Um inimigo silencioso, que se instaura sem ser percebido. Não faz alarde e não deixa marcas visíveis. A violência psicológica, ou velada, existe e, mesmo que ainda seja ignorada por agressores e também por parte significativa de suas vítimas, a exposição a ela pode deixar marcas profundas.
“A maior parte das vítimas da violência velada é composta por pessoas que por desconhecimento não se sentem vitimizadas até que seja tarde demais”, informou à CONTI o especialista em segurança pública e coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal no Rio Grande do RN/UFERSA, Ivenio Hermes.
“Nesse leque encontramos menores suscetíveis e vulneráveis, que sofrem a violência causada pela ausência dos pais e das autoridades, e também, mulheres e crianças que sofrem esse tipo de agressão também dentro de seus próprios lares, onde o causador pode ser um parente ou pessoa de confiança”.

SINAIS
“Abusadores são pessoas conhecedoras de métodos sofisticados de manipulação. Culpabilizam, punem com silêncio passivo-agressivo, projetam e invertem culpas com uma maestria que somente um expert seria capaz de captar à primeira vista”, disse à CONTI a advogada e personal coach Lucy Rocha.
Lucy foi uma dessas vítimas mas, depois de tentar se livrar por quatro anos de uma relação abusiva, conseguiu dar um ponto final na situação e decidiu criar uma página no Facebook para ajudar homens e mulheres que vivenciam os mesmos problemas pelos quais ela passou. Assim, em 2013, surgiu a Relações Tóxicas.
“Desde a primeira linha eu tinha noção de que seria um trabalho árduo, com um custo
emocional e financeiro importantes. Desde então, lido com pessoas incríveis e histórias inspiradoras que indicam que fiz uma escolha acertada”, escreveu em nota publicada na própria página.
Lucy afirma que é difícil a vítima se dar conta de que está em uma relação abusiva. “Normalmente essas pessoas passam anos e anos de suas vidas na mira de um abusador sem exatamente compreender que estão sofrendo abuso”, comenta.
Para ela, a dificuldade em reconhecer-se em tal posição está ligada ao fato de que os responsáveis pelos abusos sabem manipular bem os envolvidos, deixando-os sempre em posição de vulnerabilidade.
Dentre os diversos sinais que podem dar indícios de uma relação afetiva abusiva, onde a prática de violência psicológica é comum, Lucy aponta: 1 – a atenção excessiva logo no início da relação, ultrapassando o afeto comum e beirando o sufocamento; 2 – as “brincadeiras” aparentemente inofensivas que denigrem e minam a autoestima; 3 – a indução para o afastamento de amigos, familiares e hobbies – isso facilita a dependência e dificulta o pedido de socorro.
“A coisificação de outro ser humano por meio de tratamentos humilhantes, desrespeitosos e/ou degradantes, é um dos melhores meios de se identificar os relacionamentos abusivos”, completa Ivenio.
Ivenio ainda diz que “é necessário dar a devida atenção para os sinais aparentes da violência velada, que podem ser pequenas marcas corporais/físicas”, alerta para os “sintomas externos das reações psicológicas, que podem ser introversão e timidez excessiva, pouco contato com pessoas da mesma idade no caso de crianças e adolescentes, além do receio de conversar”.
“Não existe uma forma de mensurar quantitativamente ou qualitativamente essa violência, pois as delegacias que labutam nesse campo não possuem instrumentos de qualitativos nem de medir a violência aparente”, explica Ivenio, que é um dos autores do Observatório Potiguar 2016. “Se os meios de aferição são tão escassos em crimes visíveis, imagine em crimes que não são facilmente perceptíveis?”.
COMBATE E PREVENÇÃO
“Infelizmente, apesar do fato de que a violência psicológica esteja prevista como crime no
art. 7 da Lei Maria da Penha, ainda é algo muito difícil de se comprovar. As sessões de tortura psicológica, as dinâmicas instauradas, as agressões veladas são tão sutis e surreais, que quando a vitima tenta denunciar ou ao menos contar a alguém, normalmente é tida como louca, excessivamente sensível ou como alguém que não esta lidando bem com o termino da relação”, lamenta Lucy.
Os profissionais aqui entrevistados concordam que o combate a esse tipo de violência está vinculado ao grau de autoconhecimento e discernimento das vítimas. A isso deve estar aliado o acesso à justiça por meio de mecanismos de denúncia que não as exponham.
“Nesse contexto é necessário buscar ajuda de pessoas idôneas, é claro, buscando uma delegacia de proteção à criança e adolescentes, idosos, mulheres, enfim, delegacias que estejam pelo menos habituadas ao trato com pessoas suscetíveis a essa forma de agressão”, indica Ivenio. “De uma forma muito carinhosa e pessoal, aconselho que todas as mulheres, aliás, todo o ser humano, se perceba como de equivalente e igualitária importância dentro de uma relação, devendo se amar em primeiro lugar, se valorizar intimamente, para não se suscetibilizar a nenhum tipo de relacionamento abusivo”, conclui.
“Se há ameaça ou agressão física, o caminho é lavrar boletim de ocorrência, fazer exame de corpo de delito, representar para que se torne uma ação penal e, se necessário, requerer na própria delegacia medida protetiva para manter o agressor à distância. Se a ordem for desobedecida, minha sugestão é que registrem, busquem testemunhas e chamem imediatamente as autoridades”, aconselha Lucy, antes de arrematar: “Jamais aceite ter uma conversa, um encontro final ou conflito com alguém que já atentou contra sua vida. Costumo dizer que dar-lhes uma segunda chance, é como dar uma segunda bala para alguém que só tinha uma, atirou em você e não acertou”.


Nesse filme em seu leito de morte, a pintora Frida Kahlo (Ofelia Medina) relembra sua vida. O filme expõe de forma aleatória e não-cronológica, uma série de passagens da vida da artista, relacionadas aos seus casos amorosos, à militância política, à infância com o pai Guillermo e, claro, a sua produção artística. Em suma, o filme nos proporciona a sensação de entrarmos na mente de Frida Kahlo para captar, a partir de suas memórias, os seus sofrimentos, anseios e paixões.
Camille Claudel (Isabelle Adjani) é uma jovem escultora que entra em conflito com sua família ao tornar-se aprendiz, e mais tarde, assistente do famoso escultor Auguste Rodin (Gérard Depardieu). Quando ela e o escultor viram amantes, Camille passa a ser mal vista pela sociedade francesa da época. Apenas após viver quinze anos de um relacionamento conturbado, ela põe fim na relação com Rodin, para cair então em uma profunda depressão. Diante das circunstâncias, seu irmão mais novo acaba internando-a em um hospital psiquiátrico. Baseado na biografia escrita por Raine-Marie, sobrinha-neta de Camille, esse filme foi o responsável pelo “renascimento” das obras da escultora.
Em 1915, na Inglaterra, começa a nascer o amor entre Dora Carrington (Emma Thompson), uma pintora conceituada, por Lytton Strachey (Jonathan Pryce), e um escritor assumidamente gay e 15 anos mais velho. Uma das melhores cinebiografias já feitas, esse é um grande filme. Ao contar a história não de um, mas de dois artistas, na Inglaterra vitoriana, o diretor e roteirista britânico Christopher Hampton conseguiu fazer uma sofisticada obra que discute amor, arte, paixão e solidão, mas em especial a atração, não apenas sexual, mas física, intelectual e afetiva entre duas pessoas. Nem Dora Carrington nem Strachey foram famosos em sua época, contudo a delicadeza de Hampton os tirou do anonimato através de uma história muito bem contada. Um filme provocante e com atuações maravilhosas.
Artemisia Gentileschi (1593-1653) foi uma das primeiras pintoras conhecidas. O filme conta a história de sua juventude, enquanto ela era guiada e protegida por seu pai, o pintor Orazio Gentileschi. Sua curiosidade profissional sobre a anatomia masculina, proibida para seus olhos, levam-na ao conhecimento do prazer sexual. Mas ela também foi bem conhecida porque, em 1612, ela teve que se apresentar à corte, devido à suspeita de estupro cometida por Agostino Tassi, seu professor.
Frida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, ele teve um agitado casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu companheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush). Esse filme biográfico, baseado no livro de Hayden Herrera, conta a vida de Kahlo desde a sua adolescência até o ano de sua morte. Com uma ótima atuação de Salma Hayek, o filme mostra também o momento em que a pintora foi acometida por um trágico acidente; suas viagens pelo mundo; seu amor natural pelos animais; seus momentos boêmios; suas opções políticas e sua relação com Trotsky. Película obrigatória para os amantes da arte.
Diane Arbus (Nicole Kidman) é considerada por muitos como uma das melhores fotógrafas do século XX. Ao longo de sua carreira Diane voltou sua atenção para o bizarro, o inusitado e o diferente em suas fotos e esse filme pode ser considerado como uma espécie de biografia da fotógrafa. No filme Diane sente-se atraída por Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), um portador de tricotomia, disfunção caracterizada pelo excesso de pelos e o enredo gira entorno dessa atração dela por ele e por tudo que é inusitado. Nesse filme o diretor inventa personagens e situações que vão além da realidade para expressar a provável visão interior de Diane. Contando com atuações corajosas de Nicole e Robert, o filme, baseado no livro de Patricia Bosworth, tem ótima fotografia e figurino e exige boa vontade do expectador.
Esse filme biográfico acontece na Suécia do início do século 20, numa era de mudança social e pobreza, onde a jovem operária Maria Larssons ganha uma câmera fotográfica na loteria. A lente da câmera permite que Maria veja um mundo diferente, sob uma nova perspectiva. É como se ela tivesse ganhado novos olhos. Mas o objeto também se torna uma verdadeira ameaça para ela, uma vez que o marido alcoólatra e abusivo se sente enciumado. Tudo fica ainda mais complicado quando ele descobre que um jovem e atraente fotógrafo chamado Pedersen está se aproximando de sua esposa. Um filme lindo, cuja história cativante é muito bem retratada pelo diretor Jan Troell. Com fotografia belíssima, o filme conquista e envolve, nos fazendo chorar e vibrar ao lado da protagonista.
Cinebiografia de Séraphine Louis (1864-1942) – também conhecida como Séraphine de Senlis, que foi descoberta pelo marchand e crítico de arte Wilhelm Uhde. Colecionador dos quadros de cubistas como Picasso e Braque, Uhde refugia-se, em um momento de crise, em uma casa de campo, onde Séraphine trabalha fazendo faxina e por acaso vem a conhecer uma pintura que ela havia feito e deixado com sua patroa. Considerada louca em seu vilarejo por ser dona de uma personalidade por vezes servil e por vezes absolutamente indomável, Séraphine passou a ser reconhecida como uma das expoentes francesas do grupo de artistas “primitivos modernos”. A história de Séraphine é comovente e apaixonante e traça uma linha tênue entre a genialidade e a loucura. Belo filme com atuação, fotografia e trilha sonora impecáveis.
Uma das pintoras mais importantes da história da arte americana, Georgia Totto O’Keeffe (Joan Allen) pintou flores e paisagens como ninguém e conheceu o amor e a fama com fotógrafo Alfred Stieglitz (Jeremy Irons), com quem manteve um intenso relacionamento amoroso e profissional. Um filme imperdível, um drama cativante tanto para os fãs do trabalho da artista quanto para quem ainda não a conhece.
Intratável, terna, boêmia, áspera, contundente, frágil e indomável. Violeta Parra foi uma das artistas mais emblemáticas do Chile – e ainda assim, profundamente ignorada por décadas. Andrés Wood realizou um trabalho muito bonito ao trazer para as telas, a partir do livro escrito pelo filho de Violeta, Ángel Parra, a vida, a obra, a memória, os amores e as esperanças dessa cantora, compositora, poeta e pintora que é um dos maiores ícones da arte popular latino-americana. Um filme muito bem dirigido e cheio de intensidade.
A pintora Marie Kroyer vive um casamento infeliz com o famoso pintor dinamarquês P.S. Kroyer, no final do século XIX. Ele divide-se entre as funções de artista, mãe e esposa, e ainda é obrigada a conviver com uma doença mental do marido. Com o tempo, ela se sente cada vez mais sozinha e angustiada. Decide, então, fugir da rotina e sair de férias. Nesse período, conhece o compositor sueco Hugo Alfvén, por quem se apaixona loucamente. Um filme lindo, dirigido com maestria, que certamente levará muitos expectadores às lágrimas.
No final dos anos 1950, Walter Keane (Christoph Waltz) fez muito sucesso revolucionando a comercialização de arte popular com suas pinturas enigmáticas de crianças com grandes olhos tristes. O filme retrata a verdade chocante por trás disso: as pinturas vendidas por Walter não eram dele, mas de sua mulher, Margaret (Amy Adams). O filme é centrado no despertar de Margaret como artista, no sucesso fenomenal de suas pinturas e em sua relação tumultuada com o marido, Walter, que a obrigou a pintar de forma exaustiva por anos sem que ninguém soubesse disso. Uma ótima cinebiografia dirigida por Tim Burton com Lana del Rey na trilha sonora. Vale a pena!
Inverno, 1915. Contra a sua vontade, a escultora Camille Claudel (Juliette Binoche) é internada pelos familiares em um asilo psiquiátrico mantido por religiosas, e permanece durante anos na instituição, sem poder sair. Ela afirma várias vezes que está perfeitamente sã, mas desenvolve uma mania de perseguição, acreditando que Auguste Rodin conspira contra ela, e que todos no asilo tentam envenená-la. Camille passa os dias cercada por internos com deficiências mentais e surtos psicóticos graves, não tendo ninguém com quem conversar. Sua única esperança é uma carta enviada clandestinamente ao irmão Paul (Jean-Luc Vincent), implorando por sua liberação. Esse é um filme bastante denso que tem como intuito retratar a vida da escultora quando internada, sem fazer menção ao período anterior da vida de Camille. Um enredo desafiador que exige bastante paciência do expectador.
Esse é um filme baseado no livro homônimo de David Ebershoff e mostra a história biográfica de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco no filme está o relacionamento amoroso de Lili com a pintora, desenhista e ilustradora dinamarquesa Gerda Wegener (Alicia Vikander), assim como sua descoberta como mulher. Um filme interessante, bastante comentado e com direção sólida, sem grandes sobressaltos.











