Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos

Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos

Imagem de capa: Kseniya Ivanova, Shutterstock

Veja bem, o amor é bonito quando não é contido. Quando, na maior parte das vezes, concorda em ultrapassar o comum e o mais do mesmo para ser gigante, cúmplice e carinhoso. Mas isso tudo é diferente do amor pregado aos extremos. Daquele que torna-se abusivo – seja por ultimatos ou por outras formas de controle que tentam escravizar o coração a ter um único dono, o tempo inteiro.

Submeter sentimentos nas mãos de alguém é um indicativo de falsa liberdade. É preciso paciência e cuidado na hora de se entregar num relacionamento. Conhecer quem está do seu lado requer, principalmente, disponibilidade. Para conversar, para aproveitar os românticos entrelaces e compartilhar pensamentos e valores. Porque intimidade não surge somente entre beijos. Assim como o respeito, que também necessita brotar do mútuo.

Em quantas oportunidades, atitudes abusivas não fingiram, retrucaram e tomaram o lugar de uma singela preocupação? Começa assim, com a desculpa esfarrapada de estar “apenas preocupado” e “cuidando de você”. Até que um dia, preocupações se transformam em ultimatos. Ah, os ultimatos. Ultimatos são venenosos para o amor. No começo, você nem sente. Mas depois? Depois percebe que invadiu, sem pedir licença, o amor próprio.

Amores podem ser abusados, mas nunca devem ser abusivos. Porque o amor é a sensação de paz no agora. É a confiança e a vontade gostosa de percorrer instantes ao lado de quem se ama, mesmo sabendo que existe local e momento para acontecer. Porque o amor entende que para ser dois, faz muito bem ser um de vez em quando. Amor abusado é inteiro e em concordância emocional. Amor abusivo, antes de mais nada, nunca foi amor.

A beleza subjetiva do filme “O Piano” de acordo com a mitologia

A beleza subjetiva do filme “O Piano” de acordo com a mitologia

É de Joseph Campbell uma das definições mais belas de mitologia. Para ele a mitologia é a canção do universo, música que nós dançamos mesmo quando não somos capazes de reconhecer a melodia.

A mitologia se expressa através dos mitos e como mitos podemos descrever aquilo que os seres humanos têm em comum, histórias da nossa busca pela verdade, sentido e significação, através dos tempos. São metáforas que falam da alma humana.

E mesmo que nós não estejamos tão ligados ao que trata a mitologia e seus símbolos, eles nos chegam de várias maneiras. A arte, por exemplo, é uma ótima forma de dedilhar a mitologia e sua significação e o cinema não foge a essa regra.

Muitos filmes têm retratado a Grécia de forma categórica atualmente, mas existem outros, a meu ver mais interessantes, que tratam da mitologia de forma mais velada. E não importa se a mitologia fala de deuses e deusas ou de aspectos que lembram um outro tempo. As vivências humanas parecem seguir padrões comuns no decorrer dos séculos.

Vou falar a seguir um pouquinho sobre um dos filmes mais emblemáticos da década de 90, um filme muito interessante e subjetivo que utiliza aspectos mitológicos em sua concepção: O Piano.

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O piano de Ada é deixado na praia por seu marido.

O Piano – de Jane Campion – 1993

O filme O Piano, se passa em 1850 e narra da história de uma mulher, Ada, que vai para Nova Zelândia a fim de concretizar um casamento arranjado pelo pai. Ada não fala desde os 06 anos de idade e ninguém sabe a razão disso. No entanto, ela se expressa ao mundo através de seu piano e também de sua filha pequena que, por vezes, faz no filme o papel de alter ego de Ada.

O Piano é um dos filmes mais delicados e profundos que já assisti. Se Carl Gustav Jung estivesse vivo, esse filme o encantaria por certo, pois Ada e o piano se ligam lindamente em uma simbiose que remete diretamente ao inconsciente.

No que diz respeito à mitologia grega, Ada se assemelha à figura de Perséfone, uma deusa dividida entre o mundo da luz e o da escuridão. O mito diz que ao se debruçar para colher um narciso, Perséfone, que nesse momento em sua pureza se chamava Coré, foi sequestrada por Hades, o deus do mundo inferior e levada para o subterrâneo. Muito triste a mãe de Perséfone, Deméter, conseguiu fazer com que a filha passasse alguns meses ao lado dela e outros incontestavelmente ao lado de Hades. Isso porque, de acordo com o mito, Perséfone alimentou-se no subterrâneo com sementes de romã e isso a ligou a esse mundo para sempre, fazendo com que vivesse nos dois mundos.

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Muita chuva, lama e tristeza marca a vida de Ada ao lado do marido.

Ada teve seu casamento arranjado pelo pai que a mandou para a Nova Zelândia, uma terra bastante inóspita no período. Chegando lá o marido decidiu levar todos os pertences de Ada para casa, menos o piano. Dessa forma ele nega-lhe sua principal fonte de inspiração e expressão e de forma displicente impede, temporariamente, que Ada acesse seu mundo interior. Lembremos que Ada já vinha se declinando mais ao mundo inconsciente que ao consciente, na medida em que, sem falar, se mantinha de certa forma inacessível aos que a cercavam.

Desde os 6 anos de idade Ada vivia intimamente ligada ao seu inconsciente e só conseguiam se aproximar dela os que mergulhavam em seu mundo interior através da música. Em certo momento uma das mulheres da vila relata que a música tocada por Ada era estranha, como se não fosse apenas uma melodia. Sim, não o era. Era Ada falando pro mundo de outras formas.

No filme Ada tem seu piano vendido então pelo marido a George Baines, um homem que apesar de estrangeiro consegue entender e falar a língua dos nativos. Baines, no entanto não pretende ficar com a voz de Ada para si e dá-lhe a chance de tocar para ele em “aulas” que o encantam e o levam a se apaixonar ainda mais por ela. Ele também propõe que Ada resgate sua voz (o piano) através da interação que ambos passam a ter durante as “aulas”.

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George Baines pede a Ada que toque para ele em sua casa.

Nesse momento Baines se assemelha muito ao deus Hades, pois metaforicamente sequestra Ada, mantendo-a junto dele, já que, uma vez com o piano dela, sabe que Ada não conseguirá ficar muito longe. Como Hades ele a mantém em seu reduto por amor. Baines se assemelha também ao deus do subterrâneo em outros aspectos: Hades era um deus solitário, que se apaixonou loucamente por uma mulher de outro plano, uma mulher de certa forma proibida e que para tê-la subverteu regras, conquistando-a enfim e fazendo dela uma deusa poderosa.

Baines acessa muito bem o inconsciente de Ada e o compreende, mas entende que ela deve ser completa, também admirável quando no mundo consciente. Ele quer que ela seja plena nos dois mundos, falando em um pelo piano e no outro através da própria voz. Baines de certa forma compreende que Ada está irremediavelmente ligada ao mundo inconsciente, por razões não explicadas no filme. Não sabemos quais foram as sementes de romã que a fizeram se calar na infância.

Mais do que desejo, sim pois esse poderia ser o tema principal desse filme belíssimo, cuja trilha sonora memorável tem a música tema intitulada “The heart asks the pleasure first”, O Piano fala da busca do equilíbrio entre o mundo interior e exterior. Baines traz Ada de volta ao consciente, mas permite que ela continue acessando seu inconsciente através do piano. Ele não lhe nega a subjetividade. Nesse ponto Baines demonstra seu amor por Ada, pois a aceita como é, admirando-a, mas a incita para o melhor.

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George Baines e Ada em cena romântica do filme O Piano

Quando Ada sai da Nova Zelândia, levando consigo seu piano e precisa se desfazer dele nas águas revoltas do mar para que o barco onde está não afunde, ela tem o ímpeto de se jogar nas águas junto do piano. O mar aí aparece como representação do inconsciente. Mas ela entende que não deseja viver só nele e volta atrás.

Também não posso deixar de falar que a deusa Perséfone foi descrita de acordo com o poeta greco-romano Opiano de Apameia como uma mulher de olhos negros e beleza estonteante pela qual muitos homens se apaixonaram. Além do nome do poeta fazer menção direta ao nome do filme, uma coincidência, Ada, cujo nome significa beleza, também tem misteriosos olhos negros e seduz os homens sem esforço.

Representativamente, Perséfone é comumente retratada em um trono de Ébano ao lado do marido Hades. E o ébano é o material do qual eram feitas inicialmente as teclas escuras dos pianos. Esse também é outro detalhe que não pode ser ignorado.

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Eu não quero nenhum homem comendo na palma da minha mão

Eu não quero nenhum homem comendo na palma da minha mão

Dia desses uma amiga veio me dizer: não me leve a mal, você é uma mulher evoluída, que busca tanta coisa bonita, mas às vezes deveria agir com mais razão e estratégia, por exemplo com homens, você podia dar um gelo, ser dominadora, ativa, altiva, fria, e fazê-los comer na palma da sua mão.

Eu fiquei pensando: é, eu sei, a gente pode ter esse poder, eu até sei ter se eu quiser, talvez as pessoas precisem dessas encenações para criarem ilusões, para construírem mais uma historinha para encherem as vidas, talvez o ser humano queira suprir o vício de jogos e dramas que todas essas novelas e músicas dor-de-cotovelo implantaram na nossa alma.

Eu podia fazer joguinho, dar uma de fria, controlar minhas emoções, não expressar sentimentos e sensações. Eu podia armar esquemas, traçar planos, não sair do salto, ficar num plano superior. Eu podia me mostrar sempre linda e equilibrada, poderosa e bem resolvida. Eu podia conquistar alguém por tudo isso aí e mais um pouco, por tudo isso que eu sei ser muito bem, mas… não é o que eu realmente sou.

E só de pensar no ‘fria, poderosa e bem resolvida’, só de pensar em não expressar o que eu sinto e expressar o que eu não sinto, só te pensar em medir as mensagens, em ajeitar o cabelo, em veladamente mostrar meu currículo tão bonito de vida, me dá uma preguiça!

Eu que sou a louca, que hoje esqueci a chapinha, que parei de pintar a raiz do cabelo e tive dor de barriga por duas semanas. Eu que ainda choro como criança quando baixa a TPM, eu que às vezes falo mais do que a boca e me empolgo com uma brincadeira a dois, eu que outras vezes sou silêncio absoluto, imersa num universo paralelo desconhecido.

Que preguiça eu tenho de por o salto-alto se eu sei que vou tropeçar (mesmo no salto-alto metafórico), que preguiça eu tenho de ignorar aquilo que me faz acender toda. Que preguiça eu tenho de engolir o choro e a risada, de colocar embaixo no sutiã, do corretivo e das segundas intenções tudo o que eu deveria ter vergonha de mim, ou tudo que poderia ser escondido para que uma missão fosse cumprida com êxito.

Que preguiça só de pensar em querer fazer qualquer coisa ou pessoa comer na palma da minha mão. E quantas chances boas eu perco por não querer jogar o jogo, entrar na dança? Todas aquelas que num futuro próximo trariam insegurança, e frases do tipo: você não gosta de mim, do que eu realmente sou!

Afinal, tudo que se esconde, cedo ou tarde vem à tona. Eu não quero que ninguém coma na minha mão porque eu não quero me apertar para caber numa ilusão.

Que a gente coma sim, e de mãos dadas, que a gente coma numa mesa, numa varanda, num piquenique, lado a lado, de almas estiradas ao sol e imperfeições à céu aberto. Que a gente coma com as mãos, com as bocas, com os corpos, desde que haja vontade de comer, desde que seja um na mão do outro, um no corpo do outro, um na alma nua do outro.

Pois, pra falar bem a verdade, essa babaquice toda de conquista já não me fascina faz tempo. E quanta gente fugiu ao ver de perto a minha cara lavada de louca, muita gente mesmo! Já estou até acostumada. Mas o tesouro disso tudo é que quem ainda tem vontade de ficar por perto, é quem vale muito, mas muito a pena!

“É preciso transver o mundo”

“É preciso transver o mundo”

Imagem de capa: frankie’s/shutterstock

“Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si.” Rubem Alves.

Manoel de Barros diz em um dos seus versos: “A criança erra na gramática, mas acerta na poesia”. Pensando nisso e, consequentemente, na vida, algo que me é muito peculiar, cheguei à conclusão de que a saída da vida é a poesia. É viver poeticamente. É ver a poesia, enxergar a poesia, é transver as coisas por meio da poesia, pois como diz o mesmo Manoel: “É preciso transver o mundo”.

Com os olhos da infância, que sem preocupações sistematicamente racionais, se preocupam em descobrir o que há no mundo pronto para desabrochar.

Transver o mundo é transfigurar a realidade, é fugir das suas algemas, da sua limitação, do seu automatismo. Mas isso não implica fingir que ela não exista, e sim, encará-la de modo a modificá-la, acrescentando magia ao real, esmiuçando o óbvio, já que é quando esmiuçamos o óbvio que a magia presente na simplicidade das coisas vem à tona e, então, tem-se poesia.

A poesia, dessa forma, está em tudo, nas maiores miudezas, basta que se olhe de forma enviesada, transversa. Viver poeticamente é buscar enxergar o óbvio, é não ser engolido pelos leões da normalidade, é sentir o vento na sombra.

Na maior parte do tempo sequer percebemos o que existe ao nosso redor. Somos seres de idas, mas a vida está nas encostas. A beleza do mundo requer um olhar periférico, oblíquo, insinuante, irreverente. Eu já acreditei que a saída estava no humor, mas entendi que o humor perpassa pelo poético, é um substrato da poesia, de modo que ao usar o humor, também somos poéticos, pois é condição própria da poesia dar voltas na razão e tornar a vê-la cheia de risos.

A poesia serve para isso: desconsertar. E nós estamos muito sérios. Precisamos ficar mais desconcertados, como quando olhamos para algo e o silêncio pinta na imaginação do olhar os versos que jamais conseguiríamos dizer com caneta e razão, porque certas coisas a gente só sente, não carece de explicação. Às vezes enxergar já é a melhor explicação que pode existir.

Eu sei que nem sempre conseguimos ser assim. No entanto, podemos ter um olhar poético de vez em quando, ou será que precisamos ser tão sisudos o tempo inteiro? Ser donos da razão e inquilinos do coração só nos garante a acumulação, e isso explica porque temos tanto e sorrimos tão pouco. Somos acumula(dores).

Esquecemos de enxergar o óbvio, o qual pode estar em qualquer lugar, em qualquer coisa, em alguma pessoa, em uma simples conversa, ou no balançar das árvores quando a noite vem caindo de mansinho, bem devagar, e as brisas que a anunciam tocam em nosso corpo e dizem em nossos ouvidos baixinho quais estrelas iluminarão o céu. Você já enxergou o céu?

A saída da vida é a poesia, não há como viver sem enxergar beleza nesse mundo. Não há como transfigurar a realidade sem enxergar o despercebido, as entrelinhas, que, embora, óbvias, são invisíveis. Sei que a vida é cheia de dor e sofrimento, mas, se não considerarmos a sua imensidão de beleza e a sua capacidade poética, então, a vida está perdida, porque é para isso que vivemos.

É na simplicidade que mora a poesia, a felicidade, o sonho, o sentido da vida. Mas, é preciso transvê-la para poder enxergar. Você possui imagin(ação) para isso?

O que eu passei, já passou!

O que eu passei, já passou!

Imagem de capa: romualdi/shutterstock

Se há uma dura tarefa a cumprir, é a de deixar no passado o que pertence ao passado. Arrastamos o ontem como um troféu ponteagudo que, embora conquistado, nos fere a cada toque.

E desenrolamos o pergaminho do passado com uma insana riqueza de detalhes, utilizando todas as licenças poéticas disponíveis, porque até para a dor, romantizamos o quanto podemos. A piedade conquistada nesse momento nos alimenta, ainda que seja indigesta.

Todo mundo tem um passado, todo mundo já sofreu traumas, abandonos, rejeições. Há quem tenha sido largado por falta de amor, há também quem tenha sequer registrado a indiferença com que foi tratado. Há infinitos passados em cada um de nós.

As desordens da vida não são culpa do passado, que não deveria ser tão demonizado assim. A gente fala de passado como se fosse um maníaco insensível e insaciável. Mas o passado é o que somos.

Acabei de olhar para trás e esse momento já é passado, vivido por mim. É o que sou, do jeito que me virei, a maneira como olhei e o que entendi do que vivi.

O que eu passei, passou. Vivi coisas incríveis, mas comi muito capim também. E –surpresa- não ganhei o o passe livre para a felicidade e sossego no futuro. O passado é hoje, há um minuto.

A vida é uma dinâmica que não comporta esse excesso de bagagens e histórias. Pessoas, cenários, reações e certezas se alteram numa velocidade absurda.
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O saudoso passado arrastado ainda tenta ganhar o lugar do presente e sonha em interferir no futuro, como um tutor que tudo sabe porque tudo já passou. Mas o que ele sequer desconfia, é que além de passado, já foi ultrapassado pela vida que quer e sabe como conquistar o seu espaço.

De minha parte, fico com a empolgante tarefa de a cada dia, limpar o quadro, preparar os pincéis e a aquarela, porque o grande presente é fazer do passado um sábio aliado.

O que passei, passou.

Me diz, com que pernas devo seguir? Sobre relacionamentos e fins

Me diz, com que pernas devo seguir? Sobre relacionamentos e fins

Imagem de capa: romualdi, Shutterstock

Pode parecer loucura ou até um pouco de desespero, mas saber que você não está mais comigo, dói. Dói porque é difícil imaginar, depois de tantas partilhas, um tempo só meu. E os instantes que tivemos foram tão marcantes que, agora, não sei bem como seguir. Sem suas pernas, sem seus abraços, sem seus sorrisos.

Românticos dizem que toda história de amor atravessa tempestades. Que o amor é constantemente testado para saber da sua força e intensidade. Desconfio dessa teoria, sendo sincera. Precisar passar por esses mares de faltas e ausências, não deveria ser assim tão duro e seco. Não porque seja impossível, pelo contrário, é até comum. Mas existe uma dificuldade tremenda em aceitar, em saber diferenciar quantos dias são necessários para encontrar paz mais uma vez.

Teu gosto ainda está na minha fala. O cheiro das nossas noites ainda está nos meus lençóis. Me diz, como seguir adiante? Como continuar quando a saudade não vai embora, quando ela só sabe jogar na cara a presença inconfundível que você deixou? Não sei o que fazer, juro. Não estava preparada. Eu sei que não se trata de distribuir culpas. Elas nunca fazem bem. Algumas vezes, os caminhos de um querer a dois acabam sendo mais partidas do que chegadas. De verdade, entendo. Não trago mágoas. Mas dói. Dói agudo.

Talvez, quem sabe, mais adiante encontremos uma nova oportunidade ou um novo começo. Não estou pedindo uma segunda chance, porque sei que quem dita os próximos passos é o tempo. Não o tempo da gente, mas o da vida. De qualquer forma, mentiria se não imaginasse, ao menos uma vez, que a sorte coincidisse com o nosso amor já explorado.

Tudo bem, paro por aqui. Tenho que ser forte. Tenho que aprender a andar de novo.

Vou seguir, enquanto puder, sua. Mas agora com as minhas próprias pernas.

20 filmes sensíveis sobre o Autismo

20 filmes sensíveis sobre o Autismo

As relações que diariamente estabelecemos e vivemos nos convidam a pensar o outro e nós mesmos, especialmente quando o incomum nos toca. A seguir segue uma lista de 19 filmes que falam lindamente sobre personagens, reais ou não, diagnosticados com autismo. Discutindo preconceitos, aprendizados e ensinamentos, as histórias a seguir inspiram o respeito e a compreensão, pontuando de forma delicada como pessoas autistas vivem e enxergam o mundo. Alguns filmes estão disponíveis na Netflix e outros na internet.

1 – Rain Man (1988)

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Charlie Babbitt (Tom Cruise) espera receber uma grande herança após a morte de seu pai, mas Raymond (Dustin Hoffman), seu irmão mais velho, internado em uma instituição médica, alguém cuja existência Charlie ignorava até então, é quem recebe toda a fortuna. Raymond é um autista com habilidades mentais seriamente limitadas em algumas áreas, mas com capacidade de gênio em outras. Quando Charlie rapta Raymond, uma longa e maluca viagem atravessando o país, rumo a Los Angeles, ensina aos dois lições sobre a vida. O personagem de Dustin Hoffman foi inspirado em Kim Peek, um americano notável, diagnosticado com Síndrome de Savant.

2 – O enigma das cartas (1993)

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Quando o marido de Ruth Matthews (Kathleen Turner) morre, a caçula do casal, Sally (Asha Menina), reage à morte do pai de maneira muito estranha, pois ao voltar para sua casa não profere uma só palavra. Quando o comportamento de Sally piora, Ruth se vê obrigada a deixar que Jacob Beerlander (Tommy Lee Jones), um especialista em crianças autistas, examine sua filha. Jacob tenta tirar Sally da sua desordem mental por métodos tradicionais, mas Ruth tenta de outra maneira, ao reproduzir em grande escala um castelo de cartas que sua filha tinha construído. Por mais estranho que seja, Ruth crê que só assim terá Sally de volta.

3 – Gilbert Grape: aprendiz de um sonhador (1993)

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Gilbert Grape (Johnny Depp) é um jovem que, desde a morte do pai, é o responsável por sustentar a família. Sua mãe Bonnie (Darlene Cates) sofre de obesidade mórbida desde que entrou em depressão, após o suicídio do marido, e o seu irmão caçula, Arnie (Leonardo DiCaprio), é autista. A vida em família é repleta de carinho e proteção, apesar das dificuldades enfrentadas. Até que Grape se apaixona por Betty (Mary Steenburgen), uma dona de casa casada.

4 – Experimentando a vida (1999)

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Molly McKay (Elisabeth Shue) é uma mulher autista de 28 anos. Quando jovem ela foi internada, mas com o fechamento da instituição, Buck McKay (Aaron Eckhart), seu irmão, ficou com sua guarda. O irmão não a via desde quando ela era criança e isso faz com que sejam quase estranhos. Quando Buck fica sabendo de uma arriscada cirurgia experimental que pode ajudar Molly, ele dá seu consentimento. A operação é um sucesso e Molly revela desde então um genial intelecto. Mas a sua personalidade autista permanece e Buck constata que a nova Molly vai enfrentar grandes desafios.

5 – Meu nome é Radio (2003)

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Baseado numa história real, acontecida na Carolina do Sul (EUA), o filme conta a história de Radio (Cuba Gooding Jr.), um jovem autista, que depois de sofrer inúmeros preconceitos, acaba recebendo o apoio do treinador do time de futebol americano da cidade em que vive. (Ed Harris). A amizade e relação de confiança entre os dois modifica não só suas vidas, mas toda a dinâmica do colégio e da comunidade.

6 – Missão Especial ou Uma viagem inesperada (2004)

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Baseado em uma história real, Corinne (Mary-Louise Parker) é uma mãe solteira de gêmeos de 5 anos de idade, Steven e Phillip, que são autistas. Corinne fica transtornada ao descobrir que não existe cura ou tratamento efetivo para o autismo. Para não se tornar prisioneira das limitações provocadas pelo transtorno, ela está determinada a propor uma vida normal aos filhos e começa uma jornada em busca de uma nova forma de viver a vida. Ela terá que enfrentar muitos obstáculos para superar preconceitos e mostrar a capacidade de seus filhos ao mundo. Um filme tocante!

7 – Loucos de amor (2005)

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Donald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger. Donald trabalha como motorista de táxi, adora os pássaros e tem uma incomum habilidade em lidar com números. Ele gosta e precisa seguir um padrão em sua vida, para que possa levá-la de forma normal. Entretanto ao conhecer Isabelle, em seu grupo de ajuda, tudo muda em sua vida, pois ele se apaixona por ela. O filme foi inspirado na vida real do casal Jerry Newport e Mary Meinel (agora Mary Newport).

8 – Uma família especial (2005)

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Dos sete filhos de Maggi (Helena Bonham Carter), quatro são autistas em maior ou menor grau e os demais apresentam diferentes tipos de transtornos. Determinada, Maggi empreende então uma surpreendente luta, repleta de momentos mágicos, alegres e tristes, para ajudar seus filhos especiais a ter uma vida feliz. Drama baseado na história real de Jacqui Jackson. Hoje Jacqui escreve livros relacionados ao autismo.

9 – Um amigo inesperado (2006)

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Kyle Gram é um menino frágil que tem autismo. Seus pais fazem de tudo para tentar se comunicar com ele, até que um cachorro chamado Thomas, consegue criar uma relação com o menino que o ajudará a escapar do seu silêncio.

10 – Um certo olhar (2007)

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Alex (Alan Rickman) é um taciturno inglês que está no Canadá para se encontrar com a mãe de seu falecido filho. No caminho ele dá carona para Vivienne (Emily Hampshire), uma jovem carismática que vai visitar a mãe. Na viagem um caminhão atinge o carro, matando Vivienne. Alex sai então à procura da mãe da jovem. Ao encontrá-la, descobre que ela (Sigourney Weaver) é autista. Linda não tem qualquer reação ao saber da tragédia, mas Alex decide ficar com ela até o funeral. “Um Certo Olhar” foi produzido de forma independente e escrito por Angela Pell, cujo filho é autista. No fim das contas esse é um filme que, apesar de tudo, nos faz olhar a vida com otimismo. Destaque para as ótimas atuações.

11 – Sei que vou te amar (2008)

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Thomas Mollison é um jovem de 16 anos que quer apenas ter uma vida normal. Seu irmão mais velho, Charlie, tem autismo e o funcionamento de toda a família gira em torno dele. Ao se mudar para uma nova casa e escola, Thomas conhece Jackie Masters e se apaixona por ela. Quando sua mãe fica confinada à cama, devido a uma gravidez, Thomas então deve assumir a responsabilidade de cuidar do seu irmão, o que pode custar a sua relação com Jackie. Thomas embarca então em uma viagem emocional repleta de frustrações e angústias.

12 – Adam (2009)

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Adam (Hugh Dancy) é um jovem meigo e simpático, mas com dificuldade de se relacionar com as pessoas. Ele tem Síndrome de Asperger, vive num mundo solitário até que conhece sua nova vizinha Beth (Rose Byrne), uma linda moça simpática e muito atenciosa. O relacionamento dos dois demonstra, acima de tudo, que os dispostos se atraem. Muito delicado esse filme.

13 – Mary e Max: uma amizade diferente (2009)

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Essa animação narra a amizade entre Mary Daisy Dinkle, uma garota solitária de 8 anos, que vive em Melbourne, na Austrália; e Max Jerry Horovitz, 44 anos que vive em Nova York. Obeso e também solitário, ele tem a Síndrome de Asperger. Mesmo com tamanha distância e a diferença de idade existente entre eles, Mary e Max desenvolvem uma forte amizade, que transcorre mesmo com os altos e baixos da vida, numa relação que se sustenta através da troca de cartas por 20 anos.

14 – Temple Grandin (2010)

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Esse filme é uma cinebiografia da jovem autista Temple Grandin (Claire Danes). Ela tinha uma maneira particular de ver o mundo, o que a fez se distanciar das pessoas, mas isso não a impediu de conseguir, dentre outras coisas, seu doutorado. Com uma percepção de vida totalmente diferenciada, dedicou-se aos animais e revolucionou os métodos de manejo do gado com técnicas que surpreenderam experientes criadores. O filme é uma lição de vida e a atriz Claire Danes está sensacional nele.

15 – My Name is Khan (2010)

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O filme retrata a história de um homem com Síndrome de Asperger (Autismo) e sua luta para dizer ao presidente dos Estados Unidos e, consequentemente a todos, que ele não é um terrorista só porque nasceu muçulmano. A inocência de Khan, o personagem principal do filme, e sua determinação, servem de lição a todos nós.

16 – Um elo de amor (2015)

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Jimmy (Ian Colletti) é um jovem autista que, às vezes, não compreende tudo o que acontece ao seu redor. Porém, ele possui uma memória fantástica, que, junto de sua ingenuidade, acaba deixando-o comumente em apuros. Seu avô (Ted Levine) e sua madrasta (Kelly Carlson) incentivam o garoto a superar os traumas, entretanto, ele fica aflito ao se deparar com seus medos.

17 – Farol das Orcas (2016)

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Baseado em fatos reais o roteiro de “Farol das Orcas” fala de um biólogo marinho, Beto Bubas, que vive na Patagônia argentina, mais propriamente na península de Valdes, a estudar baleias orcas. Em um determinado dia Beto encontra na porta de sua casa uma mãe espanhola com seu filho pequeno, Tristan, um menino autista, que ao ver um documentário de Beto na Tv esboçou reações nunca antes esboçadas. A mãe do garoto viajou o mundo para encontrar o biólogo a fim de ajudar o filho a se comunicar através do contato com as orcas. Toda a história é verídica. Beto existe e realmente encontrou uma mãe corajosa e seu filho autista, Agustín. A história tocou tão profundamente Roberto (Beto) que o inspirou a escrever o livro “Agustín Corazon Abierto”. Filme lindo, lindo, lindo!

18 – Tão forte e tão perto (2011)

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Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto muito apegado ao pai, Thomas (Tom Hanks), que inventou que Nova York tinha um distrito hoje desaparecido para fazer com que o filho tivesse iniciativa e aprendesse a falar com todo tipo de pessoa. Thomas morre então no 11 de setembro e sua perda é um baque para Oskar e sua mãe, Linda (Sandra Bullock). Um dia, Oskar encontra um envelope onde aparece escrito Black e, dentro dele, uma misteriosa chave. Esse é o início de uma aventura vivida por ele em busca de um sentido para o inexplicável. Apesar de não ser dito abertamente no filme, Oskar provavelmente é portador da Síndrome de Asperger.

19 – Uma lição de amor (2002)

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Sam Dawson (Sean Penn) é um homem com autismo que cria sua filha Lucy (Dakota Fanning) com a ajuda de seus amigos. Porém, assim que faz 7 anos, Lucy começa a ultrapassar intelectualmente o pai, e essa situação chama a atenção de uma assistente social que quer internar Lucy em um orfanato. A partir de então Sam enfrenta um caso quase impossível de ser vencido, contando com a ajuda de uma advogada, Rita Harrison (Michelle Pfeiffer), que aceita o seu caso como um desafio.

20 – O menino e o cavalo, (2009)

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O jornalista britânico Rupert Isaacson se apaixonou pela americana Kristin Neff, professora de psicologia, quando viajava pela Índia. Sete anos depois, em 2001, nasceu seu filho Rowan. O mundo parecia perfeito até o menino ser diagnosticado com autismo. Tendo recorrido a todo tipo de terapia, sem sucesso, Rupert decide apostar numa jornada espiritual. Percebendo o amor do filho por cavalos, ele pesquisa como conciliar este fato com a busca por uma técnica de cura ancestral. A família parte assim para a Mongólia, onde, cavalgando por milhas, irão atrás do xamã mais poderoso da região. Esse é um documentário real e emocionante.

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A arte de não falar nada, só observar

A arte de não falar nada, só observar

Não é por nada, mas vem crescendo deveras a quantidade de opiniões descompassadas, agressivas e preconceituosas sobre os mais variados fatos que ocorrem. Tanto nas redes sociais, quanto na mídia em geral e nas rodas de conversa, ouvem-se verdadeiros absurdos, mensagens de ódio e destempero, carregados de retrocesso e violência, muitas vezes de forma não velada.

Ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas que se prontifica a cuidar da vida dos outros, palpitando sobre o que não lhes diz respeito, intrometendo-se em assuntos estritamente pessoais, incomodados com o que nem deveriam pensar sobre. Quantos fiscais da vida alheia abundam entre os recantos do país, quanta gente rota falando das rasgadas, quanta hipocrisia neste mundão.

Por isso é que se torna cada vez mais necessário nos calarmos diante daquilo que não tem a ver com nossas vidas, diante de quem fala barbaridades, de quem ataca o outro com ódio, sem razão nem por quê. Sim, o melhor a se fazer é apenas observar, calar-se e prestar atenção, como mero espectador, enquanto o outro se afunda na própria cova de maldades. O silêncio não ferra, não violenta, não nos deixará em maus lençóis.

Embora tenhamos que nos impor, em determinadas circunstâncias, dizendo o que sentimos, sem ressalvas, a fim de que nossos limites nos salvem, praticar o silêncio nos poupará de contendas inúteis, de discussões desgastantes, de assuntos desnecessários e de pessoas irritantes. Saber a hora de dizer algo e o momento de não falar nada é uma arte, pois é assim que resguardaremos nossas forças para o enfrentamento do que realmente importa.

A vida nos coloca de frente com os mais variados tipos de pessoas, inclusive com quem colocará à prova nossa paciência, nosso equilíbrio interior. Caberá a nós o discernimento necessário, para que não nos afundemos na lama alheia, mantendo nossa integridade intacta. Para tanto, calar e observar em muito nos ajudará a prosseguir em paz com nós mesmos, em busca de lugares saudáveis e de gente que soma, sem que desistamos de nossa felicidade por conta da verborragia inútil de quem se intromete onde não é chamado.

Imagem de capa: Anastasiia Fedorova/shutterstock

Alquimia

Alquimia

Imagem de capa: Vera Petruk/shutterstock

A alquimia é uma arte antiquíssima que deu origem a conhecida Química clássica.

Não se tem uma data precisa de quando começaram os estudos alquímicos, contudo os alquimistas já eram conhecidos na Antigüidade, sendo o mais famoso, o egípcio Hermes Trismegisto (três vezes grande) e seus ensinamentos da Tábua de Esmeralda.

Mas também existe uma alquimia árabe, grega e uma chinesa, que apesar de apresentar diferenças sutis possuem a mesma essência, que é a de transformar chumbo em ouro para a obtenção do Elixir da Vida ou A Pedra Filosofal; um remédio que curaria todas as coisas e daria vida longa àqueles que o ingerissem.

Carl Jung consagrou muitos anos de estudo a este tema. E em seu livro Psicologia e Alquimia introduziu, a alquimia na psicologia, demonstrando a importância que possui esse tema, e quanto o que tem para dizer ao homem moderno. Ele começou a estudar alquimia devido a semelhança entre o material produzidos pelos sonhos de seus pacientes e a alquimia.

A alquimia é, em si mesmo, tremendamente obscura e complexa, e os textos muito difíceis de ler, mas seu conteúdo é de extremo valor para o autoconhecimento. Ela é uma palavra árabe alkhimiya, derivada do substantivo khemi que significa terra preta e assim a arte da alquimia consiste na transmutação da matéria original negra em ouro, depois de passar pelo branco e vermelho.

Ao estudar a alquimia, Jung percebeu que havia algo mais e que o alquimista projetava o seu inconsciente durante o processo alquímico. Além disso, a alquimia traz um material mais depurado de qualquer traição religiosa ou cultural e que por isso está muito mais próxima do inconsciente coletivo do que os mitos e as religiões.

A alquimia oferece uma base bastante objetiva para a análise de sonhos e de outros materiais do inconsciente que aparecem na terapia e na vida cotidiana.

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Mas no que consiste a alquimia?
A ideia central da alquimia é a ideia da Opus. Basicamente um trabalho sagrado que visa a busca do valor supremo e essencial. Essa busca do essencial e do que é mais sagrado e valoroso simboliza a nossa busca pelo autoconhecimento.

Essa Opus era uma arte laboriosa e exigia muita paciência e coragem. Mostrando que nossa busca por melhoria interna e pelo autoconhecimento exigem de nós muito empenho e perseverança. A Opus também nos leva a ter consciência de um nível transpessoal, além do nosso ego. Isso significa que temos que nos apoiar no Self (centro da totalidade transpessoal) e ser orientados por ele e não pelos desígnios do ego.

Os alquimistas desenvolviam esse trabalho de forma muito solitária, e o processo de autoconhecimento é bastante solitário. Ninguém pode fazer isso por nós e quem se encontra fora desse processo não entende pelo que se está passando. O processo de autoconhecimento gera uma alienação temporária em relação ao mundo exterior. É um nadar contra a maré do coletivo!

Resumindo: a ideia da Opus é criar uma substância miraculosa e transcendente, conhecida como Pedra Filosofal ou Elixir da Vida e para isso deve-se, em primeiro lugar, descobrir o material adequado, chamado de prima mater (matéria prima). Esse material será submetido a uma série de operações a fim de alcançar a Pedra Filosofla.
Nenhum alquimista realmente conseguiu alcançar a Pedra Filosofal. Todavia, o que importava para eles era o processo em sim e não a meta.

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Mas o que seria essa matéria prima?
A matéria prima remonta desde os filósofos pré – socráticos. Esses antigos filósofos diziam que o mundo é gerado de uma matéria única original, a qual chamaram de a primeira matéria. Eles divergiam no tocante a forma dessa primeira matéria: uns diziam que era a água (Tales); ou o ilimitado (Anaximandro); o ar (Anaxímenes) e também o fogo (Heráclito). No entanto, ambos concordavam que ela existia.
Simbolicamente essa matéria prima somos nós mesmos e todo o trabalho é feito em algo desconhecido, que é a personalidade humana e precisamos ser reduzidos a essa primeira matéria para encontrar o essencial.

Descoberta então essa prima mater, deve-se submetê-la a uma série de procedimentos químicos. E as principais operações alquímicas são: calcinatio, solutio, sublimatio, coagulatio, mortificatio, separatio e coniunctio.

E basicamente a matéria prima consistia na interação de dois metais: o enxofre e o mercúrio, unidos por um sal. O enxofre era considerado “macho”, fixo, ativo e que representa a combustão e corrosão dos metais; o mercúrio “fêmea”, passivo, volátil, inerte; e o sal é o solvente universal.

Os dois metais combinados constituíam o que os alquimistas chamavam de “coito do Rei e da Rainha”. Simbolizando que em nossa alma existem esses dois princípios: masculino e feminino.

Os dois metais também simbolizam o corpo e a alma e o sal seria o meio de ligação entre eles, ou seja, nossa energia vital. Portanto, corpo e alma caminham juntos e participam do processo de autoconhecimento em concomitância. Não podemos separar corpo e alma e não podemos cuidar apenas de um e deixar o outro no esquecimento.

Há muito que se falar ainda sobre alquimia, pois se trata de um assunto muito amplo e profundo. Mas a essência de todo esse conhecimento é que estamos em busca daquilo que transcende nossa vida egóica e que traz sentido para o sofrimento humano. Essa Pedra Filosofal é aquilo que nos traz energia, renovação e paz interior.

A arte de culpabilizar

A arte de culpabilizar

Imagem de capa: ChameleonsEye/shutterstock

Perversos são habilidosos na arte de culpabilizar. Quando o relacionamento chega na fase de desvalorização, aquela em que a ponta perversa da relação não precisa mais endeusar a outra e pode começar a mostrar suas verdadeiras cores, culpar o outro por absolutamente TUDO é uma constante.

Quando chega nessa fase, tudo o que tiver prometido a você não poderá se concretizar por que VOCÊ fez algo que impossibilitou a realização dos sonhos do casal. Da mesma forma, todas as suas “mancadas” deverão ser desculpadas ou toleradas com base naquela sua conduta que sempre põe tudo a perder.

Se você não tiver feito absolutamente NADA de errado, sossegue seu coração: a parte perversa vai encontrar algo, algum “podre” seu, e se não encontrar, vai inventar alguma coisa. Quando tiver na manga sua desculpa, a usará para torturar e inculcar culpa de forma tão insidiosa que, a um certo ponto, você se verá pedindo perdão por tudo o que nunca fez, mas que a você foi atribuído. É uma lavagem cerebral e a água de enxágue é a culpa. Há quem nunca, nem depois de anos de ruptura, se livre dela…

Faço uma pequena parentese para dividir com você um hiato da minha convivência com um perverso narcisista.

Depois de muito vasculhar a minha vida, não encontrou uma desculpa a qual se apegar. Eu não tinha filhos, ex-marido, coisas das quais me envergonhava de ter feito e tinha tido apenas um relacionamento importante ao longo da vida. Então CRIOU uma história sobre um tórrido caso de amor que eu teria tido com um professor casado da faculdade. E ali se apegou. Foram anos de torturas psicológicas e muita explicação em vão.

A um certo ponto parecia que vivíamos em três: eu, ele e o professor. Todas as suas mazelas eram justificadas assim:
“Eu tenho crédito com você. Meu jardim estava tão lindo, mas você o destruiu com seu caso de amor. Você queria estar com ele, mas ele não te quis e eu fui a segunda opção. Você gosta de homem casado. Eu vou começar de novo, vou encontrar uma mulher sem passado e tudo o que fiz para você, vou fazer ela, porque eu mereço ser feliz…”

Era um desespero absurdo a ideia de ser abandona pelo melhor homem do mundo simplesmente porque era impossível provar que aquilo nunca aconteceu. Como provar o contrário de uma criação da cabeça de alguém? Quando se cria, tudo se molda para que pareça sempre verdade. Era uma batalha sem fim. Me lembro de sair, 4 anos mais tarde, extenuada e dizendo:

“Eu sinto muito se estraguei tudo quando fiz algum comentário inadequado que possa ter levado você a pensar isso de mim e de um professor que não deve sequer lembrar de minha existência.”
Sim, a um certo ponto eu realmente achei que a culpa era minha.
Para sua referência, dar uma lista de ALGUMAS desculpas utilizadas por pessoas perversas. Elas podem ser reais ou inventadas.

Conheça alguns exemplos:
– Você tem filho, essa criança nos impede de ser feliz. Se você me amasse, deixaria essa criança para me seguir. Tudo o que planejei com você jamais será concretizado com essa criança entre nós.
– Você tem passado. Sim, você já teve outros parceiros e provavelmente ainda nutre sentimentos por essas pessoas e só está comigo como segunda opção.
– Durante os meses que lhe abandonei, por culpa sua é claro, você saiu com outra pessoa e isso me envergonha e me machuca, não posso superar.
– Você olha para todo mundo. Você não tem o “pescoço duro”. Eu sei que mais cedo ou mais tarde vai me trair.
– Você prefere sua família a mim, seus amigos a mim. Eu abomino sua família ou seus amigos.
– Você tem amantes. Sim, fulano de tal é seu/sua amante.
– Quando você descobre uma mentira ou traição fuçando em suas coisas, a culpa é sua por mexer onde não devia. Você traiu a confiança mexendo em suas coisas escondido, logo, não é mais possível confiar em você.
– Você me pressiona demais, me cobra demais, me ama de menos, tem passado demais, por isso eu fui obrigado(a) a trair você, mesmo te amando.
– Você mente. Você traiu minha confiança e você sabe bem o por quê. (essa quase sempre vem desacompanhada de explicação lógica ou concreta e acompanhada de um olhar de “eu te peguei!”).
– Usa também traumas, abusos sofridos ou mau comportamento seu confidenciados durante a fase em que era ouvinte.

Portanto, caros leitores, vocês que me escrevem perguntando se será que não é mesmo culpa sua as coisas não terem dado certo, prestem bem atenção nesse texto e respondam:
Você já viu esse filme?

Cada pessoa é um teste, uma lição ou um presente

Cada pessoa é um teste, uma lição ou um presente

Tanta gente entra e sai de nossas vidas ao longo do tempo, tão variados encontros temos e ainda teremos pela frente. E nós vamos ficando cada vez mais cheios de lembranças, de experiências, engrandecendo nossa essência, trazendo-lhe sentimentos novos e intensos. Nem sempre será bom, nem sempre sairemos com coisas boas dos relacionamentos que tivermos, mas sempre poderemos sair mais fortes e seguros do que queremos ou não para nós.

Algumas pessoas são verdadeiros testes em nossas vidas. Testam a nossa paciência, a nossa capacidade de nos manter em harmonia, de nos manter equilibrados. Testam o nosso humor, a nossa disposição para ouvir, para nos condoer, para nos compadecer. Testam até mesmo a nossa fé e nossa crença em nós mesmos, em nossos princípios, em tudo aquilo que temos dentro de nós. Porque se trata de gente que não aprendeu a olhar para além de si mesma.

Certos indivíduos, por sua vez, por mais que seja difícil compreender de início, chegam a nossas vidas para nos transmitir lições que levaremos para sempre conosco. Algumas vezes lições tristes, outras vezes lições de amor. Quando nos decepcionamos com as pessoas, por terem nos usado da pior forma, desvirtuando nossas palavras, menosprezando nossos atos, ferindo nossa dignidade, aprendemos a nos distanciar de quem faz mal. Quando somos surpreendidos pela generosidade e pela bondade de gente verdadeira, aprendemos que o amor cura, salva e ilumina.

E são exatamente estes seres iluminados, que nos trazem lições de amor, os presentes com que a vida costuma nos presentear, para que não desistamos de continuar acreditando na força do bem, do que é bom, do que tem verdade. Os encontros mágicos que temos pelo caminho tornam tudo menos difícil, menos penoso, menos denso. Tornam tudo mais colorido, mais fácil de ultrapassar e de ser vivido em toda a sua intensidade. Nada menos do que a gratidão que nutrimos por estas pessoas é que nos alimentará o melhor que carregamos aqui dentro.

Como se vê, em vez de lamentarmos pelos desencontros que vêm nos desestabilizar os caminhos, é preciso retirar também destes momentos algo de bom, pois sempre podemos aprender, tanto com quem suga, quanto com quem soma. O que importa é aquilo que temos dentro de nós, aquilo de mais precioso e que nos resguarda de nos demorarmos na tristeza dolorida de nossa alma: o amor.

Amor verdadeiro, amor do tamanho dos nossos sonhos, amor sem fronteiras, sem máculas, amor que alivia e transforma. É dessa forma que o melhor de cada um permanece em nossos corações, tornando-nos mais fortes e felizes, haja o que houver.

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Amar por dois é demais para qualquer um

Amar por dois é demais para qualquer um

Não adianta forçar, pedir ou fazer chantagem. Quando amar se torna uma luta diária para apenas um dos lados, algo está errado. Isso de superar os obstáculos de uma relação funciona para amantes entregues. Amar por dois é demais para qualquer um. É injusto, cansativo e foge do amor próprio que todos merecemos.

Relacionamentos sempre possuem diferenças e outras peculiaridades. Nenhum casal é igual. Ainda que o respeito e a reciprocidade devam ser pré-requisitos no amor, ainda há quem discorde. Quem tente camuflar esses carinhos preciosos, com o objetivo de fazer valer apenas a própria vontade. Não existe jogo mais sujo do que esse. E ainda acrescentam a desculpa do “se você realmente me ama”. Corações desiguais tendem a permanecer em ausências. Por que um precisa demonstrar tudo de si enquanto o outro espera, no conforto, por provas? O amor é suspeito quando composto por regras.

Quer o meu melhor pra você? Sejamos. O nós é o sentimento que acompanha a gente. Às vezes, amar requer altruísmo, percepção e transferência. Não pense que se trata de estabelecer medidas. Pense que é mais sobre compartilhar aquilo que você gostaria de receber, sem jogos. Sem uma exaustiva explicação de como pode e quando pode.

Amar por dois é demais para qualquer um. Benditos os que amam, em sintonia, os poucos e muitos que o amor provém. Para dois, por favor. Se for para disputar um lugar no afeto do outro, melhor pedir a conta.

Imagem de capa: Domicílio Conjugal (1970) – Dir. François Truffaut

Não ligue o “foda-se”, ative o botão do esquecimento!

Não ligue o “foda-se”, ative o botão do esquecimento!

Imagem de capa:  Rawpixel.com/shutterstock

Até pouco tempo, o fim dos relacionamentos amorosos limitava-se a um adeus de portão. Sem troca de farpas. Sem escândalos. Um silêncio contemplativo acompanhava a silhueta do ex-amor que desaparecia lentamente na esquina da rua. Não havia brigas nem alardes. Compreendia-se que o término sinalizava o início de outras experiências e cada um seguia o seu rumo sem olhar para trás. Comportamentos que foram, desastrosamente, substituídos por uma série de atitudes vergonhosas.

Hoje é comum que o fim do amor e da convivência não signifique o esperado desfecho cordial ─ algumas relações continuam se proliferando nas redes sociais num infinito circo vexatório. Uma das partes ou as duas, insistem na troca de insultos. Botões explosivos e indiretas ofensivas impedem que a relação se desligue automaticamente.

Perder o interesse na relação e demonstrar que não há como ressuscitar o vigor dos sentimentos não é errado. A conversa sobre o fim deve ser clara, objetiva e sem meias verdades. Haverá ressentimentos se o outro não se convencer de que não há como sustentar o que já desabou. A liberdade de partir deixando os fatos esclarecidos é uma atitude de respeito mútuo, onde se decide preservar o apreço que havia antes. Mas em alguns casos, é só estopim para a baixaria, a ativação do código de inimizade eterna.

Não há diálogo que dê jeito quando a situação sai do controle, ou melhor, quando a conversa não rende e a grosseria toma as rédeas se espalhando além dos limites da privacidade. Nesse caso, recomenda-se não insistir nem tentar conservar qualquer tipo de aproximação. A solução é esquecer!

Se o outro persiste em bradar que vai ligar o “foda-se” ou recomendar o acesso à lugares degradantes, ative o “botão do esquecimento”. Deixe que fale sozinho e despeje a ira no vácuo. A blindagem mais saudável contra esse tipo de comportamento é a anulação, o afastamento definitivo.

Refazendo as contas. Por que doar-se tanto em troca de tão pouco?

Refazendo as contas. Por que doar-se tanto em troca de tão pouco?

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A disposição nos conduz, a vontade mostra o caminho, o objetivo é sempre o êxito.

Nas relações, a troca é aguardada, todo mundo espera ter um relacionamento do tipo: ganha-ganha. Ninguém jamais entrará disposto a doar-se por menos do que investe.

É possível que a generosidade bagunce um pouco essa conta, mas até o altruísmo tem limites. Não há sentido em esvaziar um pote para encher outro, da mesma forma que não há cabimento consumir uma vida para lotar de atenções e cuidados a outra. A troca precisa ser equilibrada.

As relações familiares arrastam muitas balanças pendentes, que, em algum momento, arrebentam e espalham todo o conteúdo pelo chão e pelas afeições, trazendo cobranças inesperadas, mágoas, ressentimentos e rompimentos doloridos.

A balança dos amores é delicada e sensível. O que é de comum acordo repousa no prato do equilíbrio, até que alguém se pergunta, se questiona, se compara, e começa a refazer as contas. Geralmente a gente se doa pelo que ainda não recebeu em troca. Promessas, combinados, futuros desenhados. A gente se oferece ao sonho prometido. E tudo bem se a troca for feita lá na frente. É um investimento.

Mas é preciso saber que os investimentos são apostas de risco. A confiança faz a mediação, mas o dia-a-dia vai mostrando os indicadores do sucesso ou fracasso. Não é preciso ser calculista, mas é essencial não ser indiferente. Se a gente está seguidamente se doando muito em troca de pouco, pode ser que esse cenário nunca se modifique e a dívida fique alta demais para ser cobrada. Ou dolorosa demais para ser perdoada.

Vez por outra é um bom exercício refazer as contas. As amizades, os afetos, as disponibilidades, a tolerância, todas as trocas possíveis entram na avaliação.

Mas, cuidado! Nem sempre palavras de gratidão quitam as expectativas. Em muitos e muitos casos, a troca é muito mais do que reconhecimento. É a doação recíproca, solidária e confiante que faz uma relação equilibrar e manter alinhada a balança.

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