Construir a felicidade é converter nós em laços

Construir a felicidade é converter nós em laços

Tem horas que a garganta da gente fica pequena para tanta palavra engolida, para tanto choro espremido. A garganta dói. O peito aperta. Os olhos ardem porque perderam o jeito para desaguar. Nó na garganta que aperta o peito e faz arder os olhos.

Tem dias que a gente fica embasbacada com o rumo das coisas e com a falta de rumo das pessoas. A gente se perde em caminhos, qual andarilhos que largaram tudo e saíram por aí, em busca de uma vida menos densa e com menos bagagens, mas acabaram por apegar-se a um canto qualquer, porque a liberdade é por demais assustadora.

Tem semanas que os dias se atropelam, parecem folhinhas que caíram de um calendário e foram misturadas com o vento, a poeira do caminho, as paisagens que deixamos de apreciar e as estrelas que esquecemos de admirar. Voam sorrateiras, levando com elas os livros que deixamos de ler, os filmes que deixamos de ver, os amigos que deixamos de abraçar a vida que esquecemos de viver.

Amanhece, anoitece. Amanhece, anoitece. E a gente se esquece de arranjar um tempo para deixar o amor entrar, para deixar o apego sair, para deixar a alegria ficar e o medo partir. Amanhece, anoitece. A gente ignora o sol, não aproveita a chuva, se esquiva do vento e se perde no tempo. Esse tempo das horas obrigadas, submetidas, comprometidas.

Tem meses que atravessam nossas ampulhetas pessoais, qual areia fina; escorrem; desmancham-se em cenas borradas, numa sequência de falas que não foram ouvidas e silêncios que não foram aproveitados. Quadros de Monet a nos retratar, difusos, escoados, etéreos.

E lá se foi outro ano, nos meses que se dissolveram em semanas, que desaguaram em dias, que se perderam nas horas que não vimos passar, ou que custaram uma eternidade para que se cumprisse uma volta perfeita dos ponteiros.

Para os que se apaixonaram e descobriram no beijo de alguém a cura para a falta de sabor dos dias, o tempo tem asas velozes. Voa qual mariposas, encantadas pela luz.

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Para uma mãe que vela a febre de um filho, sem poder dormir, a noite se arrasta. Parece que o dia se esqueceu de amanhecer e que o pano escuro que toma o céu decidiu não arredar pé, decidiu morar ali para sempre.

O tempo que é tão traiçoeiro porque não o podemos conter, cerca-se de uma nobreza usurpada. Vive a rir-se de nós. Zomba de nossa dócil submissão aos seus caprichos e decretos. Prende-nos numa rede de falsa proteção e nos mantém ali, quietos, envoltos, amarrados. Nós do tempo a nos roubar laços de vida.

Até que, de repente, nossa alma desperta e se liberta desse jugo obediente. Até que nos damos conta de que estamos presos por nós que podem ser desmanchados, desfeitos, cortados. Os nós estão apertados porque nós escolhemos assim. Nossa insegurança nos fez reféns das amarras.

Está em nossas mãos transformar celas afetivas em campos infinitos de amorosidade. Uma vez desatados e libertos, provaremos o gosto subversivo e inquietante da liberdade que alarga o peito e desamarra a garganta. E nunca, nunca mais, haveremos de trocar laços que libertam por nós que submetem.

O ciúmes

O ciúmes

Sentir ou evitar? Saudável ou maléfico? Preserva ou destrói? Possui medida certa?

Ô sentimentozinho complicado esse tal de ciúmes…
Dizem que pode destruir relações, mas como evitá-lo?
Em algum momento da vida, mais cedo ou mais tarde, com mais ou com menos intensidade, ele vai surgir, não tem jeito…
Deve pertencer ao “pacote do amor”, porque não adianta: quem ama zela, cuida, tem medo de perder.

E o ciúmes não deixa de ser a “prevenção da perda”, uma atitude que o nosso corpo e a nossa mente tomam para evitar que o nosso amor se perca nas esquinas da vida, ao ver uma outra alma qualquer…

O problema é quando ele vem exagerado, descontrolado, acompanhado de barracos, desrespeito, briga na frente dos outros… isso é feito e não resolve nada. Melhor conversar sozinhos, entre quatro paredes, nem que seja posteriormente ao “clímax” da situação…

Ele também é um infortúnio quando vem calado, quando fica só dentro do peito de quem dele padece, porque corrói o coração, entristece a alma e acaba não tendo nenhum efeito para a tal “preservação”…

Guarda-se ele muitas vezes para si por medo do que pode causar. A exteriorização do ciúmes pode trazer consigo discussões e desentendimentos, principalmente porque o outro geralmente acha que estamos exagerando, que não há razão alguma para o nosso sentimento, que deve haver “confiança” na relação, etc.

E, falando nisso, não chega a ser uma falta de confiança o tal do ciúmes. Muitas vezes podemos confiar no nosso parceiro, mas não confiamos nas pessoas que o circundam diariamente, nem nas peças que o destino pode nos pregar. Vai saber…

Ninguém está livre de se apaixonar (ou se encantar, se deslumbrar) de uma hora para outra, e mesmo que isso não vá durar para o resto da vida, já pode ferir um amor e acabar com uma relação que eram para ser para sempre… Então, melhor cuidar, preservar, tentar nem que seja interferir no destino…

Porque não adianta negar: o ser humano tem um tanto de sentimento de posse sobre o ser amado, e essa história de “ninguém é de ninguém” só funciona bem na teoria, porque na prática a coisa é bem mais complicada…

Melhor, assim, aceitar o ciúmes, usá-lo positivamente para o fim a que se destina, procurando, entretanto, evitar excessos para que o efeito não seja rebote, uma vez que o excesso de desconfiança e a perseguição em si têm o condão de, muitas vezes, nos jogar para longe dos nossos amores…

E, vamos combinar: se o outro quiser fazer alguma coisa MESMO, não vai ser o nosso ciúmes que vai impedi-lo. Infelizmente…

Apaixone-se quando estiver pronto, não quando estiver carente

Apaixone-se quando estiver pronto, não quando estiver carente

Em sua origem semântica, a palavra paixão representa sofrimento. Pathos, do grego, e passio, do latim, significam suplício, tortura. Na prática, o sentimento consegue ser mais cruel do que essa definição.

O ato de se apaixonar pode ser uma das experiências mais incríveis experimentadas pelo ser humano, caso o final seja feliz, claro. Sentimos uma sensação única, a felicidade é plena, o mundo se transforma no lugar mais perfeito e tudo parece possível de ser realizado. Ao chegar nesse estado, a pessoa mais sensata perde a razão e deixa o sentimento tomar as rédeas das situações. “Não há diferença entre um sábio e um tolo quando estão apaixonados. (George Bernard Shaw)

Quem já se apaixonou intensa e profundamente, conhece o perigo que é viver o sentimento. Ficamos saudosos, vulneráveis, expostos e sensíveis. Perdemos o bom senso das ações, não nos preocupamos com as consequências e ficamos à deriva das decisões alheias: “mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões”(Shakespeare).

Porém, como todo fogo apaga, o lado negativo da paixão aparece quando, ao acabar o encanto só resta a sensação de um sentimento que imutável e cansativo. Drummond em “Perturbação” escreveu: Quando estou, quando estou apaixonado/Tão fora de mim eu vivo/Que nem sei se estou vivo ou morto/Quando estou apaixonado.

A arte imita a vida, fato. E na literatura as paixões não seriam apresentadas de forma diferente. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Cleópatra e Marco Antônio, Páris e Helena de Troia, Anna Karenina e Vronsky, Victor Hugo e Juliette Drouet, Ana de Assis e Dilermano, são exemplos de personagens que, movidos pela paixão cega, não mediram as consequências para ficarem juntos. As histórias de romance vocês conhecem, os finais trágicos também.

Apaixonar-se é um verdadeiro paradoxo. Há quem defenda o sentimento e há quem o compare a um veneno dado em doses homeopáticas. Graciliano Ramos, por exemplo, considerava a paixão uma necessidade vital: “comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões.

“Para Oscar Wilde, estar apaixonado era traçar um caminho de erros:”quando alguém está apaixonado, começa por enganar-se a si mesmo e acaba por enganar os outros. É o que o mundo chama romance” (Oscar Wilde).

Voltaire defendia o sentimento como base de vida, para ele a paixão representava o equilíbrio entre o bem e o mal: “paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas.”

Enfim, como ainda não inventaram um colete à prova de paixões, sugiro que escolha suas paixões a dedo. Apaixone-se por alguém diferente. Alguém que volte para se reconciliar depois de uma briga, indiferente de quem esteja certo. Alguém que saiba o valor de uma boa conversa, que goste de ler e que queira estar ao seu lado. E, como dizia Rachel Lindsay: “Aprenda a amar os defeitos e apaixone-se pelas qualidades”.

O amor tem cinco fases. Mas a maioria das pessoas fica estagnada na terceira

O amor tem cinco fases. Mas a maioria das pessoas fica estagnada na terceira

“Aparentemente, não é o meu tipo de pessoa”, tantas vezes ouvimos essa desculpa para justificar uma separação inesperada.

Certamente seus amigos ou conhecidos já disseram isso ou você mesmo já pensou algo do tipo. E, olhando de fora, parecia um relacionamento perfeito, não é? Às vezes, não conseguimos entender por que o amor tão perfeito à primeira vista morre de repente.

O Incrível.club encontrou uma das explicações para este fenômeno. O famoso psicólogo Jed Diamond, após 40 anos de pesquisa clínica, concluiu que a maioria das pessoas encontra sua ’meia laranja’, sim. Só que para que essa história vire um suco delicioso e o relacionamento dê certo, é preciso superar cinco fases inevitáveis da vida a dois. O problema é que a maioria e se detém na terceira. Vejamos do que se trata.

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A paixão é a fase na qual você se sente extasiado pelos hormônios da felicidade. Nesse momento você projeta todos os seus desejos e expectativas no seu parceiro. Nessa fase, seu parceiro é uma pessoa basicamente perfeita, que não tem defeito. Acredita que sempre vai realizar qualquer desejo seu, crê em cada palavra que diz e sonha com o amor eterno, rejeitando as dúvidas dos céticos. É um momento ’Romeu e Julieta’, meio adolescente, mas pelo qual todo casal acaba passando, mesmo aqueles formados por gente mais velha.

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É o casamento ou a união estável. Nessa fase, o amor torna-se mais forte, vocês já não têm encontros, mas oficialmente começam a viver juntos. Conhecem um ao outro muito melhor, começam a influenciar todos os aspectos da vida do outro. É o momento de união e alegria. É provável que tenham os filhos que tanto desejavam ter, o que reforça ainda mais o relacionamento. Você se sente protegido e amado. E certamente supõe que encontrou sua alma gêmea e que é o ’destino’, que nada neste mundo poderia fazê-lo mudar de ideia.

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Este é o momento onde todas as esperanças são destruídas. É a fase em que surge a sensação de que os sentimentos estão desaparecendo, que o outro está se tornando demasiado previsível e seu comportamento começa a irritá-lo. Você quer dar uma pausa no relacionamento. Ou até mesmo aceitar que ’nunca foi seu/sua’. Coisas como essas acontecem, certo? Por que se torturar e torturar a pessoa com quem você estava feliz faz tempo. Faz tempo…

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Se você conseguir superar a terceira fase com segurança, chega a seguinte: apagam-se as ilusões que você estava projetando em seu parceiro. Agora na sua frente não é a pessoa que você imaginou e queria ter a seu lado, mas uma pessoa real. Aceite e, sobretudo, compreenda todas as suas desvantagens. Os parceiros ajudam um ao outro e passam para o estágio do amor real.

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Com o entendimento de que aprenderam a superar todas as suas diferenças e mal-entendidos e de que encontraram uma ligação profunda e forte no relacionamento, compreendem que ambos têm força para mudar qualquer coisa neste mundo. Não só vivem juntos, mas vivem juntos para um propósito. Trabalhar juntos, escrever, criar… o que for. Em seguida, começarão a trabalhar e a pensar como um só e, ao superar todas as etapas, podem dizer com 100% de certeza: “É a pessoa certa”.

Fonte: menalive
Tradução e adaptação Incrível.club
Foto de abertura Pavel Lepeshev
Produzido com base em material de
Jed Diamond

Feminismo: o mais precioso legado que minha mãe me deixou

Feminismo: o mais precioso legado que minha mãe me deixou

Minha mãe era uma mulher à frente de seu tempo, ela não contentou-se apenas com o papel de mulher e mãe que a vida lhe deu, ela queria mais, sempre mais. Minha mãe tinha uma beleza de causar inveja, talvez por isso ela nunca teve muitas amigas, mas além da beleza, ela tinha coragem e teimosia, e ousava tanto que tornava quase insuportavelmente pequena a vida daqueles que a cercavam. Ela tinha uma elegância que nunca passava despercebida, e uma audácia instigante que tornava grandiosa qualquer uma de suas empreitadas. Ela foi mulher pioneira, esposa, mãe, amante, errante, empresária, socialite, fazendeira, livre.

Sob os olhares de reprovação e o julgamento dos acomodados e dos covardes que nunca ousavam, minha mãe fazia o que queria, quando queria, da forma como queria. Ela não quis exercer o papel de esposa, nem o de mãe, daquelas que ficam em casa cuidado da prole, ela preferiu a rua, o mundo, ela quis recriar, resignificar, transformar o papel que lhe foi imposto. E mesmo assim ela era feminina, vaidosa, bela, foi miss e rainha. E levei anos para aprender a admirá-la, para entender quão grandiosa foi sua rebeldia. Minha mãe não foi mulher feita para quem pensa pequeno. Ela reinventou a roda, surpreendeu a todos, no amor e na dor.contioutra.com - Feminismo: o mais precioso legado que minha mãe me deixou

Dentre tantas lições que ficaram, só recentemente consegui assimilar a maior delas, minha mãe foi a mulher mais feminista que já conheci. Ela me ensinou que como mulher posso ser quem eu quiser, que posso fazer o que quiser, que não preciso me contentar com o papel que a sociedade insiste em entregar às mulheres, que para ser mulher não preciso viver pedindo aprovação nem “andar na linha”. Posso ser tudo, bela, feia, recatada, mal criada, posso me reinventar todos os dias. Mesmo com o relacionamento conturbado que tivemos de mãe e filha, talvez eu tenha sido um de seus mais árduos juízes, hoje posso dizer, de mulher para mulher: obrigada mãe, você me ensinou a ser mais mulher, mais forte, corajosa, autêntica e livre. Você me ensinou que a liberdade de ser quem se é, é o legado mais precioso que uma mãe pode deixar para uma filha.

O melhor travesseiro que existe é a consciência tranquila

O melhor travesseiro que existe é a consciência tranquila

Não existe quem não tenha algum arrependimento, quem não carregue nenhuma culpa ou remorso, por mais ínfimos que sejam, simplesmente porque todos às vezes erramos, dizemos o que não devíamos, explodimos com quem não poderíamos, escolhemos o errado, ou agimos sem pensar, enfim, vivemos como seres humanos. O que nos molda o caráter não são os erros, mas sim o quanto esses erros passam por cima dos outros, sem que haja aprendizado algum.

Aquilo que fazemos conscientemente, quando agimos deliberadamente, é o que sempre carregará o que temos de nosso, o que somos, pensamos, a forma como enxergamos o mundo e aquilo que ele traz. Nossas ações carregam as nossas certezas, as nossas verdades, o quanto de ética preenche a nossa essência, o quanto estamos dispostos a perder de humanidade na obtenção de nossos objetivos, o quanto as vidas que nos rodeiam valem para nós.

Existem várias maneiras de se obter o que se deseja, sendo muitas delas antiéticas, ilegais, ou mesmo criminosas. Podemos caminhar em direção aos nossos destinos parando para enxergar quem caminha conosco, ou correndo e atropelando quem estiver na frente. Ou ponderamos o quanto esse percurso pode nos distanciar de pessoas que nos amam com sinceridade, ou esquecemos quem pode nos dar as mãos, caso a chegada seja prioridade, mesmo que ali cheguemos sozinhos.

Sempre existirá quem coloque o poder, as posses, o emprego, a posição social, tudo o que denote status material, à frente de qualquer outra coisa e de qualquer pessoa. Quem use o próximo para servir aos seus próprios interesses, quem enterre a afetividade sob a frieza julgada necessária para subir na vida, a despeito de quem for deixado para trás nesse percurso, a despeito de qualquer dor que provoque, de qualquer sentimento que destrua, de qualquer amor que tenha que ignorar.

Felizmente, muitos permanecerão junto daqueles com quem cultivam amor transparente e recíproco, sustentando os princípios éticos que embasam sua natureza solidária e exacerbadamente humana, priorizando os relacionamentos que tocam a sua essência, em vez de focarem tão somente os degraus da subida ao sucesso profissional ou material. Muitos conseguirão abrir mão do que parece primordial, em nome da família, em nome do amor, porque entenderão que nada é capaz de substituir a companhia de gente que traz verdades às suas vidas.

E, melhor de tudo, ninguém há de negar que a melhor maneira de deitar e dormir sossegadamente é repousar uma consciência tranquila no travesseiro. Riqueza alguma paga isso.

Ansiedade e depressão: saiba como a campanha Janeiro Branco pode ajudar

Ansiedade e depressão: saiba como a campanha Janeiro Branco pode ajudar

Depois do sucesso de iniciativas como Outubro Rosa e Novembro Azul, psicólogos e profissionais de outras áreas da saúde se unem na criação de uma campanha para chamar a atenção da população para a importância de cuidar da saúde mental. Trata-se da Campanha Janeiro Branco, idealizada pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão em Uberlândia (MG).

Segundo seu idealizador, ela está alinhada com as mais modernas discussões científicas, nas quais o ser humano é tido como um ser biopsicossocioespiritual – modelo transdisciplinar criado na década de 1970 pelo psiquiatra George L. Engel, que leva em consideração fatores psicológicos e sociais no desenvolvimento de doenças.

“Saúde Mental, em uma visão transdisciplinar, humanista e moderna, engloba tanto a ausência de transtornos mentais (ou doenças mentais) como, por exemplo, a Depressão, a Ansiedade Generalizada, a Esquizofrenia ou a Bipolaridade, como, também, a capacidade de o indivíduo reagir, equilibrada e adequadamente, às circunstâncias, condições e vicissitudes da vida”, explica Leonardo. “Inspirado pelo Outubro Rosa, idealizei a campanha em novembro de 2013, criei um grupo no WhatsApp nessa mesma época e comecei a chamar psicólogos de Uberlândia para me ajudarem a tirá-la do campo do desejo e a colocá-la em prática na virada de ano daquele 2013-2014.”

A principal estratégia do movimento consiste na realização de palestras de 20 minutos em espaços públicos ou privados como salas de espera de hospitais, clínicas médicas, terminais de ônibus, filas de casas lotéricas, pátios de escola, restaurantes populares e por aí vai. Nelas, os responsáveis abordam de maneira didática assuntos delicados como sexualidade, sentimento, depressão, infância e terceira idade. Todas as palestras são gratuitas.

Uma das influências para e escolha do nome e do mês em que acontece a campanha foi literária – o poema Receita de Ano Novo, de Carlos Drummond de Andrade.  “Neste poema Drummond aconselha que a pessoa, para ganhar um Ano Novo de verdade, tem que lutar por ele, merecê-lo, fazer por onde despertar o Ano Novo que existe adormecido dentro de cada um de nós. E essa é, justamente, a proposta do Janeiro Branco: uma campanha que busca mostrar às pessoas que elas podem se comprometer com a construção de uma vida mais feliz para si mesmas”, conta Leonardo, dando ênfase ao simbolismo da virada do ano.

Já o branco vem, entre outras coisas, por causa das suas possibilidades – como a de uma folha em branco, onde novas histórias podem ser escritas.

ENGAJAMENTO

A campanha vem ganhando cada vez mais a simpatia de pessoas que se identificam e levam a ideia adiante.

A psicóloga Anuska Alencar foi uma das conquistadas. Em 2015 ela organizou e realizou, com a ajuda de outros colegas de profissão, a campanha em algumas cidades do Rio Grande do Norte. Anuska afirma que, desde o início, teve ótima impressão do projeto e isso a motivou a participar. “Acho que, apesar da saúde mental ser algo complexo, a campanha é simples e pode sensibilizar as pessoas de forma que estas possam promover a própria saúde”, disse.

Após tomar conhecimento da existência da Janeiro Branco, a também psicóloga Patrícia Tribeck se propôs a levá-la para o Meio Oeste do país. Mesmo com o receio da população local, não se acanhou, botou a mão na massa e hoje tem planos concretos para a realização da primeira edição na região. Na agenda, ações confirmadas nas cidades de Fraiburgo (onde Patrícia reside), Videira, Tangará e Pinheiro Preto.

Os envolvidos argumentam que as ações servem igualmente para um melhor entendimento da população sobre a importância do trabalho do psicólogo. “Para você ter uma ideia, aqui na região ainda não se sabe direito qual o trabalho do psicólogo, não se sabe o que ele faz”, conta Patrícia.

Por estar relacionada diretamente com questões humanas, a Janeiro Branco tem colaboração de profissionais de diversas outras áreas. Entre eles advogados, juízes, promotores, engenheiros, arquitetos, enfermeiros, empresários e estudantes dos mais variados cursos.

AGORA É LEI

A edição de 2016 teve um grande número de colaboradores de outras cidades do país e isso despertou o interesse do poder público. A Câmara Municipal de Campinas recentemente aprovou uma lei que torna oficial a Campanha Janeiro Branco na cidade.

A psicóloga Rita Pereira foi responsável por encaminhar o trabalho até as bandas campineiras. “Minha proposta de trabalho sempre foi quebrar crenças negativas e preconceitos que impedem as pessoas de cuidar da sua saúde emocional, mostrar que a Psicologia pode beneficiar qualquer pessoa e que cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar da saúde física”, justificou.

Procurado pela reportagem, o vereador Carmo Luiz (PSC), criador da lei em questão, conta que tomou conhecimento da campanha através de pesquisas feitas por sua assessoria. “Elaborei esse projeto porque tenho vários clientes que têm familiares com problemas de saúde mental, e isso me sensibilizou, pelo sofrimento dessas pessoas e seus familiares”, informou.

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) se empenhe cada vez mais em alertar sobre crescimento vertiginoso das taxas de suicídio, depressão e ansiedade em todo o mundo, a saúde mental continua a ser negligenciada no debate público.

Rita não se deixa desanimar e alega ter uma visão otimista. Acredita que a lei da Campanha Janeiro Branco pode ajudar a mudar essa realidade. “Espero que o vereador Carmo Luiz e o prefeito Jonas Donizette se comprometam no apoio as ações educativas em promoção da Saúde Mental”, concluiu.

De acordo com um comunicado enviado à CONTI pelo vereador Carmo Luiz, o mesmo pretende divulgar a lei em Janeiro, “fazendo uma ampla campanha em meu mandato de vereador”.

Iniciada assim, quase de maneira informal, a Janeiro Branco trilha caminhos sólidos para se tornar um grande movimento popular. A mesma já está com atividades programadas em estados como  MG, RN, PB, RJ, SP, RS, PE, AL, GO, TO, PR e BA. Além disso, países como Uruguai e Estados Unidos estão incluídos nos roteiros da próxima edição.

Não há mais tempo: precisamos acordar e viver num tom maior

Não há mais tempo: precisamos acordar e viver num tom maior

“Ainda é cedo, amor / Mal começaste a conhecer a vida / Já anuncias a hora da partida/ Sem mesmo saber o rumo que irás tomar…” Nos versos de Cartola, mais do que um lamento agridoce, o grito de quem não quer permitir o viver escorrer pelas mãos. Estamos tão indefesos sobre o tempo restante que, muitas vezes, perdemos diversas janelas de amor, carinho e de um arco-íris mais sentimental e sincero. Não há mais tempo para lamentos. Não há mais porquê de refrearmos essa vontade de transcorreremos enquanto respiramos todo o nosso melhor. Para nós e para quem quer que esteja ao redor.

A vida é breve e precisamos de sonhar. Dos planos possíveis até os aparentemente impossíveis. É se entregar aos desejos mais vívidos. Aproveitar cada instante para o que realmente importa e permanece. Nada de desculpas atrasadas e esfarrapadas sobre um “hoje não posso” ou “isso não vai dar certo”. Tudo a ser conquistado por nós depende única e exclusivamente da nossa disposição inteira em querer.

A vida é um sopro e precisamos vivê-la. Devemos nutrir a coragem de nos lançarmos em inteiros uns aos outros antes que seja tarde. Porque a vida é esse emaranhado de laços afetivos, onde colocamos inúmeros pedaços de nós na tentativa de estabelecermos sentimentos mais sólidos e uma gratidão pura através do caminhar.

A vida é vida e precisamos do agora. Sem mais delongas, abraços incontáveis, beijos sem explicação e, acima de tudo, novos e preciosos sorrisos por quem já não pode disfarçar tamanho apreço e respeito por um viver num tom maior.

“Ouça-me bem, amor / Preste atenção, o mundo é um moinho / Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos / Vai reduzir ilusões a pó…”

Precisamos acordar. O samba das nossas vidas cabe em mais de uma nota. Não há mais tempo.

Todo amante é uma alma gentil. O resto é cópia grosseira.

Todo amante é uma alma gentil. O resto é cópia grosseira.

Amores há de todo jeito. Pequeninos e inibidos, médios e habituais, enormes, intensos, impetuosos. Uns amores fazem cócegas, outros arrebentam paredes. Tem amor de todos os portes e todas as sortes. O amor pode ser sutil como música que toca baixinho, pode ser violento como o mar revolto, o tempo truculento que a tudo atropela, o vento sul que invade a casa, bate as portas, espalha papéis, eriça os pelos dos bichos.

Já os amantes, não. Todo ser amoroso há de ser de um tipo só: gentil! Irremediavelmente amável. Ou é outra coisa, com outros nomes. Amantes incapazes de gentilezas não são amantes. São farsantes, impostores ordinários, bestas sem controle. Animais irracionais babando ódio. Toda alma tocada pelo amor há de ser suave e generosa, sensível e bondosa. Do contrário está fingindo.

Ainda que o amor seja puro descontrole, o amante há de ser cuidadoso e cortês. Um amante é alguém no exercício franco de seu amor. Aquele que conduz o sentimento em si. Quando o amor é agitado e bravio, o amante é calmo e forte para levá-lo no caminho certo. Quem ama é gentil sempre. Quanto mais violento é o amor, mais resoluta e bondosa é a alma que ama.

Há por aí quem defenda modos bruscos, gestos agressivos, rompantes, condutas intempestivas como provas de amor. Balela! Isso não prova amor nenhum, só denota desejo de controle que sempre acaba em descontrole. Quem ama não aperta o braço, não ameaça, não coage, não reprime. Não combate nem enfrenta o ser amado como quem afronta um assassino. No máximo controla a intensidade do amor que sente, jamais a vida do ser amado.

Como o vento violento que ganha o céu, deita sobre as nuvens e adormece soprando em nós uma brisa mansa, que todo amor indômito encontre casa em almas fortes e gentis que o acolham, o abracem e o amem com ternura, paciência e imensidão até encontrar sua calmaria.

O amor pode ser violento. Os amantes, não. Jamais, nem pensar, de jeito nenhum. Amantes são almas gentis. O resto é falsificação grosseira.

Pais omissos: crianças perdidas

Pais omissos: crianças perdidas

Existe uma enorme diferença entre ser uma criança levada, sapeca, sagaz e ser uma criança sem limites e sem educação. Estamos vivendo uma época muito estranha. Basta olhar à sua volta em lugares públicos e observar o comportamento de famílias com filhos pequenos. Na grande maioria dos casos fica nítida a falta de preparo dos pais. E o que se pode verificar, no lugar de onde deveria haver uma família, há uma espécie de “turma”, na qual ninguém sabe muito bem qual é o seu papel.

Infelizmente, são raras as pessoas que têm a exata dimensão do que representa trazer uma criança ao mundo. A falta de preparo começa a aparecer ainda no período de gestação; as mudanças hormonais, físicas e psicológicas da mulher parecem pegar os casais desprevenidos. Isso quando não ocorre de a própria gravidez ser uma completa surpresa. Em pleno curso do segundo milênio, época em que homens e mulheres vivem imersos numa filosofia que legitima a transitoriedade e superficialidade das relações, ainda há quem se disponha a ter relações sexuais sem proteção.

A equação simplesmente não fecha. Se o que há entre duas pessoas não inclui um projeto de convivência e uma história futura, porque diabos esse casal engravida afinal? E ocorre que, por enquanto, vivemos em um país em que interromper a gravidez ainda não é uma situação claramente resolvida, do ponto de vista legal e muito menos do ponto de vista moral – em verdade, está longe de ser.

Na hora lá do “bem bom” ninguém lembrou que uma das consequências do “bem bom” pode vir a ser uma criança. Depois vem com discurso de que a vinda de uma criança é sempre um sonho. Sonho para quem? Para a criança é que não é, certo? Porque as chances do que começou como um “acidente” vir a ser uma história bem-sucedida são realmente muito pequenas. A menos que os envolvidos tomem realmente para si a responsabilidade e encarem a história toda com seriedade e conduta amorosa.

Mas, enfim. Vamos pular essa parte da gravidez. Uma hora o bebê vai sair do conforto líquido que o envolve no corpo materno. E, sinceramente, um parto, está tão longe de ser aquele drama mexicano de gritaria que acorda os bairros vizinhos, quanto de ser aquela maravilha dos contos de fadas em que o bebê quase surge num passe de mágicas. Parto é parto. Envolve riscos, preparo, anteparo médico – se a mulher for realmente sortuda, envolve, inclusive, a presença de uma doula. A criança pode precisar de cuidados especiais, além dos normais cuidados que toda criança precisa.

Esse lindo embrulhinho que se leva para casa e que muitas vezes já foi até fotografado, ainda dentro da barriga. Eu ainda não consegui entender qual é a daqueles ensaios fotográficos com mil closes da barriga. Acho absolutamente cabível que o casal registre momentos e faça fotos juntos, fotos da barriga a cada mês, fotos com os amigos, fotos com a família. Veja bem, não é disso que eu estou falando. É que já vi cada coisa… Uns “books” que mais lembram portfolios para calendário de borracharia (ainda tem isso?), só que com a modelo ostentando um barrigão.

Enfim… O bebê que é uma bênção, e que já tem enxovalzinho combinando com o quarto, e que já tem nome escolhido desde o primeiro ultrassom que revelou o sexo, e que está sendo esperado como um presente embrulhadinho… Ai, ai, ai… esse bebê renderá montanhas de fraldas descartáveis limpas e depois sujas, muitas noites insones, muita dedicação para decifrar suas necessidades e muita compreensão dos adultos acerca da sua dificuldade em se adaptar a esse mundo aqui fora, esse mundo barulhento, pouco acolhedor e estranho, muito estranho.

E a educação desse bebê é de extrema importância para o seu desenvolvimento, tanto como ser individual, quanto como ser social que virá a ser. Mas como assim, educar um bebê?! Bebês não precisam só de amor, leite, banhos, sono e fralda limpa? Não. Não mesmo. Bebês precisam de encontros afetivos com os adultos responsáveis por ele. Precisam ouvir vozes acolhedoras. Precisam de estímulos visuais, táteis e auditivos. Precisam de adultos tranquilos para enfrentar sua inexperiência diante da vida. Bebês não precisam ser prematuramente enfiados numa cadeirinha de carro para irem ver a decoração de Natal do shopping, por exemplo.

Os pais precisam entender que ao assumirem uma criança, suas rotinas sofrerão importantes alterações. Crianças pequenas ficam irritadas em restaurantes barulhentos, cheio de gente falando alto, rindo, batendo copos e talheres. Aí, a criança que ficou irritada começa a chorar. E o que é que a gente mais vê hoje em dia? O milagre dos “tablets encantadores de bebês”. E dá-lhe Galinha Pintadinha, e dá-lhe Patati-Patatá. E o bebê fica ali, vidrado, encantado, entretido, esquecido.

Que pena! Perdeu-se neste momento de alienação virtual uma valiosa oportunidade de conviver, ensinar e educar. Ahhhh… mas então, agora quem tem filho não pode mais ir ao shopping, nem ao restaurante? Tem que ficar trancado dentro de casa? Claro que não. Mas não custa nada, lembrar que aquele é um ambiente feito para os maiores. Não custa nada levar uns brinquedinhos, agir de forma a ajudar a criança a interagir com o ambiente, brincar com ela, incluí-la no passeio. E, com certeza, escolher mais passeios ao ar livre com possibilidades de diversão também para o bebê ou a criança.

Um pouco mais adiante nos depararemos com uma nova epopeia na vida dessa família e dessa criança: a escolha da melhor escola. Nossa! Aí a coisa fica realmente complicada. Essa é uma das decisões mais difíceis e delicadas para qualquer pai e qualquer mãe. E, tanto faz se essa família puder ou não puder; optar ou não optar por uma instituição pública ou particular. Há instituições públicas que fazem trabalhos belíssimos com os pequenos, os médios e os jovens. Assim como há instituições particulares que honram seus projetos político-pedagógicos, ainda que sejam – e isso não dá para negar -, uma empresa.

Ocorre que muitas vezes os pais se esquecem de avaliar se as posturas e missões abraçadas pela escola conversam com os valores adotados e praticados pela família. Muitas vezes, os pais escolhem uma escola, levando em conta o custo-benefício desse investimento. Acontece que o desenvolvimento humano, sobretudo quando envolve formação acadêmica, desenvolvimento de habilidades cognitivas e dos recursos de convivência social, não é uma equação numérica. Há inúmeras variáveis a serem observadas. E essas variáveis vão desde o peso que se dá aos processos e resultados até os círculos de convivência que serão oferecidos a essas crianças e jovens.

Entretanto, há uma questão que anda sendo largamente negligenciada, junto com os bebês que ainda não nasceram, os bebês que já nasceram, os adolescentes e os jovens: não é a escola que forma o caráter, não é a escola que faz as primeiras aproximações com as relações sociais, não é a escola que ensina os primeiros limites de convivência, não é à escola que compete ensinar os pequenos a conviver com os mais velhos e os mais novos. Muitas famílias têm aberto mão desse papel fundamental que é a construção dos alicerces de caráter, valor moral e conduta ética.

O que precisa acontecer de verdade é uma integração entre a missão familiar que é da esfera privada com a missão da escola que é da esfera pública. A escola precisa oferecer espaços de aprendizagem e convivência que favoreçam a formação de indivíduos que tenham condições de respeitar o diferente, de aprender com quem discorda dele. Na escola precisa acontecer a primeira experiência de validação da autoridade extrafamiliar, uma autoridade que é necessária para o estabelecimento de um ambiente seguro e harmônico, uma autoridade amorosa, coerente e justa. Qualquer coisa fora disso é o caos.

E, vamos admitir, o caos já está instalado. Tenhamos a bondade de recuar uns passinhos e rever a nossa parte nessa história. Cada criança negligenciada, será um adolescente mais instável que o normal, chegará à juventude sem os recursos necessários para fazer as inúmeras escolhas que a vida apresentará e, provavelmente terá sérias dificuldades para amadurecer, ainda que envelheça. E, envelhecer vamos todos, ainda que não amadureçamos.

Porque sofisticada é a simplicidade !

Porque sofisticada é a simplicidade !

“Este tem sido um de meus mantras – foco e simplicidade. O simples pode ser mais difícil do que o complexo: é preciso trabalhar duro para limpar seus pensamentos de forma a torná-los simples. Mas no final vale a pena, porque, quando chegamos lá, podemos mover montanhas.”
Steve Jobs

Nesses “tempos modernos”, não é difícil nos encontramos exaustos, atônitos, perdidos, sentindo-nos num barco à deriva, nem sabendo qual vento é favorável, por não sabermos ao certo aonde queremos chegar. Não temos dúvidas, apenas, de que queremos viver bem. Vamos para cá e para lá, conforme nos falam que é bom/faz bem/é necessário. Mas, não demora, vemos que não é bem assim…

Que aquela dieta desintoxicante milagrosa não surtiu grandes efeitos. Que aquele tratamento de última geração não nos tornou impecáveis. Que aquele curso implacável não nos transformou em “outra pessoa”. Que aquele aparelho adquirido não deixou nossa rotina muito mais funcional. Que aquela viagem espetacular não nos desestressou tanto quanto gostaríamos. Que a nossa vida, pois, não melhorou substancialmente com nada disso…

Ocorre que a mudança só pode vir de dentro, e podemos demorar a nos dar conta disso… O externo pode até nos instigar, nos esclarecer, nos conduzir, mas, se não estivermos realmente dispostos, nada vai funcionar por muito tempo. Precisamos nos conscientizar de que, não adianta, não há escapatória: temos que nos dedicar se quisermos viver melhor, mais equilibrados, mais satisfeitos, mais em paz. Não há soluções mágicas.

Um bom primeiro passo é filtrar os estímulos. Não vai funcionar sairmos feito loucos tentando absorver o máximo de informações possíveis, das mais diversas ordens, sob o pretexto de ficarmos mais esclarecidos, ou mais sábios. Há diversas vertentes que são maravilhosamente esclarecedoras, mas precisamos ir com calma, raciocinar.

Jogar um monte de conceitos e dicas para dentro da “caixola”, sem parar para refletir, para compreender e para internalizar, de nada adiantará. Pelo contrário, nos estressará mais. Nos confundirá. Nos fará achar que, realmente, não sabemos nada, estamos muito longe do ideal, temos que correr atrás do tempo perdido, socorro! Vamos com calma, pisemos no freio. Temos tempo. O importante é começar, sair da zona de conforto. Um passo por vez. Se estamos andando para a frente, já temos motivos para estar contentes. Haverá tempos de estagnação e, possivelmente, até algum eventual passo para trás. Tudo bem, faz parte. Nos perdoemos e seguimos.

Também precisamos nos conscientizar de que, mais importante que melhorar o mundo é, primeiramente, mudar a nós próprios. Não poderemos ajudar os demais se somos uma pilha de medos, ansiedades e confusões. Nossa primeira missão, com certeza, é nos melhorarmos. Claro que dificilmente alcançaremos o que entendemos ser o “ideal”, mas precisamos nos tornar minimamente despertos e conscientes antes de pensar em grandes feitos.

E, nessa caminhada, é imprescindível entendermos que, se não aprendermos a nos amar, a nos aceitar e a nos tratar bem, o resto não funcionará direito. Apesar das nossas imperfeições e das nossas fraquezas, precisamos nos estimar, nos compreender, nos preservar. O autoconhecimento, nesse contexto, trará a consciência necessária para escolhermos quais caminhos seguir em busca do aperfeiçoamento. Tudo, então, fluirá muito melhor.

É essencial, outrossim, percebermos que não é gastando e consumindo que os nossos problemas serão resolvidos. Não há soluções milagrosas para o que quer que seja que possam ser adquiridas e pronto, tudo se acerta. O que realmente melhora nossa saúde física, emocional e mental, bem como os nossos relacionamentos, a nossa rotina e o nosso futuro é entendermos que temos que cuidar da nossa ALMA, que precisamos encher o nosso CORAÇÃO. E isso é grátis. Exige, apenas, boa vontade e dedicação. Viver a nossa verdade, nos interiorizarmos, nos conectarmos com a natureza, realizarmos afirmações positivas, fazermos uma boa leitura, nos vincularmos com pessoas/projetos do bem, mexermos o corpo, voltarmos a brincar. Simples assim!

Não há razão para nos agoniarmos por ainda não termos isto ou aquilo. Não precisamos de tantas coisas! Na verdade, se analisarmos a fundo, precisamos de bem pouco para ficarmos bem. A maior parte, ainda, sem custo financeiro algum! Desta vida, ao final, nada de material iremos levar… E ela fica bem sem graça se vira apenas uma soma pecuniária ou uma lista de coisas ainda não conquistadas.

Vamos fazer, ao contrário, uma relação de tudo o que já possuímos, sendo que a lista deve começar por: vida, vontade, oportunidades…
Sejamos LIVRES, pois, de todas as exigências que nos impuseram sem fundamento. Sejamos conscientes. Sejamos autodeterminantes. Sejamos leves. Sejamos descomplicados. Simplifiquemos, pois!

Devemos desconfiar de fórmulas prontas. Não levar a vida tão a sério. Não nos desgastarmos tentando ter o controle de tudo. Bem melhor nos entregarmos ao fluxo da vida. E, pode acreditar: tudo, ao seu tempo, se ajeitará.

Simplificar, pois, é engrandecer! Aumenta a consciência, a saúde, a alegria genuína e a gratidão pela vida. É claro que a escolha é estritamente nossa e que, no início, poderemos ter algum trabalho com essa reformulação do nosso ser, afinal, exigirá a mudança de uma série de padrões. Mas, então, teremos a eternidade para viver mais em paz e mais satisfeitos. E quem não está precisando disso?!

O tempo e como nos relacionarmos com ele

O tempo e como nos relacionarmos com ele

Tempo, tempo, tempo…

O tempo passa; adianta; corre; voa; avança; leva; faz esquecer e faz lembrar; faz ter esperança e faz perder a esperança; dá paciência e a tira também; faz ter certezas e faz perder todas elas; dá o controle por horas-minutos-segundos e faz perder o controle por avançar - aconteça o que acontecer -; eterniza momentos e faz outros apenas serem um lapso; traz amigos-famílias-amores e leva amigos-famílias-amores; une-nos em determinados períodos e afasta-nos em outros…

AH, SE NÃO FOSSE O RAIO DESSE TEMPO…

Esse tempo que inventamos, que montamos, que criamos, que contamos, que somamos, que diminuímos, que multiplicamos, que dividimos e que nos guia em nosso dia e em nossas decisões.

Ah, homem, que não sabe quanto tempo tem e nem quando tudo aconteceu. Não sabe quando chegou aqui, não sabe se já viveu aqui, não sabe se já foi a outros lugares, não sabe se nascerá, não sabe todos que são seus pais, mães e irmãos.

Que horas são agora?

Quem disse isso? Foi o céu, o sol, a lua, o mar, as estrelas, a terra, a natureza? Mas nenhum deles lhe mandou viver por isso. Mendigamos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos e décadas, sem saber nada sobre isso. Apenas tratamos da matemática, mas esquecemos a nossa história, a nossa geografia, a nossa física, a nossa química e que tudo isso está em constante mudança.

Não deixe o tempo enjaulá-lo. Saia dos seus limites. Você provavelmente tem um tempo para tudo: trabalhar (talvez o maior deles), comer, dormir, ler, escrever, exercitar-se, namorar, cuidar, comprar, brincar (talvez o menor deles). Talvez não sejamos sempre a mesma pessoa: quando brinco, posso ser diferente de quando trabalho; quando cuido, posso ser diferente de quando namoro… E assim nos vamos particionando. Ficamos partidos e segmentados em personalidades, enquanto o nosso maior objetivo é ser união.

Temos família, parentes, amigos, colegas e namorados para promover essa união. Temos um trabalho para fazer algo em conjunto, temos uma religião para nos aproximar de algo maior, temos um relacionamento para nos unir em pensamentos e emoções e temos uma família para aprendermos a viver em amor.

Inventamos o dinheiro, mas, na verdade, o que estamos sempre trocando é o nosso tempo. Esse tempo que poderia ser mais aproveitado, ou não. Vamos à escola, para que o nosso tempo possa ser valorizado no futuro. Na faculdade, também acontece o mesmo: obtermos uma profissão que seja bem remunerada. Quando trabalho, assino um contrato de que receberei X reais para trabalhar X horas diárias/semanais. Para quem estou vendendo o meu tempo? Vale a pena vendê-lo? Gosto disso?

AH, SE NÃO FOSSE O RAIO DESSE TEMPO…

Teríamos tempo para nossos pais, para os nossos irmãos, para os nossos amigos, para os nossos amores, para sermos os nossos melhores sonhos, para fazermos o que gostamos, para estudarmos o que nos motiva… Teríamos tempo para sermos quem realmente estamos aqui para ser.

Tempo, já que você me deu tudo e um dia vai me tirar tudo, quero que saiba que não vou mais o seguir. Não vou mais me basear em você, não vou dividi-lo, não vou mais contabilizá-lo. Você continuará, mas uma grande parte de mim, não. E quero usá-lo, mas sem basear a minha vida em segundos-horas-minutos-dias. Eu quero deixar o passado e também o futuro. Eu quero o gosto de cada momento. Eu quero o agora, que é a única coisa que me deve, por me ter deixado chegar até aqui. Eu quero é viver sem medo do que aconteceu no passado e sem planejar um amanhã perfeito. Eu quero aprender a aceitar o que tem para agora e quero viver nisso, sem cobranças minhas ou dos outros.

Tempo, se eu viver por você, na verdade nunca terei vivido. Um dia tudo será passado. Quero aproveitar cada respiração, toda vez que eu tomar um banho, toda vez que eu colocar na minha boca aquela deliciosa comida, toda vez que os meus pés tocarem no chão e toda vez que sair um som da minha garganta.

Podemos experimentar dizer:

Tempo, me despeço de você, sabendo que, no fundo, você não vai embora, mas sim aquele velho padrão social. Eu o saúdo e agradeço.

Comece o dia amando mais você!

Comece o dia amando mais você!

A cada gesto de amor próprio, uma ilusão se despede. As qualidades que a gente atribui ao outro, são as nossas próprias que a gente quer ver em reciprocidade. E não é sempre que isso acontece. Desilusão é esperar uma troca que jamais acontecerá.

Comece o dia amando mais você! Dessa forma, não será preciso aceitar o mínimo, suplicar o possível, sonhar com o inatingível. Seu amor e seu zelo tornam-se escudos protetores, verdadeiras muralhas que impedem a entrada de sugestões ciumentas, comentários invejosos, dicas mesquinhas, inspirações derrotistas.

Somos amados, sem dúvida alguma. Nem sempre do jeito que desejamos. Quase nunca na intensidade que sonhamos. Raramente por todos os que elegemos. Muitas vezes nos contentamos com o amor idealizado, desculpado, esfarrapado. Mas não ousamos nos amar mais para suprir o que falta.

Comece a tarde amando mais você! Se sobreviveu à manhã de expectativas por novidades e grandes surpresas, e por fim a rotina prevaleceu, comece a tarde em total amor por você!
Despeça-se das promessas vazias, da esperança enfraquecida, da ligação que não recebeu, das desculpas que não interessa mais ouvir.

Ainda somos amados, tantas vezes secretamente, outras aberta e sonoramente! Que valor atribuímos a esses amores? Estarão eles perto demais para que possamos enxergá-los sem a vista embaçar? Seremos nós pessoas que preferem o amor de longe?
Quando a gente se ama mais, aprende a aceitar o amor que nos oferecem.

Comece a noite amando mais você!
Relaxe, descanse, desacelere, deixe as perdas do lado de fora da porta, derretendo no capacho. Sacuda a indiferença, a ingratidão, o orgulho ferido e as desilusões antes de entrar no seu mundo particular. Faça dele o paraíso, ainda que muitas vezes solitário.

É certo que companhia nos faz um bem enorme, mas na falta de uma, não podemos negar a nossa própria e deliciosa companhia a nós mesmos. Se a gente não acha, quem o fará?

Termine o dia amando mais você. Se o dia terminou para você, lembre-se de que é uma pessoa de sorte e muito amada. Não há garantias para o dia seguinte, a hora é agora!

Deixem-nos chorar !

Deixem-nos chorar !

Não precisamos estar bem o tempo inteiro. Muito menos, fazer de conta que está tudo ok, quando estamos longe disso. Chorar, vez ou outra, é vital. Sentir, verdadeiramente, faz bem. Somos humanos. Independentemente do que esperam de nós, precisamos, sobretudo, respeitar nossos momentos.

Porque há momentos em que apenas queremos ficar calados
Precisamos sentir toda a tristeza que surge em nosso ser
Necessitamos não ser questionados, nem confrontados
Apenas respeitados.

Deixem-nos, vez ou outra, mergulhar em nossas incertezas
Decifrar as nossas desilusões
Curtir a desconstituição de algumas “verdades”
Viver o luto pela perda de sonhos…

Não podemos sufocar o turbilhão de emoções que nos habita
E que, volta e meia, entra em erupção
Precisamos contemplar esse calor todo saindo do nosso íntimo
E confirmar que as cinzas se depositarão, mansamente, às margens de nossa existência…

Precisamos chorar para extravasar, para nos libertarmos
Pela pessoa que gostaríamos de ser e talvez não estejamos sendo
Pelo que desejamos que as pessoas fossem, mas elas não são
Pelas possibilidades pedidas sem serem experimentadas
Pelos momentos de covardia, de intolerância, ou de insensatez
Pelas injustiças do mundo, e pela inconstância da vida
Para nos reconhecermos humanos, enfim…

O que será de nós se mantivermos tudo isso aprisionado?!
Se desintegrar e se reconstituir faz parte de uma vida que foi realmente vivida…

Deixem-nos, então, a sós, e em paz
Deixem-nos, vez ou outra, chorar
E deixem-nos livres para sermos nós mesmos e sentimos, ao nosso modo, tudo o que se apresentar…

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