Defenda o professor na frente de seu filho e não precisará defender seu filho na frente do delegado

Defenda o professor na frente de seu filho e não precisará defender seu filho na frente do delegado

Não obstante um sem-número de publicações que se prestem a orientar pais e educadores, no sentido de basicamente lhes permitir uma imposição de limites eficientes aos filhos/educandos, a realidade parece ainda tomar o sentido oposto. Tendo como base o tipo de relação comumente estabelecido hoje entre os pais e as escolas, seja na rede pública ou particular, evidenciam-se, na maior parte das vezes, dissonâncias entre família e instituição, extremamente lesivas à formação do aluno.

Exceções à parte, a maioria dos pais comporta-se de maneira defensiva ao tratar de assuntos relacionados ao comportamento dos filhos, como se estivesse de antemão sendo acusada de negligência, ausência ou mesmo impotência nos cuidados com a educação filial. Esse protecionismo inclusive se manifesta na presença dos filhos, o que de imediato já desautoriza a figura docente ao estudante, minando possibilidades de se construir um relacionamento de confiança e respeito entre professor e aluno, bem como entre pais e escola. Nesses momentos, muitos desses pais desfiam um corolário de clichês desprovidos de fundamentos coerentes, tais como: “Em casa, ele não é assim”; “Ele diz que fulano o atrapalha; muda meu filho de lugar.”; “Ele reclama que tal professor implica com ele.” etc. Nem ao menos percebem o simples fato de que o professor é responsável pelos seus filhos por algumas horas semanais.

Verdade seja dita: a grande maioria dos professores seria incapaz de perseguir seus alunos; muito pelo contrário, hoje os docentes são menos perseguidores do que perseguidos – fato que as notícias que abundam na imprensa o comprovam. Há muito vem se instalando, nas instituições escolares, gerações de educadores formados a partir de concepções pedagógicas renovadas e dissonantes, em sua totalidade, com práticas lesivas e/ou baseadas em meros juízos de valor. Além do mais, normas, dispositivos e regulamentações legais – educacionais ou não – seguramente respaldam a manutenção da integridade física e moral dos menores em nossa sociedade.

Nesse sentido, vale uma referência ao desenho “Procurando Nemo”, da Disney, principalmente em razão das ações do pai do peixinho que dá nome à animação. Emblemático desse comportamento é o momento em que, estando no interior de uma baleia com uma companheira, esse pai dirige-se à colega, trocando-lhe o nome com o do filho: “Você não vai conseguir, Nemo!”. Esse ato falho acaba por revelar o aspecto mais lesivo desse tipo de atitude no contexto educacional familiar e que consiste em seu caráter superprotetor. Ao tentar poupar os filhos do confronto direto com os atos praticados e suas conseqüências, os pais impedem-lhes a construção de uma identidade autônoma que deveria norteá-los seguramente frente às complicações inerentes ao seu processo de amadurecimento.

O mundo nos impõe sucessivas situações-problemas, cujas resoluções dependem de nosso equilíbrio na busca por soluções adequadas. Ora, se nos foi negado, desde sempre, o exercício de optar entre uma ou outra saída, por nossa própria conta e risco, como poderemos ultrapassar barreiras que se acumularão ao longo de nossas vidas? É com o se pedíssemos a um aluno acostumado a sempre “colar” que resolvesse uma prova sem o gabarito. Nunca tendo errado e, portanto, refletido e reconstruído ideias próprias, evidentemente não teria repertório nem experiências constitutivas de mínima estrutura para enfrentar o novo – como o que vem ocorrendo entre as novas gerações.

Da mesma forma, ressalta-se que essa superproteção fatalmente se desdobra na tendência a anular-se a identidade dos filhos – aspecto contundente no enredo de “Procurando Nemo”. Em decorrência desse policiamento ostensivo sobre a vida dos filhos, pais e mães impõem seus pontos de vista através de afirmações de caráter perene e indelével: “Você é vagabundo.”; “Você nunca vai gostar de estudar.”; “Você é teimoso.” etc. Sendo assim, os filhos acabam crendo que são assim mesmo e para sempre o serão; ou seja, acomodam-se às imagens que os pais compulsoriamente lhes determinam, isentando-se de perspectivas de mudanças positivas em suas vidas, consequentemente se tornando passivos diante do mundo circundante. Relevante e imprescindível, visando-se à neutralização dessa sistemática nociva, torna-se a cumplicidade dos pais ao impor limites, o que implica, sobretudo, unidade no discurso de ambos. Aos filhos devem ser claras as regras de convivência, sustentadas pelas posturas uníssonas de seus pais – mesmo que não estes morem mais juntos. Isso contribui inegavelmente à formação, nos jovens, de uma personalidade firmada sobre sólidos princípios, que os tornarão menos suscetíveis a seguirem rumos indesejáveis em suas tomadas de decisão vida afora.

Como se vê, educar, além de trabalhoso, requer dedicação extrema e treino constante. Pais devem, portanto, exercitar continuamente sua tarefa educativa, dispondo-se a diárias e contínuas reflexões e autoavaliações, em diálogo constante com o cônjuge e com os filhos, até que se incorporem definitivamente regras básicas do processo educativo, as quais, no caso, consistem na coerência entre o que se diz e o que se pratica; na corresponsabilidade entre pai e mãe e demais educadores; na clara delimitação de regras e limites e no respeito compartilhado diariamente pelos familiares entre si e entre cada um deles e seus semelhantes. Tendo em vista o dia-a-dia caótico de hoje, urge a necessidade de se formarem cidadãos conscientemente autônomos, embora interdependentes, capazes de contribuir à reconstrução e à transformação do mundo, num saudável movimento de constante evolução.

Talvez a felicidade dependa de como você olha a vida

Talvez a felicidade dependa de como você olha a vida

Existe um segredo na vida das pessoas felizes. E eu hoje cedo fiquei pensando nesse segredo.

Talvez o segredo para a felicidade esteja em dançar mesmo quando as pernas doem. Talvez o segredo para uma boa vida esteja em amar sem medida, mesmo com o coração remendado.

Talvez o segredo para as boas coisas esteja em receber de braços abertos o filho que um dia alçou voo, expressando com amor que seu retorno é bem-vindo.

Talvez o segredo para a felicidade esteja no improviso. Na inspiração espontânea, nos planos que se desfazem para anunciarem melhores.

Talvez o segredo para transbordar sorrisos esteja em se permitir de um jeito diferente. Olhando os caminhos da vida com outros olhos.

O segredo para a felicidade pode estar escondido nas pessoas ou nos nossos próprios caminhos, pelos quais passamos, muitas vezes, de olhos fechados.

A felicidade pode estar no olhar do velho amor. Pode estar na voz do amigo que nos conta uma história corriqueira.

A felicidade pode estar na praça do fim da rua. Pode estar escrita nas frases pichadas dos muros da comunidade.

A felicidade pode estar ao alcance dos nossos pés nas calçadas do nosso bairro. No bom dia dos vizinhos dos quais muitas vezes não sabemos os nomes.

Acho que a felicidade bate no vidro do nosso carro ou ônibus e oferece um “drops” de anis com um sorriso terno, todos os dias, mas quase sempre estamos pensando no passado ou no futuro e quando o farol abre, a felicidade fica para trás, sem que a gente se dê conta disso.

Talvez o segredo para a felicidade esteja em nossa capacidade de perdoar, de acreditar em nós e nos outros. Em ter fé na humanidade, sabendo que a fé na humanidade também abriga a fé em nós.

A felicidade talvez esteja assim feito dente-de-leão brotando em todos os cantinhos, esperando um momento para ser vista, para ser soprada sobre nossa vida.

Acho que a felicidade está ao nosso alcance, mas cismamos em não ver isso, pois nos ensinaram que felicidade é coisa de fora, distante e rara. Que felicidade é como uma flor de Edelvais perdida em algum lugar dos Alpes Suíços.

E ao falar de felicidade como não lembrar de Norton Juster, um escritor norte-americano, que em seu livro ‘Tudo depende de como você vê as coisas’ falou de um menino aborrecido que um dia recebeu um presente misterioso da vida que o fez olhar tudo com outros olhos.

Nesse livro, esse menino, chamado Milo, chegou a uma cidade na qual algo intrigante acontecia:

E, porque ninguém mais ligava para as coisas à sua volta, tudo foi ficando cada vez mais feio e sujo e, como tudo foi ficando assim, as pessoas passaram a andar mais e mais depressa e então uma coisa muito estranha começou a acontecer. A cidade começou a desaparecer”.

Talvez o segredo para a felicidade esteja, simplesmente, em conseguir enxergá-la. Talvez a felicidade exista por todo lado, dentro e fora de nós, quase invisível, assim como a cidade visitada por Milo, só esperando para se revelar.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

(Des)apontamentos sobre plágios e apropriações…

(Des)apontamentos sobre plágios e apropriações…

Não ponha as minhas palavras na sua boca com o intuito de torná-las suas. Nem tampouco nas pontas dos seus dedos com o objetivo de assinar por elas.

Não disfarce meus relatos com parcas e maquiadas frases entrecortadas. O que veio de mim jamais terá a sua identidade.

Não ouse aprisionar meu estilo dentro do seu formato inexpressivo.

Ainda que não reconheça os justos créditos, você sabe e sempre saberá que as ideias não lhe pertecem, que foram roubadas, camufladas, usurpadas.

Não se intitule criatura criativa. Criação é outro ofício. Copiar não é criar. Sequer é se inspirar.

Não omita meu nome, não cole o seu por cima, não faça o papel de papagaio repetidor, não apele, não pense que a impunidade é duradoura, que os elogios lhe pertencem.

Eu expresso o que vivo, o que quero viver, o que observo, o que sonho. Expresse você também, do seu jeito. Não trapaceie, não roube, não engane os que acreditam em você.

Plágio é um troço invejoso e infantil. É como abrir o armário alheio, roubar o que agrada, deixar a porta aberta e as coisas esparramadas, disfarçar com alguns acessórios e sair desfilando na rua, aguardando suspiros de admiração.

Originalidade não aceita disfarce. Qualquer tentativa denuncia o impostor.

Vivemos uma era de reconhecimento de valores, de busca por igualdade de direitos, justiça social, luta contra desigualdades. E se apropriar do que é alheio, sejam palavras, argumentos, sentimentos ou mesmo desejos, fica ainda mais feio e inaceitável.

Para você, pessoa CTRL C/ CTRL V , eu desejo fortemente que encontre e desenvolva suas próprias habilidades, ou, ao menos, reconheça, admire e aproveite as criações alheias sem tomá-las para si. Dê um CTRL Z nas cópias mal feitas que espalhou por aí e mostre ao que veio, o que tem de original e interessante para compartilhar com o mundo!

Aprenda a não contar muito com os outros

Aprenda a não contar muito com os outros

Uma ou outra hora, acabaremos nos decepcionando com alguém que pensávamos jamais ser capaz de dar o cano, de não cumprir o prometido, de nos deixar esperando. Muitas pessoas são assim mesmo, falam como se a palavra não tivesse valor algum e pouco sustentam o que afirmam com veemência. A elas, o único compromisso que existe é com os próprios interesses.

Quem nunca ficou esperando inutilmente por horas um amigo chegar ao local combinado? Quem nunca ficou aguardando um telefonema de alguém que prometeu ligar? Quem nunca aguardou um retorno que nunca veio, uma mensagem que nunca chegou, uma visita que nunca aconteceu, uma ajuda que nunca apareceu? Infelizmente, o que não se registra em cartório, hoje, parece ter validade nula.

Nesse contexto, as pessoas que honram o que falam, que cumprem o prometido, que fazem de tudo para poder ajudar, acabam cada vez mais se frustradas, pois são obrigadas a encarar aquilo que jamais teriam coragem de fazer. É difícil a uma pessoa cuja palavra vale muito ter de conviver com quem não honra quase nada do que diz, com quem não cumpre nada daquilo que fica prometendo por aí.

É preciso aprender a contar menos com os outros, a não acreditar em tudo o que dizem, a não depositar muitas esperanças nas promessas alheias, o tempo todo, porque muito do que tomamos como verdade foi dito da boca para fora tão somente. Não se trata de nos tornarmos descrentes com todos, ou de sermos egoístas, mas de uma técnica básica de sobrevivência em um mundo cada vez menos comprometido com honrar o que se diz ou se promete.

Sim, sempre poderemos contar com alguém, sempre haverá pessoas cujos atos sejam afins com seus discursos, mas serão poucos aqueles que estarão dispostos a cumprir com seu papel de amigo, de parceiro, de ser humano, enfim. Infelizmente, a grande maioria dos indivíduos estará ocupada demais pensando em si mesma, vivendo o seu mundinho particular, correndo em volta do próprio egoísmo, dizendo o que queremos ouvir, porém, comportando-se como se ninguém além de si mesmo merecesse atenção.

Só é Feliz quem para de tentar agradar a Plateia

Só é Feliz quem para de tentar agradar a Plateia

Segundo a OMS, até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. Em larga medida isso decorre do modo totalmente degradante e padronizado que temos levado as nossas vidas. Desde pequenos somos condicionados a viver de acordo com as normas impostas pela sociedade. Normas impostas por um grupo seleto de pessoas, que não está nem um pingo preocupado com o adoecimento da alma que se observa nesta quadra da história.

Na busca desse ideal de felicidade e sucesso, a maior parte de nós acaba tendo os seus sonhos destruídos, totalmente ou parcialmente, ou deixando-os congelados, a fim de que possam ser “requentados” quando a situação for mais “favorável”. Mas quem controla o tempo? Quem sabe o que nos acontecera? A nossa existência é frágil ou para lembrar o velho safado – “Somos finos como papel” – de maneira que não há sentido algum em deixarmos para depois o que arde mais forte em nosso coração e que de fato nos faz sentir vivos.

Entretanto, nada disso adianta, porque temos que correr, temos que produzir, temos que ter, temos que ter mais e, assim, nos tornamos especialistas em acumular coisas, um monte de tralhas que não serve para nada, apenas para deixar a nossa existência mais pesada. Ao mesmo tempo em que nos tornamos experts em acumular coisas, tornamo-nos subnutridos de amor. Indivíduos carentes de atenção, de ouvidos dispostos a escutar verdadeiramente as nossas angústias, de olhares sinceros que enxergam a nossa alma, de afeto… Carentes de gente.

Sendo assim, de que adianta ter uma vida de sucesso perante os olhos da sociedade e da porta para dentro está destroçado, sufocado com lágrimas silenciosas vindas de olhos mudos? De que adianta viver preocupado em como trocar de carro, em como pagar o VISA ou enfrentar a crise econômica, se o grande monstro que existe é a depressão em que nossas vidas se encontram?

Saramago falava que a vida é assim: uma hora se está, outra hora não se está. E é nesse intervalo de tempo que a vida se processa, e para que ela seja bela é preciso que as histórias sejam contadas ao seu modo, respeitando as suas pontuações, os seus personagens e a sua estrutura narrativa, porque cada ser humano é um universo rico de histórias, algumas se dão em poesia, outras se dão em prosa, mas cada história é universalmente única.

Dessa forma, mais do que qualquer outra pessoa, devemos respeitar a nossa história, o que nos forma e os nossos sonhos, já que nem sempre há tempo hábil para que eles sejam requentados. Muitas vezes sequer há fogo, porque de tanto esperar, fomos congelados. E, então, percebemos que corremos em direção ao nada, não do lado de fora, mas do lado de dentro, apenas por medo de ser fogo no meio do gelo. Apenas por medo de não agradar a sociedade. Tolice de quem não sabe que só é feliz quem para de tentar agradar a plateia, pois, lembrando outra vez o velho Bukowski:

“É quando você esconde as coisas que acaba sendo sufocado por elas”.

A dificuldade de ser um romântico inveterado

A dificuldade de ser um romântico inveterado

Um jeito de ser peculiar, ao mesmo tempo delicioso e sofrível. Atraente, hipnotizante, intenso e incorrigível: eis o romantismo.

Ser um romântico inveterado, nesses “tempos modernos”, é complexo e angustiante. Ter uma visão mais colorida da vida, das pessoas, do mundo e do amor (ao menos do que deveriam ser), pode render um tanto de frustração, de tristezas e de remendos.

Nostalgia. Reafirmações. Surpreendimento. Reinvenção. Carinho. Constância. Divagação. Sentimento. Expressão. Atenção a detalhes, datas, olhares e suspiros. É mais ou menos isso, apenas, o que aspiramos.

Quando somos adolescentes, é até legal. Ao ser romântico, você se sente diferente, sonhador, encantado. Isso dá um frio na barriga interessante, uma cabeça quase sempre nas nuvens, uma sensação gostosa de que, hora ou outra, a nossa ideia de “viver ideal” se materializará. E ainda acontece eventualmente um ou outro fato a indicar que “estamos no caminho certo”, que “é possível”. Ledo engano…

Daí, nos tornamos “gente grande” e a coisa começa a complicar. Percebemos que somos, tipo, beeem a exceção. Que as demais pessoas não tem essa doce imagem da vida, e nem quer ter. Que a perspectiva da maioria é outra, que as suas necessidades são bem diferentes das nossas. Chegamos até a constatar que há coisas mais práticas que possuem um peso relativamente relevante nos relacionamentos: companheirismo, lealdade, bom humor, cumplicidade. Então, vamos vendo que, talvez, era mesmo uma ilusão… Mas, e daí?!

Tentamos “cair na real”. Nos esforçamos para descolorir nossas aspirações. Nos dedicamos a criar, em nosso íntimo, um novo “modo de vida ideal” , a racionalizar, a tentar pensar como a maioria, a “ser devidamente adulto”. Lá pelas tantas, acreditamos até que deu certo. Estamos indo muito bem na nossa empreitada: sérios, práticos, objetivos, pragmáticos. Pensamos: agora, enfim, viveremos melhor, mais “em paz”.

Mas tudo logo vem abaixo. Acontece um fato qualquer e o nosso coração desmancha. Sofremos. Percebemos que continuamos os mesmos, que é uma doença sem cura. Que desejamos muito mais do que o mundo (e as pessoas) podem nos oferecer. Então o coração aperta, tadinho. Angustiado, frustrado, culpado por ansiar por algo que vê ser impossível.

Então, passado o período mais crítico, aos poucos vamos voltando ao nosso modo “meio adaptado” de viver. Um meio termo entre o que gostaríamos e o que se apresenta, de fato. Claro que continuamos sofrendo, ora mais, ora menos. Claro que continuamos tentando mudar algumas coisas (melhorar, na nossa concepção). Mas é claro, também, que ninguém muda se não quiser.

E um não-romântico-inveterado não vê fundamento nas nossas ideias, por não sentir o que sentimos, e por isso não se motiva a mudar. Mas, definitivamente, não entendemos como eles conseguem viver assim…

E entre cedências vamos sobrevivendo. Administrando nossa loucura apaixonante e sonhadora. Reprimindo-a até que extravase. E, quando extravasa, tentando consertar o estrago para que o resultado não seja ainda pior que a nossa complexa e, muitas vezes, angustiante forma de viver.

Por que ainda queremos nos casar?

Por que ainda queremos nos casar?

A série Divorce, que acaba de estrear na HBO, marca o retorno da parceria entre a atriz Sarah Jéssica Parker (protagonista de Sex and the City) e o canal.

Em Divorce a atriz aparece como uma cinquentinha contemporânea: mãe de família, cansada do casamento, desiludida com o amante, rejeitada pelos filhos adolescentes, desejosa de realizar um antigo sonho (abrir uma galeria de arte).

A nova série da HBO contará com 10 capítulos de 30 minutos cada. Com humor irônico e generosas pitadas de drama, Divorce apresenta os desafios do casamento nos dias de hoje: rotina, sexo arrefecido, traição e o desgaste emocional que uma separação provoca.

Sobre o tabu da monogamia, falei aqui. Por esse motivo, escolho uma questão sobre a qual a série lança luz:

Por que ainda queremos nos casar? Por que insistimos em juntar as escovas de dente e depois reclamamos da rotina e do desgaste que é dividir o mesmo teto com alguém que possui hábitos tão diferentes dos nossos?

Será, mesmo, que queremos nos casar por amor? O que o amor tem a ver com isso?

O casamento foi inventado muito antes de o amor ser um bem imprescindível, muito antes de Tristão e Isolda – primeiro grande clássico da literatura mundial a narrar aventuras e desventuras do amor romântico.

A contração do matrimônio, nos primórdios, se dava por questões políticas (e financeiras).

Será que não optamos por dividir o mesmo teto, ainda hoje, por necessidade de segurança, sentimento de posse, convenção social e/ou necessidade de ter um filho (é preciso se casar para ter um filho no século XXI?)? Será que algumas mocinhas não desejam apenas vestir um vestido de princesa e ser a rainha da noite?

O problema é que depois da festa, além da conta, vem a realidade: dividir o mesmo espaço.

Será que estamos preparados?

O amor precisa de cama, não de teto compartilhado para se consumar. E cama pode ser chão, grama, sofá, chuveiro, abraço, sorriso, colo, conchinha, cafuné.

Mais que teto! O amor precisa da partilha de lealdade, respeito, admiração, alegria, tesão, entusiasmo e escolha.

São tantos os casais que dividem a mesma casa, mas não são leais, nem respeitosos; que vivem reclamando dos hábitos do parceiro para terceiros.

Vivemos tempos devassados, onde é cada vez mais raro ter privacidade e tempo para nós mesmos. Nossa casa, em princípio, seria o único espaço onde podemos nos despir inclusive de nós mesmos.

São tempos em que o individualismo é cultuado. Se o metrô está vazio, por exemplo, e alguém senta ao nosso lado, mudamos de lugar. Se o restaurante está vazio e alguém senta próximo a nossa mesa, ficamos incomodados.

Acaso questionem nossos gostos e vontades; acaso especulem aonde fomos, o que fizemos, o que deixamos de fazer – nos sentimos invadidos e irritadiços.

Detestamos dividir o controle remoto e a pia do banheiro. Detestamos chegar em casa e perceber que a última fatia de bolo que estava na geladeira foi comida.

Por mais que tenhamos afinidades com a nossa cara metade, por mais que amemos a nossa metade da laranja, dificilmente a divisão de teto será tranquila, simplesmente porque – salvo raras exceções! –  não fomos educados para a partilha, mas para a competitividade e o individualismo.

Não se trata de uma apologia à não contração do matrimônio. Cada um sabe o que é melhor para si e existem, sim, casais leais, apaixonados e companheiros que dividem o mesmo teto com alegria e prazer. Assim como existem casais leais, apaixonados e companheiros que optaram por morar em casas separadas.

Trata-se de refletir, ser honesto consigo mesmo e se perguntar: será que tenho habilidade para dividir o mesmo teto? Qual o meu grau de competitividade e individualismo? Qual a minha necessidade real de privacidade? Eu gosto de ter razão ou de ser feliz?

Caso contrário, corremos o risco de viver – tão logo nos casemos – as mesmas agruras que os personagens da nova série da HBO.

Quando bate aquela saudade

Quando bate aquela saudade

E quando bate aquela saudade? Dos sorrisos trocados, dos beijos concebidos e, até mesmo, dos silêncios contemplados numa noite qualquer. Pode até ser que o futuro seja um traçado sem previsão, mas tenho bem lá no fundo que o presente não passou despercebido entre um abraço e outro. Se tudo isso é indício de saudade, convenhamos, que sorte a nossa termos tido instantes distribuídos passado adentro.

Por que não ficamos? Por que não entregamos os pontos e arriscamos submergir nesse redomoinho tão almejado pelos amantes? Talvez não exista uma resposta em definitivo, quiçá alguma forma de mensurar probabilidades entre os carinhos expostos. Saudade tem gosto. É agridoce e em doses desmedidas, deixa até o mais saudável dos corações enfermo. Mas há outras facetas para essa ausência inesperada. Ela movimenta, navega e, algumas vezes, transforma. Desperta odores no meio do dia, revive, reencontro após reencontro, o entrelaçar compartilhado e a jura não dita. Ainda assim, é confuso imaginar por onde anda a nossa própria alavanca para desvencilhar-se. A proposta pontual de desejos trilhados, planos elaborados e angústias já tatuadas na pele. É bem um de tudo um pouco, para ser sincero.

Quem sabe, ou, quem poderia dizer, quais descaminhos nos seriam apresentados? A vida meio que lança esses dados atrozes quando menos esperamos. Isso não quer dizer que ela tenha essa finalidade vilanesca, pelo contrário, vai ver que as linhas descritas através do tempo, incluam, na mais imprevisível das hipóteses, a oportunidade da escolha. O simples pensamento do ir e vir, onde for, como for.

De qualquer forma, na saudade, sentir é o único caminho. E deixem que julguem, apontem e façam escárnio dessa intensidade não prometida. Porque, contrariando todas as expectativas, quantas vezes pudemos confessar a falta que nunca parte, mas apenas adormece? Agora, saudade é artigo de luxo para os que se permitiram sentir algo, em qualquer dia, em qualquer beijo.

Algumas pessoas simplesmente ficam na gente

Algumas pessoas simplesmente ficam na gente

Ao longo do tempo, iremos nos decepcionar com muita gente, inclusive com quem é bem próximo de nós, no entanto, teremos encontros inesquecíveis com pessoas especiais, que trarão mais do que amizade, mais do que amor, fazendo com que nos tornemos melhores e bem mais felizes. Pode ser um amigo de cerveja, um colega de trabalho, um professor, o chefe, o parceiro de vida; certo é que algumas pessoas ficam na gente, para sempre.

Muitas vezes, a ajuda de que precisamos vem de quem menos esperávamos, de alguém por quem nem sentíamos muita simpatia, devido a essa nossa mania de julgar antecipadamente os outros, mesmo desconhecendo as suas histórias ou as lutas que elas travam diariamente. Somos, então, surpreendidos por uma generosidade que nos salva e nos conforta, no momento certo. Trata-se daquelas surpresas mágicas que a vida nos proporciona, a fim de nos resguardar da apatia e da descrença no ser humano.

Por outro lado, também somos surpreendidos na contramão de nossas certezas, quando recebemos o pior de alguém a quem muito considerávamos, em quem confiávamos, alguém que tínhamos como amigo verdadeiro. E então nos decepcionaremos de forma dolorida, conhecendo a ingratidão de perto, para que entendamos que nossos julgamentos nem sempre estarão corretos, que nem sempre acertaremos, que somos falhos – também haverá quem receberá de nós o nosso pior.

Mas os verdadeiros anjos que aparecem em nossa jornada, muitas vezes sem pedir licença, compensarão toda tristeza que alguns indivíduos nos causarão, porque trarão alento, verdades, conforto, acolhimento e amor de fato. Eles nos aconselharão da melhor maneira, apoiarão nossos devaneios, sorrirão de longe ao nos ver, silenciarão junto à nossa dor, abraçando nossos sonhos, torcendo, sendo alguém de verdade, que se importa, com quem sabemos que poderemos contar.

Nem todos ficarão por perto o tempo todo, nem todos viverão o suficiente para assistir às nossas conquistas. Alguns passarão rapidamente por nós, outros andarão conosco ao longo de toda a nossa jornada, muitos farão parte de etapas específicas de nossas vidas. Nada disso importa, porque não será a presença constante nem a duração do encontro o que levaremos conosco, mas sim o tanto que essas pessoas fizeram de bom por nós. E, por mais que o tempo passe, que a distância afaste ou a morte intervenha, algumas pessoas simplesmente ficam na gente, eternamente.

O que uma coxinha e um café me ensinaram sobre gratidão

O que uma coxinha e um café me ensinaram sobre gratidão

Nós temos um tempo limitado na Terra.

Por que desperdiçar nossa energia preciosa nos preocupando com o que os outros estão fazendo ou pensando?

E daí que o cara é crente, ateu, gay, sertanejo, metaleiro, funkeiro, guru, empreendedor de palco,  comunista, fuma maconha ou vota no Crivella.

Tu não paga as contas dele, parceiro.

Foca na tua vida. Tens feito tudo direitinho? Qual tua missão nesse planeta? Já descobristes?

Desde que as primeiras redes sociais apareceram — antes disso, até… cês lembram do Fotolog? — nos viciamos em saber o que os outros estão fazendo. Onde foram no final de semana, se a balada foi top, quem pegando quem, quem comprou um pacote da CVC pro Nordeste, quem fazendo intercâmbio que o pai pagou, quem na merda. Esse tipo de comportamento sempre existiu, é verdade, mas como agora nos expomos mais, as pessoas não precisam sequer conversar umas com as outras pra saber — ou deduzir — o que ou não rolando.

Nós desperdiçamos nossa energia mental tendo inveja dos outros, julgando comportamentos ou mesmo tendo uma sensação de felicidade ao ver alguém se dando mal — sério, conheço gente assim. Aí te pergunto: pra quê?

Te dou um exemplo.

Dois, até.

Se teu sonho é viajar o mundo ou algo do tipo, pra quê passar horas do teu dia vendo as fotos das minas do Instagram que são pagas pra isso tomando espumante numa piscina de borda infinita?

Ao menos que você seja masoquista, pare de se torturar com esse tipo de coisa.

Chega um ponto em que as comparações se tornam inevitáveis. “Ela é mais nova que eu“. “Ela tem a minha idade“. Cara, você nem sabe se é a mina é realmente feliz. Tem muita gente que vive de aparências.

Esse tempo que você perde se martirizando, poderia focar suas energias em sair do lugar. Em tirar suas ideias do papel. Em trabalhar duro — acredite, nada vem fácil, inclusive pras minas do Instagram, ou você acha que a vida é espumante na piscina?

O outro exemplo é pessoal.

Tem uma galera que me viu no G1, viu o Projeto CR.U.SH na Folha de S.Paulo e às vezes vê alguém foda compartilhando um texto meu e logo pensa que automaticamente fiquei rico por causa disso.

Se eu recebesse R$1 por clique, realmente, já estaria milionário. Mas, o mundo real não funciona assim, amigo.

Li um desabafo do Murillo Leal do Casal do Blog que me chamou a atenção. Talvez por eu estar passando pela mesma coisa, talvez por, até então, eu também só o olhasse com os olhos de quem não sabe dos corres.

A gente só posta o que queremos que os outros vejam. Ninguém sabe as merdas que passamos. Ou mesmo as merdas que eu passei e continuo passando.

Esses dias postei uma foto minha de madrugada dormindo no aeroporto pra economizar o dinheiro do hotel. Dormi tão mal que até hoje meu pulso está doendo. Mas nêgo não vê e não sabe dessas coisas. Só imagina que eu fui pra SP ganhar dinheiro com alguma coisa — e esse nem foi o caso.

Não imagina, por exemplo, que naquele mesmo dia eu tomei café da manhã com um morador de rua. E que ele me fez ser grato pela minha vida e até pelos meus perrengues.

O cara me abordou na rodoviária de Tubarão (SC) e logo pensei que era um assalto. Julguei pela aparência. Sujo, mal vestido. Mas ele só queria um pastel.

Fomos juntos até a lanchonete.

— Pastel de carne? — perguntei.
— Pode ser uma coxinha, irmão.
— Uma coxinha pra ele.
— Rola um cafézinho pra acompanhar?
— Dois cafés. O teu é preto ou com leite?
— Com leite.
— Um café preto e um com leite, por favor.

O tal cara é o Vinícius. A história dele é a de vários outros por aí. Primeiro entrou nas drogas. Depois perdeu o emprego. Aí perdeu a mulher e, aos poucos, todo o resto. Foi pras ruas no início do ano. Diz ele que não é ladrão e há três meses largou o crack. Só que ninguém aí pra ele. Ninguém quer dar uma oportunidade pro Vinícius. A sociedade já o julgou pelo seu passado recente. Ele virou um zumbi, tipo Walking Dead. Anda por aí atrás de alimento só esperando a sua hora.

Esse tipo de convivência é difícil. Precisamos aprender a fazer o bem para outras pessoas sem esperarmos qualquer tipo de recompensa e, principalmente, sem julgamentos. Isso se chama empatia. Naquele momento a única coisa que estava ao meu alcance era a coxinha e o café com leite. Não lhe dei uma oportunidade, não lhe arrumei um emprego, não lhe dei um teto, mas matei sua fome naquela manhã. E eu não sei vocês, mas, se eu com fome, não consigo nem pensar direito. Imagina viver isso diariamente, cara.

À noite, naquele mesmo dia, lembrei do Vinícius quando me deitei num banco do aeroporto de Guarulhos e não conseguia dormir por estar desconfortável. Quero dizer, eu estava reclamando por ter que passar por aquilo — e hoje ainda o fiz, ao reclamar do meu pulso — naquela noite, mas e essa galera que dorme nas ruas todos os dias? Mano, eles não deixaram de ser humanos porque se viciaram numa droga ou perderam seus empregos e suas casas. Para de tratar teu cachorro melhor do que um dos nossos, porra.

A lição que tirei disso tudo e quero compartilhar é que, independente de sermos bem sucedidos ou não, dormirmos num hotel de luxo, num apartamento pequeno, num aeroporto ou nas ruas, nunca poderemos ter tudo o que queremos.

Naquele dia o Vinícius só queria um pastel. Ganhou uma coxinha e um café com leite. Ficou satisfeito, mas lá no fundo ele também queria uma casa e um trabalho. Já eu só queria fazer uma boa viagem e não ser perturbado por pedintes.

A real é que a felicidade não é ter tudo no mundo. Pelo contrário, a felicidade está em ser grato por todas as bênçãos que já temos. Independente se você acredita ou não em algum Deus. Sem julgamentos, lembra?

PS: No dia seguinte, em Florianópolis, fui abordado por um outro homem. Dizia ser de Porto Alegre e já ter dormido cinco noites naquela rodoviária. Só queria voltar pra casa e estava sem grana pra comprar a passagem de volta. E eu puto porque passei uma noite no aeroporto…

Gosto de gente que vai lá e faz, em vez de ficar perguntando

Gosto de gente que vai lá e faz, em vez de ficar perguntando

Em todas as famílias, nos círculos de amigos, nas salas de aula, nos ambientes de trabalho, sempre haverá aquela pessoa decidida, pronta a ajudar, a tomar decisões, a colocar a mão na massa, como dizem. Aquela pessoa que não se nega a auxiliar e a quem costumamos pedir socorro quando estamos com algum problema a ser resolvido.

Quem está sempre pronto a ajudar nem imagina o quanto é importante na vida daqueles com quem convive, o quanto sua presença traz tranquilidade e segurança. São essenciais na condução harmoniosa das ações que se tomam, pois ponderam, argumentam, convencem do melhor a ser feito de maneira tranquila, sem forçar nada. Transpiram confiança, ou seja, sabemos que tudo há de correr bem quando eles se envolvem.

Por outro lado, muitos indivíduos parecem nunca saber o que fazer, para onde ir, como socorrer ninguém, tampouco a si mesmos. Trata-se de gente que não sai do lugar, que se acomoda e permanece incólume ao que urge à sua volta, temendo qualquer mudança, não fazendo mais do que o necessário, atendendo somente ao que lhe é pedido, esperando que o outro tome as decisões necessárias.

É muito cômodo deixarmos que outra pessoa assuma as responsabilidades sobre as ações a serem tomadas, afinal, caso algo não dê certo, estaremos protegidos. Isso é balela. Não poderemos nos isentar do que nos acontece, seja porque fizemos algo, seja porque deixamos de fazê-lo, seja porque nos omitimos o tempo todo. Ninguém, afinal, aprende e se aprimora enquanto assiste à vida passar na sua frente, como mero espectador.

Por essa razão é que muitos tentarão se aproveitar das pessoas solícitas, para além do necessário, exagerando no tanto que pedem, no tanto que demonstram precisar de ajuda. Caso não se estabeleçam limites nessa relação, muito provavelmente uma das partes ficará esgotada, enquanto a outra se torna cada vez mais folgada. Saber dizer não quando for necessário nos salva de pessoas que tentam se aproveitar de tudo e de todos.

Sempre valerá a pena podermos ajudar, pois assim nos sentimos úteis, necessários, assim fazemos o bem e nos sentimos bem. Mesmo que não recebamos gratidão de alguns pelo caminho, mesmo que tentem se aproveitar de nós, ainda assim estaremos realizados, pois ninguém consegue ser feliz parado, sentado, apenas recebendo, sem doar um nada. Sejamos felizes, então, mesmo cansados, mesmo doídos, apesar de tudo, mas, sobretudo, felizes.

Eu desejo que você não precise de muito

Eu desejo que você não precise de muito

Tenho pensado muito na importância da gente “se bastar”. De tornar momentos vazios companheiros perfeitos para nossas pequenas felicidades. Seria maravilhoso se todos nós nos sentíssemos plenos conosco, diariamente, em um “se bastar” muito maior que “beijinho no ombro” em fotos publicadas online, não é?

Estar completo e satisfeito, só ou acompanhado, tem muito a ver com o prazer que sentimos em estar em nossa companhia, em sermos respeitosos conosco e gratos pelas coisas boas que temos.

E nos deixarmos encantar, curtindo a sensação boa de estarmos coladinhos conosco, fala muito sobre o tamanho do nosso mundo interior.

Crianças têm um mundo interior absurdamente amplo. Conseguem achar graça em um rolo de papel toalha. Já adultos comumente não tem essa mesma facilidade para se encantar ou melhor para “se bastar”. Quase sempre é preciso que esteja acontecendo alguma coisa excepcional, passando algo muito interessante na televisão ou que aquela pessoa interessante esteja online para que a empolgação aconteça. Senão, o tédio aparece e a graça das coisas bate em retirada.

Se eu pudesse desejar algo para os que amo, desejaria que pudessem “se bastar” com bem pouco, pois quanto mais profundos somos, quanto mais nos conhecemos e nos gostamos, menos as coisas da vida real precisam estar nos habituais conformes para nos animarmos e nos darmos por satisfeitos com elas.

Uma criança ao ganhar um pedaço de bolo, um sem a tão almejada cereja, se delicia com ele mesmo assim e ao final ainda o esfrega feliz no rosto, no cabelo e na roupa.

Já um adulto, um que saiba buscar em seu espaço interior companhia e contentamento, pode até perceber a falta da cereja, mas não se importa em demasia, pois a falta da cereja não desmerece a massa do bolo, tão pouco desqualifica quem o preparou. Existem prazeres em outros cantos e não somente naquela cereja.

Por outro lado, se ofertamos o mesmo bolo para uma pessoa que esteja mergulhada até a ponta do cabelo na “razão das coisas”, certamente ela vai querer trocar o pedaço de bolo, vai reclamar com o gerente, vai pensar mal dos funcionários e terminará o dia com uma indescritível dor de cabeça. A falta da cereja nesse caso acabou com qualquer chance da pessoa em questão estar feliz e satisfeita consigo mesma.

Quantas vezes não cismamos em colocar o pingo em todos os is? Exigimos perfeição de um mundo imperfeito. Esquecemos que as coisas mais importantes são aquelas que não nos custam quase nada.

Que a gente não cobre desse mundo o que falta naquele universo mágico e particular que nos habita. Que a gente possa estar atento para não exigir do mundo real o que só um contato íntimo e amigável com o nosso mundo interior pode nos dar.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Ele não está tão a fim de você

Ele não está tão a fim de você

“Ensinam muitas coisas às garotas: se um cara lhe machuca, ele gosta de você. Nunca tente aparar a própria franja. E que um dia, você vai conhecer um cara incrível e ser feliz para sempre. Todo filme e toda história implora para esperarmos por isso: a reviravolta no terceiro ato, a declaração de amor inesperada, a exceção à regra. Mas às vezes focamos tanto em achar nosso final feliz que não aprendemos a ler os sinais, a diferenciar entre quem nos quer e quem não nos quer, entre os que vão ficar e os que vão te deixar. E talvez esse final feliz não inclua um cara incrível. Talvez seja você sozinha recolhendo os cacos e recomeçando, ficando livre para algo melhor no futuro. Talvez o final feliz seja só seguir em frente. Ou talvez o final feliz seja isso. Saber que mesmo com ligações sem retorno e corações partidos, com todos os erros estúpidos e sinais mal interpretados, com toda a vergonha e todo constrangimento, você nunca perdeu a esperança.”

Trecho do filme “Ele não está tão a fim de você”

“Ele não está tão a fim de você” é o nome de um filme que marcou não pelo filme em si, mas pela obviedade do título. Na época, a frase virou tema de muitas das minhas conversas de bar. Apesar de concordar que a máxima em muitos casos é verdadeira, também a acho um tanto simplista diante das possibilidades infinitas que se apresentam ao longo do caminho e da complexibilidade dos relacionamentos.

Com um olhar mais crítico, essa frase também me soa como um produto de uma sociedade que acredita em um tipo de amor idealizado, romântico, utópico. Um amor que é replicado incansavelmente na literatura, na arte, nos filmes. O amor do “felizes para sempre”, onde estamos sempre dispostos e prontos para amar; onde o relacionamento amoroso é a grande prioridade e alegria de nossas vidas, do qual temos a certeza do que queremos, não importando nossos traumas, medos, feridas do passado. Pois bem, eu não acredito nesse amor.

Os relacionamentos na “vida real” geralmente são muito mais conturbados, incertos, desconexos, descompassados, egoístas, imperfeitos. Seria presunçoso e até ingênuo tentar mapeá-los ou formulá-los. Não existe manual ou fórmula para gostar de alguém, é preciso viver na pele, escolher, permanecer, construir, tentar, desistir, tentar de novo, dia após dia, com o melhor e o pior de nós. Fora isso, nem sempre temos clareza do que queremos ou sabemos reconhecer o que é melhor para nós; às vezes o medo de sofrer é maior do que a vontade de se apaixonar, enfim, as possibilidades são infinitas. Nesses casos o lema “ele não está tão a fim de você”, quando levado ao pé da letra, pode excluir muitos desencontros que poderiam, eventualmente, com um pouco mais de calma, tornar-se grandes encontros.

De certa forma entendo porque a tal frase ficou tão popular e serve tão bem em algumas situações. Se a pessoa não demonstra interesse, realmente não tem porque ficar. Fato. Com um pouco de bom senso e amor próprio, dá para aprender a ler os sinais, da para entender que um bom contato se dá sempre na fronteira, eu não posso fazer sozinha o caminho de dois. Muitas vezes manipulamos, contamos mentiras, fantasiamos, inventamos desculpas, evitamos enxergar os fatos como eles são, porque a verdade da rejeição pode ser inconveniente demais. Daí a frase é um convite para olhar para o que é real. Porque no final das contas, viver uma rejeição ainda é melhor do que viver uma mentira.

Por outro lado, quando estamos emocionalmente equilibrados, naturalmente o pouco não nos será funcional. E ainda, é preciso desenvolver um olhar mais gentil para nossos processos, acreditar que pouco ou muito, muitas vezes é a medida exata que estamos precisando. Assim, o que a gente precisa é adquirir confiança de que quando não estiver bom para nós, teremos a coragem necessária para partir. Com um olhar atento, percebemos que gostar não tem nada a ver com controle, nem é lógico, é uma escolha pessoal. E o que nos move a ela ainda permanece um grande mistério.

Mas, se tem uma coisa que aprendi, é que gostar é um sentimento que a gente aprende com o tempo, não acontece à primeira vista, o que acontece à primeira vista é uma projeção, uma ilusão. Gostar não é perder-se, é se encontrar. Portanto, gostar mesmo acontece de mansinho, não é fruto de esforço, nem de atos grandiosos ou mirabolantes. Nem sempre é uma escolha racional ou acontece na hora que a gente quer. De repente a gente se dá conta. De repente, aquela ausência nos faz falta e a presença nos faz bem.

Então, ele pode não estar tão a fim de mim. Ou sim. E tudo bem. Porque no fim do dia o que o outro sente ou faz é de responsabilidade dele, mas é importante conhecer meus limites e saber o que me é suficiente, porque o tanto que quero ou aceito, se fico ou parto, isso sim é responsabilidade minha.

Não basta reduzir o açúcar. Pra viver bem tem de aumentar o amor.

Não basta reduzir o açúcar. Pra viver bem tem de aumentar o amor.

Obrigado, doutores endócrinos, nutricionistas, preparadores físicos, musas fitness e toda gente afeita a defender dietas, receitas, fórmulas e novos hábitos para uma vida boa e saudável. Vocês estão fazendo um ótimo trabalho! Mas aqui entre nós, tudo isso de nada vale sem um detalhe: não basta reduzir açúcar, carboidrato, gordura. Tem de aumentar o amor!

Pão integral faz bem, mas ter alguém a quem se achegar inteiro, como um navio repleto de imigrantes aportando na terra nova, faz muito mais. Faz, sim. Nada contra granola light, mas uma pipoquinha no cinema de braço dado, a cabeça encostada no ombro do outro, ahh… faz o coração bater mais leve.

De que adiantam as dietas e o exercício físico para quem arrasta uma alma sedentária? Correr, andar, puxar ferro, malhar o corpo levam embora no suor a sujeira dos dias. Mas alongar nossos afetos é que nos leva adiante por caminhos limpos, povoados de gente nova e velhos amigos. Renova nossa esperança, exercita nosso gosto pela vida.

O amor é um exercício poderoso. Reduz o peso da barriga e leva embora o das costas. Quem ama faz tudo melhor, dorme, acorda, estuda, trabalha, come sem culpa, vive sem medo. É o exercício do amor que nos equilibra na vida, compensa a sanha odiosa dos idiotas, ajeita as coisas.

Quem ama a si mesmo ou ao outro com empenho vai bem na academia, na quadra, no campo, na pista, na yoga, no pilates e onde mais quiser. Amar condiciona e fortalece, refresca e aquece. Cura e agradece.

Obrigado, senhores especialistas. Mas não basta reduzir o açúcar nem intensificar o treino. Só vive melhor, com mais saúde e intensidade quem não tem preguiça de aumentar o amor.

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