A história é escrita pelos sobreviventes

A história é escrita pelos sobreviventes

Eu não nasci herdeira de nada. Você, muito provavelmente também não. Bem… até pode ser que você tenha aí a promessa de alguns imóveis, talvez um seguro de vida, alguns bens, uma empresa de família… Isso eu já não sei. Mas, falo por mim.

Eu realmente não nasci herdeira de nada. Meus avós deram um duro danado para criar seus filhos. Meus pais deram um duro danado para criar suas filhas e, tanto eu como meus pais e avós, fomos criados para crer que o que se deixa de mais valioso aos descendentes não é nada que se possa segurar nas mãos.

Bens materiais são coisinhas voláteis; hoje você pode possuí-los e amanhã eles criam asas ou se dissolvem mesmo, bem na sua frente. Dinheiro então! Dinheiro é a coisa nesse mundo que menos aceita desaforo. Duro de ganhar, fácil de gastar, dinheiro é a linguagem universal da espécie humana. Basta observar o quanto as pessoas ficam mais educadinhas quando suas escapadas são punidas com multas em espécie.

Seguindo essa linha de raciocínio, sou levada a pensar no quanto a história de cada um de nós é escrita baseada nos incontáveis desafios a que somos submetidos. A vida é uma espécie de maratona a longo prazo, com inúmeros obstáculos no processo.

O fato é que não importa a nossa classe social, poder financeiro ou a nossa condição cultural; nada disso importa quando o que está em jogo é colocar na balança perdas, danos e vitórias, e tirar dessa equação um saldo, seja ele, positivo ou negativo.

Segundo um dito popular, que pretende analisar a situação mundial da atualidade “Não está fácil para ninguém!”. O fato é que isso não é nada verdadeiro.

Algumas pessoas têm a vida bastante facilitada, na realidade. Algumas, para ser bem sincera, vivem literalmente com seus burrinhos à sombra, enquanto desfrutam das melhores coisas do mundo, com pouquíssimo ou nenhum esforço.

No entanto, voltando à reflexão sobre a inutilidade de juntar coisas, se no momento a situação material anda fácil para alguns e dificílima para outros muitos, nada está garantido para nenhum de nós.

Em última análise, acabo por concluir que a história é mesmo escrita pelos sobreviventes. E sobreviventes somos todos aqueles que não se contentam com vidas medíocres e estereotipadas, pela redutora necessidade de “aparecer bem na foto”.

Sobreviventes somos nós que estamos começando a entender que viver é algo muito maior do que aparentar ser, ter ou dominar. Sobreviventes somos nós, que ousamos sonhar com as possibilidades sem fim de mudar de ideia, de lugar, de vontade.

Entretanto, é preciso tomar um imenso cuidado com o risco de se conformar com a vitória aparente de ter sobrevivido. É preciso fazer desse feito histórico uma saborosa motivação, algo que nos torne aptos para abraçar o que de mais incrível a vida possa oferecer, com braços completos e colos infinitos. É preciso olhar para a frente com a alma de quem escolhe vida em abundância. Honrar a capacidade de ter sobrevivido com o peito repleto de desejos por uma vida que seja inteira.

Imagem de capa meramente ilustrativa: Cena de Reign

Precisamos abraçar nossas sombras

Precisamos abraçar nossas sombras

Imagem de capa: rudall30/shutterstock

Ainda que sem perceber, vivemos procurando subterfúgios para não encarar nosso lado sombrio. Podemos ignorá-lo ou disfarçá-lo, mas, no fundo, ainda que inconscientemente, sabemos que ele existe para todo mundo e que precisa ser aceito e trabalhado.

Podemos encher nossos dias com as mais variadas atividades, encher nossas mentes com os mais variados devaneios, e encher nosso coração com as mais conflitantes emoções. Sim, ficaremos ocupados. Muito ocupados. Mas só iremos sair do nosso caos particular, ficar realmente bem, evoluir, quando pararmos para encarar as nossas sombras.

E, realmente, é muito perturbador reconhecer que pode haver muitas inferioridades ainda em nosso ser. Que somos mais negativos do que deveríamos. Que temos invejas. Que, às vezes, somos maldosos. Que sentimos raiva por besteiras. Que, muitas vezes, não nos esforçamos nem um pouco para ajudar alguém. Que temos preguiça para coisas importantes.

Que somos, vez ou outra, mesquinhos. Que o nosso apego está exacerbado. Que o materialismo anda meio desmedido. Que o nosso perfeccionismo não faz sentido. Que não estamos olhando para as coisas com a clareza com que poderíamos. Que, de vez em quando, preferimos ficar mesmo no buraco. Que não estamos nos esforçando para nos alinhar com o propósito da nossa alma…

Reconhecer o nosso lado sombrio é deveras trabalhoso. Exige, especialmente, que saiamos por alguns momentos dessa loucura em que vivemos, interna e externamente, para nos ouvir. Silenciar, abaixar as armaduras, desarmar as defesas, deixar ser, simplesmente.

Aceitar as nossas sombras, por outro lado, é um exercício constante. Pois elas sempre estarão a nossa espreita, em maior ou menor grau. Precisamos aprender a viver bem com elas, a entender que fazem parte de nós e que precisam ser compreendidas para, aos poucos, serem superadas.

Exige um mergulho profundo no nosso ser. Algo que apenas nós podemos fazer por nós mesmos. Requer maturidade, controle emocional e coragem. Notadamente, coragem.

Coragem para reconhecer que talvez não sejamos tudo aquilo que achávamos ser e/ou tudo o que os outros acham que somos. Coragem para dissolver algumas “verdades”. Coragem para se sentir confortável com a dor que nos habita. Coragem para assumir nossas fraquezas e imperfeições. Coragem para iniciar um processo de mudança. Coragem para não desistir. Coragem para aceitar os tropeços que surgirão no caminho. Coragem para aceitar as curas que, invariavelmente, virão.

Enfim, coragem para passar a viver uma vida muito mais consciente, muito mais proveitosa e muito mais feliz.

Bom mesmo é segurar quem não te larga e ficar onde te querem

Bom mesmo é segurar quem não te larga e ficar onde te querem

Imagem de capa: shevtsovy/shutterstock

Manter junto quem nos olha de volta e nos ama de verdade, levar no coração os momentos cuja lembrança nos devolve a força de pessoas queridas de nossas vidas, permanecer demoradamente onde somos queridos e não tolerados, é assim que a gente fica cada vez mais forte e a cada dia mais humano.

Hoje em dia, parece que se tornou moda o desapego total e irrestrito, a necessidade de se bastar exclusivamente sozinho, de ser feliz sem ninguém mais por perto. Somos aconselhados a largar mão e a partir, sair, ir embora, deixando para trás, de uma vez por todas, as coisas e as pessoas, sem titubear. Parece ser proibido compartilhar o que se é, contar o que se tem, enfim, é preciso desconfiar de quem está ali ao lado.

Logicamente, o apego excessivo faz mal, bem como a dependência do outro, porque ninguém completa ninguém, caso uma das partes esteja pendente demais. Da mesma forma, há que se ter cuidado com quem poderá receber nossas verdades, para que não nos deparemos com o nosso melhor sendo devolvido da pior maneira possível por quem não sabe fazer bom uso de nada que recebe com carinho.

Ainda assim, sempre haverá quem nos abrigará com sinceridade afetiva, quem nos ouvirá de coração aberto, quem nos enxergará com olhos límpidos e leves. Sempre teremos lugares em que repousaremos com serenidade, onde poderemos nos resguardar do que nos fere, para onde voltaremos para renovar nossas energias e acalmar os nossos medos. Sempre levaremos conosco lembranças mágicas e especiais, que revigorarão as nossas esperanças, motivando-nos a seguir em busca de nossa felicidade.

O melhor que poderemos fazer, para não sucumbirmos às ciladas desse mundo, será valorizarmos tudo e todos que nos fazem bem, que nos tornam melhores, que contêm nada menos do que verdade e reciprocidade. Manter junto quem nos olha de volta e nos ama de verdade, levar no coração os momentos cuja lembrança nos devolve a força de pessoas queridas de nossas vidas, permanecer demoradamente onde somos queridos e não tolerados, é assim que a gente fica cada vez mais forte e a cada dia mais humano.

Por isso, a maior besteira é ficar implorando por atenção, correndo atrás de quem não faz a mínima questão da gente, perdendo tempo com quem nem lembra que a gente existe e com coisas que não nos tornariam mais e melhores em nada. A gente não consegue mandar no coração e ele costuma nos pregar peças, mas nunca é tarde para fazer uma limpeza em nossa vida, mantendo ali o que nos emocione, sempre, como se fosse a primeira vez.

Há amigo mais chegado que um irmão.

Há amigo mais chegado que um irmão.

Imagem de capa: Dean Drobot/shutterstock

Você pode ter cinco mil amigos no Facebook, vários contatos no seu celular, inúmeras conversas no WhatsApp, mas amigo, amigo mesmo, a gente conta nos dedos. No meu caso, eu os conto e ainda sobram dedos.

Tem amigo de tudo quanto é jeito; de infância, amigo do colégio, da faculdade, mas hoje eu quero falar sobre aquele amigo que mais se assemelha a um irmão. Aquela amizade que a gente sabe ser verdadeira.

Esse texto é para você, amigo(a), que sempre esteve ao meu lado quando eu mais precisei; que me viu chorar e também sorrir. Para você, que vibra com cada conquista minha e que torce por mim como ninguém. Ah, como é raro alguém que desfrute da felicidade com a gente, sem sentir inveja ou coisa do tipo; como é nobre se alegrar com a felicidade do outro e desejar que tudo ocorra sempre bem na vida desse alguém.

Este texto é para você, meu amigo(a), que não desistiu de mim quando eu mesma já havia desistido muitas vezes; que acreditou em mim quando eu não conseguia mais acreditar e que me abraçou quando eu me sentia só. Quantas histórias, quantos risos, quantos momentos tristes e nós acreditávamos que a tempestade não passaria nunca. Fomos abrigo um do outro, fomos amparo, fomos amigos.

Esse texto é para você, meu amigo(a), que guardou os meus segredos como se fossem seus, que olhou para as minhas dores e que não me julgou pelas minhas histórias malucas. Você, que ri do meu riso e que sempre faz questão de estar ao meu lado. Você é aquele amigo(a) que a gente, sem querer, já vai chamando de irmão(ã), como quem quer dizer o quanto é grato a Deus pela sua vida e por ter o prazer de sua amizade.

Uma amizade que não se esgota com o tempo, não se apaga com a distância, muito menos se desgasta com o convívio. Essa parceria, em que a gente não vê a hora de encontrar a pessoa, para contar aquela novidade que ninguém sabe. Você é aquela pessoa que eu considero como parte da família, aquela parte legal que a gente quer na formatura, no casamento, no nascimento dos filhos, na viagem, ou na defesa do mestrado. Aquele(a) a quem a gente quer contar como foi a entrevista de emprego, o primeiro dia de trabalho.

Esse texto é para você, que fez e faz a diferença na minha vida, e que, dentre tantos nesse mundo, fez questão de ficar, como quem quer levar a gente para sempre em seu coração. Obrigada pela sua amizade e obrigada por ser sempre presente, fazendo de todo o possível.

Você é esse alguém com quem a gente pode conversar o dia todo e não se cansa; que, ao relembrar as histórias, conseguimos rir de todos os momentos que passamos, de todos os micos que pagamos – nós nos divertimos ao relembrar cada momento. Você é aquela pessoa que a gente sabe: podemos contar a qualquer hora e iremos, para sempre, levar em nosso coração.

E, em tempos de amores líquidos, de amizades por interesses, é muito nobre e bonito ter uma amizade assim, é muito bom saber que, mesmo com a correria do dia a dia, alguém tira um tempo para ouvir, alguém torce por você e deseja o seu bem. Como é bom ter alguém em que podemos nos amparar nos dias ruins e contar como foi a semana, se fracassada ou cheia de conquistas.

A você, meu amigo(a) irmão(a), quero que saiba que, mesmo a gente não sabendo demonstrar às vezes o que sente, eu sou muito grata e feliz por ter alguém como você para chamar de amigo. Saiba que, no meu coração, você é um irmão(a). A amizade é mesmo um amor que nunca morre e, mesmo estando do outro lado do mundo, não deixamos de torcer, não deixamos de querer bem, não deixamos de amar.

Algumas pessoas irão gostar de nós somente enquanto puderem nos usar

Algumas pessoas irão gostar de nós somente enquanto puderem nos usar

Imagem de capa: IVANCHINA ANNA

Infelizmente, para muitos, vale muito mais uma companhia que possua carro zero, que frequente locais descolados, que conheça a nata da sociedade, do que alguém que ofereça amizade sincera e afetividade incondicional.

Quanto mais os dias passam, mais teremos que nos fortalecer para poder enfrentar o tanto de dissabores que se acumularão, por conta do que não dará certo, assim como em razão de gente que trará decepção. Não poderemos ter a certeza de que o outro estará ao nosso lado com verdade, porque, infelizmente, uma ou outra hora, alguém que muito amamos irá nos desapontar – e isso dói.

Hoje, valoriza-se excessivamente o tanto que se compra e se gasta, o quanto se é popular e conhecido, ou seja, quais benefícios o outro tem a oferecer. Vale muito mais uma companhia que possua carro zero, que frequente locais descolados, que conheça a nata da sociedade, do que alguém que ofereça amizade sincera e afetividade incondicional. Nesse contexto, em sua grande maioria, a lealdade caminha até onde os benefícios materiais possam alcançar.

Por isso é que se tornaram comuns casamentos por conveniência, amizades interesseiras, favores escusos, rareando, pouco a pouco, relacionamentos duradouros e fortalecidos em amor real e recíproco. A muitos, não há razão alguma em manter por perto pessoas que nada oferecem em termos materiais, que não são conhecidas, que nada mais são do que aquilo que possuem dentro de si. Simplesmente porque pessoas fúteis não conseguem enxergar nada além das aparências.

Infelizmente, demoramos a perceber quem se aproxima por mero interesse, visando tão somente a se aproveitar do que possamos ofertar – nossa carona, algumas roupas emprestadas, um lugar confortável onde passar algumas horas -, nem se importando com o que temos para ensinar, com o que temos para doar em termos afetivos. E serão essas pessoas que nos deixarão na mão quando mais precisarmos, indo embora assim que as benesses terminarem.

Na verdade, não deveremos nos importar demais com as decepções que teremos com essas pessoas, sabendo que não estaremos perdendo nada quando nos virmos sem a companhia delas. É como se a vida se encarregasse, por si mesma, a nos livrar de quem se encostou sem verdade. Estarmos tranquilos com nossa consciência, enquanto oferecemos muito além de itens compráveis a quem chega junto, acabará por nos tornar a cada dia mais felizes, pois somente ficará conosco quem vem para somar, compartilhar, dividir e amar sem falsidade.

Se Bukowski fosse seu conselheiro, acredite, você não sofreria por amor

Se Bukowski fosse seu conselheiro, acredite, você não sofreria por amor

Bukowski está na moda. Primeiro os internautas compartilharam fragmentos de Clarice Lispector, depois de Caio Fernando Abreu, agora é a vez de Bukowski.

O problema é que, metade dos que compartilham as frases de efeito do escritor, nunca ouviram falar dele e, pior, nunca leram nenhuma de suas obras.

Sejamos realistas: Charles Bukowski não é autor para qualquer leitor. Seletivo, audacioso e sem pudor, o escritor transformava em textos palavras que, nem sempre, deveriam ser ditas.

Longe (longe mesmo) de ser romântico, o Velho Safado (alcunha de Bukowski) tinha uma visão distorcida e fria do amor e, considerava uma grande “perda de tempo” sofrer por qualquer sentimento que fosse, já que para ele, todos eram passageiros: “O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.” (Charles Bukowski, Numa Fria, 1983).

A verdade é que sua obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo totalmente coloquial , talvez pela vida que levava (o escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram, na maioria das vezes, autobiográficos), apresentava descrições de porres, relacionamentos superficiais e uma aversão ao mundo constante.

Polêmico e famoso (um dos escritores mais conhecidos nos EUA), Bukowski teve mais de 50 obras publicadas, além de ter muitos de seus poemas adaptados para o cinema e estarem presentes em álbuns de diversas bandas como: Red Hot Chilli Peppers, Anthrax, Apollo 440 e Bad Rádio).

O escritor não via problema na solidão e acreditava que sofrer por estar só era loucura: “Existem coisas piores do que ser sozinho, mas a maioria das vezes isso leva décadas para se perceber e a maioria das vezes quando você percebe é tarde demais e não há nada pior do que tarde demais.” (Charles Bukowski, War all the time, 1984).

De estilo agressivo e inconformado com o mundo, possuía uma forma descuidada com a escrita: “A beleza não existe, especialmente num rosto humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado, matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito, se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.”

Há quem diga que o escritor construiu em suas obras um muro de defesa da própria personalidade, ou seja, fazia papel de agressivo para esconder a fragilidade emocional em que vivia. Definições essas que morreram com o escritor em 1994.

Bukowski nunca foi visto como bom moço e, embora tenha seus defensores e amantes da literatura até hoje, o próprio escritor se definia como um anti-herói: “Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei, o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados, com gravatas e bons empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de surpresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas. Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade”.

Críticas e elogios a parte, as obras do escritor merecem ser lidas. Afinal, não é qualquer autor que traz para a literatura seus conhecimentos empíricos.

Me apaixonar não é difícil, juro. Mas amar? Por enquanto, deixa pra lá

Me apaixonar não é difícil, juro. Mas amar? Por enquanto, deixa pra lá

Imagem de capa: Nejron Photo, Shutterstock

Até sinto falta do amor. De ter o corpo inundado por esse prazer constante e não efêmero, cheio de presentes bem-vindos. O único problema é que, ultimamente, tenho acenado para o lado contrário. Tenho umas paixões aqui e ali, não sinto vergonha de assumi-las. Isso nem é uma grande dificuldade, no momento. Mas amar? Por enquanto, deixa pra lá.

Talvez você não acredite, mas eu me esforço para ser diferente. Perdi sei lá quantas noites pensando, amanhã será um novo dia. Não foi. Amores chegaram e não ficaram mais do que alguns meses. Alguns eram legais, confesso. Acontece que estava mentindo para a pessoa errada. Sim, eu sei que é clichê, mas o problema não era eles. Sendo justa, eu sou o paradoxo do amor. Minha autoestima não está baixa, não se preocupe. Também não resolvi chorar pitangas e declamar um vitimismo amoroso. No fundo, desconfio que é só cansaço.

Ando exausta de amar, sabe? Foram tantas tentativas, tantos recomeços e, no fim, o que sobrou? A minha desenvoltura entrelaçada nos lençóis, sozinha, em sextas e sábados. Eu, meias velhas, um punhado de filmes e várias desculpas para os convites recebidos. Agora, você deve estar pensando que sofro de um caso sério de pé na bunda. Olha, antes fosse. Faz até bem levar um, algumas vezes. Mas, novamente, não é o x da questão.

A grande problemática aqui, de verdade, é que já não sinto muita coisa. Já não lembro da última vez que sequer, disse ter amado. Não decidi colocar uma proteção impenetrável contra o amor, mas reconheço que algo me impede de seguir. Se desapegos, ausências ou algo mais, não sei dizer. O que posso dizer é que faz um bom tempo desde aquele comichão no estômago. E não pense você sobre essas coisas serem controladas, medidas. Quisera eu terem sido. Assim, poderia chegar e destrancar tudo para sentir de novo. Mas também não é nada parecido, droga.

Enfim, vou indo. Desculpe não poder ficar mais e conversar. Queria permanecer, mas estão me chamando para um café. Sim, até pensei em lançar mais uma desculpa mas, dessa vez, tenho certeza que será diferente. Ou não, vai saber? Enquanto isso, faço juras durante alguns encontros. De repente, a sorte do amor aparece na hora marcada, sem atrasos.

Eu me casei com minha 1a. namorada e aproveitei a vida, sim!

Eu me casei com minha 1a. namorada e aproveitei a vida, sim!

Divertir-se pode muito bem significar ir a festas acompanhado, ir ao cinema apaixonado, passar uma noite de sábado namorando, assistindo a seriados junto a quem ama. Não há divertimento mais certo, aliás, do que sentir-se amado de verdade, do que amor correspondido, amor recíproco.

Inúmeras vezes, quando conto a alguém que sou casado com a minha primeira namorada, ouço que não devo ter aproveitado a vida. Ou seja, penso que um grande número de pessoas acha que, para que a juventude seja aproveitada, é preciso pular de uma boca a outra, de uma cama a outra, como se quantidade equivalesse a qualidade. E isso me entristece.

Ao mesmo tempo em que ouço ser a variedade de experiências um aspecto primordial da vida de qualquer um, há muitos reclamando da infidelidade que permeia os relacionamentos, do aspecto descartável conferido a sentimentos que deveriam, pelo contrário, ser duráveis. Afinal, o que se quer: variedade e quantidade ou fidelidade e exclusividade? Porque, como se vê, há muita contradição envolvendo essa questão.

Há muita romantização em torno do descompromisso, como que se pudéssemos preencher vazios afetivos de quaisquer ordem, quanto mais diversidade e variação de parceiros tivéssemos em menos tempo. Isso porque se costuma desatrelar a diversão de tudo o que requer comprometimento e responsabilidade, ou seja, o que provoca riso não pode ser tido como algo sério e responsável. Por essa razão é que tanta gente confunde bom humor com imaturidade ou irresponsabilidade.

Portanto, sendo possível agregar responsabilidade com diversão, torna-se possível, também, haver comprometimento afetivo e aproveitamento de vida. Divertir-se pode muito bem significar ir a festas acompanhado, ir ao cinema apaixonado, passar uma noite de sábado namorando, assistindo a seriados junto a quem ama. Não há divertimento mais certo, aliás, do que sentir-se amado de verdade, do que amor correspondido, amor recíproco.

Eu até posso ter perdido algumas festas e sei lá mais o quê, mas jamais me arrependerei de ter optado pela mulher com quem eu queria passar o resto da vida junto, de ter crescido e amadurecido ao lado de quem sempre torceu por mim, de ter batalhado a vida toda para que pudéssemos construir um lar onde nossa família repousaria a cada dia, sob calmarias e tempestades. Eu me casei com minha primeira namorada e aproveitei a vida, sim, porque desfrutamos das dores e dos prazeres de um relacionamento forte, de mãos dadas. Isso nos tornou cada vez mais próximos e unidos. Assim como deve ser.

Servidão Moderna: Escravidão e Alienação no Mundo do Trabalho

Servidão Moderna: Escravidão e Alienação no Mundo do Trabalho

Imagem de capa: yuttana Contributor Studio/shutterstock

“Mas o costume, que sobre nós exerce um poder considerável, tem uma grande força de nos ensinar a servir e a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão.”

— Discurso da Servidão Voluntária, Étienne de La Boétie.

Quando chegamos a momentos complicados dentro da história, muitas vezes é necessário olhar para trás para tentar compreender o que ocorre no presente, dado que a história nunca é algo pronto, mas algo que vai sendo construído a partir das inter-relações temporais.

Desse modo, ao analisar a situação do trabalho no mundo antigo, podemos traçar paralelos importantes que nos ajudam a melhor entender o que ocorre na contemporaneidade.

No mundo antigo, mais precisamente, no mundo greco-romano, o trabalho não possuía as mesmas condições e status que possui hoje, em um mundo industrial (ou pós-industrial). Enquanto na nossa sociedade podemos dizer que o homem se faz no trabalho, nas sociedades supracitadas esse processo se dava de forma diametralmente oposta, uma vez que a realização do homem enquanto ser estava ligada à sua esfera de liberdade e, por conseguinte, ociosidade.

Em outras palavras, o exercício da intelectualidade, das virtudes, do raciocínio e da cidadania estavam dissociadas completamente do trabalho, de tal maneira que para que uma parte pudesse gozar da sua “humanidade” nas cidades, outros tantos tinham que trabalhar, sobretudo, no campo.

Posto isso, percebemos que há um distanciamento enorme entre o exercício do trabalho e a esfera da liberdade, que é elemento imprescindível para que o homem possa gozar da sua condição humana.

Como nos diz o historiador Perry Anderson: “O divórcio entre o trabalho material e a esfera da liberdade era tão rigorosa que os gregos não tinham uma palavra em sua língua nem mesmo para expressar o conceito de trabalho, tanto como conduta pessoal, quanto como função social. O trabalho na agricultura e o trabalho artesanal eram supostas ‘adaptações’ à natureza, e não transformações dela; eram formas de serviço”. Os próprios filósofos da antiguidade, como Platão, viam o trabalho como algo alheio a qualquer valor humano.

O trabalho, assim, era visto como algo fora da essência humana, de modo que aqueles que trabalhavam (em larga medida, escravos) não precisam (ou não tinham) condições de participar e decidir sobre os destinos da polis, isto é, por meio do uso da cidadania.

É evidente que cada pensador é pensador no seu tempo, e cada construção social é uma construção social no seu tempo, entretanto, não se trata de fazer uma análise dessa conjuntura com olhos de um homem do século XXI, já que procedendo dessa maneira cairíamos em um anacronismo. Trata-se, então, de perceber o modo como historicamente o valor do trabalho e do trabalhador, manual, acima de tudo, foi construído.

A partir do momento em que se cria uma divergência inconciliável entre o trabalho e a liberdade, afasta-se por consequência a possibilidade do exercício do pensamento crítico, do questionamento e da cidadania. Essa divergência se dá porque, de fato, faz-se necessário certa “ociosidade” para que o indivíduo possua tempo hábil para refletir sobre necessidades da vida não associadas à sua manutenção orgânica, por assim dizer.

No entanto, o que se observa contemporaneamente é um processo em que existe cada vez menos tempo para que deliberações livres sobre a vida possam ser tomadas. Isto é, para que possa haver reflexão sobre as ações que se pratica ou se pretende praticar, e não somente a mera repetição automática e robótica de ações destituídas de qualquer crítica e capacidade reflexiva. Sendo assim, ao mesmo tempo em que o trabalho se tornou condição humana, houve também uma diminuição na esfera da liberdade e todas as consequências imediatas já levantadas no texto.

A partir disso, pode-se concluir, então, que os gregos estavam certos e que o trabalho e a liberdade são como água e óleo? Bom, acenar afirmativamente para essa problemática, apesar de tentadora, incorreria em uma aceitação e subserviência completa a uma organização social que se daria entre uma maioria esmagadora que trabalha e está com o seu pensamento alienado às normas impostas por uma minoria destinada a “tão somente pensar” e “coordenar a sociedade”.

Para os mais atentos, essa realidade que ocorreria ao findar para o lado afirmativo da questão não se restringe ao passado, tampouco, é obra de ficção. Ela é a nossa própria realidade e é por isso que essa ponte histórica é importante.

Ao estabelecer um regime de trabalho (em sentido amplo) extremamente mecanicista e uma relação com o tempo marcada pela fugacidade, o modelo social burguês ou industrial procurou afastar o trabalhador de condições próprias para que o exercício da sua individualidade, intelectualidade e cidadania pudessem ser exercidos.

Dessa forma, continuamos com um pensamento segregacionista em relação ao homem na sua vida social, sendo que, nesta quadra da história, a situação é ainda mais desumana e contraditória, posto que vivemos em um Estado Democrático de Direito (teoricamente) e, assim, todos os indivíduos deveriam receber condições de exercer a sua parcela de contribuição social, de forma ativa e crítica, fazendo jus à ideia de soberania popular.

Contrariamente, o que observamos é o estabelecimento cada vez maior de processos técnicos que ao invés de auxiliar o trabalhador, tornam este mais alienado ao tempo da máquina, leia-se, a todas as estruturas temporais do mundo industrial. Assim sendo, é preciso que nos compreendamos enquanto trabalhadores dentro desse modus operandi, não para ser uma peça “útil” dentro da engrenagem, e sim, como peça que consegue enxergar que a sua “utilidade” se restringe ao benefício de poucos que gozam do status de líderes sociais.

Como todo sistema bem montado, é óbvio que promover mudanças significativas são difíceis, até porque isso dependeria de uma vontade e esforço mútuos, o que se sabe que é tão difícil quanto a própria mudança. Todavia, se acreditamos que todo homem é capaz de pensar e agir livremente, então, não há outro caminho para a mudança que não seja o do incentivo à autorreflexão, analisando a história como um processo de continuísmos e rupturas, que em todas as épocas tiveram o povo como pano de fundo. É chegada a hora, portanto, de sair de trás das cortinas e adentrar ao centro do palco.

O trabalho colocado em sentido amplo no texto refere-se a todas as ações que dispomos para o seu exercício, como formação técnica e/ou acadêmica, aperfeiçoamentos, além das atividades que fazemos fora do trabalho, mas que se relacionam com o seu exercício e permanência no mesmo. Dessa maneira, o tempo do trabalho acaba sendo muito superior ao que aparece nas leis e/ou nos contratos de trabalho.

Cumprimente a todos, confie em poucos e não dependa de ninguém

Cumprimente a todos, confie em poucos e não dependa de ninguém

Ser gentil não custa nada e só nos traz benefícios. Sorrir com verdade pode até ajudar quem menos esperamos, pois há sempre alguém procurando por alguma luz em seu dia. Nem imaginamos o quanto de alento um simples “bom dia” pode trazer a quem passa por escuridões dolorosas. Por outro lado, é muito desagradável deparar-se com uma cara amarrada já às sete horas da manhã, com pessoas deseducadas, mal humoradas e ríspidas, afinal, ninguém tem culpa da nossa briga com o mundo.

Quem de nós nunca foi completamente ignorado ao passar rente a um colega, a um conhecido, a alguém que já conversou conosco, já passou um tempo na nossa companhia e, portanto, já sabe o nosso nome? Não dá para entender por que certas pessoas fingem que não conhecem os outros, se é insegurança, medo sabe-se lá de quê, problema de visão, distração excessiva, ou pura e simplesmente soberba gratuita mesmo. Sentem-se superiores ou inferiores, afinal? Vai entender…

É perfeitamente possível sermos educados e atenciosos com quem quer que seja, sem que precisemos aprofundar intimidade com quem não simpatizemos. Aliás, não conseguiremos ter afinidade com todo mundo à nossa volta e isso não quer dizer que só deveremos nos dirigir tão somente àqueles de quem gostamos. Cumprimentar uma pessoa, trabalhar no mesmo ambiente ou sentar à mesa de amigos em que ela está não nos obriga a manter fortes laços com ela.

Na verdade, conheceremos muita gente, porém, confiaremos em pouquíssimas pessoas, porque o que temos de tão nosso jamais poderá ser entregue a qualquer um, sem ressalvas. Muitos aguardam qualquer chance de derrubar quem quer que seja, através de fofocas maldosas principalmente. Termos a segurança de dividir nossa vida com as pessoas certas nos poupará de inúmeros dissabores e decepções. E esses poucos sempre valerão a pena.

Fato é que não devemos depender muito das pessoas, para podermos seguir nossas vidas sem pendências excessivas, uma vez que os outros, muitas vezes, não correspondem às expectativas que costumamos lhes imputar. Nem sempre as pessoas agirão conforme o que esperávamos, tampouco terão atitudes iguais às nossas. Cada pessoa possui o seu próprio coração e nele guarda aquilo que quiser – ninguém manda nos sentimentos alheios.

Melhor tentar não depender de ninguém, nem contar muito com os outros, afinal, quanto mais depositarmos nossa felicidade fora de nós, mais distante ela se torna. Quando contamos com nós mesmos, então mantemos as chances de ser feliz aqui dentro, que é onde a felicidade deverá sempre permanecer.

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Imagem de capa: Archv/shutterstock

O que falta na gente não é afeto, mas entrega.

O que falta na gente não é afeto, mas entrega.

Infelizmente, o que está faltando na gente não é distribuir proximidades. Até tentamos ser mais gentis, carinhosos e receptivos com quem chega mais perto, mas não tarda muito para que retiremos o time de campo. Não sei quando foi que passamos a economizar mais de nós, mas seria tão bom se a gente entregasse mais do que pedimos em troca.

Evitamos muito e somos pouco, esse é o problema. Cadê o sentir de perto, sem armaduras, qualquer coisa que outro tenha para demonstrar de bom? Não é só saber aproveitar o cafuné, as mãos dadas e os momentos divididos em dias alegres. É, com o pacote completo, entender dos problemas, tristezas e ansiedades de quem se gosta. É passar mais tempo querendo estar e não fugir. Não é fraqueza assumir que precisa e, certamente, não é covardia desejar novas permissões.

Afetos são pontes emocionais criadas com a intenção nos tornarem mais humanos. Mas somente quando os entregamos, por amor próprio, é que enxergamos o especial, o diferente.

Chega de termos medo. Chega de acolhermos distâncias em vez de encurtá-las. O que falta na gente é viver no presente. A vida é tão mais bonita quando entregamos inteiros do nosso amor. Quem sabe assim, afetos deixem de ser apenas palavras e entregas não terminem guardadas num canto solitário, esperando alguém a chamar por ela.

Imagem de capa: Antes do Pôr do Sol (2004) – Dir. Richard Linklater

“A transferência é inevitável. Todo ser humano causa impacto nos outros”

“A transferência é inevitável. Todo ser humano causa impacto nos outros”

Imagem de capa: Archv/shutterstock

Sempre tive certa resistência quanto a tratamentos dentários. Dentistas, para mim, sempre foram sinônimo de dor e sofrimento.

Minhas experiências com dentistas – que dizem respeito à minha infância até 9/10 anos – remetiam à aflição e insensibilidade por parte de quem me atendia. Essa percepção mudou quando conheci minha atual dentista. Com ela, é diferente.

Começando pela sala de espera, em que normalmente reina aquele silêncio ansioso, lá a música está sempre rolando. De MPB a pop internacional dos anos 90, da bossa nova aos clássicos do rock. Hora ou outra, você inevitavelmente esquece o que lhe espera. A criançada tem acesso a brinquedos e a um bom acervo de histórias em quadrinhos (esse é um detalhe importante).

Parênteses: lembro-me bem de, ainda pequena, ler, no consultório dessa dentista, um quadrinho da Turma da Mônica (que levo comigo até hoje), em que alguém, irritado com uma situação pela qual tinha passado, descontava sua raiva em um outro alguém, que, por sua vez, maltratava outro personagem, e assim por diante. Ao final da história, alguém quebrava a corrente de Frustração-Agressão, que parece uma analogia à teoria de psicólogos americanos (Dollard, Dood e Miller), assim nomeada. A teoria inicial dos três pesquisadores é simples. Temos uma tendência a reagir agressivamente a situações que nos frustram, descontando, normalmente, essa raiva em outra pessoa.

Deixemos as teorias de lado e voltemos ao consultório. Música, quadrinhos, brinquedos, nada disso me acalmaria, se minha dentista não me tratasse bem. Sua calma, sensibilidade, bom humor e preocupação com as possíveis dores que seus clientes venham a sentir, fazem com que a consulta dentária deixe de ser o pesadelo que comumente é.

Agora, façamos a ponte e complementemos a teoria de Dollard: do mesmo jeito que raiva e frustração podem originar a agressividade, por exemplo, a calma e a sensibilidade são potenciais geradoras de tranquilidade e confiança. Vou além, recorrendo à citação do filme sobre a vida de Patch Adams – médico famoso nos Estados Unidos por seus métodos nada ortodoxos: “A transferência é inevitável. Todo ser humano causa impacto nos outros.”.

Aqui para nós, a forma como tratamos e nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor tem influência direta sobre seus sentimentos e emoções. A falta de empatia ou o mau humor de um profissional, às vezes, vai longe em uma corrente dessas, como no quadrinho da Mônica.

Por outro lado, a calma, a humanidade, a tranquilidade, como no exemplo de minha odontóloga, também são “transferíveis”, “espalháveis” e podem, inclusive, neutralizar ou diminuir medos e ansiedades.

Então, diga-me: que correntes você tem quebrado? Que tipo de sentimento você tem espalhado? Para que tipo de ciclo você tem contribuído?

A dor é passageira. Desistir é para sempre!

A dor é passageira. Desistir é para sempre!

Tem dias que o peito aperta. A alma parece grande demais para um corpo que não é capaz de contê-la. Os olhos ardem porque a vida vem e nos confronta com novas perguntas, para as quais não temos nenhuma resposta.

Tem dia que viver dói um bocado. Os desafios parecem maiores que nossas pernas dão conta de seguir, mais pesados que nossos braços dão conta de segurar.

Tem dia que parece que nunca mais vai acabar. Parece que estamos vivendo um ano inteiro em vinte e quatro horas. Parece que acabamos inscritos por acidente numa gincana diabólica qualquer no melhor estilo “Hunger Games”.

Tem dia que é teste de paciência. Maratona no deserto. Frio sem fogo nem cobertor.

Dias difíceis! Quem é que não tem?

Alguns deles, inclusive, parecem vir encadeados numa sequência aparentemente infinita de desafios à nossa resiliência e persistência.

Alguns deles vêm cheios de experiências de perda, frustração e dor.

No entanto, esses dias, assim como aqueles outros raros opostos em que o mundo parece estar cem por cento do nosso lado, esses dias também acabam.

A dor é temporária, é circunstancial, e muitas vezes, necessária. A dor é a linguagem do corpo, físico e psíquico, que nos alerta sobre o perigo, que nos avisa sobre algo que não deveria estar nesse lugar.

Bendita dor que nos tira o chão. Porque a partir dela, levamos uma chacoalhada da vida e entramos outra vez em sintonia com o movimento do universo.

Agradeçamos cada uma das nossas dores. Mestras do aprendizado na nossa jornada aqui na Terra.

Que a dor cumpra o seu papel e que sejamos capazes de ouvir, refletir, aprender a lição e persistir. Porque a dor é passageira. Mas desistir é para sempre!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Joy”.

Esbarrar em alguém que te machucou, não é motivo para você desistir do amor

Esbarrar em alguém que te machucou, não é motivo para você desistir do amor

Imagem de capa: eldar nurkovic/shutterstock

Só agora, depois de muito tempo e uma coleção de descasos, é que caiu a ficha. Finalmente, você percebeu que aquele amor tão idealizado só existia na sua cabeça. Hoje você deita sozinha no escuro e fica procurando respostas que expliquem o trágico desfecho.

A questão é que, você amou intensamente, estava repleta de sonhos para o futuro, mas esqueceu de olhar para o lado e se dar conta que era uma empreitada solitária. Vazia de sentidos e sem reciprocidade. A sua alegria nunca foi a dele. Quantas vezes você chegou animada para contar sobre as suas conquistas e sequer recebeu um abraço? Muitas, eu sei. Recebeu apenas um aceno de longe, um sopro gelado no meio da fogueira dos seus sonhos incríveis.

Você deve estar se perguntando onde esteve o tempo inteiro que não percebeu antes. Vou dizer… você esteve do outro lado da história, vivendo uma vida que não era sua, justificando o desinteresse dele como cansaço temporário. Tantas vezes ele recuou, sinalizou que não queria ir além, que era só algo superficial e passageiro. Pediu até para que você desistisse, mas você disse que o faria mudar de ideia a qualquer custo. Disse que o transformaria, o curaria da frieza de ser distante e apático.

Eu sei que dói tentar remendar a alma que foi dilacerada tantas vezes no mesmo lugar. Dói mais ainda saber que, às vezes, colocamos a responsabilidade da cicatrização nas mãos de quem vai ferir novamente.

Reparo bem nos seus olhos, enquanto você me diz que quer passar a vida a limpo e esquecer. Veja bem, esse é só um trecho do percurso, a sua vida não se resume a esse fato. Provavelmente, agora seja difícil compreender. As coisas ainda estão nubladas, há um misto de mágoa e amor no seu olhar.

Impossível não reparar nos seus belos e esperançosos olhos. Tão límpidos. Externam uma pureza tão digna de ser apreciada por almas de semelhante tessitura. Algumas pessoas não sabem enxergar por dentro. Não conseguem sentir a verdade do outro porque estão mais preocupadas em acreditar nas próprias mentiras. Mas não fique tão ferida a ponto de se isolar do mundo e duvidar do amor.

O mundo precisa desse seu sorriso, da sua mania de colorir tudo que toca. Que a solidão de agora seja apenas uma pausa. Breve pausa para compreender que a vida, às vezes, parece nos castigar retirando algo que amamos, quando na verdade, está nos abençoando com a possibilidade de um encontro verdadeiro.

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