Amor é amor. Posse é posse. Favor não confundir!

Amor é amor. Posse é posse. Favor não confundir!

Era uma mulher adulta, ali ao meu lado na manicure. Jovem. Bem mais jovem do que eu. Mas, uma mulher adulta. Tanto quanto eu, estava ali para dar a si mesma o gostinho dessas delícias femininas. Essas gostosuras cotidianas que constituem os prazerosos ritos de vaidade. É bom cuidar de si. É bom achar-se bonita, com as unhas coloridas em tons inesperados. Já pararam para ver a infinidade de cores que inventam para os esmaltes? Eu me divirto!

Outro dia mesmo colori minhas unhas dos pés e das mãos com “Livros inesquecíveis”. Este tinha um tom lindo de azul, entre o marinho e o oceânico. Na outra semana, escolhi “Bagagens & Viagens”, dessa vez era um tom que oscilava entre o vinho e o chocolate. Mas naquele dia, tinha já escolhido a cor mesmo antes de sair de casa; levei na bolsa o “Aguenta coração”! Tem dias que o esmalte, assim como o batom, tem que ser vermelho. Um vermelho desses que não deixa dúvida, sabe? É vermelho MESMO!

Enquanto eu dividia minhas mãos com Mariana (Mariana é minha talentosa manicure), a moça ali ao meu lado deu um suspiro meio de aflição, ou júbilo, não sei ao certo… e disse “Linda essa cor na sua mão! Bem vermelho, né?”. Nossos olhos se encontraram por alguns instantes. E eu vi ali, naqueles olhos da moça, tão mais moça do que eu, algo que me inquietou.

Eu tenho um faro enorme para pescar no ar os sentimentos ao redor. Sobretudo aqueles que doem. No entanto, costumo “ficar na minha”, como se diz por aí. Se a pessoa quiser dar um passo adiante, eu sou ótima ouvinte. Mas sou melhor ainda em respeitar os silêncios alheios.

Bem… A moça ao meu lado na manicure, quis dar um passo além. “Acho lindo esmalte vermelho. Mas, meu marido não gosta!”. Confesso que por alguns instantes me aconteceu algo que é bastante raro: fiquei sem saber o que fazer. Depois de uma confissão tão singela dessas, um sorriso seria pouco, um comentário aleatório, seria menos ainda, um comentário sincero, talvez fosse invasivo.

Mas, alguma coisa dentro de mim fez brotar um desejo incontido de jogar uma faísca naquela alma feminina tão jovem, ali sentada ao meu lado na manicure. Abri um sorriso de mãe. Sabe o que é um sorriso de mãe? É aquele que inclui ouvidos generosos, braços que acolhem e um colo oferecido. Pois eu abri um sorriso de mãe e disse “Ah… seu marido também pinta as unhas?”. Diante da pergunta inusitada, duas coisas inusitadas aconteceram: ao nosso redor fez-se um silêncio, a moça ao meu lado caiu na gargalhada.

Riu gostoso. Até interrompeu o trabalho da outra moça que se ocupava em esmaltar-lhe as unhas com um esmalte sem cor certa, meio branco, meio bege, meio transparente. Findo o riso que fez com ela desse mais um passo adiante, a jovem moça tocou meu braço “Sabe, essa sua pergunta bem-humorada me fez lembrar de uma coisa… Meu marido usa há anos um perfume que me faz espirrar. Por delicadeza, ou por amor mesmo… Nunca mencionei! Como ele só usa o perfume aos fins de semana, eu prefiro tomar um antialérgico a magoá-lo com uma crítica.”

E não é que eu vi ali, no feminino universo do salão de manicure, uma alma de menina ser liberta? Os mesmos olhos que antes tinham cruzado com os meus, e nos quais algo havia me inquietado; vi algo agora que me fez ganhar o dia! A faísca que eu lancei naquela alma obediente, ateou fogo e iluminou, fez nascer um desejo travesso de subverter a ordem estabelecida pelo silêncio das regras de posse.

A mulher adulta, sentada ao meu lado na manicure devolveu-me o sorriso de mãe com um sorriso de filha. Sabe o que é um sorriso de filha? É aquele que inclui beijos estalados na bochecha, gratidão e colo retribuído. Pois ela abriu um sorriso de filha para mim e disse “Hoje eu vou fazer duas coisas: dar um perfume novo ao meu marido e apresentar a ele uma nova mulher. Hoje eu vou de vermelho!”.

Desculpem-me os céticos e desesperançados. Desculpem-me também os azedos. Mas eu insisto em teimar que não há comodismo que resista a um pensamento de alegria. Eu ainda ouso acreditar que o bem se faz ao outro assim, com sorrisos que acolhem e fagulhas de vida que se doam sem nenhuma expectativa. Eu acredito que amor é amor, posse é posse. E um anula o outro, completamente.

Imagem de capa: Eliseu Fiuza

Tenho medo dos românticos

Tenho medo dos românticos

Tenho medo dos românticos! E os temo justamente porque já fui (sou?) muito romântica.

Tendemos a confundir romantismo com gentileza, delicadeza, ternura, cavalheirismo, demonstração de afeto, bem cuidar, bem querer; acreditamos que o romantismo é um efeito colateral do amor, mas isso nem sempre é verdade.

Certamente gentileza, delicadeza, bem querer e bem cuidar são efeitos colaterais do amor –  assim como a admiração e o respeito. No entanto, existem pessoas que amam profundamente sem serem românticas.

Românticos são aqueles que acreditam na ilusão de que o outro tem o que nos falta. Que supõem o objeto do seu amor tão imenso, tão dotado de qualidades mil que acabam se sentindo grandiosos, também, quando são retribuídos em seus apelos. Em outras palavras: idealizam o ser amado.

São aqueles que só encontram conforto na própria pele quando estão amando e/ou sendo amados. Que só conseguem deixar de se sentir ninguém quando estão amando alguém. Que morrem a cada separação por não encontrarem sentido para suas vidas sem a presença do ser idealizado.

Supõem-se sonhadores, mas no fundo são idealizadores. Criam um mundo paralelo para se refugiar quando o mar não está para peixe: o amor e/ou a impossibilidade de desfrutá-lo.

E decepcionam-se! Ah, como se decepcionam os românticos! Cedo ou tarde os objetos de suas paixões ganham contornos de inadequação. Até mesmo uma pinta no tornozelo esquerdo, antes ignorada, torna-se um transtorno. Qualquer passo em falso dos parceiros, qualquer nota destoante da sinfonia criada/idealizada pelos românticos e pronto: eles se frustram e se desapaixonam. Tão logo se desapaixonam, apaixonam-se (supostamente) por outrem. Vivem em eterna ciranda à procura do ser ideal.

Muitos, aliás, escolhem alguém para colocar num pedestal inatingível, somente para ter por quem suspirar. Outros tantos se maltratam. E há os que se autodestroem mas deixam obras primas pelo caminho, caso de Amy Winehouse em seu disco Back to black.

Românticos amam a ideia do amor, não o amor consumado. Alguns temem consumar o amor com receio de empobrecê-lo tremendamente e perder o completo controle de si. Além disso, não toleram a possibilidade do engano, da frustração. O melhor que podem fazer por si é se refugiarem na imaginação! Afinal, na imaginação cabe tudo! Tudo é possível! Não há frustração! Tudo pode ser perfeito.

Assim foi com Frederico, protagonista do livro “Educação Sentimental”, de Gustave Flaubert (Editora Martin Claret). Amou, até as últimas das mais de 400 páginas, Mme. Arnox, uma mulher mais velha e casada, por quem fez diversas loucuras; enrolou-se com outras tantas na tentativa de esquecê-la, mas, quando teve finalmente a chance de fundir seu corpo ao dela – e quem sabe iniciar uma vida em comunhão – recuou:

“Frederico suspeitou Mme. Arnoux de ter vindo oferecer-se-lhe; e recaíra num desejo mais forte que nunca, furioso, desesperado. Mas sentia o que quer que fosse de inexprimível, uma repulsão e como que o horror de um incesto. Outro receio o deteve, o de vir a sentir desgosto mais tarde. E depois, que embaraço! – E não só por prudência mas para não degradar o seu ideal, rodou sobre os calcanhares e pôs-se a fazer um cigarro”. (página 416)

O personagem de Flaubert flanava na Paris do século XIX, mas são tantos os Fredericos e as Fredericas que suspiram no século XXI acreditando-se apaixonados incuráveis sem, talvez, nunca terem se permitido a um amor verdadeiro…

Flores? Sim, obrigada! Poemas, cartas de amor, presentinhos inesperados, jantar à luz de velas, declarações de amor, lua de mel em ilhas paradisíacas, massagem nos pés, socorro no meio da estrada quando fura o pneu do carro, ajuda pra resolver um problema, sex0 bom no chuveiro ou no tapete da sala, comidinhas de depois, vinho com risoto de cogumelos feito em casa? Sempre, sempre e sempre! Por favor! Obrigada! Amém!

Mas confesso que prefiro dançar esse balé na companhia de quem me ame como eu sou, não de quem se diz romântico, faz todo o passo a passo ensaiado, porém no fundo idealiza o amor e o objeto de sua paixão. Prefiro quem me ame mesmo quando eu acordo descabelada e mal humorada. Será que um romântico à moda antiga conseguiria?

Você é meu réveillon

Você é meu réveillon

Eu nunca quis que você entrasse na minha vida.

Nunca sonhei com você aqui ao meu lado todos os dias.

Não quero conhecer o seu mau humor matinal, as suas neuroses, o seu lado cotidiano.

Não quero saber qual é o nome da sua mãe, não quero ver as suas fotos da infância.

Não quero provar sua comida – não todos os dias.

Não imagino a cara dos nossos filhos, não quero segurar sua mão nas ruas, não te quero de corpo tão presente, fazendo papel de marido, opinando na fatura do cartão de crédito, e comendo o último iogurte da geladeira. Não me quero lavando sua meia junto com as minhas calcinhas. Não quero conhecer todos os seus lados.

Porque você é o que eu preciso para romper o comodismo.

Você é a minha agulha, é a ponta afiada que estoura a minha bolha chata e inflamada e ao mesmo tempo você é a minha pena de fazer cócegas na sola dos pés.

Com você eu gosto de ser a outra mulher, não essa chata, centrada, multitarefa, repetitiva. Eu gosto de ser a mulher que não dorme à noite, que se lembra como dar gargalhada, que sabe falar sobre todos os assuntos, que olha pela janela e contempla a doce paisagem urbana e esquece os ciclos de pensamentos viciosos.

Que esvai. Gosto de ser a mulher que se dissolve no tempo e no espaço.

Porque você é meu reveillon. E eu não me importo de fazer 30 aniversários por ano, desde que não sejam 365. Você é a minha ruptura, as minhas férias numa ilha deserta.

Eu gosto que a gente seja a explosão, a catarse – um do outro. A salvação.

Você é fogos de artifício que fazem essa mulher chata sorrir por dias.

Não vou te associar a stress, família, contrato de união instável…

Você é sazonal, é estouro de champagne,
é as sete ondas que pulei depois da meia noite.

Acho que eu não sou desse mundo !

Acho que eu não sou desse mundo !

O mundo anda doente, as pessoas estão cada vez mais estressadas e sem tempo para ninguém, as postagens virtuais destilam preconceito e agressividade, quanto amargor. Não sobra tempo mais para a gentileza, para a conversa, para os encontros; o trabalho nos rouba todo o tempo, tempo de vida, de lazer, de amor. Encontro-me perdido em meio a tudo isso, muitas vezes deslocado da maré que varre feito turbilhão os resquícios de humanidade que deveriam ser prioridade na vida de qualquer pessoa.

Eu ainda acredito no ser humano, na natureza humanamente gregária do homem, que nos torna necessitados de convivência, de companheirismo, de toque e de trocas. Recuso-me a crer numa sociedade majoritariamente preconceituosa e excludente, disposta a obter vantagens e bens materiais, mesmo que às custas da infelicidade alheia.

Acredito no poder do amor, na força do bem, na capacidade de a verdade sobrepor-se a toda e qualquer mentira, a toda e qualquer infelicidade solitária. O bem tem que vencer o mal, em todos os setores dessa vida – ou isso ou se perdem os objetivos de vida baseados na ética e no respeito ao outro. Recuso-me a pisar alguém para me sobressair, a mentir para conseguir o que quero, a odiar simplesmente porque sou contrariado.

Creio em sentimentos sinceros, em acolhimento verdadeiro, em guarida afetiva. Ainda existe quem ama sem medo, quem se entrega sem censura, quem acolhe o diferente, o dissonante, o que anda na contramão de todos. Não posso conceber a ideia de que todo mundo age com segundas intenções, que ninguém seja capaz de se doar sem querer nada em troca, que a aceitação de todas as raças, credos e gêneros seja uma utopia, um sonho impossível.

Costumo confiar nas pessoas, nas palavras, nas atitudes que vejo, sem ficar com o pé atrás, sem hesitar, desconfiando de que aquilo possa se tratar de encenação premeditada, de riso forçado, de ardil encoberto. Não posso crer que gente do bem é espécie em extinção, que curtida no Face valha mais do que um aperto de mão caloroso, que se julguem as pessoas pelas aparências, pela procedência, por tudo menos pela essência que as define.

Acho que não sou daqui, acho que nasci no tempo e no lugar errados, pelo tanto de decepções que se amontoam em meu caminhar, em relação a quem, principalmente, recebeu o meu melhor. Ainda assim, mesmo sob olhares de censura, palavras de desânimo, tombos e dores, persistamos no propósito de alcançar a felicidade da forma mais limpa e ética que pudermos, pois o que é nosso então se resguardará, para que desfrutemos do bom e do melhor junto aos poucos verdadeiros que se juntaram a nós. Assim seja.

Violência Psicológica: agressão além da pele

Violência Psicológica: agressão além da pele

Um inimigo silencioso, que se instaura sem ser percebido. Não faz alarde e não deixa marcas visíveis. A violência psicológica, ou velada,  existe e, mesmo que ainda seja ignorada por agressores e também por parte significativa de suas vítimas, a exposição a ela pode deixar marcas profundas.

“A maior parte das vítimas da violência velada é composta por pessoas que por desconhecimento não se sentem vitimizadas até que seja tarde demais”, informou à CONTI o especialista em segurança pública e coordenador do OBVIOObservatório da Violência Letal no Rio Grande do RN/UFERSA, Ivenio Hermes.

“Nesse leque encontramos menores suscetíveis e vulneráveis, que sofrem a violência causada pela ausência dos pais e das autoridades, e também, mulheres e crianças que sofrem esse tipo de agressão também dentro de seus próprios lares, onde o causador pode ser um parente ou pessoa de confiança”.

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SINAIS

“Abusadores são pessoas conhecedoras de métodos sofisticados de manipulação. Culpabilizam, punem com silêncio passivo-agressivo, projetam e invertem culpas com uma maestria que somente um expert seria capaz de captar à primeira vista”, disse à CONTI a advogada e personal coach Lucy Rocha.

contioutra.com - Violência Psicológica: agressão além da peleLucy foi uma dessas vítimas mas, depois de tentar se livrar por quatro anos de uma relação abusiva, conseguiu dar um ponto final na situação e decidiu criar uma página no Facebook para ajudar homens e mulheres que vivenciam os mesmos problemas pelos quais ela passou. Assim, em 2013, surgiu a Relações Tóxicas.

“Desde a primeira linha eu tinha noção de que seria um trabalho árduo, com um custo
emocional e financeiro importantes. Desde então, lido com pessoas incríveis e histórias inspiradoras que indicam que fiz uma escolha acertada”, escreveu em nota publicada na própria página.

Lucy afirma que é difícil a vítima se dar conta de que está em uma relação abusiva. “Normalmente essas pessoas passam anos e anos de suas vidas na mira de um abusador sem exatamente compreender que estão sofrendo abuso”, comenta.

Para ela, a dificuldade em reconhecer-se em tal posição está ligada ao fato de que os responsáveis pelos abusos sabem manipular bem os envolvidos, deixando-os sempre em posição de vulnerabilidade.

Dentre os diversos sinais que podem dar indícios de uma relação afetiva abusiva, onde a prática de violência psicológica é comum, Lucy aponta: 1 – a atenção excessiva logo no início da relação, ultrapassando o afeto comum e beirando o sufocamento; 2 – as “brincadeiras” aparentemente inofensivas que denigrem e minam a autoestima; 3 – a indução para o afastamento de amigos, familiares e hobbies – isso facilita a dependência e dificulta o pedido de socorro.

“A coisificação de outro ser humano por meio de tratamentos humilhantes, desrespeitosos e/ou degradantes, é um dos melhores meios de se identificar os relacionamentos abusivos”, completa Ivenio.

Ivenio ainda diz que “é necessário dar a devida atenção para os sinais aparentes da violência velada, que podem ser pequenas marcas corporais/físicas”, alerta para os “sintomas externos das reações psicológicas, que podem ser introversão e timidez excessiva, pouco contato com pessoas da mesma idade no caso de crianças e adolescentes, além do receio de conversar”.

“Não existe uma forma de mensurar quantitativamente ou qualitativamente essa violência, pois as delegacias que labutam nesse campo não possuem instrumentos de qualitativos nem de medir a violência aparente”, explica Ivenio, que é um dos autores do Observatório Potiguar 2016. “Se os meios de aferição são tão escassos em crimes visíveis, imagine em crimes que não são facilmente perceptíveis?”.

COMBATE E PREVENÇÃO

“Infelizmente, apesar do fato de que a violência psicológica esteja prevista como crime no contioutra.com - Violência Psicológica: agressão além da peleart. 7 da Lei Maria da Penha, ainda é algo muito difícil de se comprovar. As sessões de tortura psicológica, as dinâmicas instauradas, as agressões veladas são tão sutis e surreais, que quando a vitima tenta denunciar ou ao menos contar a alguém, normalmente é tida como louca, excessivamente sensível ou como alguém que não esta lidando bem com o termino da relação”, lamenta Lucy.

Os profissionais aqui entrevistados concordam que o combate a esse tipo de violência está vinculado ao grau de autoconhecimento e discernimento das vítimas. A isso deve estar aliado o acesso à justiça por meio de mecanismos de denúncia que não as exponham.

“Nesse contexto é necessário buscar ajuda de pessoas idôneas, é claro, buscando uma delegacia de proteção à criança e adolescentes, idosos, mulheres, enfim, delegacias que estejam pelo menos habituadas ao trato com pessoas suscetíveis a essa forma de agressão”, indica Ivenio. “De uma forma muito carinhosa e pessoal, aconselho que todas as mulheres, aliás, todo o ser humano, se perceba como de equivalente e igualitária importância dentro de uma relação, devendo se amar em primeiro lugar, se valorizar intimamente, para não se suscetibilizar a nenhum tipo de relacionamento abusivo”, conclui.

“Se há ameaça ou agressão física, o caminho é lavrar boletim de ocorrência, fazer exame de corpo de delito, representar para que se torne uma ação penal e, se necessário, requerer na própria delegacia medida protetiva para manter o agressor à distância. Se a ordem for desobedecida, minha sugestão é que registrem, busquem testemunhas e chamem imediatamente as autoridades”, aconselha Lucy, antes de arrematar: “Jamais aceite ter uma conversa, um encontro final ou conflito com alguém que já atentou contra sua vida. Costumo dizer que dar-lhes uma segunda chance, é como dar uma segunda bala para alguém que só tinha uma, atirou em você e não acertou”.

Todas as imagens são do fotógrafo Richard Johnson, criador da campanha “Weapons of Choice”, e destacam a dor causada por insultos verbais. 

Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar feminino

Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar feminino

Mulheres artistas são fantásticas, pois expressam com maestria, através da arte, todo o furor que há no âmago feminino, não privam suas vidas de grandes emoções e vivem intensamente.

Nessa lista vocês encontrarão 14 ótimos filmes biográficos de grandes mulheres que mudaram o mundo das artes através da pintura, escultura e fotografia.

A vida de cada uma dessas artistas foi em grande parte movida por paixões e tragédias e inegavelmente, fala de pessoas que não se contentaram com uma existência comedida.

1. Frida, Natureza Viva – 1986

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoNesse filme em seu leito de morte, a pintora Frida Kahlo (Ofelia Medina) relembra sua vida. O filme expõe de forma aleatória e não-cronológica, uma série de passagens da vida da artista, relacionadas aos seus casos amorosos, à militância política, à infância com o pai Guillermo e, claro, a sua produção artística. Em suma, o filme nos proporciona a sensação de entrarmos na mente de Frida Kahlo para captar, a partir de suas memórias, os seus sofrimentos, anseios e paixões.

2. Camille Claudel – 1989

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoCamille Claudel (Isabelle Adjani) é uma jovem escultora que entra em conflito com sua família ao tornar-se aprendiz, e mais tarde, assistente do famoso escultor Auguste Rodin (Gérard Depardieu). Quando ela e o escultor viram amantes, Camille passa a ser mal vista pela sociedade francesa da época. Apenas após viver quinze anos de um relacionamento conturbado, ela põe fim na relação com Rodin, para cair então em uma profunda depressão. Diante das circunstâncias, seu irmão mais novo acaba internando-a em um hospital psiquiátrico. Baseado na biografia escrita por Raine-Marie, sobrinha-neta de Camille, esse filme foi o responsável pelo “renascimento” das obras da escultora.

3. Carrington – Dias de Paixão – 1995

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoEm 1915, na Inglaterra, começa a nascer o amor entre Dora Carrington (Emma Thompson), uma pintora conceituada, por Lytton Strachey (Jonathan Pryce), e um escritor assumidamente gay e 15 anos mais velho. Uma das melhores cinebiografias já feitas, esse é um grande filme. Ao contar a história não de um, mas de dois artistas, na Inglaterra vitoriana, o diretor e roteirista britânico Christopher Hampton conseguiu fazer uma sofisticada obra que discute amor, arte, paixão e solidão, mas em especial a atração, não apenas sexual, mas física, intelectual e afetiva entre duas pessoas. Nem Dora Carrington nem Strachey foram famosos em sua época, contudo a delicadeza de Hampton os tirou do anonimato através de uma história muito bem contada. Um filme provocante e com atuações maravilhosas.

4. Artemisia – 1997

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoArtemisia Gentileschi (1593-1653) foi uma das primeiras pintoras conhecidas. O filme conta a história de sua juventude, enquanto ela era guiada e protegida por seu pai, o pintor Orazio Gentileschi. Sua curiosidade profissional sobre a anatomia masculina, proibida para seus olhos, levam-na ao conhecimento do prazer sexual. Mas ela também foi bem conhecida porque, em 1612, ela teve que se apresentar à corte, devido à suspeita de estupro cometida por Agostino Tassi, seu professor.

5. Frida – 2002

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoFrida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, ele teve um agitado casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu companheiro também nas artes, e ainda um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush). Esse filme biográfico, baseado no livro de Hayden Herrera, conta a vida de Kahlo desde a sua adolescência até o ano de sua morte. Com uma ótima atuação de Salma Hayek, o filme mostra também o momento em que a pintora foi acometida por um trágico acidente; suas viagens pelo mundo; seu amor natural pelos animais; seus momentos boêmios; suas opções políticas e sua relação com Trotsky. Película obrigatória para os amantes da arte.

6. A pele – 2006

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoDiane Arbus (Nicole Kidman) é considerada por muitos como uma das melhores fotógrafas do século XX. Ao longo de sua carreira Diane voltou sua atenção para o bizarro, o inusitado e o diferente em suas fotos e esse filme pode ser considerado como uma espécie de biografia da fotógrafa. No filme Diane sente-se atraída por Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), um portador de tricotomia, disfunção caracterizada pelo excesso de pelos e o enredo gira entorno dessa atração dela por ele e por tudo que é inusitado. Nesse filme o diretor inventa personagens e situações que vão além da realidade para expressar a provável visão interior de Diane. Contando com atuações corajosas de Nicole e Robert, o filme, baseado no livro de Patricia Bosworth, tem ótima fotografia e figurino e exige boa vontade do expectador.

7. Momentos Eternos de Maria Larssons – 2008

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoEsse filme biográfico acontece na Suécia do início do século 20, numa era de mudança social e pobreza, onde a jovem operária Maria Larssons ganha uma câmera fotográfica na loteria. A lente da câmera permite que Maria veja um mundo diferente, sob uma nova perspectiva. É como se ela tivesse ganhado novos olhos. Mas o objeto também se torna uma verdadeira ameaça para ela, uma vez que o marido alcoólatra e abusivo se sente enciumado. Tudo fica ainda mais complicado quando ele descobre que um jovem e atraente fotógrafo chamado Pedersen está se aproximando de sua esposa. Um filme lindo, cuja história cativante é muito bem retratada pelo diretor Jan Troell. Com fotografia belíssima, o filme conquista e envolve, nos fazendo chorar e vibrar ao lado da protagonista.

8. Séraphine – 2008

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoCinebiografia de Séraphine Louis (1864-1942) – também conhecida como Séraphine de Senlis, que foi descoberta pelo marchand e crítico de arte Wilhelm Uhde. Colecionador dos quadros de cubistas como Picasso e Braque, Uhde refugia-se, em um momento de crise, em uma casa de campo, onde Séraphine trabalha fazendo faxina e por acaso vem a conhecer uma pintura que ela havia feito e deixado com sua patroa. Considerada louca em seu vilarejo por ser dona de uma personalidade por vezes servil e por vezes absolutamente indomável, Séraphine passou a ser reconhecida como uma das expoentes francesas do grupo de artistas “primitivos modernos”. A história de Séraphine é comovente e apaixonante e traça uma linha tênue entre a genialidade e a loucura. Belo filme com atuação, fotografia e trilha sonora impecáveis.

9. Vida e obra de Georgia O’Keeffe – 2010

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoUma das pintoras mais importantes da história da arte americana, Georgia Totto O’Keeffe (Joan Allen) pintou flores e paisagens como ninguém e conheceu o amor e a fama com fotógrafo Alfred Stieglitz (Jeremy Irons), com quem manteve um intenso relacionamento amoroso e profissional. Um filme imperdível, um drama cativante tanto para os fãs do trabalho da artista quanto para quem ainda não a conhece.

10. Violeta foi para o Céu – 2012

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoIntratável, terna, boêmia, áspera, contundente, frágil e indomável. Violeta Parra foi uma das artistas mais emblemáticas do Chile – e ainda assim, profundamente ignorada por décadas. Andrés Wood realizou um trabalho muito bonito ao trazer para as telas, a partir do livro escrito pelo filho de Violeta, Ángel Parra, a vida, a obra, a memória, os amores e as esperanças dessa cantora, compositora, poeta e pintora que é um dos maiores ícones da arte popular latino-americana. Um filme muito bem dirigido e cheio de intensidade.

11. Marie Krøyer – 2012

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoA pintora Marie Kroyer vive um casamento infeliz com o famoso pintor dinamarquês P.S. Kroyer, no final do século XIX. Ele divide-se entre as funções de artista, mãe e esposa, e ainda é obrigada a conviver com uma doença mental do marido. Com o tempo, ela se sente cada vez mais sozinha e angustiada. Decide, então, fugir da rotina e sair de férias. Nesse período, conhece o compositor sueco Hugo Alfvén, por quem se apaixona loucamente. Um filme lindo, dirigido com maestria, que certamente levará muitos expectadores às lágrimas.

12. Grandes Olhos – 2014

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoNo final dos anos 1950, Walter Keane (Christoph Waltz) fez muito sucesso revolucionando a comercialização de arte popular com suas pinturas enigmáticas de crianças com grandes olhos tristes. O filme retrata a verdade chocante por trás disso: as pinturas vendidas por Walter não eram dele, mas de sua mulher, Margaret (Amy Adams). O filme é centrado no despertar de Margaret como artista, no sucesso fenomenal de suas pinturas e em sua relação tumultuada com o marido, Walter, que a obrigou a pintar de forma exaustiva por anos sem que ninguém soubesse disso. Uma ótima cinebiografia dirigida por Tim Burton com Lana del Rey na trilha sonora. Vale a pena!

13. Camille Claudel, 1915 – 2013

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoInverno, 1915. Contra a sua vontade, a escultora Camille Claudel (Juliette Binoche) é internada pelos familiares em um asilo psiquiátrico mantido por religiosas, e permanece durante anos na instituição, sem poder sair. Ela afirma várias vezes que está perfeitamente sã, mas desenvolve uma mania de perseguição, acreditando que Auguste Rodin conspira contra ela, e que todos no asilo tentam envenená-la. Camille passa os dias cercada por internos com deficiências mentais e surtos psicóticos graves, não tendo ninguém com quem conversar. Sua única esperança é uma carta enviada clandestinamente ao irmão Paul (Jean-Luc Vincent), implorando por sua liberação. Esse é um filme bastante denso que tem como intuito retratar a vida da escultora quando internada, sem fazer menção ao período anterior da vida de Camille. Um enredo desafiador que exige bastante paciência do expectador.

14. A Garota Dinamarquesa – 2015

contioutra.com - Grandes mulheres artistas em 14 filmes fantásticos: a arte pelo olhar femininoEsse é um filme baseado no livro homônimo de David Ebershoff e mostra a história biográfica de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. Em foco no filme está o relacionamento amoroso de Lili com a pintora, desenhista e ilustradora dinamarquesa Gerda Wegener (Alicia Vikander), assim como sua descoberta como mulher. Um filme interessante, bastante comentado e com direção sólida, sem grandes sobressaltos.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Ele nunca achou que a perderia…

Ele nunca achou que a perderia…

Ele tinha certeza: ela o amava. E foi usando desse álibi que ele pisava, magoava e depois pedia perdão, pois sabia: ela o perdoaria. O coração dela, sempre muito solícito, perdoava e recompunha-se por diversas vezes. Tentou fazer dar certo, engoliu os sapos e acabou se engasgando, muitas vezes, com aquelas palavras não ditas, por medo de começar ou prolongar uma briga.

Então, depois dos erros, ele apaziguava a tempestade que havia criado e, de alguma forma, tentava consertar as suas falhas. Mas, depois de um tempo, falhava novamente. Lá estava ele machucando o seu coração com palavras que não deveriam ter saído do seu pensamento. Lá estava ele dizendo o que não queria ter dito ou feito, mas pela força do momento, pelo impulso, acabou dizendo. Seu orgulho o cegara. Não conseguia pedir desculpas e deixava o tempo passar. Ela orava e pedia a Deus para acalmar a tempestade do seu coração. Por diversas vezes, chorou baixinho no colo de Deus pedindo respostas. Ela não queria desistir, ela o amava tanto, que só queria que as coisas melhorassem e que o amor voltasse a ser leve.

Naquele momento, ela entendia perfeitamente o poder das palavras e como aquelas frases ditas por ele feriam o seu coração. Como dói ouvir certas coisas de quem amamos, como ferem as desculpas dadas, a indiferença e até o que não é dito, afinal, o silêncio também machuca e nos deixa impotentes diante do outro. Ele não regava o jardim dela, não plantava flores e não semeava.

Ela, por muito tempo, tentou fazer dar certo. Insistiu e tentou recomeçar, usando do diálogo como ferramenta e deixando o orgulho de lado. Exercendo paciência, abriu o seu coração e mergulhou naquela história de amor sem medo. Por diversas vezes, disse o quanto estava disposta a lutar por essa história e, embora ele concordasse com a cabeça, não fazia por onde. Eram apenas palavras e não passavam de teorias.

Ele achou que nunca iria perdê-la. Por mais que ela o avisasse de que um dia iria cansar, ele não dava bola. Achava ser uma fase, um momento, ou mesmo bobagem. Enquanto ela não o deixava partir, ele partia o seu coração. Os recomeços mais pareciam um fim. Mas um coração cansado, por mais que pulse, decide ir, porque não aguenta mais sofrer. A gente cansa de chorar baixinho e de encharcar o travesseiro com lágrimas durante a madrugada. De parecer bem no outro dia, para não ter que explicar tudo o que aconteceu. Ela cansou de tentar consertar os erros e de ter as suas feridas sempre cutucadas. O amor de forma alguma dá as costas para a dor do outro. Quem ama cuida. Protege. Acolhe. Quem ama semeia o jardim do outro e, por mais que traga alguns espinhos, sabe fazer daquele terreno seara fértil. Não insiste naquilo que machuca, arranca risos e deixa saudade, como quem volta depois com uma rosa.

O amor é uma via de mão dupla. Não dá para apenas um tentar construir, se o outro deseja se acomodar. Ele, pela força do hábito, achava que o que ela fazia era suficiente. Ah, como ele gostava de se sentir amado e importante. Como ele gostava dos agrados, dos sorrisos, das surpresas. Ele gostava mesmo de se sentir lembrado no meio da semana, na ida ao supermercado, e de ganhar o seu chocolate preferido numa quarta-feira qualquer. Entretanto, ele não se lembrava dela, não demonstrava saudade e esquecia-se do interesse. Ele achou que isso não iria se esgotar. Não regou e deixou morrer o sentimento mais puro que alguém poderia lhe oferecer. Deixou partir quem fez de tudo pra ficar.

E então, depois de tantos tombos, falas que feriram o seu coração e até avisos, ela cansou. Pegou as suas coisas e foi, mesmo que a partida doesse mais do que os espinhos que havia ganhado. Ela, no deserto, quis florescer e sabia que ali as flores murchariam. Com a sua partida, ele percebeu o seu valor, notou que deixou ir quem queria fazer morada, deixou ir quem fazia de todo o possível para vê-lo feliz. Quem sonhava junto e não tinha medo dos vendavais. Afinal, ela sempre segurava a sua mão. Mas agora era tarde demais.

Ela prosseguiu como quem sabe que tomou a decisão certa e ele, que sempre achou que nunca a perderia, acabou a perdendo por não regar o seu jardim e por se esquecer de que o amor é uma flor que precisa ser regada diariamente. Ele se esqueceu de contemplar a sua beleza e, depois de tanto partir o seu coração, ela partiu como quem não quer mais um amor cansado, como quem não quer mais migalhas. A saudade e o arrependimento já não eram suficientes para tê-la novamente. Aquele seu coração bondoso e disposto a recomeçar hoje se tornou um coração decidido a não retroceder ao mesmo lugar que lhe roubou o seu riso fácil.

Não adianta espernear! Em apenas meia hora a vida pode mudar e muito!

Não adianta espernear! Em apenas meia hora a vida pode mudar e muito!

Certeza é uma coisa que não nos acompanha. A gente pensa que ela anda de mãos dadas conosco, que gosta de estar por perto, mas não. Certeza é um bicho arisco que não tolera arreios nem coleiras. Anda livre e faz o que bem entende. Volta de vez em quando para beber uma água, comer um pouco e aliviar nossa eterna preocupação.

A certeza é parceira da vida nas questões de futuro. Nenhuma das duas dará pistas sobre o minuto seguinte. Podem, no máximo, concordar com alguns de nossos planos e incentivar as decisões. Mas, se tiverem que virar tudo de cabeça para baixo, não vacilam.

A ausência da certeza, dá lugar a convidados nem tão bem-vindos: E vão chegando pouco a pouco e se instalando sem cerimônias, a insegurança, o medo, as gêmeas: paranoia e neurose, por vezes, a depressão.

Lidar com a falta de certezas pode ser tarefa dolorosa. Queremos respostas definitivas! Precisamos mapear possibilidades e rotas de fuga!

E nos frustramos vez após vez, pois que em meia hora a vida vem e bagunça tudo. E só nos resta reagir ao novo, ao improvável, à situação do momento.

É preciso fibra, coragem, espírito de luta e resistência. A corda bamba da vida balança ainda mais quando nos vê medrosos, vacilantes, inseguros.

Em meia hora a gente recebe uma notícia linda ou um diagnóstico desolador. Em meia hora vem aquela ideia que resolve um super problema ou o banco quebra e leva nossas economias.

Em meia hora a gente decide fazer as pazes ou romper para sempre. Em meia hora o rosto se ilumina com uma presença nova na vida, ou a gente até morre.

A meia hora pode durar um instante ou grande parte da vida e aí vai o mistério que não deixa as certezas fazerem ninho.

Conviver com as meias horas da vida é se abrir para os movimentos que não temos autonomia para fazer sozinhos. Podemos contribuir, devemos lutar, resistir, não entregar o jogo, mas precisamos mais do que tudo, entender que não sabemos onde nem quando vamos chegar.

O foco é o minuto vivenciado, a respiração completa, o coração pulsante e o desejo de mais meia hora, sempre!

Livre é quem não se prende às opiniões alheias

Livre é quem não se prende às opiniões alheias

O conceito de liberdade sempre esteve ligado à ideia do poder de mudar o próprio destino, mais conhecido como o livre arbítrio. Porém, com o passar do tempo esse conceito sofreu modificações e a tal liberdade parece, atualmente, mais uma utopia do que algo a ser conquistado.

Temos a liberdade de ir e vir, mas não temos o dinheiro da passagem. Temos liberdade de morar sozinhos, mas não temos o dinheiro do aluguel. Temos liberdade religiosa, mas sofremos preconceitos quando expomos nosso ponto de vista. Temos liberdade em votar em quem quisermos, mas somos obrigados a votar. Então até que ponto somos verdadeiramente livres?

Para Sartre, a liberdade consistia na condição de vida do ser humano: o homem é livre por si mesmo, independente dos fatores do mundo e das coisas que ocorrem. Porém, a questão de liberdade ainda dá muita discussão, já que as pessoas sentem dificuldade em aceitar o que foge do padrão delas. O cabelo que não pode ser natural, o peso não pode passar dos 70 kgs, a roupa que não deve ser da coleção passada (até criarem um esteriótipo inalcançável de beleza). Somos livres por Constituição e presos pela opinião alheia.

Em uma discussão racional, se todos fossem iguais e tivessem o mesmo padrão de vida, muita coisa não faria sentido: o campeonato brasileiro de futebol não existiria, as bandas de rock se limitariam a uma e a São Paulo Fashion Week seria extinta imediatamente.

É preciso entender que o padrão de beleza não é o imposto. Bonito é ter caráter, ser honesto e ser feliz. Pronto. Alguns gostam de cor, outros não. Alguns se encontram do silêncio, outros no grito. Alguns gostam do verão, outros do inverno e tudo bem! São nas diferenças que crescemos e fazemos a vida seguir. Por que então ser diferente soa tão agressivo?

Se admitirmos que somos diferentes e que estamos no mesmo patamar de igualdade, teríamos motivos suficientes para nos envergonhar de atitudes discriminatórias. Liberdade é você defender seu ponto de vista, respeitando o próximo e entendendo que a sua opinião é apenas uma opinião, sempre existirão outras. Como dizia Simone de Beauvior: “que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

A conquista pela liberdade exige muito mais que o desejo em possuí-la. Ser livre é não ser escravo dos erros do passado, é não se culpar pelas coisas que não deram certo, é ser capaz de, verdadeiramente, se perdoar. Ser livre é ser honesto e entender que isso é uma obrigação, não uma qualidade. É encontrar os sonhos fora dos padrões impostos, é querer viver a própria essência, é entender que a razão sempre prevalecerá sobre o grito.

Liberdade tem mais a ver com dominar as próprias vontades do que viver todas elas. É ter coerência entre o sim e o não, é ter as ações condizentes com a moral, com o bom senso e com o respeito e usar isso em prol da boa convivência. Liberdade é um estado íntimo de paz e não um objetivo a ser alcançado.

O importante não é viver para sempre, é criar algo que não morra

O importante não é viver para sempre, é criar algo que não morra

Como aceitar a força inexorável do tempo? Como aceitar o trágico fim da morte? Acho que nunca a aceitaremos, porque por mais que esta terra seja dura, há tantas belezas nela. Sentir-se vivo é tão gostoso que é impossível não penar com a dor do fim.

É como diz um versinho da Cecília: “Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”. É que a vida passa tão depressa e nós temos tantas multidões dentro de nós, que uma vida é pouco mesmo. Entretanto, é a finitude que confere valor à vida e a torna tão rica, de modo que vivê-la de qualquer maneira é tolice e é dessa tolice que tenho ainda mais medo que da morte.

Estamos vivendo de um modo degradante. Sempre correndo, sempre com pressa, sem tempo para o outro, sem tempo para nós mesmos. Presos em trivialidades, em algazarras silenciosas, temos deixado de lado as pequenas belezas, os “eu te amos” entalados na garganta sufocando o coração, os abraços no pensamento e a ligação para amanhã.

Mas, o amanhã chega e continuamos presos nas nossas burocracias individualistas, continuamos sem tempo e deixamos tudo para um novo amanhã. Esquecemos, apenas, que a vida é breve como escreveu Quintana, que o amanhã um dia acaba e os sinos também param de tocar. Chegada essa hora, já não adianta pensar na tragicidade da morte, porque as nossas próprias vidas já estavam mortas.

A grande questão, assim, mais do que a morte é o caminho que se faz até ela, porque, parafraseando Chuck Palahniuk, se – “Todos nós morremos. O objetivo não é viver para sempre, o objetivo é criar algo que não morra”. Esse algo que não morre, essa eternidade finita, todavia, só pode ser criada através do divino que há no mundo e que se manifesta por meio do pequeno espaço que se estabelece na conexão entre as pessoas.

Essas pontes criadas por nossas almas permitem que memórias sejam criadas e compartilhadas, que sejam importadas e, portanto, que pedaços de nós continuem existindo dentro de outros corações mesmo quando aqui já não estivermos.

No entanto, na medida em que decidimos construir muros ao invés de pontes, escolhemos deixar de viver, para apenas existir e ser somente um rascunho que jamais será passado a limpo, que jamais será lido por outra pessoa.

Como lembra o velho Bukowski: “Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados pelo nada”. E é esse nada que tem se instalado. O nada da indiferença, da acomodação, da prepotência, da autossuficiência, do não to nem aí, do foda-se.

E, assim, o divino que se estabelece no encontro de almas, vai esvaindo-se do mundo e este se torna um inferno, aqui e agora, para que soframos com a nossa própria ruindade que nos esmaga e nos faz estranhos. Estranhos uns dos outros e, acima de tudo, estranhos de nós mesmos.

Estranhos do horizonte que chega e não encontra terra boa para repousar. Terra sem sombra, sem aconchego e sem histórias, porque enquanto se preocupava tão somente em construir fortes, deixou de lado quem ali habitava, o seu povo, a sua gente, a sua humanidade. Estranhos sem importância que partem sem deixar saudade, porque nunca abandonaram a sua condição estranha para tornarem-se conhecidos, palpáveis e amáveis.

Enquanto estivermos presos em nossas trivialidades, sendo esmagados pelo nada, continuaremos a ser estranhos que não conseguem se comunicar. E, desse modo, a vida mais do que curta, torna-se pequena, porque esquecemos que o que a torna grande e a faz mais forte que o tempo está dentro do “nós”, o qual esquecemos no instante em que decidimos viver de qualquer maneira e ser devorados pelo nada. Assim, a morte se converteu na própria vida e a tolice que temia se tornou a ordem nesse mundo de estranhos.

Me dê todo o seu amor

Me dê todo o seu amor

Por que esperar? Se o carinho foi mútuo, a saudade fez morada e o respeito entrelaçou mãos, o certo é nos entregarmos nessa narrativa escrita de coração. Me dê todo o seu amor. Cuido, abraço e transformo cada instante vivido naquele verdadeiro relacionamento que dizem não passar de mera ficção.

Chega de perdemos tempo analisando prós e contras desse sentir intenso do qual fomos arrebatados. Fazer dos beijos um jogo de xadrez é para iniciantes. Quando você aparece, é esse sorriso largo que transparece. Não há o porquê de negar. Quem nos vê, no lugar que seja, sabe que ali residem dois amantes poeticamente recitados por sinceridade. É literatura romântica das mais insurgentes. Contra os padrões, conselhos baratos e manuais proféticos de relacionamentos, navegamos para o nosso lado. Nem mesmo os mais céticos souberam lidar com essa chama entusiasta que sobrepôs-se em nós.

Mas perguntaram, era dia ou noite? Respondemos em aceno. Não havia necessidade de descrever o início dos novos inícios das nossas vidas. Ainda assim, estava tudo escrito. Os olhos ressonantes, apaixonados e entregues falavam por si. Amor não pede cronologia. Amor acontece, em tempos. Segundos, semanas ou uma vida inteira, muitas vezes, amar é sermos capazes de carregar essa fogueira incontrolável, sem dono e altar. É vagar, por você e pelo outro, num caminho inexplorado naquela fresta concebida.

Por que esperar? Estamos aqui, ofegantes, famintos e desejosos por esse querer que não é contemplado todos os dias. Me dê todo o seu amor. Desbravo, permito e protejo-o. Das injúrias malcriadas até os obstáculos vindos de fora, não importa. Me dê, me dê e me dê, todo o nosso amor. Meu. Seu. Nosso. O que importa? Nossas pernas já são homogêneas.

Se conselho fosse bom…

Se conselho fosse bom…
Overcoming a difficult problem

Há em cada um de nós uma espécie de vocação inata para a crítica. Diante dos feitos alheios, temos quase sempre na ponta da língua, um parecer ou opinião. Tão mais fácil analisar, julgar, ponderar e resolver problemas que não são nossos, não é?

Da borda do abismo, o buraco tem uma perspectiva muito diferente daquela observada por quem está pendurado em seu interior. Uma coisa é ter a areia prestes a deslizar a alguns centímetros de distância do bico do sapato. Outra coisa é estar coberto por ela.

Conselhos são bichinhos muito interessantes. Do ponto de vista de quem os oferece, ganham ares de superioridade analítica, revelam-se como presentes valiosos, uma gentileza de quem está protegido em sua caminha seca e quente a quem acaba de ser atingido por um raio no meio de uma tempestade.

Do ponto de vista de quem pediu o conselho, ele pode vir a ser aquele momento em que, depois de se fazer uma pergunta em voz alta, ela parece ganhar clareza. Então somos surpreendidos com uma inesperada capacidade de resolver a tal capciosa situação por conta própria. Sendo assim, enquanto o outro desfia seu rosário de ideias maduras e superiores, internamente já tomamos a nossa decisão.

É claro que algumas vezes pensar em voz alta não adianta de nada. Neste caso, aquele que pediu o conselho, faz a gentileza de prestar atenção no discurso do nobre consultado. Ouve, pondera, acolhe, descarta. Mas, o fato é que no fim das contas, o conselho oferecido raramente será posto em prática em sua íntegra.

Mar tem lá a sua utilidade. Ainda que seja para fazer brotar uma completa rejeição. Quando se pede um conselho, é porque já nasceu no íntimo da pessoa o desejo de resolver o nó da situação. Neste caso, com conselho ou sem ele, meio caminho já foi andado.

Mas, o que dizer daqueles conselheiros crônicos? Aqueles com diplomas imaginários de donos do saber, que saem por aí distribuindo sua tão rara sabedoria. Tudo para eles tem resposta. Aquele dilema que anda corroendo seus miolos há meses, para o sabe-tudo tem uma solução óbvia, e prática, e rápida. Só você, que é tolo, que não viu.

Conselhos dados sem solicitação são, no mínimo, um “pitaco” inútil e, no máximo, um arroto de arrogância. Conselhos espontâneos só servem para lustrar o ego de quem os oferece. O problema maior é que essa oferta não é de graça. Não, não, não!

Quem tem tempo sobrando para cuidar dos problemas, desafios e até conquistas alheias, não pode ser uma pessoa confiável. Em geral, só o que buscam é aplacar a sua incômoda insegurança coma envergadura de uma pose de conselheiro real. No entanto, a maior ameaça que pode vir daí, nem é o conselho inútil. O perigo mesmo é a consequência que pode advir da recusa ao valioso conselho.

Almas rasas e maldosas costumam ter apetites emocionais vorazes. Aqueles que tiveram a audácia de recusar sua magnânima contribuição, entram para uma espécie de “lista negra dos ingratos”. Agora, não são mais inocentes palpites a serem ofertados. Instalado o rancor da recusa, inicia-se a temporada de lançamento de impropérios.

Já que os conselhos não serviram, que se preparem para as violentas críticas. O ego que azedou, não tem como ser adoçado. E não importa o que se faça, sempre será pouco ou equivocado. E, sim, reafirmo que conselhos são inúteis. Portanto o que vai aqui não se trata de conselho. É apenas a humilde mão que estendo àqueles que já tiveram, como eu, a sua cota de gente “com o rei na barriga” suficiente para agraciar as três próximas gerações.

Se uma pessoa rasa ou maldosa se desfizer de você, encare isso como um enorme elogio. Pode ser que você não esteja certo. Pode ser que suas escolhas não o levem nem perto de onde pretende chegar. Mas de uma coisa, pode ter certeza: pensar com a própria cabeça é uma das maiores e mais prazerosas conquistas que se pode alcançar! Seja caridoso com o falso soberano. Ignore-o solenemente!

A melhor declaração de amor entre duas pessoas é a intimidade

A melhor declaração de amor entre duas pessoas é a intimidade

Você já deu todos os sinais de que está morrendo de amores por alguém, mas esse alguém não percebe. Você já ligou para perguntar qualquer bobagem. Arranjou as desculpas mais esfarrapadas para estar ao lado dele, mas ele parece que não percebe o quanto você o ama.

Então você resolve que é chegada a hora de se declarar. Que vai dizer tudo que sente. Que não aguenta mais essa situação angustiante. Que vai resolver toda essa história.

Sem demora você marca de encontrar esse alguém e resolve colocar o pingo em todos os “is”. Resolve dizer que está louca de amores por ele. Que pensa nele em todos os momentos do seu dia.

E ele te olha com um olhar angustiado, um olhar pesaroso de alguém que já sabia disso, mas que não queria saber.

Ele te olha com um olhar cheio de tristeza e inquietação, pois não a ama como você gostaria e você o obriga a dizer com todas as letras que você é muito especial, mas que é para ele apenas uma colega.

Talvez vocês não tenham tido tempo suficiente juntos para que ele pudesse te pensar de outra forma.

Então você volta para casa desolada. Se tranca no quarto, chora litros e fica se perguntando onde errou. O que fez para não ter o amor daquele que esteve em seus pensamentos nos últimos tempos. Fica procurando quais defeitos seus são tão sérios para que no amor as coisas nunca saiam como você sonha.

Ouso dizer aqui que a razão para esses amores não darem em nada, quase sempre, está na falta de intimidade.

Vivemos dias corridos. Dias cheios de pessoas indiferentes, cheios de planos e afazeres. Vivemos tempos nos quais nossa vida particular é escancarada nas redes sociais, mas bem pouco sabemos sobre intimidade.

Pensamos, erroneamente, que intimidade tem a ver com estar nu com um outro entre quatro paredes. Mas apenas isso não indica haver intimidade entre duas pessoas.

A intimidade existe quando podemos ser exatamente quem somos junto do outro, sem ensaios ou expectativas. Quando passamos tempo suficiente ao lado de alguém para poder falar pelos cotovelos ou calar sem que isso mude o que essa pessoa sente por nós. Pelo contrário. Quando temos intimidade com alguém conversamos de forma desprendida e animada por horas. Tecemos com esse alguém, no tempo comum que nos cabe, uma empatia e admiração sobre-humana. Sentimos a necessidade de partilhar tudo que somos.

Se o outro te ama ela vai saber ler no teu olhar tudo o que você sente por ele. Se o outro te ama, tanto quanto você o ama, ele dará um jeito de estar junto. Ele encontrará soluções para diminuir as distâncias. Ele terá entendido na forma como você age o que você sente por ele. Ele terá lido na forma como você vive, o carinho e respeito que você tem por ele.

Se você ama alguém, não se declare achando que suas palavras irão preencher o espaço que apenas a intimidade sincera entre duas pessoas pode ocupar.

Se você o ama e ele também, fique sossegada, as coisas vão acontecer naturalmente e ele vai te amar do jeitinho que você é.

Se não for assim, não era para ser. Siga em frente e ame mais através de olhares demorados e sorrisos abafados e menos através de palavras.

Fale de amor não para convencer ou justificar, mas para reafirmar o que é inegável para quem um dia parou e te observou demorado.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Não tem que perder pra dar valor. Tem que dar valor pra não perder!

Não tem que perder pra dar valor. Tem que dar valor pra não perder!

Diz pra mim: por que deixar partir para só então perceber que aquele sorriso era mesmo encantador?

Penso que, antes de deixar partir aquele abraço acolhedor, deveríamos valorizar quem está ao nosso lado, buscando sempre, de alguma forma, desconsertada talvez, demonstrar o quanto faz questão da nossa companhia.

É fácil querer ficar quando tudo vai bem, pois muitos veem apenas aquilo que os olhos permitem ver. Ah, como é raro alguém que enxergue o nosso melhor e que consiga ver a nossa alma bonita.

Como é difícil encontrar alguém que nos incentive a sermos melhores e que nos motivem a irmos atrás dos nossos sonhos, que saibam florescer em meio a tantos espinhos. Às vezes, reparamos demais na grama do vizinho e nos esquecemos de regar a nossa. Andamos tão distraídos, olhando para o que os outros possuem, que acabamos nos esquecendo de reparar naquele alguém que sempre está ali, nos piores momentos de nossas vidas. Um alguém que sorri com a alma e não apenas com os lábios, aquela pessoa que nos causa um riso fácil e que vê graça no nosso jeito desastrado de ser.

Esquecemo-nos, por um descuido qualquer, de dar valor ao bom dia em forma de “eu te amo” e àquele “se cuida”, como quem, na verdade, quer cuidar da gente. Deixamos o abraço com cheiro de saudade se perder e, como consequência, não valorizamos quem realmente se importa.

Não valorizamos quem não mede esforços para nos ajudar, deixando as desculpas de lado e desmarcando aquele compromisso, só pra poder nos encontrar novamente. Esquecemos quem segura a nossa mão nas tempestades, quem ora pela nossa vida e realmente se importa com ela. Não valorizamos o “boa noite” cansado, ao final do dia, e os esforços diários.

Por isso eu reafirmo: não tem que perder para dar valor, não precisa deixar partir aquilo que nos faz bem para só então percebermos o erro em não valorizar o que é bonito e sincero.

Não tem que perder um sorriso para, então, perceber o quanto ele trazia paz ao seu coração, deixando ir quem nos estende a mão, para notar o quanto aquilo nos sustentava nas tempestades.

Repara em quem sempre faz questão de estar perto, em quem não arruma desculpas e não usa o clichê “falta de tempo”. Tem sempre alguém disposto a ser companhia leve e querendo fazer morada. Sempre há alguém querendo nos levar para viajar em seu mundo, como quem deseja mostrar que o novo é bonito e não assustador como parece.

Não espere perder para perceber o quanto você poderia ter feito dar certo, no quanto aquele “bom dia” fazia a diferença no seu dia e aquele “boa noite” lhe arrancava um riso tímido, como quem faz cócegas em seu coração ao se lembrar de você antes de dormir. A grama do vizinho sempre vai parecer mais verde, se você continuar a não regar a sua. Não alimente a certeza de que o outro sempre estará ali, suportando os nossos erros e tolerando as nossas palavras duras.

Não tenha tanta convicção de que o outro irá suportar a nossa indiferença e o desprezo pelas coisas pequenas por tanto tempo. Um coração cansado não volta mais atrás; pode ainda pulsar, mas, por amor a si, decide não retroceder aos mesmos erros, pois não quer reviver as mesmas feridas, ainda que tudo pareça, na teoria, ser diferente.

Então, não espere perder para perceber o quanto aquele alguém coloria os seus dias e segurava a sua mão nos vendavais dessa vida.

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