Aos juízes de plantão: Nos concedam uma folga, julguem suas próprias vidas!

Aos juízes de plantão: Nos concedam uma folga, julguem suas próprias vidas!

Imagem: Evart/shutterstock

Justiça é um tema lindo, tem a ver com igualdade, com proteção e equilíbrio. Já é uma tremenda virtude tentar ser uma criatura justa. No mínimo, pensar no assunto.

Mas entre exercer a justiça e julgar, aí tem uma rodovia esburacada de distância. A justiça que serve para mim, tem que servir para você e para todos.

Não existe essa concepção de justiça personalizada, que castiga uns e deixa impune outros. Sim, existe, e lamentavelmente vivemos uma era de justiceiros e transgressores, brigando por seus espaços, ainda que tomando territórios que não lhes pertence.

Aos juízes de plantão, aos que subitamente se vestem de justiça e se creem defensores e formadores de opiniões, se não fosse a platéia ávida por julgamentos e condenações, o que lhes restaria? A quem convenceriam?

A velha e conhecida máxima: – Macaco, olhe o seu rabo! – Nunca foi tão perfeita para essa classe de juízes da vida alheia, que ficam à espreita para pegar um deslize, uma derrapada, uma confissão mal contada, e então julgar, condenar e espalhar o fruto de suas duras conclusões.

Caros juízes! Ainda que eu não acredite na bondade de suas intenções, e ainda que eu não me lembre de ter solicitado ou acatado seus julgamentos, por uma questão de justiça, entendo os propósitos do seu passatempo. É justo buscar algo para se prender ou se entregar quando a própria vida não anda lá muito interessante. É justo mas não é bom!

Bom seria se, ao invés de juízes, buscassem ser mais parceiros, tentassem entender que o mundo e como se vive nele, é uma experiência individual. Julgar um crime é correto. Julgar um comportamento, uma escolha, um amigo, um irmão, um amor, uma possibilidade, uma esperança, é demonstração da mais profunda inabilidade humana.

O que é bom para mim e não é bom para você, ainda assim pode ser muito bom para mim. E durma com um barulho desses, ainda que batendo o martelinho e murmurando: Eu condeno!

Que saudade que eu estava de mim mesma!

Que saudade que eu estava de mim mesma!

Imagem: Petrenko Andriy/shutterstock

Que saudade que eu estava de mim mesma!

Que alegria esse reencontro depois de um longo luto cego. Uma dor sem nome na alma que se esparramava e eu não sabia de onde vinha e nem sabia como voltava para os tempos em que eu era rudimentarmente eu.

Que saudade eu estava de mim mesma. Revivendo-me agora sorrio boba, com as mãos sujas de terra, com a roupa velha escolhida pela minha necessidade de liberdade e movimento.

Que saudade eu estava das minhas mãos na massa do meu próprio destino, construindo histórias e legados, que saudade do cabelo emaranhado, do sentimento de segurança e importância por ser rainha do meu umbigo e saber comandar um mundo de sonhos, por devagar e sempre e sorridente, galho por galho, pedra por pedra, saber modificar o meu entorno.

Que bonito esse reencontro que quase sem querer propiciei a mim mesma.

Que bom me esquecer dos espelhos, dos jogos, dos rótulos, dos medos. Que bom chorar por não querer parar o dia e pular da cama com vontade de viver. Que bom me vincular às pessoas pelas vontades de alma. Que bom não esperar mais de mim, dos outros, por não querer ser outra.

Que beleza esses meus braços abertos para mim mesma! Celebrando essa redescoberta quase impossível. Me reencontrando na alegria que me permiti nos dias. E dizendo-me: ‘bem-vinda! Bem-vinda! Até que enfim voltaste!’

Que saudade menina, que saudade!

Te abro as portas e janelas, te dou o tempo, as tardes, os sóis, as tempestades… Te deixo solta no seu mundo. Me ensina, me ensina! Porque eu já sabia viver, mas havia me esquecido. Porque eu já existia, mas havia morrido. Me refresque o peito, os olhos, os ouvidos… renasça alegremente em mim!

Me ajude a existir mesmo que eu não caiba neste mundo, menina.Que saudade eu estava de ser eu mesma!

Prefiro me decepcionar todos os dias que viver sem expectativas

Prefiro me decepcionar todos os dias que viver sem expectativas

Imagem: Sjale/shutterstock

Aqui entre nós, decepção não mata ninguém. Só se desaponta quem está vivo e viver é criar expectativas. Todos esperamos alguma coisa. Esperamos dos outros, de nós mesmos, da vida. E você sabe: quase nunca o que a gente espera acontece como a gente quer. É assim que é. A decepção é um movimento involuntário. Independe da nossa vontade. Acontece de qualquer jeito. E se nos fragiliza é para nos fortalecer depois.

Cada um de nós já causou mais decepção do que é capaz de reconhecer ou lembrar. É da vida. Acontece. Alguém espera de nós o que não podemos ou não queremos dar e pronto: está criada uma situação aborrecida, constrangedora, difícil. Fazer o quê? Ainda não inventaram xampu para consciência limpa. Ser decente é o único jeito. A nós só cabe manter a decência para dormir mais leves.

Por outro lado, vira e mexe você e eu e todo mundo nos desapontamos com alguém aqui e ali por algum motivo. Fazer o que de novo? O que não nos mata nos fortalece. Sigamos em frente que a vida é isso mesmo. Osso!!

Com o tempo, a vida e todo o trabalho que ela dá, passam a decepção, a culpa, a tristeza e os sentimentos de abandono e desamparo.

Dá trabalho, dá um trabalhão danado. Mas quase sempre, quando passa a tormenta, porque ela sempre passa, quem por algum motivo me desaponta dá em mim um gosto sincero e adocicado de gratidão e ternura, feito um ventinho de domingo à tarde. Com sorte e boa vontade, aos poucos vamos nos fazendo irmãos de novo, companheiros de um tempo qualquer que passou e ajudou a nos trazer até o lugar em que estamos agora.

Eu daqui me pego pensando baixinho que esse é o mesmo sentimento que existe do lado de lá, com as pessoas que eu também desapontei. Eu espero. Mas você sabe: quase nunca o que a gente espera acontece como a gente quer.

Quem feriu pode até esquecer, mas quem foi ferido raramente esquece

Quem feriu pode até esquecer, mas quem foi ferido raramente esquece

Sim, erramos muito com as pessoas, muitas vezes sem querer, sem ter a intenção de magoá-las, principalmente quando estamos nervosos e explodimos onde e com quem não deveríamos. Muitas vezes, nem percebemos o quanto fomos injustos, pois não paramos para refletir sobre o ocorrido, porém, quem sofreu, quem foi alvo de nossas atitudes desagradáveis, mesmo que não o queira, guardará aquela triste lembrança em seu coração.

O tempo acalma as tempestades e reaproxima as pessoas que se gostam ou se amam de verdade, trazendo novas oportunidades para que possam se redimir, pedir perdão e se desculpar com aqueles a quem machucam de alguma forma. Sempre teremos como mostrar às pessoas nosso arrependimento, para que acalmemos também o nosso coração, pois muitos de nós não conseguimos seguir tranquilos sem reparar os erros cometidos.

Embora exista quem não refletirá sobre a forma como vem tratando as pessoas ao seu redor, quem não se preocupa com ninguém além de si mesmo, precisaremos voltar aos lugares onde agimos de forma inadequada, para nos desculparmos com as pessoas que deixamos feridas e para melhorarmos nossa maneira de ser, a fim de que não voltemos a repetir os mesmos erros. Nunca perderemos quando pedirmos sinceras desculpas, pois, mesmo que o outro já não consiga nos aceitar de volta, aliviaremos a carga negativa que nós mesmos provocamos.

É preciso pedir desculpas, com arrependimento sincero, pois somos também aquilo que fazemos com as pessoas, aquilo que dizemos, que doamos ou não. Quem é traído, agredido, ironizado, desprezado, quem sofreu, enfim, é que se machuca dolorosamente, muitas vezes sem ao menos merecer. Isso deixa marcas, isso não some de repente de dentro de nós. Daí a importância de pedirmos perdão, para que todo o mal que criamos se apague de nossas vidas e para que possamos acalmar os corações daqueles que caminham conosco, nessa jornada coletiva que é o viver.

Imagem: Nataliia Budianska/shutterstock

Jamais permita que alguém diga que seus sonhos não valem a pena

Jamais permita que alguém diga que seus sonhos não valem a pena

Não espere por alguém que deseje concretizar os mesmos sonhos que você sonhou. Viva seus próprios sonhos, vá em busca do que ainda não conquistou. E se alguém te encontrar no meio do caminho querendo te acompanhar nesta caminhada, então você estará muito bem acompanhada.

E nada de economizar nos sonhos. Sonhos são da categoria “livre”! Podem envolver toda espécie de desejo, projeto ou aspiração. Digamos que você guarde lá naquela gavetinha secreta da alma, uma mágica ilusão. Aquele sonho sobre o qual todos diziam “não vai vingar!”. Talvez esteja bem na hora de destrancar a tal gaveta e trazer aqui para fora esse plano e voltar a sonhar.

Olhe para o seu suposto devaneio com outros olhos. Olhos menos críticos, menos amedrontados, mais destemidos e ousados. Retire de cima do seu sonho o pó da impossibilidade; quem sabe você não acabe por revelar com ele um novo encontro com a felicidade.

Quem sabe, lá atrás, em outro tempo, a pessoa que você era estivesse mesmo ainda meio despreparada. Quem sabe, naquele tempo, alguém o estivesse fazendo acreditar que você tem menos valor do que de fato tem. Quem sabe essa não seja a oportunidade que você queria. Quem sabe não seja justamente agora a hora que você costuma chamar de “quem sabe um dia”.

Encontrar um outro alguém que tenha as mesmas gavetinhas secretas que você, é mesmo uma raridade. Mas é bem provável que todos os seus companheiros de jornada também façam coleção de sonhos esquecidos, isso é a maior verdade!

Feche os olhos, respire com vontade, aspire o improvável. É na zona do impossível que residem as mais revolucionárias ideias e formas de sacudir o mundo de um jeito formidável.

Pode ser que as suas conquistas fantasiadas estejam prontinhas para dançar no próximo baile de máscaras. Quem é que pode saber?! Colha uma delas em suas mãos… afinal, tudo pode acontecer!
Pode ser que aquelas aspirações guardadas para o futuro estejam bem madurinhas, esperando para serem colhidas, sorvidas, experimentadas e saboreadas, todas bem docinhas.

Pode ser que o seu caminho, no início, seja um pouco solitário. Pode ser que sobrevenha um susto ou sobressalto. Pode ser que haja algumas pedrinhas a serem removidas, outras transformadas, outras recolhidas.

Mas, acredite no que eu digo, aqueles que sonham vivem num mundo mais bonito. Têm o coração menos aflito. Contam com mãos mais solidárias e mentes mais produtivas; são, enfim, as pessoas mais queridas.

Sonhos são nosso maior tesouro invisível. É com eles que nos tornamos humanos, muito além do que é apenas possível. É por eles que enfrentamos as inevitáveis sombras escuras, e transformamos nosso medo em coragens mais maduras.

Sonhar é acender uma luz no caminho; é nunca abandonar a essência de criança; é amadurecer de um jeito que preserva a nossa capacidade de ter esperança. Quem não sonha, pouco se arrisca, e quase sempre de tudo duvida. Sonhar é o que faz de nós seres únicos e maravilhosos nessa vida.

Imagem meramente ilustrativa: cena do filme “Mesmo se nada der certo”.

E se eu falhar?

E se eu falhar?

Imagem: Stock-Asso/shutterstock

Todos temos medo de falhar, porque sabemos que, um dia, falharemos.

Sempre se soube que o ser humano é falho e que, até o melhor dos melhores, pode deixar a desejar em suas atitudes e em seu desempenho.

Aceitamos melhor as falhas dos outros do que as nossas. O que tememos não é a falha, mas a natureza da falha.

Não nos importamos de falhar com qualquer coisa, nos importamos de falhar com aquilo que é importante para nós: situações, contingências, pessoas, desempenhos afetivos e profissionais.

O medo de falhar muda, conforme o tempo passa. Comecei tendo medo de falhar numa apresentação pública.

Eu tinha 7 anos, era recém alfabetizada, e a professora se encantou comigo, porque numa segunda feira cheguei à escola, declamando uma poesia, como papagaio de pirata, sem entender nem mesmo o significado das palavras.

Sempre tive facilidade para o decoreba, e gastei o domingo decorando o poema para impressionar a professora, mas levei um susto quando ela me disse: “você vai declamar na festa de encerramento de ano” que aconteceria no outro final de semana.

Uma coisa era declamar para a professora, outra coisa era enfrentar os alunos e pais da escola.

– E seu eu falhar? E se esquecer a poesia? E se a minha voz não sair? E se eu gaguejar? E se os outros rirem de mim? E se a professora se decepcionar comigo?

Nessa idade, o medo de falhar nunca é puro, intrínseco e subjetivo, é sempre o medo do outro. Do julgamento do outro. Da reação do outro. Do “bullying” que vem do outro.

Não deu outra: o medo atrai o objeto temido na mesma proporção e intensidade com que o tememos.

Quando me fizeram subir na cadeira improvisada como palco, declamei até a segunda estrofe, e dali para frente deu-me um branco. Desci chorando, e subi a rua em desabalada carreira, a mãe atrás, tentando me alcançar e acalmar.

Até hoje temo que me ocorra algo parecido. Dentro de mim ficou a marca: “boa para escrever e decorar, mas não para falar.”

Na adolescência, o medo de falhar continua fundamentado no medo do outro, na avaliação implacável do grupo social a que pertencemos. É o medo de perder a identidade conquistada a duras penas.

– E se eu falhar? E se o meu melhor amigo se decepcionar? E se a turma zoar? E se a namorada me descartar? E se todo mundo me julgar um frouxo? E se ninguém mais me convidar?

Quando somos adultos conservamos todos esses medos, de maneira modulada, mas o medo mais forte já não está mais relacionado ao medo do outro, ao medo do grupo social a que pertencemos, mas ao medo que tem origem na severidade do nosso próprio julgamento. É o medo do nosso medo.

Temos medo de falhar em nossos papéis afetivos primordiais, com os nossos familiares, e as pessoas que amamos, e sobretudo, temos medo de falhar com Deus.

Ocorre-nos ter medo do julgamento íntimo que enfrentaremos quando sós diante do espelho, ou na hora de dormir, com a cabeça no travesseiro. Ou pior ainda: na hora da morte, diante da solidão mais pura e essencial.

Esse é o pior medo porque o medo dos outros, o provável ou improvável desapontamento que causarmos ao grupo social, passa pelo teste do tempo, e seus efeitos dificilmente sobrevivem. Eles se diluem com o passar dos anos.

Ninguém se lembrará das nossas falhas, do nosso mau desempenho, daqui a dez, vinte anos, mas o desapontamento que causarmos a nós mesmos, esse fica dentro de nós, como marca que nunca se apaga.

Alguém se lembrará de que, naquele tempo, falhei na minha primeira apresentação pública? Ninguém! Mas eu me lembro, e o fato de me lembrar, faz com que eu me limite com essa lembrança.

De forma que precisamos temer mais o medo de nós, o medo das nossas exigências, do que o medo dos outros. Freqüentemente somos mais rigorosos com as nossas falhas, do que as pessoas seriam.

E mais frequentemente ainda, pensamos que Deus não nos perdoará pelas falhas que cometemos e pelas falhas que viermos a cometer. Será verdade? De jeito nenhum!

A nossa vil humanidade é totalmente sujeita a falhas e se até nós sabemos disso, e perdoamos, e esquecemos as falhas dos outros, maior é Deus, mais bondoso, e mais misericordioso do que todos, para nos perdoar.

Cuidado com a carência. Ela faz as pessoas confundirem saudade com amor, apego com paixão e posse com relacionamento

Cuidado com a carência. Ela faz as pessoas confundirem saudade com amor, apego com paixão e posse com relacionamento

Imagem: Kitja Kitja/shutterstock

Ninguém nasceu para ficar sozinho. Fato! Necessitamos do convívio, da troca de ideias, do incentivo do outro para caminhar, afinal vivemos em comunidade.

O problema é que algumas pessoas perderam a autonomia dos próprios atos e não estão conseguindo conviver sozinhas com seus defeitos, com sua solidão e com seus vícios e partem atrás de um grande amor.

Carência emocional é o mal do século. Em nome dela pessoas incríveis renunciam a própria felicidade em prol de uma (má) companhia momentânea e permitem que relacionamentos doentios marquem suas histórias para o resto da vida.

Geralmente, as histórias acontecem tão rápidas quanto superficiais e pulam as fases que compõe um relacionamento (conhecer- sair- namorar- casar) para serem felizes. Luiz Fernando Veríssimo diz que “nesse mundo maluco e agitado, as pessoas estão se encontrando hoje, se amando amanhã e entrando em crise depois de amanhã”.

Não é raro que pessoas carentes confundam paixão e saudade com amor. Afinal, para eles o que importa é estarem acompanhadas e sentindo o coração bater, indiferente da denominação do sentimento. Caio Fernando Abreu descreve bem isso: “Não se deixe entusiasmar a ponto de não conseguir distinguir amor de atração, amor de carência, amor de insegurança, amor de fantasia.”

A frase “me apaixono fácil” é quase um grito de guerra para essas pessoas, já que servem de desculpa para as escolhas erradas que fazem na área sentimental. Pessoas carentes não sabem lidar com a solidão e cobram, dos outros, sentimentos que deveriam ser dados livremente. Funciona, mais ou menos, assim: elas acreditam que quanto mais amarem e mais se doarem, mais amadas serão. Simples assim!

Por favor, não seja esse tipo de pessoa. Pessoas carentes são cansativas e desgastam toda relação. Amor é atração, afinidade e reciprocidade dispostas em vias de mão dupla. Não sinta a necessidade de enviar mensagens todos os dias, de acordar de madrugada com saudade ou de convidar para um jantar a dois, se não quiser, de coração, fazer isso.

Essas coisas devem ser feitas por vontade e não por obrigação. Entenda que temos o direito de sentirmos saudades, mas não temos o direito de cobrar a presença. Temos o direito de amar, mas não podemos obrigar o outro a sentir o mesmo.

Aprenda a diferença entre carência e amor e você será muito mais feliz. Entenda que o fato de alguém não te amar pode até afetar seu ego, mas não afeta sua vida. “Se não o amam, não rogue nem se ajoelhe. O amor não se suplica nem se exige, acontece. E se não acontece, você se retira com dignidade e parte para outra.” (Walter Riso)

Do que precisamos pra viver?

Do que precisamos pra viver?

Imagem: Antonio Guillem/shutterstock

Eu sempre tive medo do fracasso. Sempre, desde que me entendo por gente. Não faço ideia de onde isso começou, mas sempre tive pavor de me tornar uma pessoa medíocre.

Era mais importante pra mim ser bem sucedida do que feliz ou talvez eu achasse que essas coisas andavam juntas há algum tempo atrás.

Tinha metas de cursos, pós, especialização, mestrado, tudo bem esquematizado com uma cronologia na minha cabeça. Mas a vida tinha outros planos pra mim e me levou para outros lugares.

Tudo o que eu dava extrema importância, hoje não faz sentido nenhum pra mim. Eu fui uma adolescente muito ambiciosa, materialista, via valor em coisas que não tem significado nenhum, vazias em si mesmas.

O que é fracasso, afinal? O que é ter sucesso? O que faz de alguém ser considerado bem sucedido? Que tipo de mundo é esse que estamos vivendo, onde valorizamos, endeusamos o dinheiro, acumulamos ele e tudo o que pode comprar?

Estamos vivendo tempos difíceis, onde os valores estão completamente de cabeça pra baixo, a verdade é que estamos à deriva e ainda não nos demos conta disso.

Buscamos coisas que não precisamos e abrimos mão diariamente de coisas que não tem preço. Não conseguimos ver beleza no simples, mas estamos atrás de algo mais, sempre mais. Sabe, nem sempre mais é melhor, nem sempre grana pode ser a nossa alforria, e nem sempre a nossa eterna busca na nossa rodinha de hamster vai nos levar à algum lugar, às vezes estamos andando apenas em círculos por muito tempo sem nos darmos conta disso.

Hoje, eu ando na contramão de tudo isso, busco a antítese do meu eu adolescente. Quero pra mim, as coisas mais simples, por isso, talvez, as mais caras e difíceis de conseguir. Elas não tem preço, etiquetas, prazo de validade.

Continuo me permitindo desejar, mirar algo, colocar metas no meu futuro próximo que gostaria de alcançar. Mas agora, eu tento manter meus dois pés no chão, meu olhar pra dentro, sintonizado com o que realmente preciso e acredito de verdade, para que eu não seja levada, para que eu não ceda as expectativas externas, o pitaco dos outros e o olhar cheio de julgamento.

Tem sido um exercício e tem dias que eu erro mais do que acerto e deixo o outro contaminar a minha vida com a sua visão sobre as coisas. Quer saber, tenho descoberto o que é óbvio pra muita gente talvez, mas eu não preciso convencer as pessoas que a minha vida tem valor, que eu sou uma pessoa bacana e não, eu realmente não preciso agradar a ninguém.

O que eu não posso e não vou abrir mão mais é de viver a minha vida da forma que eu escolhi, que eu creio que esteja certa. Posso sim errar, me perder, me ver em um beco sem saída ou mudar a rota, mas eu sei que vou sempre me achar, se me mantiver em contato com a minha essência e com aquilo que eu acredito.

Nós demos certo, sim, por um tempo, e agora outras coisas vão dar certo novamente.

Nós demos certo, sim, por um tempo, e agora outras coisas vão dar certo novamente.

Imagem: maxbelchenko/shutterstock

Talvez eu devesse sentir raiva, querer fugir da realidade em um copo de bebida, sair com os amigos e conhecer gente nova.

Talvez, para muitos, esteja agindo mal por de fato não parecer bem, afinal, em um mundo de tantos disfarces, é mais fácil fingir que a gente superou tudo e que estou “pronta para outra”.

Mas, sabe, quando nossa história teve fim, eu achei que não iria suportar a dor da saudade. Foram dias e dias pensando em você e adormecendo, enquanto revia alguma foto ou lembrança nossa.

Depois de um tempo, percebi que tudo aquilo estava me ferindo cada vez mais e que, embora tenhamos sido inteiros, foi mais saudável chegar ao fim. Nossa história foi bonita, confesso.

Impossível me esquecer da nossa cumplicidade, do nosso carinho, e é por isso que eu faço questão de guardar essas lembranças boas, não como saudade, mas como aquele sentimento bom de respeito por quem fez parte da minha história, de alguém que, por muito tempo, transbordou-me. Fui feliz.

Mas, hoje, você está aí e eu aqui. Você, cuidando dos seus sonhos, e eu dos meus. Mas eu sei, ainda torcemos um pelo outro, porque é isso que o amor nos ensinou: a felicidade do outro também é a nossa. E só eu sei o quanto cada coisa conquistada por você o tem feito feliz.

Alguns dizem que é impossível manter todo esse carinho depois de um término, mas eu digo que, talvez, essas falas sejam respaldadas por quem desconheçam verdadeiro amor.

Não consigo ignorar e simplesmente apagar da minha história alguém que fez parte dela de um jeito tão bonito. Não tem como esquecer os desejos um do outro e como você gosta de suco de laranja. O quanto você odeia dieta e como ama brigadeiro. O que podemos fazer é acomodar todo esse sentimento, sem que ele se torne raiva e sem que se torne uma angústia que nos consuma pouco a pouco.

Então, eu lhe desejo força para enfrentar qualquer tempestade que possa surgir e que você não desmorone quando tudo parecer ir mal. Eu desejo uma fé inabalável, na vida, nas pessoas e no amor; que os dias floresçam e você sempre consiga contemplar as belezas dessa vida.

Para pessoas como eu e você, sempre existe algo bom à espera. Eu sempre irei me lembrar de você quando for ao supermercado e vir o seu chocolate favorito – é uma saudade boa.

Que nós possamos ser uma lembrança boa um para o outro. Lembre-se da sua coragem e de que o seu sorriso é capaz de conquistar o mundo. Prometo me lembrar do quanto sou forte e de como o meu jeito é mesmo encantador.

Obrigada por me ensinar tantas coisas, obrigada por trilhar junto comigo até aqui. Eu só quero que saiba que eu não me arrependo de ter tido você comigo e, talvez, se eu não dissesse isso a você, eu me arrependeria.

A boa briga: Enfrentar os demônios do passado

A boa briga: Enfrentar os demônios do passado

Imagem: Antonio Guillem/shutterstock

Brigar por razão, por vaidade, por exibicionismo ou até mesmo maldade, ah, essa briga é tola!

Brigar por vontade de fazer justiça, para defender um afeto, garantir direitos e espaço, aí já começa a melhorar…

Mas, briga boa, aquela que se reza para não entrar, mas depois paga para não sair, é a briga urgente e necessária com os demônios do passado.

Os demônios que espreitam a vida, que sugerem a repetição de reações equivocadas, que fazem o tempo presente parecer inútil e o futuro, desanimador.

Há um demônio comum que mora no passado de quase todo mundo. Agressivo, asqueroso, implacável. Usa a culpa como arma, e a chama ao menor sinal de liberdade. A briga com esse é séria, mas vale muito a pena tentar.

Companheiro desse, um demônio sonso, que evoca despretensiosamente as terríveis sensações de insegurança sentidas em algum momento lá atrás, e que lá deveriam ter ficado. Mas ele sabe onde estão escondidas e as apresenta sem avisar, roubando-nos o chão. Com ele, funciona bem a indiferença.

Um menorzinho mas não menos perigoso, o demônio da chantagem infantil. Esse nasceu da oportunidade, daquela ocasião em que um apelo funcionou tão bem, que resolveu ficar para sempre. E, mesmo não sendo mais a versão original, usa e abusa das caras e bocas para conseguir o que deseja. Ainda que não tenha mais idade para isso. Discutir não adianta muito, é melhor mesmo colocar de castigo, para pensar.

O demônio da malcriação, aquele que não sabe ser contrariado, que bate pé e se joga no chão. Esse, agora mais velho, parte até para o surto quando não se sente confortável com as respostas que recebe. Esse merece uma boa bronca, além da lição de educação que lhe falta.

E tantos outros, vestidos e revestidos das mais variadas temáticas, que assombram e modificam nossas condutas, somente porque em algum momento do passado, foram acolhidos.

Somos nutridos por anjos e demônios, mas, e acima de todas as influências, somos o que queremos ser, e se não estamos nos sentindo donos da vida, o melhor é partir para a briga, conquistar o espaço e fazer as escolhas. O passado que fique com seus demônios. O presente que crie o ambiente para o que irá povoar o futuro.

Não ter razões para ficar é uma ótima razão para partir

Não ter razões para ficar é uma ótima razão para partir

Uma das decisões mais difíceis de todo ser humano é tomar a iniciativa de partir, ir embora, deixar para trás. Isso porque se acomodar ao que supostamente já faz parte de nossas vidas é mais fácil do que quebrar as correntes das ilusões que nos aprisionam numa redoma de falso conforto. Quando nada mais nos faz sorrir, é hora de partir.

Quando os dias se arrastam, as horas se eternizam, os segundos não chegam, fazendo com que ansiemos pela cama, pelas luzes apagadas e pelo silêncio que não machuca. Quando o ambiente se carrega de peso, dificultando o nosso respirar tranquilo, amedrontando os nossos passos, calando nossa voz e nossos sonhos. É hora de partir.

Quando o trabalho se torna mera repetição, em que nada se cria, nada motiva, nada alegra, forçando-nos sorrisos teatrais, palavras sem verdade, ausência de coleguismo. Quando nos sentimos menos, não nos valorizam, não nos pedem nada,tampouco nos enxergam, como se ali tivéssemos o mesmo valor de um móvel barato. É hora de partir.

Quando a amizade enfraquece, distancia-se, fria e cortante, sem volta, sem retorno, sem cumplicidade. Quando não se lembram de nos chamar, de nos ligar, de nos dizer um mero oi, enquanto somente nós nos esforçamos por encontros, conversas, risadas, em meio a mensagens não visualizadas, telefonemas não atendidos, convites sem resposta. É hora de partir.

Quando damos as mãos ao vento, quando olhamos nos olhos que se desviam, quando não nos sentimos gente ao lado de quem está ali por mera formalidade, como se fosse uma obrigação a convivência. Quando não há mais procura, nem escuta, tampouco diálogo; quando temos que implorar, gritar, caso tenhamos que obter um pingo – meio pingo – de atenção. Quando a reciprocidade ficou num passado distante, junto com a verdade. É hora de partir.

Ainda que suas mãos tremam, que seus olhos se inundam, que seu coração se quebre, que suas pernas pesem, que sua voz falhe, vá, saia de onde nada mais lhe roube sorrisos, de onde somente existe vazio e dor, solidão e mágoa. À medida que caminhamos em busca do que nos torna felizes de fato, tudo se vai ficando mais leve, mais calmo, mais lúcido. Porque ficar com medo jamais será capaz de nos trazer o prazer de ir ao encontro de uma felicidade possível, verdadeira, merecidamente nossa. Vá.

Imagem: Tinxi/shutterstock

Certas histórias têm que ficar no passado

Certas histórias têm que ficar no passado

Imagem: Dean Drobot/shutterstock

Pedro Ynterian, um cubano residente no Brasil e antigo líder estudantil em Cuba na década de 60, revelou ao programa Fantástico que em 1962 arquitetou um plano para matar Fidel Castro. Ao final da entrevista, questionado pela reportagem, ele disse: “certas histórias têm que ficar no passado”.

A afirmação me fez refletir. Pois apesar de travar uma batalha diária para focar no hoje e absorver com poesia o instante presente, tenho uma tendência à nostalgia.

Porém, algumas histórias não podem sobreviver. Têm que se despedir de nós do mesmo modo que o tempo.

Seja porque nos feriram, seja porque ferimos alguém, seja porque doeram, seja porque ainda doem… o fato é que nem toda história merece ser carregada ou guardada.

Há que se ter cuidado com as bagagens. Andar com mais suavidade levando apenas partes de nós mesmos que nos fazem bem. Despir-se de mágoas, ressentimentos, culpas e rancores. Carregar somente a parte da nossa história que pode ser curada. Perdoar e pedir perdão, zerar as dívidas com as sombriedades que carregamos e não se apegar a sentimentos que perderam o prazo de validade.

Algumas histórias têm que ficar no passado para que a gente encontre sentido e poesia no presente. Para que a memória não se sinta aprisionada num lugar de dúvidas e dor. Para que, ao dormir, os sonhos não sejam povoados por uma identidade que não nos define mais.

Nem tudo a gente deve carregar. Nem tudo merece espaço na nossa lembrança e afetividade. Alguns fatos, acontecimentos e até mesmo algumas pessoas devem ser esquecidos para que a vida encontre seu curso, trazendo as boas surpresas que só quem tem espaço na mala vai conseguir carregar…

Aceitar as pessoas como elas são não nos obriga a conviver com elas

Aceitar as pessoas como elas são não nos obriga a conviver com elas

Imagem: Evannovostro/shutterstock

A tolerância é uma necessidade urgente neste mundo violento de hoje, em que uma simples discussão no trânsito pode chegar a provocar mortes. A intolerância é a mãe do preconceito, da exclusão, do racismo, de tudo, enfim, que segrega, separa e agride o que não se aceita, o que não se acha normal, o que incomoda sem nem haver razão. Sim, é preciso tolerar e aceitar as pessoas como elas são, porém, conservando-nos o direito de nos afastar cordialmente de quem não nos agrada.

Podemos entender que o outro tem a própria maneira de pensar, que sua história de vida é peculiar e suas bagagens podem ser totalmente diferentes das nossas. Podemos compreender que as verdades alheias, por mais que nos soem ilógicas e absurdas, são do outro tão somente e não necessariamente nossas. Desde que não nos firam, as escolhas do outro não nos dizem respeito. Desde que o outro esteja feliz, sem pisar ninguém, não temos como tentar intervir em estilos de vida que não são nossos.

Devemos saber discordar sem ofender, sem tentar impor o que pensamos como verdade absoluta – isso é arrogância burra. Necessitamos ouvir o que o outro tem a dizer, por mais que não enxerguemos ali razão alguma, mesmo que o que disserem ou fizerem seja exatamente o contrário de tudo o que temos como certo. Desde que não nos ofendam, nem ultrapassem os limites de nossa dignidade pessoal, os outros terão o direito de viver o que bem quiserem.

Por força maior, como o emprego ou a família, inevitavelmente estaremos sujeitos à obrigação de conviver ao lado de pessoas com quem não simpatizamos ou cujas idéias não se afinem minimamente com as nossas. No entanto, sempre poderemos escolher quem ficará ao nosso lado nos momentos mais preciosos de nossa jornada, enquanto construímos nossa história de vida, de luta e de amor.

Da mesma forma, conseguiremos nos desviar de quem nos desagrada, afastando-nos das pessoas que nada nos acrescentam, sem precisar criticá-las ou brigar com elas. Sim, podemos – e devemos – aceitar as pessoas como elas são, pois isso é o mínimo que se requer, em se tratando de sociedade, porém, não seremos obrigados a conviver além do necessário, além do suportável, além do adequado, com gente que enche a paciência e nos irrita. Isso seria masoquismo.

O mal nunca vem disfarçado de mal

O mal nunca vem disfarçado de mal

Todos temos uma ideia de como pode ser uma pessoa má, de como nos prevenir e tomar distância de uma se por acaso surgir em nossa vida, mas nem sempre estamos preparados para identificar alguém que é mau, mas que não parece ser. Acredito que isso se dê pelo fato de ser muito difícil pensar o mal quando ele não faz parte efetiva do nosso cotidiano. Logo algumas possibilidades absurdas, mas possíveis, passam bem longe da nossa cabeça e, eventualmente, para nosso espanto, acabam se concretizando.

Acho que a historinha a seguir exemplifica bem o que estou dizendo:

“O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu: “Ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais! Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno e eu vou morrer.” Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao fim da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme. Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo desesperado quis saber o porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente: – Porque essa é a minha natureza!” (Trecho retirado do livro “Mentes Perigosas” da Psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva)

Então em um passe de mágica damos as chaves de nossas casas na mão da pessoa errada e muitas vezes somos nós a convidá-la a entrar em nossa vida, como uma vítima convida um vampiro que se coloca frente à sua porta. Tudo acontece muito rápido e em um piscar de olhos estamos mais enroscados que um inseto em uma grande teia de aranha.

Eu diria que para começo de conversa todos nós temos que ter clara em nossa mente a ideia de que nem todas as pessoas são iguais. Nem todos sentem empatia, amor ou entendem o que é respeito. Existem patologias mentais que distorcem a forma como alguns enxergam a realidade, mas uma delas, que não pode ser considerada uma patologia, mas uma disfunção do funcionamento cerebral, mais precisamente da ligação da amígdala cerebral com o córtex órbito-frontal, é devastadora. Esse mal funcionamento cerebral impede que pessoas sintam qualquer tipo de emoção, mesmo que pareça o contrário. Passamos a falar então de psicopatia.

Estima-se que 4% da população mundial sofra desse mal. Dessa falta de bom senso e consciência que pode deixar um rastro de tristeza e destruição na vida de pessoas normais, dotadas de amor e empatia como nós. Pessoas como eu e você, cientes do nosso papel moral dentro da sociedade, passíveis de erros, afinal não somos perfeitos, mas plenamente capazes de aprender com cada um deles.

Diferente do que muitos pensam a grande maioria dos psicopatas nunca cometerá um assassinato físico, mas muitos deles cometem golpes, fraudam, mentem, roubam, agridem e difamam pessoas próximas, sem remorso algum por isso. Dotados de uma mente extremamente racional e desprovidos de sentimentos, eles não se sentem mal por causar a ruína na vida alheia, pelo contrário, se sentem muito bem em ter alcançado suas metas, mesmo que para isso tenham passado sobre uma longa fila de inocentes.

Acho que o cinema se debruçou com maestria sobre a psicopatia, principalmente em seu grau mais severo, mas aqui me recordo de um filme singelo, o “Educação” de Lone Scherfig, que fala de David, um personagem que certamente poderia ser descrito no mundo real como psicopata e que muito pode ensinar a quem assiste ao filme com atenção.

Resumidamente o enredo fala de uma jovem, Jenny, que sem uma boa orientação familiar e bastante inocente, se apaixona por David, um homem mais velho que lhe apresenta um mundo diferente, repleto de glamour e luxo. Jenny se encanta com o que ela acredita ser a vida que sempre desejou, abandona então seus estudos e aposta em uma vida de ilusões. Os pais fazem vista grossa e aceitam o relacionamento da filha com esse gentil e encantador homem mais velho, sem fazer questionamentos ou procurar saber quem ele realmente é. Afinal, eles foram completamente envolvidos pelas mentiras encantadoras de David. Com o passar do tempo Jenny percebe que algo não está muito certo e encontra duras respostas acerca de quem ela pensava ser o homem de sua vida.

Quando assistirem ao filme “Educação” atentem para o fato de que em determinado momento, o sedutor David, entra na casa de uma velhinha e com muita lábia rouba um quadro de valor que estava na sala da mulher (sem que ela perceba). Ele menciona que a senhora não precisaria daquele precioso item. Ele faz o mesmo com Jenny, entra na casa de seus pais e a rouba de lá como fez com o quadro, sem que os mesmos se deem conta disso. Jenny e o quadro são tratados como posses que servirão, na cabeça dele, para um meio.

De acordo com as estimativas cruzaremos com ao menos quinze psicopatas durante a vida. Eles estão em todos os lugares, quase sempre ocupando posições de poder onde poderão exercer maior influência sobre as pessoas. Mestres do convencimento sempre conseguem inverter o jogo a favor deles, dizendo que a culpa pelas suas mazelas é dos outros. Fazendo suas vítimas pensarem ter culpa pelo que não fizeram e agirem diferente de como sempre agiram.

Comumente quando a máscara sentimental do psicopata cai e ele se revela em sua plenitude, já sem fazer uso de sua perspicaz sedução, muita gente se pergunta como as pessoas envolvidas por ele não perceberam o golpe, não viram que estavam sendo ludibriadas. A resposta para isso se justifica pelo fato de psicopatas serem ótimos atores e planejarem com minúcia seus passos, fazendo uso da boa-fé de pessoas solícitas e quase sempre de alma pura.

Saber da existência do mal é o primeiro passo para se prevenir. Ninguém está imune a ele em um mundo tão competitivo e cheio de valores deturpados como o nosso, mas eu diria que a intuição ainda é a nossa maior e melhor aliada na detecção de pessoas efetivamente más, mas que comumente se vestem com uma linda pelagem de cordeiro. A nossa intuição quase sempre, movida pelo que há de mais genuíno e sentimental em nós, nos alerta acerca da conduta errática do outro. Só cabe a nós dar ouvidos a ela com carinho, mesmo diante daquela vontadinha de subestimá-la frente ao que nos parece quase irresistível.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – pexels – CC0 Public Domain

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