Eu não quero um príncipe encantado

Eu não quero um príncipe encantado

Imagem Kotin, Shutterstock

Contos de fadas nunca me arrancaram suspiros. Talvez porque nunca acreditei neles. Por muito tempo, levei fama de coração de pedra e evitei falar de amores e relacionamentos.

Por um bom tempo, eu fingi estar tudo bem, e algumas vezes eu realmente estava, mesmo não acreditando. Já fui rotulada como a “garota grossa” que não demonstra o que sente, quando, na verdade, sinto até demais.

Eu não quero um príncipe encantado. Eu quero alguém que goste da realidade tanto quanto eu. Que assuma as suas responsabilidades e que não prometa ficar, se na verdade pretende partir a qualquer momento.

Eu só quero alguém que assuma o que sente e que não me traga desculpas. Eu não quero um príncipe encantado porque isso me soa como previsível demais e, sinceramente, eu gosto mesmo é de gente que se reinventa e que não tenha medo de recomeços.

Eu dispenso as aparências que não refletem uma alma bonita, quem é covarde para amar e quem deseja me oferecer metade. Dispenso quem não pretende ficar e quem usa da indiferença ao invés do diálogo. Quem insiste em machucar. Eu quero alguém que não dê as costas para a minha dor e, mesmo tudo sendo vendaval, decida ficar; quem esbarre com outros risos, mas que ainda assim decida pousar no meu.

Não precisa chegar com um buquê de rosas, montado em um cavalo branco, esbanjando charme como nos filmes que vemos por aí. Pode me levar para tomar um café e comer aquela coxinha de padaria de que eu tanto gosto. Não precisa vir montado num cavalo, só precisa vir carregado de coragem, só precisa não ter medo de amar.

Não precisa jurar amor eterno, só precisa me escolher todos os dias, mesmo quando eu não merecer ser a sua escolha. Entender que a minha TPM me deixa insuportável e isso não tem nada a ver com você.

O que as pessoas não conseguem entender é que não desejo me abrigar em qualquer abraço ou me envolver com alguém por tentativa. Não desejo alguém para calar a solidão ou para preencher algum vazio. Eu só quero uma companhia leve, alguém que some e não suma. Eu quero alguém que incentive os meus planos, que não esteja comigo por meras aparências e que contemple aquilo que os olhos não podem ver: a minha alma bonita.

Eu não quero um alguém idealizado, nem sonhado; longe de ser o príncipe encantado, eu só quero alguém encantado o suficiente para ser o meu príncipe. E, embora isso possa soar como semelhante, só quem vê para além, só quem decifra o amor nas entrelinhas é que percebe a discrepância gritante entre querer alguém idealizado e querer alguém para somar, até porque, quando esperamos aquilo que não existe, frustramo-nos e, no somatório dessa história, quem sai perdendo é quem deixa escapar o que é nobre e sincero, só porque ele não se encaixa nos seus “padrões.”.

Por histórias de amor onde acabar solteiro também é final feliz.

Por histórias de amor onde acabar solteiro também é final feliz.

E as namoradinhas? E os namoradinhos? Pergunta aquele parente distante na reunião de família. Você fica meio sem saber o que dizer. Depois, reclama em algum lugar, talvez no twitter ( lugar de todas as reclamações), talvez com amigos.

Sim.
Você é uma pessoa solteira.

Se estivesse namorando, casado, provavelmente sendo boa a relação, o desejo fosse que você assim permanecesse. Mas quando se é solteiro, mesmo que você esteja bem, vão querer ver isso acabar. Porque parece um fracasso para a sua história de vida terminar seus dias assim.

Poderíamos dizer que essa ideia vem do cristianismo que quer você construindo uma família tradicional, mas nem me parece. O próprio Apóstolo Paulo, autor de diversos livros da Bíblia, falava numa vidinha de solteiro como final. Também poderíamos culpar o cinema, livros, músicas, tanta coisa. Mas quando você descobre que talvez estar solteiro seja uma boa e nota as pressões contra isso, análises históricas mundiais não servem de alívio, no máximo dá algum entendimento inicial, conteúdo pra um bom textão no Facebook.

Olha, lá, está todo mundo namorando.
Seu amigo do ensino médio casou.
Sua amiga já tem um menino lindo.

E você aí.

Sim, nós aqui. Não que a ideia de ter algum relacionamento seja cadeia. Por vezes estar solteiro também é uma prisão. Liberdade é algo indomável. Mas se nós nos sentirmos confortáveis em estarmos nesta condição, ora, que bom termos diversas opções de nos encontrarmos. Nada contra casamentos, namoros, mas olha que magnífico pode ser descobrir na solitude um lugar pra si mesmo.

É preciso dissociar solidão de estar solteiro. Isso deve fazer bem até para os casais mais apaixonados.

Facilmente podemos nos sentir sozinhos dentro de um relacionamento e, para que algo perdure é preciso entender e não martirizar a solidão que a outra pessoa sentir perto da gente. Só é possível ser uma boa companhia se você entende que não será uma companhia que suprirá todas as necessidades afetivas de alguém.

Pra namorar a alma humana, bem namorada, é preciso deixá-la um tanto solteira. Beijá-la não porque é sua, como propriedade, mas dela mesma, como um encontro. Quando você tem a necessidade de prender uma alma, não poderá receber nem dar o Abraço. O Abraço é dado por braços soltos.

Também é preciso dissociar compromisso de cadeia. Um dos mitos mais fortes que cercam nossas relações é que a vida de solteiro é livre de seriedades. Uma pessoa solteira também presta, mais cedo ou mais tarde, satisfações. Todas as relações sociais têm disso. Mais cedo ou mais tarde você vai explicar algo e querer explicações. Nada disso precisa ser um peso, nem para solteiros, nem para quem tiver em alguma relação. O caminho é aprender quais explicações estamos dispostos a dar e quais não estamos. E lidar com as consequências. Elas sempre existirão.

Por essas coisas e por outras, ao invés de perguntar cadê o namoro, seria melhor perguntar como é que essa alminha em busca de vida está.

Pode ser que ela esteja bem ou esteja mal, mas isso nem sempre tem a ver com estar ou não namorando, porque toda alma é assim mesmo. Chora, ri, fica brava. E algumas podem ter seus finais felizes juntas de outras, abraçadas num lugarzinho por aí. Mas outras, caso necessitem em suas histórias, de ficar solteiras, que fiquem. Que fiquem bem e tenham coragem.

O que importa mesmo é acabar bem os próximo fins do mundo.

Ah, fica a oração. Que relações que fazem mal acabem, que gente solteira que quer e sabe ter alguém encontre um coraçãozinho, e que até os fracassos deixem seus olhos mais brilhantes. Todas essas coisas cafonas que digo agora podem tornar essa vida mais bonita.

E quando a tia perguntar cadê o namorinho, diz assim.

Tô feliz, tia.

Deixa a tia chamar felicidade de namoro, tudo bem ela não conhecer ainda outros nomes, outras possibilidades, você vai ter outros natais pra explicar. Estressa não, calminha te deixa melhor, tá?

E você, meu bem, ou quem tem um bem, se uma hora dessas for embora, que a gente possa se olhar e se dizer.

Obrigado por ter passado por mim.

Imagem de capa: cena do filme “Ela”- reprodução

Meu status de solteira não é referência de solidão ou desespero.

Meu status de solteira não é referência de solidão ou desespero.

Imagem de capa:  LOFTFLOW, Shutterstock

Quantas vezes eu acreditei no amor, quantas vezes eu achei que iria dar certo e, no final, era apenas mais uma decepção. Meu status de solteira não é carta branca para me envolver com qualquer história, com qualquer pessoa. Meu status não é referência de solidão ou desespero.

Quantas vezes ouvi o discurso cansado de quem acha que sou infeliz só porque estou solteira. Tentaram, inúmeras vezes, “arrumar” alguém pra mim, passando o meu telefone como quem está dando “uma ajudinha”, sem eu ao menos ter solicitado, ou de fato precisar de auxílio para essas coisas do coração. E lá estava eu iniciando uma conversa com alguém que não demonstrava interesse algum em de fato me conhecer, que aparecia com falas prontas e que não sabia desenrolar uma conversa.

O fato de curtir a foto de alguém já é motivo para piadas, brincadeiras, como se isso fosse um sinal de que estou interessada. Eu, de fato, não entendo e talvez jamais consiga entender a lógica de quem acredita que um relacionamento é sinônimo de felicidade. Em primeiro lugar, partilho da ideia de que ninguém completa ninguém. Ninguém pode jogar a responsabilidade de ser feliz nas mãos de outro alguém, pois isso é pedir para se frustrar, é deixar o outro assumir as rédeas da sua vida e se submeter a qualquer coisa, muitas vezes.

Primeiro, seja feliz. Isso, goste de você, do seu cabelo, do seu jeito e, ao trombar com alguém, partilhe isso. Que o encontro seja algo que transborde e não que complete.

Eu estou solteira, sim, porque, ultimamente, tenho esbarrado tanto no desinteresse e nas desculpas, que não tem como me envolver. Eu não quero um amor meia boca. Cansei de gente que só pensa no corpo, no sexo, no beijo, no físico. Cansei de gente que não se envolve, não se entrega, não assume. É difícil quando você acredita no amor e nas coisas bonitas e sinceras quando alguém, na verdade, não vê nada além de um rosto bonito. Não vê a sua coragem, a sua força, não vê os seus medos bobos e nem se importa quando você não está bem.

Cansei de gente que vê uma boca bonita, um cabelo arrumado, mas não vê o meu companheirismo e o quanto sou disposta quando o assunto é ajudar alguém. De gente que está do nosso lado fisicamente, mas, quando a tempestade vem, é o primeiro a soltar a nossa mão. Eu cansei de quem não vê a minha fé bonita na vida e no amor e que não percebe o quanto dou valor às pessoas e não às coisas.

Quanta gente acompanhada e, mesmo assim, anda sentindo-se tão só; quanta gente sentindo-se invisível, mesmo rodeada de pessoas, e ainda escuto o discurso de que quem está solteira, está carente e que, necessariamente, precisa de alguém para ser feliz? Que eu faço academia porque quero que alguém repare nas minhas curvas e goste delas? Quantas falas clichês que anulam as nossas histórias e escolhas e nos colocam no patamar de coração de pedra.

Eu faço todas essas coisas por mim; meu sorriso é resultado das minhas conquistas, pois, depois de tantas lutas diárias, eu esboço um riso cansado, como quem acredita que valeram a pena todos os esforços. Cuido do meu corpo, da minha saúde e, principalmente, da minha vida. Eu quero alguém que repare na curva do meu sorriso, que entenda as minhas vírgulas como pausa, como cautela, enquanto muitos entendem como ponto final e decidem partir porque acreditam que investir em alguém é perder tempo.

24 Ensinamentos que 2016 me deu (o 11 é o mais importante)

24 Ensinamentos que 2016 me deu (o 11 é o mais importante)

2016 foi um ano de muita turbulência, onde muitas coisas aconteceram.

Para os que acreditam em astrologia, esse ano foi um ano de encerramento, de muitos términos, onde muitos ciclos se acabaram, o que trouxe muitas coisas ruins, mas também muitas coisas boas.

Eu sempre acreditei no poder da mudança. Acho que mudanças são extremamente importantes na vida de cada um, e que devemos saber apreciá-las e tirar o melhor de cada uma delas.

2016 foi um ano de muitas mudanças para mim, e com tudo isso eu aprendi muita coisa que com certeza levarei pros anos seguintes.

24 coisas que 2016 me ensinou:

1. As pessoas são temporárias nas nossas vidas. Todas. E todas se vão exatamente no momento que deveriam ter ido. Não adianta chorar nem reclamar, se é o momento delas irem embora, elas vão.

2. Crescer, muitas vezes, significa se sentir sozinho.

3. As pessoas que você tem ao seu redor têm um impacto direto em como você se sente. Se elas não estão te fazendo bem, por que continuar ao lado delas?

4. Pessoas que você nunca imaginaria que sairiam da sua vida, na maioria das vezes, saem. E não tem problema.

5. A sua felicidade deve vir sempre em primeiro lugar.

6. Ajudar os outros te faz crescer como pessoa.

7. Você nunca conhece alguém tão bem quanto você pensa que conhece. E saber disso é o primeiro passo para não se decepcionar.

8. Os problemas do mundo não são seus para você carregar nas costas. As injustiças do mundo não são culpa sua. Trabalhe para melhorá-los, mas não se culpe se não conseguir.

9. Às vezes você vai sentir falta de pessoas que te machucaram. Não tem problema. Isso significa que elas foram importantes na sua vida e que você soube amá-las.

10. Aprenda a perdoar.

11. Você vai crescer, e você vai se distanciar cada vez mais da pessoa que você já foi um dia. Certifique-se que você está se distanciando na direção certa.

12. 365 dias podem mudar muita coisa.

13. Lutar pelo o que você acredita vai te trazer muita dor de cabeça e muita decepção, mas é extremamente necessário. Não desista.

14. Não se compare com os outros. A vida não deveria ser uma grande competição entre quem é mais bem sucedido, bonito ou popular. Cada pessoa tem seu brilho próprio. O sucesso de uma pessoa não significa o seu fracasso.

15. Gaste o dinheiro que você ganha com experiências, não com coisas materiais.

16. Não ponha a sua felicidade nas mãos de outras pessoas. Elas vão derrubar. Elas sempre derrubam.

17. Aprenda a admitir que está errado, quando estiver.

18. Tente não se preocupar com o que os outros pensam de você. Se conseguir, me conte como.

19. SE IMPONHA. Não tolere o desrespeito e não tenha medo de dizer o que você pensa.

20. Se informe antes de opinar sobre qualquer assunto. O mundo não precisa da sua opinião em todos os assuntos.

21. Não importa o que você faça ou diga, as pessoas vão sempre acreditar no que elas querem acreditar.

22. Aprenda a escolher as suas batalhas. Existem coisas que simplesmente não valem a pena.

23. Não desista, tem sempre alguém se inspirando em você.

24. Comece hoje aquele projeto que você tem em mente, ou comece a aprender a tocar aquele instrumento que você sempre quis, ou aquele idioma que você sempre quis falar, ou comece hoje a juntar dinheiro pra aquela viagem que você sempre quis fazer. Daqui a um ano você vai desejar ter começado agora.

Feliz 2017!

Imagem de capa: 2012 National Geographic Traveler Photo Contest Winners

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Livre Blog.

Não viva o amanhã. Você ainda não o tem

Não viva o amanhã. Você ainda não o tem

Imagem de capa marvent, Shutterstock

A sociedade atual baseia seu planejamento no amanhã. A certeza de que futuro existirá é tamanha que faz de alguns escravos de uma agenda fictícia. Planeja-se, minuciosamente, tudo: de compras a longo prazo à encontros sociais. Só há um detalhe esquecido nesse espaço de tempo: o amanhã não existe!

Clarice Lispector, em ‘Um Sopro de Vida’, escreveu sobre o tempo de forma tão objetiva e tão sábia que leva o leitor a refletir sobre sua própria existência: “O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio.

Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo.

Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado.

E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.”

A vida é tão frágil e rápida quanto um piscar de olhos e admitir que o “ser” é mais importante do que o “ter” é essencial. Hoje é o dia de admitir a falta de alguém, de admitir que a companhia vale mais que a solidão, de abrir mão da saudade, de aceitar os erros dos outros, de amar, de esquecer, de virar a página, de encerrar a história.

Hoje é o dia de perdoar a pessoa que te apunhalou pelas costas, mesmo que isso te custe mais dor. Acredite hoje é o dia! Até porque, meu caro, você só tem ele!

Mário Quintana tem uma definição perfeita disso. Em “Seiscentos e Sessenta e Seis” (Poesia Completa, Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2000), o poeta retrata o tempo como efêmero: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

É necessário parar de viver e de sofrer pelo futuro. É preciso colocar os pés no chão e entender que o que se tem em mãos, é o agora e o bem que se fez ao próximo…e só isso! E, como diz Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”

Não se iluda, ninguém é tanto assim!

Não se iluda, ninguém é tanto assim!

Imagem de capa: Nick Starichenko, Shutterstock

Ninguém é tão feliz quanto faz parecer, nem tão confiante quanto alardeia, tampouco tão atraente como acredita ser. E ninguém é tão infeliz quanto pensa ser, nem indiferente ou sensível, sequer influente ou desprezível. Ninguém é tanto assim.

Os superlativos tem sido usados sem critério, talvez movidos pelo desejo intenso de destaque ou exclusividade. E acredite se quiser, tem gente que enfatiza até mesmo o que deveria passar a vida combatendo.

Quem nunca ouviu ou disse algo recheado de “mais”, “demais” e até “absurdos”? Mas mais do que o que? Mais do que quem? Mais de quanto?

E para que serve essa corrida louca para se distanciar da faixa do aceitável, do comum, do que justamente facilita a desigualdade e dissipa a desunião?

Que mania louca é essa de construir trampolins cada vez mais altos e inacessíveis, somente para os poucos que se arriscam a obter notoriedade por seu foco em ser mais do que o outro? E depois do pulo, não estamos todos na mesma piscina?

Estamos ensinando nossas crianças a serem mais do que precisariam ser. Estamos convocando a competição em todos os momentos e setores da vida.

E todos sabemos que ninguém é tanto assim. É bom não ser demais. É ótimo ser simples. Realizar tarefas complexas, ok. Alcançar grandes objetivos, também. Mas não é preciso ser tanto assim. Torna-se chato para a platéia, cansativo, antipático.

Bom é fazer, realizar, festejar, comemorar e descansar. Sem alardear!
Quem está junto já sabe o valor.
Quem não está, não precisa saber.

E na dúvida, é bom lembrar que aquela dor de barriga, quando vem, não livra nem quem é tanto assim.

Homens não são todos iguais

Homens não são todos iguais

Imagem capa: Jaroslav Monchak, Shutterstock

Sempre escuto a mesma história de corações partidos, cujo vilão é sempre o homem. Mas, pera lá moça, homens também sabem amar. Eles podem ter um jeito bagunçado, que soa como desinteressado às vezes, mas também amam. O tempo de entrega talvez seja mais demorado, mas eles também sabem se envolver.

Sentem falta e perdem a concentração das coisas quando se lembram daquele sorriso e deixam escapar aquela fala de saudade no meio da semana, como quem quer vê-la novamente. É que, depois de tantos tombos e tantas feridas, a gente acaba ficando na defensiva e faz pose de durão, para esconder um coração partido – é um ótimo disfarce.

Esses dias, escutei o desabafo cansado de um amigo que não aguentava mais ouvir a frase: “Homens são todos iguais”. Ei, não se prenda a isso não, só porque um babaca não soube ser homem. Não se prenda a esse clichê cansado só porque alguém não fez a diferença na sua vida como você gostaria de fazer na vida dele.

Homem também sabe amar. Uns amam dando flores e fazendo declarações, outros gostam de elogios, outros amam oferecendo a sua companhia. Cada um tem um jeito todo seu de ser e demonstrar o que sente, assim como nós, mulheres.

Nessa história de amor só não vale comparar, é melhor desconstruir esse padrão de homem perfeito, porque tenho uma péssima notícia pra você: eles não são todos iguais, mas são todos imperfeitos, assim como eu e você.

Então, esquece essa teoria, não use como modelo de homem um babaca que passou na sua vida e a deixou assim com feridas, por alguém que não soube valorizar o seu sorriso bonito e que não viu a verdadeira beleza que há em você.

Talvez você pense que os homens realmente são todos iguais e que, de alguma forma, eles não sofrem por amor. Mas eu digo que, às vezes, é mais fácil colocar uma máscara do que se desfazer de toda a armadura. É mais fácil fingir que não sente nada do que ir para uma guerra que, a gente sabe, vai nos machucar.

Depois de uma entrega, depois de tanto se doar a alguém por inteiro, preparar o café da manhã, comprar flores e deixar o chocolate favorito em cima da cama, nós preferimos nos esconder a tentar novamente.

Recomeçar cansa e, depois de tantos fins, decidimos repousar a nossa alma e o nosso coração, como quem pede por descanso. E então, quando a noite chega, esse alguém se despede como quem não quer ficar, coloca o bilhete rasgado no bolso, levando junto o seu coração. E aí você desmonta por inteiro e perde, por algum tempo, a direção.

Levamos tempo para nos recompor da poesia escrita de madrugada, do amor que ficou nas entrelinhas e do choro que quis aparecer quando a ideia do “o que eu fiz de errado” tomou conta dos nossos pensamentos, causando-nos uma angústia gritante.

E então, a gente se questiona e tenta pensar em que ponto falhou: você vai mesmo embora sem ao menos me dizer o que aconteceu? Eu lhe dei meu coração e você me entrega ele partido, sem esboçar nenhuma expressão de que não está bem com tudo isso? E aí, depois de se recompor, depois de se refazer, você evita de longe pensar em relacionamento, de certas coisas é melhor manter distância.

Tenta apagar o passado e esconde qualquer chama que tenta reacender. Você decide sair mais com os seus amigos e, sei lá, nem quer falar de casamento, ou conhecer alguém, pelo menos por um bom tempo. Ainda dói se lembrar desse alguém.

E, quando você se fecha, leva fama de coração de pedra, o que “não sabe amar” e, de brinde, ainda escuta o clichê cansado de que homens são todos iguais. Essa frase pode soar como inofensiva, mas anula todo e qualquer sentimento, como se os homens de fato não soubessem amar.

As desculpas usadas para não se envolver são tantas, que a gente perde até a conta. A verdade é que mulheres também sabem quebrar um coração, mas há mulheres que sabem amar como ninguém, seja ela intensa, chorona ou dramática.

Da mesma forma, há homens que não pensam duas vezes antes de machucar um coração e não se importam em criar feridas, mas há homens que, mesmo amadores, sabem amar como ninguém, provando todos os dias o quanto gostam da sua companhia.

Então, deixa pra lá esse clichê cansado, porque, no somatório dessa história, somos dois corações partidos, dois corações que souberam amar quem não tinha nada para oferecer a não ser feridas. Somos dois corações que, depois de tanto se machucar, desacreditaram e desejam se recompor.

Dois corações que preferiram, por um tempo, não embarcar nessa aventura do amor e isso, embora soe como falta de afeto, é apenas uma pausa para um coração intenso que cansou de sentir muito.

Para entrarmos juntos no Ano Novo ali em frente.

Para entrarmos juntos no Ano Novo ali em frente.

Imagem de capa: AbElena, Shutterstock

Tem um Ano Novo ali em frente. Viu? Nós já podemos entrar. Mas vamos com calma. Todos nós cabemos lá. Tem espaço e tem tempo pra você e para mim e todo mundo. Os mesmos trezentos e sessenta e cinco dias que nos cabem estão lá, esperando. O Ano Novo ali em frente já deu as caras. Está no ponto, os motores ligados, os dias organizados em fila indiana, as estações aguardando sua vez de acontecer.

Tem um Ano Novo ali em frente. Olha como é bonito em sua roupa nova, seu cheiro de tinta fresca, seu hálito doce de cachorro filhote lambendo o nariz da gente. Olha! Esse entusiasmo sincero de aluno novo, essa beleza de gente esforçada. Porque pouca coisa nesse mundo tem a graça honesta de quem se empenha no trabalho como quem dá jeito na vida! O Ano Novo ali em frente é uma delas. Está pronto, o coração aberto, as mãos operosas ansiando pelo que será.

Fácil não há de ser. Nunca é. Vai doer. Sempre dói. E talvez a dor piore com o tempo e a idade. Mas tentar ainda é o único jeito de fazer. Tem um Ano Novo ali em frente e eu tenho uma porção de votos para nós. Não repare no jeito, na pressa, mas daqui a pouco é meia-noite do dia 31 e se a gente não corre o prazo acaba e a mágica se perde.

Primeiro, eu desejo a você e a mim um pouco mais de leveza. Aliás, “um pouco” não. Eu desejo que no Ano Novo ali em frente a vida seja muito mais leve para nós. Não estou pedindo menos trabalho, menos afazeres e compromissos e prazos mais brandos. Nada disso. Eu só quero que vá longe o peso morto e inútil das picuinhas que grudam na vida feito carrapatos famintos. Então, libertos de tanta intriga e tanto fardo e tanta bobagem, você e eu seremos simplesmente mais leves e soltos em nosso caminho no Ano Novo ali em frente.

Que nesse caminho sobrem trabalho e saúde, amor e amigos. Que o solzinho manso do sábado de manhã e o vento amoroso do domingo à tarde escorreguem gentis para o resto da semana. E que as noites sejam carinhosas conosco. Que cada dia do Ano Novo ali em frente seja bom de lembrar como o primeiro encontro perfeito entre duas almas gêmeas ou, pelo menos, muito parecidas. Você sabe esses encontros memoráveis em que a gente se pega, horas depois de se despedir, repassando mentalmente diálogos inteiros, um sorriso descarado na cara? É o que eu desejo para nós no Ano Novo ali em frente.

Depois, eu desejo que para cada idiota em que tropeçarmos por aí, a vida nos traga um dia inteiro de boas notícias. E como nunca faltam cretinos em qualquer canto, que o Ano Novo ali em frente seja para nós uma sequência infinita de boas novas.

Que na esteira de cada porrada que nos sobre no meio dessa briga feia de um dia depois do outro, apareça sempre alguém pedindo ajuda e que nós possamos ajudá-lo no Ano Novo ali em frente.

O ódio, a intolerância, o preconceito, a empáfia, a maldade, a indiferença, nada disso será bem-vindo no Ano Novo ali em frente. Melhor se ajeitarem no passado lá atrás.

Que os insultos e as esculhambações se percam na brisa fresca e franca da esperança. Que o mal desista de uma vez por todas. Para o bem de todos nós. E que as balas perdidas prossigam assim, perdidas, até se tornarem inofensivos pedaços de chumbo exaustos do disparo, despencando vencidos no fim. E que esse fim seja nada senão um muro duro, uma montanha vazia, o tronco de uma árvore centenária e sobrevivente, alheia a qualquer intempérie, nunca alguém de carne e osso e sonhos. Para que ninguém mais se machuque.

Quanto àqueles que querem ver você na rua da amargura, que sejam atropelados por um caminhão de amor na avenida dos afetos.

E que apesar de todos os nossos erros, você e eu sigamos levando a vida com correção e decência.

Eu desejo tudo isso, sim. Desejo profundamente. Porque vontade rasa não realiza nada.

E, sobretudo, eu desejo que a gente sonhe, sonhe muito. Sonhe juntos. E se o sonho não virar realidade, que a realidade vire sonho!

Tem um Ano Novo bem ali. Vamos a ele. Vamos a nós. A gente se vê por lá.

Feliz Natal!

Feliz Ano Novo ali em frente!

Sejamos nós o presente mais valioso!

Sejamos nós o presente mais valioso!

Imagem de capa: Eugenio Marongiu, Shutterstock

Minha mais nova mania agora é costurar. Dei para costurar coisinhas para as pessoas que me são caras. Coisinhas à toa mesmo, nada demais; estojinhos, tapetinhos de caneca, relicários, marcadores de livro…

Trabalhar com as mãos sempre foi um prazer querido para mim. As horas voam enquanto eu trabalho, e eu gosto de pensar que cada coisinha feita com as minhas mãos vai morar pertinho daqueles que recebem esses singelos presentes.

Amo cozinhar! Vira e mexe faço um bolo para dar a alguém. Outras tantas vezes junto gente querida em minha casa e lá vou eu para a cozinha inventar alguma novidade. Ou fazer comidinhas simples mesmo; modéstia à parte, faço um arroz com feijão que é de comer rezando.

Muitos dos meus amigos e familiares dormem quentinhos sob cobertores de tricô e crochê que eu me aventurei a fazer. E não, os pontos não saem perfeitos, às vezes fica meio tortinho, até. Mas em cada pontinho vai um carinho meu.

Neste final de ano foi assim, fiz todos os presentes. A casa está perfumada com aroma de canela dos deliciosos bolos de maçã com nozes. Meu quarto de trabalho está repleto de retalhos, fitinhas, florzinhas e linhas de todas as cores.

Esse ano, cada uma das pessoas que ganhar um presentinho meu, ganha junto a minha energia amorosa, o meu tempo e a minha verdadeira disposição em ver no rosto das pessoas queridas um sorriso de afeto, ao desembrulhar o presente.

A vida pode ser bem menos complicada quando a gente descobre que não é preciso ter nenhum talento excepcional para fazer algo bonito. Todo mundo é capaz de produzir algo com suas próprias, seja um pão, uma geleia, uma dobradura, um arranjo de flores… qualquer coisa.

Ahhh… mas digamos que você tenha realmente “duas mãos esquerdas” como dizem por aí. Nenhuma habilidade manual. Nesse caso, não se acanhe, compre o presente pronto mesmo, tudo bem. Mas não se esqueça de escrever um cartão. Escolha um trecho bonito de algum livro, um poema, uma letra de música… desde que seja algo que tenha significado para você e quem vai receber o presente. Escreva de próprio punho. E não tem nenhuma importância se a sua letra não for lá essas coisas.

O que na verdade, eu estou tentando dizer desde a primeira letra deste texto é que a gente precisa lembrar de uma coisa: o melhor presente que a gente pode dar é a nossa presença. Abrace sem pressa. Olhe nos olhos quando for conversar. Ofereça seu colo, seu ombro, sua atenção.

O que vale nessa vida é a doçura de uma amizade que não precisa de grandes eventos ou de datas importantes para se manifestar. Amor não custa dinheiro. E não há nesse mundo nenhum presente, por mais caro que seja, que possa substituir o contato amoroso entre as pessoas.

Que nossas casas e nossos corações estejam sempre abertos para receber aqueles que se dispuserem a estar ou ficar conosco, seja pelo tempo que for. Sejamos nós o presente mais valioso!

Agradeça ao ex, por ter lhe ensinado o que não é o amor

Agradeça ao ex, por ter lhe ensinado o que não é o amor

De início, lembremos aquele famigerado senso comum que nos diz para termos a consciência de que, muitas vezes, quem perde está ganhando. Costumamos enxergar tudo no calor do momento, tendo o imediatismo do que nos acontece como a única forma possível de as coisas acontecerem. No entanto, isso é uma inverdade, porque o tempo acaba por nos mostrar que muita coisa era o oposto do que imaginávamos.

É assim com tudo, é assim também com o amor. Quantos de nós não nos prendemos a um relacionamento sufocante, desgastante, com alguém que parecia ser um grande amigo, um parceiro perfeito, como se não pudéssemos encontrar nada melhor, como se viver sem aquela pessoa nos fosse inimaginável. E, passado um tempo sem aquela presença, percebemos que nossa vida ficou melhor, que perdíamos tempo à toa.

Tudo tem uma razão de ser, o que nos acontece, o que nos fazem, o quanto sofremos, sorrimos, o tanto que lutamos, é tudo parte de nosso aprendizado, para que nos tornemos pessoas melhores e mais certas quanto ao que queremos ou não para nós. O que é bom nos aponta a certeza do que e de quem teremos de manter junto. O que é ruim, por outro lado, serve como lição – embora dolorida – de tudo e de todos que deveremos evitar, que teremos de manter afastados, lá longe.

Por isso é que, muitas vezes, embora inevitável, sofrer por quem não nos quer mais, por quem já usou e abusou de nosso melhor, de quem nos teve e nos dispensou feito objetos em desuso, inevitavelmente se tornará algo de que acabaremos nos arrependendo. A passagem do tempo irá nos acalmar e nos fazer perceber com clareza que aquela pessoa passava longe de ser quem nos merecia, quem nos acrescentaria, quem nos seria vital. Elas foram importantes somente para nos mostrar o que não podemos aceitar como amor.

Não conseguiremos passar incólumes pelos términos de relacionamento que enfrentaremos, uma vez que, quando estamos ali dentro de tudo, de muito perto, é difícil enxergar com firmeza todos os vazios e machucados em que estamos inseridos. No entanto, com o passar dos dias, conseguiremos nos libertar de quem já nem está junto, dando-lhe a devida importância: nenhuma. É assim que sobrevivemos, que nos fortalecemos e nos preparamos para o encontro arrebatador com o verdadeiro amor de nossas vidas.

Imagem de capa: Antonio Guillem, Shutterstock

O perdão dela não significa que ela voltou atrás, mas, sim, que ela seguiu em frente

O perdão dela não significa que ela voltou atrás, mas, sim, que ela seguiu em frente

O telefone tocou algumas vezes naquele dia. Ela resolveu, custosamente, atender e do outro lado uma voz sussurrou: Por favor, perdoa-me. Perdoa-me por tudo que eu te fiz.

Ela tentou explicar que não guardava rancor, que tinha aprendido com o tempo que rancor é uma coisa ruim que come a gente por dentro.

A pessoa insistiu e perguntou de novo: Perdoa-me?

Ela disse que não estava ressentida ou com raiva, mas que ela perdoaria o ligante se isso fosse aliviar o peso da consciência dele.

A pessoa agradeceu e desligou o telefone. Prometendo mudar. Prometendo fazer tudo diferente. Mas ela sabia que a mudança era um processo e não um evento. Que as palavras muitas vezes se antecipam, precipitadamente, às ações. Que só o tempo diria da mudança.

E ela ficou pensando em como as coisas tinham chegado naquele ponto. Em como aquela pessoa parecia não estar bem, mas também em como ela parecia precisar do seu perdão como uma pomada calmante para aliviar a dor de uma queimadura de sol. Como se o seu perdão fosse algum tipo de alívio momentâneo que não garantiria, necessariamente, alguma mudança efetiva contra futuras insolações.

Depois disso, andando pelas ruas, as pessoas passaram a pará-la e a dizer, com tapas em suas costas, que tinha sido ótimo ela ter mudado de ideia. Que era muito bom ela ter voltado atrás.

Ela percebeu então que muita gente confunde perdão com aprovação. Ela nunca aprovara o que a pessoa da ligação fizera. O seu perdão foi apenas um sinal de que ela havia superado aquilo. Seguido em frente. Feito sua vida. Curado com amor todas as suas feridas. Não um sinal de que ela tinha de alguma forma aplaudido o que aconteceu no passado ou que ela pretendia colocar aquela pessoa de volta em sua vida, assim como antes.

Ela não carregava em si qualquer tipo de arrependimento. Não tinha se curvado às coisas erradas. Não tinha se equivocado ao se afastar. Não foi precipitada em proteger-se confiando em pessoas verdadeiras e leais.

Não, ela não tinha voltado atrás com aquele perdão. Ela tinha dado passos à frente.

Em sua cabeça, perdoar era como desatar nós. O perdão que ela havia concedido desatou o último nó que a ligava àqueles tortuosos dias. Agora a maturidade lhe dava a certeza de que, apesar de ter sido julgada de forma leviana no passado, por quem observava tudo de fora, tinha seguido, acertadamente, a sua verdade e protegido zelosa a sua integridade.

Agora o que ela merecia era paz. Não queria comprar brigas, postular hipóteses, comprovar teses. Queria continuar sendo ela mesma, caminhando com os próprios pés e construindo seu caminho. Seguindo em frente, sempre em frente, perdoando sim, mas sem pensar em voltar atrás.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: Pexels – pixabay.com – CC0 Public Domain.

O peso das coisas

O peso das coisas

Imagem de capa: Svitlana Sokolova, Shutterstock

A gente tem o mau hábito ou insegurança de ouvir os outros o tempo todo. Pra tudo. Das bobagens até as coisas mais sérias. Sempre precisamos da opinião do outro, da validação do olhar externo sobre as nossas vidas. Queremos ser constantemente reassegurados se a nossa intuição, nossa opinião, nosso posicionamento está certo, se não há algo de errado que merece correção.

E mesmo quando não perguntamos, sempre tem gente se sentindo no direito divino de expressar sua opinião a qualquer custo. Em qualquer lugar, seja no ônibus, na fila do banco, no shopping, até no consultório médico. Temos dois grandes males: pessoas que precisam do olhar do outro para movimentar a própria vida e pessoas que tem a necessidade de se meter e dar pitaco na vida dos outros.

No primeiro caso, uma boa dose de confiança e nada que um up na autoestima não resolva pra ser dona do próprio nariz. A gente acha que precisa do passe livre, da autorização dos outros para sermos livres, para sermos emancipados. Nós não precisamos dessa validação para sermos donos da nossa história, sermos protagonistas das nossas vidas.

Não estou dizendo que chegar nesse lugar onde a liberdade predomina é tarefa fácil, mas apenas nós mesmos podemos dar o primeiro passo nessa direção de crescimento pessoal e amadurecimento. Acho que o que dificulta isso na maioria dos casos é que nos tornamos jovens e adultos muito infantilizados.

Talvez pela nossa cultura, onde demoramos muito para cortar o cordão umbilical dos nossos pais e apenas nos mudamos quando casamos e isso vai pra lá dos 25 anos. Vivemos quase trinta anos das nossas vidas morando na casa dos nossos pais e submetidos de certa forma a vontade e opinião deles sobre nossas próprias vidas.

Não adianta, por mais maduro e independente, nos olhos dos nossos pais somos apenas crianças que não sabem de nada, que erram mais do que acertam, que não fazem nada muito direito e precisam de conselhos e direção. Isso só muda o CEP, pois os pais têm sempre essa postura protetora em relação a nós e só querem ajudar com a experiência de vida que eles tiveram até aqui.

E isso é ótimo, mas de certa forma atrapalha nessa transição difícil de jovem para adulto. Mesmo estando com as melhores intenções em mente, acaba se tornando um desserviço. Com essa confusão, somos adultos não emancipados e tratados como jovens pelos nossos pais e acabamos nos sentindo assim, de certa forma, infantilizados.

Com isso, entramos cada vez mais tarde na vida adulta de fato e de certa maneira carregamos essa postura infantil para outros aspectos da nossa vida. Nos vemos, sem poder evitar, trazendo com a gente aquele monstro que ficava dentro do armário ou debaixo da cama, nosso baú de mágoas e neuras. Carregamos de forma inconsciente a sensação de que o mundo e as pessoas nos devem alguma coisa, que precisam ser compreensivas, pacientes, nos mostrarem o caminho e nos dar conselhos de vez em quando.

Procuramos no mundo pais substitutos, irmãos substitutos e buscamos sim validação, a certeza de alguém que tudo vai dar certo, que essa é a melhor decisão a ser tomada, que esse é o caminho certo a seguir. Todos nós de forma inconsciente ou não, buscamos uma aceitação do que somos no outro e um olhar amoroso nesse processo de busca, de auto descobrimento.

E isso é normal também. Mas essa necessidade deve ser dosada, controlada a doses homeopáticas, de conta-gotas. É como uma leve massagem no ego que nos tira da inércia que a dúvida traz para tomar decisões de forma mais assertiva e confiante. Porque quando finalmente nos damos conta que somos mais do que capazes de lidar com as situações que a vida oferece, que já temos conosco todas as ferramentas e todas as respostas, essa sensação de autossuficiência é transformadora.

Porque liberta a gente do lugar de pessoas que aguardam algo passivamente e não tomam as rédeas da situação quando ela se apresenta e fica apenas aguardando alguém resolver para elas, alguém para tentar solucionar o seu problema. O importante é nos darmos conta, sermos honestos com nós mesmos, perceber que agimos assim e tentar entender o porquê disso, o que motivou esse comportamento de achar que temos todos os direitos do mundo.

Agora, o que faremos para lidar, conviver com pessoas invasivas que se sentem no direito de dizer tudo o que passa na cabeça com a prerrogativa de estarem sendo apenas sinceros e francos?

Quanto à segunda hipótese, é mais difícil, porque não temos como controlar o outro e supor como ele irá agir. Mas podemos sim, controlar as nossas atitudes, o nosso modo de ser e não dar abertura para opiniões desavisadas de estranhos. Não se engane, mesmo que a gente não esteja receptivo, certas pessoas não têm bom senso e irão sim importunar com comentários maldosos ou perguntas invasivas.

Pessoas que são assim sentem prazer em ser desagradáveis, em se fazerem de desentendidas e que não falaram nada demais para ficarmos chateados ou ofendidos. Parece um problema, sem solução não é? A única coisa que podemos fazer e a mais sensata é aprender a lidar, a administrar de uma maneira melhor, mais saudável, as coisas que ouvimos por aí.

Talvez por insegurança ou baixa autoestima, temos a tendência de só nos lembrarmos das críticas que nos são feitas e nos esquecermos dos elogios. Ficamos magoados, nos sentimos ofendidos e atacados no nosso orgulho, nos sentimos pequenos diante de um ataque maldoso a nossa personalidade. Isso é mais do que natural, afinal somos humanos e às vezes não podemos evitar nos sentirmos assim.

Mas entende que a permissão é nossa? Só machuca a gente quem a gente deixa, de uma forma ou de outra. Costumo dizer que as pessoas têm boca pra falar e olha como elas falam! Mas podemos deixar que as palavras sejam apenas isso e não darmos mais força além. Uma piadinha, um comentário, uma alfinetada pode ficar só nisso, se não nos ofendermos são apenas palavras que não tem valor ou significado nenhum na nossa vida.

Nós nos ofendemos por duas razões: ou pela crítica em si ou pela pessoa que a fez. Quando a crítica nos machuca é porque em algum nível, seja consciente ou não, concordamos com ela, é de alguma forma, nosso ponto fraco, nosso calcanhar de Aquiles, aquele defeito que nós temos e por algum motivo não conseguimos mudar. Por isso incomoda, machuca tanto quando alguém esfrega na nossa cara os nossos erros.

E quando alguém que amamos, alguém que a gente gosta e admira nos critica, aí também dói, incomoda de verdade ser julgado. E quando juntam as duas coisas, é batata para nos sentirmos feridos, nada pior do que ter seu defeito usado como arma para te ferir por alguém que deveria nos amar e gostar da gente como nós somos.

Mas aprendi com o tempo também que quando a gente se conhece realmente, quando procuramos aceitar cada pedacinho da gente, mesmo aqueles que não gostamos tanto e buscamos mudar, fica mais fácil se sentir à vontade na própria pele. Quando a gente dá um passo em se conhecer melhor, se amar por inteiro, a gente se empodera, estamos no controle da situação.

E quando isso acontece, nós não saímos do eixo, não nos abalamos com tanta facilidade, não vai ser um comentário ou uma pessoa que irá nos perturbar porque a gente se conhece, se respeita e nos aceitamos do jeito que somos. E isso ninguém nos tira e não tem sensação melhor no mundo do que se sentir à vontade sendo quem somos.

Eu só queria um amor…

Eu só queria um amor…

Imagem capa: Jacob Lund, Shutterstock

Amor verdadeiro, verdadeiro amor
Eu só te queria sincero, intocável e crescente
Leal, sereno e excitante
Te queria puro, leve e intenso
Tudo ao mesmo tempo, e mais, muito mais…

Eu só queria um amor verdadeiro
Que fosse sincero, intenso, intocável
Que pudesse ser vivido com liberdade e suavidade,
Com a certeza de que, poderia o mundo virar de ponta cabeça,
Ele permaneceria o mesmo.

Mas, por favor, um amor que não fosse desses de novela,
Pois não gosto de meninas oferecidas, mocinhos do mal, bruxas ou tragédias para deixar a história “mais emocionante”
Também não gosto que as coisas deem certo apenas no final…

Queria, na minha vida, alguém que não pronunciasse “eu te amo” à toa, mas tão somente quando o sentimento fosse equivalentemente grandioso
Queria constância, solidez, intensidade e leveza.

Eu gostaria de alguém com quem pudesse ficar à vontade, ser eu mesma, em tempo integral
Que não precisasse me preocupar se eventualmente estou de cara lavada ou com uma roupa velha e sem graça

Queria alguém que me desejasse mesmo de pijamas e de cabelo molhado numa tarde de domingo…
Queria alguém que comprasse, verdadeiramente, os meus devaneios
Que se interessasse nos meus sonhos e ajudasse a torná-los realidade
Que risse dos meus defeitos, e se divertisse com a minha “desastrice”…

Queria alguém que confiasse em mim plenamente, que não ficasse me investigando
Alguém, sobretudo, que eu não precisasse vigiar,
Pois, mesmo que olhasse para os lados, eu saberia que o seu coração (e o seu corpo) seriam sempre exclusiva e totalmente meus…

Queria alguém que não necessariamente me garantisse fidelidade perene
Mas que comigo firmasse um pacto eterno de lealdade
Em quem eu pudesse confiar de todo o meu coração
Pois teria absoluta certeza de que jamais iria machucá-lo.

Eu queria tanto um amor que não me trouxesse angústia
Que não me fizesse ficar pensando em formas de garanti-lo
Que não me gerasse dúvidas constantes da sua integridade
E que me permitisse um mergulho destemido em suas profundezas…

Queria alguém tranquilo, sereno e sensato
Mas, às vezes, entusiasmado, doidinho e arrebatador
Para contrabalançar minhas mudanças de humor…

Queria, afinal, alguém que verdadeiramente se importasse com o nosso amor
Para quem não houvesse mau tempo, crise econômica ou problemas no trabalho que preponderassem sobre a alegria constante de termos um ao outro
Alguém que sempre estivesse disponível quando eu precisasse de apoio
E que ficasse sempre do meu lado, me defendendo do mundo, ainda quando precisasse me dar “puxões de orelha”…

Eu só queria alguém que fosse, de verdade e ao mesmo tempo, amigo, amante e irmão
A minha luz, o meu porto seguro, a minha certeza
Um ser afeto a detalhes, preocupado em surpreender
Alguém que, até mesmo, me puxasse de volta, para encostar os pés no chão, quando eu estivesse “voando” demais
Apesar de, na maior parte do tempo, me fazer crer estar nas nuvens…

Gostaria de alguém que não se entregasse às acomodações que o tempo costuma trazer
E que despertasse, cotidianamente, o melhor que há em mim.
Queria, acima de tudo, um amor que despertasse em mim a vontade de ser assim, bem desta forma, para ele também…

A gente avisa, avisa e avisa de novo; daí a gente cansa…

A gente avisa, avisa e avisa de novo; daí a gente cansa…

Imagem capa:  View Apart, Shutterstock

Um dos males que minam os relacionamentos vem a ser o costume, quando nos acostumamos demais com a pessoa e passamos a banalizar aquilo que ela possui de mais verdadeiro. Com isso, paramos de prestar atenção ao que ela diz ou demonstra, como se nada mais pudesse ser capaz de abalar os sentimentos dela para conosco. É como se, uma vez instalada a afeição, o amor e o comprometimento, tudo isso duraria para sempre. Não, não é tão simples assim.

Não podemos achar que somente a conquista de alguém já é garantia de que estaremos juntos dali em diante. Assim como tudo o que há, aquilo que não for cuidado, regado, alimentado e revivido, acaba arrefecendo, murchando, secando, morrendo enfim. É assim com as pessoas, com os sentimentos, com os objetos, é assim também com o amor. Nada é para sempre, a não ser o que for verdadeiro, o que ficar dentro de nós, o que nos fizerem, os sorrisos, as mãos dadas, cada “bom dia” e “boa noite”.

E a gente tenta sempre fazer dar certo, porque a gente quer que dê certo, quer amar e ser amado para sempre, com tudo, apesar de tudo, mas sobretudo quer. E os dias começam a se arrastar e a gente vai avisando, vai alertando, chamando, como que implorando por atenção, por ser alguém de novo na vida do outro, que está seguindo sem nós. A gente avisa, avisa, a gente avisa de novo e de novo. E chega o dia em que a gente cansa, cansa de vez, cansa de uma vez por todas.

E o mais interessante é que, geralmente, o outro parece somente cair em si quando nós já não temos mais forças para tentar, quando esvaziamos por completo qualquer traço de afetividade de dentro de nós, quando já decidimos, já resolvemos, quando nossa dignidade não mais nos permite continuar ali. Dias, meses, anos de alerta, de sofrimento, de conversas, discussões, tudo em vão. Então, quando a pessoa nos vê de malas prontas, só assim percebe que não viverá sem nós. Sinto muito, já era.

Ninguém consegue suportar fazer o papel de um nada por muito tempo, porque não há força capaz de ser mais forte do que a dor do vazio, do retorno que nunca chega, da reciprocidade que nunca é sentida, expressa, falada, explícita. E a gente simplesmente se cansa e, quando isso acontece, nada poderá nos convencer a ficar, pois então já será tarde demais.

INDICADOS