Ninguém acorda apaixonado todos os dias

Ninguém acorda apaixonado todos os dias

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Para os dias “não”, a alternativa é pedir espaço. Não há cobrança que funcione, nem truque ou maquiagem. Tem aquele dia que nada impressiona e tudo o que a gente não quer é cobrança.

Todo mundo sofre de enjoos passageiros, de gente, de cheiro, de carinho, de carência.

Enjoo que vem e vai, normal. Naquele dia em que nem a voz está soando bem, melhor segurar a onda e esperar passar. Porque passa. Se deixar passar, passa. Se cobrar, desesperar, entrar em pânico, cria-se justificativa para não passar.

Ninguém acorda apaixonado todos os dias. Há o dia seco, aquele dia que começa com um ponto de interrogação e passa inteiro entre reticências. O dia das catarses, das perguntas, das incertezas. O dia que desestabiliza quem compartilha a rotina, mas que também coloca um tijolo a mais na construção de um sentimento maduro. É preciso passar serenamente por esses dias, porque eles sempre virão.

A dúvida é parte de todos. Basta haver uma certeza para aparecer uma dúvida de igual força. Nada é.

Tem gente que esconde bem seus dias não apaixonados. Tem quem demonstre amor em dobro, por culpa, medo ou remorso. Mas tem quem sirva a questão na mesa e queira a participação conjunta. Tem quem logo acredite ser para sempre. E tem quem espere pacientemente o próximo suspiro.

Quem assiste, sofre. Quem acordou apaixonado, se ressente. Mas é preciso respeitar a vez de cada um. Eu costumo dizer que gosto da verdade, mas inúmeras vezes não soube o que fazer com ela.

Quem me dera houvesse esperado um pouco mais para cavucar, interpretar e concluir as verdades que tanto persegui. Por vezes, foram somente os dias “não”. E ninguém acreditaria no tamanho e profundidade da história que consegui criar, depois que arranquei a verdade daquele dia. Perdi as contas das vezes que fui ao purgatório e voltei, magoada e envergonhada.

Conviver é um exercício não repetitivo e inconstante. É preciso praticar, mas as novidades irão aparecer e nos cobrar adaptação. Um dia mais frio pode ser só um, um inverno inteiro, ou uma dica para se buscar lugares mais quentes e confortáveis.

Não há garantias. Só funciona enquanto for bom para as partes. Ninguém acordará apaixonado todos os dias e a regra vale para todo mundo!

Só permaneça onde existe reciprocidade

Só permaneça onde existe reciprocidade

Imagem de capa: Skapace/ Shutterstock

Em tempos de amores líquidos, reciprocidade é fundamental.

É ela quem diz que estamos no caminho certo ao enviar um “bom dia” carinhoso àquela menina pelo WhatsApp, ou um áudio com uma coletânea bacana pelo Spotify. É ela que autoriza o comentário entusiasmado na foto do crush interessante ou a curtida frequente nos posts da gata fitness.

Mesmo não sendo adepta de estratégias e joguinhos de poder no campo amoroso, acredito no significado da reciprocidade. De só permanecer em relações onde não é preciso insistir para receber uma resposta ou implorar para ser valorizado como deveria.

Muitas vezes é preferível abrir mão de uma relação que julgamos importante do que continuar insistindo sem correspondência alguma.

O que vejo por aí é que tem faltado discernimento para entender onde não se deve insistir. Onde não vale a pena investir tempo, pensamento, vontade e intensidade na vã tentativa de se sentir acolhido por alguém que simplesmente não está nem aí.

Muita coisa é simples, a gente é que complica. Se alguém visualizou sua mensagem e não respondeu em dois dias, é porque não quis. Não faltou tempo, faltou interesse.

A gente sempre arruma tempo para o que está interessado. Para responder um bom dia, comentar uma foto original, curtir uma música, agradecer uma lembrança, desafogar uma saudade. Porém, nem sempre há interesse ou correspondência do outro lado. Nem sempre há vontade ou prioridade. E, mesmo tentados a entender e justificar, deveríamos apenas recuar. Dar dois passos para trás, silenciar, desapegar, desacelerar.

Porque são tempos líquidos. A fila anda muito depressa, formamos laços frágeis uns com os outros, vivemos incertos a respeito do que pensam e dizem sobre nós. Os aplicativos são atualizados constantemente e nos perguntamos em qual versão nos enquadramos. Diante de tudo isso, só estamos seguros onde

existe reciprocidade. Onde nosso afeto não é descartado e sim valorizado. Onde nossa expressão de afetividade e afinidade encontra abrigo e não sucumbe à necessidade de ser “atualizada”.

Encontrar reciprocidade num mundo que gira tão rápido é entender que alguém ainda nos dá a mão no meio de tanto turbilhão. É saber que diante do tempo que acelera tanto, ainda há o que se esperar dos vínculos que construímos e dos laços que firmamos.

Por isso não há o que se esperar dos laços que se afrouxam. Por mais que a gente se empenhe em manter certas amarrações, elas não se firmam. Nesse caso, o melhor é se desligar. Entender o fim de um tempo, a desistência de alguns planos, a frustração de certas expectativas. Não alimentar desejos em cima de terrenos frágeis, nem atribuir sentimentos a quem simplesmente não está do nosso lado.

Exercite o amor próprio e valorize os vínculos que construiu. Não permita que o tempo dissolva relações importantes, e preserve com carinho os novos laços que querem surgir. Porém, só permaneça onde existe reciprocidade. Não insista, não implore, não alimente relações unilaterais. Antes de tudo, seja amoroso com você. A vida é recíproca com quem se trata bem.

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“Ainda sinto falta.” Amor ou cegueira emocional?

“Ainda sinto falta.” Amor ou cegueira emocional?

Imagem de capa: nd3000/shutterstock

Leio relatos de todo tipo de abuso. Os absurdos que se tolera na convivência entre pessoas perversas e abusadores em geral são os mais variados: agressões verbais, acusações, violência emocional, psicológica e, por vezes, física, abandono, escárnio, rejeição, humilhações, ameaças, falta de suporte moral e financeiro, falta de compreensão, companheirismo, paciência, confiança, além de múltiplas traições.

Muitos chegam a arrancar cada centavo do outro, inventando desculpas para tirar-lhe dinheiro e patrimônio. Ouço histórias de gente que foi envolvida de tal forma a ponto de ter perdido, em tempo record, a casa e todas suas economias, outras que tomaram empréstimos que dão cabo de todo seu salário, envolvidas nas teias manipulatórias que esses tipos sabem tecer tão bem.

Ao pensar em tudo o que se passa quando se está dentro de uma dinâmica abusiva, é realmente surpreendente o que ouço ao final da vasta maioria dos relatos: “Eu ainda amo muito essa pessoa. Sinto sua falta.”

Depois de muito estudar, ler, debater, ouvir e viver esta situação em primeira pessoa, concluo que quem acha que AMA uma pessoa capaz de fazer-lhe tanto mal, na verdade se apaixonou pela ideia de estar apaixonado, se apaixonou pelo ser idealizado do começo e viciou-se nas doses cavalares de atenção despejadas sobre suas cabeças no início e continua “amando” essa ficção.

Talvez isso explique o porquê, mesmo sofrendo de tudo um pouco, ser a descoberta da traição o motivo que mais leva a vítima de abuso a querer romper. Em outras palavras, atinge-se um nível tão alto de cegueira emocional diante do manipulador emocional que tudo é tolerável, menos dividir esse abusador com outro alguém!

No afã de realizar nossos desejos infantis, idealizamos príncipes e princesas e nos apegamos a essa figura criada em nossa mente. Ao falar de alguém que nos submete a abuso e descrever suas ações para conosco, descrevemos alguém por quem seria impossível nutrir qualquer tipo de sentimento bom ou admiração. Descrevemos alguém de quem qualquer pessoa normal iria querer escapar correndo.

Mas ao pensarmos na pessoa que criamos em nossa mente, nos distanciamos da realidade e nos apegamos a alguém que não existe e nunca existiu. Daí, todo e qualquer abuso passa a ser pequeno, tolerável ou “não tão mau assim”, “talvez eu tenha exagerado” ou “foi culpa minha…”

Acontece que perversos são ‘experts’ na arte de fazer a mímica daquilo que desejamos. Conseguem descobrir o que desejamos e assim “imitar” esses comportamentos sendo, no início, são bons ouvintes, muito atentos aos nossos medos, anseios e desejos; um perfeito ombro amigo, alguém com uma sensibilidade que você nunca viu antes, que ouve sua história de vida com admiração, carinho e compaixão.

O que não sabemos, porém, é que quando se trata de gente perversa, esse tempo que gastam prestando atenção em seus alvos nada mais é do que o tempo em que “estudam” suas presas. O objetivo desse “estudo” consciente é:

1. Saber qual papel desempenhar para se tornar amado e importante em pouco tempo.

2. Viciar seu alvo na química cerebral que se produz quando alguém se sente amado verdadeiramente.

3. Juntar informações e dados de sua vida (sim, você se abre completamente) para que possa ter algo para usar contra você, humilhar, traumatizar.

Baseado nessas observações, o bombardeamento de amor acontece de forma massiva, constante e sobretudo RÁPIDA, para manter o alvo distraído e não dar tempo ou abertura ao outro para entender com quem está lidando.

Tudo faz sentido, não?

Faz, muito! Assim sendo, preste muita atenção naquilo que está sentindo agora. Preste atenção nesse “amor” e nessa “falta”. Relembre quem foi ou é essa pessoa durante o relacionamento. Relembre as atrocidades as quais lhe submeteu ou submete. Não deixe que as memórias ruins se apaguem ou se dissociem dessa pessoa que você criou dentro de sua cabeça. Uma existe e é real, está na sua vida e não lhe faz bem. A outra é criação, reflexo daquilo que você DESEJA que ela seja. Preste atenção nisso e responda-se:

É realmente possível sentir amor por alguém que só lhe fez ou faz mal?
Do que exatamente sente falta?
Sabe dar a si mesmo aquilo que dá ao outro e dele espera receber?
Seja honesto em suas respostas e conseguirá dar o primeiro passo para fora desta prisão que chama de AMOR.

“Noia”, tô fora !

“Noia”, tô fora !

Imagem de capa: Paulik/shutterstock

É, de fato, um tanto difícil somente ver o lado bom das coisas e apenas cogitar hipóteses positivas. Mas deixar que o lado negativo prevaleça, que as possibilidades mais sofríveis sejam as mais cogitadas e que os medos virem monstros dentro do nosso coração pode acabar com a nossa alegria, a nossa energia e a nossa lucidez…

Segundo o dicionário Priberan, “noia” “é o mesmo que paranoia”. Esta, por sua vez, é a “designação dada a diversas perturbações psíquicas, geralmente associadas a desconfianças patológicas e erros de interpretação da realidade”, ou, ainda, “falta de juízo = LOUCURA, MALUQUICE”. Sério, tudo isso está no dicionário!

Tá bom, é difícil somente ver o lado bom das coisas, apenas cogitar hipóteses positivas e não permitir que uma pulguinha atrás da orelha vire, vez ou outra, um monte de minhocas na cabeça. Muito difícil, de fato. Mas deixar que o lado negativo prevaleça, que as possibilidades mais sofríveis sejam as mais cogitadas e que os medos virem monstros dentro do nosso peito pode acabar com a alegria, a energia e a lucidez. Nos fazer, pois, “pirar o cabeção”.

Quando vemos, estamos lá pensando que um carocinho nas costas pode ser um câncer. Que, se alguém está atrasado, é porque sofreu um grave acidente. Que, se o chefe esqueceu de dar o “bom dia” habitual, é porque vai nos colocar para rua. E, se o nosso companheiro não foi tão carinhoso ontem à noite, é porque não nos ama mais. Isso certamente não é nada saudável.

É claro que as possibilidades mais horrendas existem. Não há dúvidas de que o futuro é incerto e de que amanhã tudo pode mudar.Todavia, elas são ínfimas perto das probabilidades de o mundo continuar girando ainda por bastante tempo, de vivermos muitos anos, termos a saúde necessária para fazer muitas coisas legais, sempre termos uma mão amiga para nos confortar e nunca deixarmos de ter o mínimo para viver razoavelmente bem…

Ademais, possibilidades fantásticas existem diuturnamente, mesmo que não as percebamos e/ou aproveitemos: levantar da cama e prestigiar o nascer do sol; lembrar que somos amado por alguém, com quem se podemos contar para o que der e vier (1, 10 ou 50 pessoas, não importa); ter um trabalho bacana (ou a possibilidade de se reinventar procurando um novo ofício); conhecer pessoas novas que podem se tornar, em pouco tempo, muito importantes na nossa existência; descobrir lugares fantásticos para visitar por esse mundão afora; ter livre arbítrio para, a hora que desejar, jogar tudo para o alto e dar uma guinada na vida, etc…

Nunca é tarde para se dar conta disso. Sempre é o momento certo de adotar uma postura mais leve e alegre. Por tudo isso, ficar se concentrando nas possibilidades ruins é total perda de tempo e energia. E a vida é curta demais para tudo o que podemos fazer de bom, então imagina se ficarmos, ainda, desperdiçando parte dela para, deliberadamente, nos estressarmos…

Logo, não podemos “entrar na noia”. Temos que nos treinar para, a cada possibilidade de “dar uma piradinha”, nos contermos. Não pensarmos nas piores hipóteses, dar-lhes um “olé” assim que tentarem se manifestar, e nos concentrarmos em outra coisa. Vez ou outra acontecerá, é fato, afinal, somos aprendizes. Mas cada vez menos, se nos esforçarmos.

Vamos dar uma “chega pra lá” para o nosso “anjinho do mal” que fica ao lado do ouvido tentando nos incutir pensamentos que vão nos colocar pra baixo. Ele pode até não ter as piores intenções (tipo, quer apenas “alertar” e tal…), mas não vai adiantar de nada, então, então melhor descartar esses pensamentos de cara. Antes que cresçam, criem raízes e virem uma máquina de fazer sofrer nosso coração.

Precisamos nos convencer, de uma vez por todas, de que não precisamos cogitar possibilidades ruins. Estar ciente disso ou daquilo, definitivamente, não vai facilitar nada caso algo venha a acontecer no futuro. Pelo contrário, nos faz sofrer por antecipação por coisas que, muito provavelmente, nunca venham a ocorrer.

Um bom slogan para se adotar, então, é: “Noia, tô fora”. Temos milhares de outras coisas, pessoas e sentimentos com que gastar nossa energia, nosso tempo e nossas possibilidades.
A nossa saúde mental agradece. E os que estão ao nosso redor também..

Não quero presentes, quero sua presença

Não quero presentes, quero sua presença

Quando estamos nos apaixonando por alguém, conquistando e seduzindo, costumamos nos aproximar com todas as nossas forças, com agrados, alguns mimos, mas, principalmente, com a nossa presença, ficando junto sempre que pudermos, até mesmo mais tempo do que dispomos. Procuramos a pessoa, mandamos mensagens, recadinhos bobos, aparecemos do nada, ou seja, ficamos bem junto de fato.

Infelizmente, com o tempo, após termos já conquistado como certeza quem tanto queríamos, muitos de nós acabamos tomados pelo costume – ah, esse acostumar-se. Talvez o costume seja um dos piores problemas do amor, porque se acostumar, a muitos, implica a diminuição do importar-se, do lembrar-se, do demonstrar, o que leva os relacionamentos ao tédio e ao esfriamento da carga afetiva.

Na verdade, o cotidiano nos impõe um excesso de atividades e de compromissos dispostos em cargas horárias por demais extensas, o que extenua nosso ânimo e lota nossa mente com preocupações e responsabilidades. Preocupados com o que não tem a ver com nossa vida afetiva, deixamos as questões pessoais de lado. Assim, o amor nem acaba encontrando espaço em nossas agendas apertadas.

Por essa razão é que muitos casais acabam se separando, distanciando-se mesmo quando ainda havia amor ali, mas sem demonstrações, sem mensagens, sem mãos dadas, sem o “bom dia” e o “boa noite” com olhos nos olhos. A partir do momento em que a cumplicidade se estremece, o sentimento enfraquece, a confiança diminui, as certezas não mais parecem se sustentar. E, então, mais do que os corpos, as almas se afastam e aos poucos se despedem.

Fato é que não funciona tentar compensar presença afetiva com bens materiais, pois nossa essência não se preenche com nada daquilo que o dinheiro pode comprar. O que prolonga e reaviva o amor é tão somente o estar junto, mesmo que por alguns momentos durante o dia, desde que seja verdadeiro, recíproco e intenso. O amor, afinal, não cobra nada mais do que aquilo que temos dentro de nós, do que é sentido, do que é visto emocionalmente, com os olhos do coração.

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj/shutterstock

A vida conspira a favor de quem sabe pensar no melhor para ela

A vida conspira a favor de quem sabe pensar no melhor para ela

O pensamento é poderoso e tudo que existe hoje ao nosso redor nasceu antes nele. E não só coisas são idealizadas em pensamento, mas situações também. A única questão é que geralmente passamos mais tempo pensando naquilo que não queremos ou não gostamos, do que naquilo que realmente desejamos para nossa vida.

Em 1980, um professor da Universidade de Harvard, Daniel Wegner, iniciou um estudo para entender o que acontecia com as pessoas quando elas tentavam não pensar em algo. Wegner criou até mesmo uma teoria intitulada “Teoria dos processos Irônicos” na qual resumidamente ele chegou à conclusão de que nosso cérebro não compreende bem a negação.

Wegner percebeu que ao tentarmos não pensar em seja-lá-o-que-for acabamos ativando a ideia da própria coisa que existe em nossa cognição. A razão disso é que nosso cérebro associa pensamentos com imagens e o “NÃO” não é captado como uma.

Logo ao não desejarmos algo acabamos caminhando na direção desse algo não desejado. Então se eu pensar: “Não tenho medo” ativo em mim a ideia do medo e não da coragem, como desejei à princípio.

Para bom entendedor meia palavra basta e o nosso cérebro é um ótimo entendedor. Então passamos a trazer, inconscientemente, para nossa vida tudo aquilo que não queremos. Arranjamos o emprego que não sonhamos, o relacionamento que não desejamos, os afazeres que não suportamos e vamos tocando nossa vida carregando nos braços tudo o que não nos apetece.

Quem assistiu à animação “Kung Fu Panda” certamente lembra da cena na qual o ganso mensageiro Zeng vai até a prisão para certificar-se que o antagonista Tai Lung não escaparia e com isso deixa lá uma pena sua, que é usada por Tai Lung para, ironicamente, escapar. A ação para certificar-se que o Leopardo não escaparia, propiciou o contrário. E é assim também conosco.

A boa notícia é que podemos sim mudar nossa forma de pensar com determinação e disposição. E um ótimo ponto de partida para nos ajudar com isso é fazer uma lista das coisas que realmente desejamos em vários aspectos da nossa vida. Tudo bem detalhadinho. Depois disso ficará mais fácil pensar no melhor.

Então, ao invés de pensarmos “Não quero chegar atrasado”. O ideal seria “Quero chegar na hora”. Ao invés de “Não quero um emprego longe de casa”. O ideal seria “Quero um emprego aqui pertinho”. No campo dos relacionamentos também podemos pensar diferente. Ao invés de “Não quero um namorado ciumento” podemos pensar “Quero um namorado compreensivo”. Ao invés de pensarmos “Não quero sofrer mais uma vez em um novo relacionamento” podemos pensar “Quero encontrar alegria e paz em uma nova relação”.

É tentador listar aquilo que não gostamos ou que não queremos em nossa vida, mas é muito importante que a gente coloque em nossa mente, de forma afirmativa, tudo de bom que realmente queremos e merecemos. Se conseguirmos manter esse foco positivo, certamente o Universo e a vida conspirará a nosso favor!

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain.

A fila andou andou

A fila andou andou

Imagem de capa:   mantinov/Shutterstock

A fila andou. Pra você, não pra mim. Pra mim, isso nunca se tratou de fila, sequência. Eu morava em você e acreditava ser também a sua casa. Não havia outros enfileirados. Só você ali. Mas ontem te vi na rua, sorriso aberto, com uma roupa que eu não conhecia e isso também me doeu. A vida andou. Te olhar com um olhar estranho, te ter perto como não sendo meu, aquilo me feriu de um tanto, que pensei que iria enlouquecer.

A fila andou. Soube recentemente, quando me contaram cheio de dedos. Você já estava amando outra vez. Sempre parecerá rápido demais pra mim. Eu ainda nem entendo direito que acabou. A minha autoestima parece ter ido por engano na caixa com as suas poucas coisas. Mas pra você, andou. O amor está logo ali, te tornando novo, te fazendo interessante, te ajudando a esquecer de mim. Ao que parece, a fila ao lado anda sempre mais rápido.

A fila andou. E tudo o que antes te parecia inconcebível, virou rotina. Tudo que eu mendigava, agora farta. Parece que a fila andou pra um lugar melhor pra todos e eu sigo aqui. Eu poderia dizer que fico feliz, que desejo o melhor, que espero mesmo que sejam muito felizes. Mas isso também seria mentir. Eu desejo que você seja pleno, que viva a sua verdade, eu desejo de verdade que você seja feliz, mas jamais que fico feliz por vocês.

Não sou do tipo gentil, superior. Não sou do tipo conformada. Não sou do tipo intelectualizada. Não sou a mulher civilizada, eu sou antiga e anterior. Eu sou primitiva, apavorada, instintiva. Sou unha e carne de amor. Passional, possessiva. Vermelho sangre. Eu não sou do tipo que passa a vida de fila em fila. Prefiro correr por aí, louca, descabida, livre da necessidade de me pendurar imediatamente ao outro. Livre da incoerência de não parecer sozinha, quando isso é realmente tudo o que eu sou. Por aqui, querido, a fila não andou. Sigo na direção que eu quiser.

Façamos a coisa certa. Errar é humano mas não é desculpa.

Façamos a coisa certa. Errar é humano mas não é desculpa.

Imagem de capa:  coka/shutterstock

Eu entendo. Todo mundo erra. Ninguém é perfeito. É direito meu e seu e de todo mundo cometer um engano aqui e outro ali e blablablá. Mas cá entre nós: será que essa desculpa já não anda velhinha demais, não? Coitada, caquética e carcomida, rola por todo canto justificando pequenos, médios e grandes equívocos. O sujeito pisa feio na bola e já se explica: “ahh… errar é humano, né?”.

É, sim. É humano. Tanto quanto é uma bruta sacanagem se esconder em desculpas surradas como essa. Por favor, né? O problema não é o erro. É o cinismo, o descaramento, a desfaçatez. Injustiça deliberada e safadeza de propósito não são erros. São indecências.

Errar é humano mas não é desculpa. Façamos a coisa certa. O mundo não aguenta mais tanto babaca piorando a vida com empenho. Quem tem o mínimo de correção e consciência faz o que é certo e ponto. Ainda que se esforce, que se rale e adoeça, não cai no desvio nem se desculpa na caradura alegando defeito de fábrica. Quando erra, corrige. Se errar de novo, corrige outra vez.

Desculpas não bastam, minha gente. Passou da hora de fazer uma força e acertar mais. Quem vive na defensiva, errando porque quer e se escondendo em justificativas ordinárias é gente sacana. Chega desse negócio.

Sorte nossa é que no mundo, entre sete bilhões de habitantes, ainda há muito mais gente boa do que vigaristas. Acontece que eles, os sacanas, estão cada vez mais à vontade para fazer das suas. Logo, quem é bom tem de se esforçar mais. É urgente ser radicalmente decente. Só assim, quem sabe, a gente equilibra essa balança. Antes que um canalha a quebre e diga com cara de santo que foi sem querer.

Lavador de pratos vira sócio de um dos melhores restaurantes do mundo

Lavador de pratos vira sócio de um dos melhores restaurantes do mundo

Sob o comando de René Redzepi, o dinamarquês Noma é um dos restaurantes mais renomados do mundo. Por quatro vezes esteve em primeiro lugar na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, divulgada anualmente pela revista Restaurant e mostra-se também um exemplo de administração e valorização de seus funcionários.

Ali Sonko, de 62 anos, lavou os pratos do lugar por 14 anos e acaba de se tornar o novo sócio de Redzepi. Sonko é natural da Zambia e cuida da limpeza do estabelecimento desde sua abertura em 2003. Agora ele detém 10% do negócio.

Em 2010, por problemas em seu visto, Ali havia sido proibido de embarcar com a equipe do restaurante para Londres, onde receberiam um prêmio. Na ocasião, os funcionários usaram uma camiseta com seu rosto estampado durante a cerimônia.

“São os melhores colegas de trabalho e sou amigo de todos eles. Mostram-me um enorme respeito e, não importa o que eu diga ou faça, estão sempre lá para mim”, disse ao britânico The Guardian.

Em 2012, quando o Noma venceu novamente, Ali Sonko não só conseguiu comparecer, como foi responsável pelo discurso de agradecimento.

Além de Sonko, dois gerentes foram também promovidos a sócios.

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Ensinamentos do livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, que você deveria levar a sério

Ensinamentos do livro “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, que você deveria levar a sério

O Retrato de Dorian Gray é um dos livros mais incríveis e polêmicos da Literatura Mundial e, acredite, tem motivo em ser. Interessante, real e revelador, o livro permite que leitor tenha momentos de reflexão sobre o comportamento humano, além de pensar no quão superficial a sociedade pode ser.

Com a famosa história de Dorian Gray e os crimes cometidos em nome de sua vaidade exagerada, Oscar Wilde trouxe à tona assuntos importantíssimos sobre o comportamento humano e apresentou a história da corrupção moral por meio de esteticismo. No livro, a beleza é tratada como ponto de partida para toda a maldade de Dorian Gray. Em nome dela, crimes são cometidos, suicídios realizados e traições premeditadas. Sem remorso, culpa ou medo, Dorian Gray só tinha um objetivo: manter-se jovem e belo.

Superficialmente, a história é assustadora. No entanto, quem conhece Oscar Wilde, sabe que a intenção do autor foi muito além dela. O autor tentou passar ensinamentos de ética, moral e princípios, discutidos em forma de diálogos dos seus personagens:

“O apaixonado começa iludindo-se a si próprio e acaba enganando os outros”.

Sejamos realistas, há uma grande verdade nisso. Quando nos apaixonamos vemos qualidade onde não tem, ficamos cegos aos defeitos e projetamos planos sem o aval do outro e, sabe, há até um pouco de saúde nisso. Ferreira Gullar dizia que fantasiar era necessário : “A arte existe porque a vida não basta”. O problema é fantasiar demais e depois entrar em um estado depressivo suicida.

Paixão foi feita para durar dias mesmo. Não dá para focar na pessoa como projeto de vida e esquecer que existe um mundo inteiro lá fora. Entenda que a paixão que dá certo é aquela que vira amor. A que não vira, deve ser breve e não deve deixar vestígios.

Quem não consegue resolver essa questão amorosa dentro de si, fica amargurado e transfere para todos os futuros relacionamentos uma espécie de “vingança amorosa” (como se o atual parceiro, tivesse culpa do que o anterior fez). Parece inacreditável, mas isso é mais comum do que você pode imaginar.

Paixão “mal resolvida” é paixão que não deveria ter acontecido. Então esqueça-a. Passado não é corrigido, não é mutável e não é importante. Então, deixe-o lá e encontre um novo presente.

Há coisas que são preciosas por não durarem”

Sim, isso inclui relacionamentos. A história foi perfeita, teve cenário e até trilha sonora, mas acabou. Sem motivos. Sem sofrimento. Sem explicação. Simples assim!

Algumas histórias não nasceram para durar mesmo. Elas aparecem para fazerem bem por um tempo, para mostrarem que há pessoas incríveis no mundo ou só para provarem que o amor existe mesmo, mas se elas durassem não seria tão perfeito como foi.

Às vezes um “não podemos continuar” é a melhor coisa a se ouvir. Dói na hora, mas protege a alma. Não é porque teve fim que perdeu a beleza. O acaso se faz perfeito imprevisibilidade mesmo.

Só entenda: foi bom, mas não era para ser.

“Um verdadeiro amigo te apunhala pela frente”

Na minha opinião, princípios e bom caráter deveriam ser natos, mas, infelizmente, não é. As pessoas desenvolvem essas qualidades convivendo com pessoas boas, mas as perdem conforme suas intenções de crescer na vida.

Há verdadeiros amigos que dariam a vida pelo outro, da mesma forma que há pessoas tão falsas que levariam o outro à morte sem nenhuma culpa (como acontece no livro em questão).

Um ensinamento explícito do livro é que a vaidade separa as amizades. Note: uma amizade verdadeira é quando um torce pelo outro. Quando o seu sucesso é motivo de comemoração, da mesma forma que a do que outro também é. Mas, quando o contrário acontece, as pessoas tendem a se distanciar e a se odiarem.

Verdadeiros amigos não invejam, torcem para o bem do próximo. Não mentem, aconselham. Não dizem “essa tempestade irá passar”, eles seguram o guarda-chuva e ajudam o outro a passar a tempestade. Quanto aos falsos eles são maliciosos, perigosos e sujos. São capazes de tudo para te destruir e acabar com a autoestima do “amigo” e suas vitórias são motivos de lamentações.

Que sua intuição seja a defesa da sua alma. Teremos inimigos escondidos e invejosos expostos sempre. A vida não é feita só por boas pessoas. Mas saiba diferenciar os bons dos maus, o joio do trigo.  Como dizia Danuza Leão: “já que é inevitável ter inimigos, a coisa melhor do mundo é ter um de verdade: que te odeie com lealdade e sinceridade -sem nenhum fingimento”.

“Existe muitas coisas que nós abandonaríamos se não receássemos que outras pessoas as pegassem”.

Nesse diálogo entre Dorian e seu amigo Basil, o protagonista falava sobre a fidelidade, sobre pessoas que se mantem em relacionamentos por comodismo ou medo de que outro tome “seu posto” no relacionamento.

O ser humano norteia suas atitudes em dois sentimentos: o apego e a rejeição. Opostos, manipulam o comportamento humano como quem controla as rédeas de um cavalo.

Muitas vezes, as pessoas não amam mais e querem terminar, porém, com medo de se arrependerem depois ou de imaginar o parceiro com outra pessoa, permanecem ali estáticos e infelizes. Se entendêssemos que não somos de ninguém, que a fidelidade é natural quando se ama e que temos a obrigação em sermos e fazermos o outro feliz, viveríamos melhor.

Quando a relação chega ao fim é necessário sim partir. E, claro que outras pessoas aparecerão e vocês serão felizes novamente. Qual o problema nisso? Por que esse apego ao que nunca foi seu? Somos donos de coisas materiais, não da vida alheia. Ser feliz e deixar o outro ser é uma questão de maturidade e bom senso. Liberte-se!

Por fim, ainda entre um diálogo entre Dorian Gray e Basil, temos um ensinamento que está mais para um tapa na cara do que para um conselho:  “O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas.”

Sem mais palavras (porque, depois da última citação, eu também fiquei sem), fica a recomendação de leitura ou releitura do livro. Os seus olhos podem enxergar além das letras e você pode aprender coisas que ninguém ensinou…

Imagem de capa: cena do filme “O Retrato de Dorian Gray”, 2009- reprodução

 

Quem gosta de banho-maria é pudim!

Quem gosta de banho-maria é pudim!

Nunca confie em pessoas mais ou menos. Esse povo que sorri amarelo, que fala meias verdades, que adora mandar uma indireta. Gente que só não sabe o que quer quando a coisa não lhe afeta diretamente, para o bem ou para o mal.

Esse negócio de cor neutra, água morna, comida insossa não consegue manter nenhuma pessoa viva entretida por muito tempo.

Cor neutra só se for em parede, caso contrário vai murchando a pessoa. Imagina só passar uma vida inteira usando bege. Ou pior, vestir roupa daquela cor que oscila entre o nude e o café com leite, e ficar parecendo que saiu sem as calças para quem vê assim, meio de relance.

Pense, então, numa vida fadada ao morno… Banho morno, relacionamento morno, café morno… Eu, hein! De repente, a pessoa assume aquele estado de letargia, sai por aí feito um morto–vivo e acha que tudo bem, porque nem se lembra mais o que é a delícia de uma água gelada pra acalmar o fogo da garganta e o aconchego de um café quente para despertar o espírito. Morreu de quê, coitado? Sei lá… parece que se dissolveu por falta de estímulo.

E comida sem gosto? Tipo aquelas gororobas que são servidas no “bandeijão” da faculdade. Tudo tem o mesmo gosto. Tanto faz se é frango, carne ou peixe… tudo é meio cinza e fibroso. Gosto de nada. Chega uma hora que a pessoa nem mastiga mais direito. Pra quê? Comer vira uma obrigação.

Mas nada, nada mesmo, pode ser pior que um relacionamento morno. Durante alguns dias, pode ser até um alento essa calmaria. Nada de conflitos, nada de desafios emocionais, nada de enfrentamento, nada de nada.

Amor morno. Tente repetir isso algumas vezes seguidas. Amormornoamormornoamormorno! Tenha santa paciência! Parece aqueles mantras que a gente aprende na Yoga pra esvaziar a mente.

Amor não foi feito pra esvaziar nada. Amor foi feito pra invadir, isso sim! Invadir a alma da inquietação daqueles que ousam subverter a ordem dos chatos de plantão e se apaixonar até as últimas consequências. Amor sem calor, sem gelo na espinha, sem sabor e sem sobressalto não serve.

Quem gosta de banho-maria é pudim. A gente, que insiste em continuar sendo gente, apesar de toda a força contrária, gosta mesmo é do fogo intenso das coisas lindas que tiram a gente do eixo, ou do arrepio dos ventos inesperados que mudam tudo de lugar.

No mais, que venham as janelas e portas escancaradas, ou o desafio das trancas que escondem o desconhecido, porque pelas frestas só passam as coisas poucas. E de miséria, o mundo já está rigorosamente saturado, não é não?

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Em luta pelo amor”

Não confunda meu silêncio com solidão

Não confunda meu silêncio com solidão

Em tempos de verborragias, muitas vezes vazias e grosseiras, haja vista as redes sociais impregnadas de vozes preconceituosas, violentas e intolerantes, silenciar é tido, muitas vezes, como algo negativo, como se fôssemos obrigados a ter de gritar nossas convicções por aí, a quem quer que seja. Nesse contexto, parece que não se pode, em hipótese alguma, fazer uso do silêncio, o qual somente julgam revelar o quão solitária é a pessoa.

A cultura do status, numa sociedade em que a fama acaba se atrelando a vidas glamorosas, a fotos de corpos malhados, camarões regados a champanhe, festas em iates e noitadas nos camarotes VIPs das baladas mais chiques, realça a necessidade de sair do anonimato. Aliás, para muitos, nada pior do que ser normal, anônimo, previsível. Há que se brilhar, pois o que vale é a quantidade de seguidores e de curtidas que a pessoa recebe. Silêncio não chama curtidas.

Por isso é que se torna comum a confusão entre a quietude e a solidão, uma vez que as pessoas mais introvertidas e reservadas parecem não se encaixar nessa sociedade do espetáculo. Se a pessoa diz que não possui perfil no face ou conta no twitter, todo mundo se espanta, como se estivesse em frente a um ser de outro mundo, e logo se levantam julgamentos acerca dessa pessoa, que passa a ser tachada, por muitos, como alguém solitário, antissocial e esquisito.

Na verdade, nem todo mundo gosta de se expor, nem todo mundo tem facilidade para conversar sobre qualquer coisa com qualquer um, nem todo mundo necessita de um milhão de amigos, porque simplesmente nem todo mundo pensa igual – felizmente. Ser quieto, introvertido e comedido não significa necessariamente ser sozinho, solitário, mas pode apenas se tratar de exigência, escolha, de não se contentar com qualquer um, com qualquer coisa.

Caso não esteja nos fazendo mal ou atrapalhando a nossa vida, mantermos o silêncio poderá nos ajudar a guardar nossos tesouros, para somente compartilharmos o nosso melhor com quem realmente merecer, com quem poderemos ser verdadeiros e transparentes, sem medo, sem termos de volta, distorcidamente, o que tivermos oferecido. Solidão, ao contrário do que muitos pensam, não tem a ver com a quantidade de pessoas que conhecemos, mas com o tanto de reciprocidade que faz parte de quem está junto de nós.

Imagem de capa: coka/shutterstock

Quando arrepender-se é a melhor alternativa

Quando arrepender-se é a melhor alternativa

Arrependimento não é necessariamente ruim. É uma sensação que não desce bem, mas, ao mesmo tempo, uma prova inegável de aprendizado. Quem se arrepende, pensou melhor, aprendeu, ponderou, viu ou ouviu alguma razão.

A vida está aí para isso. Para irmos para frente, e voltarmos se for melhor. Um passo atrás para evitar queda maior. Arrepender-se é tomar para si a responsabilidade de algo que não bateu tão bem assim, voltar atrás e escolher outro caminho.

E, por mais que a culpa espreite os arrependidos, não há muito espaço para ela quando se trata de mudança de atitude. O direito de mudar de opinião, caminho, certeza, promessa, o que seja, é para qualquer um de nós.

Vamos desapontar e aborrecer muita gente, mas não há justificativa no mundo que nos obrigue a viver desapontados e aborrecidos somente por não poder bancar um arrependimento.

Haverá prejuízos? Sim. Rompimentos? Também. Descrédito? Certamente.
Mas nada será tão libertador quanto o poder de escolher. E na vida, quando escolhemos errado, – e fazemos isso milhares de vezes – precisamos de uma alternativa para voltar aos sonhos e esperanças, mesmo que seja em forma de arrependimento.

Que nunca seja uma desculpa para cometer insanidades. Que não seja instrumento para magoar nem desiludir. Que jamais seja garantia de isenção de responsabilidade.

Mas que seja uma alternativa, sempre que uma decisão tomada esteja fazendo sofrer, amargando a vida, criando feridas.

Pessoa de palavra não é a que jamais volta atrás. Palavra boa é a que sai com verdade, com coragem, respeito e consistência, apesar de todas as consequências.

Vamos lutando para que os arrependimentos seja menores do que as boas escolhas, mas com consciência de que os erros são excelentes e contundentes professores.

Arrepender-se é uma opção. Fica a dica.

Teste de som

Teste de som

Imagem de capa:  pathdoc/shutterstock

Nenhuma mulher é uma ilha. Somos continentes. Também é certo que cada serzinho vivo ou morto é único. Não há duas folhas de antúrio iguais, nem duas ondas idênticas no mar. Eis o mistério da individualidade. Mas tem um negócio chamado socialização – um caldo de fervura que atinge a todos que compartilham uma mesma época.

Mulheres e homens são socializados de formas diferentes. A tradição vai distribuindo os papéis e espera que a gente corresponda a eles. Seja no palco, seja na plateia. Da infância à velhice. É claro que dá para rasgar o script. Muita gente faz isso todos os dias e o tempo todo. Mas precisa ter coragem.

Nessa divisão de atribuições ficou estabelecido que os homens cuidam do espaço público e as mulheres do privado. Não estou inventando, basta observar. Com as raras e honrosas exceções, falar em público trava a língua da maioria das mulheres. Motivo de temor.

Lembro com detalhes de trauma a primeira vez que participei como palestrante em uma mesa. Foi no auditório de uma unidade do Senac em Sampa. Eu estava com meus 35 anos. Aconteceu que minha boca secou e a voz saiu trêmula. Os colegas homens, ao meu lado, falavam com fluência de água de cachoeira.

Verdade que o tempo – ah, esse grande mestre – foi corrigindo o meu temor. O tempo mais minha teimosia herdada da ascendência cearense. Fui aprendendo que eu tinha o direito de falar em público. Quando você entende que tem um direito, vai em frente tal burro desembestado. Destrava as amarras impostas pela tradição.

Em vários momentos da minha vida, ouvi alguns homens dizendo que as mulheres falam demais. O que concordo. Mas reparem que mulheres soltam o verbo na sala, no quarto, na cozinha. Basta pôr um microfone na frente que tudo muda. Saltamos da verve doméstica para a timidez discursiva.

Pois, em geral, não fomos treinadas para a esfera pública. Está duvidando? Então atente: no Senado Federal há 13 mulheres para 68 homens. Na Câmara Federal são 462 deputados e 51 deputadas. Essa magérrima contagem é recente. Por longos anos a representatividade feminina foi próxima de 0. Os números são frios e até chatos, mas não mentem.

Já as mulheres velhas falam dentro da cozinha e fora delas. Rugas escorrem pelo rosto, mas também são visas no passaporte para viagens ousadas. Vamos ficando menos bobinhas. Já sabemos que podemos rasgar papéis que nos escondem. No entardecer, muitas deixam de ser canoas transportando a vida dos outros. Ficam bem mais para oceanos.

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