Chutar o balde, todo mundo chuta. Difícil é pegar a vassoura e ajudar na casa.

Chutar o balde, todo mundo chuta. Difícil é pegar a vassoura e ajudar na casa.

Imagem de capa: Bignai/shutterstock

É difícil, sim. Oferecer ajuda de verdade, pensar junto, fazer pelo outro mais do que apenas criticá-lo é tarefa dura, trabalho pesado. Em pleno século 21, tem gente achando bonito ser truculento, mal educado e inconveniente em nome de um pretenso e duvidoso desejo de ajudar.

Você sabe como é fácil chutar o balde, né? Vê quanta gente assanhada pra ver o circo pegar fogo? É tanta boa intenção infernizando a vida alheia, tanto bom-mocismo apontando o dedo, plantando cizânia e puxando o tapete, tanto vigarista disfarçado de salvador da humanidade que os canalhas deviam se preocupar: eles estão perdendo mercado.

Do nada, toma forma na sua frente um sujeito qualquer e anuncia: “agora eu vou chutar o balde”. E dá-lhe esculhambação, clichês medonhos, chavões idiotas em nome da moral e dos bons costumes. Dá-lhe hipocrisia cuspida em nossa cara por alguém que se acha perfeito e não tem o menor pudor em julgar quem quer que seja.

Cá entre nós, chutar o balde todo mundo chuta. Duro é passar a mão numa vassoura e ajudar na limpeza da casa. Apontar o dedo é fácil. Estender a mão é que são outras.

A questão é: quem tem tanto tempo para cobrar qualquer coisa dos outros bem podia gastar um minuto ou dois pensando no que fazer para mudar o que acredita estar errado. Fazer e não cobrar somente. Realizar e não tagarelar. Corrigir e não julgar. Dar o exemplo e não um pontapé no balde.

Quem fala sem ouvir e age sem pensar mais atrapalha do que ajuda. Chutar o balde e sair andando, sem a menor disposição de arrumar a bagunça que vai deixar na casa alheia não é ser voluntarioso nem comprometido. É ser um canalha em pele de gente boa.

Não permita que ninguém lhe diga que você não vai conseguir

Não permita que ninguém lhe diga que você não vai conseguir

Todos temos nossas opiniões sobre aqueles com quem convivemos, pois o dia-a-dia nos aproxima das pessoas e acabamos as conhecendo cada vez mais. E, embora essa proximidade nos permita aconselhá-las e opinar sobre suas vidas, não poderemos, em hipótese alguma, determinar-lhes o futuro, como se fôssemos deuses ou videntes, uma vez que por muitos nossas palavras serão ouvidas e levadas em conta.

Pessoas são incríveis, surpreendem, são capazes de superar o que jamais imaginaríamos, de chegar a lugares que pensávamos serem inalcançáveis, de agirem de forma totalmente inesperada. Isso porque ninguém tem a noção exata do tanto que possui dentro de si, da real potencialidade que carrega, do quanto suas ações podem salvar a si mesmo e aos demais.

Costumamos nos julgar bem abaixo do que na verdade estamos, duvidando de nós mesmos, temendo o erro, o fracasso, fugindo aos possíveis nãos que poderemos ouvir vida afora. Por essa razão, ninguém precisa nos desestimular, dizendo que aquilo não é para nós, que não conseguiremos obter certas coisas, ou que jamais seremos felizes se fizermos esse ou aquele outro. Nós mesmos já temos a tendência a diminuir o alcance de nossa imensidão.

Não podemos permitir que o medo, a dúvida e a autoestima frágil se tornem obstáculos ao nosso caminhar seguro, à firmeza de nossas convicções e de nossos sonhos, mesmo os mais altos. Da mesma forma, não devemos dar ouvidos às palavras de desânimo, à negatividade circundante, ao descrédito que o outro tenta nos incutir. Caso haja chances, por ínfimas que sejam, de acontecer, sigamos em frente, a despeito de toda torcida contrária que tivermos de enfrentar nesse percurso.

Ninguém tem o direito de dizer ao outro que ele não irá conseguir isso ou aquilo, porque ninguém tem o direito de determinar o destino de vidas que não são suas. Quem deve saber aquilo de que somos capazes, com propriedade, somos nós mesmos, ou seja, não podemos achatar nada aqui de dentro por conta de palpites alheios. Porque, como já se disse, somos do tamanho de nossos sonhos e sonhos não têm limites, assim como nós.

Imagem de capa: Dmitry A/shutterstock

Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada

Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada

Se você vive procurando por aí encontrar a pessoa certa, lamento, não vai acontecer. Porque não há alguém esperando por você, do jeitinho que quer, com todas as qualidades fantasiosas saídas da mais bela história de amor. Mas existe sim, alguém que você possa confiar e entregar os seus melhores sentimentos, resultando assim em permitir-se algo verdadeiro, algo inesquecível.

Passar a vida esbarrando em afetos baratos, não é amor. Quantas vezes você jurou ter dado de cara com a pessoa certa? Depois de um tempo, depois de conhecer melhor quem está do seu lado, veio a decepção. A quebra dolorosa das expectativas que nutriu, durante tantos carinhos trocados. Então, como quem saltou do alto de um prédio, você assume a clássica postura do “fechado para balanço”. Desculpe, mas nada disso precisa ser essa sofrência made in novela mexicana. O problema é que você passa tempo demais achando muito e vivendo pouco. Quando o coração é partido uma vez, você o ignora. Acha que sabe o suficiente para cair de cabeça no próximo amor de verão em vez de tomar as rédeas e não passar pelos mesmos términos, novamente.

Te contaram uma mentira e você caiu direitinho. Não existe a pessoa certa. Mas existe a pessoa que você sabe que não é a errada. Sabe como? Porque é a pessoa que não te deixa por menos. Porque é a pessoa que está mais preocupada em entender e respeitar você do que sobrecarregar e diminuir tudo o que você trouxe de bom. Ela não apara verdades em benefício próprio. Ela não finge felicidades para evitar silêncios.

Qualquer outra variação disso, sinto em dizer, mas é a pessoa errada.

Imagem de capa: Lullaby for Pi (2010) – Dir. Benoît Philippon

14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologia

14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologia

O cinema se debruçou com maestria sobre transtornos mentais para compor suas películas. Existe hoje uma lista quase infinita de filmes que tratam deles, no entanto, escolhi mostrar aqui apenas filmes baseados em fatos reais, cujos personagens de carne e osso, tiveram suas vidas marcadas por transtornos psicológicos. Alguns filmes estão disponíveis na Netflix, outros na internet, mas absolutamente todos são imperdíveis para quem se interessa por psicologia, psiquiatria e psicanálise.

1 – Amadeus (1984) / Transtorno Bipolar

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaApós tentar acabar com a própria vida, Antonio Salieri resolve confessar a um padre que foi o responsável pela morte do gênio Wolfgang Amadeus Mozart, contando em detalhes como conheceu, conviveu e lentamente viu crescer seu ódio pelo jovem criativo que, segundo ele, compunha como se sua música tivesse sido abençoada pelo próprio Deus. Baseado na peça de Peter Shaffer e com o roteiro escrito pelo próprio Shaffer, “Amadeus” nos conta a vida de Mozart sob o ponto de vista de Salieri, um compositor de talento que jamais conseguiu se igualar à genialidade de Mozart. Nesse filme é possível notar em várias cenas que Mozart tinha o que hoje os psiquiatras chamam de Transtorno Bipolar.

2 – Gia – Fama e Destruição (1998) / Personalidade Borderline

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaQuando Gia Carangi (Angelina Jolie) chegou a Nova York pela primeira vez, ela era apenas mais um rosto bonito em busca do sonho de se tornar modelo. A personalidade eletrizante e a potente de Gia rapidamente a colocaram no caminho das capas das revistas mais caras. Mas ser amada pelo mundo não foi suficiente para impedir que o desejo de Gia a levasse a lugares perigosos. Gia Carangi provavelmente era vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline), não diagnosticado na época. Filme ótimo com atuação maravilhosa de Angelina Jolie.

3 – Garota Interrompida (1999) / Personalidade Borderline e Sociopatia

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Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen foi diagnosticada como vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline). Enviada para um hospital psiquiátrico, onde viveu nos dois anos seguintes, ela conhece um novo mundo, de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa Rowe, uma charmosa sociopata que organiza uma fuga com Susanna, Georgina e Polly, com o intuito de retomarem suas vidas. O filme foi baseado no livro biográfico, de mesmo título, escrito por Susanna no qual ela relata suas experiências em um hospital psiquiátrico na década de 60.

4 – Iris (2001) / Alzheimer

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme conta a história de amor entre a novelista e filósofa Iris Murdoch e seu marido, o professor de Oxford John Bayley, narrada em duas épocas distintas: na juventude, quando se conheceram, e na velhice, quando Iris sofre do mal de Alzheimer. Nesse filme a frase “até que a morte os separe” é levada a sério pelos protagonistas que se amam de forma irrestrita nos dias bons e nos dias mais difíceis.

5 – Uma mente brilhante (2001) / Esquizofrenia

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaJohn Nash é um matemático prolífico com uma carreira acadêmica respeitável. Nash resolveu na década de 1950 um problema relacionado à teoria dos jogos, o que lhe garantiu grande prestígio. No entanto, ao ser chamado para fazer um trabalho de criptografia para o Governo dos Estados Unidos, Nash passa a ser atormentado por delírios e alucinações. Diagnosticado como esquizofrênico, e após várias internações, ele precisará usar toda a sua racionalidade para distinguir o real do imaginário. Filme imperdível baseado na biografia de John Nash escrita por Sylvia Nasar.

6 – As horas (2001) / Depressão

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme é um tratado sobre a depressão. Virginia Woolf está paralisada como escritora em toda a ação do filme. Já a personagem vivida por Julianne Moore, a americana típica dos anos 50, tem uma família comum, uma vida comum, tudo em um cenário neutro, sem conflitos, e vive mergulhada em uma depressão que parece contraditória à felicidade vendida pelo “american way of life”. E por fim vemos no filme a belíssima Meryl Streep como uma descolada mulher nova-iorquina que tem uma companheira compreensiva, uma filha adorável e um antigo amor à beira da morte e que também sofre de depressão. Dentre outras coisas, o filme é extremamente feliz ao mostrar como o entendimento da depressão modificou-se com o passar dos anos.

7 – Prenda-me se for capaz (2003) / Transtorno de personalidade antissocial (sociopatia)

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaFrank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) já foi médico, advogado e co-piloto, tudo isso com apenas 18 anos. Mestre na arte do disfarce, ele aproveita suas habilidades para viver a vida como quer e praticar golpes milionários, que fazem com que se torne o maior ladrão de banco da história dos Estados Unidos com apenas 17 anos. Mas em seu encalço está o agente do FBI Carl Hanratty (Tom Hanks), que usa todos os meios que tem para encontrá-lo e capturá-lo. Atualmente Frank William Abagnale Jr. preside a Abagnale and Associates, uma empresa de consultoria contra fraudes financeiras. O filme foi baseado em uma biografia sua não autorizada. O comportamento de Frank nos leva a crer que ele sofre de Transtorno de personalidade antissocial (sociopatia).

8 – Jornada da alma (2003) / Transtorno de personalidade histriônica

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Em 1905 Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa de 19 anos que sofre de histeria (transtorno de personalidade histriônica), recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Iain Glen), aproveita o caso para aplicar pela primeira vez as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos ela volta à Rússia, tornando-se também psicanalista e montando a primeira creche que usa noções de psicanálise para crianças. Décadas após sua morte, ela tem sua trajetória resgatada por dois pesquisadores.

9 – Loucos de amor (2005) / Síndrome de Asperger

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaDonald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger. Donald trabalha como motorista de táxi, adora os pássaros e tem uma incomum habilidade em lidar com números. Ele gosta e precisa seguir um padrão em sua vida, para que possa levá-la de forma normal. Entretanto ao conhecer Isabelle, em seu grupo de ajuda, tudo muda em sua vida, pois ele se apaixona por ela. O filme foi inspirado na vida real do casal Jerry Newport e Mary Meinel (agora Mary Newport).

10 – O aviador (2005) / TOC – Hipocondria

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaHoward Hughes (Leonardo DiCaprio) ficou milionário já aos 18 anos, devido à herança que seu pai, um inventor texano, deixou para ele. Pouco depois se mudou para Los Angeles, onde passou a investir na indústria do cinema. Hughes ajudou a carreira de vários astros, como Jean Harlow, e ainda trabalhou em filmes de grande sucesso, como “Hell’s Angels”, o qual dirigiu. Paralelamente se dedicou a uma de suas maiores paixões, a aviação, e se envolveu com atrizes como Katharine Hepburn e Ava Gardner. DiCaprio dá a Howard Hughes um tom perfeito, extremamente cuidadoso nos pequenos detalhes, principalmente em suas crises hipocondríacas. A cena em um banheiro, por exemplo, onde lava as mãos com seu próprio sabonete, usa uma tolha limpa e fica esperando que alguém abra a porta para sair sem tocar na maçaneta é impressionante.

11 – Sybil (2007) / Transtorno de múltiplas personalidades

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaNesse filme Sybil é uma estudante da universidade de Columbia que sofre de transtorno dissociativo de identidade. A psiquiatra Cornelia Wilbur é a encarregada do caso da jovem e durante o tratamento descobre várias situações abusivas sofridas por sua paciente no passado. Sybil é um filme baseado no livro de 1973, de mesmo nome, escrito por Flora Rheta Schreiber no qual é contada a história de Shirley Ardell Mason, nascida em 1923 no estado de Minnesota. Sua história é o mais famoso caso de personalidade múltipla já registrado.

12 – Temple Grandin (2010) / Síndrome de Asperger

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEsse filme é uma cinebiografia da jovem autista Temple Grandin (Claire Danes). Ela tinha uma maneira particular de ver o mundo, o que a fez se distanciar das pessoas, mas isso não a impediu de conseguir, dentre outras coisas, seu doutorado. Com uma percepção de vida totalmente diferenciada, dedicou-se aos animais e revolucionou os métodos de manejo do gado com técnicas que surpreenderam experientes criadores. O filme é uma lição de vida e a atriz Claire Danes está sensacional nele.

13 – Sete dias com Marilyn (2010) / Personalidade Borderline

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaEm 1956 quando Arthur Miller, o novo marido de Marilyn, deixa a Inglaterra, Colin (Eddie Redmayne), um auxiliar de estúdio, decide mostrar a ela os prazeres da vida britânica. Essa torna-se uma semana idílica na qual Colin convive com uma grande estrela ansiosa para fugir dos holofotes de Hollywood. A protagonista que vemos no filme (Michelle Williams) é tão linda, quanto insegura e volátil. Assim era Marilyn na vida real. Muito da vida de Marilyn nos leva a crer que ela era vítima de Transtorno de Personalidade Limítrofe (ou Borderline), algo evidente no filme.

14 – Sentimentos que curam (2015) / Transtorno Bipolar

contioutra.com - 14 filmes reais absolutamente imperdíveis para amantes de psicologiaA história gira em torno do casal formado por Ruffalo e Zoe Saldana, que teve duas filhas apesar do fato dele ser maníaco-depressivo desde jovem. Esse é um filme autobiográfico. A diretora Maya Forbes se baseou na história real de seu pai, Donald Cameron Forbes, para escrever o filme no qual é interpretada pela própria filha na vida real. Maya quis fazer um retrato afetuoso do pai e conseguiu. No filme vemos a história de um homem com transtornos psicológicos que é salvo pelo amor. O efeito colateral dessa abordagem pode estar na visão demasiadamente romantizada da bipolaridade, mas o filme vale muito a pena.

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Oliver Sacks e a verdade por trás do filme Tempo de Despertar

Oliver Sacks e a verdade por trás do filme Tempo de Despertar

Em 1966 o neurologista Oliver Sacks foi contratado pelo Hospital Psiquiátrico Mount Carmel, nos EUA. Nesse hospital ele teve contato com um grupo de pacientes que por muitos anos se encontrava em estado catatônico. Ao contrário da enormidade de médicos que fogem de hospitais psiquiátricos, Sacks conseguiu enxergar nesse ambiente um local rico para o aprendizado da natureza mental humana e, dotado de imensa empatia, enxergou esses pacientes de uma forma mais ampla: apesar de inertes, pareciam dotados de uma inteligência velada, como se estivessem aprisionados em um corpo apático.

Antes catalogados como doentes mentais cujas habilidades estavam irremediavelmente comprometidas, o neurologista conseguiu encontrar um ponto comum em muitos deles: tinham sido vítimas de uma epidemia pós-guerra, que matara muitos e paralisara tantos outros.

Citando um pouco o fator histórico para que entendamos melhor essa estranha enfermidade, no final da primeira guerra mundial se alastrou pela Europa e EUA uma epidemia de encefalite letárgica, conhecida como “doença do sono”. Ninguém nunca soube precisar ao certo a origem da doença, provavelmente um vírus, e como se alastrou, contudo, muitos pacientes apresentaram no momento do contágio sintomas diversos acompanhados de muita sonolência, e posteriormente, muitas vezes anos após esses primeiros sintomas e tendo vivido uma vida normal dentro desse período, perderam as funções de forma a ficarem catatônicos, como se estivessem em sono profundo.

Muitos sobreviventes dessa epidemia foram colocados em hospitais psiquiátricos e por lá ficaram por décadas, como seres esquecidos, que precisavam apenas de água e comida.

No ano de 1969, quando a Levadopa, uma droga experimental, passou a ser um pouco mais em conta, Sacks e sua equipe passou a ministrá-la a esse grupo de pacientes. Paralisados desde a década de 20 (ou até mesmo antes) e, em grande parte, tendo sido atingidos pela moléstia ainda na juventude, muitos voltaram à vida de súbito, como se estivessem apenas adormecidos.

Extremamente rígidos e enervados, sentados em cadeiras de roda por décadas, após a medicação, muitos foram encontrados de pé, andando por seus quartos, sem qualquer fadiga muscular. Tinham voltado à vida quase que milagrosamente.

Em um trecho do livro “Tempo de Despertar” escrito por Sacks em 1973 ele relata que quando chegou ao hospital, ao visitar uma ala, uma enfermeira que trabalhava no hospital há trinta anos lhe confidenciou algo sobre uma paciente: “É incrível, essa mulher não envelheceu um único dia nos trinta anos que a conheço. O resto de nós envelhece – mas Rose é a mesma”. Aos 61 anos, parecia trinta anos mais nova. E era assim com grande parte dos pacientes acometidos por esse mal.

O livro “Tempo de Despertar” escrito pelo neurologista é bastante denso e minucioso. Sacks aponta nele, dentre outras coisas, que, estranhamente, muitos parentes de pacientes ficaram desgostosos com a melhora dos enfermos. Isso aconteceu, por exemplo, com a mãe do paciente Leonard L. Ela viu os pensamentos de Leonard migrarem para outras mulheres e isso lhe conferiu um extremo ressentimento.

Leonard foi para Sacks o paciente mais brilhante. Mesmo já acometido pela letargia conseguiu se formar em Harvard, quando tornou-se impossibilitado. Contudo amante da leitura o fazia mesmo em estado de paralisia. Conseguia se comunicar através de um tabuleiro e foi capaz de expressar com maior precisão como era viver naquele estado de torpor.

Quando despertado ficou maravilhado com o mundo, caminhando pelos jardins do hospital, cheirando rosas e acariciando suas pétalas.

Infelizmente a Levadopa com o tempo foi perdendo gradativamente a eficácia e não mais apresentou os efeitos significativos, quase milagrosos, vistos em 1969. Em alguns casos ela teve que deixar de ser ministrada por causa dos efeitos colaterais, em outros continuou a ser tomada, contudo sem o mesmo efeito.

Durante os relatos de Sacks fica muito claro que fatores emocionais, ou seja, relações humanas foram cruciais para determinar o maior ou menor sucesso da medicação nos pacientes. Muitos se agarraram ternamente aos que lhes eram queridos: pais, irmãos e filhos. Outros se entregaram desalentados ao perceberem que não tinha restado ninguém.

As relações humanas foram o bote salva-vidas que determinou a vitória de muitos frente a essa doença tão singular. Talvez seja pela razão de que após décadas de sono seja valiosa a lembrança de um outro sobre o melhor de nós.

O livro de Sacks foi um sucesso e inspirado nele foram escritas inúmeras peças de teatro (e de rádio também) e em 1990 um filme com o mesmo nome do livro “Tempo de Despertar” foi lançado tendo Robert de Niro como Leonard L. e Robin Williams como Dr. Sacks.

O livro e o filme são inspiradores e bastante reflexivos. No filme há muito de uma lição moral sobre aproveitar a vida e enxergar nela a beleza que muitas vezes se perde frente às dificuldades.

Já o livro acaba passando uma mensagem semelhante, ao nos mostrar como somos fortes ao lutar por nós quando temos uma razão para isso. Nele também fica evidente como são determinantes os vínculos verdadeiros que nos envolvem com ternura.

Oliver Sacks faleceu em agosto 2015 aos 82 anos, vitimado por um câncer. Durante o período em que estava já consciente de seu delicado estado de saúde, escreveu um último livro, o “Gratidão”, no qual nos faz refletir, ainda uma vez, sobre a importância da vida.

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Confia em quem vê a tristeza por trás do seu sorriso

Confia em quem vê a tristeza por trás do seu sorriso

Não está fácil mantermos a confiança nas pessoas, ultimamente, sei lá, parece que os valores estão de ponta cabeça, bagunçados, e acabam bagunçando os princípios, a lealdade, a cumplicidade. Um amigo pode vir a decepcionar a gente em troca de um churrasco num sítio com piscina, por exemplo. E quem ainda se mantém fiel às próprias convicções de parceria afetiva costuma dar com a cara contra o muro.

Pessoas que achamos conhecer bem agem, de repente, de uma maneira totalmente oposta ao que esperávamos. Quem mora conosco, num belo dia, comporta-se como alguém que não conhecemos, como alguém por quem jamais nos apaixonaríamos. No trabalho, colegas nos difamam pelas costas; na mesa do bar, brindamos com quem nos critica veladamente. E a gente vai pisando em ovos, tateando no escuro, porque quase ninguém mais parece ser o que na verdade é.

Difícil, nesse contexto arenoso, compartilharmos verdades de uma forma transparente, na certeza de que o retorno será certo e na mesma medida. Difícil encontrar terrenos serenos onde aninhar nossos medos com segurança. Raro podermos dividir nosso melhor e nosso pior com quem jamais teria a indecência de usar algo daquilo contra nós mesmos. Por isso há tanto nó na garganta, tanta pressão no peito, tanta dor de estômago, tantas lágrimas no escuro, acumulados que ficam os sentimentos dentro de nós.

Mas a verdade é que ninguém sobrevive sem ter alguém em quem confiar, alguém com quem dividir dor e contentamento, porque ninguém é capaz de carregar sozinho por muito tempo tudo o que cabe dentro de si. Sentimentos não aceitam serem guardados, não conseguem adormecer sem se espalhar por aí. A gente precisa dividir nosso mundo, para que aquilo que for bom alcance mais pessoas e o que não for seja superado e deixado para trás.

O bom dessa vida é que ela sempre nos presenteará com encontros especiais, com pessoas que nos iluminarão os caminhos, ajudando, aconselhando, apoiando, escutando o que dissermos com interesse e nos amando de volta sem ressalvas. E será junto a elas que poderemos ser transparentes, sem julgamentos, e será junto a elas que nossos dias se tornarão mais felizes e leves, porque elas entenderão cada nuance que se esconde em nosso olhar, impedindo-nos de afundar, de desistir. Haverá alguém em quem poderemos confiar e gratidão é o que sempre alimentará essa troca mágica de energia positiva.

Imagem de capa: Kotin/shutterstock

Há quem queira nos roubar a luz por ter medo da própria escuridão!

Há quem queira nos roubar a luz por ter medo da própria escuridão!

Ao contrário do que possa parecer, ter um propósito de vida não é para qualquer um. É preciso coragem para mirar alguma coisa ainda intangível e despender todos os esforços num processo de longo prazo para alcançá-la.

Haverá obstáculos, incertezas, desafios. Mais incertezas, e obstáculos, e desafios. Haverá o risco de não dar em nada. Haverá o risco do plano se concretizar e a gente chegar à conclusão que não era bem isso que queria.

Haverá aqueles que privarão da nossa convivência e não torcerão por nós, posto que se habituaram a toda uma existência perseguindo a própria sombra, igual aqueles cachorrinhos que correm atrás do próprio rabo.

Ou pior! Haverá quem desperdice sua própria história a cobiçar a nossa. Alguns desses, inclusive, desenvolvem uma espécie de obsessão pelo que é nosso. E tanto faz o que seja, se a gente tem, quer ter também, se a gente faz, quer fazer também.

São dublês da vida real, só que sem correr riscos. Esperam que a gente tente, experimente e se arrisque. Ficam sentadinhos assistindo o desenrolar das nossas aventuras e desventuras. E só desejam para si o que deu certo, o que vingou, o que gerou lucro, notoriedade e sucesso.

São os puxadores de tapete profissionais que, por medo, insegurança ou incompetência, roubam ideias, planos e sonhos dos mais desavisados.

São fracos de caráter e,exatamente por isso, usam da força ou de engenhosas artimanhas para subtrair daqueles que não temem os desafios, suas conquistas.

A boa notícia é que, como se diz por aí “ninguém engana todo mundo por muito tempo”. Até porque, de nada adianta roubar projetos alheios e não ter competência para mantê-los de pé.

A má notícia é que às vezes a gente leva algum tempo para sacar que o outro tem planos escusos a nosso respeito. Às vezes a gente custa a crer que pode haver péssimas intenções por trás de uma suposta amizade. Às vezes, o outro tenta roubar a nossa luz, por ter medo da própria escuridão.

O fato é que “lugares escuros” temos todos nós. E isso já é o bastante para nos deixar espertos acerca de nossas possibilidades e limitações.

Sendo assim, só posso desejar que esses vampiros de energia criativa, amorosa e produtiva tratem de aprender a dar conta de seus próprios buracos. E, se não for pedir demais, que desapareçam dentro deles.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Mulher solteira procura”

 

Tédio! Preciso urgentemente fazer planos!

Tédio! Preciso urgentemente fazer planos!

Imagem de capa:  racorn/shutterstock

A gente trava uma baita luta com as questões da vida, tentando estabelecer uma rotina tranquila, segura, independente… Não é desafio fácil, a todo instante surgem complicações e situações que roubam o tempo planejado para relaxar e se espreguiçar.

Mas, depois de uma avalanche de antecipações e providências, um dia a gente até consegue dominar a tal rotina, pelo menos por um tempo, como prêmio à fiel dedicação.

E então nos sentimos donos do mundo e de todos os relógios que possam existir. O tempo passa a ser obediente e a vida prossegue no passinho cadenciado que lutamos para conquistar.

Sem nos darmos conta, seguimos, e, em algum momento, a orquestra parece destoar, se arrastar, desafinar. É o tédio se aproximando, se arrastando pelo chão, pelas paredes, pela boa e saudável disposição que até então se mantinha presente.

O tédio não chega somente quando temos tempo sobrando. Nem também quando não problemas ou questões urgentes a resolver.

O tédio aparece quando a vida está despida de emoção. E ele nos cobre como uma capa impermeável, pesada, inviolável.

Sentir tédio é sentir uma paralisia de vontade, um congelamento de desejos, um tanto faz pernicioso e indiferente.

Tédio chama mau humor. E mau humor faz a gente ver tudo embaçado. A rotina vira tortura, o tempo se arrasta, até a chuva pela janela, incomoda.

E a gente demora um tempo para entender o que acontece. Na verdade, tudo parece normal. Não fossem uns fracos sinais de alerta, o tédio poderia tomar conta e dormir satisfeito, de conchinha, conosco.

Mandá-lo embora, uma dura missão. Desfazer a rotina perfeita, o sonho perseguido, a segurança do dia dominado, das horas domesticadas e muito bem mandadas. Para uma pessoa que gosta de controlar, quase um ultraje.

Mas, por sobrevivência, chega a hora de fazer novos planos, bagunçar o certo, convidar o incerto, sair à caça de novas emoções, sensações e até algumas confusões. Faz parte do pacote.

Um conselho: organização é uma delícia. Mas de vez em quando, o melhor a fazer é desorganizar a coisa toda, para recomeçar contando com aquele friozinho na barriga de novo!

A ruína é o caminho que leva à transformação

A ruína é o caminho que leva à transformação

Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock

O caos não é algo a ser temido, porque ele é a nossa alma dizendo para onde quer ir. Da mesma forma que a ruína não é o fim de tudo, mas antes, uma estrada que se abre para o novo, ou se preferirem: o caminho que leva à transformação.

Nietzsche diz que “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”. Apesar de muito bonito, sabemos que isso na grande maioria das vezes não acontece de modo tão fácil. Por sermos falíveis e finitos, sentimos muita dificuldade em ter uma compreensão mais ampla da vida, entendendo-a como uma sucessão de acontecimentos e ciclos que de alguma forma nos leva ao que somos. E, assim, acabamos por nos afastar ainda mais do nosso eu e, consequentemente, da possibilidade de uma vida feliz e em sintonia com o universo.

Dessa maneira, ao estarmos envolvidos em um problema, ou mais precisamente, em um período ruim das nossas vidas, em que nada parece dar certo, como se nós estivéssemos destinados ao fracasso em todas as áreas de nossa existência; tendemos a mergulhar ainda mais nesse buraco que se abre diante dos nossos olhos. E, assim, quanto mais a situação parece crítica, mais o buraco se abre e, por tabela, nos afundamos nele, buscando de algum modo um refúgio para tudo aquilo que está acontecendo.

O esconderijo, no entanto, se transforma em uma prisão, que nos afasta das outras pessoas, do mundo e, sobretudo, de nós. Nesse processo de “autoperda” vem problemas como depressão, ansiedade, pânico, stress profundo, enfim, tudo que nos afasta ainda mais da busca por equilíbrio e, até mesmo, retira a vontade de continuar vivendo e experimentar o mundo.

Em outras palavras, o que ocorre é que há momentos em que os problemas são tantos que retiram o nosso fôlego e nos sufocam. Enxergamos que a nossa vida é ruim de tal maneira, que ao olharmos para dentro não enxergamos nada. E, dessa forma, a única coisa que queremos é desaparecer nesse vazio.

O que nos falta nesses momentos é um olhar mais perspectivo, isto é, que não esquece todas as possibilidades existentes para ficar preso tão somente a um momento em que as coisas não estão dando certo. Não se trata de não ficar chateado e puto com a vida, e sim, de entender a complexidade e a amplitude da existência. De perceber que momentos ruins, fracassos, decepções, não só são inexoráveis à vida, como também são elementos importantes para o nosso crescimento, amadurecimento e, acima de tudo, aproximação daquilo que somos essencialmente, fator primordial para a felicidade.

Aquilo que somos e que precisamos ser não passa somente pelas escolhas corretas que fazemos e nossos sucessos. Passa, principalmente, pelos erros, pelas quedas, pelas tristezas, pelo caos que se instala dentro da gente. Assim sendo, é preciso que tenhamos um olhar mais contemplativo em relação à vida, não apenas no sentido de educar os olhos para ver e enxergar, mas também para compreendê-la na sua dimensão infinita de ciclos que se iniciam, se renovam e se encerram.

Desse modo, conseguimos perceber que o sofrimento é um sinal que a nossa alma nos manda a fim de demonstrar que as coisas não estão boas e que, portanto, precisamos mudar. Todavia, a mudança não está em nos fecharmos. Ela reside em sair para o mundo e enfrentar o que nos incomoda. Obviamente, esse processo é doloroso, já que ao decidirmos entrar no nosso eu – não para se esconder, como antes – mas para transformar o que já não faz bem para a pessoa que precisamos e queremos ser, muito sangue precisa ser lavado.

Contudo, as dores que enfrentamos nesse processo, que mais do qualquer outra coisa representam uma viagem de autodescoberta, servem com impulso para que caminhemos para novos lugares, novos sonhos e novos prazeres. E, desta vez, muito melhores, porque estamos em muito mais sintonia conosco e com o universo, de maneira que já não vemos uma crise como o fim do mundo, e sim, como a ponte para uma nova estrada, um novo ciclo e uma nova mudança.

Pablo Neruda em um de seus versos diz que: “O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido”. Acredito que Nietzsche concordaria com isso, afinal, de que outro modo podemos dar à luz uma estrela sem que haja sofrimento? O caos, assim, não é algo a ser temido, porque ele é a nossa alma dizendo para aonde quer ir. Da mesma forma que a ruína não é o fim de tudo, mas antes, uma estrada que se abre para o novo, ou se preferirem: o caminho que leva à transformação.

Você sempre valerá pouco para quem não te merecer

Você sempre valerá pouco para quem não te merecer

Imagem de capa: Aleshyn_Andrei/shutterstock

O relacionamento não está como você gostaria, não há diálogos, reciprocidade, respeito e fidelidade. Ele não valoriza seus esforços e você não dá importância às conquistas profissionais dele.

Você fica horas para responder uma mensagem e, quando, responde faz por obrigação. Se essa é a definição do seu atual relacionamento, sugiro que reveja seus conceitos.

Essas atitudes são, infelizmente, a realidade de muitos casais. As pessoas insistem em viverem histórias que já chegaram ao fim apenas por medo da solidão e, isso, é tão patético quanto preocupante. Estar só em um relacionamento é mais cruel do que estar só de fato. Como dizia Caio Fernando Abreu: “a solidão é as vezes tão nítida como uma companhia”.

As pessoas têm medo da solidão. Essa é a grande verdade. Sabe, de tudo o que te ensinaram sobre o amor, o que mais você deve levar em consideração é a máxima “antes só do que mal acompanhado”. Solidão nunca foi ruim, nunca é eterna e nunca traz malefícios. Pelo contrário, é na solidão que descobrimos quem somos e o que queremos para a vida toda. É na solidão que desvinculamos nossa felicidade à outra pessoa e assumimos o rumo das nossas vidas.

De que adianta estar acompanhado fisicamente, se a alma está vazia? De que adianta o respeito se não é recíproco? De que adianta amar e não ser amado?

Quando um relacionamento está desgastado, nada do que os dois fizerem será valorizado. Você pode esforçar-se a máximo, mudar a aparência, virar fitness, aprender a gostar de música clássica mas, se o outro não te amar, ele não irá valorizar nada disso.

Aprenda uma coisa: você sempre valerá pouco para quem não te merecer. Então, pare de se importar com os valores vindos de fora. Antes de pedir fidelidade, você deve ser fiel a você mesmo (e isso inclui não trair os próprios sonhos, nem negligenciar a própria felicidade). Se você não gosta de rejeição, aprenda, primeiro a não se rejeitar.

Às vezes, demora mesmo para percebemos que aquela história não faz mais sentido. Demora para aceitarmos que estamos amando por dois, que estamos traindo nossos próprios princípios e que a nossa dedicação é em vão. Demora mesmo. Porque fechar os olhos para a realidade é mais cômodo do que abrir e ter que tomar uma atitude.

Demora porque, muitas vezes, projetamos no outro uma perfeição que ele não possui e, quando conseguimos enxergar a realidade tal qual ela é, ficamos frustrados e não libertos. Machado de Assis tinha uma visão bem realista do sentimento: “o amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser a companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se”.

Quando ouvir um “estou cansado”, “não te amo mais” ou “melhor darmos um tempo”, não queira explicações. Deixe ir. As pessoas nos dão sinais de que não valem nossos sentimentos, nós que, muitas vezes, recusamos entender.

Não alimente esperanças de mudança, não acredite no “foi uma única vez” e pare de acreditar em contos de fadas. Você não precisa de alguém que te pergunte como foi seu dia. Você precisa de alguém que faça dele melhor.

Em tempos de mensagem de texto, ligação é prova de amor

Em tempos de mensagem de texto, ligação é prova de amor

Em tempos de mensagens digitadas, ligações se tornaram um sinal de estima, afeto e até confiança. Você já reparou que costumamos telefonar só para aquelas pessoas com as quais temos maior intimidade?

É lógico que aqui não falo de quem utiliza o telefone de forma comercial fazendo milhares de ligações por dia, mas de quem, em determinada hora resolve telefonar para alguém que o compreende e conhece bem.

Rubem Alves disse certa vez que uma carta de amor é escrita para que duas mãos se toquem através do papel. Para mim uma ligação telefônica é como um beijo ao pé do ouvido com o qual dizemos que nos importamos com o outro. Além do mais existem coisas que só a voz pode nos contar.

Dizem que 38% da nossa comunicação se dá através dela. Através da voz podemos perceber se a outra pessoa está triste, se está aflita ou emocionada. Também através dela percebemos o grau de excitação daquele que nos fala. A voz é capaz de nos indicar através de seu tom e dinamismo muito acerca do estado de espírito de quem está do outro lado da linha.

Um texto certamente comunica muito, mas existem sensações que só a voz expressa. Uma mensagem escrita pode sim levar às lágrimas e emocionar. Mas arrepiar a pele, não. Estudos indicam que ao falarmos com alguém especial a condução de eletricidade em nossa pele aumenta. Todo nosso corpo responde à voz de uma pessoa querida.

A possibilidade de que a comunicação aconteça através de outros meios mais dinâmicos também serve para reforçar o aspecto pessoal da ligação. A opção de ligar por si só já indica que temos maior disposição para interagir. Que estamos dispostos a experimentar o outro de forma mais completa. Indica que aceitamos correr o risco de nos deixarmos desnudar pela fala, sem a possibilidade de editar o que não conseguimos calar.

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Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Photo by Daria Nepriakhina on Unsplash

Fazer amor não é um ato, é uma doação.

Fazer amor não é um ato, é uma doação.

Não faça amor, apenas seja.

Amor não é coisa que se faça, não é uma ação, é um estado de alma. Amor não é algo que se decida e se pratique com a razão, com as mãos hábeis e os corpos performáticos e a alma escondida, adormecida, atrofiada.

O amor se faz quando a gente sai. O amor vem quando a gente deixa de querer trazê-lo, comandá-lo ou evitá-lo. O amor emerge quando a gente fecha os olhos e respira fundo.

Fazer amor não é coisa que se planeje, almeje, deseje.

Sexo não é bunda, peito, vagina, pinto e movimentos. Sexo é entrega, é despir a alma, é energia que transborda e que toma o lugar de tudo: das vergonhas, das diferenças, dos pensamentos, dos medos…

Não prenda ninguém pelo sexo, sexo não é para isso. Não queira seduzir alguém pelo sexo, sexo assim é desperdício. Sexo não é para prender nada, sexo é libertação. Não contenha o choro, o riso, o grito. Não finja mais nem menos. Não queira agir para possuir, não queira se movimentar para dominar, não queira atuar para conquistar.

Me desculpe dizer, mas sexo não é jogo de poder. Egos não deveriam ir para a cama, apenas deuses e deusas, vestidos de energia vital, prontos para um ritual sagrado. A cama deveria ser um canal, um portal, os corpos apenas um instrumento do amor. O quarto deveria ser um barco à deriva nas mentes em silêncio. E o tempo respirando e fluindo, deveria ser desfeito.

Sexo deveria vir do relaxamento, do descansar as almas e deixá-las voar até encontrarem o céu. O quarto não é um palco dos movimentos frenéticos onde mostramos a nossa manjada dança da sedução que segue as revistas de moda e os vídeos pornôs.

Amor não é coisa que se faça, o amor nos incorpora (ou nos volatiza), o amor nos possui, e não o contrário disso. Ele tem movimentos próprios. Os nossos ritmos mecânicos só constroem outras engrenagens que não têm nada a ver com amor.

O tempo do amor não é o nosso. O amor não tem que sair correndo para pegar o ônibus, para ir para o trabalho, para prender um namorado, para construir uma família, para comprar um carro. O amor não tem que ser estruturado. Fazer amor não é um ato, é uma doação.

O amor se move na gente vagarosamente. Mas temos que deixar. Temos que respeitar. Temos que cuidar. Cuidar do nosso corpo e o do nosso companheiro. Cuidar do nosso sentimento e o do nosso companheiro.

O amor não exige nada, não julga, não apressa, não repara, não precisa de viagra. O amor acalma. O sexo acalma, renova, exala luz própria de puro sol em nossos corpos lunares. O amor assim transpassa e perfuma toda casa e a vida.

Amemo-nos!

Tudo na vida pede medida

Tudo na vida pede medida

Imagem de capa: danm12/shutterstock

Tudo na vida pede medida. Quando falta, faz falta, e quando sobra, o excesso também acusa a falta de medida. Tanto na vida real, como nas relações virtuais.

Se você está na graça, comemorando um evento feliz, comemore com medida. Anuncie a sua felicidade, caso queira, mas lembre-se: o anúncio deve ter data certa para começar e para terminar. Depois, silêncio.

Não há nada mais cansativo do que aquela pessoa que fica insistindo em comunicar a boa sorte e a felicidade que teve há 30 dias.

Uma semana, dez dias, trinta dias, tornam todas as notícias velhas.

Não é porque a notícia é boa que os amigos, os colegas, a família, e as redes sociais precisam ficar ouvindo, vendo, e acompanhando a réplica da história feliz dias e dias consecutivos.

Use um dia, ou no máximo dois, para falar sobre o assunto.

Se for uma viagem, fica liberado o boletim diário e as fotos com eventuais explicações sobre os lugares retratados, até o final da viagem.

Todo mundo gosta de viajar, e ter um amigo fazendo turismo nas pirâmides do Egito é quase tão bacana como se estivéssemos também por lá.

Mas, ao terminar a viagem, considere a pauta encerrada.

Vire a página.
Mude o disco.

No máximo, use as fotos mais bacanas para ilustrar a capa do seu perfil no Facebook e cale-se.

A viagem pode ter encantado a platéia no momento em que você viajava. Dias depois, ninguém mais quer saber dos detalhes que você esqueceu de contar quando era para ter contado.

Não contou?
Deixe para a próxima.

O mesmo vale para a desgraça, embora com um pouco mais de flexibilidade.

Se a vida lhe fez vítima de um momento ruim, ficam liberadas todas as formas de compartilhar a dor, conforme o seu temperamento e a sua necessidade exigirem.

Tem gente que fala, tem gente que cala.
Todos sofrem.

Quase sempre as pessoas falam.
A dor precisa de companhia.
A desgraça também.

Todos os seres que sofrem se nivelam através do sofrimento.
Pobre, rico, branco, europeu, oriental.
Se a humanidade precisa de um parâmetro para se nivelar, esse parâmetro é a dor.

Expor a dor de uma tragédia nos humaniza, e leva consolo aos que sofrem.

Quando assumimos publicamente as nossas dificuldades e as nossas fragilidades, prestamos um grande serviço a nós e à humanidade.

Sou super a favor da exposição.
Todas as vezes que passei por uma grande dor me fez bem faze-lo de forma compartilhada.

Mas isso também pede medida.

Embora todos sejamos tolerantes com aqueles de nós que sofrem, o bom senso nos ensina que os sentimentos, os problemas, as angústias e as dificuldades, não podem ser a única pauta dos nossos encontros, das nossas falas, das nossas interações.

Não para sempre.

Caso contrário, cansamos a periferia.

Se insistirmos demasiadamente nisso, quando as pessoas nos virem, o infortúnio será visto primeiro.
A tristeza chegará na frente.
A miséria humana falará mais alto.
Seremos reconhecidos exclusivamente pela dor e não pela superação da dor.

Na vida real, o nosso círculo de relacionamentos nos evitará por puro cansaço, ou nos suportará por misericórdia.
No ambiente virtual curtirão tudo o que postamos apenas por educação, pena, e boa vontade, e na melhor das hipóteses, comentarão banalidades embaixo dos nossos textos repetitivos.

A experiência ensina que a dor compartilhada tem o seu pico máximo de compreensão e acolhimento nos dias próximos ao acontecimento funesto.

Com o decorrer do tempo a dor dos outros, que nos foi emprestada para consolo, diminui consideravelmente.

A partir daí é conosco e com Deus!

Lógico que não há tempo definido para a duração do luto, mas precisa haver empenho para tira-lo da frente, o tempo todo.

Luto, com o tempo, deve deixar de ser paisagem, para ser pano de fundo.

Até mesmo quando as nossas demandas são de outra ordem, quando por exemplo, por força de circunstâncias levantamos uma bandeira em favor de alguma causa, precisamos ter cuidado: tudo o que é demais é excesso.

Confundir quem você é, com a luta que a vida te impôs, faz você perder a sua identidade.

Perder a sua identidade te faz uma pessoa desbotada, uma sombra do teu ser original.

Nós não somos o infortúnio que nos sobrevem, somos o que éramos antes, acrescidos dele.

Tem que haver soma em todo o processo, não diminuição.

Ninguém pode se fixar o tempo todo na luta, falar o tempo todo da luta, levantar a bandeira da luta em período integral, sem oferecer uma trégua a si mesmo e aos outros, sob o risco de perder as suas características individuais.

Quem era você antes de?

É a pergunta!

O mundo, Deus, os homens, a sociedade, todos os sistemas inter-relacionados, precisam de pessoas inteiras para lidar com o infortúnio, e não pela metade, não alijadas de atributos intelectuais, não bitoladas num único tema, não falando sempre a mesma coisa, sempre do mesmo jeito.

A vida pede movimento. Mesmo a vida de quem sofre pede uma sacudida.

Os que assistem um sofrimento estagnado e sem medida ficam penalizados, mas não podem fazer muito por quem escolheu viver o resto da vida carregando a bandeira da dor.

Só nós podemos fazer muito por nós. Na alegria ou na tristeza.

E o que podemos fazer é pedir a Deus que nos conceda sabedoria para aplicar, em todas as circunstâncias, a boa medida.

Ninguém pode te fazer se sentir menos do que bonita

Ninguém pode te fazer se sentir menos do que bonita

Essa mania que temos de dar uma atenção demasiada à opinião dos outros, de ficar levantando hipóteses sobre o que vão dizer sobre nós e de fugir ao que se quer, com medo de olhares acusatórios, acaba nos afastando de reais possibilidades de encontrarmos o nosso melhor e de sermos muito mais do que pensamos. É prudente ponderar o alcance de nossos atos na vida do outro, mas anular-se por conta de ditames e regras insustentáveis neutraliza o potencial de encanto, beleza e brilho que todo mundo tem dentro de si.

E, infelizmente, as mulheres, muito mais do que os homens, parecem se importar em excesso com as opiniões alheias, prestando absurda atenção ao que vestir, como se maquiar, de que forma dizer, de que maneira se comportar. A mídia possui um forte papel nesse comportamento, haja vista os ideais femininos que veicula diariamente, impondo juízos de valor homogeneizantes, nocivos ao fortalecimento do que é próprio de cada ser humano, em suas essências diversas. As mulheres perdem muito com isso; a sociedade também. Todos, enfim, perdemos.

Quem foi que disse que só é bonito ser magra, que perna grossa dispensa roupas curtas, que não é para rir alto, que é feio chegar sozinha aos lugares, que mulher come pouco, que batom tem a cor certa, que chapéu não combina sem sol? Quem disse isso nunca foi capaz de admirar a beleza de uma mulher recém-saída de um banho, naturalmente linda. Ninguém sabe a melhor forma de se sentir à vontade e de bem com a vida, a não ser você mesma. Se não estiver prejudicando ninguém ao seu redor, o que importa é estar feliz – e ser feliz é ser o que você quiser verdadeiramente.

Todos temos uma luz própria que não pode – tampouco deve – ser ofuscada por medo dos julgamentos alheios. Ninguém tem o direito de determinar a forma como o outro vive a sua vida, quando não se prejudica outrem, pois cada um merece caminhar de acordo com o que tem para dar. Todo mundo possui algo a oferecer e jamais agradará com unanimidade; nem por isso haverá de ser desmerecida qualquer forma com que se caminha em busca da felicidade. Ninguém poderá se sentir mal ao seu lado, quando você estiver se sentindo bem consigo mesma.

A vida já nos faz enfrentar muitas dificuldades, ou seja, não precisamos de gente nos tolhendo o respirar transparente e sereno devido a valores que se chocam. Respeito é bom e todo mundo gosta. Temos que nos expor em tudo o que somos para termos a chance de errar e de recomeçar, em vez de nos antecipar diariamente ao que poderia acontecer e assim acumular as covardias dentro de nós. É preciso ousar e se despir de amarras que não são suas, para que você se encontre e possa se entregar ao verdadeiro encontro com a vida, em tudo de bom e ruim que ela oferece. Assim é que existimos, assim é que deixamos de ser invisíveis – e nada pior do que a invisibilidade, a morte em vida.

As mulheres são lindas à sua própria maneira, necessárias, singularmente especiais. São nosso porto seguro, a força no seio da família e o equilíbrio em meio às paixões que nos avassalam. Merecem, portanto, ser admiradas pelo que são, pela verdade de sua essência, pelo sorriso espontâneo e pela inteligência sexy que só as mulheres conseguem transpirar tão sutilmente. Seja alguém real, uma pessoa que esteja à vontade consigo mesma, vestindo o que mais lhe agrada, dizendo aquilo que pensa, dançando como louca no meio da pista ou comendo uma porção imensa de batata frita. Porque ninguém conseguirá lhe roubar o que é verdadeiramente seu. Porque nada pode ser mais encantador do que viver as próprias verdades.

Imagem de capa:  Nastya Nikitina/shutterstock

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