Pelo direito de postar fotos felizes no Facebook

Pelo direito de postar fotos felizes no Facebook

Não é possível mensurar o BOM SENSO, entretanto a sua definição na Wikipedia diz:

“Bom senso é um conceito usado na argumentação que está estritamente ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade, e que define a capacidade média que uma pessoa possui, ou deveria possuir, de adequar regras e costumes a determinadas realidades considerando as consequências, e, assim, poder fazer bons julgamentos e escolhas. Podendo, assim, ser definido como a forma de “filosofar” espontânea do homem comum, também chamada de “filosofia de vida”, que supõe certa capacidade de organização, auto-controle e independência de quem analisa a experiência de vida cotidiana.”

Tendo em vista o conceito acima, fica claro que nenhuma decisão que tomamos pode ser considerada certa ou errada, sem que uma análise do que é razoável seja pensada (até mesmo no Direito isso é avaliado). Assim são as fotos que aparecem no Facebook e que dizem respeito àquele que as postou.

Embora entendamos que algumas pessoas cometam excessos: o perfil é pessoal e nele o usuário, desde que siga as regras da plataforma,  decide quanto de si quer mostrar – ainda que o que opte por exibir seja julgado como um exagero pela maioria das pessoas.

Eu já bloqueei um “colega” de Facebook, simplesmente porque estava cansada de ver suas fotos de viagem. Eram centenas e centenas. E ele não não parava de postá-las. Aquilo me cansava pelo excesso. Entretanto, mesmo que tenha ferido os meus critérios pessoais de bom senso, ele tem, tinha à época, e continuará tendo, todo o direito de postá-las, mesmo que eu opte por não vê-las mais.

Não é diferente com pessoas que exageram nas postagens de animais doentes, assuntos de política ou mesmo opiniões religiosas. A cada um reserva-se o direito de escolha.

O que me chama a atenção, entretanto, é que o descompasso de alguns acaba por gerar críticas coletivas. Qualquer um que esteja em uma rede social deveria se sentir à vontade para postar imagens, mesmo que seja apenas de fotos felizes. Vivemos inúmeras situações sociais, aniversários, casamentos, viagens, encontros com os amigos e a visibilidade da plataforma torna a interação e a exposição muito mais caracterizada.

Lembro-me que na minha cidade, quando menina, após o carnaval, nós íamos à loja do fotógrafo para ver as fotos que tinham sido tiradas na noite anterior. E queríamos ver as fotos de todo mundo, não apenas as nossas. Essa curiosidade pelo que é do outro é algo comum, mas que foi exacerbado pela praticidade das ferramentas atuais.

Só as pessoas que estão dentro das relações têm o poder de decidir se querem ou não ver o que e quanto o outro decidiu mostrar.  Se estamos vendo carências, exibicionismo, fuga da realidade ou o que quer que seja, na exposição alheia, é a interação entre nós e e o resto do mundo que dirá se devemos ou não continuar a olhar. Afinal, se o filme é ruim para você, que força misteriosa é essa que o faz continuar assistindo?

Estudo que levou 13 anos mostra se seu relacionamento pode durar ou não

Estudo que levou 13 anos mostra se seu relacionamento pode durar ou não

Por Luiz Higino Polito

Após estudar mais de 160 casamentos por 13 anos, um professor e psicólogo afirma que consegue prever se um casamento será duradouro ou não.

Ted Huston, professor de psicologia e ecologia humana da Universidade do Texas, após seu projeto de pesquisa de 13 anos, analisando 168 casais desde o início dos seus casamentos, chegou a algumas conclusões muito importantes.

O resultado desse estudo podemos ver na matéria escrita por Aviva Pats, na Revista Seleções de Janeiro de 2001, no artigo “O Seu Casamento Vai Durar?” Neste artigo, lemos que o pesquisador Huston afirmou que “Os primeiros dois anos são fundamentais (num relacionamento). As mudanças que ocorrem nesse período revelam muito sobre o destino do casamento.”

Quais mudanças num relacionamento permitem prever seu destino?

O pesquisador citado na reportagem diz que o que mais o surpreendeu foi descobrir que perda do amor e do carinho são os maiores prenúncios de possíveis naufrágios dos casamentos, e não o aumento dos conflitos nos relacionamentos.

Ted Huston também observou que muitas abordagens terapêuticas para ajudar casais que enfrentam problemas estão equivocadas: elas se concentram mais em tentar “resolver os conflitos”, quando deveriam se “concentrar em preservar os sentimentos positivos”.

Podemos concluir então, de acordo com o estudo citado, que não são os desafios que um casal enfrenta, tais como dificuldades financeiras, por exemplo, que costumam colocar um fim a tantos relacionamentos, mesmo porque todos nós conhecemos inúmeros casais que enfrentaram terríveis desafios e continuaram juntos e felizes. Tais casais que não se separaram mesmo passando por dificuldades, em muitos casos, provavelmente conseguiram manter acesa a chama do amor e do carinho.

A “cola” do amor

      • Se fôssemos simplificar bastante as coisas, poderíamos dizer então que o amor entre um casal seria uma cola que os mantém unidos? Quanto mais forte tal “cola”, portanto, mais firme e duradouro será o relacionamento. “Cola” fraca, ao contrário, pode não conseguir manter unido o casal, quando surgirem os vendavais da vida.

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Como aumentar ou fortalecer o amor?

É possível fortalecer o amor, desde que os cônjuges estejam realmente interessados no sucesso do relacionamento e se esforcem para fazer o parceiro (ou parceira) feliz. Fazer o parceiro feliz, aliás, é uma das melhores maneiras de aumentar o amor num relacionamento. Pode ser que existam pessoas tão insensíveis que mesmo recebendo torrentes de amor e de carinho, não se tornem também mais amorosas. A probabilidade de quem demonstra amor ser mais amado, porém, é muito maior.

Vale repetir aqui o que já escrevi outras vezes: vi e ouvi um padre dizer muitas vezes que, “se você quer casar para ser feliz, não case; mas se você quer se casar para fazer a outra pessoa feliz, então case!”. Eu ouvi isso em tantas ocasiões em que trabalhava como músico nas cerimônias de casamento, que tais palavras ficaram gravadas indelevelmente em minha alma. Esse conselho tem sido útil em minha vida muitas vezes, pois quando lembro dele, eu procuro fazer alguma coisa (mesmo que seja uma coisa bem simples) para alegrar a minha esposa. E funciona mesmo!

Um tesouro perdido

Quando demonstramos amor para uma mulher, recebemos em troca uma tonelada de carinho. Muitos homens, por não saberem disso, desperdiçam um tesouro, que para eles está perdido, que é o tesouro de se ter uma mulher bem-amada.

Título original: Estudo que levou 13 anos mostra se seu casamento pode durar ou não

Fonte: Família

Quem nunca sonhou em ter um amor assim?

Quem nunca sonhou em ter um amor assim?

Acordo, ainda um sonho morno brinca nos meus olhos. Fico quieta, esperando que não esteja ainda tão desperta a ponto de ter de acordar. A gente devia ter mais sonhos assim, soltos, leves, coloridos como lindas bolhas de sabão.

A vida por demais corrida vai roubando da gente, aos pouquinhos, a vontade de se demorar além da conta nas horinhas à toa, nos sorrisos de graça, nos encontros sem querer, que a própria vida – ignorando nossa determinação em racionalizar tudo – nos concede de presente.

E ainda que andemos desenhando, rabiscando e erguendo bandeiras de uma liberdade estranha e errante, tão errante que depende do nosso isolamento emocional para garanti-la – ainda assim, mesmo assim – não há um só de nós que não seja visitado uma ou algumas vezes por dia, por um desejo bonito e doce de ter um colo onde se possa caber direitinho. Um apetite deliberado pelas coisas lindas, um carinho, um abraço onde a gente tenha vontade de morar.

E aquele sentimento cálido e indolente que há algumas horinhas atrás experimentei, quando ainda teimava em guardar em meus olhos serrados o sonho inesperado que sonhei, parece não querer largar-me mais. Andei o dia todo sorrindo por nada. Andei o dia todo sem achar nenhum motivo que me convença que a seriedade é necessária para alinhavar ou costurar uma vida com sentido.

Terá sido o sonho, ou terei eu finalmente despertado para uma vida liberta de amarras e repleta de viagens para dentro de mim, com destino a qualquer parte? Haverá nesse mundo algo que valha perder a capacidade de se encantar?

O que eu apenas sei. E sei, mesmo sem saber porque sei… é que a plenitude das nossas almas incompletas depende da nossa coragem em dar um passinho adiante, apenas o suficiente para que sejamos capazes de romper a casca que nos protege e ousarmos nos despir do temor de sermos ridículos ou tolos, porque não há absolutamente nada de tolice na paixão por estar vivo.

E se for ridículo acreditar no amor, eu quero mesmo é ser a criatura mais ridícula sobre a terra. Assumo aqui a minha falta de siso, o desejo confesso de perder o juízo e a minha exagerada sede por tudo quanto faça meu coração batucar no peito.

Porque o sonho que eu tive, agora me lembrei, incluía nos espaços e tempos da vida, os loucos, os apaixonados, aqueles que já perderam há muito tempo o medo de sonhar com a possibilidade de uma existência menos seca e engessada.

O sonho era uma lembrança, qual uma fitinha que se amarra no dedo. O sonho era um recado de mim para mim mesma, um jeito de me resgatar e me fazer submergir. E ao abrir finalmente os olhos, pude então compreender que quem não é capaz de sonhar depois de estar desperto, esqueceu-se do que é estar vivo, contentou-se em sobreviver.

A saudade é uma benção. Só sente quem tem o que vale a pena lembrar.

A saudade é uma benção. Só sente quem tem o que vale a pena lembrar.

Não tem jeito. Tudo aquilo e todo aquele que por acaso nos fizerem sentir amor estão abençoados a durar para sempre. Por mais que acabe, ainda que passe, todo bom sentimento há de viver em franca eternidade dentro de cada um.

Saudade é benção. Só a merece quem leva consigo o que é bonito, o que é bom. O que foi, o que é e o que ainda há de ser. Saudade do que já foi é benção duas vezes: primeiro a gente vive, depois a gente lembra. Já a saudade do que virá é promessa boa, motivação, esperança na vida. Saudade é um carinho de Deus a Seus filhos que têm coragem de sentir amor.

Quem sente saudade tem um sol se pondo no peito para sempre. Guarda na alma o calor bom da tardinha, a lembrança quente do que passou agorinha, a consciência limpa e leve de todo bem que veio e permaneceu em nós.

Tem saudade que dói, dói até mostrar que ela é só o que nos resta do que já foi, de quem passou. Só o que fica de quem a gente amou. Saudade é um jeito bonito do amor ficar em nós para sempre. Quando para de doer vira cicatriz, companhia, marca, herança. Lembrança boa.

Tem saudade leve. Quando a moça se pega rindo sozinha, lembrando uma cena engraçada. Tem saudade que chora baixinho com a beleza, no moço que assiste ao parto do filho. Tem cada coisa bonita por aí! Bonita de fazer a gente chorar quando encontra e quando recorda. É que saudade também é um jeito que o coração encontra de encontrar de novo. É a alegria do reencontro. A surpresa boa. Descobrir o amor crescendo que nem pão de ló. Saudade é o amor nos lembrando que continua vivo, firme e forte.

Você já viu o sol se pondo de tarde. Já viu risada de nenê, Já viu os olhos de alguém sorrindo. É bonito que só. Até um momento duro deixa saudade. Saudade do que você teve de ser para sobreviver àquilo. Vai entender…

Mas saudade a gente não entende mesmo. Não explica. Saudade é feita de amor. A gente sente aqui dentro do que já ganhou o mundo aí fora. Prova de que tudo o que a gente ama há de durar para sempre.

Você não é o seu dia que deu errado

Você não é o seu dia que deu errado

Viver é perigoso, já dizia Guimarães Rosa, não é fácil, nunca foi nem nunca será. A gente leva muita surra, cai de grandes alturas, decepciona-se com quem jamais imaginaria, a gente perde muita coisa e muitas pessoas pelo caminho. E não acaba, não; quando a calmaria parece durar, lá vem mais granizo. Em meio a tantos redemoinhos, cabe-nos o fortalecimento de nossas convicções, de nossos sonhos e dos relacionamentos que acalentam e curam.

Não se transforme em tudo aquilo que provoca distância entre os seus desejos e a realização deles. Cada decepção deve servir como exemplo do que não podemos trazer para junto de nós, cada ferida nos lembra da importância de não hesitarmos quanto ao valor das mãos seguras que sempre deverão nos reerguer. Dias ruins vêm e vão, mas a gente fica e pode manter aqui dentro o que de bom ainda resta.

Não acredite, nem por um minuto, no que disserem em seu desfavor, quando duvidarem de sua capacidade de ser, de se tornar, de vir a conseguir. Os maiores obstáculos que teremos são justamente aqueles que nós próprios nos impusermos. Somente você sabe bem o que tem aí dentro, do pior e do melhor. Não deixe que ninguém abale essas suas certezas.

Entenda que não é preciso ter um relacionamento amoroso para se sentir feliz e completo. Ninguém poderá fazer aquilo que lhe cabe: a sua parte. É muito bom ter um companheiro, mas sem confundir companhia com solidão a dois. Sem se bastar a si mesmo, nada que venha de fora bastará também. Bastar-se implica amar-se e realizar-se enquanto pessoa.

Não se rotule, deixe que os outros façam isso por você. Não podemos nos permitir que determinem o nosso futuro a partir de afirmações de que somos quietos demais, somos muito sensíveis, ou de que jamais nos daremos bem fazendo isso ou aquilo. Existe muito mais do que pensamos em nossa força interior. Ninguém tem o direito de nos dizer o que devemos ou não, tampouco nós mesmos poderemos atravancar as nossas potencialidades, achando que somos menos.

Lembre-se de que quem te ferra, te rotula, te decepciona, tudo de ruim que te acontece, nada disso te define, apenas te ensina e te mostra as verdades. Você é muito melhor do que todo mal que te rodeia. Não podemos aceitar e nos acomodar à nossa pior versão, como se a felicidade fosse algo longe e inalcançável.

É nos dias de brisa suave e respirar tranquilo que devemos nos apoiar, olhando em volta e percebendo que ali estará quem devemos de fato valorizar e o que pode realmente trazer paz ao nosso caminhar. Porque desistir de ser feliz não pode, em hipótese alguma, estar em nossos planos. Vivamos!

*O título deste artigo é uma citação de autoria de Mariana Fiore.

O conto do açaí é uma história de amores

O conto do açaí é uma história de amores

Um povo na cidade de Belém do Pará, antes de Belém ou o Brasil existirem, vivia da pesca, da música e do Açaí. As canções eram entoadas sempre antes da chuva da tarde. As crianças escolhiam se seriam músicas alegres ou tristes de acordo com sentimento que despertava a história do Contador.

O Contador era alguém na tribo sabedor das origens das coisas. Era sempre um mistério sua identidade. Usava uma pintura no rosto, folhas cobrindo todas as formas do corpo, apenas seus pés apareciam.

Num fim de tarde, as crianças pediram para o Contador falar como surgiu o Açaí, ele ficou trêmulo. Trêmulo mesmo. Mas por baixo das folhas ninguém percebeu. Respirou e começou a contar:

-Por causa da falta de comida, o Pajé disse “Toda criança que nascer antes da comida voltar, deverá ser sacrificada antes de sofrer a desgraça da fome.” Assim foi, sempre que uma criança nascia era levada ao Pajé e ele a sacrificava. Um dia, uma mulher do nosso povo amou muito alguém e com esse alguém teve uma filha. Essa mulher era Iaçã, filha do Pajé. Quando a criança nasceu, foi levada para o Pajé, seu avô, para ser sacrificada. Chorando e ouvindo Iaçã chorar, o Pajé sacrificou sua neta.

O Contador parou por um tempo e voltar a contar a história com os olhos fechados.

-Iaçã entrou numa tristeza terrível, era só choro, pedia sem parar pra Tupã acabar com a fome e não precisarem mais perder as crianças do seu povo. Adormeceu. Foi acordada por um cântico que parecia triste, mas também parecia alegre. Andou na mata procurando quem estava cantando, era sua filha. Correu, abraçou a menina e dormiu sorrindo. Noutro dia, todos saíram procurando Iaçã pela mata, encontraram apenas seu corpo abraçado numa palmeira com cachos de frutos pretos. Desse fruto extraíram um líquido grosso que salvou todo o povo da fome e fez com que nenhuma outra criança fosse sacrificada. O Pajé chamou o fruto de Açaí que é Iaçã ao contrário.

Quando o Contador terminou a história, as crianças não sabiam se cantavam uma música triste, por causa da morte de Iaçã e sua filha, ou uma alegre pela salvação do povo. Neste dia, decidiram que cada um cantasse seu próprio sentimento e a canção foi uma mistura de sensações, lágrimas e danças.

E o Contador dançou e chorou tanto que as folhas do seu corpo caíram e todos descobriram que ele era o alguém, aquele que amou Iaçã e teve com ela uma filha.

Desde este dia, lembra-se que no açaí está o amor do Contador e Iaçã, amor deles pela filha sacrificada, o amor angustiado do Pajé, o amor que pode surgir por conta do milagre da súplica de uma mãe em luto.

Açaí, para este povo, significa “lembrar que o amor é mais forte quando alimenta muita gente.”

Beleza Americana: Vivendo a bela aparência das nossas vidas idiotas

Beleza Americana: Vivendo a bela aparência das nossas vidas idiotas

A sociedade contemporânea é construída sob o pilar da liberdade, contudo, um certo pensador chamado Aldous Huxley descreveu que vivemos em uma prisão de grades invisíveis, na qual nós mesmos insistimos em permanecer. Essa consideração estava no seu magnífico “Admirável Mundo Novo” e, assim, a liberdade tanto no mundo novo de Huxley quanto no nosso é apenas superficial e enganosa, visto que estamos submetidos a ditaduras que aceitamos voluntariamente. Uma dessas ditaduras é a das aparências, a qual pode ser bem observada no filme Beleza Americana (American Beauty), de Sam Mendes.

O filme retrata a vida da classe média americana através dos olhos de Lester Burnham (Kevin Spacey), um quarentão, que vive uma vida totalmente vazia e sem sentido, baseada apenas nas aparências. Derrotado e sem ânimo para viver, Lester já inicia a trama demonstrada essa sua pseudo-vida:

“Meu nome é Lester. Essa é minha vizinhança. Essa é minha rua. Essa é minha vida. Eu tenho 42 anos e, em menos de um ano, estarei morto. É claro, eu ainda não sei disso. E, de certa forma, eu estou já morto.”

Com uma vida profissional sem sucesso e entusiasmo, um casamento de fachada e uma relação insossa com sua filha, o protagonista demonstra a sua inexpressividade e o seu vazio interior, bem como, a sua morte ainda em vida, uma vez que as aparências que ostenta não conseguem lhe proporcionar a potência necessária para que se sinta verdadeiramente vivo. Isso é reforçado quando ao se masturbar no chuveiro pela manhã diz:

“O melhor momento do meu dia. Depois só piora.”

Lester se sente como fracassado, é um fracassado e não está mais disposto a esconder isso, ou seja, a partir do momento em que toma consciência plena de que a sua vida não o satisfaz de modo algum, o protagonista busca fugir da vida de aparências que vive. Ele pede demissão, dizendo tudo que sempre quis dizer, mas não tinha coragem; compra o carro que sempre quis; começa a se exercitar; arruma um emprego que exerceu na juventude e que não exige muita responsabilidade; e muda seu posicionamento perante sua mulher e filha.

Ao passo que Lester entra em “transformação”, sua mulher, Carolyn Burnham (Annette Bening), uma corretora imobiliária, mergulha ainda mais no universo de aparências em que vive. Carolyn vive num mundo em que o principal objetivo é ter sucesso. Mas não apenas isso, esse sucesso deve ser conquistado e demonstrado, seja por intermédio de bens materiais, como um sofá de tecido italiano, seja pela demonstração para os outros de que tem uma ótima relação com seu marido e, sobretudo, por meio da imagem de felicidade que aparenta o tempo inteiro.

Dessa forma, a imagem de felicidade vale muito mais do que a felicidade em si e, portanto, as aparências exercem muito mais valor do que a essência das coisas, das relações, da vida. Não importa como as coisas são e sim o que elas aparentam ser, isto é, o seu valor sígnico perante o olhar social. A realidade se afasta e dá lugar a um mundo de aparências, em que o valor das coisas é determinado pelo olhar que o coletivo oferece, de modo que as próprias ideias de felicidade e sucesso acabam, nesse prisma, sendo determinadas pelo mundo de aparências construído pela sociedade burguesa americana.

Esse olhar que busca tão somente o valor que as coisas aparentam fica claro, por exemplo, na relação que Carolyn estabelece com Buddy Kane (Peter Gallagher), o “rei dos imóveis”. Carolyn endeusa o indivíduo sem conhecê-lo enquanto pessoa apenas pelo fato dele representar a imagem de sucesso que ela idealiza, chegando a manter uma relação extraconjugal com ele, já que Buddy é poderoso, feliz e bem sucedido aos olhos dela, e o seu marido é um fracassado e culpado pela não realização dos seus “ideais”. Aliás, é através de Buddy que escutamos um resumo perfeito do filme.

“Podem me chamar de louco, mas minha filosofia é que para ter sucesso deve-se projetar uma imagem de sucesso o tempo todo.”

As aparências, o valor sígnico das coisas, a imagem, o status, o valor no mercado da personalidade, valem muito mais que o real naquela sociedade. Vidas enfadonhas e infelizes são escondidas com máscaras de felicidade, que devem ser demonstradas para todos os outros atores sociais. A própria “libertação” de Lester se dá em função de uma imagem e, assim, continua tão preso quanto antes, uma vez que ao se “libertar”, Lester buscou construir a imagem de um cara jovem, sarado, que fuma maconha e faz o que der na telha, sem se importar com qualquer conseqüência. E, pior, teve como estopim dessa “libertação” o desejo desenvolvido por Angela Hayes (Mena Suvari), a melhor amiga de sua filha.

Sendo assim, Lester ao fugir do seu mundo de aparências, mergulhou em outro mundo de aparências, no qual buscava construir uma imagem que pudesse seduzir e conquistar Angela, que era vista por ele como a coisa mais bonita que já viu. Angela representava a personificação da “Beleza Americana”. Uma garota bonita com uma imagem de sucesso, segurança e felicidade, a qual todos ficam “babando”. Ela é como a rosa vermelha estadunidense, tem uma bela aparência, é de fácil cultivo, não possui espinhos, mas não possui perfume, isto é, não possui uma essência que a torne única.

Se todos os personagens supracitados representam a artificialidade da vida, a mentira podre escondida por uma capa colorida, o que não dizer do Coronel Fitts (Chris Cooper), que esconde a sua homossexualidade atrás de uma imagem de militar durão cheio de regras e disciplina? Um indivíduo que passa a imagem de seriedade e autocontrole, mas vive uma luta interna contra os seus verdadeiros desejos.

Beleza Americana é um filme que demonstra de forma bem estruturada e clara a decadência de uma sociedade (e não apenas a americana) que vive de aparências e esconde as suas misérias e infelicidade atrás dos slogans e estereótipos de sucesso determinado pela sociedade. O filme traz uma reflexão profunda sobre a rede de mentiras que nos cercam e a forma como nos voluntariamente buscamos nos enquadrar em ditaduras que ditam o modo como os indivíduos devem ser e viver.

Na busca pelo ideal de sucesso determinado pelo status quo, os personagens buscam imagens que escondam as suas vidas pobres e sem qualquer poder de questionamento que se agarram aos padrões de maneira acrítica. Como diz Lester em dado momento do filme – “Vendemos a alma ao diabo porque é conveniente” – e, assim, vivemos vidas vazias e secas, como se fôssemos felizes e livres. Mas, não somos. Somos apenas representações fúteis de uma sociedade fútil. Somos somente aparências de sanidade e normalidade de uma sociedade doente. Estamos apenas padronizados, vivendo as nossas belas e cultuadas vidas idiotas.

Quem me dera ter ido embora muito antes

Quem me dera ter ido embora muito antes

Por um tempo pensei que não conseguiria abrir a porta e ir rumo ao desconhecido. Fiquei tão presa a você que tinha a absoluta certeza que não sairia do seu lado nunca mais. Mesmo quando você mesmo me mandou ir embora, fiz questão de bater o pé e dizer que não ia a lugar algum. E quem dera tivesse sido só uma vez – aliás, quem dera tivesse sido nenhuma – eu ainda teria menos pena de mim por me colocar entre tanto sufoco assim.

Você abriu a porta me perguntando o que eu ainda estava fazendo lá e dizendo que estava mais que na hora de sair. E eu quis ir. Ah, como eu quis te deixar. Eu desejei tanto abandonar você que mal pensava em outra coisa. O único outro pensamento que eu tinha era sobre como eu queria ficar. E esse permaneceu. E ficou. E ficou. Cansei de te dizer que não ia embora e que era melhor entender isso, mas tudo o que eu sinto hoje é vontade de voltar no tempo e não só sair por aquela porta pela qual você me expulsava, mas aproveitar e me bater com ela; pra ensinar a mim mesma que amor não se pede e muito menos se implora.

Ah, como eu queria ter aprendido isso antes. Muito antes de te ligar às 4h da manhã te pedindo em meio às lágrimas que não se esquecesse de mim. E você ao mesmo tempo que vivia me abandonando, continuava me atendendo e chorando junto comigo no telefone. Isso nunca fez sentido, mas hoje entendo. Você era independente demais para estar com alguém, mas também muito apegado para ir embora. E esse seu egoísmo me consumiu por muito tempo. Você gritava pra eu ir embora, repetia tantas vezes que já não me queria como antes, mas ao mesmo tempo me puxava de volta toda vez que eu começava a caminhar em direção à saída. Eu também preferiria que tivesse me abandonado uma vez só, mas que sumisse e de você eu só tivesse lembranças, pois teria aprendido muito antes o quanto fica piedoso sair por aí implorando permanência.

Você só soube que não queria de fato que eu fosse embora quando eu atravessei a porta e a tranquei pra nunca mais voltar. Foi o maior alívio que já senti até hoje e quando você me ligou às 4h da manhã e me pediu pra eu não te esquecer, eu não tive o que responder. Não daria pra te prometer lembrança porque já tinha te esquecido.

Eu desejei por meses que você viesse atrás de mim e dissesse que permaneceria. Só isso. Meu estado de decadência era tão grande que nem queria ouvir sobre amor. Se você tivesse apenas dito que ficaria, eu já me daria por satisfeita. Mas você veio me falar de amor, veio me dizer sobre sentimentos e que queria fazer morada ao meu lado, só que disse quando eu já não tinha qualquer afeto por você, a não ser inconformidade por tudo que tinha me feito passar.

Tudo o que eu senti quando você me prometeu a eternidade, é que eu já tinha dado tempo demais. Não adiantava mais me falar sobre o amor, quando me fez perder todo o afeto que eu tinha por mim mesma enquanto esperava pelo seu. Atravessar a porta foi o melhor que já fiz por mim e não ter vontade de olhar pra trás foi o que a vida me deu de recompensa

É…te guardei por tanto tempo na minha caixinha de eternidade. Hoje você só pertence àquela gaveta -trancada a sete chaves- chamada passado.

Como se libertar de pessoas (e lugares) que te fazem mal?

Como se libertar de pessoas (e lugares) que te fazem mal?

As relações são construídas por meio de trocas. Trocamos afetos e até mesmo interesses o tempo todo.

O psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate é categórico ao afirmar em vários dos seus livros que a diferença e a complementaridade de características pessoais pode atrair, mas o que perpetua uma relação saudável e de amor verdadeiro são as afinidades.

Todos sabemos que cada pessoa possui características de personalidade e atitudes genuínas que as faz ser exatamente o que são. Sendo assim, obrigar um outro ser a pensar como você é algo completamente disfuncional e improdutivo.

Por que você acha que o outro precisa concordar com você?

Os conflitos existirão em todas as relações: pais e filhos, namorados, casais, amigos, parceiros de trabalho, entre tantas outras possíveis.

Nos momentos mais difíceis, é necessário que as pessoas desenvolvam caminhos para coexistir. Isso acontecerá pelo viés do exercício da tolerância: quem é seguro de seus valores pessoais e escolhas, por exemplo, não precisa obrigar ninguém a pensar igual a si mesmo.

Hoje em dia, frente às demonstrações de intolerância que vivenciamos, o que mais fica evidente é a fragilidade de quem berra.

Quando não for possível um consenso as pessoas têm que concordar em discordar entre si.

A maturidade das relações passa por essa capacidade adaptativa de lidar com as diferenças, dando a elas o espaço necessário para criar uma relação de troca, mas sem permitir que elas constituam o centro da relação. Afinal, não são as diferenças que aproximam as pessoas e sim os assuntos, interesses, objetivos e projetos que venham a ter em comum.

Ou seja, as diferenças fazem o importante papel de trampolim para o amadurecimento da relação, uma vez que não existe conflito nas afinidades.

Tolerância e aceitação, entretanto, não justificam a permanência em relações abusivas. Sempre que nos sentirmos abusados em nossa essência devemos ter a percepção de que algo precisa ser revisto e, se for o caso, mudanças mais práticas devem acontecer. Situações de abuso, aliás, pedem mesmo medidas práticas e muitas vezes radicais, como o definitivo afastamento do abusador e limites inquestionáveis para evitar que o abuso se repita – por vezes, esses limites são de natureza jurídica, inclusive.

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O que prende alguém a um local ou pessoa que lhe faz mal?

Hábito, necessidade financeira, falta de estima. Qualquer que seja a resposta atual não justifica uma posição permanente. As perguntas são:

É assim que eu quero ficar?

O que precisa ser feito para que aconteça a mudança? 

Qual o primeiro passo que devo dar?

Como a vida melhora quando nos afastamos de quem nos faz mal.

Se tivermos clareza de investir realmente nas pessoas com que queremos permanecer  a médio e longo prazo,  poderemos direcionar o nosso melhor ao local certo.

Se conseguimos  fazer escolhas e trabalhar nas mudanças necessárias para nos afastarmos do que (e de quem) nos puxa para baixo, criaremos oportunidades de nos dedicarmos às relações verdadeiras, aquelas que de fato merecem todo o nosso investimento pessoal.

Se não for alguém que você não considere, não gaste seu tempo com explicações

Só quem realmente amamos ou a quem devemos alguma obrigação merece ouvir nossas explicações. Os demais, cabem perfeitamente no nosso silêncio.

Se for alguém que te destrata, afaste-se emocionalmente e, se possível, fisicamente também

Talvez a mudança necessária não seja possível hoje, mas você está fazendo algo concreto para mudar sua situação? Já pensou em pegar um papel e escrever um plano de vida a curto, médio e longo prazo e, junto a ele, anotar as mudanças e atitudes necessárias para que as coisas aconteçam de verdade?

Os conflitos  acontecem o tempo todo, mas a escolha de quais são necessários para a sua vida e em quais “batalhas” você quer entrar é o que fará toda a diferença em sua vida.

Não se desgaste ou entregue a sua intimidade para qualquer um. Suas lutas devem acontecer com e por quem também luta com e por você.

Você NÃO é você quando se apaixona?

Você NÃO é você quando se apaixona?

Imagine a seguinte situação: você está com muita fome. Deixou passar a hora certa de comer e agora sente seu estômago revirar, reivindicando algum alimento. Paralelamente, é provável que você sinta seu humor também começar a mudar. É seu corpo pedindo. Ou melhor, já praticamente implorando.

E você sai em busca de algo para se satisfazer. Qual a escolha mais provável: que você procure calma e conscientemente uma comida de qualidade ou que opte pela primeira coisa comestível e minimamente apetitosa que aparecer em sua frente?

E mais: que você mastigue tranquilamente cada bocada desse alimento e coma em quantidade moderada ou que engula após algumas rápidas e insuficientes mastigadas e termine comendo mais do que realmente seu corpo precisa?

Se essa situação acontece raramente em sua vida, tudo bem. Mas se você é do tipo que mantém uma rotina desorganizada e vive adiando a satisfação de suas necessidades básicas, é muito provável que você viva com fome e escolha, na maioria das vezes, comidas do tipo “fast” e “trash”.

Resultado: especialmente a longo prazo, nutrientes inadequados, falta de vitaminas, talvez gastrite, talvez sobrepeso, mau hálito, irritabilidade, pele suja, colesterol alto, entre outras várias possibilidades de consequências ruins.

Certo, não sou nutricionista e não é da sua fome física que quero realmente falar. É que outro dia, durante um atendimento, minha cliente soltou a seguinte frase:

Rosana, você já viu aquela propaganda do chocolate que diz que você não é você quando está com fome? Então, eu não sou eu quando estou envolvida, quando me apaixono!

E eu simplesmente a-do-rei a comparação! E para explicar a ela o quanto fazia sentido o paralelo da fome emocional com a fome física, falei coisas do tipo que escrevi acima, no início deste artigo.

Claro! Como humanos que somos, sentimos fome emocional também. Temos necessidade de alimentar nosso coração. Temos, inclusive, um profundo e genuíno desejo de sermos aceitos e amados.

E caso isso não aconteça, ficamos carentes, famintos de atenção. Nosso humor começa a mudar e saímos, rapidamente, em busca de algo para nos satisfazer. Mas, quanto mais demoramos a fazer isso, mais nossas escolhas serão parecidas com aquelas que fazemos quando estamos famintos de comida: “fast” e “trash”.

Ou seja, sem pensar, sem consciência, de forma impulsiva e, pior de tudo, optando pelo que nos faz mal em última instância. Engolindo encontros e relacionamentos que satisfazem momentaneamente, mas que, a longo prazo, nos desequilibram e até nos fazem adoecer, desta vez emocionalmente.

Agora, vem a pergunta que não quer calar! Quando somos bebês e sentimos fome, o que fazemos? Choramos! E o que acontece? O “tetê” chega saudável, rápido e quentinho, pelo menos na maioria dos casos, embora infelizmente nem todos os bebês tenham o privilégio dessa necessidade básica satisfeita.

E quando crescemos? Adianta chorar? Talvez sim, algumas vezes. Mas se você chorar toda vez que estiver com fome, seja de comida ou de atenção e carinho, rapidamente será descartada da roda de amigos e vai se tornar uma chata de galocha. Porque, convenhamos, você não é mais bebê e não deveria se comportar como um.

E o que seria crescer e se comportar como adulto? Bem, pode até chorar de vez em quando, mas em geral, ser gente grande é se tornar responsável pela própria alimentação. É você quem tem de saber, agora, a que horas deve se alimentar e com que tipo de comida, com que qualidade e quais são suas preferências saudáveis.

E, sobretudo, precisa ter o mínimo de disciplina e conhecimento para saber o que te faz bem e o que te faz mal. Não pode esperar para sair em busca do que nutre seu corpo e seu coração somente quando já estiver faminta, implorando, aceitando qualquer coisa, lambendo migalhas e se desnutrindo e destruindo aos poucos…

Por fim, se estamos falando de alimento emocional, é bom que você saiba: é você que se alimenta. E o alimento não é o outro. O outro pode ser uma deliciosa companhia. Pode ser uma agradável parte do ritual de se nutrir. Mas não é o alimento. Não pode ser.

Porém, se você insiste em ver no outro uma apetitosa coxa de galinha ou seu pedaço de pizza preferido ou ainda o chocolate no qual você é viciada, vai ter problemas! Não vai ser você! Vai ser uma pessoa desequilibrada, com certa aparência insana, que assusta o outro ao se aproximar feito bicho faminto.

Comece as e alimentar no ritmo certo. De 3 em 3 horas. Com conteúdos saudáveis, nutritivos e que te fazem bem. Descubra do que gosta. O cardápio é extenso: amigos, caminhar, teatro, ler, cursos,dolce far niente, meditação, música, dança, trabalho, organizar as gavetas, cozinhar, brincar, filhos, sobrinhos, viagem, família, oração, observar, olhar para si mesma, fazer tricô, consertar o carro, desenhar, criar, cortar a grama, conversar, visitar um asilo… E a lista iria bem longe!

Mas, pelo amor de Deus, você precisa parar de acreditar que o outro vai matar sua fome. Não vai. Não existem pessoas mastigáveis no cardápio. Não somos canibais. Não comemos carne humana e nem as emoções alheias para satisfazer nossa carência.

E pode apostar que, ao se alimentar, você será você mesma quando se envolver e se apaixonar. Forte, nutrida, vitaminada e gostosa! Você bem apetitosa para encontros e relacionamentos que vai escolher conscientemente, feito gente grande, pronta para dar e receber – e não para sugar o outro de canudinho e ainda passar mal depois…

A solidão é o meu momento de recarrego

A solidão é o meu momento de recarrego

Às vezes tudo o que eu preciso é de mim mesma.

Dou muito valor aos momentos que eu consigo estar sozinha, no meu canto, no meu ritmo, quieta, desconectada. Acompanhada de um livro, um café fresco, um chinelo velho…

Depois de uma semana corrida, de tanta gente falando, de tantas impressões de mundo, de tanto barulho dos carros, das ruas, dos bares, das notícias nas televisões e das mensagens no celular, é tão importante parar, acordar devagar, sem olhar a hora, os e-mails, a agenda.

Tão renovador deixar o meu corpo comandar o dia quando os pensamentos finalmente me dão um pouco de sossego e eu me permito respirar, comer devagar, dormir muito se precisar, cuidar do gato, tomar um banho longo, sentar na varanda com uma xícara de chá.

Eu gosto de ouvir o silêncio, de não estar em nenhum outro lugar a não ser neste momento, de não fazer nada e não pensar em nada, de não me afobar por querer da vida mais do que apenas isso mesmo.

Eu gosto de colocar as roupas pra lavar, de podar as plantas e colher amoras, de fazer um almoço criativo com as sobras da geladeira, de entrar no mundo da imaginação e escrever uma estória. Eu gosto de esquecer das horas e quando vejo, o dia foi embora, o dia passou como uma nuvem leve e levou com ele todo o sobrecarrego, todos os entendimentos de mundo, o que os outros pensam e ficou aqui dentro apenas eu mesma.

Sozinha eu me curo, eu me desintoxico, eu me recarrego, eu me esqueço do resto, eu ganho meu tempo com linhas de livros e não conversas sem sentido, eu me resgato, encontro o melhor de mim e aí então, volto a sentir prazer em me compartilhar com o mundo.

Ninguém vale a pena se você tem que insistir

Ninguém vale a pena se você tem que insistir

Estamos perdidos em imensidão. É tão grande o mundo e há tanto para se conhecer. Diante de tantas possibilidades, do quão infinitas são as nossas opções, é um desperdício – e uma afronta às oportunidades da vida – gastar tanta energia para tentar ficar ao lado de alguém que já mostrou que não te quer.

Por mais que a gente queira se enganar, hora ou outra a verdade vem feito furacão. Faz bagunça no peito, leva muito embora; mas fugir que não foi nada não é a solução. Em algum momento vai ter que olhar em volta, ver o tamanho do estrago e começar a colocar tudo no lugar.

Amor não correspondido é via de mão única. As tentativas só vêm de um lado e o outro é sempre o primeiro a querer descer do carro. E do que adianta trancar as portas e fazer a outra pessoa ficar lá dentro, uma vez que ela já tomou sua decisão? Você pode tentar ligar o rádio, colocar aquela música que a pessoa gosta, contar uma história para prender a atenção, mas é passageiro. É só um alívio momentâneo olhar para o lado e ver que a pessoa continua ali. Porém, os dois sabem que a viagem tem que terminar, vão acabar chegando no final do caminho e não há distração o suficiente para manter alguém que já fez as malas.

Deixe ir. Tem tanta gente na guia querendo uma carona.

Não importa o quanto você acha que alguém é incrível, porque no final do dia, o mais incrível vai ser fechar os olhos e se sentir em paz. É revigorante se livrar da sensação de batalha diária. Ninguém vale a pena se tira o seu sossego. É difícil aceitar que não conseguiu fazer morada no peito de alguém, mas não é à força que vai entrar lá. Se não foi, não foi. Olhe pra frente, siga o próprio caminho antes que esteja preso em tentativas falhas de cativar alguém.

Por mais que você queira muito que dê certo, não é o bastante. O outro também tem que querer. Pois o amor é essa constante renovação, todo dia se reinventa e está pronto para aguentar o que vier. Mas isso? Isso não é amor, é tortura. E essa insistência em fazer acontecer é pulo do abismo. Não compensa o esforço, deixe ir.

Não se torne aquilo que te feriu

Não se torne aquilo que te feriu

A vida nos dá rasteiras memoráveis, as pessoas nos decepcionam dolorosamente, enquanto nos deparamos com os inumeráveis nãos ao longo de nossa jornada. A dor fortalece e a tristeza nos serve como lição de como se levantar, seguindo sempre em frente. É preciso, pois, tornar-se mais gente a cada queda, a cada lágrima, caminhando na direção contrária de tudo o que nos feriu.

Infelizmente, porém, há quem se mantenha impassível, incapaz de mudar, teimando em manter-se imutável, lutando contra as lições que devemos colher diariamente, por conta da semeadura equivocada que operamos lá atrás. E resistir à mudança, a novos rumos, ao oxigenar de idéias, ao repensar o que acumulamos, de forma reflexiva, acaba por nos endurecer, tornando-nos insensíveis, tornando-nos o espelho de tudo e de todos que nos machucaram.

Tudo o que dá errado e todos que nos roubam devem sempre nos servir como exemplos do que devemos evitar, repudiar, distanciar, fugindo àquilo tudo, na direção oposta. Quanto mais teimarmos em seguir adiante com as causas de nossos desencontros, mais nos vamos assemelhando a elas. A força esmagadora das tempestades que enfrentamos jamais deverá ser mais forte do que a doçura da sensibilidade que guia e alimenta a nossa essência.

Se nos dão as costas, continuemos olhando nos olhos. Se nos oferecem o vazio, continuemos distribuindo imensidão. Se nos ferirem com palavras, continuemos elogiando quem merece. Se nos apresentarem máscaras, continuemos sendo quem somos, pois ninguém destrói e retira aqui de dentro os nossos sonhos mais verdadeiros, a nossa capacidade de amar com sinceridade e transparência.

É preciso coragem absurda para nos mantermos convictos quanto a tudo o que podemos fazer, doar, alcançar, pois a todo momento iremos ser testados, questionados, feridos e derrubados pela pequenez das misérias alheias. Entretanto, caso consigamos nos reerguer com força e dignidade após os embates das noites demoradas de nosso caminhar, estaremos cada vez mais prontos para desfrutar do amor que tivermos semeado, porque não deixamos de acreditar em nós mesmos.

A fofoca morre quando chega aos ouvidos da pessoa inteligente

A fofoca morre quando chega aos ouvidos da pessoa inteligente

Por Valéria Amado

O mecanismo sempre costuma funcionar da mesma forma: há um hipócrita que cria uma fofoca para que o fofoqueiro a espalhe e o ingênuo acredite sem resistência. A epidemia dos rumores só termina quando finalmente chega aos ouvidos da pessoa inteligente, que tem esse coração vacinado que não atende nem responde ao que não tem sentido.

No livro publicado pelo psicólogo social Gordon Allport, “A psicologia dos rumores”, ele explica algo realmente curioso: as fofocas servem para diversos grupos de pessoas criarem coesão entre si e para se posicionarem perante alguém. Por sua vez, essas atitudes lhes são prazerosas, liberam endorfinas e ajudam a combater o estresse.

A língua não tem ossos, no entanto, é forte o suficiente para machucar e envenenar através de fofocas e rumores. Um vírus letal que só desaparece quando chega aos ouvidos da pessoa inteligente.

Em muitos casos, a fofoca se transforma em um mecanismo de controle social que dá uma espécie de poder a quem a pratica. A pessoa se posiciona no centro das atenções desse grupo sempre receptivo a qualquer fofoca, a qualquer informação tendenciosa como forma de sair de suas rotinas e aproveitar esse estímulo novo como uma distração.

Assim como se costuma dizer, os fofoqueiros não sabem ser felizes. Eles estão muito ocupados camuflando suas amarguras em tarefas inúteis e supérfluas com as quais validam inutilmente sua autoestima.

A psicologia da fofoca implacável

A psicologia da fofoca e dos rumores é perfeitamente relevante hoje. Considere, por exemplo, o quão rápido um rumor bem fundado ou infundado chega a “contagiar” o mundo das redes sociais. A internet já é como um autêntico cérebro, onde os dados funcionam como neurônios interconectados para nos alimentar com informações que nem sempre são verdadeiras, nem respeitosas com os demais.

Enquanto isso, os especialistas em marketing e publicidade sempre costumam citar o caso do refresco “Tropical Fantasy” como exemplo da “fofoca fatal e implacável”. Colocado no mercado em 1990, o refresco obteve sucesso quase imediato nos Estados Unidos, até que de repente surgiu um rumor assustador e absurdo.

Dizia-se que estes refrescos baratos haviam sido criados pelo Ku Klux Klan para uma finalidade muito concreta. Seu baixo custo permitia que grande parte da população afro-americana de baixos recursos tivesse acesso a eles. Por sua vez, sua fórmula escondia um propósito obscuro: prejudicar a qualidade do sêmen dos afro-americanos para que não pudessem mais ter filhos.

Ninguém sabe por que ou quem incendiou a chama deste rumor, mas o impacto foi desastroso. A marca “Tropical Fantasy” levou anos para se recuperar, até o ponto de que ainda nos dias de hoje, não deixam de incluir pessoas negras desfrutando da bebida em suas propagandas.

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Não importa o quão delirante, infundada ou maliciosa foi a fofoca em si, pois conseguiu atacar a sensibilidade de um coletivo que desde então desenvolveu uma resistência ao consumo deste produto, apenas com base em um rumor infundado. Mesmo sabendo que não era verdade, a impressão emocional perdura. Este é o exemplo claro de uma das fofocas que foram mais difundidas.

Como se defender de fofocas e rumores

Queiramos ou não, a nossa sociedade está construída à base de relações de poder onde as fofocas e rumores são verdadeiras armas. As verdades manipuladas são úteis para muitas pessoas, pois conseguem se posicionar com elas e obtêm benefícios muito concretos.

Assim, é necessário que sejamos sempre os ouvidos inteligentes que agem como barreira, que freiam a maldade, o que não faz sentido, a informação falsa e a centelha deste incêndio que sempre almeja levar alguém com ela.

Por isso, e para compreender um pouco melhor estes processos psicológicos tão comuns nos nossos contextos sociais, propomos que você leve em conta estes pilares que sustentam a complexa psicologia da fofoca, do fofoqueiro e do ingênuo que acredita.

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A sabedoria popular sempre nos disse que para quebrar uma sequência, basta remover um elo. Se o rumor e a fofoca agem como autênticos vírus no nosso ambiente laboral, familiar ou no nosso círculo de conhecidos, é necessário se cercar de pessoas de confiança para que elas ajam como diques de contenção. Que usem seus ouvidos inteligentes para desarmar o que não faz sentido.

  • As fofocas são difundidas quando há alguém que deseja adquirir notoriedade às nossas custas. Diante dessas atitudes, podemos agir de duas formas: ou fazendo de ouvidos surdos diante do absurdo ou agindo com assertividade, colocando limites e deixando as coisas claras.
  • Temos que ter consciência de que em toda organização, comunidade de vizinhos ou em grupos de companheiros ou amigos, vai haver um “rumorólogo” oficial. Um amante das fofocas.
  • Temos que ser sempre íntegros, transparentes e não alimentar este tipo de atitude de espalhar o vírus do rumor ou da fofoca. Mas é importante saber que não é nada fácil desmascarar um rumor, as palavras nem sempre são suficientes, são necessários fatos contundentes para desmascarar e demonstrar a mentira desta fofoca.

As más línguas vão sempre nos acompanhar de uma forma ou de outra, então o melhor a fazer é sempre evitar ser uma delas e recordar que as fofocas são para as pessoas inferiores, e a informação para os ouvidos sábios.

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