para diversos alvos.

5. Evitar contato presencial

Grande parte das pessoas gosta da conveniência de mensagens de texto e e-mail. Porém, preferenciar o contato à distância, ao invés do presencial, nos torna preguiçosos, além de isso sinalizar uma falta de prioridade em relação a não estar junto com a pessoa. Se é possível explicar para alguém, pessoalmente, aquilo que comunicamos de longe, então as razões para evitar o contato direto são produtos de uma escolha. Para o outro, isso pode ser decepcionante. A variedade infinita de recursos de comunicação facilitou a troca verbal, mas também impôs grandes distâncias. Esse mau hábito, se não for desvirtuado constantemente, torna-se uma característica.

6. Entrar em embate

Há conversas que vão da paz à guerra em instantes. Algumas pessoas discutem para testar e evoluir suas ideias, enquanto outras discutem simplesmente porque gostam de provocar. Esse mau hábito de comunicação faz de uma pessoa alguém difícil de interagir, ao mesmo tempo que abduz o outro a reagir de forma igualmente ofensiva ou indecorosa. Ou seja, combater a outra pessoa enquanto está falando pode ser um ato recíproco e automático, quando claramente indica uma resposta explosiva para um sinal de comunicação primário. Impor vontade sobre a outra pessoa através de discussões destrutivas é um mau hábito comum que, em sua veemência implacável, dificilmente melhora a oratória e a essência da mensagem transmitida.

7. Fazer perguntas mal-intencionadas

Nem sempre é melhor fazer perguntas, para alimentar a conversa, do que não fazer nenhuma. Certas questões não são neutras. As perguntas fazem melhores conversas, mas podem causar problemas se a outra pessoa interpretá-las como sendo mal-intencionadas. Alguns problemas de comunicação refletem em habilidades de questionamento precárias. Perguntas defeituosas contribuem para muitas falhas de conversação e podem adicionar ansiedade defensiva, retração, repulsa e má vontade para interações. Algumas perguntas são suscetíveis de sufocar diálogos, mesmo que o propósito tenha sido a progressão da conversa.

8. Contatar alguém somente quando precisa

Esse é um dos principais hábitos de comunicação ruins. As pessoas afetadas por esse hábito costumam contatar outro alguém apenas quando têm algum problema, estão a caça de trabalho, precisam de consolo, atenção, ou referências de ação. Nesses períodos de necessidade, as conversas são solicitadas mais por conveniência do que por consideração. Seja qual for a razão pela qual as pessoas fazem isso, não deixa de ser desagradável para quem recebe esse tipo de mensagem sazonal e de cunho interesseiro. José Ortega y Gasset comentava que “pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado”. Afinal, ninguém gosta de sentir que está sendo usado unicamente para fins utilitários que não envolvam troca de sentimentos genuínos.

9. Não retornar mensagens de texto, telefonemas ou e-mails

Outro mau hábito de comunicação bastante comum. Em algumas comunidades e culturas de trabalho, não retornar mensagens é uma grave violação de conduta, enquanto em uma sociedade hiperconectada já virou uma prática rotineira e até aceitável. Seja por ignorar alguém ou por não desejar a continuidade da comunicação, muitas pessoas preferem dar fim de papo sem precisarem dizer algo.

10. Contar mentiras

Todos nós mentimos, por razões diversificadas, e não é curioso o fato de que alguém possa ser tão descredenciado por ter o hábito recorrente de mentir. Não importa que a mentira seja para evitar ferir os sentimentos de alguém ou proteger a si mesmo, poucas pessoas estão dispostas a confiar em alguém que mente constantemente, a não ser que queiram ser enganadas. Veracidade exige coragem e, essencialmente, paciência para contornar os seus impactos, ao passo que mentir exige destreza e pode ser um ato de manipulação. Sim, a verdade pode ferir, muitas vezes e profundamente, mas as mentiras tendem a ser, no devido tempo, mais prejudiciais.

Pais que mimam filhos estão criando geração de incapazes de lidar com frustração

Pais que mimam filhos estão criando geração de incapazes de lidar com frustração

À mesa do restaurante, João faz manha exigindo o celular da mãe para se divertir durante o almoço. Maria se joga no chão da loja de brinquedos porque quer que o pai compre aquela boneca agora. E, sentado no sofá de casa, Pedro se irrita com os pais porque quer uma resposta urgente sobre poder ou não ir à festa dos amigos no sábado à noite. Todos eles, não importa a idade, têm algo em comum: vão se tornar adultos mimados, incapazes de lidar com as frustrações do mundo.

A culpa do destino dos três, João, Maria e Pedro, é do imediatismo que rege as relações atualmente. Temos, como pais, dito muitos “sim” para os filhos, quando, na verdade, o ideal seria dizer mais “não sei” ou “vou pensar”. Como explica a psicóloga e educadora Rosely Sayão, essa atitude traz como maior prejuízo uma alienação em relação à realidade.

— O adulto que tem o imediatismo cultivado, ao invés de controlado, tem dificuldade de compreender e se inserir no mundo.

Pressionados a responder às demandas dos filhos imediatamente, os pais acabam soltando respostas impensadas, e a consequência, na visão da coach de vida e carreira Ana Raia, é a criação de jovens pouco preparados para lidar com a vida.

Segundo ela, os pais, atualmente, não aguentam não ser imediatistas. Se no passado eles se permitiam deixar os filhos insatisfeitos por mais tempo, hoje atitudes como essa se transformaram em um dos maiores desafios na educação das crianças e jovens.

Ana acredita que a tecnologia colabore para o imediatismo a partir do momento em que, ao toque de um dedo na tela do celular, a resposta para qualquer pergunta ou busca de informação podem ser obtidas em pouquíssimos segundos.

— Não conseguimos sustentar uma dúvida por muito tempo, um incômodo. Não sabemos lidar com um mal-estar neste mundo onde a felicidade é imperativa.

E a dúvida, explica Rosely Sayão, é preciosa, assim como a espera e o pensamento, porque eles ajudam a criança a crescer e a amadurecer. Crianças que não têm momentos de “mente vazia”, por exemplo, poderão sofrer graves consequências na vida adulta.

Alguém que está sempre entretido terá para sempre a necessidade de entretenimento constante, alerta o médico Daniel Becker, criador do projeto Pediatria Integral. Segundo ele, para ser criativo, o cérebro humano precisa da criatividade.

— São necessários momentos em que ele está engajado com algo externo, e também momentos em que está ocioso, em estado de contemplação. Quando uma criança tem seu tempo completamente tomado com atividades como escola, inglês, natação, Facebook, Instagram, WhatsApp, ela fica incapacitada de ter importantes processos interiores.

Becker acrescenta que crianças que não interagem com seus pares ou com os adultos, porque passam o dia com eletrônicos na mão, terão menos inteligência emocional, menos empatia e menos capacidade de se comunicar com os outros quando crescerem.

Se este já não fosse um bom argumento, ainda haveria a opinião de outros especialistas, que enxergam o hábito dos pais de entregar celulares e tablets às crianças como algo benéfico apenas para os adultos.

Na opinião de Rosely Sayão, oferecer um eletrônico em momentos em que se espera que os filhos se socializem com a família e amigos não é um carinho, mas, sim, um comodismo.

— O celular e o tablet nestas situações têm a função do “cala a boca”, nada além disso.

Mas, então, o que fazer quando a conversa no restaurante está boa, mas os pequenos não param de dar chilique e pedir para ir embora? O pediatra Daniel Becker dá uma boa dica.

— As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de compreensão. Basta dizer ao filho que, nos momentos em que estiverem conversando em família, ele não terá o tablet, mas que, quando a mamãe e o papai estiverem falando só com seus amigos, ele poderá pegar o tablet emprestado por 15 minutos. Assim, se alcança um equilíbrio.

Soluções como esta são recursos para que os pais lidem não só com o imediatismo das crianças, como também o deles próprios, que pode, mesmo que de maneira não intencional, servir como exemplo negativo aos filhos, que acabam copiando as atitudes da família.

Para o pediatra presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas, Hany Simon, a ansiedade e a angústia na adolescência e na vida adulta podem ser resultados do imediatismo paterno presenciado na infância. E, como reforça Rosely Sayão, viver de maneira urgente só traz impactos emocionais negativos nas crianças.

— Somos imediatistas desde que nascemos. Choramos para manifestar desconforto, somos atendidos e temos nossas necessidades básicas saciadas. Com isso, vem também uma sensação de prazer, que vamos desejar para sempre. No entanto, precisamos entender que não é o princípio do prazer que vai reger a nossa vida, e, sim, o princípio da realidade. O papel dos pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do mundo.

Faxina na Alma- Sílvia Marques

Faxina na Alma- Sílvia Marques

Sabe aquele amigo sempre indisponível para você? Coloque-o no lixo reciclável junto com as garrafinhas pet. Sabe aquele outro amigo que se acha o máximo? Faça o mesmo.

Muitas mulheres tiram o domingo para faxinar a casa, lavar a roupa. Desencostam móveis, saem à caça da poeira escondida, enceram o piso, limpam os vidros, retiram da geladeira e armários os produtos vencidos.

Da mesma forma que dedicamos parte do nosso tempo a limpar e a organizar onde vivemos, deveríamos regularmente faxinar a alma. Jogar fora emoções com data de validade vencida. Sacudir a poeira de mágoas que ficaram debaixo do tapete. Dar um lustro nas nossas qualidades positivas. Varrer para fora de casa gente que não acrescenta. E no final do dia, se servir de uma taça com alguma coisa qualquer, espalhar-se no sofá da sala e admirar como você trabalhou bravamente para viver num lugar mais harmonioso e seu. Se sujeira e bagunça incomodam o bem estar, imaginem quando o local sujo e bagunçado é o nosso coração?

Sabe aquele amigo sempre indisponível para você? Coloque-o no lixo reciclável junto com as garrafinhas pet. Sabe aquele outro amigo que se acha o máximo? Faça o mesmo. Sabe aquela sua mania de concordar com as baboseiras que os outros dizem para ser educado? Jogue no lixo com o molho inglês vencido. No lixo não reciclável. Sabe aquele tique nervoso de tentar justificar todas as babaquices que fazem contra você? Jogue no triturador e deleite-se com o barulho do mau hábito sendo esmigalhado.

Livre-se do sentimento de culpa por ter sido compreensivo e carinhoso com gente sem noção. Pare de se achar o patinho feio problemático porque algumas pessoas incapazes de desenvolver vínculos afetivos ou sem coragem para mantê-los preferiu botar o pé na estrada do que encarar uma relação adulta. Mande pescar em PQP quem não te valoriza ou finge não te valorizar só para não te dar o gostinho de ficar feliz. Pare de perder o seu tempo com atividades que não dizem respeito a você.

Não se prive de uma boa risada porque tem gente que sofre de mau humor crônico. Não abandone numa gaveta qualquer uma roupa que você adora porque disseram que ela não está na moda. Não deixe de mergulhar de cabeça num projeto delicioso porque ele não dará dinheiro. Não se sinta pequeno porque você não é exatamente o que as pessoas esperam que você seja. Não se envergonhe das suas dificuldades e nem faça as pessoas se sentirem culpadas por terem problemas. Fale em primeira pessoa. Assuma o controle da sua vida e acolha quem deseja fazer parte dela positivamente.

Entulho emocional e gente nociva são as substâncias mais cancerígenas que existem. De nada adianta se exercitar todos os dias e comer muita salada, se nos deixamos envenenar pelo pessimismo, pela maledicência, pela resistência teimosa em manter hábitos nefastos e alimentar sentimentos mesquinhos.

Fonte indicada: Obvious

Ser paciente em um dia de raiva pode evitar cem dias de tristeza

Ser paciente em um dia de raiva pode evitar cem dias de tristeza

Por Valéria Amado

Ser paciente não é ser frágil nem covarde. Às vezes é muito melhor guardar silêncio e aquietar a raiva do que perder tudo em um momento de ira descontrolada. Porque a paciência é a virtude dos corações tranquilos, capazes de entender que ser prudente em um dia de raiva pode evitar cem dias de tristeza.

Todos já experimentamos momentos assim. De fato, às vezes habitamos o “epicentro” de entornos muito exigentes que colocam à prova a nossa capacidade de resistência e essa habilidade que devemos ter como bons gestores emocionais. A ira é como um gatilho que dispara quando perdemos o controle e que, longe de descarregar nossas emoções, costuma trazer efeitos secundários que ninguém deseja.

Aprenda a ser paciente, a acalmar a raiva, a amarrar a ira ao laço do entendimento e da compreensão para perceber que a raiva não soluciona nada, porque podemos perder tudo.

Na hora de falar dessas duas virtudes, que são o silêncio e a paciência, parece que estas dimensões se associam mais à passividade, a quem é incapaz de reagir. Não devemos vê-lo assim. O silêncio sábio que não agride e é paciente permite acalmar a mente para agir com maior equilíbrio, com mais assertividade e moderação.

Os bons gestores emocionais aprendem cedo que dois dos inimigos mais complexos com os quais devem lidar são sem dúvida a ira e a raiva. Além disso, eles se relacionam com diversas mudanças fisiológicas que intensificam ainda mais a sensação negativa e de ameaça. Por isso, na hora de controlar um inimigo, a melhor coisa é conhecê-lo.

Conhecendo um inimigo comum, a ira

Existem pessoas que se zangam com mais ou menos freqüência. A razão dessas diferenças individuais poderia ser explicada por um tolerância menor à frustração, ou inclusive por determinados indicadores genéticos.

Existem pessoas que se zangam com mais ou menos freqüência. A razão dessas diferenças individuais poderia ser explicada por um tolerância menor à frustração, ou inclusive por determinados indicadores genéticos.

  • A ira surge no nosso cérebro por causa de um leve desequilíbrio entre a serotonina, a dopamina e o óxido nitroso. Tudo isso pode fazer com que existam pessoas com maior tendência a explosões de ira e raiva.
  • Segundo um interessante artigo publicado no “The New York Times” pelo psiquiatra Richard Friedman, a ira pode se mostrar também como resultado de uma depressão encoberta.

Uma revolta não controlada, que não é racionalizada ou administrada de forma adequada, pode derivar em frustração e mal-estar. Quando a ira inunda o cérebro por causa do efeito dessa química neuronal acontecem diversas mudanças fisiológicas que vão incrementar ainda mais a emoção negativa. A raiva galopa de forma descontrolada.

Não devemos esconder a revolta, e nem deixar que se transforme em um ataque de raiva. É preciso compreendê-la e canalizá-la de forma adequada para que não asfixie, para que não machuque nem procure vítimas sobres as quais projetar a raiva.

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Paciência, calma e conduta assertiva para tratar os aborrecimentos

Desconfie de alguém que diga que “ele ou ela não fica bravo nunca”. Todos passamos por injustiças, ouvimos palavras tolas e comentários tão injustos quanto ofensivos. Agora, antes de deixar que a irritação atue como o isqueiro que acende o fogo da raiva, é preciso refletir alguns momentos sobre estas dimensões.

  • Dê um nome ao que o aborrece. Não fique só com as sensações, com esse desconforto que fica virando o estômago e trava a sua mente. Descreva em palavras concretas o que o incomoda.
  • Procure a calma por alguns instantes, feche-se no seu “palácio de pensar”. É um espaço tranqüilo e sereno que só pertence a você, visualize um lugar onde você deixe de fora a raiva e as emoções negativas para se trancar com “a razão”. Pense agora qual é a melhor opção diante da aquilo que o incomoda.
  • Expresse de forma assertiva a razão da sua chateação. De nada serve “engolir” aquilo que nos prejudica, porque os aborrecimentos não se guardam sob a cama, se expressam em forma de palavras respeitosas para evidenciar com clareza o que nos fere, o que não queremos.
  • Controle, reestruture e mude de cenário. Uma das melhores formas de administrar a revolta e a raiva é controlar aspectos como a respiração ou inclusive os processos mentais capazes de potencializar ainda mais a emoção negativa. Não procure culpados, desligue o ruído mental e os pensamentos irracionais.

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Às vezes uma coisa tão simples como caminhar, respirar fundo e procurar um ponto visual no horizonte para descansar a mente e desligar o interruptor da irritação pode nos salvar de todos esses alfinetes externos que tanto abundam no dia a dia. É preciso se lançar no mundo com o coração tranquilo, conhecendo os próprios limites, e sabendo que haverá momentos ruins, sem dúvida, mas os bons momentos abundam mais e são a nossa razão de ser…

Pessoas opacas não acreditam em arco-íris!

Pessoas opacas não acreditam em arco-íris!

Um vidro embaçado, empoeirado, ensebado. E tudo o que nele pousar, pouco a pouco, vai aderindo à mistura e adicionando mais um grau de dificuldade para se enxergar o que há do outro lado.

Uma lente vencida, há muito sem poder cumprir seu papel de facilitadora, descortinadora, iluminadora. Reduzida a somente um pedaço de material sem serventia e utilidade.

Uma lâmpada queimada, um espelho manchado, uma lanterna fraca, uma pessoa opaca.

Não defendo o brilho excessivo, até mesmo porque brilho demais também ofusca e confunde a visão e as interpretações, mas, uma alma opaca, impedida de detectar luzes, cores, brilhos, da mesma forma não oferece nada além do bege.

Pessoas opacas não percebem a luz que um sorriso gera, não distinguem as cores de um dia feliz, nem tampouco o brilho que uma outra pessoa emite e lhe oferece.

Pessoas opacas creem que a vida é vivida em uma única cor, que toda a mágica da combinação de cores é pura ilusão, que tolos somos todos os que se encantam com o arco íris.

Pessoas opacas resmungam, reclamam, nunca olham para o céu, muito menos para si mesmas. Não percebem o colorido do seu próprio mundo.

Abrem mão das palavras que clareiam ideias, dos desejos que colorem a rotina, dos abraços e carinhos que provocam uma chuva de brilhos na alma.

Pessoas opacas acordam, vestem seu semblante bege, colocam seus óculos com lentes vencidas, buscam suas imagens no espelho manchado, sequer percebem que a lâmpada do ânimo está queimada, mas seguem, preguiçosas, até a janela, para apreciar a vida através do vidro embaçado. E acham a vida entediante…

Três chaves para evitar crises no relacionamento!

Três chaves para evitar crises no relacionamento!

Quando Leo Jaime canta “… ainda encontro a fórmula do amor…”, ouço esse verso mais como um desejo de acertar e uma esperança de que exista um caminho para fazer dar certo do que a crença de que realmente possa existir uma fórmula mágica.

Porque é fato que não existe mágica no amor. Exceto no sentido poético. E isso é ótimo, porque nos provoca a crescer, a aprender mais sobre quem somos neste encontro tão importante e de que forma podemos ser mais íntegros e felizes com quem amamos!

Mas, felizmente, existem detalhes, percepções e aprendizados que podem nos levar para um novo nível de qualidade, entrega e satisfação na vida a dois. Existem pequenos ajustes que podemos fazer para alcançar novos resultados na conversa, na intimidade e na admiração um pelo outro.

E depois de muito ouvir e ler sobre as dores dos casais e até das pessoas que gostariam de viver uma história de amor dessas que valem a pena, mas por qualquer razão não conseguem, cheguei a conclusão de que com apenas três chaves (ou atitudes) é possível evitar crises desnecessárias e sem fundamento.

Sim, porque é absurdo o número de casais que se separa por descuidos banais, por negligências que poderiam ter sido facilmente evitadas, por mera falta de atenção no dia a dia. E quanta dor e sofrimento poderiam não acontecer…

As três chaves…

1 – Escolha (consciente)

Quando você entende que toda escolha significa renúncias, é porque já se tornou gente grande. Mas isso não é ruim, como muitos casais costumam acreditar. Estar com alguém até significa abrir mão de vários comportamentos de quando a gente está solteira, mas significa também viver momentos muito bons, de cumplicidade, carinho e afeto. Se esse relacionamento é a sua escolha, então vocês tendem a ganhar muito e você se torna muito mais disponível para lidar com as diferenças e aprender com elas.

2 – Dedicação (recorrente)

Estranho como a gente entende que precisa se dedicar ao trabalho, a um curso, a academia, mas se esquece que é preciso se dedicar também ao relacionamento com quem a gente ama. E isso significa abrir espaço na agenda para ficar junto, dar atenção, conversar, passear, olhar nos olhos, se conectar de verdade com a pessoa amada. Parece fácil, mas é um dos detalhes mais abandonados na convivência. E o pior é que muitos acreditam que basta morar junto, dormir junto, acordar todo dia um ao lado do outro. Não basta. É muito mais que isso. Tem a ver com querer, se interessar, perguntar, ouvir. Tem a ver com namorar, amar e, sobretudo, mostrar! Quem ama, mostra!

3 – Revisão (intermitente)

De tempos em tempos, fazemos check up médico, revisão no carro, reforma na casa, atualização profissional, etc. Mas, estranhamente, a maioria das pessoas só faz revisão no relacionamento quando a situação está feia. Quando a crise já se instalou de um jeito que é difícil resgatar a confiança, o desejo, a intimidade. Não pode! É preciso rever comportamentos e atitudes de tempos em tempos. É preciso voltar a fazer o que fazia de encantador no início do relacionamento. E também deixar de fazer o que antes não fazia e que agora incomoda. É preciso se cuidar e se arrumar para o outro, ouvir o que ele está pedindo, abrir mão de algumas coisas pelo bem da convivência. Amar também é fazer concessões.

Enfim, se você conseguir usar essas três chaves, ainda que nem sempre – mas sempre que possível – começando o quanto antes, e não somente quando a crise chegar, eu garanto que você será muito mais feliz e realizado no amor! Que tal tentar?

Eu quero espaço. Quero paz. Quero ter a mim de volta. E quero agora!

Eu quero espaço. Quero paz. Quero ter a mim de volta. E quero agora!

A gente precisa parar com essa mania de tratar a nossa vida como se fosse cozinha de algum restaurante que estivesse, por lei, aberta à visitação. Vidas assim, completamente disponíveis à ocupação de espaço, tempo e vontade, podem acabar sendo tratadas como “terra de ninguém”. E, sabe, né? O que, aparentemente não é de ninguém, acaba sendo de todo mundo. De todo mundo, menos de nós mesmos!

É claro que viver o tempo todo inspecionando as guardas de proteção de nossos territórios externos e internos é algo que nos transformaria em pessoas ácidas, áridas e empedernidas. A vigília constante das nossas intersecções com os de fora, tiraria de nós a maior beleza de qualquer encontro: o inesperado. Assim, que sejam livres as nossas fronteiras, mas que saibamos tratar os estrangeiros com a devida distância mínima necessária para que nossos mais valiosos territórios não acabem invadidos, desmerecidos e devastados.

Porque tem gente que vai entrando devagarinho, assim como quem não quer nada. Deixa-nos encantados com sua visita, levando-nos a ignorar suas diferenças evidentes em relação às nossas expectativas, as quais aceitamos em troca de algum afeto, intimidade ou companhia. O visitante vai dando um passinho por vez, vai conhecendo nossos cômodos secretos, vai tirando o véu de nossos móveis protegidos, senta-se naquela poltrona que era nossa preferida, dedilha nosso piano com a desenvoltura de quem é dono de tudo por ali, do piano, da poltrona, dos móveis, dos cômodos secretos, de nós.

E, sem que a gente perceba, depois de algum tempo, teremos esquecido do quanto era bom ter aqueles lugares resguardados e desconhecidos, do quanto era reconfortante gozar da solitude escolhida e bem-vinda, do quanto era prazeroso ouvir a melodia do piano acariciado por nossas mãos no silêncio da casa, do quanto é importante dar-nos o direito de termos espaços onde apenas nós mesmos tenhamos o direito de estar.

Amar é, sem dúvida, uma das vivências mais humanizadoras, é aquela experiência que nos desorganiza para que possamos acomodar o outro nos braços, no peito, em todos os espaços. Ter amigos, é inquestionavelmente necessário para nos confrontarmos com outros pontos de vista, de escuta e de sentido. Ter a família por perto é reconhecer o lastro de nossa origem no caos das relações no mundo, é dessas coisas que nos garantem o retorno a um lugar seguro, quando a viagem lá fora tornar-se demasiado longa, perigosa ou desconfortável.

Mas, hoje… hoje eu acordei com uma saudade imensa de mim! Hoje, eu quero que os amores adormeçam por algumas horas, que os amigos tirem férias, que a minha conexão com os meus seja afrouxada o suficiente para desfazer o nó que antes era um laço. Hoje, quero receber a mim mesma para um chá, um abraço apertado, um relaxamento bendito diante das inúmeras responsabilidades assumidas. Hoje, eu quero espaço. Quero paz. Quero ter a mim de volta. E quero agora!

Miles Ahead: quando a música não precisa de palavras

Miles Ahead: quando a música não precisa de palavras

Produzido, escrito, dirigido e estrelado por Don Cheadle, Miles Ahead é apenas um pequeno fragmento da representatividade musical e multicultural do legado de um dos maiores gênios, o trompetista Miles Davis. A cinebiografia foi concebida com muito carinho aos olhos de Cheadle que, desde o início, prezou pela autenticidade sem perder o olhar realista daquela que fora uma figura fundamental para expansão artística entre os mais diversos músicos espalhados pelo globo – seja qual for o gênero pertencente, a maioria bebeu de Kind of Blue e de outros trabalhos primorosos de Miles.

A narrativa da produção abrange poucos anos da vida do controverso Miles, mas a direção de Cheadle passeia tão pontualmente nesses curtos espaços que o espectador mal sente a necessidade criativa da exposição mais densa e procedural no roteiro. Afinal, o importante aqui é salientar como, aos poucos, Miles Davis despertava sentimentos oníricos através da sua música e, nos encantos colossais dos sopros e melodias, elevava o nível para um patamar desconhecido. No improviso, mas também na construção pura, Davis foi um visionário acima de qualquer dúvida e suspeita. A música transcorria absurdamente nas suas veias.

Cheadle está particularmente envolvido na atuação. É contemplativo observar o esforço quase que natural do astro em entregar a melhor performance da carreira e digna dos mais altos prêmios, diga-se. Apoiado, na maioria por atores desconhecidos, com exceção de Ewan McGregor, no qual o diretor/roteirista/produtor/protagonista confessou ter procurado para integrar o elenco unicamente pela necessidade da produção contar com um nome conhecido para ser filmado – aí entra o velho e costumeiro desserviço do cinema contemporâneo. Mas conseguiram, todos os envolvidos, presentear cada amante da viagem transposta em notas diversas, com a possibilidade da admiração de um cinema realista e transcendente.

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Miles Ahead é, inquestionavelmente, uma das obras cinematográficas mais intensas já realizadas. E Cheadle merece todos os frutos colhidos. Davis não gostava que a sua música fosse rotulada como jazz. Segundo o próprio, era social music (música social). Que a sociedade respire, viva e entenda um pouco mais da alcunha descrita por alguém que fez música de verdade.

 

Exibir valentia não é prova de coragem. É atestado de burrice.

Exibir valentia não é prova de coragem. É atestado de burrice.

Já viu quanta gente se gabando por aí de fazer mais e falar menos, enquanto quase ninguém se faz disposto a pensar um pouquinho primeiro? De que adianta? Povoado por quem não pensa nem sente, o mundo vira um festival de gente achando bonito ser impulsivo, genioso, enfezado, valentão. Não, nada disso é admirável. Ostentar destemor nunca foi excesso de coragem. É mera falta de inteligência mesmo.

Basta usar só um pouquinho do discernimento que todos temos, mas que muitos de nós nunca sequer abriram, para se dar conta de que resolver tudo “no peito”, “no grito” e “na força” é um recurso desesperado, perigoso e destrutivo. E que pessoas muito afeitas a enfatizar sua força física e seu poder de fogo quase nunca os utilizam para alguma coisa que preste. Preferem esculhambar em vez de organizar, destruir em vez de realizar, bater em vez de socorrer, derrubar em vez de levantar. Em lugar do diálogo e da tentativa de conciliar e corrigir, escolhem um danoso, eterno e impensado quebra-pau.

Observe. A quem sobra valentia geralmente faltam autocrítica, equilíbrio, sensatez. Valentões não têm escrúpulo nem remorso. Não têm papas na língua. Não têm bom senso para refletir que falar sem pensar nem sempre é o mesmo que ser sincero. Aos brigões, enquanto sobram ímpetos de quebrar tudo, invadir, fazer e acontecer contra o outro, sempre contra o outro, falta disposição de olhar para dentro, examinar as próprias questões, encontrar e corrigir as próprias falhas.

Valentões carecem da bravura essencial de assumir quando erram. São covardes fundamentais. Escondem-se de suas próprias deficiências. Preferem julgar o erro alheio com estardalhaço e eficiência.

Sei não. Mas eu tenho a impressão de que coragem é outra coisa. Não carece anunciar. Gente corajosa de verdade não precisa provar nada a ninguém. Vive a vida com destemor e pronto. Enfrenta seus medos, cai, levanta, vai em frente.

Corajosos são seres inteligentes, sabem que a luta é outra, que a maior briga acontece é dentro da gente. Valentões são criaturas burras e inseguras, o tempo todo tentando provar ao mundo seu desassombro e sua força.

Pessoas corajosas de verdade têm outra ocupação. Fazem o que precisam, o que devem. Inclusive fugir, sem medo e sem culpa, de toda peleja estúpida que só presta a quem não tem mais o que fazer. Porque gente corajosa de fato conhece as suas responsabilidades. E não foge delas nem a pau.

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