Geração Prozac: O mundo mergulhado em Depressão

Geração Prozac: O mundo mergulhado em Depressão

Imagem de capa:  SHYPULIA TATSIANA/shutterstock

O que é depressão? Apesar dela ser uma doença desoladora, destruidora e terrivelmente incapacitante, atingindo centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, em uma escalada assustadora; ainda continua sendo um tabu falar em depressão ou quaisquer tipos de doenças ou transtornos psicológicos.

Há, de fato, muita ignorância no que tange a essas doenças, mas existe também muita falta de sensibilidade e empatia para que as mesmas sejam compreendidas, sobretudo, de acordo com a singularidade de cada um. Poderia ficar horas tentando responder à pergunta inicial, todavia, a melhor resposta que posso oferecer se encontra a seguir:

“Hemingway tem um momento clássico em ‘O Sol Também se Levanta’ quando perguntam para Mike Campbell como ele faliu. Tudo que ele consegue dizer é ‘Gradualmente, e depois rapidamente’. É assim que a depressão atinge. Você acorda uma manhã com medo de viver.”

A frase que define com perfeição o que é a doença é de autoria de Elizabeth Wurtzel, jornalista estadunidense, que em seu livro “ProzacNation” (Geração Prozac), narra as suas experiências com a doença. Enorme sucesso à época, vendendo milhares de cópias, o livro foi adaptado para o cinema pelo norueguês Erik Skjoldbjærg em 2001 com o mesmo nome.

No filme, conhecemos Elizabeth que está entrando em uma nova e promissora fase, já que está indo estudar jornalismo em Havard. No entanto, apesar de um início aparentemente “normal” e tranquilo na sua vida universitária, aos poucos a máscara vai caindo e a realidade da doença retoma a cena com mais força que nunca. O cerne do problema de Elizabeth está relacionado à problemática relação que possui com seus pais, os quais não conseguiram manter uma relação saudável após o término do casamento, afetando psicologicamente a filha situada no meio de um fogo cruzado.
Nessa situação não há como escapar, e ela começa mais uma vez a fazer terapia, embora não acredite que isso possa ajudá-la. E por que não acredita? Porque todos que a rodeiam, mesmo que seja um “especialista”, parecem não conseguir compreendê-la ou estar determinados o suficiente para isso. É como se tudo que ouvisse de quem tenta ajudá-la não passasse de uma repetição interminável de clichês que o seu cérebro já está cansado de escutar.

“ ‘Ouça, todos nós temos dias ruins’. Isso é o que as pessoas dizem quando não sabem mais o que dizer. Droga. Também não sei o que sugerir. ”

Entretanto, por outro lado, nem ela própria consegue se compreender e/ou ajudar as pessoas próximas a entendê-la. Aliás, esse é um traço típico de quem possui depressão (e outras doenças psicológicas), qual seja, a dificuldade de não conseguir compreender o porquê daquilo está acontecendo, já que ninguém quer passar por tanta dor e sofrimento, e ainda por cima, não saber claramente como encontrar uma saída.

A maior parte das pessoas, ao lidarem com situações como a do filme, sentem-se inconformadas, chateadas, cansadas e por vezes até esbravejam por não conseguirem encontrar a raiz do problema e maneiras de solucioná-lo de fato. Evidentemente, estar ao lado de alguém que se encontra com a mente enferma não é fácil, por mais que a pessoa esteja realmente empenhada em ajudar. Escutar aquele “famoso” – “Não sei porque estou assim” – é algo desolador para o coração de quem se vê envolvido na tempestade. Mas, o que muitas vezes é difícil de compreender, é que para quem está bem no centro da tempestade, leia-se, a pessoa com a doença, tudo que sentimos ainda é pouco para o que elas sentem.

Ou seja, para quem está sentindo na pele é muito mais complicado não conseguir entender o real motivo daquilo tudo: da falta de ânimo para viver, da falta de vontade para levantar da cama, da incapacidade de sorrir, do aperto no peito, da insônia sem fim e de tantas outras coisas que é impossível mensurar. Assim como, a depressão vem emaranhada em tantas coisas, que é impossível identificar apenas um problema e encontrar uma simples solução. É algo que acontece, que desencadeia outro “algo que acontece”, e outro “algo que acontece” e quando percebemos estamos como na história de Hemingway – rapidamente caminhando para o abismo, embora quiséssemos que algo mágico acontecesse e acordássemos no outro dia livre de todo emaranhado de coisas ruins indecifráveis, marcadas como “algo que acontece”.

“Se eu pudesse ser normal. Se eu pudesse sair da cama de manhã e tudo estivesse bem. ”

Elizabeth se sentia assim, perdida no meio da sua própria dor, buscando um modo de se comunicar com o mundo, contar a sua dor, pedir ajuda, mas sem conseguir êxito. E ela queria, tentava, mas parece que a cada tentativa, as coisas só faziam piorar e tudo que a cercava desmoronava ainda mais. Uma dor solitária que aumentava o seu sofrimento, porque era como se todo mundo conseguisse seguir suas vidas, apesar dos tropeços e só ela ficasse parada com o rosto no chão.

“ – A maioria das pessoas se cortam, e colocam um band-aid e continuam em frente.
– E o que você faz?
– Eu continuo sangrando. ”

Esse sangramento só chegou ao fim quando ela conseguiu, após quase cometer suicídio, “um tempo para respirar” por meio do Prozac, receitado por sua terapeuta. Tempo para que ela conseguisse voltar a levantar da cama, a escrever, a sorrir e colocar a sua vida em ordem, gradualmente e depois rapidamente. Entretanto, ao recobrar o fôlego, ela, finalmente, conseguiu compreender a sua situação e percebeu que ela não era a única que continuava sangrando. Pelo contrário, ela era apenas um grão, de uma multidão de pessoas sangrando e que, como ela, não sabem o que fazer, recorrendo, para conseguir respirar, ao Prozac.

Sendo assim, a história de Elizabeth é a história da Geração Prozac, dos Estados Unidos da Depressão, porque ela demonstra com clareza o que é estar doente, com a mente doente, com a alma doente; sem saber como encontrar uma saída ou gritar por ajuda. Assim como, encontrar um olhar empático nesses momentos é algo extremamente difícil. Um olhar que busque compreender a situação como algo único, sem comparações e clichês, porque cada dor dói e aflige em um peito. E mostra também que a medicação, para quem realmente necessita (está doente) e não como fuga para qualquer dor, é algo importante para que, como Elizabeth, se consiga um tempo para respirar.

Mas, além disso tudo, e talvez o questionamento mais importante do filme seja: por que vivemos em uma “Geração Prozac”? Por que as pessoas estão sofrendo tanto? Por que elas precisam de um remédio para conseguir respirar? O filme se encerra e deixa o questionamento no ar, e claro, não há uma resposta universal. Todavia, se existem tantas pessoas sofrendo (número que só faz aumentar), algo no nosso modo de vida não deve estar certo e acredito que é esse ponto (ou pontos) que precisamos encontrar para que deixemos de ser os Estados Unidos da Depressão ou em uma tradução livre: a Geração Prozac.

Tudo o que custar a sua paz, sempre será caro demais

Tudo o que custar a sua paz, sempre será caro demais

Imagem de capa: UrmasHaljaste/shutterstock

Salário alto, relacionamento de aparências e vaidade custam mais do que sua alma podem pagar e, passar a vida toda querendo mantê-las, faz você perder o controle da própria vida e entrar em uma frustração surreal.

Estamos sempre atrasados, nunca temos tempo para o essencial e reclamamos de (quase) tudo. A “grama” do vizinho é sempre mais verde, o relacionamento da amiga mais feliz e o trabalho do colega mais interessante.

Nessa rotina de reclamações constantes, buscamos incessantemente duas coisas na vida: a felicidade e a paz, sem entender, no entanto, que os dois sentimentos estão aliados e não tem relação nenhuma com bens materiais, aparência ou relacionamentos.

Não adianta ler todos os livros de autoajuda disponíveis ou buscar profissionais de todas as áreas de saúde para te aconselhar, se você não está disposto a colocar em prática o que aprende. Entenda que, sem a prática, nenhuma teoria funciona.

A felicidade e paz interior não são vendidas em cápsulas e não estão disponíveis nas prateleiras das farmácias. São estados emocionais que precisam ser desenvolvidos a partir do conhecimento da própria personalidade. François La Rochefoucauld: “o primeiro dos bens, depois da saúde, é a paz interior.”

Conhecer-se, saber o que o impulsiona é tão importante quanto respirar. O que te move nesse mundo? Quais são seus ideais? E, o mais importante: o que tem feito para conseguir?

Querer não é suficiente para atingir os objetivos. Você precisa conhecer as causas que motivam seus sonhos e as condições que tem para realizá-los, do contrário, sempre será frustrado e infeliz.

Fernando Pessoa afirmava, em toda a sua sabedoria, que o sucesso de tudo está no agir: “Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?

Encontrar felicidade na própria vida, ser grato pelas oportunidades e reconhecer a bondade dos detalhes, faz com que a paz se acomode dentro da alma.

Paz não é algo negociável, que você pode dar como moeda de troca ou que aceite perder com normalidade. A paz interior vale mais do que qualquer dinheiro no mundo. Então, caso seus sonhos estejam norteados apenas em algo consumível, você precisa rever seus conceitos sobre felicidade. Machado de Assis dizia que “o dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele.” E, convenhamos, ele estava certo.

Paz interior não é fácil de conquistar porque envolve disciplina, perdão e generosidade. E, sim, isso são atitudes difíceis de serem praticadas. É fácil verbalizar o perdão, quando se não foi ferido na alma. É fácil discursar sobre generosidade, quando você nunca precisou dividir seus bens. É fácil falar de disciplina se você desconhece os próprios limites.

Ninguém consegue a paz sem antes passar pelo deserto. Para saber perdoar, você precisa ser ferido. Para ser generoso, você precisa aprender a ser desprendido. E, para ter disciplina, você precisa ser advertido por quem ama. Para Einstein “a paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.”

Nada vale a nossa paz, nem esse relacionamento que você insiste há anos. Você pode ter encontrado a pessoa dos seus sonhos, estar vivendo um relacionamento digno de Oscar e ela pode ter as qualidades mais admiráveis do universo, se não trouxer paz no coração, acredite, não é para você.

Querer o bem do outro é o jeito mais bonito de viver bem consigo mesmo.

Querer o bem do outro é o jeito mais bonito de viver bem consigo mesmo.

Imagem de capa: Irina Soboleva S/shutterstock

A coisa mais bonita que mora na gente é um desejo vago e sincero de que o outro fique bem. Do nada, olhamos um desconhecido na rua, caminhando com pressa, de manhã cedinho para o trabalho, a expressão preocupada, e a ele dirigimos um voto silencioso, assim em pensamento, de que o dia seja bom, que seu chefe não o aborreça, seus clientes não o chateiem, que a saúde seja franca e o dinheiro seja largo.

Sem mais, queremos bem a quem nem imagina a nossa existência. Daqui de dentro, lançamos a esse estranho um conselho honesto e antigo em segunda pessoa. “Faz tudo certo, meu caro. Vai em frente. Força! És boa gente! Cuida bem dos teus, dá teu melhor que tudo se ajeita!”

Ele nunca vai saber que foi objeto primeiro de uma oração humilde e sincera. Nem imagina que seu caminhar apressado despertou em alguém o que o ser humano tem de mais bonito. Essa capacidade perdida de querer bem a toda gente.

De repente, uma ternura tão grande de um tempo passado nos toma pelo braço e acende uma saudade bonita aqui dentro. Lá fora é tardinha, daqui a pouco será noite e a lua é tão bonita que a gente chora sem mais o quê. Chora com a beleza que não é forma, é sentimento. Ai, como é bonito sentir afeto.

Dentro da gente mora tanta coisa! Tanto sonho, tanta lembrança, tanta saudade. Sentimentos de todo jeito, angústias, medos, alegrias, vontades de toda cor, palpites de toda sorte. Está tudo aqui, morando junto só Deus sabe como, habitando em comunidade um espaço insuspeitado, tudo amontoado como um universo compacto, bruto, esperando a hora do Big Bang.

Quando explode, é ternura pra todo lado, reconstruindo de gentilezas galáxias inteiras. A gente quer mais é que todo mundo se encontre, se respeite e se estime. Deseja com honestidade a alegria de toda gente.

Converso com minha amiga Verônica, que deixou tudo na cidade grande, carreira, amor, família, e mudou sozinha para um vilarejo no litoral da Bahia, trabalhar num hotelzinho, viver com pouco, fazer tudo a pé. Ela me conta que lá o povo se orienta pela lua e a maré, que conversa com os índios e dança forró com os nativos, descalça. Sinto aqui uma ternura tão grande por ela, um desejo tão fundo de que ela seja feliz, que vou sendo feliz também.

Não tem nada mais bonito que essa capacidade da gente se querer bem. Um dia a gente aprende a cuidá-la com apreço. Como crianças descobrindo na escola os fenômenos da ciência, compreendendo que o gelo é a água em estado sólido e a fumaça da chaleira é a mesma água em vaporização, ganhando o céu feito um foguete americano, reaprenderemos perplexos que sentir amor é viver em forma de graça. E que a vida é muito, mas muito melhor em estado amoroso.

Fica aí pensando pensando enquanto eu vou ali viver

Fica aí pensando pensando enquanto eu vou ali viver

Imagem de capa: Irina Soboleva S/shutterstock

É meu querido, há tanta coisa pra se pensar antes de amar, antes de viver. Há tanta coisa pra resolver, pra passar a limpo, pra entender.

Há tantos cálculos a serem feitos – medir a profundidade do mergulho, analisar se vai ser mais uma queda, uma dor, um erro. Há tantas análises psicológicas a serem feitas – será que vai ser mais uma mágoa? Será que estamos preparados? Será que ainda não é cedo demais?

É meu querido, você precisa de um tempo maior para ter certeza, você precisa de mais ingredientes para ter coragem, você precisa de mais compreensão para estar preparado para amar de novo. Mas pode ser que quando, finalmente, você tiver tudo aí na sua alma e coração, o passarinho do amor terá voado, solto, sozinho.

Enquanto você fica aí na beirada desse rio de experiências que é a vida, eu já mergulhei de cabeça e coração, fui até a outra borda, senti se dava pé, te acenei de dentro e passei de fase. Enquanto você fica aí arrumando seus aparatos para se assegurar de tudo, para salvaguardar a sua pele e dos outros (como se fosse um deus, como se isso prevenisse sofrimento), eu já me joguei, cai, aprendi com a dor dos joelhos ralados, aproveitei o vento de liberdade no meu corpo nu, deixei a energia vital transcorrer todo o meu ser.

Ah, se as coisas pudessem ser prevenidas! Ah, se o excesso de cuidado e zelo facilitasse mesmo o nosso caminhar! Ah, se a gente soubesse mesmo encontrar a hora certa de amar, se a vida se abrisse limpinha para que o que é novo pudesse entrar e o que é velho adormecesse em paz!

Mas a vida é roteiro de acasos e sustos, surpresas e imprevistos. Quem cria redomas para si mesmo não anda, não ama, não amadurece. Precisamos abrir janelas para que ventos novos nos sacudam, nos desestabilizem, nos tragam sombras e luzes. E que a gente possa ver, viver, amar de olhos abertos, aprendendo com o que é dor e aproveitando ao máximo o que é alegria. Porque, por essa mesma janelas que entram tufões, chegam doces calmarias.

Que obrigação é essa de querer só fazer escolhas certas? Que jeito de viver é esse que se apega mais aos medos do que à alegria de amar? Que desperdício de vida é esse, que prefere observar de fora, limpinho, sequinho, do que se jogar na lama, na chuva, na brincadeira?

Quando a gente anda e ama e perde os medos, a gente aprende que a nossa bagagem, o que nos fortalece e protege são as nossas experiências. A única forma de libertação é se permitindo participar da dança da vida. Quem vive com coragem, continua caindo e levantando, amando e reamando, chorando e sorrindo, e aprende que tudo é positivo, tudo é crescimento, tudo é transitório e belo. Tudo vem para agregar conteúdo e enriquecer a alma.

O medo já não existe mais, no lugar dele fica serenidade, amor e confiança.

Então, meu querido, segura minha mãe e salta comigo. Tudo o que temos é esse momento divino, tudo o que podemos fazer é aprender juntos e crescer com esse encontro. Tudo o que sentimos transborda nesse presente momento e inunda a vida toda e o nosso entorno.

E que seja intenso enquanto dure!

Quando morre um jovem

Quando morre um jovem

Não há nessa vida nada mais difícil do que aprender a lidar com a ideia de sua inequívoca finitude. Nenhum de nós vai sair vivo dessa jornada, certo? No entanto, somos abençoados psicologicamente com o esquecimento diário dessa fatalidade. E, graças a isso, amanhecemos e anoitecemos ao sabor do tempo que passa… gastamos os dias, as horas, os mínimos instantes, em busca de algum prazer ou fórmula mágica que nos envolva na proteção de uma vida sem grandes desastres.

Traçamos metas; planejamos rotas de fuga; nos blindamos; construímos cercas de afeto; erigimos em nossa própria glória, esculturas de fumaça a projetar nossos sonhos e desejos, na esperança de que um dia eles se concretizem ao sabor das bênçãos de um anjo bem-humorado qualquer.

Vivemos tentando caber nas expectativas alheias e nas nossas próprias. Queremos ser incluídos, nos planos do outro, nos anseios de outro, na idealização do outro. Pagamos caro por uma imagem de normalidade e equilíbrio, parcelas altas de empenho e esforço. E quando não damos conta de tudo isso, sofremos… amargamos uma sensação incômoda e pontiaguda de insatisfação e descabimento.

Alguns de nós chegarão ao fim, só depois de ter sorvido cada um dos minutos passados nesse planeta, com a avidez de um náufrago esquecido em alguma ilha isolada por anos e anos, sem contato físico, sem sentir na boca o sabor de qualquer alimento diabolicamente processado, sem os ruídos físicos de outros humanos, sem o olhar modulador de outros da sua espécie, sem oportunidade de perguntar ou responder o que quer que seja, sem ouvir o eco da própria voz. Esses, bebem a vida a tragos longos e saborosos, embriagam-se de tudo: de amor, de ambição, de encontros, desencontros, de noites insones, de planos grandiosos.

Embriagados, chegam ao final da festa com a redentora satisfação daqueles que bebem sempre e tudo até a última gota.

Outros de nós, serão surpreendidos pelo descer das cortinas numa suave e confortável mansidão dos poetas que vivem sem pressa, que se enamoram por suas próprias criações; e, por isso mesmo, vivem numa bruma de enlevo eterno por suas próprias imagens e pelas imagens outras que venham ao encontro de suas mais profundas aspirações. Esses, não bebem qualquer coisa… escolhem os vinhos pela jovialidade ou sobriedade da uva, bebem chás a goles pequenos, tomam café puro, saboreiam com profundidade e reverência cada gota de água. Perdem-se em minúsculos bocados de vida, fingindo que o tempo é uma invenção idiota de algum deus perverso que não tinha nada melhor com que se ocupar.

A grande loucura, no entanto, só é dignamente contemplada quando a ordem aparente das nossas ingênuas aspirações é subvertida. A grande loucura, que vem para nos desnortear para além do nosso limite se suportar as perdas, se revela quando são os mais velhos aqueles que precisam carregar flores em memória daqueles que não tiveram a chance de escolher por um ou por outro jeito de sorver a vida.

Quando morre um jovem, todos aqueles que ficam sofrem um abalo imensurável em suas formas de contar o tempo. Quando uma vida é precocemente interrompida, a lógica é revirada do avesso até o ponto em que se transforma numa tortuosa falta de sentido e de propósito.

Ninguém está minimamente preparado para se despedir daqueles que ama na configuração de um epílogo definitivo e sem volta. Queremos desesperadamente trapacear a trama… colar mais algumas páginas em branco no final do livro para poder continuar a escrever. Queremos cortar dali o ponto final, esse intruso sem alma que vem nos dizer que é o fim.

O que podemos fazer, no entanto, já que não fomos contemplados com o poder de eternizar aqueles que amamos, é viver de forma a honrar a sua precoce despedida com uma vida que tenha de fato algum significado. Que o nosso luto pelos jovens a quem tivemos de dizer adeus seja uma transformação dentro de nossa alma naquelas nossas mazelas que nos fazem indignos de continuar aqui. Sejamos luz! Porque mais triste do que a despedida é não ser capaz de se tornar alguém melhor, exatamente por causa dela.

Homenagem a Liam Mc Auliffe, que foi luz por onde andou

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “As vantagens de ser invisível”

Às vezes, teremos que magoar alguém para salvar a nós mesmos

Às vezes, teremos que magoar alguém para salvar a nós mesmos

Nem sempre poderemos ser simpáticos ou conseguiremos tomar atitudes que não desgostem pessoas pelo caminho, simplesmente porque teremos que optar entre nós mesmos ou o outro. Quando não houver outra saída e estivermos em frente a um dilema que nos atrasa os passos, seremos nós que deveremos agir, ou não sobreviveremos. Muitas vezes, inclusive, nossas ações magoarão certas pessoas, porque existirão sempre escolhas dolorosas.

Poderemos ter que romper com um parceiro que ainda nos ame, por mais difícil que seja. O amor nem sempre é uma certeza sem data de validade, uma vez que se trata de sentimento e sentimentos são imprevisíveis. O amor também morre, por abandono, por desatenção, por descuido, por traição, por carência de alimento e de guarida. Permanecer onde já não há mais cumplicidade, troca e reciprocidade, será uma das piores coisas a fazermos.

Às vezes, teremos que dizer não a alguém muito querido. Nem sempre poderemos atender às solicitações que nos chegam, seja no trabalho, em casa, onde for. Acumularmos tarefas equivale a juntar tralhas emocionais, o que fatalmente nos tornará exaustos e estressados. Porém, nem todo mundo sabe ouvir não, ou seja, provavelmente, receberemos ingratidão e desentendimento, justamente daqueles a quem tanto já nos dispusemos a ajudar, sem hesitação.

Outras vezes, teremos que dizer algo antipático e que há tempos incomoda, ou sufocamos. E então nos sentiremos na obrigação de censurar comportamentos desagradáveis de um amigo, de cobrar atitudes dos colegas de trabalho, de expressar nossa insatisfação com alguém da família, enfim, teremos que ser nada menos do que verdadeiros. Infelizmente, a verdade não é para muitos, pois implica enxergar a si próprio. Poucos entenderão que queremos ajudar e se fecharão para nós.

É complicado termos que conviver com pessoas diversas, cada qual com suas opiniões e sentimentos, o que torna ainda mais difícil conseguirmos agradar quem está ao nosso lado. Sempre há a necessidade de se colocar, de se fazer respeitar, de se tornar alguém que sente, que tem opiniões, que possui algo dentro de si.

Muitos não conseguirão nos compreender e se afastarão, no entanto, quem ficar repousará ali com amor, com inteireza e com retorno afetivo. E isso nos motivará a jamais desistirmos de nós mesmos.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Se você quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas – Albert Einstein

Se você quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas – Albert Einstein

Imagem de capa: Uber Images/shutterstock

Vivemos em uma busca incansável pela tal da felicidade. Odiamos as segundas-feiras e torcemos para que a semana passe rápido. Os estudos, os trabalhos têm se tornado um fardo e contamos os dias para as férias chegarem. Vibramos com os feriados e aproveitamos o nosso tempo livre dormindo.

Trocamos conversas numa tarde qualquer pelo bate papo e pelas redes sociais. Deixamos as ligações de lado e mandamos um áudio no WhatsApp. Só nos lembramos dos aniversários porque o tal do Facebook nos avisa e já desconhecemos o que é uma biblioteca porque o mestre Google sempre responde aos nossos questionamentos. Vivemos à espera dos romances de filmes, mas dispensamos as pessoas porque não queremos compromissos.

Nós nos auto-intitulamos independentes, mas vivemos carentes de um colo e de um cafuné. Adoraríamos ter alguém para tomar um café e apenas conversar, mas vivemos reafirmando, aos quatro cantos do mundo, o quanto é bom estar sozinho e que tudo está bem. Defendemos a política do bom senso, do não ao preconceito, mas julgamos a tudo e a todos, o tempo todo. Falamos das relações superficiais, mas já nos esquecemos do que é um abraço.

Idealizamos o amor e deixamos escapar os gestos mais bonitos, o carinho, o afeto verdadeiro e o sentimento sincero. Felicidade e amor não devem estar alicerçados em coisas ou pessoas, fazer isso é chamar a decepção e convidá-la a fazer parte da sua vida. Pessoas decepcionam e coisas também. Aprenda a depositar menos expectativa e permita-se viver, entendendo que perdoar faz parte das regras de sobrevivência. Mude a cara da sua segunda e deixe a semana passar sem pressa, aproveite cada momento e se realize nas pequenas coisas. Seja a melhor versão de você mesmo em tudo, espere grandes coisas, você merece, mas aprecie também as pequenas coisas, afinal, elas também nos proporcionam grandes sentimentos, é só você buscar ver o mundo com outros olhos.

Permita-se viver, veja a oportunidade em cada dificuldade, aproveite as chances que a vida nos dá. Não desperdice o seu tempo com coisas vãs, não se deixe chatear por coisas sem valor, por pessoas que não se importam com você. Veja a vida com outros olhos, a tal da felicidade não tem nome, nem lugar, nem hora para chegar. Não há um caminho para a felicidade, ela é o caminho.

Quando se perde a confiança, nada volta a ser como antes

Quando se perde a confiança, nada volta a ser como antes

A confiança é algo que demora a ser firmado, pois depende da passagem do tempo e de como se desenvolvem os relacionamentos, sejam amorosos, trabalhistas ou de amizade. Confiar em alguém nos deixa mais seguros, uma vez que temos, então, ao menos uma pessoa com quem poderemos dividir o nosso melhor e o nosso pior, o que é muito importante em nossas vidas. Infelizmente, enquanto a confiança demora para ser adquirida, perdê-la pode ser muito rápido.

Para nós, a amizade pode ser uma das coisas mais importantes, mas muitos não pensam dessa forma. Existem pessoas que parecem resistir à proximidade, a uma cumplicidade forte, em que valores devem ser sustentados, como o respeito e a manutenção de confissões pessoais, por exemplo. Por isso é que, muitas vezes, somos surpreendidos com atitudes que jamais esperávamos, vindas de quem nos era por demais querido e estimado.

Outras vezes, recebemos o que jamais imaginávamos de um colega de trabalho em quem depositávamos uma confiança absurda. Quantos de nós já não fomos acusados de algo que se deixou de fazer, de algum prazo que não se cumpriu, de algum erro no serviço, por conta de uma fofoca mentirosa plantada justamente por quem se dizia amigo de fato? Para muitos, galgar degraus no trabalho é o que importa, mesmo às custas de pisar qualquer um.

E, quando perdemos a confiança no parceiro, a dor é avassaladora. Seja por conta de uma traição, de palavras cortantes ou de atitudes inesperadas, deparar-se com a decepção justo com a pessoa que abraçamos de corpo e alma, com quem nos abrimos em todos os sentidos, retira-nos o ar, o chão, o sonho de uma vida a dois, íntegra e ética. Tudo fica nebuloso e a hipótese de dar ou não outra chance mina as nossas emoções, quebra-nos por dentro.

É certo que muitos aprendem com os erros e não voltam a repeti-los, ou seja, pode valer a pena perdoar e tentar de novo, e isso só quem está ali dentro dos sentimentos é que sabem. Ainda assim, a perda da confiança é algo que jamais passará em vão, porque nenhum dos envolvidos voltará a ser igual e nada será como antes. Cada um é que terá de lidar com a própria escolha, tendo consciência de que demora muito voltar a confiar – e nem sempre voltamos.

Imagem de capa: franz12/shutterstock

O roubo dos tomates e a ideia de que vale tudo para vencer

O roubo dos tomates e a ideia de que vale tudo para vencer

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Coríntios 6:12

Todos que assistiram ao episódio passado de um importante programa culinário brasileiro – onde pessoas comuns, que cozinham bem, disputam uma vaga para serem um chef de cozinha profissional – se depararam com uma situação bastante incômoda e antiética.

No episódio em questão vinte pessoas foram divididas em dois grupos e cada grupo tinha que preparar um cardápio com entrada, prato principal e sobremesa para convidados.

Bom, resumidamente, uma das equipes ao buscar os ingredientes no mercadinho, montado pela produção, resolveu pegar para ela todos os tomates e farinha. E o fez não só para usar esses ingredientes em suas receitas, mas também para prejudicar a outra equipe.

Logo, ao ver a falta de produtos essenciais, do ponto de vista culinário, a equipe prejudicada acabou tendo que reordenar todo o cardápio, o que a levou, ironicamente, à vitória.

O roubo dos tomates e outros ingredientes ficou em minha cabeça desde então. Será que a ética nos dias atuais foi varrida para baixo do tapete? A equipe “ladra” não pareceu sentir vergonha pelo que fez. Justificou o fato pela ideia de que estava ali para vencer. Mas vale mesmo tudo pela vitória?

Antes de qualquer coisa preciso dizer que, diferente do que muitos pensam, a ocasião não faz o ladrão. O ladrão escolhe sê-lo antes que a oportunidade apareça. Dessa forma, a ideia de que dentro do jogo tudo vale, não é justificável.

Eu diria que a ética está diretamente atrelada aos nossos valores e a nossa capacidade de ter empatia. Quando empático, eu não faço com o outro o que não gostaria que ele fizesse comigo. Tanto a empatia quanto a ética apontam para questões universais que zelam pelo todo. A ética busca, acima de tudo, a melhoria da convivência entre as pessoas. Dessa forma é possível notar que não houve ética alguma no roubo dos ingredientes.

Imaginem o que aconteceria se todos os participantes começassem a fazer individualmente o mesmo que foi feito pela equipe antiética? Se, no próximo programa, cada um fosse até o mercadinho e pegasse para si todos os ingredientes que os outros participantes iriam precisar? Certamente o jogo acabaria amanhã. A falta de ética, empatia e valores provoca um colapso social e causa prejuízo a todos. Em um ambiente antiético a convivência torna-se inviável.

Em 2012 o mundo conheceu um competidor ético, o espanhol Ivan Fernandes Anaya. Em uma corrida Fernandes empurrou o primeiro colocado até a linha de chegada ao perceber que o adversário tinha se confundido no final do percurso. Ao ser indagado sobre a razão de ter feito aquilo, quando poderia vencer, ele respondeu: “Qual seria o mérito da minha vitória se eu ganhasse dessa forma?”

O jogo só continua porque existem aqueles que entenderam a dinâmica da vida antes de sacarem a dinâmica do jogo. É arrogância querer prejudicar o outro para vencer. No fim das contas vence mesmo aqueles que dão o seu melhor sem causar o pior ao outro. Vence aqueles que de noite colocam a cabeça no travesseiro e dormem em paz sabendo que aquilo que queriam era o que deviam e podiam.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

Ser introvertido não é lá de todo ruim e vou te explicar o porquê

Ser introvertido não é lá de todo ruim e vou te explicar o porquê

Ser introvertido não é um defeito. Também não é como se andasse por aí com um sensor no peito, apontando pro coração o que pode e o que não pode ser sentido. E também não tem nada a ver com timidez, aviso aos desconhecidos. Ser introvertido é um estado em que você sente demais e abraça isso.

Hoje em dia, e posso até compreender, busca-se querer definir todos os comportamentos emocionais das pessoas. Com a introversão não é diferente. E nem deveria. Mas calma aí, quem sabe do que sinto, sou eu. Vou explicar o porquê em pensamentos únicos e em desejos raros. Não se assuste. Não guarde mágoas. Mas o mais importante, tenha empatia. Porque ser introvertido não foi algo que descobri há pouco. Na verdade, tenho quase certeza que sempre esteve aqui dentro. Apenas não sabia como colocar em palavras.

Ser introvertido não é acordar introvertido, que fique claro. Sinto tanto quanto qualquer um. Tenho variações de humor comuns a todos. Fico chateado, feliz, preocupado, relaxado e o que mais você queira dar nomes. A diferença – e não quer dizer que sou melhor ou pior, é que o meu modo não se encaixa na maioria. Tenho preguiça da maioria, confesso. Não é uma crítica, apenas não me cabe. O que todo mundo gosta? Que bom para eles. O que todo mundo conversa na mesa do bar? Que bom para eles. O que todo mundo faz para ser alguém na vida? Que bom para eles.
É mais ou menos assim, sinto e vivo numa frequência que não dá para ser pirateada. É uma condição exclusiva e de diferentes consequências para cada um que se encontra no próprio mundo. Mas posso ser ainda mais explícito num exemplo, ser introvertido me faz amar inteiro. Não preciso ficar dizendo “eu te amo” para que, de fato, ame. Não preciso da convivência constante daqueles que estimo para que, de fato, admire-os. Presença não quer dizer nada quando você é bem-vindo (a) na minha vida. Tenho espaço aos montes, só não fico anunciando no balcão do viver.

Ser introvertido não é lá de todo ruim, ainda que muita gente insista que é. Ou pior, que não entendam.

Não é sempre que ser assim, sentimental de dentro pra dentro, ajuda.

Entretanto, não troco nenhuma das minhas vivências inteiras.

Imagem de capa: Diários de Motocicleta (2004) – Dir. Walter Salles

13 Reasons Why: uma série também para pais e educadores

13 Reasons Why: uma série também para pais e educadores
13 REASONS WHY

Por Talita Rosetti Souza Mendes*

Em 2011, conheci o livro “Os 13 porquês” , de Jay Asher, por meio de uma grande rede escolar carioca – onde trabalhava na época como professora de Redação. O professor com quem eu dividia a série havia feito essa escolha e, imediatamente, me adiantou suas razões para desenvolvermos um trabalho com os alunos. Na época, houve questionamentos, visto que o livro apontava certos tabus, apresentava temas sensíveis e, claro, mexia com o imaginário dos discentes. O livro foi mantido e muitas propostas bacanas com os adolescentes nasceram dessa experiência – esse é um dos motivos pelos quais escrevo esse texto.

Seis anos depois desse episódio na escola e dez anos após o primeiro lançamento da obra escrita, a série 13 REASONS WHY, baseada no livro, foi lançada pela rede Netflix, uma das mais visitadas por adolescentes brasileiros, o que significa que – longe dos muros das escolas – eles terão (ou já tiveram) acesso ao conteúdo, muitas vezes, de forma independente e, infelizmente, solitária.

Diante disso, pais, amigos e professores têm me perguntado o que eu – como educadora e profissional da linguagem – considero sobre o acesso de jovens ao com livro (cuja indicação etária é de 13 anos) + série (estrategicamente, creio eu, sem indicação etária pelo distribuidor). Muitos têm me feito, abertamente, a pergunta:

Você permitiria que seus filhos adolescentes assistissem a essa série?

De forma franca, eu respondo: não só permitiria, como também faria um acompanhamento de como foram interpretadas as questões assistidas. De verdade, considero que jovens precisam entrar em contato com temas importantes para eles e para a sociedade, dialogando com seus pais, com seus amigos, com seus professores, com seus terapeutas e com quem mais se sintam à vontade para isso.

contioutra.com - 13 Reasons Why: uma série também para pais e educadoresEm século XXI, proibir é tão ultrapassado quanto não assumir que precisamos conversar sobre violência sexual, alcoolismo, exclusão, depressão e bullying. É preciso acompanhar, conversar, ensinar e, sobretudo, dar espaço para que eles falem o que enxergam em seus meios sociais. Acreditem: eles contam seus segredos quando não têm medo e têm certeza de que podem contar conosco.

Muitos vão afirmar, categoricamente, que já viram aquelas cenas nos corredores das próprias escolas – que negligenciam, por diversas razões, o estado emocional de seus constituintes – uma das principais justificativas pelas quais educadores deveriam também se interessar pelo conteúdo.

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13 REASONS WHY

Ter essas informações e fazer com que elas adquiram viés crítico é importante para todos nós, certo? Novamente, reitero que pais também precisam acompanhar o ritmo dos filhos. Isso não significa que tenham que estar ao lado do adolescente como fiscal no sofá da sala. Cada um pode ver a seu modo, em seu espaço, em seu tempo – com suas emoções preservadas. Podem, depois, conversar sobre a série durante uma atividade em família (almoço, jantar, caminhada). Diálogos comuns estreitam laços. Adolescentes precisam ouvir e se expressar: essa é a máxima de uma boa relação. Mais do que nunca, é disso que precisamos em um mundo com excesso de estímulos e com problemas emocionais à flor da pele.

Eu não tenho filhos ainda, mas trabalho com 450 adolescentes por ano. Jovens com histórias diferentes – que erram-e-acertam, que se descobrem, que desvendam o outro e a sociedade de maneiras, às vezes, incríveis ­– às vezes, tristes demais. Quase todos eles se identificarão com algum personagem da série. Isso é suficiente para que façamos um acompanhamento lúcido e nada careta sobre perdas e ganhos durante essa fase tão conturbada e lotada de conflitos que é a adolescência. Se é uma série para eles, certamente, é uma série para nós também.

“Você precisa aprimorar a forma como adolescentes cuidam uns dos outros” – diz um dos personagens a um adulto em um dos capítulos mais emblemáticos da temporada. Essa é a grande lição/missão que fica para nós: os adultos da relação. Assistam e tirem suas conclusões. O diálogo aqui também é aberto: deixem seus comentários sobre a experiência.

Sobre a autora:

contioutra.com - 13 Reasons Why: uma série também para pais e educadoresTalita Rosetti nascida  em Niterói, cidade do Rio de Janeiro. Atua como professora de Redação e é Mestre em Estudos de Linguagem pela PUC-Rio. Atualmente, pesquisa sobre linguística aplicada à ciências da educação. Acredita que o processo de ensino-aprendizado pode e deve ser refletido e aprimorado, de forma contínua, não só pelos profissionais da educação, mas pelos demais membros da sociedade.

 

10 Filmes OBRIGATÓRIOS para quem AMA HISTÓRIA

10 Filmes OBRIGATÓRIOS para quem AMA HISTÓRIA

Dizem que a arte imita a vida. Sendo assim, o cinema pode ser uma ótima forma de compreender a história, sobretudo, em nuances e sutilezas que por vezes escapam da nossa apreensão. Procurei criar uma lista heterogênea, buscando filmes que retratassem momentos históricos distintos. Como só são 10, alguns ficaram de fora, então, deixem nos comentários o filme (ou filmes) que para vocês não poderia(m) ter ficado de fora da lista. Sem mais delongas, vamos lá:

O PODEROSO CHEFÃO (TRILOGIA) (1972-1990)

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Um dos maiores clássicos da história do cinema, o filme que possui como recorte principal a família Corleone, na qual estão inclusos Don VitoCorleone (Marlon Brando) e Michael Corleone (Al Pacino), mostra todas as nuances da máfia italiana e ítalo-americana. Ao longo da série, conhecemos a rede complexa que forma a máfia, as disputas familiares, o jogo pelo poder, a corrupção envolvendo diversos setores, como a polícia, o sistema judicial e até mesmo a Igreja. É um filme que vai historicamente além do mundo da máfia, percorrendo a própria estrutura de formação do Sul da Itália, onde as “famílias” se desenvolveram em função do processo tardio de unificação italiana e da falta de intervenção do Estado; o processo de imigração europeu, no famoso discurso de que iriam “Fazer a América”; os anos dourados americanos, marcados pelo otimismo consumista; e até a eclosão da revolução nacionalista em Cuba no ano de 1959, demonstrando como a ilha era economicamente explorada pelos estadunidenses, inclusive, pela máfia. Enfim, a trilogia é um clássico imperdível para quem gosta de cinema e história.

APOCALYPSE NOW (1979)

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Também dirigido por um dos maiores gênios da história do cinema, Francis Ford Coppola, o filme é narrado através dos olhos do capitão Benjamin Willard (Martin Sheen), que após voltar do Vietnã é convocado pelas Forças Especiais do Exército para uma secreta missão que tem como objetivo encontrar e matar o coronel Walter Kurtz (Marlon Brando) que, segundo as autoridades do exército, enlouqueceu e passou a agir de maneira absolutamente incompreensível na selva do Camboja. O percurso traçado pelo capitão Willard faz com que ele entre em contato com todos os horrores da guerra, fazendo-o refletir sobre a racionalidade teoricamente apresentada pela alta cúpula militar e a irracionalidade existente no campo de guerra. Discutindo o sentido daquela guerra e o modo como os americanos se portam nela, o filme aprofunda-se na discussão sobre a racionalidade, já que diante de tanta miséria produzida sem causa, como naquela guerra, consequentemente, coloca-se em xeque a nossa capacidade de raciocinar e a bondade presente no homem que contrasta com a irracionalidade, a sede pelo poder e a loucura que muitas vezes triunfa na natureza humana.

GANDHI (1982)

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O drama histórico de Richard Attenborough, reconta a história de Mohandas Karamchand Gandhi (Ben Kingsley), um jovem advogado idealista que passa a questionar as condições de vida do seu povo na Índia, que era colônia britânica na época, e também toda miséria social, desigualdades e destruição produzidas pela imposição política, econômica e militar das grandes potências em relação às suas colônias no terceiro mundo, bem como a luta pela independência e pelo direito de autodeterminação desses povos. Com um enredo extremamente realista, o filme mostra todas as atrocidades e desumanidades promovidas pelo império britânico, ao mesmo tempo em que demonstra a força espiritual e comunicativa de um homem que derrotou um império apenas com a sua humanidade.

PLATOON (1986)

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Escrito e dirigido por Oliver Stone, o filme mostra a chegada ao Vietnã do jovem e idealista Chris Taylor (Charlie Sheen), que abandona a faculdade para servir voluntariamente na guerra a fim de cumprir com a sua função patriótica e ajudar o país. No entanto, essa visão romântica pouco a pouco vai sendo desmoronada, para em seu lugar se estabelecer o realismo de uma guerra sem sentido travada na maioria por jovens que têm a sua juventude completamente destruída pelo horror da guerra. A obra é extremamente realista ao retratar os conflitos psicológicos que se estabelecem entre os personagens e de que modo a situação degradante da guerra pode trazer consequências irreparáveis para o que há de humano no ser.

O NOME DA ROSA (1986)

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Baseado no Clássico de Umberto Eco, o filme de Jean-Jacques Annaud se passa em um remoto mosteiro no norte da Itália, no ano de 1327. No mosteiro chegam William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço que acompanha o monge. Com a intenção de participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, William, sujeito extremamente erudito e racional, tem a sua atenção desviada pelos vários assassinatos que passam a ocorrer no mosteiro. Movido pela sua intelectualidade, William não acredita, como os outros monges, que os assassinatos sejam obra do Demônio, e, assim, começa uma investigação com a intenção de descobrir o real motivo das mortes. Totalmente instigante pelo seu mistério, a trama demonstra detalhes do período medievo, como a hipocrisia dos clérigos, pregando uma coisa e vivendo outra ou como está escrito em uma das capas do filme: acreditando em Deus e negociando com o Diabo; a demonização da mulher, caçadas como bruxas e jogadas na fogueira sem direito a defesa pela Inquisição, já que na visão medieval a mulher representava o pecado, pois alimentava os desejos do corpo; e o cerceamento do saber, em que restringia-se o acesso a muitos livros considerados subversivos, uma vez que instigavam o pensamento e levavam ao prazer, como o riso, por exemplo, considerado um pecado, porque deformava o rosto dos homens e os transformavam em uma caricatura do demônio, evidenciado toda a cultura da dor e do sofrimento difundida pela Igreja. Um filmaço e uma super aula sobre o período medieval.

A LISTA DE SCHINDLER (1993)

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A obra-prima de Steven Spielberg é um retrato perfeito de um dos momentos mais tristes da história humana, o holocausto judeu. A trama gira em torno de Oskar Schindler (Liam Neeson), um empresário com prestígios dentro do partido nazista que vê a oportunidade de enriquecer utilizando a “quase” escrava mão de obra judia na segunda guerra mundial. Esse projeto ganancioso, no entanto, gradativamente se transforma em um “empreendimento” que visa salvar judeus da morte. Mesclando momentos de maior tensão e violência com momentos mais “leves” em que os membros do partido nazista se divertiam, o filme demonstra-se balanceado e mostra ainda mais a crueldade daquelas pessoas, que durante o dia matavam pessoas como se fossem insetos e à noite se divertiam como se nada tivesse acontecido. Tenso e ao mesmo tempo sensível, o longa consegue transmitir todas as emoções que permearam o momento retratado, além de contar com ótimas atuações e uma fotografia belíssima que ajuda a compor o ritmo e a sensibilidade da obra.

GLADIADOR (2000)

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Um dos grandes filmes do bom Ridley Scott, a trama narra a história do general Maximus (Russell Crowe), que após ser escolhido pelo imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) para assumir a coroa, é alvo da inveja, ira e ganância de Commodus (Joaquin Phoenix), filho do imperador que almeja se tornar o novo senhor de Roma. Desse modo, Maximus foge e se esconde sob a identidade de um escravo e gladiador do Império Romano. Além de possuir um grande valor de entretenimento, o filme mostra toda a loucura, obsessão, corrupção e crueldade que cerca o poder, além, obviamente, de expor brilhantemente a maneira como os espetáculos dos gladiadores eram utilizados como forma de controle social, a fim de diminuir as tensões políticas e manter a plebe controlada, fruto, portanto, das “panis et circenses” ou política do pão e circo, manobras paternalistas que permeiam a prática política até os dias de hoje.

ADEUS, LÊNIN! (2003)

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A mãe de Alexander (Daniel Brühl), fiel devota do socialismo na antiga Alemanha Oriental, tem um ataque cardíaco ao ver o filho em uma passeata contra o sistema vigente. Quando ela acorda do coma, após a queda do muro de Berlim, o médico aconselha a Alexander que ela evite emoções fortes, pois outro ataque tão cedo seria fatal. Com o peso na consciência pelo estado atual de sua mãe, Alex faz de tudo para que ela continue vivendo em uma ilusória Alemanha socialista, mudando embalagens de produtos industrializados e até mesmo inventando documentários televisivos para preencher as brechas do dia-a-dia do recente capitalismo no país. O filme do diretor Wolfgang Becker é extremamente inventivo ao criar uma realidade dentro da realidade, demonstrando as modificações decorrentes da queda do muro de Berlim, do fim do Socialismo e, consequentemente, do encontro de mundos ideologicamente distintos, marcando a nova ordem mundial e a supremacia do estilo de vida capitalista no mundo que se estabelecia.

A LUTA PELA ESPERANÇA (2005)

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Ambientado durante a crise de 1929 e baseado em uma história real, o filme nos apresenta a Jim Braddock (Russell Crowe), um sujeito considerado uma promessa, mas que se aposentou prematuramente em função de algumas derrotas consecutivas. Para sustentar a família, Jim vive de bicos esporádicos, até que repentinamente consegue retornar aos ringues e em uma escalada surpreendente chega a disputa pelo cinturão da categoria. Mesmo sendo uma história clichê de boxe, o filme possui originalidade e se sustenta na boa atuação de Crowe. No entanto, o grande diferencial resulta na historicidade do longa, que consegue retratar de forma muito precisa todas as problemáticas do período, em que era dificultoso manter até mesmo as necessidades básicas, explicando o motivo da ascensão de Jim reacender a esperança que se apagara durante o período escuro.

BÔNUS TRACK:

EU, DANIEL BLAKE (2016)

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A obra conta a história de Daniel Blake (Dave Johns), um jovem senhor, que após sofrer um ataque cardíaco é proibido pelo seu médico de voltar a trabalhar. A partir de então, Dan passa a percorrer um caminho longo, confuso, extremamente burocrático e desumano que o levará até o seguro desemprego. Nesse percurso, ele conhece Katie (HayleySquires), mãe solteira de duas crianças, que recém-chegada na cidade, não possui condições financeiras para se manter. Os dois passam a desenvolver uma amizade sincera ao mesmo tempo em que buscam junto ao Estado o reconhecimento dos seus direitos. Dirigido pelo grande Ken Loach, o filme traz o panorama do que não é ser um consumidor na sociedade contemporânea. Isto é, de não ser visto e tratado com humanidade por todos os setores, inclusive, o Estado, que deveria garantir os seus direitos e não tornar quase impossível esse acesso em função da vulnerabilidade social do indivíduo. Forte e necessário, o filme é imprescindível para entender o que é um sujeito pobre no que eu chamo de Estado Democrático do Dinheiro.

Os prazeres da comida em 12 filmes MA-RA-VI-LHO-SOS!

Os prazeres da comida em 12 filmes MA-RA-VI-LHO-SOS!

Cozinhar é uma alquimia. No fogão misturam-se ingredientes, sentimentos e sonhos. Cada pessoa cozinha de uma forma única. Cada um coloca na comida muito do que sente e é. Dizem que ao provarmos um prato, estamos provando também a essência daquele que o faz.

Cozinhar é amor, arte, entrega e anseio, tudo junto. Muitos dos filmes selecionados para essa lista falam do amor que há no ato de cozinhar. Personagens fortes, marcantes e sensíveis estão aqui listados para nos lembrar que a cozinha pode ser a porta de entrada para um mundo repleto de sabores e possibilidades.

Alguns dos filmes estão disponíveis na internet, outros na Netflix, mas todos são deliciosamente inspiradores.

1- Como água para chocolate (1992)

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Baseado em um romance de mesmo nome de Laura Esquivel, esse filme conta a história de Tita (Lumi Cavazos), uma jovem de uma família tradicional, que se apaixona por um camponês, Pedro (Marco Leonardi), em 1910, durante a Revolução Mexicana. Por questões ligadas à tradição familiar, Tita é impedida de casar-se com Pedro, contudo sua irmã o faz em seu lugar. Tita vive então sob o mesmo teto do homem que ama, mas seu espaço fica restrito à cozinha e aos cuidados com a mãe. Nacha, a cozinheira da família, ensina tudo que sabe à moça, e, estranhamente, todos que provam os pratos de Tita são tomados pelos sentimentos dela ao prepará-los. “Como água para chocolate” podia ser apenas uma história de amor, mas trata-se de um dos mais belos filmes do cinema latino-americano de todos os tempos.

2 – Chocolate (2001)

contioutra.com - Os prazeres da comida em 12 filmes MA-RA-VI-LHO-SOS!Vianne Rocher (Juliette Binoche) juntamente com sua filha de seis anos (Victorie Thivisol) se muda para uma cidade rural da França. Lá decide abrir uma loja de chocolates bem em frente à igreja local, no entanto a população duvida que o negócio durará muito tempo por ali. O filme “Chocolate” nos apresenta duas realidades distintas. De um lado fala de uma sociedade fechada em si e de outro mostra como o novo pode transformar positivamente pessoas e lugares, sem distinção. Nesse caso Vianne é o novo e sua forma animada de viver, assim como suas ações, contagiam a cidade na qual ela vende não só chocolates, mas também a realização de desejos. Se você estiver indeciso sobre esse filme, talvez a presença do talentoso Johnny Depp o convença a se jogar de cabeça nele.

3 – O tempero da vida (2005)

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Nesse filme, o diretor turco Tassos Boulmetis utiliza a culinária para falar de relações políticas entre gregos e turcos, na década de 50. Mas fala também da vida, de relações humanas e até mesmo de ligações cósmicas entre planetas e estrelas. O próprio protagonista lembra que a palavra astrônomo está na palavra gastrônomo. Desde o início, a direção demonstra que o tema central do filme é mesmo o céu e a comida. Resumidamente, o enredo gira em torno do turco Vasilis (Tassos Bandis), dono de uma loja de temperos, em Istambul, e patriarca de uma família, que transmite ao neto Fanis (Markos Osse) seu saber ancestral sobre os mistérios dos condimentos. Um filme belo, sensível, com visual apuradíssimo e música maravilhosa. Absurdamente emotivo e agradável, como uma boa comida tem que ser!

4 – Garçonete (2007)

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Jenna (Keri Russell) trabalha como garçonete de uma lanchonete pequena em uma cidade minúscula e sonha em juntar dinheiro para se separar de seu marido controlador. Mas a vida parece não sorrir para Jenna, pois quando ela decide deixar o marido, descobre que está grávida. Em grande desespero sua única saída é criar tortas inusitadas e saborosas. E Jenna sempre tem ótimas ideias para novas receitas. Da fossa mais profunda ao contentamento total ela cria maravilhas através da culinária. E as criações de Jenna estão sempre em perfeita sintonia com seus sentimentos. Aí está um dos charmes desse filme. Garçonete é um filme delicado, simpático, saboroso e autoral. Um belíssimo trabalho da diretora Adrienne Shelley.

5 – Sem reservas (2007)

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“Sem Reservas” é um filme do diretor Scott Hicks. A obra é uma adaptação do longa-metragem europeu de 2001 “Simplesmente Martha”. Nele, Kate (Catherine Zeta-Jones), é uma problemática chef perfeccionista. Sua vida pessoal não tem nada dos maravilhosos sabores que ela costuma mostrar na cozinha de um restaurante em Manhattan. Sua natureza perfeccionista é colocada à prova quando o subchef Nick (Aaron Eckhart) é contratado. Ao mesmo tempo Kate precisa lidar com a súbita chegada de Zoe (Abigail Breslin), sua sobrinha de 9 anos. Para a realização do longa, os atores Aaron Eckhart e Catherine Zeta-Jones tiveram duas semanas de aulas de culinária com o chef Michael White.

6 – Julie & Julia (2009)

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Esse filme belíssimo é uma cinebiografia de duas mulheres fantásticas. Uma delas é a famosa cozinheira Julia Child (Meryl Streep) e a outra é uma funcionária pública frustrada com quase trinta anos, Julie Powell (Amy Adams). A vida dessas duas mulheres se entrelaçam através da culinária. Julie em um momento de desespero, buscando encontrar algum sentido na vida, resolve cozinhar, em um ano, as 524 receitas do livro de Julia Child “Mastering the Art of French Cooking”. O filme mostra acima de tudo a capacidade das protagonistas de superarem suas dificuldades e de ascenderem, mesmo diante da descrença de muitos. Um filme espetacular!

7 – The Ramen Girl – O Sabor de uma paixão (2009)

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Nesse filme vemos a culinária como caminho para o autoconhecimento. Uma jovem se vê inicialmente sozinha (Abby – Brittany Murphy) em um país de cultura bastante diversa como o Japão. Ela pensa estar perdida depois de ter sido deixada pelo namorado, mas logo transforma a vida das pessoas – que acabaram de aparecer em sua vida – e também se vê transformada por elas. Tudo isso você já viu em vários filmes, mas verá de uma forma totalmente especial em “The Ramen Girl”.  Brittany Murphy está fantástica nesse filme e o empenho de sua personagem em aprender a fazer o tradicional Ramen, nos mostra que bons ingredientes fazem um ótimo prato, mas que o sentimento ao prepará-los sempre será o ingrediente principal.

8 – Comer, Rezar, Amar (2010)

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Impossível falar de mulheres fortes e maduras, sem se lembrar desse filme. Julia Roberts está espetacular interpretando a escritora norte-americana Elisabeth Gilbert que resolve se divorciar e largar tudo, seguindo para a Itália, Índia e Bali. Em sua última parada conhece um brasileiro que faz seu coração bater mais forte. O filme é uma biografia encantadora da escritora que descobre, na Itália, os prazeres proporcionados por uma ótima comida.

9 – A 100 passos de um sonho (2014)

contioutra.com - Os prazeres da comida em 12 filmes MA-RA-VI-LHO-SOS!Esse longa é uma adaptação do livro de Richard C. Morais, aqui traduzido como “A Viagem de Cem Passos”. Desconsidere os passos, o título original faz referência a cem pés, que é a distância entre o restaurante da francesa Mallory e seu concorrente indiano. Rivais, eles simbolizam sutileza versus ousadia, simplicidade versus exagero, razão versus emoção e forma versus tempero. O filme se passa no sul da França. Lá, Madame Mallory (Helen Mirren) é uma respeitada dona de um restaurante que demonstra estar muito aborrecida graças a um concorrente indiano, no entanto, ela conhece o filho do seu concorrente e os dois tornam-se bons amigos. Logo, a senhora francesa ensina ao jovem preciosos segredos de gastronomia. Se o que você procura é uma escapada saudável e prazerosa do mundo real, então esse é o seu filme.

10 – A festa de Babette (1987)

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Na Dinamarca do século XIX, Filippa (Bodil Kjer) e Martine (Birgitte Federspiel) são filhas de um rigoroso pastor luterano. Após a morte do religioso surge no vilarejo, Babette, (Stéphane Audran), uma parisiense que se oferece para ser a cozinheira e faxineira da família. Muitos anos depois, ainda trabalhando na casa, ela recebe a notícia de que ganhou um grande prêmio na loteria e se oferece para preparar um jantar francês em comemoração ao centésimo aniversário do pastor. Os paroquianos, a princípio temerosos, acabam rendendo-se ao banquete de Babette. Um filme maravilhoso, com atuações sutis e autênticas.

11 – Chef (2014)

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Delicioso em todos os sentidos. Chef é uma comédia que conquista o público com sua divertida história sobre um talentoso chef que recomeça do zero após sair do emprego que tinha há vários anos. O sexto filme de Jon Favreau vale seu tempo e dinheiro por diversos motivos: protagonistas sinceros e carismáticos, culinária de primeira e um enredo cativante. Chef é imperdível, seja para crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Se bobear, você vai querer montar o seu próprio food truck e sair por aí conquistando o paladar de muita gente.

12 – Um Sonho de Amor (2015)

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Emma Recchi (Tilda Swinton) deixou a Rússia para se casar com Tancredi (Pippo Delbono). Com o passar dos anos ela se torna mãe de três filhos e se acostuma à vida repleta de luxo, mas com pouca paixão. Um dia, em meio a uma festa, ela conhece Antônio, um chef de cozinha amigo de seu filho. Antonio traz à tona as lembranças de Emma acerca da sua vida na Rússia e reaviva nela as memórias gastronômicas ligadas ao seu país de origem. Logo ela e Antonio iniciam uma paixão. “Um Sonho de Amor” trata, dentre outras coisas, da libertação feminina e da culinária como meio sinestésico capaz de conquistar e tocar corações adormecidos. Lindo!

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Foto de capa: Filme “A 100 passos de um sonho”.

Quando a solidão e eu viramos amigas

Quando a solidão e eu viramos amigas

Imagem de capa:  Antonio Guillem/shutterstock

Algum lugar do mundo, 29 de março de 2017

Era somente mais um dia daqueles em que a solidão batia forte, rasgava por dentro. Novamente, um dia em que o meu vazio ficava proeminente, escancarado. Tão escancarado que jurava que poderiam vê-lo, até mesmo tocá-lo. Aquele buraco enorme no meio do peito. Quisera eu, talvez, que o notassem e me trouxessem o material necessário para tampá-lo.

Um dia em que, por milagre ou coincidência, não havia a correria massacrante do dia-a-dia para me distrair. Não havia compromisso, nem meta, nem nada a entregar. Pelo menos não naquele dia. Por algum motivo, o tempo caminhava mais lentamente, o ar parecia menos oxigenado e o peito mais apertado. A previsão dizia que o sol estava lá, mas só conseguia ver tudo nublado.

Um dia que me convidava a olhar pra dentro, a respirar e refletir. Uma intimação à saída do piloto automático com direito à revisão do veículo. Um dia de solidão. Costumava eu pensar, antigamente, que era falta de gente. Pensava em ter mais amigos, talvez encontrar a família, entrar numa aula de forró. Pensava em todos que naquele momento estavam acompanhados, contemplando um sorriso ou mergulhados em um abraço. Ou mesmo naqueles que exalavam amor próprio.

Tentava lembrar-me de alguém que pudesse entender aquela crise, aliviá-la. Quem sabe se recebesse um telefonema, uma mensagem, uma carta… Porém, mais do que nunca, nestes dias, todos pareciam desaparecer. Como se pressentissem a necessidade daquele encontro e fossem instigados a não perturbá-lo. Aquele encontro inevitável que devemos ter conosco de quando em quando.

Hoje sei que a solidão vem independentemente da ausência de pessoas em volta. Sei que solidão não é saudade do outro. Não é carência tampouco. Não se cura com companhia. Já senti solidão muitas vezes estando com minha família. Em festas, churrascos, aniversários. Já senti solidão na rua, na faculdade, no cinema, na cama. Solteira ou compromissada. Vira e mexe ela vem com tudo. Não pede licença, não avisa e não adianta mandá-la embora.

A solidão, por vezes, é tão forte que chega a doer na pele, sente-se nos poros. E quanto mais fugimos desse necessário encontro com o vazio, mais ela dói. Não é por mal… É preciso recolher-se para descobrir-se. Algo nem sempre tão prazeroso no início. Na verdade, quase nunca, pois descobrir-se normalmente é sinônimo de desapegar-se de ilusões. E de ilusões somos cheios. Desapegar-se é sinônimo de deixar ir. E de resistência, somos lotados.

A solidão, invisível companheira, não faz questão de ser querida. Vem e ensina com firmeza. Só nos deixa quando cumpre seu propósito. Não tem dó. Sabe que é para nosso bem, doa o que doer. Algo que só amigos verdadeiros fazem. Daqueles inoportunos que te dizem verdades inconvenientes que relutamos em ouvir, mas que no fim provam sua importância.

A solidão parece gostar de mim. Visita-me com frequência desde criança. Costumava lutar, pedir que seguisse seu rumo. Tentei desfazer-me de sua amizade. Um dia, exausta pela sua insistência, mesmo que silenciosa, encarei-a de frente. Quando mirei em seus olhos profundamente, vi a mim mesma. Nunca me sentira tão frágil e tão forte. Ela se despediu naquele momento. Algo mudou. A necessidade de outras pessoas havia diminuído.

Resolvi, então, deixar a casa aberta para quando quisesse voltar. Passei a recebê-la com carinho. Hoje em dia, deixo até mesmo guardado alguns doces, um par de meias confortáveis e um café com canela especial que só faço quando ela aparece. Passamos, por vezes, o dia juntas, mas ela sempre vai. Ela sempre volta.

INDICADOS