Imagem de capa: SHYPULIA TATSIANA/shutterstock
O que é depressão? Apesar dela ser uma doença desoladora, destruidora e terrivelmente incapacitante, atingindo centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, em uma escalada assustadora; ainda continua sendo um tabu falar em depressão ou quaisquer tipos de doenças ou transtornos psicológicos.
Há, de fato, muita ignorância no que tange a essas doenças, mas existe também muita falta de sensibilidade e empatia para que as mesmas sejam compreendidas, sobretudo, de acordo com a singularidade de cada um. Poderia ficar horas tentando responder à pergunta inicial, todavia, a melhor resposta que posso oferecer se encontra a seguir:
“Hemingway tem um momento clássico em ‘O Sol Também se Levanta’ quando perguntam para Mike Campbell como ele faliu. Tudo que ele consegue dizer é ‘Gradualmente, e depois rapidamente’. É assim que a depressão atinge. Você acorda uma manhã com medo de viver.”
A frase que define com perfeição o que é a doença é de autoria de Elizabeth Wurtzel, jornalista estadunidense, que em seu livro “ProzacNation” (Geração Prozac), narra as suas experiências com a doença. Enorme sucesso à época, vendendo milhares de cópias, o livro foi adaptado para o cinema pelo norueguês Erik Skjoldbjærg em 2001 com o mesmo nome.
No filme, conhecemos Elizabeth que está entrando em uma nova e promissora fase, já que está indo estudar jornalismo em Havard. No entanto, apesar de um início aparentemente “normal” e tranquilo na sua vida universitária, aos poucos a máscara vai caindo e a realidade da doença retoma a cena com mais força que nunca. O cerne do problema de Elizabeth está relacionado à problemática relação que possui com seus pais, os quais não conseguiram manter uma relação saudável após o término do casamento, afetando psicologicamente a filha situada no meio de um fogo cruzado.
Nessa situação não há como escapar, e ela começa mais uma vez a fazer terapia, embora não acredite que isso possa ajudá-la. E por que não acredita? Porque todos que a rodeiam, mesmo que seja um “especialista”, parecem não conseguir compreendê-la ou estar determinados o suficiente para isso. É como se tudo que ouvisse de quem tenta ajudá-la não passasse de uma repetição interminável de clichês que o seu cérebro já está cansado de escutar.
“ ‘Ouça, todos nós temos dias ruins’. Isso é o que as pessoas dizem quando não sabem mais o que dizer. Droga. Também não sei o que sugerir. ”
Entretanto, por outro lado, nem ela própria consegue se compreender e/ou ajudar as pessoas próximas a entendê-la. Aliás, esse é um traço típico de quem possui depressão (e outras doenças psicológicas), qual seja, a dificuldade de não conseguir compreender o porquê daquilo está acontecendo, já que ninguém quer passar por tanta dor e sofrimento, e ainda por cima, não saber claramente como encontrar uma saída.
A maior parte das pessoas, ao lidarem com situações como a do filme, sentem-se inconformadas, chateadas, cansadas e por vezes até esbravejam por não conseguirem encontrar a raiz do problema e maneiras de solucioná-lo de fato. Evidentemente, estar ao lado de alguém que se encontra com a mente enferma não é fácil, por mais que a pessoa esteja realmente empenhada em ajudar. Escutar aquele “famoso” – “Não sei porque estou assim” – é algo desolador para o coração de quem se vê envolvido na tempestade. Mas, o que muitas vezes é difícil de compreender, é que para quem está bem no centro da tempestade, leia-se, a pessoa com a doença, tudo que sentimos ainda é pouco para o que elas sentem.
Ou seja, para quem está sentindo na pele é muito mais complicado não conseguir entender o real motivo daquilo tudo: da falta de ânimo para viver, da falta de vontade para levantar da cama, da incapacidade de sorrir, do aperto no peito, da insônia sem fim e de tantas outras coisas que é impossível mensurar. Assim como, a depressão vem emaranhada em tantas coisas, que é impossível identificar apenas um problema e encontrar uma simples solução. É algo que acontece, que desencadeia outro “algo que acontece”, e outro “algo que acontece” e quando percebemos estamos como na história de Hemingway – rapidamente caminhando para o abismo, embora quiséssemos que algo mágico acontecesse e acordássemos no outro dia livre de todo emaranhado de coisas ruins indecifráveis, marcadas como “algo que acontece”.
“Se eu pudesse ser normal. Se eu pudesse sair da cama de manhã e tudo estivesse bem. ”
Elizabeth se sentia assim, perdida no meio da sua própria dor, buscando um modo de se comunicar com o mundo, contar a sua dor, pedir ajuda, mas sem conseguir êxito. E ela queria, tentava, mas parece que a cada tentativa, as coisas só faziam piorar e tudo que a cercava desmoronava ainda mais. Uma dor solitária que aumentava o seu sofrimento, porque era como se todo mundo conseguisse seguir suas vidas, apesar dos tropeços e só ela ficasse parada com o rosto no chão.
“ – A maioria das pessoas se cortam, e colocam um band-aid e continuam em frente.
– E o que você faz?
– Eu continuo sangrando. ”
Esse sangramento só chegou ao fim quando ela conseguiu, após quase cometer suicídio, “um tempo para respirar” por meio do Prozac, receitado por sua terapeuta. Tempo para que ela conseguisse voltar a levantar da cama, a escrever, a sorrir e colocar a sua vida em ordem, gradualmente e depois rapidamente. Entretanto, ao recobrar o fôlego, ela, finalmente, conseguiu compreender a sua situação e percebeu que ela não era a única que continuava sangrando. Pelo contrário, ela era apenas um grão, de uma multidão de pessoas sangrando e que, como ela, não sabem o que fazer, recorrendo, para conseguir respirar, ao Prozac.
Sendo assim, a história de Elizabeth é a história da Geração Prozac, dos Estados Unidos da Depressão, porque ela demonstra com clareza o que é estar doente, com a mente doente, com a alma doente; sem saber como encontrar uma saída ou gritar por ajuda. Assim como, encontrar um olhar empático nesses momentos é algo extremamente difícil. Um olhar que busque compreender a situação como algo único, sem comparações e clichês, porque cada dor dói e aflige em um peito. E mostra também que a medicação, para quem realmente necessita (está doente) e não como fuga para qualquer dor, é algo importante para que, como Elizabeth, se consiga um tempo para respirar.
Mas, além disso tudo, e talvez o questionamento mais importante do filme seja: por que vivemos em uma “Geração Prozac”? Por que as pessoas estão sofrendo tanto? Por que elas precisam de um remédio para conseguir respirar? O filme se encerra e deixa o questionamento no ar, e claro, não há uma resposta universal. Todavia, se existem tantas pessoas sofrendo (número que só faz aumentar), algo no nosso modo de vida não deve estar certo e acredito que é esse ponto (ou pontos) que precisamos encontrar para que deixemos de ser os Estados Unidos da Depressão ou em uma tradução livre: a Geração Prozac.











Em século XXI, proibir é tão ultrapassado quanto não assumir que precisamos conversar sobre violência sexual, alcoolismo, exclusão, depressão e bullying. É preciso acompanhar, conversar, ensinar e, sobretudo, dar espaço para que eles falem o que enxergam em seus meios sociais. Acreditem: eles contam seus segredos quando não têm medo e têm certeza de que podem contar conosco.
Talita Rosetti nascida em Niterói, cidade do Rio de Janeiro. Atua como professora de Redação e é Mestre em Estudos de Linguagem pela PUC-Rio. Atualmente, pesquisa sobre linguística aplicada à ciências da educação. Acredita que o processo de ensino-aprendizado pode e deve ser refletido e aprimorado, de forma contínua, não só pelos profissionais da educação, mas pelos demais membros da sociedade.












Vianne Rocher (Juliette Binoche) juntamente com sua filha de seis anos (Victorie Thivisol) se muda para uma cidade rural da França. Lá decide abrir uma loja de chocolates bem em frente à igreja local, no entanto a população duvida que o negócio durará muito tempo por ali. O filme “Chocolate” nos apresenta duas realidades distintas. De um lado fala de uma sociedade fechada em si e de outro mostra como o novo pode transformar positivamente pessoas e lugares, sem distinção. Nesse caso Vianne é o novo e sua forma animada de viver, assim como suas ações, contagiam a cidade na qual ela vende não só chocolates, mas também a realização de desejos. Se você estiver indeciso sobre esse filme, talvez a presença do talentoso Johnny Depp o convença a se jogar de cabeça nele.





Esse longa é uma adaptação do livro de Richard C. Morais, aqui traduzido como “A Viagem de Cem Passos”. Desconsidere os passos, o título original faz referência a cem pés, que é a distância entre o restaurante da francesa Mallory e seu concorrente indiano. Rivais, eles simbolizam sutileza versus ousadia, simplicidade versus exagero, razão versus emoção e forma versus tempero. O filme se passa no sul da França. Lá, Madame Mallory (Helen Mirren) é uma respeitada dona de um restaurante que demonstra estar muito aborrecida graças a um concorrente indiano, no entanto, ela conhece o filho do seu concorrente e os dois tornam-se bons amigos. Logo, a senhora francesa ensina ao jovem preciosos segredos de gastronomia. Se o que você procura é uma escapada saudável e prazerosa do mundo real, então esse é o seu filme.



