Desassossegos meus

Desassossegos meus

Imagem de capa: Coy_Creek, Shutterstock

“Hoje mergulho no desassossego! Vou solitário, individualista… na busca de uma revolução que seja só minha.”
(Kléber Novartes)

Minha alma é uma desassossegada inata
Está sempre à busca de algo que nem sabe ao certo o que é
Não se contenta com explicações superficiais
Com um não-sentido para as coisas
Tem a necessidade de estar ligada a algo superior
Aperfeiçoar-se, expandir-se, resplandecer…

Meu corpo, também, sempre foi desassossegado
Ele quer movimento, mas ao mesmo tempo se exaure com tantas inquietações
Desacomoda-se com qualquer possibilidade de vida medíocre
E dia a dia me exige mais cuidado, mais dedicação, mais conteúdo de qualidade
Além de me cobrar um preço alto pelos outros desassossegos todos…

Minha mente, então, é um desassossego só
Ela conversa consigo mesma, cogita hipóteses
Antevê acontecimentos, testa possibilidades
Questiona padrões por ela mesmo impostos
Às vezes, me tonteia e me controla…
Não entende que, assim, me esgota.

Meu coração, tadinho, é o único que me traz paz
Basta parar com tudo, e prestar atenção somente nele, que o sossego logo vem
E, ainda que por um breve período, me sinto plena, serena e preenchida

Nada mais importa, nada é tão grave assim, tudo passa…
E percebo, então, que tudo que preciso está dentro dele
Que há uma fortaleza dentro de mim
Cheia de luz, de silêncio e, sobretudo, de amor
Fácil e plenamente acessível…

Todavia, os borbulhos insistem em voltar
E me tiram da imensidão
Me arrancam das sutilezas, me sequestram a simplicidade
Me atormentam, e me confundem
Me cegam, novamente…

Então, eis o grande desafio da minha vida:
Distinguir-me e desligar-me da minha mente
Relaxar, assim, o meu corpo
E dar paz, enfim, à minha alma, através do meu coração…

Mergulhando na imensidão do amor que mora em meu íntimo
E mantendo-me nas suas profundas e cristalinas águas pelo máximo de tempo possível
Iluminando-me, transcendendo-me e unindo-me à luz maior que a todos é inerente
Dando sentido aos desassossegos todos, enfim…

Nossas memórias são traiçoeiras

Nossas memórias são traiçoeiras

Imagem de capa: Jaroslav Monchak, Shutterstock

Certa vez li um estudo que diz que quando recordamos um fato do passado, na verdade recordamos a última lembrança que tivemos de tal ocorrido. Ou seja, com o passar do tempo, nossas memórias são construídas em cima de memórias e não do que de fato aconteceu. Além disso, nosso mecanismo de memorização é seletivo e excludente, e nós esquecemos muito mais do que memorizamos. E ainda, temos certa tendência em “editar” o passado, tornando-o melhor do que foi. Portanto, nossas memórias são traiçoeiras, elas não são acuradas, verdadeiras, elas são nada mais que nossa versão editada da real história.

Talvez esse seja um mecanismo de defesa ou sobrevivência que desenvolvemos em nossa evolução. Pois, dar sentido à nossa historia é um fator importante para sobrevivência. É compreensível que queiramos florear nossa própria história deixando-a mais bonita e significativa. Encontrar beleza e dar sentido às nossas feridas é talvez o maior ato de redenção e gratidão aos nossos antepassados, às suas dores, às nossas dores. Talvez seja por isso que lembramos do passado com tanto apreço, certo romantismo até, que insistimos em recordar das partes boas e melhorar as ruins.

Isso explica aquele relacionamento antigo que você insiste em lembrar como um ótimo relacionamento, tão perfeito, tão feliz, e atenta-se pouco aos detalhes, às brigas e incompatibilidades, ao término em si e os fatos que levaram à ele. Também explica essa nostalgia que permeia nossa infância, as recordações que geralmente temos de uma infância doce e feliz.

Da memória excluímos todas as vezes que ainda tão pequenos, sentimos medo, raiva, impotência, angústia, solidão. Esquecemos das vezes que vivenciamos episódios que sequer tínhamos repertório emocional para compreender. A nossa mente faz um trabalho de certa forma poético ao tentar nos proteger dessas (re)vivências traumáticas, aprimorando-as ou apagando-as.

Mas, independente de como nossa memória funciona, o que interessa na prática é que por mais “traiçoeira” que ela seja, por mais que nosso cérebro tente nos proteger de reviver grandes dores, nosso corpo como organismo completo que é, tem uma sabedoria imensurável, e ele registra tudo, e ele não esquece nada. Assim, muitas vezes desenvolvemos ansiedade, raiva, tristeza, depressão e tantas outras agonias emocionais que não sabemos nomear de eventos que não podemos recordar.

Além disso, para sobreviver, aos poucos nos adaptamos aos ambientes caóticos em que crescemos e criamos vícios de comportamento, padrões aprendidos e repetidos, crenças engessadas, histórias melhoradas (e portanto fantasiosas). Geralmente agimos inconscientemente, por amor aos nossos progenitores, para pertencer ao nosso núcleo familiar, seja qual for a razão, fato é que tudo isso nos gera uma alta dívida emocional. E essa dívida sempre nos é “cobrada”, é como se de alguma maneira nossa alma nos cobrasse essa dívida para que busquemos a verdade e reaprendamos a contar a nossa história mais verdadeira.

A boa notícia é que o passado, como diz o nome, passou e sempre temos a escolha de construir novos caminhos e possibilidades com os recursos que temos hoje. Portanto, não somos reféns do que foi. Por mais importante que seja revisitar nosso passado para entender de onde viemos, o que ajuda mesmo é entender como essas memórias perdidas e os traumas não solucionados no passado se manifestam em nosso dia-a-dia.

Entenda, a verdadeira possibilidade de mudança está apenas no presente. Portanto, aprender a deixar para trás o que foi (e não temos poder de mudar), compreender nossos medos e estarmos por inteiros em nossas escolhas é uma tarefa libertadora e curativa. É o antídoto infalível para qualquer sofrimento da alma. Pois, só o presente é verdadeiro e a verdade, muitas vezes pode ser dura, mas ela sempre nos é fiel.

E nossa alma só sossega quando encontra a verdade.

Precisamos ser inteiras antes de sermos a metade de alguém

Precisamos ser inteiras antes de sermos a metade de alguém

Primeiro dia de 2017, saí da festa de reveillon e fui direto pro mar pular as sete ondinhas.
Saúde, paz, viagens novas, amigos novos, experiências novas, aprendizados novos.
Pedi tudo isso e um pouco mais. Voltei da praia e perguntei pra minha amiga o que ela tinha pedido.

– Pulei as sete ondas e nas sete pedi que esse ano eu finalmente encontre um namorado novo – ela me respondeu – estou precisando de um up na minha vida.

Sorri e não falei nada, mas fiquei pensando em como eu queria que ela soubesse que a vida não se resume em encontrar um namorado. Que os problemas delas não serão resolvidos quando ela começar a namorar.

A vida não é só encontrar alguém que te queira, ou ficar triste por alguém que não te quer. A vida vai tão além disso.
A gente precisa parar de achar que a nossa felicidade depende de outras pessoas.

A vida é fogueira acessa em noite fria, é banho de mar gelado, é comer até não conseguir levantar da mesa, é dirigir sem rumo, é rir até a barriga doer, é dormir ao ar livre numa noite estrelada, é ler livros que te façam soltar em voz alta um “puta que pariu”, é dormir no sol, acordar com insolação, se arrepender e no próximo fim de semana estar fazendo a mesma coisa, é pôr do sol depois de um dia cheio, é nascer do sol depois de uma madrugada de festa, é a sensação de superação após a subida de uma montanha, é passar a madrugada conversando com gente que te entende, é tomar uma breja gelada com os amigos depois do trabalho, é ligar o rádio e estar tocando a sua música preferida, é dormir na rede, é conhecer gente nova, é ficar amiga de gente completamente diferente de você, é acampar com amigos, é vestir uma roupa nova e se sentir a mulher mais bonita da festa, é se pegar sorrindo simplesmente por ter vivido o que viveu e por ter conhecido quem conheceu.

A gente tem tanta coisa pra viver antes de querer se apaixonar.
Então, pra que a pressa?
Se você não está feliz com a vida que leva, não ache que o que falta nela é alguém pra te completar. Você já deveria ser completa por si só antes de encontrar alguém.
E eu te imploro, não se acomode na vida porque acha que encontrou o amor dela. O amor da sua vida vai sempre ser você mesma e você não deve abrir mão disso por nada nesse mundo.
Você vem sempre em primeiro lugar.

Você tem todo o tempo do mundo pra se conhecer e se descobrir sem ficar se preocupando se algum homem vai te querer.
Você precisa estar em paz com você mesma antes de encontrar alguém pra supostamente te trazer essa paz.
Você precisa viajar sozinha, ir ao cinema sozinha, sair pra jantar sozinha, ir ao parque ler um livro sozinha, antes de querer fazer tudo isso com alguma outra pessoa.
Você precisa saber aproveitar a sua própria companhia.
Você precisa ser inteira sendo sozinha.
Só assim, depois de estar em paz consigo mesma, você estará pronta para receber alguém em sua vida.

Não é que ninguém deva namorar, longe disso.
Eu só acredito que nós devíamos parar de nos envolver com outras pessoas apenas por carência.

Quem não é um bom ímpar, nunca será um bom par.

Imagem de capa: acervo pessoal da autora.

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A beleza do ato de ler para alguém

A beleza do ato de ler para alguém

E em meio a uma maratona de filmes eis que surge “O Leitor”. Resumidamente, é um drama que se passa durante e após a II Guerra Mundial e tem como protagonista o jovem Michael Berg que se envolve com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz.

Com o caminhar do longa o telespectador vai percebendo que Hanna não sabe ler (fato que ela tentar esconder), o que não diminui seu interesse por romances.

Importante: algumas das cenas mais bonitas do filme são as em que Michael lê para ela, leitura esta que se torna uma rotina até o dia em que Hanna desaparece.

Decepções amorosas, polêmicas e spoilers à parte, “O Leitor” é um lembrete da beleza e do valor do ato de se ler para alguém. E dentre as tantas formas de se declarar um amor, ler algo que se gosta em alto e bom tom para alguém não seria uma das mais bonitas?

É reverenciada a mãe que lê uma história ou outra da Ruth Rocha para os filhos antes de dormirem. É querida aquela amiga que nos lê os poemas de Bukowski e nos mostra as crônicas da Martha. É mais amado o amante que nos declama aquele poema de Drummond. É admirado o professor que nos apresenta sua poesia favorita do Neruda ou aquele texto encantador do Rubem Alves.

É simples, é nobre, é encantador, é singular e é uma forma de compartilhar um pouco do que somos com o outro, é também uma forma de emociona-lo, de tocá-lo… E não é pra isto que estamos aqui?

Ler para alguém, é afinal, sem dúvidas um dos itens da lista de simplicidades que transformam um dia, melhoram um humor, mudam uma compreensão de mundo e como no filme, às vezes, influenciam e direcionam toda uma vida. Então fica aqui o apelo: sempre que puder, leia para alguém.

Imagem de capa: cena do filme “O leitor”.

Desculpe, minha mãe. Mas ser sozinho para mim é uma conquista e não um fracasso.

Desculpe, minha mãe. Mas ser sozinho para mim é uma conquista e não um fracasso.

Imagem de capa: SujaImages, Shutterstock

Ô, minha mãe! Senta aqui um pouquinho, faz um esforço. É só ouvir um minuto ou dois. Tenha a bondade. Eu sei que é duro, sei como é difícil guardar aí consigo as suas opiniões e seus conselhos tão definitivos e importantes, mas você precisa escutar.

Não, eu não sou triste porque vivo só. Tal e qual todo mundo, sinto tristeza de quando em vez, mas nunca é porque não me casei de novo. Ser sozinho, para mim, deixou de ser um fracasso há muito tempo e virou uma conquista preciosa. Um prêmio pelo trabalho duro de olhar a mim mesmo com respeito e com apreço.

Foi fácil, não. Não quando a gente cresce ouvindo que quem não casa é “encalhado”, “solteirão”, “fica para titio” e essas maldades próprias da crueldade familiar. Perversões bem intencionadas. Você me desculpe a ingratidão, mas essas “lições” caseiras só me fizeram mal. Demorou, mas eu consegui: juntei todas elas, joguei no lixo e senti uma alegria tão grade, minha mãe! Você não imagina a minha felicidade quando me dei conta de que não preciso agradar a você e aos outros mas só a mim mesmo. Não sabe o tamanho do meu alívio quando percebi que já não me afetava mais o seu olhar de piedade pelo filho que “não deu certo com ninguém”.

É claro que você não tem culpa, mãe! O mundo a fez aceitar o inaceitável, que toda gente tem de “ter alguém” a qualquer custo, inclusive o da infelicidade conjugal, das brigas na frente dos filhos, da reclusão, da submissão e da angústia por uso continuado. Mas eu não. Eu tô fora. Agradeço a preocupação mas me permito me ocupar de outras coisas, inclusive “envenenar” as minhas primas e sobrinhas e parentes e a quem mais interessar possa contra a sua ladainha familiar bem intencionada do “encontre um moço bom, case e tenha filhos”. Isso não funciona pra todo mundo, mãe! Deixe as meninas serem felizes como quiserem. Deixe o povo escolher o que é melhor a si mesmo!

Agorinha ainda, minha mãe, uma multidão de machões com o cérebro de um mexilhão agarra à força mulheres sem companhia masculina tentando cumprir a recomendação de suas mamães. Desprovidos de discernimento, eles acreditaram que ninguém nasceu para ser sozinho e não se conformam que moças estejam sós porque querem ou porque as opções andam sofríveis. Logo, avançam contra elas com sangue nos olhos e uma faca nos dentes, como zagueiros desferindo carrinhos por trás, decididos a ganhá-las de qualquer jeito e exibi-las mais tarde, como troféus, no almoço da família.

Deus me livre! Honestamente, prefiro ser o “caso perdido” da ótica materna tradicional. Compreendo que toda mãe deseje a felicidade de seus filhos. Mas felicidade é tarefa pessoal e intransferível. Cada um constrói a sua. E a minha passa longe da sua concepção do assunto.

Estou só, minha mãe, porque errei e acertei o suficiente para deixar e ser deixado por alguém. Porque respeito o outro tanto quanto a mim mesmo. Porque sou livre para trabalhar e fazer escolhas. Livre para errar e acertar. Livre para me arrepender e corrigir. Livre para novas tentativas. Livre até para, quem sabe, caminhar de novo ao lado de alguém tão livre quanto eu.

Na dúvida… seja generoso. Na certeza… seja ainda mais!

Na dúvida… seja generoso. Na certeza… seja ainda mais!

A generosidade é o real milagre do coração humano que consegue, por alguns instantes, parar de bater em causa própria para bombear algo além de sangue. Generosidade é a única cura possível para a doença comportamental do isolamento afetivo.

Não se trata apenas de envolver-se em ações concretas de doação, como contribuir com dinheiro, alimentos, roupas ou remédios para pessoas em situação de emergência, penúria circunstancial ou crônica.

É isso também. Posto que gente com fome, com frio, doente ou privada de qualquer necessidade básica de sobrevivência, torna-se vulnerável tanto física, quanto psicológica e moralmente.

E no caso de estarmos em situação mais favorável, isso faz de nós gente potencialmente capaz de estender a mão, alongando para além do corpo físico uma extensão de humanidade, que além de nos fazer evoluir, oferece ao outro, condições de ultrapassar as situações de sofrimento com um tantinho a mais de substrato humano.

A desigualdade nas condições de vida, tão explícitas, já seriam um incentivo mais do que suficiente para fazer brotar no peito da gente o calor daquilo que, sem nenhuma sombra de dúvida pode ser chamado de amor.

Ser capaz de ter empatia pelo outro – e tanto faz se esse outro encontra-se geograficamente ao nosso alcance ou do outro lado do planeta -, é condição básica para que tenhamos direito a essa tal de felicidade.

Essa gloriosa sensação de bem-estar e plenitude pela qual vivemos obcecados, acaba sendo constituída por uma situação extremamente frágil e efêmera se, o que nos mover para alcançá-la for tecido apenas por recompensas individuais.

Dito assim, isso parece até meio óbvio. Mas não é. Isso é nossa maneira automatizada de lidar com as demandas da vida, regidos por um funcionamento vazio de conteúdo, de significado e de valor humano agregado.

O nosso alívio e solução para essa vidinha tacanha de trabalhar para juntar coisas, está justamente na mudança de foco. Olhar em redor com o mesmo interesse que olhamos para as coisas que tanto cobiçamos ter.

Sentir pelo conforto do outro uma responsabilidade voluntária e amorosa que nos faça dar um passo adiante; não em direção ao topo, mas em crescimento espiritual que nos envolva numa jornada menos solitária.

A vida é mesmo tão breve, não é?! E sendo breve, não precisa ser curta. Curta no sentido de passar voando a ponto de ficarmos perdidos numa vertigem de interesse autocentrado e frio.

Ser generoso é descobrir alegria em algo que se faz interessado no bem além de nós, sem nenhum interesse pessoal. Pode ser algo que, de tão simples, torna-se genial. Ouvir. Enxergar. Compartilhar. Silenciar. Oferecer. Respeitar.

Na dúvida, seja generoso. Esqueça as desculpas prontas de falta de tempo, excesso de obrigações e escassez de recursos. Na certeza, seja ainda mais! Afinal, é na partilha que multiplicamos a chance de encontrar o real significado da vida; uma vida plural que venha nos salvar desse isolamento afetivo que nos endurece e paralisa.

Nota da página: A imagem de capa- meramente ilustrativa- é do filme espanhol Cuerdas: curta-metragem de Pedro Solís Garcia

Notas sobre a esperança

Notas sobre a esperança

Imagem de capa: Reephotoeasy, Shutterstock

Esperança, por definição, é a confiança de que algo bom acontecerá. É o sentimento da possibilidade de realização, servindo como uma alavanca motivacional positiva.

Tenho dentro de mim uma esperança inesgotável. Não sei como ela surgiu nem o motivo. Mas sei (e sinto) que ela bate forte. Quando tudo parece desabar, ela surge, afastando o desespero e trazendo lucidez.

O ano de 2010, para mim, teve apenas 100 dias. Foram quase três meses de um freela e um dia de enterro. Quando o conheci, no início desse período, era uma tarde de outono. O sol apareceu tímido e deu espaço a um vento cortante. Sentia um frio desagradável.

O escritório em que trabalhava estava localizado em Moema. Tinha uma arquitetura antiga, com sinteco brilhoso no chão e inúmeras obras de arte na parede. Eu estava na última sala, sozinha, quando ele entrou. Acho que nos vimos diversas vezes, mas nenhuma que criasse algum laço importante. Naquele dia, a vida nos colocou frente a frente.

Cumprimentou-me. Perguntou o que eu fazia ali. Disse que iria escrever textos e que permaneceria ali por três meses. Ele respondeu de forma seca: pouco tempo. Retruquei de forma irônica: Pouco? Não! O suficiente. Ele riu. Argumentei dizendo que, em três meses, muita coisa poderia acontecer. E realmente aconteceu.

A partir daquela data, o visitante passou a ser presença constante na minha sala. Às vezes, só entrava com os olhos. Parava na porta e me observava. Outras, sentava na cadeira próxima da janela e admirava o céu. Nunca descobri o que ele pensava. Eu achava que meu cabelo estava bagunçado ou muito maquiada e que ria da cena mentalmente. Bobagem. O cavalheiro em questão tinha a alma grande demais para se perder em detalhes.

Num fim de expediente, de forma atrevida, convidou-me para um café. Fazia um pôr do sol lindo de outono. Aceitei. Tomei aquela bebida quente como se fosse a primeira e a última vez que iria degustá-la. Observou-me calado. Não pegou xícara alguma. Estranhei.

Após uma breve pausa, ele disse (sem cerimônias) que tinha câncer no esôfago. Não sentia nem o gosto e nem o cheiro do café, mas, ao me observar, lembrou-se de como era bom tomá-lo. E foi ali que travamos uma grande amizade.
Conversamos (diariamente) por meses.

Perguntou-me sobre Deus, sobre a vida, sobre a morte e sobre amores. Contou-me (secretamente) que havia perdido quase todos os cinco sentidos. Não sentia cheiro, nem gosto de nada. Ouvia pouco e enxergava menos ainda. Só não havia perdido a capacidade de amar (amava a família, os amigos, a vida, de forma genuína). E também a capacidade de acreditar que algo bom (sempre) aconteceria.

Meu amigo definiu essa crença como esperança. E nesse ímpeto, questionou-me se ficaria curado. Assustei. Logo a mim? Que ousadia. Não sou Deus. Qual a certeza que temos da vida? Hesitei. Tive medo de responder. Medo de ser traída por ela (a tão sonhada esperança).

Ele olhou bem nos meus olhos e percebeu que eu iria chorar. Dei um leve sorriso e (corajosamente) respondi que sim, ficaria curado. Tudo iria depende dele. E retruquei (incisivamente) querendo saber o que ele desejava para si. Não respondeu.

Na manhã seguinte, meu último dia de trabalho, o escritório acordou de luto. Não tivemos tempo para despedidas. Chorei trancada na sala onde ele, por mais de 90 dias, me visitou. Estava profundamente triste.

E foi assim, entre uma lágrima e outra, que ela apareceu. Da janela, percebi que havia um (lindo) pôr do sol. Era a esperança.

10 características de pessoas infantiloides

10 características de pessoas infantiloides

 

Segundo o horóscopo chinês, 2017 será o ano do galo. Entre outras coisas isso quer dizer que estaremos todos mais impacientes, uma vez que o penoso é um bicho arisco.

Que coisa boa poder culpar um simples galo imaginário pela minha total falta de paciência para com algumas coisas. Chineses, seu fofos, hashtag gratidão para vocês!

Pois bem, o ano ainda nem começou direito e a ave já ciscou no meu terreiro: paciência zero para o infantiloidismo.

São características do infantiloidismo:

  1. Escutar a verdade e ficar dodói, com vontade de matar o mensageiro e não de tentar resolver o próprio problema;
  2. Não poder ser confrontado, nem puxado para a realidade porque logo os sentimentos de não ser compreendido e de vitimismo aparecem;
  3. Ignorar a lei da física de que toda ação provoca uma reação;
  4. Fingir que não sabe que o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário;
  5. Ter esperança num ano melhor, mas não fazer absolutamente nada para melhorar a semana;
  6. Nunca poder ser contrariado ou criticado – críticas soam como desafeto, não aceitação ou invasão;
  7. Sentir-se perseguido e injustiçado;
  8. Fechar a cara (ou a conversa no WhatsApp) quando é questionado;
  9. Achar que todos têm o dever e a obrigação de entender seus problemas e aceitar incondicionalmente suas limitações.
  10. Temer responsabilidades e fazer as coisas pela metade.

O infantiloidismo é um mecanismo de defesa do ego. Para preservar-se de uma possível dissolução, o ego cria uma capa impermeável que impede a entrada da luz: a realidade.

O problema é que assim como as crianças não ficam invisíveis debaixo da mesa da sala de jantar – como elas imaginam –  quem veste a capa do infantiloidismo a mando do ego também não. Pelo contrário! Quanto mais um infantiloide nega sua dura realidade na tentativa de ocultar seus medos e faltas, mais esses medos e faltas se tornam evidentes tanto para ele quanto para o interlocutor.

Ninguém está imune ao infantiloidismo. Vez ou outra, caímos na esparrela da capa impermeável da invisibilidade e da salvação eterna. Mas fazer disso um estilo de vida é outra história – lembrando que tudo o que passa de três meses deixa de ser fase para se tornar um estilo de vida.

Outro probleminha trazido por essa capinha nada fashion? O pensamento mágico. Ao vestirmos o presente de grego do ego somos invadidos pelo sentimento de que algo mágico vai nos acontecer porque somos especiais, escolhidos, sortudos; porque temos bom coração. Vestidos com a tal capa impermeável nos sentimos capazes de tudo: de mudar de emprego, de morar fora do país, de emagrecer dezenas de quilos, de abrir um novo negócio, comprar um apartamento, casar, ter filhos, mandar todo mundo à merda, etc, etc, etc.

Mas de repente, não mais que de repente, eis que vaza um fiozinho de realidade por entre os furinhos dos botões da indumentária e pronto. Esse fiozinho é o suficiente para fazer um estrago gigantesco. Se vestidos com a capa somos invencíveis, diante de um fio de luz de nossa parca realidade nos sentimos um zero à esquerda, um fracasso, uma ameba sem energia para ir daqui à padaria.

E por que aceitamos esse presente amaldiçoado, essa capa diabólica que serve apenas para nos enganar? Porque ela confere conforto, o conforto de não precisarmos agir, de não precisarmos nos responsabilizar por nada, ou melhor, o pseudo-conforto da fantasia e da inércia – só quem chuta perde (ou acerta) o gol, certo?

Ao dizermos “não, obrigada”, para o presentinho, estamos automaticamente assumindo que cabe somente a nós mudarmos nossas vidas e que ninguém é culpado pelas escolhas que fizemos e que nos trouxeram para o lugar aonde chegamos.

Nesse caso não tem astrologia chinesa, hindu, galo, galinha, arara rosa ou preta, papagaio ou hipopótamo para culpar.

Que tal observar em que momento o ego está ofertando o regalo e qual a sua motivação para aceitá-lo antes de vesti-lo?

Nossas mães nos ensinaram a não aceitarmos balas de estranhos, né? O ego é um estranho se fingindo de amigo e sua case pode ser tão perigosa quanto uma bala alucinógena. Pense nisso! E bom banho de chuva, porque a vida foi feita para a gente se molhar…

Estou pronto para ficar com você

Estou pronto para ficar com você

Imagem de capa: KIRAYONAK YULIYA, Shutterstock

Eu sei que quase deixei esse sentimento passar batido. Andava um tanto quanto perdido nos amores passados, querendo proteger-me de novas decepções e desencontros. Não esperava, sinceramente, na possibilidade de ser alvo da sorte destinada aos dispostos. Mas tudo mudou depois que te conheci. Estou pronto para ficar com você.

É tranquilidade dividir instantes do seu lado. Nas manhãs de pernas sobrepostas, cada afago concebido é motivo explícito. Apenas os mais ousados conseguem nutrir essa sintonia que carregamos. Não é para qualquer um estar afastado dos egoísmos bobos e dos egos vazios. Com você, nada é o que parece ser. É uma sensação gostosa de paz quando estamos a sós, seja dançando em silêncio, ou, ainda, quando gememos primazia.

Não me pergunte o porquê de ter demorado todo esse tempo. Acredito que precisava beber ausências antes de ser apetite por companhia novamente. Mergulhei em muitos abraços, é verdade. Mas, somente após recolher grandes doses de amor-próprio, é que finalmente pude despejar carinhos mais precisos e merecedores de você.

A vida é uma consequência de escolhas. Por vezes, sem qualquer aviso prévio, ela estende novos caminhos, cria novas chances. Para o nosso bendito privilégio, você sorriu de volta ao aceno que deixei estampado à vista de todos. Não tínhamos combinado nenhum acerto, mas as nossas mãos encaixaram-se espontaneamente. Dali por diante, a construção de algo maior, tateável e simples.

Peço desculpas por tê-la feito esperar. Não posso imaginar os descaminhos que atravessou até chegar aqui. Ainda assim, não importa mais. O que você precisa saber é que os beijos estão a nosso favor. Que nenhum dia será rotina. Que nenhuma noite será exceção. Estou pronto para ficar com você.

Enquanto você dá inúmeras chances à mesma pessoa, tem alguém querendo só uma chance pra te fazer feliz

Enquanto você dá inúmeras chances à mesma pessoa, tem alguém querendo só uma chance pra te fazer feliz

Sempre existirão outras pessoas, outros empregos, outros momentos, isso todo mundo sabe. No entanto, como é difícil nos desprendermos do que já pensamos ser nosso, do que já faz parte de nossas vidas, mesmo que seja algo ou alguém que nada de bom tem a acrescentar. Às vezes, até nos apegamos ao que faz mal, ao que machuca, somente para não termos que nos mexer e sair à procura de coisas novas.

Temos certa necessidade de tranquilidade, de mantermos algumas certezas em nosso caminhar. Incertezas demasiadas nos intranquilizam, pois queremos algum tipo de serenidade em meio a essa vida que costuma virar tudo de cabeça para baixo, sem hora marcada. Por essa razão, acabamos, muitas vezes, guardando conosco aquilo que parece seguro, mesmo que não seja o mais acertado, ainda que se trate de alguém que nem se preocupa conosco um mínimo que seja.

E assim vamos deixando passar por nós gente que seria o amigo de todas as horas, que nos amaria muito além da cama, que nos roubaria beijos e sorrisos na ordem e na medida exatas. E assim vamos deixando escorrer por entre nossas mãos oportunidades únicas de emprego, de viagem, de conhecer o novo, de se lançar à amplitude de que se valem os nossos sonhos. Tudo porque preferimos manter – mesmo que com dor – o que aparentemente já temos.

Na verdade, abrir mão do que já é uma certeza, por conta do que é incerto e duvidoso pode ser decepcionante, pois nem tudo dá certo, nem todos se mantêm iguais, reviravoltas acontecem. E, lá na frente, poderemos nos arrepender, poderemos perceber que o que já tínhamos era suficiente, que quem estava conosco era mesmo a pessoa certa, que aquele amigo era mais leal, enfim, estaremos, sim, sujeitos a escolhas erradas. Nem por isso erraremos sempre que escolhermos.

Jamais poderemos controlar tudo o que faz parte de nossa jornada, nem teremos como prever o que aconteceria se agíssemos de uma ou de outra forma. Sempre que nos lançarmos ao novo, estaremos correndo riscos, estaremos partindo rumo ao desconhecido. No entanto, poderemos ao menos manter a certeza quanto ao que e a quem não queremos mais fazendo parte de nossas vidas, porque assim estaremos mais seguros no propósito de ser feliz, sabendo que o que emperra já se foi.

Imagem de capa: SpeedKingz, Shutterstock

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades.”

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades.”

Imagem de capa: Ollyy, Shutterstock

“Ninguém é tão ocupado. É só uma questão de prioridades”. (Guilherme Ávila)

Ninguém há de negar que a vida contemporânea requer um desdobramento absurdo de cada um de nós, em meio às mais diversas tarefas e obrigações que lotam as nossas agendas. Os horários de trabalho se estendem, a necessidade de estudos mais aprofundados, a jornada dupla, as contas que se avolumam ao fim de cada mês. Enfim, o dia a dia atual tornou-se uma maratona muitas vezes ingrata de responsabilidades com o que não é lazer, deixando-nos pouco espaço para os contatos descompromissados, para o recarregar baterias junto ao nada para fazer.

Por essa razão é que perdemos a vontade de sair da rotina, como se nossas forças já se esgotassem ao fim de cada expediente, uma vez que nem ao menos conseguimos nos desligar do trabalho quando não estamos trabalhando. Preocupam-nos os débitos bancários, os boletos intermináveis, o seguro vencendo, a crise econômica, a crise conjugal, a violência que espera nossos filhos lá fora, o medo de perder o emprego, perder os bens, o cartão de crédito.

E então nos esforçamos para arranjar um tempinho para caminhar na esteira, para levantar peso, para cuidar dos cabelos e das unhas, para fuçar a vida alheia nas redes sociais, enquanto negligenciamos o que de mais especial já possuímos: as pessoas que nos amam com verdade. Deixamos para lá a cervejinha com aquele amigo de todas as horas, a visita aos parentes queridos, o telefonema ao pai, à mãe. Deixamos para depois o ficar junto com o parceiro, que teima em procurar, em vão, pelo nosso olhar.

Não é preciso demorar-se por horas ao lado de alguém, para que nossa afetividade seja compartilhada, pois a intensidade do amor independe da quantidade, mas se alimenta do tanto de verdade que carregamos durante nossos encontros. Podem ser minutos, horas, não importa, porque o que importa é importar-se, seja através de um aperto forte de mão, de um bilhetinho grudado na geladeira, uma piscadinha repentina, um beijo estalado, um “te amo” do nada. Sempre teremos tempo para perguntar a quem amamos como foi o seu dia.

Por mais que estejamos cansados, esgotados, desanimados, ainda que o dia tenha sido decepcionante, mesmo quando a gente tenha levado rasteira atrás de rasteira, é preciso chegarmos à nossa casa com o propósito de entrar em um lar, fechando a porta para o que nos desagrada e não tem nada a ver com aquelas pessoas maravilhosas que nos aguardam ao fim do dia. Ali nos lembraremos de que somos amados o bastante para acreditar no poder do amanhã, na força do amanhecer e das esperanças que cada novo dia nos traz.

Antes de seguir em frente, supere.

Antes de seguir em frente, supere.

Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock

É quase automático: todo fim de relacionamento aparece um amigo, com a maior boa intenção do mundo, aconselhando-nos a curar o amor antigo com um novo. E o pior: há pessoas que , realmente, acreditam que isso possa dar certo.

A rotina de quem acaba de ficar solteiro é cruel e, caso você não seja muito controlado, entrará em um surto psicótico em questão de segundos. O calendário passa por uma mudança tão brusca que você pensa que mudou o ano sem aviso prévio: não tem mais quem buscar no trabalho, não tem companhia para ir o cinema, os programas de quinta à noite passam a não existir e o domingo parece nunca mais acabar. Nesses dias, você entra em um desespero e quer, a qualquer custo, encontrar uma companhia, para suprir os dias que ficaram longos demais (quando, na pior das hipóteses, não cogita voltar no relacionamento anterior).

O medo em ficar sozinho é tão grande que faz com que as pessoas tomem decisões erradas. Sem entender que essa solidão é um estado provisório e dura pouquíssimo tempo (infelizmente, porque ela é muito divertida).

Essa ideia de que os momentos de solidão estão associados ao desânimo e ao vazio existencial é enganosa. É na solidão que você descobre que gosta de vinho, de seriados e de comer na sala. São nos momentos de solidão que você descobre os próprios valores e aprende que ninguém pode te tratar menos do que você merece. Aprende a se respeitar e a exigir que os outros façam o mesmo. Na solidão nos descobrimos. Como dizia Herman Hesse “nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”

Sabe, não somos máquinas. Todo término de relacionamento merece um período de silêncio, de respeito, de quietude. Não dá para engatar uma história na outra, porque as pessoas são diferentes e carregam bagagens de vida pesadas. A alma também precisa ser arrumada, limpa, organizada. Não dá para receber visita em casa suja. Arrume essa vida primeiro. Limpe essa sujeita que ficou. Feche as brechas da saudade. Cure essas marcas do passado. Feche essas feridas que não cicatrizaram ainda. Há tanta desordem nesse coração e você querendo receber uma nova visita. Faxina leva tempo e você deve esperar o seu.
Antes de abrir a porta da sua vida alguém, olhe pelo olho mágico da porta. É mais fácil proibir a entrada do que ter que tirar depois.

Estar solteiro não significa estar disponível

Estar solteiro não significa estar disponível

Imagem de capa: Syda Productions, Shutterstock

Ah, os rótulos, malditos rótulos, que nos impedem de abraçar encontros verdadeiros, que nos afastam de quem tem muito a oferecer, que nos fazem cair em armadilhas inúteis. Rótulos são perda de tempo, de pensamento, perda de vida. Quase tudo daquilo que se dissemina como o mais provável acaba sendo o mais equivocado, porque as pessoas são, na maioria das vezes, surpreendentes – e no bom sentido.

Um terreno comum em que essas ideias mal ajambradas se perpetuam vem a ser aquele relacionado à disponibilidade dos solteiros, dos compromissados e dos nem tanto assim. Muitos de nós costumamos achar que a pessoa que não possui parceiro provavelmente se encontra com uma vontade irrefreável de se relacionar, até mesmo descompromissadamente. É como se vivêssemos todos à procura de alguém, como se esse fosse o objetivo primeiro de todo e de qualquer ser humano.

Esse equivocado conceito ainda se torna mais forte quando se trata de recém-separados, recém-divorciados, ou seja, de pessoas que acabaram de por fim a um relacionamento. Muitos acham que mulheres separadas, por exemplo, são presas fáceis, que se encontram carentes, mais suscetíveis a paqueras e flertadas. Como se o estado civil de uma pessoa fosse capaz de regular o comportamento delas, como se a aliança ou a falta dela pudesse ser um termômetro da carência de alguém.

Isso tudo é pura balela. Existem pessoas casadas que não são compromissadas com o parceiro, bem como há pessoas solteiras que não estão dispostas a se relacionar naquele momento. Existe gente com aliança ou sem e que se respeita, bem como há gente com aliança ou sem e que não se respeita. A fidelidade é um compromisso das pessoas primeiramente com elas mesmas, com seus próprios princípios, porque quem não se respeita jamais respeitará quem quer que seja, tenha ou não feito votos em frente a uma platéia.

Quanto aos solteiros, muitos deles podem muito bem estar querendo dar um tempo nos relacionamentos afetivos, para colocar os pensamentos em ordem e arrumar os sentimentos dentro de si, no sentido de construir certezas quanto ao que realmente querem ou não para suas vidas. O que menos desejam, portanto, é arranjar alguém para namoro e sim curtir a vida junto a amigos. Ser feliz sozinho, aliás, é perfeitamente possível.

Enfim, nem todo solteiro quer deixar de sê-lo, nem todos os separados estão disponíveis para beijos ou qualquer coisa do tipo, da mesma forma que muitos indivíduos compromissados, por incrível que pareça, procuram avidamente por aventuras infiéis. Porque caráter e comprometimento têm a ver com o que carregamos dentro de nossos princípios e aliança alguma é capaz de mudar isso.

De nada.

Não, ele não irá mudar por você…

Não, ele não irá mudar por você…

Imagem de capa: GaudiLab, Shutterstock

Sabe aquela promessa de que o amor muda as pessoas? Então, a não ser que você seja protagonista de algum filme de Hollywood isso é quase impossível de acontecer. Ninguém muda ninguém. Aprenda isso! Então, poupe o seu tempo, sua história e seus nervos e viva mais a realidade do que a ficção que lhe apresentaram.

Mudança é uma palavra tão forte que as pessoas deveriam temer usá-la. Ninguém muda da noite para o dia. Imagina se mudaria por alguém. Mudamos quando a vida exige um comportamento mais centrado, mais sério. Quando as circunstâncias exigem amadurecimento e postura diante dos fatos. Mudamos quando a vida bate tão forte que a única saída é enrijecer para não envergar. Mas, sempre tem uma porção de românticos iludidos da sociedade, que possuem aquelas frases prontas “amiga se ele te amar, ele muda!” ou “homem quando ama é fiel, não trai!” (como se a fidelidade estivesse condicionada a sentimento e não ao caráter).

As pessoas precisam perder essa mania de se iludir com tudo o que lhes é conveniente. Ninguém muda por ninguém! Encare isso! Você pode ser a mulher mais magnífica que ele encontrou na vida, a nora que a mãe dele pediu aos céus, mas ainda assim, se ele não quiser parar de viver a vida de solteiro, ele não irá parar. As pessoas possuem o tempo de aprendizagem delas. Não se iluda. Ele não vai parar de beber porque te ama. Ele vai parar de beber porque o fígado dele irá gritar que não aguenta mais. Irá parar de festar porque ele cansou e não porque você insistiu para que ele fizesse isso. O que faz as pessoas amadurecerem e mudarem suas concepções de mundo e de atitudes são as experiências que elas adquiriram com a vida. E só isso! Não se iluda achando que ele irá se apaixonar e mudar da água para o vinho por sua causa. Ele mudará se quiser e por motivos alheios aos seus, acredite.

Camões dizia que “todo o mundo é composto de mudança” e eu concordo fielmente nisso. Ninguém tem a síndrome da Gabriela de Jorge Amado “eu nasci assim, cresci assim, vou morrer assim…”, todos mudam. Mas no próprio tempo. Acredito até, que mudamos mais por medo do que por qualquer outro motivo. Mudamos por medo de perder quem amamos. Mudamos por medo de perder o emprego. Mudamos por medo de morrer. Mudamos por medo de sofrer. Mudamos por medo do novo, mas mudamos! Como dizia Freud: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.”

Amor é o sentimento mais incrível do mundo e, é sim, capaz de mover montanhas, mas nos livros. Na vida real, amor tem mais a ver com paciência, companheirismo e convivência do que ilusão. Você é sim importante e é sim o amor da vida dele. Mas não quer dizer que ele irá mudar toda a vida por sua causa. E ainda bem! Se ele fizesse isso seria, no mínimo, motivo de psicanálise! Amor é calmaria, normalidade, paz. Deixa as coisas acontecerem e as pessoas mudarem com o tempo. Se os defeitos forem graves, abre mão e sai dessa história. Algumas coisas não valem a pena. Se os defeitos do teu amor forem aceitáveis, aguenta firme… você também tantos e ele não desistiu de você.

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