“Por uma educação que ensine perguntas e não respostas”

“Por uma educação que ensine perguntas e não respostas”

Imagem de capa: Inara Prusakova/shutterstock

“A educação modela as almas e recria os corações. Ela é a alavanca das mudanças sociais.” Paulo Freire.

É sabido que a educação está intimamente ligada ao processo de desenvolvimento econômico e social de qualquer nação. No Brasil, haja vista a falta de investimentos e de priorização, a educação como um fio condutor do progresso da sociedade sempre esteve relacionada à utopia, isto é, a algo muito distante e, em certa medida, irrealizável.

Apesar da situação dificultosa ao longo da história brasileira, encontramos alguns personagens importantes na luta por uma educação que seja, antes de qualquer coisa, fator de humanização de um povo sofrido, explorado e sonegado sistematicamente em seus direitos.

Alguns desses personagens são responsáveis pelo livro “Fazer Universidade – Uma Proposta Metodológica”, uma obra seminal para o processo pedagógico e o pensar educacional, a saber, os professores Cipriano Luckesi, Elói Barreto, José Cosma e Naidison Baptista, que em 1984 trouxeram uma fresta de luz sobre a penumbra que cobria, e ainda cobre, o pensar educacional no país.

A proposta educacional levantada no livro, alinhada aos pensamentos de mestres, como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Rubem Alves e Paulo Freire, assume um caráter “utópico”, dada as circunstâncias e o status que a educação possuía e continua a ter na nossa sociedade.

Entretanto, ao tratar sobre essa problemática, é preciso resgatar as palavras de Victor Hugo (2013, p.486), de que “Nada como o sonho para gerar o futuro. Hoje utopia, carne e osso amanhã”. Dessa maneira, a educação como um caminho para o desenvolvimento humano no solo brasileiro deve ser um sonho em constante reconstrução, já que, como dizem os próprios autores

“A delimitação que apresentamos de universidade pode se apresentar, a muitos, como um sonho. Certamente que assim o é! Mas um sonho possível, desde que por nossa prática tentamos transformar essas aspirações em realidades factuais” (LUCKESI. et al., 1984, p.22).

Sendo assim, a universidade como lugar próprio do conhecimento, deve estar estruturada de modo a possibilitar que o pensamento seja erigido de forma crítica e, por conseguinte, se reverberando em experiências de libertação individual e coletiva. O que implica dizer que “O importante é, na universidade, aprender a estudar, a fazer, a produzir conhecimentos, a ser gente” (LUCKESI. et al., 1984, p. 23).

A universidade não deve preocupar-se somente com a formação tecnicista a fim de atender as demandas do mercado, mas antes, deve contemplar uma formação com conhecimento crítico, buscando questionamentos, colocando o pensamento em análise e, consequentemente, saindo do lugar perigoso, mas cômodo, do senso comum.

Devemos considerar, todavia, os empecilhos historicamente colocados junto à construção de um saber acadêmico crítico e questionador. A formação dogmática das universidades, originadas a partir da Igreja, ainda permanece na contemporaneidade, isto é, na forma de produzir e perpassar o conhecimento, carregada em regras que tornam a educação tecnicista e o conhecimento demasiadamente mecânico e reprodutivo, sem que haja espaço para que o pensamento possa se manifestar de forma livre e autônoma.

Do mesmo modo, há de se considerar que ainda permanecem resquícios das sanções impostas àqueles que corajosamente ousavam contestar as autoridades e os dogmas impostos, fazendo com que o conhecimento continue sendo um instrumento rígido e, em certos casos, até incontestável e imutável.

No Brasil, essa estrutura rígida e dogmática impediu que movimentos e pensamentos que sonhavam com a universidade como um espaço onde, de fato, poderia ocorrer o livre pensar, se concretizassem. A nossa política, marcada por processos ditatoriais, sempre buscou modos de silenciar os sujeitos tidos como subversivos, homens que pensavam a academia como um espaço de desconstrução dos grilhões que impedem a sociedade de avançar, que mantêm o povo ignorante e alienado, que molda pensamentos a modelos pré-definidos de controle, exploração e perversidade. Como apontam os autores (LUCKESI. et al., 1984, p.35) “[…] ditaduras são incompatíveis com os debates e a verdadeira universidade deve ser edificada sobre e a partir do debate livre das ideias”, pois “[…] o conhecimento só evolui se é passível de crise, de questionamento” (Ibid, p. 38).

Dito isso, devemos ter em mente que fazer a universidade ainda consiste em um projeto de luta e resistência ante às ditaduras invisíveis que permanecem.

Aceitar um modelo de educação que visa exclusivamente atender aos detentores do capital e transforma a universidade em um grande balcão de negócios é impedir o desenvolvimento do ser social, que necessita da criticidade para aprender a observar e problematizar a sua realidade, adquirindo, assim, a capacidade de ser um agente transformador do seu meio.

O processo educacional que priva o educando da práxis, o torna incapaz de apreender a realidade posta ao seu redor, tornando-o um mero objeto, dissociada da ação que só pertence àquele que aprende sendo sujeito. Nesse sentido, é necessário estar o tempo inteiro buscando maneiras de questionar a ordem posta, as verdades colocadas, para que não haja uma sacralização dos saberes e das verdades históricas e sociais, pois é condição própria da evolução do homem estar propicio à reavaliação da sua maneira de enxergar o mundo.

Dessa forma, é imprescindível que o aluno não seja apenas um reprodutor de saberes e dogmas estabelecidos durante o processo de aprendizagem, mas sim, sujeito ativo e, por isso mesmo, construtor do seu próprio conhecimento, exercendo perenemente a sua capacidade de leitura, de análise, de problematização e de soluções perante a realidade que o circunda e lhe é posta. A simples repetição de verdades torna, pois, o ensino tão somente uma “[…] reprodução de ideias sem qualquer força de criação contínua, de produção nova, uma vez que se bloqueia a fecundidade e o exercício da crítica” (LUCKESI. et al., 1984, p. 40).

E, como dito, o aluno deve ser construtor de conhecimento e, por conseguinte, de mundo, porque como bem disse Paulo Freire (2004, p.18): “A educação modela as almas e recria os corações. Ela é a alavanca das mudanças sociais”.

***
Ainda hoje, existem alguns problemas com a educação. Especialmente, por incrível que pareça, ensino superior. O currículo certamente conterá disciplinas opcionais para a sua especialidade e o único motivo para estarem lá é para preencher as horas de estudo. Para tais assuntos, é melhor usar um serviço de redação como um desta coleção da Top Writers Review, que fará a papelada desnecessária enquanto o aluno está se concentrando em algo mais importante.

Moça, nunca cobre presença de alguém que não te quer por perto

Moça, nunca cobre presença de alguém que não te quer por perto

Imagem de capa: Dmytro Zinkevych, Shutterstock

Não pede mais, não. Se para quem quer que seja, estar com você tanto faz, coloque já o seu respeito em primeiro lugar e vá para perto de pessoas que realmente façam questão da sua companhia. Porque chega uma hora que cansa ficar pedindo para alguém permanecer. Aliás, cansa precisar pedir.

Você pode muito bem procurar outros carinhos, moça. Pode e deve, sair porta afora atrás de amores e amizades que te reconheçam. Não tem essa de continuar pingando no molhado, esperando a outra pessoa mudar de ideia. A sua ficha é que precisa cair. Depois de todo o tempo dedicado, o mínimo a ser recolhido é a tal da honestidade. Trate de ser sincera consigo. Tanto fez te encontrar? Mande um adeus bem dado, sorrindo. Nem é vingança, mágoa ou pagar na mesma moeda, nada disso. É sobre não abaixar a cabeça para gente que faz pouco caso. É, ainda mais, sobre abraçar um autoconhecimento e uma maturidade emocional de quem não depende de qualquer par para ser completa.

Talvez você nem tenha percebido, mas em todos os momentos nos quais esteve lá, presente e inteira, poucos se importaram. Poucos quiseram. Isso serve, principalmente, para os amores. Quanto mais de você será suficiente? Por que colocar expectativas tão altas em um amor que não sabe amar? Você sente vontade de mudar para agradar, quando o justo seria mudar para si.

Moça, nunca cobre presença de alguém que não te quer por perto. Seja sentimento bem-vindo a quem possa interessar. Nada de afeto a longo prazo e parcelado com ausências semana sim, semana não. Você não é artigo decorativo e o seu coração tampouco parece um anúncio de jornal.

Existe um juiz chamado tempo que coloca cada coisa em seu lugar

Existe um juiz chamado tempo que coloca cada coisa em seu lugar

Imagem de capa: g-stockstudio, Shutterstock

Todos nós somos livres quanto a nossas atitudes, mas não estamos livres das consequências. Um gesto, uma palavra ou uma atitude ruim causam sempre um impacto mais ou menos perceptível, e acredite se quiser, o tempo é um juiz muito sábio. Apesar de não emitir sentença imediatamente, sempre costuma dar a razão para quem realmente a tem.

O célebre psicólogo e pesquisador Howard Gardner, por exemplo, nos surpreendeu recentemente com um dos seus raciocínios. “Uma pessoa ruim nunca chegará a ser um bom profissional”. Para o “pai das inteligências múltiplas” alguém unicamente guiado pelo interesse próprio nunca alcança a excelência, e esta é uma realidade que também costuma se revelar no espelho do tempo.

Cada um colhe o que planta, e mesmo que muitos sejam livres quanto às suas atitudes, não são livres das suas consequências, porque cedo ou tarde este juiz chamado tempo dará a razão para aquele que a tem.

É importante considerar que aspectos tão comuns quanto um tom de voz depreciativo ou o uso excessivo de zombarias e ironias na linguagem costumam trazer sérias consequências para o mundo afetivo e pessoal das vítimas que as recebem. Não ser capaz de assumir a responsabilidade de tais atitudes corresponde à falta de maturidade que, cedo ou tarde, trará consequências.

Convidamos você a refletir sobre isso.

O tempo, esse juiz tão sábio

Vejamos um exemplo: imaginemos um pai educando seus filhos com severidade e falta de afeto. Sabemos que esse estilo de criação e educação trará consequências, contudo, o pior é que o pai com essas atitudes procura oferecer pessoas fortes e com um certo estilo de conduta para o mundo. No entanto, o que provavelmente conseguirá é uma coisa muito diferente do que pretendia: infelicidade, medo e baixa autoestima.

Com o tempo, essas crianças transformadas em adultos darão a sua sentença: se afastarão ou evitarão esse pai, o que talvez essa pessoa não consiga entender. O motivo disso é que muitas vezes quem machuca “não se sente responsável pelas suas atitudes”, carece de uma boa intimidade emocional e prefere usar a culpa (meus filhos são mal-agradecidos, meus filhos não gostam de mim).

Um jeito básico e fundamental de pensar é que todo gesto, por menor que seja, tem consequências. É fazer uso do que se conhece como “responsabilidade plena”. Ser responsável não significa apenas assumir a culpa das nossas ações, é entender que temos uma capacidade de resposta obrigatória para com os outros, que a maturidade humana começa nos tornando responsáveis por cada uma das palavras, gestos ou pensamentos que geramos para propiciar nosso próprio bem-estar e o dos outros.

A responsabilidade, um gesto de coragem

Entender que a solidão de agora é consequência de uma má atitude no passado é, sem dúvida, um bom passo para descobrir que todos estamos unidos por um fio muito fino onde um movimento negativo ou irruptivo traz como consequência um nó ou a ruptura desse fio. Desse vínculo.

Procure que os seus gestos falem mais que as suas palavras, que a sua responsabilidade seja o reflexo da sua alma; para isso, procure sempre ter bons pensamentos. Então, certamente o tempo o tratará como merece.

É preciso considerar que somos “proprietários” de boa parte das nossas circunstâncias de vida, e que um jeito de propiciar nosso próprio bem-estar e o daqueles que nos rodeiam é por meio da responsabilidade pessoal: um grande gesto de coragem que convidamos você a colocar em prática através destes princípios simples.

Dicas para ganhar consciência da própria responsabilidade

O primeiro passo para ganhar consciência da “responsabilidade plena” é abandonar nossas próprias ilhas de reconhecimento nas quais focamos grande parte do que acontece no exterior com base em nossas próprias necessidades. Por isso, esta série de princípios também são indicados para as crianças. Usando-os poderemos ensiná-las que suas atitudes tem consequências.

– O que você pensa, o que você expressa, o que você faz, o que você cala. Todo o nosso ser gera um tipo de linguagem e um impacto nos outros, a ponto de criar uma emoção positiva ou negativa. É preciso ser capaz de intuir e, principalmente, de empatizar com quem está à nossa volta.

– Antecipe as consequências das suas atitudes: seja seu próprio juiz. Com esta dica não estamos nos referindo a cair em um “autocontrole” que nos leve a ser nossos próprios carrascos antes de termos dito ou feito qualquer coisa. Trata-se apenas de tentar antecipar que impacto pode ter uma determinada atitude sobre os outros e, consequentemente, também sobre nós mesmos.

– Ser responsável implica compreender que não somos totalmente “livres”. A pessoa que não vê limite algum nas suas atitudes, nos seus desejos e nas suas necessidades pratica essa libertinagem que, cedo ou tarde, também trará consequências. A frase tão conhecida “a minha liberdade termina onde a sua começa” adquire aqui todo o sentido. Contudo, também é interessante procurar propiciar a liberdade e o crescimento alheio, para assim alimentar um círculo de enriquecimento mútuo.

Vale a pena colocar isto em prática.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Percebemos a educação de uma pessoa pela maneira como ela discorda de nós

Percebemos a educação de uma pessoa pela maneira como ela discorda de nós

A maneira como lidamos com o que frustra nossas expectativas e com quem nos rejeita diz muito sobre quem somos, da mesma forma acontece com nossas discordâncias. Ao longo dos dias, teremos que discordar de muitas pessoas, teremos que argumentar e fazer valer o nosso ponto de vista, teremos que confrontar várias pessoas que pensam completamente diferente de nós, inclusive convivendo com muitas delas em ambientes que nos forçarão a isso.

Não conseguiremos fugir a locais de trabalho, a salas de aula, a encontros sociais, onde haja quem discorde de nós, onde nem todos pensarão como nós. E ouviremos gente confrontando-nos em nossas convicções, desequilibrando nossas verdades, algumas vezes de forma deseducada e agressiva. Porque a muitos será impossível repensar os próprios caminhos – não sejamos nós quem não reflete sobre si mesmo.

É extremamente saudável quando podemos confrontar nossas ideias com ideias contrárias, uma vez que é assim que rompemos com o que impede os avanços a que temos direito, à medida que oxigenamos nossa mentalidade. O mundo vive em constante transformação e essa ressignificação também deve fazer parte de nós, enquanto nos ajustamos frente ao novo, que sempre vem.

Infelizmente, muitas pessoas confundem argumentação com gritaria, com imposição, como se todos fôssemos obrigados a dizer amém a tudo que elas dizem, como se estivessem sempre certas. Existem muitos tiranos por aí, prontos a ditar regras aos outros, impondo suas ideias e não aceitando serem contraditos, em hipótese alguma. Não sabem ouvir não, não suportam ser contrariados – os adultos mimados vida afora.

Por permanecerem presos ao egocentrismo, por recusarem-se a crescer, acabam se destemperando além da conta quando se veem confrontados no que julgam ser inquestionável, inabalável. E encontram no tom de voz alto e na agressividade recursos com que tentam esconder a incapacidade de defender o que querem com mínima coerência. Como dizem, carroças vazias são as mais barulhentas.

Bom mesmo é encontrar quem discorda de nós e consegue desenvolver uma discussão equilibrada, rica e produtiva. É somente assim que o conhecimento se espalha e a gente se torna melhor. Não existe quem consiga se desenvolver rodeado somente de ovelhas dóceis e obedientes, pois são as diferenças que nos tornam únicos e especiais, à nossa maneira. Mas com educação, por favor.

Imagem de capa: Tiko Aramyan/shutterstock

Para o amor que não guarda saudades, amar é todos os dias uma vida inteira

Para o amor que não guarda saudades, amar é todos os dias uma vida inteira

Chegamos no tempo certo. Vivemos através de muitos amores que se foram para hoje nos encontrarmos. E foi bom assim. Agora, sabemos como é querer inteiro alguém por perto. Como é nosso esse jeito que temos de combinar os seus sonhos com os meus. Para o amor que não guarda saudades, amar é todos os dias uma vida inteira.

A gente se espalha, em camadas, abraços e ternuras que quase ninguém tem a sorte de conquistar. Muitos desistem pelo caminho, culpando os tempos falhos e as ausências esfarrapadas. Mas nós, não. Vez ou outra, você reconhece e eu concordo, entendimento é extensão direta no amor. É quando a necessidade de estar certo não existe. Não sofremos abstinência. Abandonamos o vício de almejar a palavra final nos desencontros passados. Não leva a lugar nenhum insistir no ego que divide em vez de somar.

Somos imperfeitos e sempre seremos. O amor não liga para isso. Ainda assim, não quer dizer que devemos estagnar no discurso do “eu não consigo mudar”, ou, pior, no preguiçoso “eu não quero mudar”. Nesses casos, o amor liga. O amar então, fica exausto se esbarrar com essas falas. Mas nós, não. Nós temos uma chama que não cessa diante do provável. Acenamos contra todas as chatas possibilidades em busca de caminhos mais de acordo com o amor que merecemos.

Continuamos no tom certo. Vivemos com muitas saudades e não economizamos elas. E é muito bom que seja dessa forma. Amanhã é tão importante quanto hoje. Porque ter alguém inteiro ao seu lado é esquecer de ser um pouquinho cada dia. É, na verdade, ser muito mais todos os dias. Uma vida inteira, inclusive.

Amor e amar, expostos. Sentindo-os.

Imagem de capa: Questão de Tempo (2013) – Dir. Richard Curtis

No final dará tudo certo

No final dará tudo certo

Imagem de capa: Refat/shutterstock

No final dará tudo certo, mesmo que a gente saia sem proteção e uma chuva torrencial caia sobre nós, independente das noites de insônia, da comida descendo como pedra pela garganta, das unhas pedindo para crescerem, exaustas com o barulho do relógio que desobedece o tempo do coração.

No final dará tudo certo, na simplicidade da noite que finda e do dia que amanhece, das horas que se arrastam como se não tivessem pés, dos longos quilômetros a serem percorridos, como se déssemos mil voltas em torno da terra que reside em nossas almas. Aguardaremos, cansados, carregando todas as histórias que aguardam para se tornarem lembranças.

Até que o final da história aconteça morreremos e renasceremos muitas vezes, feito flor teimosa que seca e brota ou criança que insiste em amar. Nosso coração florescerá, generoso, dando espaços para caberem outras narrativas.

No final dará tudo certo porque a gente não desaprende a amar, em nossas almas não cabem armários vazios e cômodos sem móveis. Estranhamente, a dor encontrará seu destino, deixaremos ir quem teve como destino partir. Generosos com a nossa estadia, conversaremos com o amor através do cheiro de café que povoa nossa casa ou nos debruçando sobre as plantas que esperam por água. No final dará tudo certo porque sentir é o que nos dá sentido…

Bauman e sua verdade comprovada: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”

Bauman e sua verdade comprovada: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”

Imagem de capa: andersphoto/shutterstock

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos filósofos mais respeitados e comentados da atualidade e os motivos não são surpreendentes: além de fazer da filosofia algo acessível, suas mais de 50 obras se dedicam a temas como o consumismo, a globalização e a fragilidade a qual estão expostas as relações humanas. Como dizia o própria autor: “os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar”.

Bauman era um escritor raro. Utilizando-se da ideia de “liquidez” descrevia os problemas  de relacionamentos como feridas da alma. Sabe aquele “tapa na cara com luva de pelica” que levamos da vida? Então, são os que os livros de Bauman nos proporcionam.

Questionado sobre qual a definição exata de “líquido” em seus livros (Modernidade Líquida, Amor Líquido e Vigilância Líquida) e autor foi bem objetivo: “Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade.”

Soco no estômago a parte, Bauman, sabia exatamente o que estava falando. Para ele, quando as relações são abaladas pela qualidade (a famosa expressão “qualquer companhia serve”), temos a tendência de tentar recompensá-la com uma quantidade absurda de parceiros. E isso não se restringe aos relacionamentos amorosos. O autor exemplificava sua teoria baseado nas redes sociais: “A internet e o Facebook nos tranquilizam e nos dão a sensação de proteção e abrigo, afastando o medo inconsciente de sermos abandonados. Na verdade, muitas vezes você está cercado de pessoas tão solitárias quanto você”.

Bauman estava tão certo quanto dois mais dois. Nossa geração vive a “felicidade” competitiva de ter 2 milhões de seguidores do facebook, mas não temos 20 amigos frequentadores de nossa casa. O que, realmente mudou: a definição da palavra amigo ou a nossa visão de amizade?

Em “Amor Líquido”, seu livro mais comentado na atualidade fica claro a liquidez das relações humanas. Nele o autor elabora análises próximas ao cotidiano, perpassando pelas relações sociais, e focando nas relações amorosas. No livro, a visão realista de Bauman, traz doses de realidade para quem quer fazer um autoconhecimento da alma e das ações cotidianas.

O amor, para o filósofo, é visto como algo real e aplicável, diferente desse sentimentalismo barato que pregam atualmente. Exemplo disso, são os namoros pela internet, um assunto discutido frequentemente pelo autor. As vantagens desse tipo de relacionamento são a segurança e a falta de compromisso, visto que o contato, ou potencial namorado, pode ser deletado a qualquer instante sem maiores consequências. “O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos”, conclui o sociólogo.

Calma, ter um relacionamento pela internet não é ruim. O filósofo apenas mostra que, em seu ponto de vista, diferente da presença, o relacionamento virtual tem outros padrões de escolha e de rejeição e, em sua visão, isso torna as pessoas mais solitárias do que já estão.

Em suma, Bauman procura  mostrar que o problema da solidão está no próprio comportamento humano, relatando que nossas dificuldades em desenvolver uma comunicação afetiva, fiel e respeitosa, se refletem a um medo e uma insegurança generalizada.

Com a morte de Bauman perdemos muito. Perdemos inteligência aliada à sabedoria, conselho aliado à prática, sonhos aliados à vontade de viver: Perdemos um filósofo que se preocupava com uma geração que, talvez, nem tenha tido a oportunidade de ler suas obras ainda: “ eu desejo que os jovens percebam, razoavelmente cedo, que há tanto significado na vida quando eles conseguem adicionar isso a ela, através de esforço e dedicação. Que a árdua tarefa de compor uma vida não pode ser reduzida a adicionar episódios agradáveis. A vida é maior que a soma de seus momentos”.

Carta de amor a um rapaz latino-americano.

Carta de amor a um rapaz latino-americano.

Para Belchior.

Eu queria escrever uma coisa a você. Assim, sem mais, rabiscada no verso de um papel de pão, de uma receita médica, de um folheto publicitário, queria enviar a você uma cartinha leve como a pena, o riso e a borboleta. Breve como a vida e o tempo. Eu queria escrever uma coisa dessas e entregar a você.

Em mãos, deixaria aos seus cuidados um minitratado sobre o céu e as nuvens, o amor e a utopia, a dor e a esperança, a vida e o sonho, as políticas públicas e o serviço de manobristas, nós e os outros.

E você, deitando os olhos sobre as sílabas, rolando a vista nua pelas frases, vestiria uma vontade nova e esqueceria por um instante as pressões de cada dia, as cobranças tantas, o dinheiro pouco, os medos generosos e os ímpetos mesquinhos.

Queria escrever a você um ensaio simples, de provas irrefutáveis, sobre a máxima segundo a qual “da vida nada se leva”. E que a leitura lhe fizesse desejar o óbvio: que entre tudo o que haveremos de deixar neste mundo quando a hora nos chegar, prevaleçam as ternuras, os amigos e as lembranças de amor.

Para quando você se sentisse miserável e só, queria escrever um poeminha de riso e festa, passá-lo por debaixo da porta e encontrar a sua dor como remédio santo. Um emplastro, elixir, unguento ou coisa parecida que valesse de alívio a sua angústia.

Queria, sim. Eu queria tanto escrever a você o termo de posse de uma fazenda centenária onde viveríamos entre os nossos, escrevendo e pintando e trabalhando na terra e cuidando dos bichos. E estaríamos tão misturados ao fluxo do dia que quando algum animal local nos notasse ali, murmuraria apenas, em amorosa e profunda prosopopeia: “lá vão aqueles dois”. E ele estaria mais do que certo em sua razão de bicho. Nós vamos mesmo. Nós vamos sempre.

Juro, eu juro que queria escrever um romance fininho, desses que nem param em pé, para você se deitar e ler na cama, antes de dormir, como porta de entrada para um sonho bom. E que ao acordar você encontrasse restabelecidas sua fé vigorosa na vida e sua disposição implacável para o trabalho.

Eu queria, Deus sabe o quanto eu queria escrever a você um bilhete de colar na porta da geladeira ou guardar na bolsa, no bolso, marcando no papel infinitas dobras, para ler e reler quantas vezes a paciência deixar e a saúde carecer. E que de tanto abrir e fechar, o papel com o tempo e o suor das mãos se deixasse esmorecer como bicho que morre de velho.

Pois quando a última dobra puída caísse exausta, você me estenderia a mão e me diria que entendeu o recado.

Então nós voaríamos daqui, tão logo chegasse a hora de fazer as malas, pegar duas coisas, três, meia dúzia, e seguir para longe. Romper a camada de ozônio, trombar nas estrelas e virar luz.

Eu juro que queria escrever tudo isso a você. Ah… como eu queria.

Ao persistirem os sintomas de ilusão, a inteligência emocional deverá ser consultada

Ao persistirem os sintomas de ilusão, a inteligência emocional deverá ser consultada

Imagem de capa: agsandrew/shutterstock

Ninguém está imune à paixão e, um dia ou outro, todos nós nos iludimos: vemos amor onde não tem, qualidade em pessoas quem nunca as possuíram e saudade do que nunca existiu. Coisas da paixão! Mas, tudo passa e logo os olhos voltam a se abrirem, o coração silencia e o cérebro toma conta das situações. Pelo menos para quem possui a tão desejada “inteligência emocional”.

Inteligência emocional não é encontrada em lojas e não está disponível para vendas. Você só a adquire depois de quebrar a cara inúmeras vezes, chorar mares de desilusão e ser traído por quem te jurou amou eterno. E sabe por que algumas pessoas possuem e outras não? Respondo: porque a ilusão dói menos que a realidade.

É melhor se iludir acreditando que a pessoa “perdeu seu número”, do que entender que ela nunca quis ligar. É mais fácil acreditar em destino, do que “fazer dar certo”. A diferença entre se iludir e tomar um porre de realidade, está na coragem de quem escolhe viver. Se para alguns o término é algo normal, corriqueiro, para outros a frustração se torna motivo de depressão, desespero e angústia.

Há quem encare um fim de amor com serenidade no olhar, já que sabe que, amanhã tudo estará melhor. Porém, em contrapartida a eles, há os iludidos de plantão que, no segundo encontro criam, mentalmente, a lista de convidados do casamento, e se frustram quando as situações não corespondem às suas expectativas.

Na verdade, toda vez que escuto a frase “estou apaixonado”, automaticamente, lembro da famosa frase de Nietzsche: “o amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.”

Saramago, também dividida do mesmo pensamento de Nietzche. Em o “Ensaio Sobre a Cegueira dizia que: “penso que não cegámos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem”.

É preciso entender que no amor não há garantias. Estar em um relacionamento não garante ter companhia. Você pode ser um solitário acompanhado. Bauman, o famoso filósofo das relações líquidas, afirmava que “A solidão produz insegurança — mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade”.

Desenvolver inteligência emocional não deveria ser uma opção, já que consiste em uma opção de defesa da própria sanidade. Ter autocontrole sob os próprios sentimentos envolve muito mais do que sofrer ou não por amor. Envolve ser responsável pelos “nãos” que devem ser ditos na vida financeira, pessoal e afetiva.

Envolve saber calar quando a vontade é xingar, envolve fazer dieta quando a vontade é comer um pote de Nutella, envolve economizar quando a vontade é comprar a bolsa que custa o valor do seu salário. Isso é ter inteligência emocional: dominar sua mente para o que precisa ser feito.

Saiba reconhecer seus limites, seus pontos fracos e fortes, seus medos e seus erros. Isso é ser inteligente. Recue quando precisar e avance quando se sentir seguro. A incapacidade de reconhecermos as nossas falhas deixa-nos à mercê delas. Pouco importa se você pilota um avião, se tem porte de arma ou se é piloto de fórmula 1, sem autocontrole suas habilidades estão, automaticamente, anuladas. Antes de qualquer outra qualidade, é preciso aprender a lidar com as próprias emoções e controlá-las de modo apropriado.

Não se iluda com sentimentos e ações. Lembre-se que inteligência emocional é ter o coração trabalhando em favor do cérebro e não o inverso.

O lado bom das coisas ruins pode ser ótimo!

O lado bom das coisas ruins pode ser ótimo!

Imagem de capa: Lia Koltyrina/shutterstock

Me perdoem os pessimistas, mas eu vivo em constante estado de otimismo, e em alguns momentos, euforia! Não há tempo a perder nem desperdiçar com rancores, lamentos, vinganças ou teorias.

Quando uma coisa ruim acontece, geralmente nos perguntamos porque fomos os premiados, ou, para os mais controladores, por qual razão não foi possível evitar. E para isso não há resposta. Para algumas coisas, nem solução. Resta somente a conformação. Mas não é dessas coisas que estou falando.

Coisas ruins mais corriqueiras, mas ainda ruins, que nos aborrecem, nos desiludem, entristecem, desapontam e nos tornam descrentes… Ingratidão, traição, aquela rasteira inesperada, o tratamento desigual, um esquecimento importante, enfim, coisas ruins.

As coisas em si, não. Mas quem as cometeu, esses são os sujeitos da nossa chateação.

E lá vai o tempo, usado sem qualquer parcimônia, simplesmente para analisar, julgar, condenar e jurar volta aos réus dos crimes que cometeram contra nós.

Porque somos assim. Quando fazemos, pedimos desculpas. Quando sofremos, não gostamos de perdoar. E quando perdoamos, não esquecemos, arquivamos. E vez por outra vasculhamos o arquivo para mantê-lo vivo e ativo.

A única coisa que não temos costume de fazer é agradecer aos mesmos réus, pelo bem decorrente das coisas ruins que nos fizeram. Mas, e se não houver nada de bom? Sempre há, decerto. E mais do que isso, o lado bom das coisas ruins, geralmente é ótimo.

Poderíamos passar toda uma vida sem aprender nada, não fossem as coisas ruins que nos chegam. Elas nos ensinam, nos preparam, nos trazem mais sabedoria do que qualquer livro ou conselho. Só aprendemos o que é o bem, quando entendemos o que é o mal. E então podemos inclusive, escolher.

Nosso desvio é focar somente em quem trouxe a coisa ruim. E ficar com raiva ou tristeza. Tantas vezes nem vale à pena tamanha carga de ressentimento. Cada qual faz o que julga ser melhor, ainda que seja uma coisa ruim.

Ao contrário de buscar razões e penalidades, pode-se tirar o máximo da situação e recolher todas os ótimos ensinamentos decorrentes das coisas ruins.

Dessa forma, até o tempo trabalhará a favor. Não sejamos bobos. Quem perde tempo com revanche é jogador trapaceiro e perdedor. Precisamos aprender até a perder o jogo e ver coisa boa nisso. É o jogo da vida.

A vida é igual a tomar um banho quente, com aquela gotinha gelada pingando de vez em quando

A vida é igual a tomar um banho quente, com aquela gotinha gelada pingando de vez em quando

Tomar banho é dessas experiências simples cotidianas que encerram em si mesmas a mágica capacidade da transformação energética, a possibilidade de uma pausa nas dores psicológicas e a oportunidade de purificação do corpo que se livra dos odores físicos, ao mesmo tempo em que renova forças, por meio do relaxamento emocional; é uma redenção.

Há períodos da vida em que nos vemos absolutamente absortos em rotinas alucinadas de trabalho, ou sobrecarregados pela falta de recursos financeiros, ou ainda, desorganizados em função de alterações significativas em nossas vidas.

Aquelas épocas em que ficamos tempo demais às voltas com obrigações intransferíveis e tempo de menos disponíveis para humanizar nossos dias. Todo mundo já passou por isso, seja em maior ou menor escala.

Tomar um banho, nesses casos, é aquele luxo mínimo e indispensável para nos garantir ao menos alguns minutos a sós; momentos preciosos de silêncio e solidão escolhida.

Apaga-se a luz, coloca-se uma música boa para tocar, escolhe-se um sabonete que nos faça sentir confortáveis, energizados, relaxados ou, simplesmente com um cheiro gostoso, separa-se a melhor toalha do armário… e parte-se para aquele instante sagrado do dia.

Tomar banho… um banho assim, com ares de ritual egípcio, deveria ser um direito humano garantido por lei. É o mínimo que cada um de nós faz por merecer depois de um dia de lutas, gloriosas ou nem tanto.

Tomar banho junto com alguém que a gente ama, então… Ahhhh… essa é das experiências mais íntimas e deliciosas a que temos acesso, quando temos a sorte de viver relacionamentos inteiros e intensos, a ponto de ser um prazer compartilhar o corpo e alma debaixo do chuveiro ou imersos na mansidão de uma banheira.

E seríamos muito tolos se não nos entregássemos a essas maravilhosas surpresas da vida, porque elas são como pequenos cristais pendentes naqueles lustres maravilhosos de castelos de sonho. São esses momentos de rara conexão, com a gente mesmo e com o outro que fazem a vida ter sabores únicos e inesquecíveis.

Porque a vida, meu amigo, a vida é feito um banho quente com aquela gotinha gelada pingando de vez em quando. A água quente é o prazer da vitória, o gozo da entrega, a embriaguez maravilhosa das coisas lindas que nos fazem querer provar do mesmo de novo, e de outros mais umas mil vezes. E a gotinha gelada é para nos lembrar da nossa natureza volátil e transitória.

A gotinha gelada é o despertar, para que nunca nos esqueçamos do valor das experiências simples e transformadoras, sem as quais somos apenas aquela gente cansada e atarefada que de tanto viver focada apenas nas batalhas, esquece que para manter a alma forte é necessário uma boa dose de redenção.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do clipe Good for You, com Selena Gomes

Como a empatia de quem sofre com Depressão pode ajudar na saúde de todos.

Como a empatia de quem sofre com Depressão pode ajudar na saúde de todos.

Circulam pela internet diversos materiais mostrando como as pessoas deprimidas, ou com outros transtornos psicológicos, são mal compreendidas. Isto é fato. Muita gente, inclusive algumas deprimidas, sabem pouco ou quase nada sobre saúde mental.

Daí fiquei pensando. Mais importante tornar este conhecimento acessível do que condenar quem não sabe!

Então, resolvi falar sobre coisas que escutamos sobre saúde mental e o que podemos fazer diante dessas afirmações. Para que todos possamos nos compreender e, consequentemente, sermos melhor amparados. Confesso que não é fácil ter um transtorno psicológico e ainda conseguir reagir a algumas palavras de forma assertiva. O fato é que nem todo mundo que diz essas coisas deseja o nosso fim. Pessoas que nos amam podem ter concepções distorcidas sobre saúde mental, como nós mesmo temos de diversos assuntos. E ao terem concepções distorcidas, podem falar coisas como:

“Você está se fazendo de vítima!”

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Ilustração de Laura Jäger.

A resposta é talvez. Mas isso não tem nada a ver com depressão. Eu posso “estar me fazendo de vítima”, posso também “estar me fazendo de vitorioso”, e independente de qual papel cultural eu estiver usando, ter depressão. As impressões pessoais de alguém não são diagnósticos profissionais. Dizer se o que tenho é uma doença ou não, requer conhecimento científico, técnico, capacitado.

Explique a esta pessoa que depressão é uma doença, não um defeito moral. É possível fazer críticas ao comportamento de alguém sem colocar em dúvida sua saúde. Não consegui agradar suas expectativas? Normal. Acontece nas melhores relações interpessoais. Porém, isso não lhe dá direito de dizer que meu colesterol não está alto, que não gripei, ou que não tenho depressão.

Podemos conversar sobre como uma pessoa enfrenta seus desafios, sem precisar pôr em discussão sua condição clínica.

“Faça novos amigos. Arrume uma namorada. Seu namoro tá com problema? Você precisa sair mais. “

Na tentativa de te ver melhor logo, surgirão fórmulas de sucesso. Compreensível que assim façam  porque costumam associar depressão à tristeza. Por isso, elas dirão de modo simplificado coisas que você deveria fazer. Você pode explicar em situações assim que seres humanos em diversas classes sociais, inúmeros contextos, ficam doentes. Espirram, quebram dedos e podem possuir algum transtorno psicológico.

Pense em pessoas bem sucedidas que tiveram  saúde mental debilitada. Assim quem lhe diz isso vai poder entender melhor que os vitoriosos também podem adoecer mentalmente.

“Você está a tanto tempo assim? Por que não melhora logo?”

Cada organismo reage a tratamentos de diferentes formas. Há pessoas que conseguem alta em meses, outras demoram anos. Existem as que adoecem, ficam bem, depois voltam a adoecer. Isto  ocorre em qualquer doença. Inclusive nas debilitações psicológicas. Busque com profissionais que te acompanham, materiais que expliquem sobre o tempo como funciona seu tratamento.

“Deus vai te ajudar. Isso é falta de Deus. Você está rezando?”

Principalmente se você não for uma pessoa religiosa, frases do tipo podem ser difíceis de elucidar. Caso não seja algo que atrapalhe no seu tratamento, um caminho tranquilo passa a ser entender que para alguns a religião é uma forma de comunicar preocupação. Mas se, mesmo que não te atrapalhe, você queira explicar, é possível encontrar diversos líderes religiosos que já discursam com melhor embasamento técnico sobre saúde mental.

O personagem bíblico Elias após ter vencido uma batalha contra profetas de outro povo, apresentou sintomas de depressão. Embora na Bíblia não cite exatamente assim, ela faz um relato de sintomas que hoje seriam diagnosticados dessa maneira.

“Pense positivo! Seja mais otimista!”

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Ilustração de Laura Jäger

Um dia, eu mesmo, pensei isso sobre minha condição psicológica. Que era uma questão de otimismo. Eu me forcei a pensar que já estava devidamente curado e pronto. Confesso que algumas vezes pareceu funcionar, mas logo descobri um ponto chave. Pessoas otimistas também adoecem.

Aliás, eu sou bastante otimista. Mas é importante ser um otimista ativo. Alguém que acredita que as coisas podem melhorar, mas sabe que apenas acreditar não vai solucionar tudo. Então, quando você ouvir isso, que tal concordar? Sim! Acrescentando que vai pensar positivo, mas assim como apenas pensar em ter o quarto limpo não vai tirar a sujeira das coisas, não deve adiantar muito pensar positivo sobre saúde mental quando precisamos de ajuda profissional.

Saúde não é só questão de doente.

Cuidar das questões psicológicas, dos sentimentos, das emoções, melhora a vida de qualquer pessoa. Não só das deprimidas.  Se  conseguirmos explicar para mais pessoas sobre como é possuir um transtorno e elas entenderem, teremos mais facilidade para compreensão e algo ainda a mais do que isso. Ao entenderem melhor nossa condição, entenderão melhor sobre si mesmas e poderão buscar apoio.

E não esqueça de buscar com profissionais da área formas de se comunicar com  pessoas que  compreendem mal questões sobre psicologia. Há diversas formas possíveis de explicar e cada um consegue entender de uma determinada maneira.

Quem sabe aquela pessoa que achou que eu estava me fazendo de vítima, procure ajuda de um psicólogo para conseguir ir melhor nos estudos, fazer novos amigos, praticar exercícios, aprender uma outra língua?

A psicologia é uma ciência e quando bem usada, assim como a ciência física nos trouxe tantos avanços tecnológicos, pode facilitar diversos avanços pessoais.

As ilustrações utilizadas neste post, bem como a base do vetor pra capa, foram disponibilizadas por gentileza de Laura Jäger.

É preciso resgatar a UTOPIA como um bem social

É preciso resgatar a UTOPIA como um bem social

Imagem de capa:  nuvolanevicata/shutterstock

Para que serve a utopia? Serve para isto: para que não deixemos de caminhar. Para que o mundo seja o lugar de muitos, e não somente, o lugar de poucos.

A utopia foi privatizada, definiu Zygmunt Bauman pouco antes da sua morte. Para o sociólogo, na modernidade líquida não existe, como houvera há 50 anos, por exemplo, o sonho conjunto da busca de uma sociedade melhor, onde todos possam ter o seu lugar ao sol. O que há é a tentativa individual de melhores condições de vida ante uma sociedade cheia de problemas em que a vida coletiva se dá de modo quase que insustentável. Ou seja:

“A utopia privatizada não é sobre uma sociedade melhor, mas sobre indivíduos melhores, cada um em suas situações individuais, dentro de uma sociedade muito ruim. Sobre a sociedade, dizem que não dá para mudar.”

Se olharmos para a história, de fato, acreditaremos que não há como mudar, porque as utopias fracassaram. Os sonhos e tentativas de construir um mundo melhor – que não poderia ser deixado para depois, deveria ser feito urgentemente – sucumbiram, seja pelas próprias pernas, seja pela ação de pernas “amigas”.

Mas entre erros e acertos, a benevolência de uns e a prepotência de outros, a utopia como a luz da esperança permanece, mesmo que no imaginário de poucos. Entretanto, se ela se mostrou falha e reside em tão poucos pensamentos, para que ainda serve a utopia?

A despeito disso, Eduardo Galeano, lembrando as palavras do cineasta Fernando Birri, respondeu: “Serve para que não deixemos de caminhar”. Dessa maneira, devemos considerar que sem a utopia, as sociedades, os povos e as pessoas deixam de caminhar, de sonhar, de acreditar em algo que ainda não existe e, assim, passam a se conformar com a situação tal como ela é – imutável – sobretudo para o coletivo que habitamos.

Esse conformismo diante do status quo é responsável por fazer com que a ordem seja cada vez mais estabelecida, respeitada e, em alguns casos mais “perturbadores”, até cultuada. Mas que status é esse? É a (des)ordem no qual o mundo se encontra, em que há a paradoxalidade de muitos terem tão pouco, enquanto tão poucos têm muito. Um mundo em que pessoas fazem dieta, ao passo que outras morrem de fome. A (des)ordem da indiferença, do descaso com o próximo, consigo, com o homem. Um mundo de pessoas que aprendem a acumular, mas jamais a compartilhar (a não ser que seja algo no Facebook).

A (des)ordem que segrega, separa, cria muros invisíveis e outros de concreto. Um mundo em que capitais cruzam os oceanos na primeira classe, e pessoas morrem ao tentar atravessá-los em botes. A (des)ordem que humaniza máquinas e despersonaliza pessoas. Um mundo de almas adoecidas que circulam como fantasmas solitários em meio às multidões.

E diante dessa “ordem” não há o que fazer? Não se deve resgatar o princípio da utopia? Devemos somente aceitá-la porque ela é expert em produzir riqueza? Entretanto, de que adianta uma fornada de pão se apenas um homem pode se sentar à mesa?

A utopia foi privatizada, todavia, ela precisa ser recuperada. É necessário sonhar individualmente, mas o coletivo também precisa desfrutar de sonhos conjuntos. E isso não precisa acontecer em um plano de mundo socialista, já que a história nos mostrou mais de uma vez, que entre o ideal e a práxis, sempre haverá a inconciliável ambição humana.

Por isso a utopia não conduzirá a um mundo perfeito, e sim, a um mundo melhor, com falhas e dificuldades, certamente, mas com o horizonte sempre à vista e jamais apagado, como acontece em nossos tempos.

Que o capitalismo não será perfeito, todos nós sabemos. Que ele produz riqueza mais do qualquer outro sistema conseguiu, também sabemos. Que não há possibilidade de sistemas perfeitos, a história nos ensinou. No entanto, dar um caráter humano a um modelo destrutivo, que a cada dia destrói ainda mais o que resta de gente em nós, é a utopia urgente e necessária ao nosso mundo. É preciso acender as luzes, porque o horizonte está escurecido e, como disse Galeano, precisamos continuar caminhando, por mais que a cada passo, o horizonte se torne mais distante.

Contudo, podem indagar que de nada adianta caminhar sem chegar a um destino, mas tampouco adianta ficar parado e cair no abismo. Entre ter o conforto da escuridão, prefiro acreditar que as estrelas, que brilham no horizonte, vem nos visitar em forma de vaga-lumes para nos mostrar que embora distantes, elas anseiam pelo nosso toque, afinal, como dizem os sábios – “Somos todos poeira estelar”. Que seja essa, então, a nossa utopia: um mundo não perfeito, não no céu, mas iluminado em sua completude pelo brilho celeste das estrelas.

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