A depressão é um transtorno psiquiátrico grave e deve ser tratada como tal

A depressão é um transtorno psiquiátrico grave e deve ser tratada como tal

Imagem: Srijaroen/Shutterstock

A depressão é um transtorno psiquiátrico grave e acomete boa parte da população. Segundo o ex-secretário geral das nações unidas, Kofi Annan, cerca de 400 milhões de pessoas (7% da população) padecem da doença.

A fala ocorreu durante a abertura do seminário “The Global Crisis of Depression” (A Crise Global da Depressão), realizada em 2014, em Londres. O evento foi patrocinado pela revista britânica The Economist.

Levando em conta que já se passaram dois anos desde então, é normal que estes números tenham subido consideravelmente – hoje se fala em uma média de 416 milhões (10% da população) de pessoas afetadas. E eles continuam a crescer.

As cifras, é claro, não ficaram de fora: US$ 800 bilhões de gastos diretos e indiretos só em 2010 (custo que deve dobrar nos próximos 20 anos, segundo Annan).

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, até o ano de 2030, a depressão será a doença mais comum entre a população mundial.  A OMS também diz que ela já é a mais incapacitante das doenças.

A síndrome depressiva se caracteriza por um conjunto de sinais e de sintomas que duram a maior parte do tempo, durante pelo menos duas semanas, e debilitam a pessoa doente. Ela acomete o organismo como um todo e causa alteração em importantes sistemas que regulam o funcionamento do corpo.

Entre as causas mais comuns estão o uso de drogas (lícitas e ilícitas), doenças cerebrais, estresse contínuo e fatores genéticos – responsáveis por 40% dos casos.

As mulheres são as mais afetadas pela depressão. A proporção é de 2 para 1, em relação aos homens. Isso se deve às flutuações hormonais que as acompanham em diversos momentos durante a vida (menstruação, parto e menopausa).

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Imagem: Olleg/Shutterstock

TRATAMENTO

O escritor americano Andrew Solomon é autor de O Demônio do Meio-Dia, um best-seller sobre o assunto. Em sua famosa palestra para o TED, Solomon toca em um ponto crucial da discussão: o uso de medicamentos no tratamento.

“Tanto a cura química como a psicológica têm seu papel”, foi a conclusão a que chegou, depois de se dar conta de que a ciência ainda não avançou muito nessas áreas.

“Os tratamentos que temos para a depressão são lamentáveis”, criticou. No entanto, deixa claro que o que temos hoje é melhor do que há 50 anos atrás, quando nada podia ser feito para ajudar pessoas com quadros depressivos.

Com anos de experiência na área, o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno acredita que as perspectivas para o tratamento são boas. “Uma nova era de medicamentos antidepressivos, com um novo mecanismo de ação, está em estudo e deve ser comercializada em breve”, contou em entrevista exclusiva à CONTI outra.

“Os medicamentos antidepressivos são fundamentais no tratamento. Mesmo para depressões leves, são necessários”, disse. “É claro que intervenções psicológicas associadas são importantes, assim como psicoeducação e, em alguns casos, mudança no estilo de vida”, completou.

Ao falar em depressão, diversos equívocos são cometidos. Um deles é confundi-la com tristeza, descontentamento ou infelicidade. Ricardo aponta para um dos erros mais comuns: a de que existe uma cura. “Na maioria dos casos, a predisposição para deprimir se mantém ao longo da vida.”

Um passo importante no tratamento é o diagnóstico correto. Por ser de grande complexidade, este só pode ser feito por um profissional, que se utiliza de critérios específicos para cada caso.

“Estes critérios são revistos periodicamente nos manuais internacionais e nacionais de diagnóstico. Utilizando estes critérios, aumenta-se a confiabilidade diagnóstica (o diagnóstico pode ser corroborado por outros especialistas, confirmando-o) e a sensibilidade (identificação de casos positivos afetados pela doença)”, esclareceu Ricardo.

APRENDENDO A LIDAR

Ana Macarini é psicopedagoga e até hoje encara o problema bem de perto.

Diagnosticada com depressão em 2013, Ana teve que aprender a superar os empecilhos da sua então nova condição.  “A maior lição que a depressão me ofereceu foi aprender a reconhecer meus limites”, disse.

O preconceito também é algo a ser enfrentado diariamente por quem tem a doença. “A maioria das pessoas acha que isso é ‘coisa da cabeça’, que a pessoa precisa se esforçar para melhorar. Essa cobrança dá um desespero!”, confessa Ana, que aponta para a necessidade de quebrar paradigmas.

“Quando o indivíduo está deprimido, ainda sem diagnóstico, ele não tem nenhuma condição de tomar decisões e procurar ajuda. Se não houver alguém que o enxergue, não haverá alguém pra ser enxergado, muito provavelmente.”

A condição de uma pessoa com síndrome depressiva é bastante complexa e compreender esta condição parece exercer um papel fundamental para seguir adiante.

“Aprender a lidar com a depressão é condição de sobrevivência e a única saída possível para se ter uma vida bacana, produtiva, afetivamente satisfatória”, conclui Ana.

Pais bonzinhos, filhos folgados, adultos relaxados

Pais bonzinhos, filhos folgados, adultos relaxados

Imagem: Venera Salman/Shutterstock

O que é mais importante para os pais: manter a casa em ordem, ou deixar os filhos à vontade, sem disciplina, e sem ordem? A resposta adequada seria: manter a casa em ordem, e esperar que os filhos fiquem à vontade  sob disciplina e  ordem. Basta que eles sejam educados para isso.

O que é mais importante para família: um marido satisfeito, feliz, relaxado, à custa de cuecas jogadas pelo banheiro, e toalhas molhadas sobre a cama, ou um parceiro ordeiro e colaborativo? A resposta adequada  seria: um marido feliz, satisfeito, ordeiro e colaborativo, que ajude a manter a casa longe do caos. E para esposa, o que seria?

A verdade é que há situações que não se excluem, pelo contrário, se complementam.

Esse é um tema nada excludente. Filhos, esposas e maridos  devem colaborar com a mínima ordem reinante sob pena de se tornarem abusivos fora do convívio familiar. Não há felicidade na desordem. Não pode haver tolerância com a desordem organizada sistematicamente como se a desordem fosse a ordem.

A criança que cresce sem envolvimento com a ordem, aprenderá a envolver-se com a desordem. O adulto que foi criança e não guardou o brinquedo que usou, terá grandes possibilidades de vir a ser  pouco colaborativo, daquele tipo que levanta da mesa na casa da tia sem retirar e lavar o seu prato, ou sem arrumar a sua cama.

Não é de nenhum tratado filosófico que retirei essas conclusões; é da vida, da experiência, da análise prática.

Todas as crianças que são deixadas sem a disciplina da ordem criam uma desordem amplificada, depois de adultos. As casas que habitam são uma bagunça. As tarefas que deveriam ser resolvidas diariamente passam a ser desempenhadas em prazos dilatados por semanas, meses, e anos. A louça é lavada quando não há mais lugar sobre a pia e embaixo da pia. As roupas vão para a máquina, quando a última calcinha vai para o corpo. Tudo é abusivamente acumulado.

Não há regras que possam valer para quem foi criado sem regra alguma.

Há nos desordeiros domésticos uma forte tendência para  se tornarem acumuladores, aqueles indivíduos que guardam todo tipo de lixo fora e dentro deles. Começam por não catalogar objetos que, sem lugar definido, se misturam sob as mais diversas categorias. Livros no chão fazem companhia a chinelos jogados, documentos espalhados, travesseiros abandonados pelo caminho. As mais diversas coisas e coisinhas cujo destino é incerto, somam-se às coisas maiores que se acumulam na superfície.

A Teoria do Caos prevê a grosso modo que, se uma casa for deixada limpa, arejada, arrumada, com todos os objetos em seus devidos lugares, basta um tempo relativamente curto para que o abandono se encarregue de instalar o caos.

O que quero dizer com isso? Quero dizer que todas as forças do Universo decaído trabalham a favor do caos.

Não é preciso que eu e você façamos coisa alguma para que o caos se instale. Basta que não o façamos.

Dentro de pouco tempo, a poeira fina se depositará sobre a superfície em camadas sedimentadas, as aranhas farão suas teias, o mofo se expandirá sobre as áreas que guardam algum vestígio de umidade e tudo- absolutamente tudo- entrará em processo de desintegração e morte.

A vida cobra a sua e a minha colaboração para que o universo se mantenha em cadência de ritmo, harmonia,  e perfeita intencionalidade da ordem.

Alguns pais parecem ignorar essa necessidade e não colocam os seus filhos na cadeia da ordem. Preferem que eles se juntem à cadeia da desordem.

É a pior coisa que os pais podem fazer.

Pais muito “bonzinhos” se tornam incubadores de adultos porcalhões e relaxados. Pais muito “bonzinhos”, inconscientemente, esperam que seus filhos oss amem mais por isso, e, no devido tempo, cobrarão que esse “amor” lhes seja devolvido.

Pais “muito bonzinhos” são um dilema existencial  para carregar, mais tarde. Choramingam o tempo todo dizendo quãobons foram para os seus filhos, e exatamente por terem criado filhos irresponsáveis, bagunceiros e relaxados,  não receberão de volta nem o amor, e nem a ordem minimamente necessária, que a última etapa de vida pede, para que se morra em paz.

Dia desses,  fui testemunha de um fato bastante humano e convincente: Diante do quarto do menino que apresentava um cenário bagunçado,  a mãe o mandou tomar banho, e enquanto ele tomava o banho, ela entrou no quarto e confiscou o Ipad.

Ao sair, o menino perguntou:

– Mãe  você pegou o meu Ipad?

– Peguei. O Ipad só volta  quando o seu quarto estiver tão organizado como você o recebeu pela manhã.”

Assim aconteceu por dois dias. Não foi preciso mais do que dois dias para que o hábito se instalasse.

Haveria três caminhos: fazer tudo pelo filho; repetir todos os dias a mesma cantilena, elevando a voz;  exercer autoridade acompanhada do seqüestro de um privilégio ao qual ele se acostumara: o uso do Ipad.

Penso que ela fez uma ótima escolha.

Então, é isso: pais eduquem os seus filhos para a manutenção da ordem. É um benefício que fará grande diferença na vida adulta e  é tão importante que até o ar, o céu, o sol, o mar, as árvores, as plantas, os rios, os peixes, os animais, os homens de boa vontade, a Terra, e o Universo agradecem.

Nota: Pais são aqueles que criam e podem ser mães, pais, avós ou qualquer outro responsável que esteja a frente da educação da criança.

Existir é pouco. Viver é a arte de resistir.

Existir é pouco. Viver é a arte de resistir.

Imagem: Vadim Vexler/Shutterstock

A gente resiste. O tempo passa, a idade chega, uns vão, uns ficam, outros voltam, outros não. E a todas essas a gente insiste, sobrevive, suporta. Resistir é a nossa aptidão mais honesta, nossa vocação mais admirável.

Não há ser vivo neste mundo que não guarde em si a disposição de lutar pela vida. Um dia há de perdê-la por aí, dobrado pelo cansaço e pela dor. Mas até que esse dia chegue, todo bicho que vive resiste a tudo, perdura, persiste, vai em frente.

Enquanto há vida e há vontade, resistir é o trabalho mais bonito da gente, do recém-nascido ao velho mais velho. Quem já viu um bebê prematuro brigando para viver, sabe. Sozinho na incubadora, impõe sua vontade inconsciente, reage, enfrenta, espera. Paciente, dedicado, supera um dia depois do outro, ganha peso, ganha força e vem ao mundo.

Aqui, entre bilhões de outros seres iguais a ele, vai lutar e resistir à infância, engasgar com a comida, perder os dentes, bater a cabeça, enfaixar o braço. Vai inalar e engolir tantos vírus, viroses e bactérias e arder de febre em tantas noites de hospital sob o olhar aflito de quem o ama.

Vai superar a juventude, enfrentar hostilidade, insegurança, rejeição. Vai amar e ser amado, deixar e ser deixado.

Sozinho como na incubadora da maternidade, vai reagir e ganhar força. Vai aprender a se guardar das investidas e ofensivas de toda parte, inclusive aquelas que vêm de nós mesmos. Vai se ferir e se curar sozinho, vai pedir ajuda e oferecer auxílio. Vai envelhecer e perder os pais, irmãos, amigos, parentes, um depois do outro.

Lá no fundo da alma, vai sentir que o amor é só o que fica, o que vale e o que nos salva quando a saudade aperta.

E a tudo isso vai resistir, ora com bravura, ora tomado de medo. Vai sobreviver! Até que lhe reste o último grama de força, até o limite de seu tempo vai lutar e persistir e viver para sempre na lembrança dos que o amaram.

Porque a vida, ahh… a vida é um poderoso exercício de amor. Quanto mais a gente ama, mais resiste a tudo. Ao tempo, ao abandono, à falta de afeto. A vida é uma linda teimosia, uma bela insistência, um empenho sublime. E os que resistem praticam o seu ofício mais bonito.

Reciprocidade, mais do que receber de volta, é receber o que merecemos

Reciprocidade, mais do que receber de volta, é receber o que merecemos

Muito se diz, hoje em dia, sobra a necessidade de mantermos junto a nós quem corresponde, quem devolve o que damos, o que lançamos, o que somos. Quem entende e pratica a reciprocidade. Mais do que isso, no entanto, é necessário que tenhamos clareza quanto àquilo tudo que queremos e merecemos receber, ou poderemos ficar do lado errado da balança.

Se o que nos dispusermos a ofertar for amor de verdade, transparência, carinho, sorrisos e inteireza, nada do que andar na contramão de nossa doação afetiva poderá ser aceito de volta. Não podemos nos contentar com retornos frios, vazios, dissimulados, sem verdade, sem vontade, sem prazer. Nada do que não for correspondido carregará carga de sentimentos afetivos que nos bastem, que nos sosseguem os sentimentos.

Muitas pessoas acham que mandar um simples oi pelo celular, trabalhar e vir para casa, dormir na mesma cama e prover o lar economicamente são comportamentos suficientes para manter vivo um relacionamento a dois. Apegam-se às aparências e às necessidades tão somente materiais, esquecendo-se de que somos muito mais do que isso tudo. Temos um mundo a ser preenchido também dentro de cada um de nós.

E, caso aceitemos com resignação silenciosa as esmolas alheias, passando por cima das carências sentimentais que abriga a nossa essência, estaremos fugindo cada vez mais às reais possibilidades de podermos nos sentir completos, felizes e realizados. Estaremos cada vez mais vazios de sonhos e de esperanças, de amor e de essência humana, pois teremos, a pouco e pouco, desistido de lutar pela completude que caracteriza o estar junto, com ida, volta, reviravoltas, lá e cá, dentro e fora.

Ninguém, mais do que nós mesmos, sabe com precisão o que somos, o que queremos, quais são as nossas necessidades, nossos sonhos, nossas escuridões. Certamente, não conseguimos nos enganar, mesmo que queiramos, tampouco poderemos nos sentir confortáveis tentando nos conformar com uma vida em que tudo sai da gente, mas nada nos chega inteiro, nada nos retorna completo, nem ninguém nos devolve verdades.

Não desistamos, pois, de nos entregar de forma total, por conta dos ecos vazios que tentarão nos empurrar de volta. Continuemos firmes em nossas verdades, para que repousemos nossa essência junto a quem há de nos receber com o abraço apertado de uma alma iluminada, mesmo que demore, pois é isso, nada menos do que isso, o que merecemos.

*O título deste artigo baseia-se em citação de Mayckon San.

Imagem: Pitiya Phinjongsakundit/Shutterstock

De quantos “eu te avisei” se constrói um arrependimento?

De quantos “eu te avisei” se constrói um arrependimento?

Imagem: Matej Kastelic/Shutterstock

Uma das maiores inverdades que pregam na sociedade é a teoria de que não devemos nos arrepender de nada do que fizemos. Geralmente, ela vem mascarada pela famosa frase: “não me arrependo de nada do que fiz, arrependo-me do que não fiz”.

Nessa linha de pensamento, as pessoas estão vivendo sem pensar nas próprias atitudes e sem questionar o que estão aprendendo com os próprios erros.

Admita: não foram poucas as vezes em que você se arrependeu de atitudes que realizou. Quantas coisas que, se pudesse voltar no tempo,você apagaria da sua vida? Quantas palavras ditas ao vento? Quantos erros? Quantos romances tumultuados? Quanto arrependimento!

A verdade é que ninguém carrega dentro de si um GPS com o mapa da felicidade. Erramos, caímos, levantamos e continuamos o caminho. Disso é feita a vida. O problema está nos arrependimentos que carregamos na bagagem e o que fazemos deles.

Você sabia que o amor havia acabado, mas preferiu acreditar que era apenas rotina. Sabia que ele não iria mudar, mas preferiu dar uma segunda chance, para não se arrepender depois. Sabia que ele não estava de corpo e alma ali, mas preferiu acreditar que era cansaço do trabalho.

Você sabia, você sempre soube. Sua intuição avisou que aquele relacionamento não deveria nem ter começado, mas você abafou a voz da consciência para ouvir a do coração, já que na época, era o que parecia mais sensato fazer. O fim foi inevitável e o arrependimento resolveu te esfregar na cara o que a intuição tentou avisar.

Se soubéssemos dar mais valor às ações do que às palavras, pouparíamos nosso tempo e nossa alma de sofrimentos banais. Pouco importa o “eu te amo” se as ações não comprovam isso. Pouco importa se a pessoa diz que está com saudades, mas parece o mestre dos magos: aparece quando quer e some na velocidade da luz. Palavras não suprem atitudes!

Chega uma hora na vida em que a maturidade cobra uma nova postura e o arrependimento leva-nos à nocaute. E isso é ótimo! Arrepender-se significa dar uma nova chance para a própria história.

É nesse momento que quebramos as algemas do passado e começamos a nos envergonhar dos amores platônicos, das insistentes ligações não atendidas, dos pedidos dramáticos para que o outro ficasse em nossas vidas.

É através do arrependimento que aprendemos a nos responsabilizar pelos próprios erros. Aprendemos a nos culpar por não termos terminado a faculdade, por termos nos sabotado, por não termos tido amor próprio. Por não termos vivido os nossos sonhos e, a partir daí, mudamos. Como dizia Voltaire “Deus fez do arrependimento a virtude dos mortais.”

Encare seus erros como oportunidade de mudança e de poder de transformação e mude sua história. Porque, embora o arrependimento seja doloroso, permanecer em estado de inércia e ser espectador da própria vida é muito, muito mais…

É covardia despertar o amor sem intenção de ficar

É covardia despertar o amor sem intenção de ficar

Imagem: KIRAYONAK YULIYA/Shutterstock

É covardia dizer palavras bonitas e depois agir feito criança que não sabe o que quer e o que diz. É covardia dizer que pretende ficar quando, na verdade, irá partir a qualquer momento.

Quantas histórias já ouvi de enganos e daquela dor terrível de recomeçar. Quantos corações partidos que deixam de acreditar no amor e, quando alguém aparece, já é descartado, com medo de doer novamente.

É covardia conquistar, ser gentil, só para inflar o ego e parecer o Don Juan. Ter prazer em saber que alguém “morre” de amores pela gente é dessas coisas bizarras da vida que eu nunca vou entender.

Não entendo o gosto de “pisar” o outro, dos joguinhos e de fazer promessas, quando as atitudes demonstram o contrário. Quando o príncipe vai logo virando sapo.

Covardia é quem chega de mansinho, vai logo ocupando um espaço em nosso coração, doma os nossos medos e, todas as vezes em que pensamos em dar um passo para trás, esse alguém segura a nossa mão e nos faz darmos um passo à frente. Então, esse alguém vai embora, sem ao menos dizer adeus, sem ao menos dizer o porquê do sumiço.

Covardia é despertar sentimentos, oferecer abraços, filmes no sábado à noite, no Netflix, quando, na verdade, irá inventar uma desculpa qualquer para nos deixar em casa sozinhos, pensando no que fizemos de errado.

Enquanto o outro curte a vida, você tenta entender onde falhou; enquanto o outro descobre outros risos, outros beijos, outros enganos, você se acha problema.

Bonito mesmo é quem fica, até quando não merecemos; quem entende as nossas pausas e os nossos medos; quem sabe dos nossos segredos e, mesmo assim, decide não partir.

Bonito é quem não promete, mas prova, todos os dias, o quanto gosta da nossa companhia. Quem não mente, não engana e não se alegra com a dor do outro.

Bonito é quem desperta o amor e fica, quem conquista e cultiva, quem não apenas planta como rega, cuida, protege, como quem deseja não perder aquilo que cativou.

Não é preciso ser bonzinho para ser uma boa pessoa

Não é preciso ser bonzinho para ser uma boa pessoa

É injusto rotular as pessoas pela impressão primeira que se tem delas, bem como não se deve tirar conclusões precipitadas somente a partir de seu temperamento. Nem sempre quem sorri pelos quatro cantos do mundo possui boa índole e as pessoas que pouco sorriem não precisam ser maldosas. Se prestarmos atenção além do superficial, toda e qualquer pessoa tem muito a oferecer, além do que simplesmente aparentam.

Não raro, costumamos definir os outros por conta do seu comportamento em meio a todos, atrelando caráter à imagem que eles transmitem superficialmente, mesmo que pouco tenhamos conversado com eles. Por isso é que muitas pessoas são tidas como más somente porque não são extrovertidas ou porque são bastante sérias, quase o tempo todo. Da mesma forma, consideramos, muitas vezes, boas algumas pessoas, somente porque são simpáticas e extrovertidas.

Na verdade, o que nos define, em tudo o que somos e temos dentro de nós – nosso caráter, nossos princípios, nosso coração -, não se refere ao que falamos ou na quantidade de sorrisos que lançamos por aí e sim à forma como nos comportamos diante da vida, diante das pessoas, diante do mundo. Somos o que fazemos, somos o tanto de coisa boa que espalhamos ao nosso redor, somos nossas atitudes com todas as pessoas, sejam próximas ou não.

Quem não conhece pessoas que são assíduas frequentadoras de cultos religiosos, de missas, mas que não param de criar fofocas sobre todos? Quem nunca foi surpreendido pela notícia de que alguém que era tão bonzinho, tão cândido, acabou cometendo algum delito ou atitude antiética? E quem de nós já não recebeu uma grande ajuda, um apoio primordial de quem menos esperava, de alguém que pensávamos ser incapaz de bondade?

Enquanto formos levados a julgar antecipadamente as pessoas, sem as conhecer de fato, baseando-nos tão somente no que aparentam, em seu temperamento, continuaremos errando, continuaremos confundindo equivocadamente os semblantes delas com o que carregam em seus corações. Quando pararmos e nos demorarmos nos encontros com as pessoas, então estaremos adentrando as suas verdades. Ninguém precisa posar de bonzinho para se tornar uma pessoa boa, porque falar qualquer um fala, difícil é viver o que se diz.

Imagem: Rawpixel.com/ Shutterstock

Descubra se você está viciado em celular em menos de 60 segundos

Descubra se você está viciado em celular em menos de 60 segundos

O problema da maioria dos vícios é que eles começam gerando uma grande fonte de prazer. São sempre decorrentes de substâncias que ingerimos e provocam entorpecimento ou euforia ou mesmo de atitudes que tomamos e que também nos estimulam de forma a incentivar em nossos cérebro as mesmas respostas de gratificação e prazer imediato.

De um objeto funcional, hoje os celulares tornaram-se parte integrante da vida da maioria da população. Eles possuem não só a função telefone (que está caindo em desuso), mas muitas outras funções lúdicas e interativas que mantém a atenção do usuário focada e condicionada a responder a estímulos durante praticamente todo o tempo que a pessoa passa acordada.

Abaixo, em poucos segundo, é possível detectar vários sinais de que o uso de celular pode estar tomando uma proporção exagerada em sua vida. Leia, esteja atento e fuja do vício.

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Fonte: Combos Net

Fico com você porque não preciso estar ao lado de alguém

Fico com você porque não preciso estar ao lado de alguém

Imagem de capa: Kar Tr, Shutterstock

Porque já não carrego carências de quem precisa de outros abraços. Pude, nesse tempo sozinho, amar a minha companhia. Desfrutei dos instantes que necessitava para ser alguém menos efêmero. Esbarrei em amores que não permaneceram, mas que ensinaram. E que bom que foi assim. Agora, sem nenhum atraso, posso ser inteiro com você.

Não busco egoísmos e disputas. Não trago agouros e amarras. Carrego apenas liberdades para nós. Venho com soma, cumplicidade e sólidos afetos. Caso fosse em alguns sorrisos atrás, certamente o amor seria desfalcado em querer. Mas não mais. Podemos ser tranquilos e serenos. Podemos, no nosso próprio abraço, encontrar todos os motivos que nos permitam ficarmos juntos. Porque é dessa paz e ternura que amor precisa. Ele não quer ser entregue para mãos aprisionadas e corações possessivos. É quando você entende as entrelinhas do amor sozinho que pode permitir um sonhar a dois. Antes disso, somos copos meio cheios.

Um relacionamento saudável reconhece o encontro espontâneo. Reconhece e respeita as vivências vindas do outro lado. E mesmo depois dos lábios trocados e do colo compartilhado, existe uma gratidão pelo cuidado adquirido, pelo carinho cedido. É sobre esses momentos que se trata a sorte de residir ao seu lado.

Mas nada disso aconteceria se não tivesse reservado um bocado de mim para dias nublados. Foram neles que encontrei um pouco mais daquilo que realmente posso ser. Não só para o meu bem, mas também para essa evidente construção dos nossos laços. E que entrelace fizeram pernas e mãos.

Fico com você porque não preciso estar ao lado de alguém. Porque já não mais enxergo o amor como preenchimento de ausência. Pude, nesse nosso tempo, embarcar na sua companhia. E que bom que é assim. Agora, sem nenhum atraso, podemos ser inteiros entre nós. Os tempos de metades ficaram para trás.

Simples assim…

Simples assim…

Imagem: Bogdan Sonjachnyj/Shutterstock

A vida é muito curta para gastarmos tempo e energia com o que não vá nos acrescentar, nos fazer alegres, nos tornar leves, nos levar para a frente…

Muito mais vale a paz de espírito e a consciência de estar fazendo o melhor que se pode!

Viver bem é simples
Nós é que complicamos demais
Geralmente sob o pretexto de buscar a tão idealizada felicidade
Criamos necessidades inócuas
Pensamos demais, preocupamo-nos com coisas sem importância
E deixamos passar batido momentos preciosos…

Nessa vida, o que marca de verdade são os momentos de leveza
De sentimentos trocados, de alegrias compartilhadas
De simplicidade maravilhosamente descoberta…
Então, não vale a pena o perfeccionismo
Não vale a pena gastar energia tentando ter o controle de tudo, o tempo inteiro
Não vale a pena ser rude para tentar corrigir os outros (cada um só muda se e quando quiser)
Não faz sentido ficar de cara fechada, com mau humor, destilando azedume…

Pouco adianta os outros reconhecerem que temos razão (basta nós próprios sabermos que a temos!)
Não vale a pena nos esforçarmos para expormos nosso ponto de vista onde não o querem saber
Para nada serve nos desgastarmos sentindo raiva da corrupção, da miséria mundial, dos criminosos, etc. (nada, absolutamente, vai mudar pelo nosso íntimo sentimento)

Também não percamos sono tentando imaginar o que os outros pensam sobre nós (esse é um problema exclusivamente deles!)…
Falando nisso, pensar demais faz mal
Criamos fantasmas que não existem, situações complexas apenas imaginárias
Sendo que não precisamos ficar “matutando”, quando estamos certos dos nossos propósitos…

Os pequenos contratempos do dia a dia não são dignos da nossa atenção
Discussões, dificuldades, pessoas difíceis
Nada disso merece o investimento do nosso precioso tempo…
A vida é muito curta para gastarmos energia com nada que não vá nos acrescentar, nos fazer alegres, nos tornar leves, nos levar para a frente

Muito mais vale a paz de espírito e a consciência de estar fazendo o melhor que se pode!
Chega uma hora em que percebemos que certas posturas fazem mal, sobretudo, para nós mesmos
Sentimentos ruins intoxicam a nossa alma
E dá muito trabalho consertar isso depois…

Felizmente, temos o supremo controle sobre como vamos nos sentir
Mesmo que ainda não tenhamos nos dado conta, o modo como lidamos com o estresse, os problemas mundanos, as atitudes dos outros e os nossos próprios sentimentos pode ser por nós escolhido!
As pessoas só nos atingem até onde permitimos

Não que vá alterar os fatos em si, mas saber que, apesar de qualquer coisa, permaneceremos pra cima, já é razão mais do que suficiente para alterarmos nossa postura…
Vamos reassumir o comando sobre nós!
E sair da maré de gente descrente, reclamona, pessimista e revoltada
Nossa saúde (física e mental) agradece!

Respirar fundo periodicamente
Praticar o desapego
Buscar constantemente se autoconhecer e se amar
Permitir que os pensamentos confusos vão embora com a mesma rapidez com que chegaram
Acreditar no comando divino, abandonando a ansiedade e a expectativa

Desistir de tentar moldar as pessoas à nossa maneira
Abrir mão do controle, do planejamento e da perfeição
Não sofrer por problemas que não podemos resolver…
Desarmar-se, simplesmente
De pré-conceitos, de certezas inúteis
Dos medos que nos impedem de tentar coisas novas
De sustentarmos um personagem…

Desistir de ser implacável, assertivo e controlador
De programar o futuro, de não ter dúvidas
De impor qualquer coisa, a qualquer pessoa ou a qualquer custo
O mundo não está contra nós, não há do que nos defendermos!
Podemos baixar a guarda
Entregar-nos, simplesmente, certos de que a nossa parte está sendo feita

Sem dúvida nos trará uma paz interior imensurável
Nos tirará dos ombros fardos que não temos que carregar
E permitirá o fluxo inteligente da vida…

A gente costuma ver amor onde não tem

A gente costuma ver amor onde não tem

Imagem: Sergey Kozienko/Shutterstock

A gente, às vezes, fala de amor como uma causa perdida. A gente fala de amor pensando no relacionamento anterior, que não era amor. Que só parecia amor. A gente quer se segurar em alguma coisa pra falar de amor, mas o amor não tem paredes. A gente cai e espera ser abraçado. Espera flutuar. Mas se machuca porque não tem fé no amor. Porque se doa com medo e confunde qualquer cafuné com amor, qualquer riso de canto de boca com amor. A gente tem mania de chegar no amor lotado de pesos, tralhas emocionais, bagulhos de desventuras, mas no amor não cabe passado nem excesso de expectativa.

A gente quer falar que é experiente no amor, só falar que já fez alguém feliz. No fundo, a gente nem sabe direito. Porque a gente é sempre só aprendiz. A gente tem essa mania de ter pressa no amor e atropela o sentir do outro, sem esperar os sinais, porque amar mesmo, de verdade, leva tempo. Conhecer é abdicar do orgulho, é dividir o que dói, é sentir queimar a própria pele enquanto o outro arde. O amor tem dessas coisas que silenciam, porque dentro dele também cabe o que ainda nem é palavra. A gente, às vezes, fala de amor com a boca cheia de medos e esquece de silenciar. A gente tem medo de ficar em silêncio perto do outro sem saber que esse é o maior diálogo entre duas almas que buscam aproximação. A gente tem medo de altura, do voo que é amar.

A gente acha que amor é causa perdida e morre sem voar. A gente cresce mutilando as asas, e fica sempre com os pés fixos no chão. A gente tem medo da vertigem. No fundo, a gente quer ancorar. A gente é um pouco covarde, por estar sempre pisando no freio pra se limitar e não sofrer. Mesmo assim, a gente sofre com o excesso da falta, com aquele ‘se’ que não virou possibilidade. A gente quer antecipar o amor, sem saber que é sempre estreia, acontece de formas diferentes pra cada um. A gente aproxima a coisa falando dela, mas o amor foge aos conceitos prévios e a gente tem pressa, tem fome e sede de saber que cara tem o amor. A gente idealiza e, às vezes, passa fome. A gente costuma ver amor onde não tem. Por achar que o amor é só dar as mãos e está feita a mágica, a combinação. A gente quer que o amor aconteça de um jeito planejado, mas o amor não faz compromisso com nosso calendário. O amor é reinvenção.

Custa “zero reais” dizer o quanto você gosta de uma pessoa.

Custa “zero reais” dizer o quanto você gosta de uma pessoa.

Imagem: hedgehog94/Shutterstock

Custa “zero reais” elogiar o corte de cabelo, dizer o quanto adorou aquela blusa nova, o quanto gosta daquele alguém e como a companhia é agradável.

Temos o prazer de conviver com pessoas incríveis, que partilham histórias fantásticas, as quais admiramos tanto, mas elas quase nunca tomam conhecimento dessas coisas boas que achamos delas.

Gostamos da garra e da coragem do outro e adoramos o jeito que nos faz sorrir com as suas piadas sem graça. Mas, por orgulho, ou por comodismo, não falamos, deixamos passar as falas de saudade e os “eu te amo” ficam enterrados em nossos corações.

Deixamos passar o riso sincero, o amor bonito e achamos desnecessário dizer o quanto aquele jeitinho único de ser do outro é importante e o quanto isso ou aquilo faz a diferença no nosso dia a dia.

Não elogiamos o bolo quentinho feito pela mãe, quando chegamos cansados do trabalho, e o bilhete escrito com palavras que acalentam o nosso coração. Não retribuímos, não falamos e acabamos por não dizer o quanto o outro ocupa uma proporção significativa em nossas vidas.

Ignoramos as mensagens, fazemos poses de durão e nos esquecemos de dizer o quanto aquele sorriso é bonito, o quanto admiramos a dedicação nos estudos, no trabalho e o quanto achamos uma gracinha quando aquele alguém fica sem graça.

As pessoas insistem em agradar com presentes caros, caindo na cilada de acreditar que coisas valiosas podem ser substituídas por preços abusivos que nos saltam os olhos, mas não o coração.

Custa zero reais dizer o quanto aquele vestido a deixa mais bonita e como ela fica linda quando faz aquele coque no cabelo. Custa zero reais dizermos o quanto aquela comida preparada com tanto carinho ficou deliciosa e o quanto gostamos de ver um filme, no Netflix, na companhia desse alguém.

Desperdiçamos o nosso tempo falando asneira, grosserias e oferecendo ao outro cada vez menos o nosso tempo e cada vez mais as nossas desculpas falidas.

Custa zero reais dizermos o quanto gostamos do abraço, do beijo, do cheiro que fica na roupa, da risada, do sorriso, da covinha. Não custa nada dizer o quanto você admira e o quanto sente falta, quando esse alguém não está com você. Dizer como o outro fica lindo quando usa óculos e como você adora a forma como ele fala sobre a vida, sobre as coisas, sobre o amor.

Não se limite a dizer o quanto gosta de alguém, o quanto sua companhia, seu jeito, seu toque lhe fazem bem. Não se furte de elogiar o bolo quentinho, a comida diária e aquele beijo de bom dia antes de sair para o trabalho. Não custa nada dizer coisas bonitas, o que custa caro é o arrependimento daquilo que não dizemos por orgulho, por comodismo, por medo ou pela falta de coragem.

Um pé na bunda pode te levar mais longe do que um tapinha nas costas

Um pé na bunda pode te levar mais longe do que um tapinha nas costas

É muito interessante como entenderemos algumas coisas que acontecem conosco somente lá na frente, passado o tempo, quando pudermos analisar tudo a uma distância segura. Outras coisas não entenderemos nunca, pois a dor provocada e o vazio deixado jamais poderemos superar. Mesmo assim, nada como a sensação de entendimento e de sossego que sentimos ao percebermos que tudo ocorreu exatamente como deveria.

Uma das mais desagradáveis experiências por que passaremos será levarmos um fora de quem amamos, vermos partir alguém que acreditamos ser o amor das nossas vidas, alguém sem cuja presença achamos não sobreviver. Num primeiro momento, iremos nos desesperar, remoendo o que em nós fez com que expulsássemos aquela pessoa de nossa vida.

A culpa recairá com um peso tão grande sobre nossa alma alquebrada, que seremos incapazes de refletir sobre o que o outro também deixou de fazer, o quanto o outro apenas ficava por perto sem se doar, sem partilha, sem reciprocidade. Pois bem, muitas vezes, a culpa pelo término de um relacionamento é dos dois, pois ambos navegavam por mares revoltos, há tempos, e se faziam de cegos. E outra, o amor pode acabar, sim, simplesmente acaba, após acúmulo de vazios. Vida que segue.

Outra experiência bastante desesperadora vem a ser o desemprego, quando somos demitidos de um trabalho que já fazia parte de nosso cotidiano. De início, pensamos que o mundo acabou, que jamais seremos reempregados, que aquele era o melhor emprego do mundo. Esqueceremos o quanto aquele trabalho nos desgastava, o quanto nos tornava infelizes, o tanto de colegas de trabalho traíras que nos rodeavam.

Na verdade, a maioria das pessoas se torna melhor após sentir na pele dores intensas, após passar por experiências desesperadoras e doloridas. É como se o sofrimento nos esvaziasse os sentidos, para que, aos poucos, fôssemos nos preenchendo de esperança e de força para lutar. Após sofrer toda a devastação emocional que nos atropela, nós nos reerguemos, porque temos que continuar, que sobreviver, que voltar a trabalhar, voltar a amar, voltar a viver.

Por essa razão, embora não consigamos ficar inertes frente ao que de ruim nos acontece, termos a convicção de que o melhor ainda estará por vir nos ajudará a passar pelas noites escuras com uma ponta de esperança que fará muita diferença. Acreditar que merecemos o melhor não é ingenuidade, mas necessidade, para que os nãos nos esbofeteiem com menos força e não nos retirem o foco de luz que carregamos dentro de nós.

Imagem: Srijaroen, Shutterstock

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Que ler um livro sobre o assunto: “Quando um pé na bunda nos empurra para frente”, de Josie Conti. Adquira a versão impressa pela Sultana Produções ou a versão online pela Amazon

Descobrindo quem eu não sou

Descobrindo quem eu não sou

Imagem: taramara78/Shutterstock

Quem nós somos? Quem eu sou? Como me descobrir? Como perceber o que sou? Como estar consciente? É possível controlar meus pensamentos? Posso dominar as minhas emoções?

Segundo a tradição védica (Indiana), para descobrir quem somos, primeiro é necessário descobrir quem ou o que não somos. É necessário descobrir que não somos isso ou aquilo, que não somos o corpo, que não somos os pensamentos, que não somos a emoção, que não somos uma identidade, que não somos um nome, que não somos um número.

Ao se desfazer de todo esse véu de identidades, é possível ter um vislumbre de quem realmente somos: a consciência, o observador, a testemunha.

  • Você não é o seu corpo. O seu corpo é feito de mais de milhões de células e essas células estão morrendo e se reformulando a todo tempo. As células são feitas de átomos, que são iguais a qualquer átomo no universo ao redor de nós. Nesse exato momento, vários processos estão ocorrendo no seu corpo: digestão, crescimento de pelos, ativação do sistema imunológico. Tudo acontece sem o seu esforço.
  • Você não é os seus pensamentos. Pensamentos continuam indo e vindo, não importa o quanto você foca ou medita. Aos estar consciente dos seus pensamentos, você se percebe algo antes (além) dos seus pensamentos. Se você fosse os seus pensamentos, não seria capaz de percebê-los. Perceber é separá-los de você e se manter distante desse processo. É criar um espaço entre você e seus pensamentos. Na meditação, ficamos um passo atrás desses pensamentos, mas não os controlamos. Não podemos saber o que vamos pensar nos próximos segundos, mas podemos, no momento presente, estar consciente deles. Quanto mais resistimos aos pensamentos, mais eles persistem - reconheça-os. É natural à mente pensar, não há nada de errado nisso. Pensamentos são como trens que param na nossa estação – apenas os perceba: se você se pegar dentro de um, apenas desça e retorne à estação. Não resista, não julgue e não critique.
  • Você não é as suas emoções. O que vale para os pensamentos também vale para as emoções. Não somos o que podemos observar, ou seja, você apenas observa, mas não pode ser aquilo que observa. Se tivesse o controle total sobre as emoções, você escolheria nunca ficar mal, não é verdade? Se você fosse as suas emoções, elas não lhe trariam nenhum tipo de problema.

Você é a consciência, a presença, o ser, a vivência. A sua natureza é a presença, todo o resto é distração. Pensamentos e ideias, emoções e imagens, desejos, medos e ações chegam, mas não são você –  você está consciente deles, você os testemunha.

Você está consciente de tudo, tudo chega a você na consciência, pois isso não existe de fato: iluminação, despertar, inconsciência ou separação. Tudo se torna uma ilusão sobre o plano de fundo da consciência.

TUDO ESTÁ ACONTECENDO NO MOMENTO PRESENTE, VOCÊ NÃO PODE FUGIR DISSO.

Você não é só o pensamento “eu sou fulano”, “eu sou meu nome”, “eu sou profissão”, “eu sou pai/mãe”. Você é o senso de presença abaixo de toda essa experiência. Deram-lhe um nome de ________, você possui um ofício de_____, você possui o papel de ______, e por aí vai.

Você apenas observa tudo o que acontece à sua volta, mas não é a identidade que faz tudo.

Para praticar:

1 - Na próxima vez em que perceber uma emoção, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo a minha mente _______ (emoção).

Ex. De “eu estou triste” para “eu observo a minha mente triste”; de “eu estou com raiva” para “eu observo a minha mente com raiva”.

2 - Na próxima vez em que perceber uma dor ou desconforto, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo o meu corpo _______ (desconforto).

Ex. De “eu estou com dor de cabeça” para “eu observo o meu corpo com dor de cabeça”; de “eu estou dolorido” para “eu observo o meu corpo dolorido”.

3 - Na próxima vez em que perceber um pensamento limitante, ao invés de dizer que você é ou está assim, diga: Eu observo a minha mente _______ (qualidade).

Ex. De “eu sou tímido” para “eu observo a minha mente tímida”; de “eu estou com medo” para “eu observo a minha mente medrosa” ou “meus pensamentos medrosos”.

“Observa os teus pensamentos assim como observas o movimento na rua, como observas as nuvens flutuando no céu. As pessoas vêm e vão; registra isso sem resposta (sem qualquer reação). Pode não ser fácil no início, mas, com alguma prática, irás descobrir que a tua mente pode funcionar em vários níveis ao mesmo tempo e que podes estar ciente de todos eles. Apenas quando tens um forte interesse num nível específico é que a tua atenção é aprisionada nele e os outros níveis te são ocultos. Quando você está interessado na verdade, na realidade, você deve questionar todas as coisas, mesmo sua própria vida. Ao crer na necessidade de uma experiência sensorial e intelectual emocionante, você limita sua investigação à busca de satisfação e de conforto. (E não vai à busca da Verdade). Enquanto houver um corpo e uma mente para proteger o corpo, existirão atrações e repulsões (devidos às limitações da mente individual em face de suas ilusões, suposições, crenças, cultura etc.). Existirão no campo dos fatos, mas não devem trazer preocupação para aquele que está compreendendo. O foco de sua atenção estará em outro lugar (além da mente). Não estará distraído. Este que vê o tudo isto e também vê o nada, é o mestre interior (aquilo a que damos o nome de Deus). Só ele é; todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser, sua esperança e segurança de liberdade: encontre-o e una-se a ele (isto é, perceba-o), e estará a salvo e seguro” (‘… a Verdade vos libertará’). A Libertação não é uma aquisição, mas uma questão de coragem; coragem de aceitar que você já é livre e de agir com base nisso”. (Do livro “Eu sou aquilo”, de Shri Nisargadatta Maharaj).

Desidentifique-se, seja livre.

Om

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