Guardar mágoas equivale a armazenar lixo dentro de casa

Guardar mágoas equivale a armazenar lixo dentro de casa

Se o mega superior diretor da companhia que recolhe o lixo resolver ficar “de boa” na casa dele por três dias, isso não vai fazer nenhuma diferença na minha vida, na sua vida, na vida de ninguém.

Mas imagine se os valorosos garotos e garotas que fazem o importantíssimo trabalho de recolher o que jogamos fora, para fora de nossa casa, resolvessem fazer o mesmo… Três dias de acumulação de coisas que entraram na categoria de descartáveis…

O lixo acumulado não ocupa apenas espaço. Ocupa o ar que respiramos. Torna-o pesado, desagradável e mau cheiroso. Ninguém guarda lixo dentro de casa – a menos que seja um acumulador patológico, é claro!

Então… Por que cargas d’água nos permitimos guardar mágoas. Originada do latim “macula”, mágoa retém o antigo significado de “mancha”, “nódoa”. Um coração magoado deixa a gente maculado por dentro; ficamos marcados pelo mal que nos fizeram.

O pior de tudo é que isso pode vir a ser um vício. Há gente que coleciona mágoas. Guarda-as com todo desvelo em caixinhas bem forradas e protegidas. Oferecem a elas um lugar de honra no próprio peito. Concedem a elas audiências regulares. Visitam-nas. Revivem-nas.

Viver magoado é dispor-se a carregar dentro de si, as consequências de situações que geraram sofrimento. É como viver num vale entre montanhas, prisioneiros de um eterno ecoar de uma dor que já devia ter parado de doer.

É preciso aprender urgentemente um jeito de liberar espaço na alma. Ninguém pode experimentar a alegria, quando vive a ruminar tristeza. Ninguém pode ver graça na vida, enquanto ficar perpetuando as inevitáveis desgraças.

Por outro lado, ninguém pode ser tão tolo a ponto de não perceber que se uma coisa lhe pesa demasiado nos braços, depende de sua própria escolha continuar a carregá-la ou simplesmente livrar-se dela.

Façamos escolhas mais amorosas sobre o que vamos levar conosco na bagagem dos dias. O que nos fez sofrer fará parte da nossa história, não há como escapar disso. As maldades alheias nos transformam mesmo.

O que está feito, está feito. No entanto, depende apenas de nós o lugar que vamos destinar ao reflexo dessa dor. Guardar mágoas no peito, equivale a armazenar lixo dentro de casa. Isso vai apodrecer, contaminar todo o resto. O resto que inclui as coisas lindas que a gente deixa de viver porque ficou apegado demais naquilo que nos fez doer.

Feche os olhos por um instante. Uns minutinhos apenas. Escolha uma mágoa ou duas e dê a elas a alforria. Coloque-as com todo seu amor dentro de balões coloridos de gás e deixe-as ganhar o céu. E faça um esforço para nunca mais chamá-las de volta. Mágoas são bichinhos domesticados. Se você lembrar delas, elas são bem capazes de achar o caminho de volta.

O amor é um risco. Quem quer garantia faz um seguro.

O amor é um risco. Quem quer garantia faz um seguro.

Imagem  AS Inc/Shutterstock

A gente sabe. Sentir amor é trabalho de alto risco. Sempre foi. Feito chuva de vento, molha quem estiver debaixo. Você se encapota, usa galochas, tecidos isolantes, cobre os pés com sacos plásticos, veste capas e gorros tentando evitar o menor pingo, escolhe um guarda-chuva enorme, de cabo reforçado, mas não tem jeito: sempre sai com alguma parte do corpo encharcada. É do jogo. Quem não quer se molhar que se esconda em lugar fechado e espere abrir o tempo.

Eu ando pensando no amor assim, sabe? Como a chuva e os incidentes de toda sorte. Um risco. No fundo, tudo tem um risco. Todo trabalho é arriscado, todo esporte é temeroso, toda aventura é perigosa. E esse negócio de fugir de toda ameaça, sei não, vira doença feia, abrevia nosso tempo, elimina possibilidades. Enfia a gente num pavoroso estado de morte em vida. Deus nos livre desse mal!

Quem pula de um avião num pára-quedas sabe bem o que está fazendo. Na hora certa, puxa a cordinha e pronto. Espera chegar o chão, curte a paisagem, pensa na vida, no mundo lá embaixo, no próximo salto. Menos na possibilidade do pára-quedas não abrir, o que, cá entre nós, de vez em quando acontece. Mas a gente salta assim mesmo. Toma precauções, segue as regras de segurança e vai. Mesmo sem garantia absoluta de que tudo vai dar certo, a gente vai. Porque a vida é um risco e só vive quem se dispõe a arriscar.

Tem gente que arrisca muito, tem gente que arrisca menos. Mas todo mundo arrisca. E quem disse que no amor ia ser diferente?

Sentir amor é arriscado mesmo. Sempre foi. Quem abre o coração não tem garantia de nada. Mesmo fazendo tudo direitinho. Você obedece os procedimentos, segue as regras de segurança e continua na mesma: nunca sabe o que vai acontecer. Se vai “dar certo” ou se vai se arrebentar lá embaixo, é um mistério. Logo, qualquer preocupação nesse caso é falta de ocupação. E quem não se ocupa é desocupado, não trabalha pelo amor, acomoda-se, recosta-se, folga, vacila, contribui para o pior sempre.

O amor é um risco. Não dá garantia de nada. Quem quer garantia faz um seguro. Amantes são seres dotados de coragem para aceitar o incerto, viver seu sentimento honestamente, querer e fazer o melhor pelo outro e por si mesmo. Enfrentar e vencer seus medos, inclusive o medo de se ferrar de novo.

Sim, porque com o tempo a gente aprende que o amor não é o contrário do medo coisa nenhuma, como querem os papagaios repetidores de clichês. O amor e o medo são irmãos inseparáveis. Quem tem amor tem medo, sim. Tem a humildade de assumir que sente medo como toda gente sensível. Mas também tem uma coragem imensa de enfrentá-lo e de seguir em frente apesar de seus pavores.

Daqui a pouco aparece um ser perfeito tagarelando: “quem tem amor não tem medo, você está confundindo amor com apego”. Será mesmo? Eu acho que não. “Apego” é justamente coisa de quem exige garantia pra tudo, os amantes não têm garantia de nada. E nós seguimos discordando.

Sei lá. Eu só ando pensando. Mas pensar no amor não leva a gente a lugar nenhum, né? Quem pensa demais também corre um risco enorme, pior do que aquele outro. Risco de não amar nem ser amado. Eu prefiro me arriscar do outro jeito. Vou amando como posso, como quero. E depois a gente vê o que faz.

Eu não consigo odiar ninguém

Eu não consigo odiar ninguém

Fotografia por Phil Chester

Ainda que os cansados julguem, que os maldosos apontem e que os desafetos sintam inveja, eu não consigo odiar ninguém. Não é porque sou melhor do que eles ou porque não me permito ficar chateado e incomodado com as suas atitudes, mas é que, para mim, nada de bom acontece quando deixo o ódio tomar conta.

Algumas pessoas confundem ódio com raiva e talvez não exista nenhuma diferença clara entre eles. Contudo, tanto um quanto outro são nocivos ao bem-estar de quem quer levar a vida na simplicidade, na gentileza na ponta dos lábios. Vivemos em tempos calorosos demais para afetos de menos. Nada pode ser bom quando damos voz para gestos e sentimentos tão desastrosos e diminutos. Raiva não é justiça, ódio não é equilíbrio. Não me permito nutrir nenhum dos dois porque é exaustivo carregá-los, mantê-los. O ódio é entrave para qualquer amor. Perda alguma justifica tantas doses expressivas de querer o mal do outro.

Mágoas não podem, em momento algum, serem pontos de partida para um estado maldito de covardia. Existe uma grande diferença no que diz respeito ao estar descontente e estar com ódio. Tristezas não podem ser previstas e manipuladas, mas o ódio pode tudo isso. E a troco de quê? Ser melhor, fazer melhor? Não, sem chances.

Enquanto uns procuram adentrar nessa trilha entorpecente e desagregadora por questões políticas, opiniões racistas e outros assuntos que nos cabem mais uma falta de maturidade do que de vontade, escolho o respeito como o primeiro sentimento. Não deixo, digam o que quiserem, que o meu sorriso dê cambalhota em lágrimas.

Ainda que tirem-me de louco, ingênuo e tolo, eu não consigo odiar ninguém. Não consigo. É direito de todos escolherem os próprios descaminhos, mas isso não significa que deva ser arrastado por eles. Ódio não é escolha, raiva não é moral. Nada disso merece entrada para os que querem somar.

Certas pessoas não merecem nem ser um problema em nossa vida

Certas pessoas não merecem nem ser um problema em nossa vida

Quanto mais vivermos, mais nos decepcionaremos com as pessoas com quem encontramos pelo caminho, mais nos conscientizaremos de que serão bem poucos aqueles com quem poderemos realmente contar. Portanto, sabermos em quem depositarmos nossa confiança e quais serão os encontros em que deveremos nos demorar nos ajudará a não gastar tempo e energia com gente ruim e de coração vazio.

Da mesma forma, sermos alguém em quem poderão confiar, alguém cujo coração não se escureça com carga negativa de ódio, rancor e inveja, acabará por nos aproximar de pessoas melhores. Atraímos energias afins, ou seja, não poderemos nos deixar contaminar pelas negatividades que nos rodeiam, ou seremos nós quem decepcionará, quem machucará, quem não será digno de consideração.

Existem pessoas que vivem para criticar o outro, no ambiente de trabalho, à procura de supostas falhas e defeitos de quem os rodeia, tentando sempre diminuir quem estiver por perto. Nunca elogiam ninguém, embora tenham severas críticas ao trabalho dos demais, não se furtando de expor as fragilidades que encontra no serviço dos companheiros, às vezes de forma sutil. Parece que se alimentam de ferrar a vida dos outros, tendo prazer em apontar erros – muitos deles imaginários, diga-se de passagem.

Há indivíduos que vivem metidos em confusão, em fofocas, sempre enrolados em meio a algum mal entendido. Onde quer que estejam, seja qual for o círculo de amizades, eles conseguem espalhar algum boato, alguma notícia desagradável, não poupando ninguém de seus enredos venenosos. As personagens de suas fofocas variam, mas eles serão sempre os roteiristas narradores das maledicências que estragam qualquer amizade.

Encontraremos, também, aqueles que tornam todo e qualquer ambiente pesado e carregado, como se as energias estivessem sendo drenadas inexplicavelmente. Mesmo que eles sorriam, tenham a voz doce e aparentem tranquilidade, carregam somente negatividade dentro de si, invejando qualquer um, infelizes que são por culparem a todos, menos a si mesmos, pela vida desprezível que acham que possuem. E quando não estão presentes, a gente sente um alívio imensurável.

O perigo de viver em meio a tanta falsidade é nos impregnarmos com a maldade alheia, tornando-nos tão desprezíveis quanto essas pessoas que nos desagradam no dia-a-dia. Mantermos as nossas verdades e nosso coração limpo e leve então será essencial para que não deixemos nunca de acreditar na força do bem e do amor. É dessa forma que poderemos descansar em paz ao fim de cada dia, na certeza de que fomos o melhor que poderíamos.

Imagem de capa:  ZoneCreative/Shutterstock

Antes de qualquer coisa, seja livre

Antes de qualquer coisa, seja livre

Fotografia de Thomas Lodin

Não adianta esperar que o mundo traga – de braços abertos, possibilidades e esperanças para dias melhores. Assim como também não serve ficar imaginando os porquês de certos sorrisos não terem sido concretizados. Momentos únicos chegam para quem não sente medo de arriscar, para quem não sente medo de viver. Antes de qualquer coisa, seja livre. Faça-se livre.

Nada de estipular sabores e encarar caminhos, como quem julga ter a certeza imutável das escolhas. Um dia você erra, noutro acerta. A vida é esse pêndulo de quedas e saltos, onde sempre nos é permitida a escolha. Sobre o que sentimos e sobre como lidamos com o que sentimos. Vitimismos pesam, cansam. Quanto mais você restringe o seu potencial e o seu querer, mais aprisionado e suscetível aos agouros você se encontra. Felicidade é muito mais do que isso. É aceitar, conhecer e reconhecer que, antes de estar pronto para depositar bondades, gentilezas e amores ao léu, você necessita despir-se de receios e outras amarras emocionais que te impedem de residir em qualquer inteiro. Porque sem coragem para viver inteiro, tudo o que resta são metades. Suas e de outro alguém.

Abrace instantes. Receba o agora. Não fuja da maior responsabilidade que é ser você para você. Autoconhecimento não é conversa de autoajuda, mas o princípio do amor em sua quintessência. É quando janelas e portas se fecham e você consegue encontrar fôlego para desconstruir-se e elevar-se frente novos desafios. É não esmorecer quando a reciprocidade tornar-se ausente. É amor de um tudo mesmo sendo pouco.

Antes de qualquer coisa, seja livre. Porque a liberdade acompanha os despretensiosos e sonhadores. Não estagna, desestimula ou inveja o ganhar alheio. Empatia é liberdade. Amor é liberdade. Amizade é liberdade. Livres são os indivíduos que não buscam respostas a todo tempo. Felizes são os que caminham, em seus próprios passos, para novos e acolhedores horizontes de serem e estarem. Por infinitos instantes, por presentes fragmentos.

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Relações baseadas na propaganda! A gente compra o apelo, não o produto.

Imagem de capa Dean Drobot/Shutterstock

Aquele velho bordão do comercial de margarina. A cena perfeita, os sorrisos impecáveis, a felicidade que sequer cabe na tela por onde a gente assiste, comenta, crítica, procura defeitos, enfim, inveja.

Desconfie das relações baseadas na propaganda, na exposição maciça de virtudes e vitórias, são geralmente tão frágeis e ilusórias, que desaparecem de uma hora para outra, sem deixar vestígios, lembranças, saudades nem história.

Não existe vida dentro de um comercial de margarina! Não existe um cartão de crédito que compre a estabilidade de um sentimento, nem uma câmera que consiga registrar as angústias represadas por detrás de uma fotografia perfeita. Nem em Paris!

A exposição em si não é ruim se não se dá importância à privacidade. Tem gente que não gosta mesmo, e tudo bem. Ruim para mim é o marketing pesado, agressivo, vendedor, que não sossega enquanto não convencer a plateia de sua posse e direito sobre a felicidade do mundo.

São as relações tolas que a gente tem que aturar, bater palminha e repetir que o amor é lindo, ainda em nada pareçam com a realidade.

E, com isso, o perigo de nos iludirmos, de nos tornarmos consumidores do modelo perfeito, de olharmos para o nosso modelo e concluirmos que temos pouco, que merecemos mais, que a vida que construímos vale menos, não tem projeção, não é modelo de admiração de ninguém… Aí é que mora o grande perigo.

O apelo é tanto que a gente se confunde.
– Quer a parceria perfeita;
– Sofre para alcançar o padrão imposto;
– Persegue a ideia de ser modelo de admiração…

E, por fim,

– Esquece de quem está junto, na luta, na batalha, na vida fora da tela;
– Desvaloriza o que já alcançou;
– Ignora a maior das lições…

Quanto maior o apelo, menos vale o que está em oferta.
O que tem valor, dispensa propaganda.

Desculpe-me, mas simpatia forçada nunca foi meu forte

Desculpe-me, mas simpatia forçada nunca foi meu forte

Sim, é necessário mantermos uma relação minimamente cordial com as pessoas com quem temos de conviver, uma vez que não poderemos estar acompanhados de quem gostaríamos em todos os lugares e em qualquer ambiente em que estivermos. Não raro, no local de trabalho, em reuniões familiares, na roda de amigos, não conseguiremos fugir à convivência com pessoas desagradáveis. Isso não significa, no entanto, que precisaremos forçar uma amabilidade exagerada com elas.

Algumas antipatias que possuímos em relação a certos indivíduos realmente não têm explicação, são casos em que, como dizem, o nosso santo não bate de jeito nenhum, mesmo sem ter acontecido nenhuma desavença entre nós e eles. Porém, existem aquelas pessoas que simplesmente pedem para ser alvo de raiva, desconfiança e desprezo, pois exalam falsidade, espalham maldade e vivem para perturbar a tranquilidade de quem puderem.

Por mais que queiramos ignorar, por mais que tentemos não nos importar, apesar de todos os nossos esforços em aturar aqueles que insistem em ser a discórdia onde estiverem, é impossível sorrir o tempo todo ao seu lado, fingindo o oposto do que sentimos. Uma ou outra hora, perderemos a paciência, soltando tudo o que ficou guardado sob o peso de uma cordialidade forçada e teatral. Quanto mais fugirmos, mais chances teremos de explodir na hora errada, com quem não merece.

Não poderemos falar tudo o que pensamos a quem bem entendermos, nem conseguiremos ser sinceros o tempo todo, pois as relações implicam também concessões e tolerância, sendo a paciência uma de nossas melhores aliadas nesse processo. No entanto, somente manter presos, dentro de nós, nossos incômodos, acabará por minar nossa saúde física e mental, bem como fará com que nos apaguemos enquanto pessoa frente aos mandos e desmandos alheios.

Prefira sempre a cordialidade comedida, quando estiver junto a pessoas com quem você não simpatizar, sem usar de falsidade, forçando demonstrar o oposto do que sente, pois isso o colocará no mesmo nível que elas. Mantenha a sintonia da verdade dentro de seu coração, para que sua essência então se afine com aqueles que devolvem sinceridade e inteireza, sem afetação.

Não é preciso ser simpático com quem não se tem afinidade, afinal, o que temos de melhor deve ser compartilhado com gente do bem, gente de verdade. Aos demais, uma cara de paisagem bastará.

Imagem Tiko Aramyan/Shutterstock

Não há motivo para agradar a todos: há quem não mereça ser agradado

Não há motivo para agradar a todos: há quem não mereça ser agradado

Na escala mais alta de sofrimento desnecessário está sem dúvida a nossa preocupação por agradar a todos.

É muito possível que neste momento você diga a si mesmo que isso não o caracteriza, que não acontece com você e que você não se preocupa em ter que se ajustar aos gostos e preferências de todos para tentar se encaixar.

No entanto, de certa forma, todos já fizemos isso alguma vez e continuamos a fazê-lo em pequena escala.

A necessidade angustiante de agradar a todos

Muitas vezes, para fazer parte de nossos ambientes sociais e afetivos, somos obrigados a nos harmonizar e sintonizar com os outros, e isso nos obriga muitas vezes a ter que agradar, a ser educado e até mesmo dizer “sim” quando queremos dizer “não”.

A chave de tudo isto está no equilíbrio, assertividade  e inteligência emocional. Todos nós gostamos de agradar aos outros, que nos vejam como pessoas acessíveis, mas isto não nos deve fazer cair na escravidão de agradarmos a todos de uma mesma maneira.

Sugerimos que você reflita sobre isso com este artigo.

As pessoas precisam “amar”, e se alguém pensa o contrário, está errado. Amar significa, por exemplo, afinar nossas habilidades de sedução para atrair aquele possível parceiro que nos chama a atenção.

Gostar é como transmitir uma boa imagem em uma entrevista de emprego na qual você deseja obter um trabalho e uma projeção futura.

Queremos gostar das pessoas que se relacionam conosco para tê-los como amigos, e não podemos negar que às vezes temos que ceder um pouco com a nossa família para que haja harmonia.

No entanto, dar um pouco não significa perder muito. Trata-se de restabelecer o equilíbrio para que todos possam coexistir. Porque se cada um de nós agir apenas em interesse próprio, marcando limites e levantando muros, perderemos o sentido de sociedade.

Mas a pergunta que agora vem à cabeça deve ser a seguinte: onde está o limite? Onde se situa a fronteira entre a minha identidade e o que a sociedade me exige para sentir-me integrado?

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O processo íntimo de autoconhecimento

Todos nós temos nossa própria essência, e essa essência nada mais é do que uma bagagem pessoal onde estão os nossos valores, nossas emoções, autoestima e o autoconceito.

Esta jornada pessoal na qual vamos descobrindo a nós mesmos é um processo que dura uma vida inteira.

Durante a adolescência é comum desenvolver essa necessidade de agradar a todos. Nós acabamos de desembarcar em um mundo como seres sociais em busca das primeiras experiências e queremos, acima de tudo, nos sentirmos integrados.
Isso faz com que o adolescente sinta às vezes uma séria dissonância entre o que ele é, o que sente, e o que as outras pessoas querem dele.
A sociedade lhes pede que sejam atraentes, perfeitos e independentes. A moda os homogeneíza de tal forma que suas peculiaridades e suas essências são excluídas. Isso não é a coisa certa.

Todos passaram por estas fases para despertar, finalmente, neste equilíbrio interior onde descobrimos que nós gostamos de ser únicos, especiais e, ao mesmo tempo, diferentes do resto.

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A aventura de ser você mesmo

Diferentemente do que muitas pessoas pensam, ser você mesmo não é fácil. De um lado estão as expectativas do nosso ambiente, nossa família, sociedade e do nosso trabalho.

Somos convidados a ser bons filhos, bons parceiros e trabalhadores eficazes.
Às vezes acabamos experimentando na própria pele a chantagem e aquelas situações onde nos exigem certas coisas que vão contra nossos valores.
A aventura de ser você mesmo exige, quer goste ou não, ter que experimentar pequenos confrontos. No entanto, você não deve ver isso como uma coisa ruim.

Definir limites para o que queremos e o que não estamos dispostos a fazer permite que outros se relacionem muito melhor conosco, porque eles entendem como nós somos.
Nem todo mundo tem “bom gosto” para apreciá-lo
O mundo não termina com um “não, não gosto de você”. Na verdade, isso nos abre outros caminhos mais adequados.

Porque quem se esforça dia a dia para agradar a todos se afasta de si mesmo e do caminho pessoal no qual estão a autoestima, o equilíbrio e a identidade.
Se alguém não tem o “bom gosto” de apreciar seu caráter, sua risada escandalosa, seu senso de humor, seu sarcasmo e sua paixão pela vida, não se preocupe.

TEXTO ORIGINAL DE MELHOR COM SAÚDE

Uma conversa com meus botões

Uma conversa com meus botões
Imagem de capa:  Markevich Maria/Shutterstock

Conversando com os meus botões, a pauta foi sobre nossos comportamentos diários: a dificuldade em desenvolver e sustentar relacionamentos interpessoais em família, no trabalho e em todas as esferas que exigem o convívio com um outro ser humano.

A questão incômoda é a seguinte: Será que estamos compreendendo que, quanto mais inacessíveis e frios, maior é o nosso poder de respeitabilidade e maior é a proteção contra os perigos iminentes da vida?

Será que estamos valorizando o pensamento e a ação objetiva racional e, consequentemente, compreendendo que comportamentos como, impessoalidade, neutralidade e distanciamento é a melhor estratégia para vivermos no mundo atual?

Caso isso esteja realmente acontecendo, os modelos de referência para os nossos relacionamentos, talvez, tenham que ser outros e não mais os seres humanos. Quem sabe o Pico do Everest ou a Cordilheira dos Andes… Altos, belos, contudo inacessíveis.

As relvas verdes, os riachos, a goiabeira na beira da estrada, as primaveras debruçando-se nos muros de nossas casas, oferecendo-se generosas e gratuitamente, não ganharão mais nossa atenção e interesse , da mesma forma como a generosidade, a compaixão, a veracidade deixarão de ser atitudes acalentadas.

Mais difícil, ainda, seriam nossos olhos e nosso coração reportarem-se para a vida dos santos e de líderes comunitários, como Madre Teresa de Calcutá ou Martin Luther King Junior.
Seriam apenas belas histórias a serem lembradas, mas não condizentes com um momento histórico onde impera a segregação de grupos, abuso de poder, ganâncias e todo tipo de violência, física, moral, sexual e tantas outras mazelas que estamos vivendo.

José Saramago, foi coerente ao descrever a alienação do homem em relação a si mesmo e em relação ao outro, em seu livro, Ensaio sobre a cegueira, ao afirmar: “Cegos que, vendo, não veem”.
Desenvolveremos cada vez mais esse tipo de cegueira? Será que valerá a pena seguirmos nessa direção?

Somente lembrando de que lugares altos podem ser magníficos para serem apreciados, mas não são aconchegantes, nem permitem a nossa sobrevivência.

15 filmes sobre a perda de um amor.

15 filmes sobre a perda de um amor.

O adeus que conversa com a cama vazia, cabides sobrando, prateleiras pedindo sapatos, xícaras e pratos adormecidos, supermercado solitário, viagens não compartilhadas, fotografias contando da vida que passa a residir na memória…

1-P.S.EU TE AMO: Holly Kennedy (Hilary Swank) é casada com Gerry (Gerard Butler), um irlandês engraçado por quem é completamente apaixonada. Porém quando Gerry morre devido a uma doença a vida de Holly também acaba, já que ela entra em profunda depressão. Mas o que ela não esperava era que, imaginando que isto poderia acontecer, Gerry deixou para ela diversas cartas antes de morrer. Cada uma delas busca guiar Holly no caminho de sua recuperação, não apenas da dor pela sua perda, mas também de sua própria redescoberta.

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2-MINHA VIDA: Bob Jones (Michael Keaton), proprietário de uma empresa de relações públicas, tem um casamento sólido e feliz. Gail Jones (Nicole Kidman), sua mulher, espera um filho, mas ele é portador de um câncer inoperável e tem os dias contados. Com isso, decide então gravar um vídeo para o filho, se apresentando e passando para ele toda sua experiência, desejando muito estar vivo no dia de seu nascimento.

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3-O AMOR PODE DAR CERTO: Quando Henry Griffin (DermotMulroney) descobre que está com câncer terminal, ele decide viver sua vida ao máximo. Ao assistir uma aula de psicologia na Universidade de Nova York ele conhece Sarah Phoenix (Amanda Peet), com quem logo se envolve.

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4-A DELICADEZA DO AMOR: Quando o marido de Nathalie morre em um acidente, seu mundo vira de cabeça para baixo. Para superar os momentos tristes, ela decide dedicar-se ao trabalho e deixa de lado seus sentimentos. Até o dia em que ela, sem mais nem menos, beija Markus, seu colega de trabalho. Os dois embarcam numa jornada emocional não programada, revelando uma série de questões até então despercebidas por ambos, o que os leva a fugir para redescobrir o prazer de viver e entender melhor esse amor récem-descoberto.

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5-AMOR ALÉM DA VIDA: Depois da morte de seus dois filhos, Chris Nielson (Robin Williams) e sua mulher Annie (Annabella Sciorra) passam por insuperáveis dificuldades emocionais. Anos depois, acontece outra tragédia: Chris também morre. Ele vai para o Paraíso, onde conhece Albert (Cuba Gooding Jr), um rapaz de bom coração que vai ajudá-lo a se adaptar à nova existência. Para Annie, a morte do marido é a última gota que a prendia à vida, e ela acaba se suicidando. Porém, diferente de Chris, ela não vai ao Paraíso, mas sim a um lugar diferente, uma espécie de purgatório onde ficam as almas perturbadas. Quando descobre o destino da mulher, Chris pede ajuda a Albert e os dois saem em uma jornada em busca da salvação da alma de Annie, provando que o amor desafia qualquer infortúnio.

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6-O PESCADOR DE ILUSÕES: Jack Lucas (Jeff Bridges) é um locutor de rádio egocêntrico, que fala o quer em seu programa sem pensar nas possíveis consequências. Um dia um ouvinte conversa com ele ao vivo, dizendo que conheceu uma mulher por quem se apaixonou em um bar yuppie. Jack de imediato descarta que ela tenha se interessado por ele, dizendo que todos os yuppies deveriam morrer. O ouvinte não pensa duas vezes: pega o rifle, vai até o bar e mata seis pessoas, antes de se suicidar. A tragédia provoca forte impacto em Jack, que desaba no alcoolismo e larga a carreira. Três anos depois, Jack conhece Parry (Robin Williams), um mendigo que o salva de ser espancado. Logo Jack descobre que Parry enlouqueceu após sua esposa ser assassinada, no bar yuppie onde seu ouvinte provocou uma tragédia.

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7-A CULPA É DAS ESTRELAS: Diagnosticada com câncer, Hazel Grace Lancaster (ShaileneWoodley) se mantém viva graças a uma droga experimental. Após passar anos lutando com a doença, a jovem é forçada pelos pais a participar de um grupo de apoio e logo conhece Augustus Waters (AnselElgort), um rapaz que vai mudar completamente a sua vida.

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8-UMA NOVA CHANCE PARA AMAR: Quando Nikki perde o marido, ela fica devastada. Os amigos e a filha encorajam-na a retomar a paixão pela pintura e pelos museus, mas Nikki ainda não consegue levar uma vida comum. Um dia, ela encontra um homem incrivelmente parecido com o seu falecido marido e se apaixona por ele, sem revelar o seu trauma ao novo namorado.

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9-À BEIRA DO CAMINHO: Para fugir dos traumas do passado, o caminhoneiro João (João Miguel) resolve deixar sua cidade natal para trás e cruzar o país. Ele dirige Brasil afora, sempre solitário, até que numa de suas viagens descobre que o menino Duda (Vinicius Nascimento) se escondeu em seu caminhão. Duda é órfão de mãe e está à procura do pai, que fugiu para São Paulo antes mesmo dele nascer. A contragosto, João aceita levá-lo até a cidade mais próxima. Entretanto, durante a viagem nascem elos entre os dois, que faz com que João tenha coragem para enfrentar seu passado.

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10-UM DIA: Dexter e Emma se conhecem durante a faculdade, em 1988, e passam a se encontrar uma vez por ano, durante 20 anos. A história acompanha suas vidas e amores durante o período, até que eles percebem que foram feitos um para o outro. Baseado no livro homônimo de David Nicholls.

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11-UP – ALTAS AVENTURAS: Um velhinho viúvo chamado Carl Fredricksen, com seus setenta e poucos anos de idade, passou a vida sonhando em explorar o planeta e viver plenamente a vida. Até que um plano mirabolante invade sua cabeça teimosa: fazer sua casa inteira levantar voo através de balões e transportá-la dos Estados Unidos a um lugar em meio às montanhas da Venezuela.

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12-A ÁRVORE: Um casal vive feliz com seus quatro filhos em um vilarejo da Austrália. Depois da morte repentina de seu pai, Simone, de oito anos, passa a dividir um segredo com sua mãe Dawn: ela acredita que seu pai pode conversar com ela através das folhas de sua árvore preferida e passa horas ali, sentindo a presença dele. O novo vínculo entre mãe e filha é ameaçado quando Dawn começa um relacionamento com George, o encanador contratado para remover as raízes incômodas da árvore. Quando os galhos da árvore começam a entrar pela casa, a família é forçada a tomar uma decisão.

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13-AGORA E PARA SEMPRE: Tessa, é uma adolescente de 17 anos apaixonada pela vida. Diagnosticada com uma doença terminal, ela decide fazer bom uso de cada momento fazendo uma lista de coisas que uma adolescente normal iria experimentar. Com a ajuda de uma amiga, ela começa a pôr em prática os itens da lista e, enquanto seus pais e seu irmão lidam com o medo de perdê-la de suas próprias maneiras, Tessa passa a explorar um mundo novo e viver cada dia o mais intensamente possível. No entremeio, a garota se apaixona por Adam, seu novo vizinho, item que não estava na lista mas que se prova a mais revigorante experiência de todas.

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14-O AMOR ACONTECE: O viúvo Burke Ryan (Eckhart) escreveu um livro sobre como lidar com perdas e como se tornou um Best-seller, ele se transformou num guru da autoajuda. Numa viagem de negócios a Seattle, ele conhece Eloise (Aniston) e se apaixona por ela. Eloise assiste ao seminário de Ryan e consegue compreender que na verdade ele não conseguiu ainda enfrentar a morte da esposa.

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15-OUTONO EM NOVA IORQUE: Will Keane (Richard Gere) é um playboy cinquentão que tem como promessa nunca ter um compromisso sério com uma mulher. Quando ele conhece Charlotte Fielding (Winona Ryder), uma jovem que tem a metade da sua idade, imagina que terá com ela outro rápido e fácil romance. Mas nada no relacionamento de ambos é fácil ou rápido. Apesar da diferença de idade, eles terminam se apaixonando perdidamente e fazendo com que Will resolva abandonar sua decisão de nunca assumir um compromisso amoroso. Mas Charlotte tem um sério motivo para recusar a proposta de ter uma relação com Will que dure para sempre: ela está morrendo.

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Doutor Estranho

Doutor Estranho

Doutor Estranho é um filme de norte americano, baseado no personagem homônimo da Marvel Comics. Stephen Strange, é um bem-sucedido neurocirurgião, com um ego inflado. O filme retrata um homem, que vive para a profissão e para o umbigo. Sua arrogância o leva a desprezar as relações, inclusive com sua colega de trabalho e ex – namorada, Christine.

A forma como Strange lida com o mundo, de forma prática e racional, nos mostra que parece se tratar de alguém com função principal sensação e auxiliar pensamento. Seu gosto apurado, sua relação apenas com o que é tangível e sua predileção pelo intelecto em detrimento do sentimento e das relações, mostram esses aspectos. O filme então ilustra o que ocorre, quando uma função principal se desgasta e é necessário desenvolver as demais, principalmente a inferior.

De um ponto de vista coletivo, podemos observar muito daquilo que é admirado no mundo ocidental: o homem com poder e prestígio externos, a realização profissional, a eficiência, o ter e os processos racionais e cognitivos. O irracional, a sensibilidade, o ser, a intuição e a alma, são desprezados pela cultura ocidental. O filme então, mostra uma crítica e uma mudança de paradigma.

Strange perde o uso de suas mãos em um acidente de carro e isso me faz lembrar do conto de fadas A Donzela sem mãos, quando a mocinha tem suas mãos cortadas pelo pai que fez um pacto com o diabo.

De certa forma, Strange também vende sua alma ao diabo e faz um pacto infeliz com os valores externos em prol de sua alma. Ao perder o uso das mãos, ele perde sua capacidade de fazer algo no mundo externo. Ele perde sua capacidade de atuação e seus dons criativos. Ele precisou perder sua capacidade extrovertida de atuar para olhar de forma introvertida para aquilo que falta nele.

Muitas figuras mitológicas de deuses e heróis apresentam algum tipo de aleijamento. O aleijado na mitologia, costuma ser alguém criativo – vide Hefesto, deus da forja –e também simboliza o curador ferido – vide Quirón.

No processo de individuação, o confronto com o inconsciente, com os complexos materno e paterno sempre traz uma lesão ao frágil ego. O herói, nos contos de fadas e mitos, também apresenta essa ferida como uma marca, não só como ponto fraco. Édipo tinha os pés inchados, por exemplo, como forma de apontar para um destino especial do herói.

Em termos psicológicos é como se o trauma original impulsionasse o herói para a individuação, carregando não somente seus complexos, mas também sua ancestralidade, ou seja, os problemas e questões não resolvidos por eles.

Strange é o herói, aquele que restabelece a situação saudável da consciência coletiva. Ele tem uma marca, um destino especial. Sobre o fato da lesão ter sido na mão do Dr Estranho. As mãos se ligam ao agarrar, segurar. A criança quando começa a se relacionar com o mundo, faz isso tocando, pegando os objetos. Isso significa que ele perdeu a capacidade de apreender as questões e também a capacidade de fantasiar criativamente e a vitalidade da infância.

Strange precisa ser preciso, executivo e por isso reprimiu a capacidade criativa, a de ir além dos sentidos. Em termos coletivos vemos muito em nossa sociedade que valoriza a eficiência – as mãos –mas que ironicamente, acaba sendo ferida justamente nelas. E a mão dele nunca mais voltará ao normal, mas ao mesmo tempo a ferida na mão é que é a sua redenção, seu verdadeiro dom. O dom é a ferida!

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Cena do filme: Doutor Estranho, Disney/ Buena Vista

O então médico ferido segue para o Kamar-Taj, no Nepal, local onde ouviu falar de um ex paraplégico. Ele então conhece a Anciã, que lhe mostra o plano astral e outras dimensões. As outras dimensões fazem um paralelo ao plano do inconsciente, diferente do plano cartesiano da consciência. Lá não há tempo e espaço e lá existe o mundo das possibilidades, onde tudo é possível e irracional.

Strange começa o seu aprendizado com a Anciã e com Mordo – que se torna seu amigo – e aprende também (devido a sua inteligência) dos livros antigos da biblioteca. Strange é tomado e começa a aprender vários feitiços. Ele então se torna um mago. E aqui vemos então, além do arquétipo do herói, o do mago. Ou seja, aquele que é capaz de alterar a sua realidade. O Mago é aquele que está em sintonia com o Cosmos e com o Self.

Projetamos esse arquétipo no xamã, ou seja, aquele que transita entre os dois mundos e traz a cura e as repostas para o sofrimento.
O Mago é então aquele que sabe transitar, que conhece a influência mutua entre o mundo exterior e o interior. Conhece e compreende a sincronicidade. O Mago em nós permite que tenhamos a experiência do todo, e assim passamos a experimentar na prática que o que está em nós contém o que está fora de nós. O Mago então se liga profundamente à função intuição. Sonhos, fantasias, momentos de percepção intuitiva, são realidades para ele.

Strange representa esse arquétipo, mas também alguém que agora sabe alterar sua realidade e aceitou sua intuição. A mudança de personalidade se mostra na dor e na luta do herói com sua função inferior.

Após o seu desenvolvimento como mago, Strange irá então se deparar com um elemento bem importante na jornada do herói, a sombra, através do feiticeiro Kaecilius. Ele e seus seguidores roubaram o ritual de um livro proibido pela Anciã. Kaecilius e seus seguidores usam as páginas roubadas para começar a convocar o poderoso Dormammu, guardiã oda Dimensão Negra, onde o tempo não existe e todos podem viver para sempre.

A forma negativa do Mago, busca seu próprio proveito. Usamos o Mago negro, quando rotulamos algo ou alguém e assim fazendo com que a realidade assuma aquele nome. Ao dizer a alguém: “Você é esquizofrênico!”, definimos a identidade de alguém em relação a doença, e assim definimos dessa forma toda a sua identidade. Somos gordos, brancos, negros, altos ou baixos, e não seres humanos em uma amplitude de camadas que ainda podem ser desconhecidas. Os rótulos estão cada vez mais presentes na nossa cultura, temos um verdadeiro desespero quando não nos encaixamos em um estereótipo ou não conseguimos nomear algo, ou alguém.

O Mago saudável sabe navegar no desconhecido, sabe que em relação a alma existem diversas facetas e uma amplitude inesgotáveis. Sabemos também que não podemos viver para sempre. Os magos atuais, buscam a juventude eterna, e esse é o lado negativo do arquétipo. O Mago positivo, conhece e respeita os ciclos da natureza, ele sabe que a morte é necessária e que a morte é a pura transformação.

Ao confrontar sua sombra Strange entra em um dilema, ele terá que decidir entre recuperar o uso de suas mãos ou defender o mundo. Ele agora é o curador ferido, o homem criativo, o mago e o transformador. Seu dom está na dor e na impotência que o faz lembrar que o poder não é dele, mas do Self.

Muitas vezes arrogamos de possuir nossas ideias, no entanto, a ideia não é nossa, mas de uma instância maior que o ego. Podemos entrar na hubrys, ou seja, na inflação psíquica, assim como Kaecilius.

A impotência em sua mão ainda o faz lembrar que é humano! Ele também entra em conflito com a Anciã, que drena energia da Dimensão Negra para ter mais poder e longevidade. Ao confrontar Kaecilius, ela cai de um prédio de 20 metros e morre. Mas antes se comunica com Strange no plano astral dizendo que uma hora ele vai ter que quebrar certas regras como ela.

A Anciã tem uma caracterização bastante andrógina, apontando para uma representação simbólica do Self. Uma representação de alguém individuado, que integrou masculino e feminino. Ela também possui a integração com seu lado sombrio, e isso é uma surpresa para o herói. Temos a ideia de que o Self, e a imagem da divindade como masculina e iluminada, mas há na totalidade todos os aspectos.
Além disso, há o fato da Anciã morrer. Como que um símbolo do Self morre?

O Self, é o centro do sistema autorregulado da psique, do qual depende o bem-estar do indivíduo. Isso se mostra nos sistemas religiosos vigentes e nos sistemas políticos, reis e governantes também carregam essa projeção.

A história comparada das religiões mostra a tendência dos rituais ou dogmas religiosos a tornarem-se superados depois de um tempo, a perderem seu impacto emotivo original, tornando-se fórmulas mortas. Isso é verdadeiro não somente para as doutrinas religiosas e sistemas políticos, mas para quase tudo na vida, pois quando algo se torna consciente por muito tempo, é como o vinho que se esvai da garrafa; torna-se um mundo morto (Von Franz, 2005). Por isso esse símbolo precisa de renovação constante, pois se não a vida se petrifica.

O símbolo do SELF tem necessidade de renovação constante, de compreensão e contato, pois, de outro modo, corre o perigo de se tornar uma fórmula morta — um sistema e uma doutrina esvaziados de seu significado e tornar-se uma fórmula puramente exterior.

Por isso, a Anciã, como esse símbolo, morre. Ela então deixa o espaço vazio para que um novo símbolo se manifeste.

Strange usa o Olho de Agamotto para voltar no tempo, enfrentar a Dimensão Negra e impedir a destruição do mundo. Ele usa de estratégia para enfrentar o ser da outra dimensão. Ao assimilar o Mago e sua sombra, ele consegue entrar nesse outro mundo e “negociar” e com muita paciência.

Em termos psicológicos representa por exemplo, a imaginação ativa. Onde o ego entra em uma relação e uma dialética com o inconsciente. No filme Strange, negocia com aspectos sombrios do seu inconsciente para que fiquem menos destrutivos. Algo que só um ato de heroísmo e abnegação.

Strange então aceita seu papel de herói, mesmo perdendo os movimentos da mão. Além disso, ele precisa aceitar o fato de que alterar a realidade e fazer magia traz muitas responsabilidades e consequências que um ego maduro precisa aceitar.

Longe de finalizar o assunto do filme, que possui muitos aspectos e facetas, a jornada de Strange, mostra a transformação de alguém, que vivia para a realização externa, a busca de status e reconhecimento, arrogante e sem vínculos amorosos, em alguém que foi humilhado por seu inconsciente e teve de se voltar para ele, em um encontro com sua função inferior, transformando sua personalidade.

Uma jornada de individuação, que retrata as dificuldades no caminho, muitas vezes dolorosas, mas que serve de espelho para que nossa jornada rumo a busca de nós mesmos tenha sentido e para que nossos conflitos e sofrimentos possam ser compreendidos e transformados.

Mais do que nunca precisamos do contato com nosso Mago interior, ou seja, aquele que fará a ponte entre nossa consciência e o mundo interior.

O amor é para os corajosos – é preciso estar pronto pra amar

O amor é para os corajosos – é preciso estar pronto pra amar
Imagem de capa: oneinchpunch/Shutterstock

Algum lugar do mundo, 19 de novembro de 2016

Meu bem,

Pule fora de amores mal dados, afetos de má vontade, conflito e confusão. Caia fora. Encare de vez essa carência e solidão.

Sei que tem muito amor para dar. Que seu coração sofre por não encontrar alguém que mereça recebê-lo e, mais ainda, retribui-lo. Mas, corra, quantas vezes forem necessárias, dos que te fizerem duvidar se ainda vale a pena amar.

Rejeite, enjeite, rechace tudo que for forçado, empurrado, engolido. Normalmente, regado à ansiedade e descaso. Não tema dizer adeus, quantas vezes forem necessárias. Mesmo que seu medo de ficar só seja insuportável. Não existe solidão maior do que estar sozinho acompanhado. Do que não se sentir retribuído. Mendigar afeto e não ser amado.

As situações talvez estejam se repetindo para que aprenda alguma lição. Amor verdadeiro requer preparo e maturidade. O que falta ser entendido? A cada adeus, o que fica, então? Melhor ainda, o que você deixa que levem? E sinto muito. Não é roubado. É dado de bom grado. Conscientemente ou não. A quem você dá permissão de tirar seu rumo, seu sono, seu sossego sem que seja para amar?

Talvez a lição mais dura seja aquela que nos ensina que o amor próprio precisa vir primeiro. De que não devemos buscar nossa metade: devemos ser inteiros! Inteiros o suficiente para não deixarmos que qualquer um entre e bagunce nossa casa. Deixe que os indecisos se resolvam, que os machucados se curem, que os sem esperança decidam arriscar. Amor é para os corajosos e antes que ele chegue, é preciso estar pronto pra amar.

Moça, moço, agradeça a tentativa, diga não, dê adeus. Chore talvez, por um dia ou dois, mas com a certeza que não era seu. Se não for seu caminho, não adianta malabarismo, reza, superstição. Não vai pra frente. O amor chega pra quem está preparado, aparece de repente, naquele momento em que nos sentimos completos com o que somos. Flui naturalmente.

Pare agora de dar murro em ponta de faca. Acredite que o amor existe da boca pra dentro, pra dentro da alma. E aja de acordo com isso. Não existe nada de errado em ser intenso, ir com tudo, dar seu melhor. Não jogue! Seja você mesmo. Esse nunca foi o problema, pode acreditar. Aquele que vier pra somar gostará do lado bom e do pior. Portanto, ao primeiro sinal de falta de reciprocidade, diga adeus, mude a direção: escolha a si mesmo! E faça com que não exista amor maior.

Estamos combinados?

A corajosa geração que tem medo de amar

A corajosa geração que tem medo de amar

Você sabe, não é tarefa fácil amar alguém. É preciso ter uma energia, uma generosidade, uma cegueira. Há até um momento, bem no início, em que é preciso saltar por cima de um precipício: se refletirmos, não o fazemos.

Jean-Paul Sartre

Cuidado para não guardar esse potencial para amar por toda uma vida e privar-se dos seus sonhos mais clichês pensando ter agido por coragem, quando na verdade deixou que seus medos o dominassem. Neste momento, não diga que está sozinho por ter sido nobre quando decidiu não magoar, e quem sabe até mesmo não destruir, pessoas especiais que encontrou pelo caminho.

E matou lindos amores antes de terem nascido. Por um tempo a mais para viver livremente. Por um tempo extra pra se autodescobrir, criar coragem, ter certeza. Esperando a hora exata. Só não sabia que quanto mais se descobrisse, mais se daria conta de seus vazios, mais medo teria e mais incertezas te assombrariam a cada decisão. Só não entendia que amar – de verdade – não implica em parar todo esse processo. Onde aprendeu que amor é sinônimo de estar algemado, trancado, impedido de mudança e crescimento?

E quem disse que tem obrigação de só fazer escolhas certas? De que não pode simplesmente encarar uma decisão errada e mudar de direção conscientemente? Agora, encontrar um caminho cheio daquilo que gostaria e abandoná-lo não é prudência – é covardia.

Não me entenda mal. Respeito seu momento e suas angústias. Elas não são sem sentido. Existe sim nobreza em assumir suas fraquezas e não querer que elas destruam a quem você viu um brilho. Deve sentir-se orgulhoso em não estar mais naquele ponto em que se arrisca e, se não der certo, dane-se o outro. Mas quem é você para saber o que a cada um é fatal? Deixe disso. Tem medo é de perder-se novamente e de não saber quem você é no meio de dois. Tem medo de não conseguir enxergar onde estará a vírgula, as reticências e o ponto final.

Preciso te contar uma coisa. Sabe aquele seu relacionamento fodido? Que te deixou com tanto receio de amar novamente? Doeu demais, não é? Como é triste ver transformar-se em estranheza algo que fora um dia tão lindo. Quanto sofrimento. Quanto dano foi causado em vocês. Você não quer isso novamente. É prudente, entendo. Você sofre por algo que quebrou. Não tinha mais jeito. O apego te deixou naquela situação até que os sentimentos apodrecessem. Não se sinta culpado, talvez não haja um só ser que não tenha passado por um desses.

Acontece que o problema nunca foi amar e ser amado. O problema nunca foi estar em um relacionamento. E agora acredita que este é o perigo. O perigo é a falta de sinceridade e respeito. É continuar pisando em terra onde o amor já morreu faz tempo. E ao tentar evitar sofrimento igual fugindo de planícies férteis, talvez encontre um novo tipo de dor mais a frente: a dúvida do que poderia ter sido, mas não foi por receio do mesmo (ou do pior). E tenho dito, medo é algo que cresce rapidamente mesmo em ambientes inóspitos. Imagine nesse seu coração?

Se me ouviu até aqui, deixe-me prolongar mais um pouco… Não existe tempo certo além do agora. Cuidado com as decisões que toma e que são baseadas em pensamentos sobre o futuro, pois quem fala por ele é o medo ou a ansiedade, os quais não são lá muito conhecidos pela criação de roteiros bonitos. O amor só fala no presente, em breves momentos. Na vontade de ter mais um abraço daqueles que aquecem a alma. De sentir aquela sintonia em uma conversa que vai muito além de papos Leblon. Ok, talvez seja bom somente por um final de semana, um mês, um ano… Vai saber? Mas, por que privar-se desse presente da vida ao preferir o pretérito imperfeito? Meu bem, viver não pede que sejamos perfeitos. Às vezes vale a pena pagar pra ver.

Talvez pense que estou a tentar convencê-lo. Negativo. É que vi em você algo especial, um potencial para o profundo e fiz questão de deixar a reflexão. Pode não ser pra agora, mas que seja feita a cada vez que a vida te trouxer uma boa razão. Se minhas palavras pareceram praga, não é a intenção tão pouco. Nada do que falo é livre de erros. Aqui não existe verdade absoluta, somente o que sinto – o que vai muito além do que vejo. Além disso, não há problema algum em querer estar sozinho. Até mesmo em passar a vida em breves paixões. Só tenha certeza de que estará agindo pelos motivos certos e fique atento, pois o medo, apesar de pessimista, é esperto e se disfarça de nobre intenção.

Imagem de capa: Alexander Milov, Burning-Man

Medo de “julgar” o outro é desculpa de quem não assume que também erra.

Medo de “julgar” o outro é desculpa de quem não assume que também erra.
Imagem de capa: Viktoriya Pavlyuk/Shutterstock

Deixemos de hipocrisia, vai! Todo mundo aqui já julgou, acusou e condenou o outro a torto e a direito. Não é certo, mas é humano. E negá-lo é o jeito mais fácil de perpetuar o erro. Melhor é assumir e corrigir.

Mas não. Enfiamos em nossa própria cabeça a minhoca de que somos “os mocinhos” e nos dispensamos de qualquer autocrítica. Seguimos errando na prática e tagarelando a teoria de que somos perfeitos e bem resolvidos, discursando o quanto não julgamos ninguém, convencidos de que somos tolerantes e bacanas. Balela! Cegos feito morcegos, penduramos de ponta-cabeça no galho do autoengano e dormimos acreditando na própria mentira.

Não, eu não estou defendendo o “julgamento” geral do outro. Eu só acho patético que toda tentativa de reflexão a respeito de qualquer comportamento duvidoso seja generalizada como “julgamento”.

Você diz “aquele canalha espancou a esposa” e alguém responde “cuidado! Você está julgando o outro”.

Você pondera “o sujeito passa o réveillon no retiro espiritual e volta no Ano Novo pior do que antes, enganando, insultando, maltratando seus funcionários” e um santo contrapõe: “pelo menos ele está tentando, cuidado, seja tolerante, você está julgando o outro…”.

Olha aqui, prezado humano perfeito e irrepreensível: ser paciente e compreensivo com o outro não quer dizer passar a mão na cabeça dele enquanto assistimos a seu comportamento tacanho, não. E discutir o que acreditamos ser uma má ação não é necessariamente um “julgamento”. Antes, é uma tentativa de aceitar e compreender o outro no que pensamos ser a sua imperfeição. E isso não se faz sem discussão, sem reflexão, sem pensamento, isso tudo que os perfeitos adoram interromper repetindo que não se pode “julgar o outro”.

É só tocar em determinado assunto, a grosseria, a hipocrisia, o mau caratismo, a sacanagem, e vem uma entidade perfeita, a materialização das virtudes do mundo, acusá-lo da prática maldita de “julgar o outro”, numa espécie bizarra de “julgamento do julgamento”.

Se seguirmos assim, nos autoincapacitando de pensar e de tocar certas feridas, em breve seremos nada além de mulas estrábicas, antas estúpidas, papagaios adestrados repetindo asneiras e se achando “autênticos”, mas incapazes de formular um raciocínio, de resolver nossas questões e de seguir em frente. Isso se chama paralisia!

Aí vem outro bastião da moral e dos bons costumes e repete em tom professoral: “ahh… se cada um cuidasse da própria vida e deixasse a do outro isso não aconteceria…”.

Não mesmo? Será tão simples assim? Será que ninguém percebe o quanto esse tipo de receita pronta é superficial, simplista, insuficiente e cínica?

Já que não estamos sós, que vivemos em sociedade e que há convenções coletivas regulando o comportamento e as ações de cada um, em certas instâncias é preciso, sim, olhar “o outro” como a nós mesmos. Em seus acertos e em suas mancadas. O que não me interessa é a sua vida pessoal, o que você faz no recanto de sua individualidade. Já o seu comportamento em sociedade, aquilo que me afeta direta ou indiretamente, me interessa muito!

Esse medinho de “julgar” o outro é a desculpa perfeita de quem tem preguiça de pensar. Preguiça de questionar os próprios erros. Quem sabe um dia os perfeitos desconfiem. Mas eu acho difícil. Gente perfeita é tão perfeita e evoluída que dispensa trabalho pesado. E pensar, cá entre nós, é esforço braçal.

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