10 filmes Para Refletir Sobre a Complexidade das Relações

10 filmes Para Refletir Sobre a Complexidade das Relações

Todos nós passamos por momentos delicados em nossas relações. Seja pela falta de diálogo, pela insegurança que nos assalta hora sim hora não ou pela dificuldade de decifrar o que realmente se passa dentro da gente. Às vezes não estamos usando as ferramentas certas, os óculos certos, o microscópio ou telescópio certos e não conseguimos enxergar bem o que o outro quer ou mesmo o que nós queremos.

Ainda bem que existe a arte para nos ajudar nisso, para transmitirmos e para recebermos aquilo que não conseguimos dizer nem explicar. Seja literatura, pintura, teatro e por aí vai, a arte nos fornece equipamentos de ponta para a interpretação daquilo que já de mais profundo.

O cinema faz parte desse conjunto e o que apresento aqui é uma lista de filmes que colocam em xeque tudo o que acreditarmos saber sobre o relacionamento afetivo e amor romântico. Confira:

Cenas de Um Casamento (1974)

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Lançado originalmente como uma minissérie para a TV sueca, o filme trabalha bem os aspectos da aparência social e externa do relacionamento – neste caso, do casamento entre Johan e Marianne. Ambos aparentam ser o exemplo de casal feliz, bem resolvido e bem sucedido, até que a visita de outro casal de amigos em crise expõe as rachaduras que Johan e Marianne fingiam não existir.

Este longa-metragem possui a densidade característica de Bergman e é um mergulho profundo nas águas do ressentimento e das intenções ocultas.

Amor Pleno (2012)

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O diretor americano Terrence Malick pode ser considerado descendente direto de Andrei Tarkovsky. Quase sem diálogos e filmado inteiramente com luz natural, o filme segue a proposta de construir narrativas por fluxo de consciência, iniciado em “O Novo Mundo” e aprimorado em “A Árvore da Vida”. Intercalando imagens da natureza, que funciona como espécie de dramaturgia paralela, “Amor Pleno” ensaia um olhar demorado na relação de um homem do interior dos Estados Unidos que leva a namorada francesa e a filha dela para morarem com ele. A partir daí, acompanhamos os lapsos de afeto, decepção, solidão e questionamento existencial que cerca cada um de nós.

A todo momento, somos impelidos a questionar intimamente os aspectos que caracterizam o amor romântico. Além disso, há também na história um padre que passa a questionar outro tipo de amor, convidando-nos a assistir sua discussão particular com o divino.

Latitudes (2014)

 

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Olívia e José são pessoas profissionalmente realizadas, viajando de uma parte para o outro do mundo, sempre a negócios. Depois de um primeiro encontro em Paris, eles passam a se encontrar sempre em um país diferente e aos poucos vamos conhecendo aspectos de suas vidas que voluntariamente omitem um do outro. O Filme foi lançado primeiro com uma websérie com oito capítulos, cada um com um destino diferente. Depois foi compilado e lançado em um único filme. Em cada um desses capítulos somos apresentados também à vida individual de cada um, decifrando melhor suas personalidades. O capítulo sete, de longe o melhor, é uma aula de roteiro que proporciona o momento mais significativo e catártico da trama.

Infiel (2000)

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Um filme arrebatador! Com grandes doses autobiográficas do explosivo e genial diretor sueco Igmar Bergman– que deixou o roteiro aos cuidados de sua discípula Liv Ullmann, responsável pela direção do mesmo depois da morte de Ingmar. O filme retrata o trágico caso entre Marianne, uma atriz bem sucedida e com um ótimo casamento, e David, o melhor amigo do também bem sucedido maestro Markus, marido de Marianne (sim, Markus e Marianne se amam e sim, eles são felizes no casamento).

Expondo de maneira dolorosa e angustiante afetos como desejo e culpa, o longa é uma verdadeira lição sobre a natureza trágica do amor romântico e também sobre a insuficiência da nossa condição humana.

Transylvania (2007)

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Este drama francês é sobre uma garota italiana que viaja com sua melhor amiga para a Transilvânia em busca daquele que ela acredita ser o amor da sua vida. Acompanhamos sua jornada e somos presenteados com imagens estonteantes de festas e lugares culturalmente ricos. Apesar de algumas surpresas ruins, a moça acaba por descobrir que pode estar no lugar certo e na hora certa. Afinal, o acaso também faz parte das relações.

Hiroshima, Meu Amor (1959)

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Atingindo o limite entre literatura e cinema, o filme precursor do movimento Nouvelle Vague conta a história de um caso amoroso entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês em plena Hiroshima dos anos 50. Primeiro filme a usar cenas de flashbacks, a produção é também uma profunda reflexão sobre o tempo e sobre a memória.

Dois grandes riscos aos assistir o “Hiroshima, Meu amor”: amar Nevers incondicionalmente e, se você for escritor ou roteirista, ser contaminado por um longo tempo pelo conjunto de relações formais do filme dirigido por Alain Resnais e com roteiro da escritora Marguerite Duras,  que mais tarde viria a ser laureada com o Prêmio Goncourt.

Closer (2004)

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“Closer” mostra a instabilidade emocional de quatro personagens. É um tapa na cara em muitos momentos, pois evidencia muitas das neuras, inseguranças e questionamentos que nós temos e que não somos capazes de expor ou admitir em nossos próprios relacionamentos. Muitos dos nossos próprios medos e desejos são eviscerados fria e calculadamente neste ótimo drama.

Annie Hall (1977)

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Embora tenha sofrido com uma tradução quase dantesca de tão ruim (o título foi traduzido e lançado no Brasil como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”), este talvez seja o retrato mais divertido e ainda assim sincero de uma relação amorosa de que se tem notícias. O curioso é que Woody Allen nunca quis fazer humor com o filme. Nele, acompanhamos o comediante neurótico Alvy, que começa a refletir sobre sua vida depois de terminar com Annie, ao mesmo tempo em que se envolve com uma garota muito mais jovem que ele.

Separações (2002)

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A comédia romântica de Domingos de Oliveira é outro exemplo de profundidade e bom humor. Cabral e Glorinha (nomes pra lá de rodrigueanos) resolvem dar um tempo do casamento, mas Cabral não cabe em si de revolta e ciúmes quando descobre que Glorinha se apaixonou por outra pessoa. Arrependido, ele faz de tudo para ter a esposa de volta e envolve em sua trama uma gama de outros personagens curiosos e interessantes. A questão aqui é: é realmente melhor se arrepender de ter feito algo do que de não ter feito?

Ela (2013)

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Sei que é lugar comum colocar este filme em listas deste tipo, mas creio ser necessário assim mesmo. É que não são todas as pessoas que conseguem captar a imensa solidão que permeia toda obra. Não é apenas sobre um homem que se apaixona e se relaciona por seu sistema operacional, é também sobre como estamos cada vez mais solitários no meio da multidão, sobre o desespero que silenciosamente toma conta de nós. Mesmo a tecnologia – com a qual nos relacionamos constantemente ou da qual fazemos uso para nos relacionarmos com outra pessoa que pode estar a quilômetros ou a metros de distância – pode agravar o isolamento antes de nos abandonar. Antes temíamos a solidão, hoje temos medo de companhias reais.

Cuide da sua vida que da minha cuido eu

Cuide da sua vida que da minha cuido eu

A maneira como lidamos com as críticas que recebemos diz muito sobre como somos. Não para quem nos observa através da crítica, mas para nós mesmos.

Se nos incomodamos profundamente com uma crítica, se sentimos raiva e desconforto é porque talvez, em nosso íntimo, concordemos com a crítica, mas não gostamos de admitir.

Quem está plenamente seguro de suas habilidades, potencialidades, personalidade, aparência e escolhas, ou seja, quem está com a consciência tranquila não costuma se abalar ao ouvir algo que não seja compatível com o que pensa de si mesmo e com o que faz. Simplesmente ignora o que ouviu, não sente necessidade nem de argumentar. Não sente necessidade de se explicar. E em alguns casos, até ri.

Ao passo que quem se incomoda com a crítica que recebe e tende a discutir, brigar, argumentar, chorar, pensar obsessivamente no que ouviu e/ou reproduzir a conversa para outros amigos – buscando apoio em sua causa! – demonstra temer que a crítica tenha algum fundamento.

Aprendemos com o senso comum que existem críticas construtivas e críticas negativas. Eu, particularmente, não acredito nisso. Acredito que toda crítica é construtiva quando feita por pessoas próximas, que nos amam e querem o nosso bem.

A diferença está na maneira de falar, no jeito de dizer, na abordagem e na capacidade de sentir empatia.

Se somos cuidadosos e elegantes com nossas palavras em todos os momentos de nossas vidas, se demonstramos (sentimos) empatia com o problema do outro, saberemos criticar com carinho. Mas se formos afeitos à violência, à deselegância, à total falta de empatia, o que teremos para oferecer será violência verbal.

Muitas pessoas confundem crítica com violência verbal. A violência verbal, sim, é negativa, pois visa denegrir, agredir, machucar, ferir. A crítica, não! Se usarmos a crítica a nosso favor – e ignorá-la, muitas vezes, é uma forma de usá-la a nosso favor, uma vez que reforça, ratifica o que pensamos sobre nós mesmos e nossas escolhas – poderemos extrair dela bastante aprendizado e crescimento.

No dicionário, uma das definições de crítica é “arte de criticar ou censurar”.

E quem é que gosta de ser censurado? A censura, de cara, sugere que estamos errados, não? Daí o desconforto! Errar não faz parte do nosso plano original (ser perfeito).

Ao sentirmos raiva de um amigo, irmão, namorado (a), tia, mãe, pai, papagaio ou chefe por uma crítica recebida, muitas vezes estamos sentindo raiva de nós mesmos, raiva por não termos sido suficientemente bons para ocultar o erro que eles teimam em esfregar em nossas fuças.

O mais proveitoso seria refletir, pensar nos motivos que despertaram o nosso incômodo, mas o que fazemos? Adotamos a filosofia do “mate o mensageiro”. Afinal, é muito mais fácil dizer (pensar) que o outro é injusto, grosseiro, perverso e invejoso, se afastar dele (ou travar uma batalha), reclamar do outro para os amigos, do que mergulhar no nosso medo de estar errado – quando mergulhamos nesse medo somos obrigados a repensar nossas escolhas, repensar nossa responsabilidade e, quem sabe, até, a mudar de atitude.

É preciso, sim, passar uma peneira em tudo o que ouvimos a nosso respeito, ao nosso estilo de vida, às nossas escolhas. Mas é preciso, também, saber ouvir o que (aparentemente) não nos convém – inclusive para ter a certeza se não nos convém mesmo ou não.

Quem se magoa, se decepciona, se frustra e se enraivece em demasia com uma crítica, não percebe que está reforçando para o outro e para si mesmo que existe fundamento na crítica. Matar o mensageiro não vai resolver o problema. Observar, avaliar, refletir, aceitar, enfrentar o medo e mudar, talvez.

Os cães ladram e a caravana passa, certo? Certíssimo! Mas para a caravana passar ela precisa estar com as carroças em dia, rodas fortes, e ter um bom condutor de cavalos segurando as rédeas: você.  Portanto, para não se abalar com possíveis latidos é bom mandar a carroça emocional para a revisão e ajustar as rodas da autoestima (autoimagem) antes de colocar o pé na estrada.

E para aqueles com quem não temos intimidade e não conhecem a nossa história de vida, nossas motivações, dores e alegrias, porém mesmo assim insistem em meter o bedelho onde não foram chamados, que tal sorrir e apenas dizer: “Você não está credenciado para falar sobre esse assunto”?…

Sou senhor do meu destino

Sou senhor do meu destino

“Todos nós morreremos um dia. Não podemos escolher como ou quando, mas podemos decidir como vamos viver. Então faça, decida, escolha. É esta a vida que você quer viver? É esta a pessoa que quer amar? É este o melhor que consegue ser? Você pode ser mais forte? Mais gentil? Mais compassivo? Decida. Inspire. Respire. E decida.” Meredith Grey

Nunca antes na história tivemos tanta opção e liberdade para escolher. Em um universo de inúmeras possibilidades e oportunidades escolher muitas vezes é complexo, e é comum que sejamos inundados e até paralisados pelas dúvidas. Acredito que isso acontece porque racionalizamos demais nossas escolhas. Talvez então a razão nem sempre seja a melhor ferramenta na hora de escolher.

O peso de nossas escolhas e nossa maneira de escolher muda muito conforme vamos amadurecendo. As crianças dominam a arte de escolher com o coração. Quando crescemos passamos a racionalizar toda e qualquer escolha, a pesar as consequências, a ter muitas dúvidas, a sentir culpa e remorso. Claro, não é uma boa ideia escolher sempre tão impulsivamente como uma criança, a maturidade é de fato um acervo valioso, mas é preciso sim aprender a equilibrar melhor essa balança.

A palavra coragem vem do latim “coraticum”, que literalmente significa “a ação do coração”. Muitas vezes coragem é aprender a escutar nossos desejos mais profundos, aquilo que nos faz bem mesmo que não tenha lógica alguma, ter coragem é aprender a escolher com o coração. Geralmente as escolhas mais autênticas são aquelas feitas pelo coração.

Todos os dias fazemos pequenas ou grandes escolhas que aos poucos vão escrevendo nossa história “a vida é ligar os pontos, mas só conseguimos ligá-los olhando para trás” disse Steve Jobs. Nesse processo, precisamos acreditar em nossos instintos, desenvolver segurança e confiança de que sabemos o que é bom para nós e escolher. Precisamos também conhecer nossas prioridades, segurança, amor, reconhecimento, dinheiro. Escolha a sua.

Para a psicologia, a chave para escolhas saudáveis está em ampliar nosso mapa mental. Temos que incluir nele um leque maior de possibilidades, para que exista mais flexibilidade na hora de decidir. Quanto mais “estreito” o mapa mental de uma pessoa, menos possibilidades caberão nas suas escolhas e mais limitadas elas serão.

Outro fato comum é acharmos que porque algo nos aconteceu no passado como consequência de uma escolha, todas as vezes que escolhermos parecido sofreremos as mesmas consequências. Tudo isso parece fácil de resolver na teoria, o problema é que temos “amarras” em nossos mapas mentais que nem sempre são conscientes. O esforço vem em desconstruir crenças engessadas e aumentar o campo de visão. Para fazer escolhas mais completas e saudáveis é preciso ampliar o mapa mental e aprender a analisar os fatos como eles se apresentam, com os recursos que existem no momento da escolha.

Conta a história que Thomas Edison falhou inúmeras vezes antes de inventar a lâmpada elétrica, quando questionado como se sentia por ter errado tantas vezes, ele respondeu “Eu não falhei, apenas encontrei 10 mil maneiras de como não se fazer uma lâmpada”. Por mais parecida que seja, nehuma escolha é exatamente a mesma, nenhum erro ou aprendizado são iguais. Cada situação, pessoa, cada escolha é única.

E na hora de escolher temos que levar em conta que não existem escolhas que tragam apenas boas consequências, tampouco existe uma escolha ideal ou perfeita. Aliás, o perfeccionismo pode ser muito prejudicial na hora de escolher. Escolher, na maioria das vezes nada mais é do que um ato de coragem, do que um grande jogo de sorte ou azar.

Escolher é abrir uma porta e fechar muitas outras, é ganhar oportunidades e perder tantas outras, é arriscar e apostar as fichas em algo que pode ser muito bom, ou não. Mas, de qualquer forma só existe uma maneira de saber. A sabedoria na hora de escolher vem ao lembrarmos que nada na vida é estático, permanente, e que podemos sim mudar de ideia, a qualquer momento; tomar novos caminhos, escolher diferente, melhor, pior. Arriscar. Errar. Acertar.

Liberdade para mim tem muito a ver com a proatividade ao escolher, pois se você não escolher, alguém fará suas escolhas por você. Quem não escolhe, é escolhido. Assim, caminhará pela vida passivamente, e me parece um desperdício de energia vital deixar que nosso destino seja traçado pelos outros. O poema “Invictus” termina com um trecho que levo como mantra e que me convida a fazer minhas próprias escolhas: “Eu sou o senhor do meu destino, eu sou o comandante da minha alma”.

Sejamos todos senhores e senhoras de nossos destinos e comandantes de nossas almas.

Decida. Inspire. Respire. Escolha.

Por um mundo com menos reclamação e mais gratidão

Por um mundo com menos reclamação e mais gratidão

Se te perguntarem como você está, mesmo com tanta coisa indo mal, diga que está bem, sinta que está tudo bem até que o céu fique azul, até que a simplicidade do olhar dissolva seus problemas.

Quando te perguntarem como vai o amor, a saúde, os planos, as finanças, não pense no seu bolso, nos seus desenganos, nos seus medos. Apenas diga e sinta que está tudo bem, sorria antes dos pensamentos virem vomitar os dilemas da vida. Acredite ou não, isso é uma revolução!

Acho que reclamar demais faz mal à saúde e contamina tudo em volta.

Reclamar demais pode ser um ato comodista e nada político. Prefiro aquelas pessoas que sempre sorriem e dizem que está tudo bem, apesar de todas as mazelas que as circundam. Eu acho que ver o peso e as sombras da vida cotidianamente, reclamando e empurrando os dias com a barriga, sem fazer nada para mudar é uma atitude que gera energias negativas no mundo. Reclamar demais corrompe nossas mentes, nos tornamos seres rabugentos, sem cor, cansados, andando pela vida como se ela fosse um fardo.

Acho que reclamar um pouco de vez em quando é bom, desabafar é importante para desacumular o que ficou preso no corpo, sem possibilidade de expressão, chorar e xingar pode ser ótimo para acalmar o coração.

Mas reclamar demais, todos os dias, é um comodismo, é um vício de alguém que não quer vasculhar o profundo de si mesmo, não está a fim de empreender grandes mudanças internas, fica nessa de regurgitar nos ouvidos alheios as mesmas chatices, as mesmas frases e histórias , fica nesse enredo manjado de falar mal da vida, de colocar a culpa em tudo e em todos. São pessoas que inventaram essa lente cinza de ver o mundo, e têm mania de nunca estarem satisfeitas, mas também não ousam fazer nada para mudar.

É mais fácil reclamar, falar dos problemas do que encontrar e colocar em prática soluções. É mais fácil despejar nos outros as culpas e ficar na posição de vítima. É mais fácil dizer que a vida não tem sentido do que tentar mudar a estrutura do próprio pensamento e encontrar por aí belezas acessíveis. É mais fácil se adaptar a uma realidade, se ajustar aos roteiros predestinados, do que ter criatividade e coragem para trilhar outros caminhos.

Falta gratidão, flexibilidade e deslocamento no olhar! A gente tende a cuspir no prato que comeu ou a fazer descaso com a vida, sem perceber os tantos presentes que recebemos, os aprendizados, as sabedorias. Focamos nossa atenção na dor, na falta, no que ainda não veio, no que ainda não somos e não temos. Esquecemos de perceber que a vida não precisa ser um caminhar sem sentido, esquecemos de perceber que não são os grandes acontecimentos que colorem nossos dias, esquecemos de olhar nossas tristezas com carinho, e as nossas realizações com ritos e festas, esquecemos de dizer bom dia para o vizinho e agradecer os encontros inusitados, o motorista do ônibus, a flor que nasceu no asfalto…

Eu acho que falta gratidão, falta paixão, falta amor. Não necessariamente você precisa sair nas ruas e mostrar sua voz e seus descontentamentos. Manifestação começa por dentro. Acho que a gente pode fazer grandes revoluções internas que vão inundar e atingir as pessoas à nossa volta. Eu acho que a gente pode escolher ser feliz agora, sorrir, gostar mais de si mesmo, cuidar do corpo e da mente.

Acho que a gente pode escolher tratar uns aos outros com carinho e não com raiva e frustração. Acho que a gente pode assumir a responsabilidade do nosso próprio estar no mundo. A gente pode dizer ‘não’ para os excessos no trabalho, para os abusos nos relacionamentos, para estilos de vida que acabam com os nossos bons sentimentos.

A gente pode escolher dançar a própria dança, aquela que vem da alma e que foge do que os olhos dos outros vão dizer.

A gente pode escolher ser mais feliz, ser menos julgado, mandar um foda-se para o recalque alheio.

E assim, a gente pode viver mais sereno, pleno e consequentemente fazer mudanças na nossa alma e no nosso mundo. É isso que eu chamo de micropolítica: o autoconhecimento em prol de uma sociedade mais harmoniosa.

Espero que a gente aprenda a reclamar menos e a agradecer mais, pois a vida está aí para ser degustada pelos sentidos de quem sabe apreciá-la.

Nossa vida não é um livro aberto. Tem coisa que ninguém precisa saber.

Nossa vida não é um livro aberto. Tem coisa que ninguém precisa saber.

Ahh… eu tenho tanta inveja de quem se envaidece de não ter o que esconder. Gente que bate no peito e declara: “minha vida é um livro aberto”, como um salvo conduto para alardear o que faz de certo e o que não faz de errado. Eu tenho muita inveja dessa gente impecável.

Quem dera minha vida fosse um conjunto de fatos louváveis, perfeitos, exemplares. Gestos lapidares comentados com admiração em todo canto. Mas não é, não. Eu tenho muito o que não mostrar. Meus preconceitos e intransigências, minhas ranhetices e mediocridades. Minhas pequenezas inevitáveis, minhas vergonhas e meus pecados.Tem coisa que só interessa a mim. No máximo, a uma ou outra alma disposta a folhear minhas páginas e depois fechar o livro de novo, com fastio ou com repulsa.

Ainda que a perfeição me fosse franca, Deus me livre de exibi-la por aí como quem busca um prêmio. Contar pra quê? Guardo comigo. Bem diziam a minha avó e a sua: em boca fechada não entra mosca. E de lá também não sai o que não tem de sair.

O universo que me perdoe, mas gente autorreferente e cabotina, sempre afeita a repetir elogios a si mesma, me dá náusea. Vão me desculpar os falastrões, mas quem divulga de graça o que faz de bom, quem se orgulha de uma canalhice e quem começa uma frase dizendo “eu costumo dizer que…” não merecem um pingo de confiança. Dão em mim uma vontade imensa de sair correndo até bem longe, para fora do alcance de quem se acredita tão importante a ponto de citar a si mesmo e a relevância do que “costuma dizer” por aí.

Nossa vida não é um livro aberto, não. Tem coisa que ninguém precisa saber. Contar em todo canto o que ninguém perguntou, para agradar ou atacar, é nada senão uma medonha chatice. Diferente do que pensa sobre si mesmo, um linguarudo não é alguém interessante e admirável. É uma criatura antipática e enfadonha. Um livro que, embora escancarado, ninguém quer saber de ler.

Por uma vida com mais motivos para achar graça e perder o fôlego

Por uma vida com mais motivos para achar graça e perder o fôlego

A rotina em excesso pode configurar uma droga lícita com altos poderes viciantes e até letais. Tudo em nome de uma tal de “excelência”. Mas que porcaria é essa, afinal?
Vivemos sendo assediados por “métodos para melhorar a performance”; “coaching para turbinar a vida financeira”; “bônus para bater as metas no final do mês”; “treino de crossfit para derreter todas as gorduras do corpo”; sem falar naqueles “métodos infalíveis para ser popular, desejável e exercer seu magnetismo pessoal”.

Ufa! Não há quem aguente um bombardeio desses, sem sair com alguns pedaços – físicos, mentais, e espirituais – perdidos por aí, enquanto se tenta infrutiferamente ganhar o prêmio de: o maior, o mais rápido, o mais bem-sucedido, o mais forte, o mais bonito, o mais foda.

Tem, por exemplo, o caso daquele cara que se matou de trabalhar para ter uma casa chique com piscina naquele bairro super classe alta da cidade, onde o metro quadrado é mais caro que uma viagem à praia (ah, sim essa comparação procede). Acontece que o cara comprou a tal casa. Mora lá há dez anos, e nunca, NUNCA deu um único mergulho na maldita piscina. Por quê? Porque não tem tempo nem de se coçar, imagine de nadar.

Se o cara obcecado pela casa com piscina tivesse dado a si mesmo o direito a alguns fins de semana na praia, numa pousadinha despretensiosa mesmo, muito provavelmente não teria conseguido adquirir a citada propriedade, mas também, muito provavelmente, seria mais feliz.

Sim, é claro que algum tipo de rotina é indispensável, ou inevitável. A maior parte de nós, responde pelo próprio sustento. Alguns de nós, responde, além do próprio, pelo sustento de outros. E, é bem verdade, que quase tudo nessa vida custa dinheiro. E também é bem verdade que dinheiro ainda não dá em árvore. Logo, temos hora para acordar, horas a trabalhar, temos que comer, dormir, tomar banho, atender necessidades físicas inadiáveis. Só aí, já se vai quase o nosso dia inteiro, percebe?

Portanto, seria no mínimo algo a se considerar, trabalhar em algo que nos trouxesse alguma coisa além de apenas dinheiro; que a gente pudesse acordar tendo o prazer de um “bom dia” amoroso e gentil; que a gente tivesse a delicadeza de levar à boca algo que seja mais do que alguma “gororoba pronta e processada”; que ao dormir, tivéssemos a leveza psíquica necessária para sonhar e deixar vir à tona, nossas inúmeras vontades reprimidas; que o banho fosse um momento de lavar o corpo e o peso invisível das cobranças e obrigações; e que as nossas necessidades físicas fossem atendidas, porque tem gente que – PASME! –, segura o cocô e o xixi, porque não teve tempo de ir ao banheiro! Como assim?!

Mas, de verdade, tudo isso pode ser revisto, revisitado e transformado. Se no meio de toda essa pressão, a gente achar um jeito de viver, apenas viver. Isso já é alguma coisa. E viver, passa por permitir-se aquelas coisas lindas que fazem a gente achar graça em estar vivo.

Sim! Rir ainda é um dos remédios mais milagrosos deste mundo. E além de um sorriso no rosto, quem sabe a gente não arranje coragem para uma extravagância, algo que nos tire o fôlego… tipo um beijo dado na curva da orelha, sem nenhuma pressa, sabe?

Ahhhh… você sabe! Você sabe. E eu também sei. Que a vida que a gente leva, é a vida que a gente acredita merecer. E, sim haverá momentos difíceis. E crises. E alguma doença que nos tire o sono. Não há como evitar as dificuldades e as más surpresas. Mas, é nosso dever e direito, cuidar para que nossa vida não se resuma a isso. Viver é maior! É mais bonito, quando esperamos da vida o presente que mais secretamente desejamos, e acreditamos que somos merecedores de recebê-lo!

As diferenças entre ser solitário e estar sozinho

As diferenças entre ser solitário e estar sozinho

Não importa com quantas pessoas nos relacionamos, diariamente ou sazonalmente, todos nós nos sentimos sozinhos, em várias circunstâncias da vida, por períodos curtos ou prolongados, com menor ou maior intensidade.

Mudanças de residência, alterações no estilo de vida, novos hábitos, trocas de emprego, rupturas de relacionamento, transferências de escolas ou universidades. Por algum tempo, nós caminhamos com determinadas pessoas no curso da vida. Porém, quando fazemos desvios de rota durante o caminho, muitas delas não nos acompanham, ou delas nos afastamos, por incontáveis motivos: longa distância, desinteresse, perda de afeto, falta de comprometimento, indiferença, ódio, ressentimento, inveja. Que seja.

Parece que, quando passamos por certas transformações, para o bem ou para o mal, para benefício ou prejuízo, somente em seguida conseguimos identificar as pessoas que realmente sentem nossa falta e, dentre essas, aquelas especiais que, naturalmente, permanecem em nossas vidas de forma incondicional.

Cedo ou tarde, bem resolvidos ou não, descobrimos que somos indignos da lembrança da maioria de quem já nos relacionamos, mas honrados pela minoria que nos é preponderante.

O grupo de pessoas que se mantêm próximo a nós – apesar dos ocasos da vida – será maior ou menor dependendo da nossa capacidade de diferenciá-lo dos grupos restantes.

No curso da existência, e para seguir em frente, muitos devem ser deixados para trás, quando não prosseguem por própria deliberação. O problema é que alguns acabam acometidos pela solidão, ao invés de compreender que as suas melhores companhias são só reconhecidas, de fato, após diferidas das piores. É como um processo de eliminação, ao final do qual se sente sozinho quem julga que quantidade vale mais do que qualidade.

Não que devamos ser prepotentes ao selecionar apenas aqueles que pensamos ser menos ruins do que nós, mas sim abraçar quem aceita integralmente as nossas diferenças e não nos crucifica apesar de todas as piores considerações possíveis.

É fácil gostar de alguém quando os interesses são iguais, os costumes e valores são parecidos e os objetivos são os mesmos. Difícil é gostar de alguém apesar das escolhas e ações confrontantes. Em geral, as pessoas agem por próprio interesse. Engraçado como uma grande massa da população evita a solidão, mas age como se a superestimasse.

Há pessoas que se sentem solitárias apenas quando estão sozinhas, e aquelas que se sentem solitárias o tempo todo. Algumas personalidades são inclinadas à introversão extrema, enquanto outras vertem à extroversão aguda, mas a grande maioria delas não é propensa a uma coisa nem outra, e sim à ambiguidade da ambiversão, em que ora desejamos estar sozinhos, ora ansiamos por contato com outros, estando isolados ou acompanhados (para mais informações).

Nós compramos a ideia de que estar sozinho é um mal a ser evitado a todo custo. No entanto, não existe uma alma viva que não precise solicitar ao menos alguns instantes de solidão. A socialização também sufoca se não for aliviada.

Uma vez disse o excelentíssimo escritor Charles Bukowski:

“A solidão é algo que nunca me incomodou, eu sempre tive essa coceira terrível por ela […] Solidão real não está necessariamente limitada a quando você está sozinho.”

Há obstáculos demais ao reconhecimento do valor da solidão. Em 1654, o cientista e filósofo francês Blaise Pascal escreveu:

“Todos os problemas da humanidade resultam da incapacidade do homem de sentar-se calmamente em uma sala sozinho.”

Ora, o desejo de estar sozinho acompanha a si mesmo. Mas, como o prazer decorre da falta, a satisfação da própria companhia nunca é duradoura – na verdade, é sempre menor do que se pensava –, e por isso deve ser constantemente renovada.

Estar sozinho é, antes de qualquer coisa, uma escolha, e essa deve ser feita tendo-se a consciência de que a solidão é uma provável consequência.

É ridícula a atribuição popular de que uma pessoa que escolheu estar sozinha deve ser solitária, ou, então, deve ter algo de errado: essa estupidez do senso comum é infestada em uma sociedade que enfatiza casais como símbolos de satisfação final.

Muitos não se sentem sozinhos quando estão sozinhos, pois estão repletos de uma vida suficientemente enérgica, a sua própria, na qual permanecem conectados de várias formas. Para esses, há um forte senso interno de autoestima, vitalidade e esperança. É claro que é necessário e prudente se reforçar na coletividade, mas a verdadeira força motivacional advém de si, uma vez que não pode ser ajudado ou inspirado aquele que não quer ser ajudado ou inspirado.

Passar o tempo sozinho é mais divertido se for por opção. Quando se está realmente ligado a si mesmo, percebe-se uma potência internalizada tão forte que repercute para muito além da interioridade.

 

Em suma, há pessoas que se sentem solitárias quando estão sozinhas, e há aquelas que optam por estar sozinhas, mas não são necessariamente solitárias.

Atualmente, em um mundo digital globalizado onde, diariamente, há 24 horas de conectividade, é surpreendente saber que muitas pessoas sofrem de solidão? Não. Essa solidão se torna cada vez mais evidente com a influência da tecnologia. Há desculpas suficientes para se evitar contato presencial, e motivos o bastante para se buscar mais conexões líquidas.

O advento tecnológico possibilita inúmeras oportunidades de relacionamento em vários espectros – social, romântico, profissional – mas elas não são mais aproveitadas hoje do que em outrora, salvo exceções. A interação online menos aproxima semelhantes do que os divide.

Hoje em dia, a ânsia por interatividade social esbarra na necessidade de autocentrismo. Para algumas pessoas, experimentar a solidão é como assistir a um filme de terror: procura-se o medo como método de prazer e entretenimento.

Enquanto a solidão pode estimular a criatividade, imaginação e promover maior capacidade de foco e concentração, também pode gerar consequências mortais. Uma pesquisa de 2013, publicada na revista Psychological Science, revelou que pessoas que preferem isolamento social a interatividade presencial têm probabilidade de morte 26% maior do que aqueles que preferem estar cercados de outras pessoas. Isolamento social e viver sozinho foram dois fatores considerados como mais devastadores para a saúde do que ser solitário. Isso é óbvio. A mortalidade é solitária. Mas e se a vida também for, qual o problema?

Sozinhos, não temos ajuda em situações de necessidade emergencial, não compartilhamos experiências, não maximizamos oportunidades, não procriamos, não desenvolvemos. Somos passíveis de definhar. Tudo bem que, independente de nosso grau de convívio social, morremos sozinhos. Entretanto, essa sina pode ser esquecida, se em vida tivermos a sabedoria para aceitá-la, o que requer desprendimento do ego. Isso faz com que a solidão deva ser justificada socialmente, do contrário é vista como sinal de anormalidade.

A solidão é tão demonizada que a escolha de estar sozinho é percebida como uma apologia à decadência.

A escritora Olivia Laing, em sua obra The Lonely City: Adventures In The Art Of Being Alone, diz o seguinte:

“A solidão é difícil de confessar, difícil demais para categorizar. Assim como a depressão, um estado com o qual muitas vezes se cruza, a solidão pode ser encontrada no fundo do tecido de uma pessoa, constituindo uma grande parte de nosso ser, como rir com facilidade ou ter o cabelo vermelho. Então, novamente, pode ser transitória, cíclica e reacionária às circunstâncias externas, como a solidão que segue na esteira do luto ou na mudança de círculos sociais. Da mesma forma que a depressão, tristeza ou inquietação, a solidão também está sujeita à patologização, de ser considerada como uma doença.”

Na espécie humana, depende-se de outros para sobreviver, desde muito antes do nascimento. Somos criaturas sociais que necessitam de outras para prosperar, inevitavelmente, por mais que existam relacionamentos degradantes.

Além das diferenças entre ser solitário e estar sozinho, muitas pessoas também alegam interesse em saber as distinções entre solidão e solitude, se por um erro de cálculo acharem que são a mesma coisa.

Paul Tillich, um filósofo da religião, afirmou em seu livro The Eternal Now:

“A linguagem criou a palavra ‘solidão’ para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra ‘solitude’ para expressar a glória de estar sozinho.”

Solidão é o afastamento que vem de uma expectativa não atendida. Solitude é encontrar um senso particular de autonomia e liberdade a partir de um sentimento não correspondido. Solidão é uma forma de abandono emocional. Solitude é estar física e emocionalmente livre. Solidão é querer buscar distrações para suportar o vazio das horas. Solitude é esquecer as distrações. Solidão causa culpa e arrependimento. Solitude cultiva amor próprio e deleitamento. Solidão provoca uma sensação de desconexão. Solitude é um efeito da autoconexão. Solidão é chorar sem ninguém ouvir. Solitude é sorrir em silêncio. Solidão depende de alguém para felicidade. Solitude encontra felicidade em si. Solidão é desejar o inexistente. Solitude é aproveitar o que existe. Solidão gera medo e pavor. Solitude promove paz e tranquilidade. Solidão é desencontro. Solitude é encontro. Solidão é corrosiva. Solitude é reparadora. Solidão é tédio. Solitude é entretenimento. Solidão é angústia. Solitude é serenidade. Na solidão, acuamo-nos. Na solitude, exaltamo-nos.

Em seu livro Alegria: A Felicidade Que Vem de Dentro, o orador e escritor indiano Osho afirma que, quando estamos sozinhos, insistentemente costumamos procurar alguém ou alguma atividade para preencher o vazio do tempo. Ansiamos por algo que não existe mais ou, em alguns casos, nem mesmo existiu. Esperamos que uma pessoa, uma empresa, um lugar fará silenciar os gritos de viver apartados. Essa solidão configura um estado de espírito negativo, em que buscamos mais do que precisamos, e queremos nos sentir mais significativos do que achamos ser. Agimos, assim, como eternos insatisfeitos.

A solitude, por outro lado, é um estado de espírito positivo, uma condição muito gratificante de estar. Há uma regularidade de prazer, mesmo que não seja intenso. Basicamente, é não saber explicar por que se está feliz.

Digamos que, para uns solitários, o preço de investir em si mesmo é maior do que suportam. Se os riscos não compensam os benefícios, a solitude passa a ser solidão.

Segundo a editora do site Psychology Today, Hara Estroff Marano:

“Como o mundo gira cada vez mais rápido – ou talvez ele só pareça assim quando um e-mail pode viajar ao redor do mundo em frações de segundos – nós, mortais, precisamos de uma variedade de maneiras para lidar com as pressões resultantes. Precisamos manter uma aparência de equilíbrio e algum sentido de que estamos a governar o navio de nossas vidas. Caso contrário, nos sentimos sobrecarregados, reagimos de forma exagerada a pequenos aborrecimentos e pensamos que nunca podemos alcançar nada. Uma das melhores maneiras de lidar com tudo isso é procurar, e aproveitar, a solitude.”

Muitos se sentem envergonhados por sentir-se sozinhos, especialmente quando esse sofrimento é comparativo com o dos outros. Essa vergonha nasce no reconhecimento de que isolamento social é prejudicial à saúde física e psicológica, mas também de uma compreensão errada sobre solidão, a de que é uma ameaça iminente. Também é comum (e precipitado) associar que uma pessoa solitária seja mais distante, estranha, egoísta, frívola ou insensível do que aquela que mantém vínculos afetivos altruísticos.

Sentimentos de solidão costumam emergir principalmente após término de relacionamentos: amizade, trabalho, romance. Não mais existe o contato que se tinha, e queremos que retorne. Queremos tanto que isso nos afeta catastroficamente. É uma falha de desapego. Assim, solitários, esperamos que o próximo passo seja superar essa triste sensação insuportável de isolamento.

Todavia, antes de iniciar um novo relacionamento, seja qual for, devemos estrategicamente reconhecer a felicidade em nós mesmos. Se não a identificamos, é porque faltaram três coisas: autoconhecimento, gratidão e desejo de vontade.

Se, solitários, procuramos alguém só e somente só para suprir um vazio existencial da perda ou da falta, estamos investindo numa relação fadada à derrocada final: solidão.

Não há nada que possa fazer evitar o vazio da existência, a não ser que se conviva com isso sem se enganar. Ninguém deveria começar um relacionamento enquanto está solitário: essa é uma receita para o desastre.

Uma vez que estamos sozinhos e sinceramente felizes em estar sozinhos, sem sentirmo-nos solitários, curtindo a solitude, somos capazes de construir (e manter) relacionamentos com irmãos e amados.

Por estarmos sozinhos, às vezes sentimos carência, e então pensamos que outro alguém poderá suprir a falta. Essa possibilidade é tão atrativa que as pessoas se agarram a ela com unhas e dentes. Mas não deixa de ser um perigo. Ao buscarmos suprir um vazio interno em outra pessoa, através de uma relação amorosa, por exemplo, talvez tornemo-nos dependentes dela a um nível que, passada essa relação de dependência, ampliamos o vazio. Dessa maneira, é mais sensato que dois inteiros se aliem do que duas metades se complementem.

A cura para a solidão não está em encontrar alguém, não necessariamente. Muitas das coisas que nos afligem, como ser solitários, são, na verdade, resultados de forças maiores do que estigma, carência e exclusão, que podem (e devem) ser resistidos. A solidão é pessoal e filosófica.

Em seu livro Loneliness: Human Nature And The Need For Social Connection, William Patrick e John Cacioppo discutem suas descobertas a partir de pesquisas sobre pessoas que se subvertem à solidão. Um achado é que as pessoas solitárias não discriminam direito enquanto estão fazendo comparações sobre o que é verdade entre elas e o resto do mundo. Suas lentes são subjetivas como a de qualquer um, mas também distorcidas. Não reconhecem beleza, valor e competência em si próprias da mesma forma que percebem tais atributos nos outros.

Outro achado dos autores é que uma pessoa acometida pela solidão por extensões consideráveis de tempo tem sua capacidade de empatia e autocompaixão prejudicada; a dor da solidão as priva disso ao consumirem-nas silenciosamente. A solidão dirigida se transforma em entendimento humano precário. Necessitamos de conexões sociais, do contrário, cedemos à selvageria. Segundo Patrick e Cacioppo:

“Qualquer que seja a sensibilidade individual, o bem-estar sofre quando a nossa necessidade particular de conexão não é cumprida.”

Bom, não é preciso estar sozinho para se sentir assim. Alguém sozinho num deserto há 200 dias obviamente perderá a noção de que é preciso se isolar. A necessidade de solitude aparece em meio à multidão, mas é suprida fora dela.

A dor de ser solitário ressoa no peito de forma consistente. São sensações que perduram por mais tempo do que se espera. Normalmente, esses sentimentos são mais proeminentes quando perdemos alguém ou algo que nos oferecia uma razão de viver. É excepcionalmente importante lembrar o seguinte: o fato de uma pessoa ser solitária não quer dizer que ela vá deixar de o ser quando reencontrar essa razão de viver. A solidão é pessoal e filosófica.

A escolha de estar sozinho acompanha uma responsabilidade deletéria por sustentar essa condição, do que se percebe que independência pode ser ilegítima. Na realidade, o indivíduo que se considera (ou é considerado) independente nunca poderá negar que dependeu da ajuda de outros, poucos ou muitos, para construir seu império. Ele até pode se convencer com a ideia de pertencimento total, contudo, essa ilusão pesará na sua consciência, até que deixe um legado significativo o bastante para se julgar merecedor do que lhe foi legado.

Evidentemente, existem aqueles momentos em que estar sozinho cruza o caminho de ser solitário. Esse caminho se divide em vários trechos, nos quais precisamos decidir para onde seguir. E nos confundimos, muitas vezes, ao fazer essas escolhas.

Há múltiplas pessoas que absolutamente adoram a ideia de permanecer sozinhas, valorizando seu silêncio e admirando suas introspecções criativas. Uma autora britânica chamada Sara Maitland escreveu um livro, How To Be Alone, no qual relatou:

“Eu me tornei fascinada pelo silêncio; pelo que acontece ao espírito humano, a identidade e personalidade quando a conversa para, quando você pressiona o botão de desligar, quando você se aventura nesse enorme vazio. Eu estava interessada no silêncio como um fenômeno cultural perdido, como uma coisa de beleza e como um espaço que havia sido explorado e usado uma vez ou outra por diferentes indivíduos, por razões diferentes e com resultados radicalmente diferentes. Comecei a usar minha própria vida como uma espécie de laboratório para testar algumas ideias e ver o que senti. Quase para minha surpresa, descobri que amava o silêncio. Ele me convinha. Eu estava ávida por mais dele. Na minha busca por mais silêncio, eu encontrei este vale e construí uma casa nele.”

Maitland ressalta que, em geral, a palavra “solitário” implica em infelicidade. É como se o contrário – ser sociável implicar em felicidade – fosse verdadeiro, e sabemos que nem sempre é. De acordo com a autora, “vivemos em uma sociedade que diz que quem está sozinho é, de alguma forma, uma pessoa que falhou como humano”. Mas é preciso falhar para ser humano, não uma, duas, mas infinitas vezes.

A grande maioria talvez discorde, mas estar sozinho pode ser uma das experiências mais poderosas de uma vida inteira. Só que, se deixarmos a solidão nos consumir, perderemos a chance de experimentar desse poder. E, ao perder essa chance, nos tornamos mal acostumados à singularidade.

Apesar de a solidão nos forçar a encontrar um sentido existencial em outras pessoas, sempre seremos capazes de encontrar tal sentido em nós mesmos, se estivermos dispostos a encontrar-nos, o que envolve sofrer e aprender.

Ter tempo para estar sozinho não significa que se estará sozinho para sempre. Quanto mais tempo trabalhamos a confiança na solitude, menos dependente estaremos de fontes externas.

Em seu livro Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração, o médico, psicólogo e psiquiatra austríaco Viktor Frankl relata suas tocantes experiências de trabalho como escravo nos campos de concentração nazistas, compreendidas por três longos anos. No ínterim desse tempo, ele conta que nunca se sentiu tão sozinho na vida. Para sobreviver, no entanto, Frankl reuniu uma força motivacional tão extraordinária que foi capaz de encontrar significado a partir de um sofrimento inimaginável (saiba mais).

Nietzsche, por exemplo, acreditava que abraçar a dificuldade é indispensável a uma vida cheia de sentido, e pensava que a solitude, se bem aproveitada, nos permite galgar a existência até o fim. Segundo o filósofo:

“Ninguém pode construir uma ponte sobre a qual você, e somente você, tem que atravessar o rio da vida. Pode haver inúmeras trilhas, pontes e semideuses que de bom grado o ajudam a atravessá-lo, mas apenas ao preço de penhora e renúncia a si mesmo. Não há um caminho no mundo que alguém pode andar além de você. Aonde isso vai levar? Não pergunte, ande!”

Imagem de capa: Warpboyz/shutterstock

Não consegue superar um problema? Parar de falar sobre ele pode ajudar

Não consegue superar um problema? Parar de falar sobre ele pode ajudar

“Eu devia fazer isso”. “Eu devia fazer aquilo”. “Preciso parar de pensar nisso”. “Preciso parar de lembrar daquilo”. “Não quero mais pensar nisso”. “Durmo e acordo pensando nisso”. “Preciso encontrar uma forma de resolver isso e quanto mais eu penso menos encontro a solução”.

“Por que, simplesmente por que, não consigo parar de pensar nisso”?

Simples: porque sua mente está tentando proteger você.

Toda neurose, toda ideia obsessiva, é um mecanismo de proteção.

Nos apegamos a dramas, dores e problemas corriqueiros para não fazermos contato com o que mais tememos, com emoções e situações que nos parecem ameaçadoras.

É natural ficarmos tristes após o rompimento de uma relação. É natural nos preocuparmos com a nossa saúde. É natural temermos perder o emprego em tempos de crise, assim como é natural temer a perda de um ente querido.

No entanto, quando permitimos que esses receios tomem conta do nosso dia e se repitam a cada pausa que fazemos para o café, durante o banho, durante as refeições, no trânsito – fazendo com que nossas noites sejam mal dormidas – nos tornamos reféns de nossas ideias obsessivas.

Existe um ditado popular que diz: “Se não consegue superar um problema, ao menos deixe de falar sobre ele”.

O psicanalista Contardo Calligaris escreveu sobre este assunto no artigo “Palavras de amor”:

“Os sentimentos funcionam como picadas de mosquito, que coçamos e recoçamos até que se tornem feridas infectadas e, às vezes, septicemias generalizadas (quem sabe fatais). Salvo um exercício difícil de autocontrole, qualquer picada pode adquirir uma relevância desmedida: a gente tende a se coçar muito além da conta porque descobre que se coçar não é um alívio, mas um prazer autônomo em si. (…)  Basta se calar um pouco, assim como é suficiente não se coçar para que as picadas de mosquito parem de incomodar”.

Lembrando que sentimentos podem se tornar pensamentos e pensamentos podem se tornar palavras ou ações como, por exemplo, escolher ouvir todos os dias aquela maldita música de cortar os pulsos somente para coçar a ferida de algum abandono.

Mas nós não procuramos sarnas para nos coçar porque queremos e sim porque ao nos distrair com a coceira, deixamos de pensar no que realmente nos angustia.

É muito melhor sofrer por um amor perdido, por exemplo, do que pela sensação incômoda de não estar conseguindo atingir os próprios objetivos e sonhos traçados. A dor de amor é conhecida, todos nós já a experimentamos e, por mais que estejamos no fundo do poço, sabemos que ela passa. Já encarar o medo do fracasso nos olhos e ser obrigado a assumir a responsabilidade pelo caos que está a nossa vida, aí são outros quinhentos.

Quanto mais uma ideia se torna repetitiva, obsessiva, quanto mais você pensa sobre um determinado assunto, mais isso quer dizer que você está fugindo de algo maior e que teme não ter estrutura para lidar com determinada realidade.

Os pensamentos obsessivos tendem a nos paralisar, pois em geral são filhos do medo –  de ser abandonado, de fracassar, de ser rejeitado, de não dar conta, de não ser aceito, de não merecer, de perder – e não existe nada mais paralisante nessa vida do que o medo.

Tais pensamentos podem até nos proteger num primeiro momento, mas depois se tornam um transtorno, um estorvo, nos impedindo de progredir, crescer, evoluir, conquistar, realizar.

Que tal parar para pensar nas sarnas que você anda coçando? O que você perderia, de fato, se abrisse mão dessa coceira?

Que dívida é essa que a gente insiste em cobrar da vida?

Que dívida é essa que a gente insiste em cobrar da vida?

Gratidão é palavra do momento, especialmente quando as coisas dão certo e estão perfeitas aos nossos olhos, julgamentos e anseios. Então divulgamos a dádiva a plenos pulmões, compartilhamos o êxito e vibramos com o merecimento.

O que era para ser um um gesto natural, obrigatório para as consciências conectadas com o fluxo da vida, anda um tanto exacerbado. De todas as formas, melhor a gratidão ruidosa do que a sua gêmea má que nada agradece.

Mas, como nem tudo são flores e gratidões, nem vitórias, nem conquistas, difícil mesmo é ser grato às frustrações pelas oportunidades de enxergar um outro caminho, uma nova perspectiva.

Nessa hora a gente pega a fatura vencida e apresenta para a vida, como o filho mimado que corre chorando para dentro de casa com o brinquedo quebrado, exigindo a compra de outro, como se não fosse sua escolha levá-lo para brincar na rua.

A maioria de nós ainda age assim. Cobra da vida uma dívida que ela não tem conosco. Ataca a sorte, responsabiliza as circunstâncias, amaldiçoa o acaso, exige garantia infinita contra perdas, danos, terceiros e eventualmente, si próprio.

A gratidão se recolhe no meio da fatura tão grande e impagável emitida contra a vida dos que julgam possuir o passe exclusivo, a chave da sala vip onde nenhuma contrariedade é permitida.

Mas, assim como o tempo, a vida não dá bola para nossas tolas lamentações, e, frustrados e mimados que somos, como não conseguimos atingir a verdadeira culpada, vamos para outras direções, e então distribuímos sem economia o nosso mal humor, pessimismo, irritação, impaciência, raiva e todos os derivados e agregados que engrossam o time das frustrações.

Quando a gente aprende que a vida não nos deve nada e as escolhas são passíveis de fracasso, as contas são perdoadas, as dívidas caducam, as culpas se eximem e se transformam em gratidão consciente e libertadora.

Não há nada mais erótico do que uma boa conversa

Não há nada mais erótico do que uma boa conversa

“Não há nada mais erótico do que uma boa conversa.” E isso pode soar estranho, porque estamos saturados de conversas rasas, com pessoas rasas, falando sempre as mesmas coisas, sem o menor interesse e chegando a lugar nenhum.

Mas, uma boa conversa, uma diálogo de verdade, é o que há de mais erótico em uma relação, porque são as palavras que mostram os poros do rosto da vida e isso é muito mais belo e excitante do que enxergar o tempo inteiro maquiagens em rostos que transpiram falsidade.

Uma boa conversa é aquela em que não temos medo de dizer nada. Tudo pode ser dito, colocado na mesa, debatido, rebatido, formulado, reformulado. As palavras são lançadas como o fluxo do nosso pensamento, mostrando o que realmente pensamos sobre as coisas, sem hipocrisia ou fingimento; a nossa bagunça interior representada por palavras que sempre querem dizer alguma coisa, mas nem sempre encontram a organização semântica necessária; mostrando a alma despida e escancarada, pronta para ser tocada.

E porque a alma está escancarada, fala-se sobre tudo, desde os assuntos mais triviais aos mais existencialistas. Conversa-se sobre a preguiça que sentimos ao acordar cedo, a quantidade de açúcar que gostamos no café, sobre música, cinema e política, sobre o pé na bunda mais engraçado que já levamos, o momento de maior constrangimento, o primeiro amor, discute-se a existência de deus, a felicidade, o amor, para que lugar se vai após a morte, sobre o que queremos da vida e o que já estamos de saco cheio.

As frustrações, os medos, as angústias, as imperfeições, os pecados silenciosos, deixados em oculto. Ou seja, uma boa conversa é aquela em que as almas encostam-se e beijam-se, procurando não separar-se e encontrar pontos que as tornem mais conectadas e apaixonadas.

Por estarmos imersos em relacionamentos tão superficiais, talvez seja difícil acreditar que existam relacionamentos humanos em que a conversa exerce o enlace erótico entre as pessoas, de modo a torná-las insistentemente desejosas por mais do outro. Entretanto, é justamente pela falta de comunicação que estamos carentes de pessoas interessantes, capazes de nos “prender” por horas, como se fossem minutos, tão somente pela troca de palavras que imergem em todos os cantos do nosso ser.

Na maior parte dos relacionamentos, sejam entre amantes, amigos, familiares, etc., o que vai afastando as pessoas e, consequentemente, permitindo desabar a ponte que as une e no seu lugar fazendo emergir barreiras, reside na maneira como lidamos com o mundo que forma o outro. Ou seja, é preciso viajar no mundo deste, comprar a sua loucura, a sua dor, os seus sonhos, para que deixemos de pensar apenas em nós mesmos, para que possamos sair do nosso mundo e interagir com o mundo do outro, e, assim, compreendê-lo.

Sendo assim, a comunicação é imprescindível para que duas almas se mantenham juntas e apaixonadas, já que, quando deixamos de ter interesse no universo que compreende uma alma distinta da nossa, tornamo-la pequena e, então, o outro se fecha para nós, bem como, a paixão se esvai, porque já não existe eroticidade nas palavras, as quais, não raras vezes, deixam, inclusive, de ser ditas.

Se há algo de divino no mundo, sem dúvida alguma se manifesta no espaço colocado entre duas almas que anseiam para se tocar e isso só é possível quando permitimos que estas dialoguem com verdade e beleza, pois somente, dessa forma, tem-se a eroticidade necessária para transformar duas almas distintas vagando pelo nada em duas almas conectadas, compartilhando a vida em suas grandiosas imperfeições e nos seus pequenos milagres, já que mesmo depois do gozo do corpo, as palavras sempre permitem a continuidade do gozo na alma.

O amor é abrigo em uma feroz tempestade. O amor é paz no meio de uma guerra

O amor é abrigo em uma feroz tempestade. O amor é paz no meio de uma guerra

Hoje é aquele dia típico em que eu gostaria de olhar em teus olhos e dizer que vai ficar tudo bem. Segurar em tuas mãos e dizer que a tempestade vai passar e que eu estarei aqui com você. Hoje seria o dia em que eu desejaria te surpreender com uma passagem para um lugar qualquer desse mundão, como quem arranca um sorriso teu com a calmaria de um lugar tranquilo.

Hoje é o dia em que eu desejaria o teu abraço forte como quem sufoca e quebra todos os meus medos. Aquele calor de duas almas que se encontram num abraço de saudade.

Hoje eu queria poder te dizer que as coisas vão dar certo e, por mais complicado que seja, tudo se ajeita aos poucos e volta ao seu devido lugar. E cá estou eu, no melhor lugar que eu poderia estar depois de tantas voltas. Estacionei ao seu lado como quem quer avançar nessa caminhada com você.

Hoje eu queria encostar no teu peito e sentir a melodia das batidas do teu coração sem precisar de palavra alguma para preencher esse momento. Hoje eu queria poder te contar uma notícia boa, alegrar o teu coração com a minha alegria. Mas hoje, eu decido acalentar as tuas dores, acolher o teu choro e deixar o riso para depois.

Hoje eu quero ser teu abrigo, te abraçar e fazer você sentir todo o meu amor. Por hoje eu dispenso as palavras e fico com o carinho, eu dispenso um jantar a dois e fico com a gente aqui, sentados no sofá, tentando escolher a qual filme assistir.

No final eu sei que vamos pegar no sono e deixar o filme para depois, porque hoje, tudo o que você precisava era de uma companhia leve, forte o suficiente para não dar as costas para as suas angústias. Por hoje prometo não ligar para o seu humor, eu prometo não implicar com coisas bobas.

Eu sei que hoje você não irá rir das minhas piadas mesmo eu tentando fazer graça às vezes, mas eu sei que o seu coração sorri quando te abraço e aquele teu suspiro fundo como quem não aguenta mais as pancadas da vida mostram a mulher forte que você é.

Hoje eu queria poder resolver todos os seus problemas, te surpreender com algo material e sei lá me virar do avesso para te ver bem. Mas eu sei que hoje isso não é possível, e então te ofereço o meu riso leve, o meu carinho e um café quentinho. Hoje eu te faço um bolo de cenoura com chocolate e deixo você raspar a panela.

Hoje eu deixo você escolher o filme e prometo não dizer que ele é chato. Hoje eu te ofereço companhia sem tentar entender os teus porquês e prometo não tentar te convencer que cebola na comida é muito bom.

Hoje a massagem nos pés é por minha conta e o cafuné a gente negocia, pode ser? Hoje eu vou aí não como quem espera que as coisas mudem de repente, mas como quem deseja ser companhia quando o tempo fecha e o sol decide não aparecer.

Como quem ama demais para ser orgulhoso, como quem ama demais para ser egoísta e se fechar no seu mundo e aparecer apenas quando o outro estiver com todos os seus problemas resolvidos. Eu quero estar com você nos vendavais, eu quero estar com você quando a música parar de tocar e eu quero continuar dançando, criando a nossa própria melodia e nos reinventando.

Eu quero estar com você mesmo quando o riso estiver camuflado pela dor, mesmo quando o colorido da vida passa a ser preto e branco e a gente não vê saída para os nossos problemas. Eu quero ser companhia, quero ser calmaria. Eu quero ser o teu amor leve, aquele amor que faça o teu coração sorrir sem medo.

Hoje eu quero ouvir a tua voz, mesmo ela estando em tom de choro, hoje eu preciso te encontrar mesmo você estando com o seu pijama velho, aliás, você fica linda com ele. Como eu amo a tua simplicidade. Hoje eu preciso te desejar boa noite como quem pensou em você o dia inteiro, como quem sente saudade do teu cheiro e que sorri ao lembrar-se do teu sorriso.

Precisamos cuidar do nosso amor

Precisamos cuidar do nosso amor

Desde já, e para sempre
Antes que seja tarde
Enquanto ainda vale a pena
Enquanto ele ainda está aqui.

Precisamos voltar a nos olhar como sempre nos olhamos
Com ternura, com admiração, com sentimento
Como no tempo em que, mesmo que achássemos, não tínhamos grandes preocupações
O tempo em que não éramos responsáveis pelo nosso sustento, nossa estabilidade, por “dar certo na vida”
Em que não nos era exigida uma postura de “gente grande”…

Precisamos voltar a nos tratar como namorados em êxtase
Como naquela época em que éramos dois descobridores, explorando um ao outro
Desvendando anseios, modos de ser, trejeitos, manias, defeitos
Como quando buscávamos nos agradar o tempo inteiro
Com as mais singelas ou as mais elaboradas atitudes.

Precisamos voltar a sentir a necessidade de investir na relação
Como naquele tempo em que ainda não nos considerávamos conquistados,
Em que precisávamos mostrar o melhor de nós
Conter nossas imperfeições, nossos desgostos com a vida
E separar os problemas que possuíamos, para não “misturar as coisas”.

Precisamos parar de deixar para amanhã nos dedicarmos com mais afinco à nossa relação
Deixar de adiar a atenção que o relacionamento sempre merece
De fazer de conta que o amor supera tudo, e sempre se mantém intacto
E que alguns momentos de “lua de mel”, uma ou duas vezes por ano, tudo resolve
Pois sabemos, no fundo, que não é bem assim…

Precisamos, e antes que o sentimento atrofie, antes que fique em segundo plano
Antes que a rotina definitivamente camufle o que é realmente importante
E o cansaço termine de consumir a pouca energia que nos resta

Precisamos não deixar o nosso amor, de fato, adoecer…
E necessitamos de atitudes concretas, não apenas do reconhecimento do problema

Precisamos ser diligentes um com o outro, prestar atenção, agir
Como no tempo em que o aniversário das coisas mais simples (como o do primeiro beijo) era comemorado como um grande acontecimento
Como no tempo em que nos surpreendíamos com declarações sem motivo específico
E em que fazíamos questão de demonstrar o amor que sentíamos das mais diversas formas.

Precisamos voltar a apoiar as maluquices um do outro
A encorajar os sonhos e os desejos mais impossíveis ou improváveis
A incentivar nosso crescimento e nossa realização
A não levar a vida tão a sério
Precisamos, acima de tudo, resgatar a leveza, sempre tão essencial.
Precisamos

Para que não aconteça o que já vimos acontecer com tantos casais bacanas que possuíam um relacionamento promissor
Para vermos que os nossos sonhos adolescentes não estavam errados
Para congratular todos os momentos lindos que já vivemos
E todos ainda mais maravilhosos que, se assim quisermos, virão.

Depressão é a dor de apenas existir, é quando perdemos de vista o sentido de viver.

Depressão é a dor de apenas existir, é quando perdemos de vista o sentido de viver.

É a dor de acordar e não ter forças para enfrentar o dia, de sentir o peso das horas que parecem não passar nunca, de sentir que toda a sua disposição e energia ficaram na cama e que, de alguma forma, você terá que arrumar meios para enfrentar o dia.

É a dor de querer que a semana passe rápido e de tentar passar as horas do final de semana dormindo, de querer um remédio que te faça dormir e acordar só quando tudo estiver bem.

Vemos tudo à nossa volta de uma forma bonita e parece que o preto e branco pertence apenas a nós, que a luz só brilha lá fora e que a escuridão insiste em residir dentro da gente.

A dor de não ver graça nas coisas simples e fantásticas da vida. Aquela tarde chuvosa que te leva a assistir um bom filme, enrolada no cobertor comendo o seu brigadeiro de panela foi substituída por ficar deitada olhando para o nada, pensando em tudo e chorando. Uma tristeza tão grande que chega a nos sufocar. O peito aperta, as lágrimas caem e você se questiona de onde vem tanta dor e quando essa tempestade irá cessar aqui dentro.

Você prefere dar um sorriso forçado e dizer que está tudo bem, porque cansa de ser bombardeado com frases do tipo: ”Você tem de tudo, olhe para fulano, coitado, esse sim tem motivos para estar triste, passou por tanta coisa e está ai vivendo e sorrindo.” “Isso é frescura, é preguiça.” Ou,” Hum, você está querendo chamar a atenção.”.

Como alguém pode pensar que o outro escolhe sofrer para chamar a atenção? Como o outro pode pensar que é preguiça, que é frescur,a sendo que o meu maior desejo é justamente sair disso? É uma luta todos os dias comigo mesma para não ficar na cama e me esconder do mundo, de não tirar o meu pijama e de não ter que encarar a vida lá fora. É uma luta de tentar não desmoronar, mesmo quando o seu mundo interior está um caos. De se manter inteiro para os outros, mesmo estando em pedaços.

As pessoas falam isso como se a gente gostasse de se sentir assim, como se fosse imediata a melhora. Como se fosse uma gripe que melhora com aquelas receitas da vovó. Quem me dera fosse tão rápido assim.

Talvez o alívio momentâneo encontrado, em meio a tanta dor, é naquele tempo que alguém oferece para nos ouvir, sem tecer nenhum julgamento; naquele abraço quando você está em prantos e naquela mensagem inesperada que te arranca um sorriso leve. Por mais que as coisas tenham perdido a graça, os afetos continuam sendo a nossa graça, o nosso remédio, o nosso alívio imediato.

No mar da depressão, o meu barco – a vida – quase quis naufragar, perdi muitas coisas nessa tempestade toda, a autoestima afundou e com ela o meu riso fácil. Mas, depois da tempestade, vem a calmaria e, aos poucos, a gente se recompõe e vai tentando reconquistar tudo novamente. E eu sei, a gente consegue. Leva tempo, mas consegue.

Depressão é a dor de apenas existir e não viver. Quando eu digo viver, é porque tudo perde o sentido e a gente não vê graça nas coisas incríveis da vida. Não é fácil não ver graça em coisas que antes te deixavam feliz.

Não é fácil não ter mais perspectivas quanto ao futuro, não alimentar sonhos e não querer planejar. Não é fácil olhar à sua volta e ver felicidade tão perto e ao mesmo tempo tão longe. É doloroso perceber tudo isso.

Quando eu escutei a frase: “Tem gente sofrendo, desejando viver, e você aí reclamando e sofrendo por qualquer coisa”, eu me senti pior do que já estava, como se eu estivesse sendo ingrata com a vida, como se eu estivesse sendo egoísta, como se sofrimento precisasse de justificativas. Esses julgamentos nos matam e nos empurram ainda mais para o buraco. As palavras têm poder para nos ajudar, é uma pena que elas sempre chegam de forma agressiva até nós.

Hoje, estou certa de que posso escolher ver as coisas de um jeito diferente, é uma escolha que reafirmo todos os dias. Tem dias em que os ventos sopram forte demais e eu temo cair, temo não ter forças para enfrentar.

Eu luto todos os dias pela alegria, entendi que ela não reside nas coisas, entendi que a felicidade não está nas pessoas, ela está em nós. Aprendi que nem todo mundo consegue ser abrigo quando a tempestade vem e que, sim, nós iremos nos decepcionar. Iremos nos magoar e isso vai doer muito. Vamos levar rasteiras de pessoas que amávamos e em quem confiávamos, mas também vamos receber aquele abraço caloroso de quem menos esperávamos.

Isso se chama vida, isso é viver. E, então, eu luto todos os dias para não sentir mais essa dor de apenas existir. Mas eu sei que haverá dias em que tudo irá parecer desmoronar, sei que terá dias que o choro será presente e a angústia irá insistir em apertar o peito. Mas isso, nem de longe, significa que estou recaindo e que, sei lá, eu sou fraca demais para as coisas.

Talvez seja só mais um dia ruim mesmo, uma semana conturbada e a gente, de alguma forma, chateia-se com algumas coisas, é normal. Mas, depois de um tempo, a gente consegue enxergar para além do que está posto à nossa frente, a gente consegue ver as inúmeras possibilidades que temos de nos reinventar e recomeçar. E então eu prefiro escolher estar perto de quem me incentiva a ser melhor a cada dia, em quem não julga as minhas dores.

Eu acordo e posso até sentir vontade de ficar na cama, mas logo penso que o dia lá fora está lindo e que eu posso florescer as coisas aqui dentro. Jogo fora os espinhos que ganhei da vida e sei que as dores e os machucados não definem quem eu sou. Eu sou metamorfose, não sou rótulos, nem feridas, nem dores. Eu sou forte e, mesmo tendo que matar um leão por dia, aqui dentro eu continuo prosseguindo.

Notas: há muitos anos, sofri com esse mal da depressão e, como todos, eu também sofri julgamentos e as coisas perderam a graça. A psicoterapia é fundamental nesse processo; caso você não possa arcar com os custos de uma terapia, procure os atendimentos públicos de estudantes e até profissionais de saúde que atendam pelo SUS. A terapia é fundamental para nos auxiliar nesse processo doloroso de perda de sentido da vida e da nossa essência.

Permite-nos o reencontro e nos ajuda a ver o mundo de outra forma. É um processo, requer tempo, mas é um benefício e tanto para a nossa vida. E, se você conhece alguém depressivo, deixe de lado os seus julgamentos e o oriente a recorrer a uma ajuda profissional. Troque as palavras que ferem por um abraço e, ao invés de jogar o outro ainda mais no buraco, estenda a mão e o ajude a sair de lá.

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