10 filmes lindos para causar taquicardia

10 filmes lindos para causar taquicardia

Cinema, romances e pipoca tem tudo a ver! Essa lista é para quem adora histórias apaixonadas, cheias de lágrimas e risos, que tocam lá no fundo do coração!

Dez filmes capazes de causar taquicardia nos corações mais sensíveis. E o melhor, alguns estão disponíveis na Netflix.

1- Um dia, 2011

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Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) se conheceram na faculdade, em 15 de julho. Esta data serve de base para acompanhar a vida deles ao longo de 20 anos. Nesse período Emma enfrenta dificuldades para ser bem-sucedida na carreira, enquanto Dexter consegue sucesso fácil, tanto no trabalho quanto com as mulheres. A vida de ambos passa por altos e baixos, mas sempre está, de alguma forma, interligada. Um filme maravilhoso e encantador inspirado no livro de mesmo nome de David Nicholls.

2- O encantador de cavalos, 1998

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Uma adolescente (Scarlett Johansson) em companhia de uma amiga sofrem um acidente quando andavam a cavalo. O cavalo da adolescente fica bastante ferido e querem sacrificá-lo, mas a mãe da jovem (Kristin Scott Thomas), a editora de uma conhecida revista, não autoriza que o matem e o leva até Montana para conhecer um rancheiro, esperando que ele ajude a curar algumas feridas internas, tanto da sua filha quanto do animal. O processo de recuperação é lento, mas após algum tempo os resultados começam a aparecer e paralelamente a editora e o rancheiro se apaixonam.O que dizer de um dos filmes mais românticos da década de 90? Lindo, mágico e sedutor.

3- Casa comigo?, 2010

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Anna (Amy Adams) viaja a Dublin, Irlanda, para pedir o namorado Jeremy (Adam Scott) em casamento. Segundo a tradição local, o homem não pode recusar um pedido feito no dia 29 de fevereiro. Após contratempos na viagem, Anna vê-se obrigada a pegar carona com o charmoso e áspero Declan (Matthew Goode), dono de uma hospedaria. Logo, o que deveria ser uma simples travessia ganha rumos inesperados. Um filme ótimo para se apaixonar pela Irlanda e pelas boas surpresas do coração!

4- Flores raras, 2013

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Em 1951, Nova York. Elizabeth Bishop (Miranda Otto) é uma poetisa insegura e tímida, que apenas se sente à vontade ao narrar seus versos para o amigo Robert Lowell (Treat Williams). Em busca de algo que a motive, ela resolve partir para o Rio de Janeiro e passar uns dias na casa de uma colega de faculdade, Mary (Tracy Middendorf), que vive com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). A princípio Elizabeth e Lota não se dão bem, mas logo se apaixonam uma pela outra. Um filme delicado ao extremo!

5- Meia noite em Paris, 2011

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Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escritores americanos e sonhou ser como eles. A vida o levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que fez com que fosse muito bem remunerado, mas que também lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está prestes a ir a Paris ao lado de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John irá à cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida. Esse filme é mais uma ótima produção dirigida por Woody Allen.

6- Um lugar chamado Notting Hill, 1999

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Will (Hugh Grant), pacato dono de livraria especializada em guias de viagem, recebe a inesperada visita de uma cliente muito especial: a estrela de cinema americana Anna Scott (Julia Roberts). Dois ou três encontros fortuitos mais tarde, Will e Anna iniciam um relacionamento tenro, engraçado e cheio de idas e vindas. Classificada como uma das melhores comédias românticas de todos os tempos, o filme tem um charme pra lá de especial apesar dos clichês presentes no roteiro.

7- O som do coração, 2008

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August Rush (Freddie Highmore) é resultado de uma paixão entre um guitarrista e uma violoncelista. Crescido em orfanato e dotado de um dom musical impressionante, ele se apresenta nas ruas de Nova York ao lado do divertido Wizard (Robin Williams). Contando apenas com seu talento musical, August decide usá-lo para tentar reencontrar seus pais. Os pais de August são interpretados pelos maravilhosos, Keri Russell e Jonathan Rhys-Meyers, só pela química entre os atores e pelo enredo tão delicado e sensível, o filme já vale a pena.

8- Segundas intenções, 1999

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Em Manhattan, Kathryn Merteuil (Sarah Michelle Gellar) e Sebastian Valmont (Ryan Phillippe), pertencem a uma rica família e vivem como irmãos, desde o casamento do seus pais. Ele tem a fama de ser um incrível sedutor e gosta de manter tal reputação, enquanto que Kathryn, apesar de ser ainda mais amoral que ele, prefere fazer o gênero da jovem boa e comportada. Quando seu namorado a troca pela inocente Cecile Caldwell (Selma Blair), Kathryn decide se vingar e desafia Sebastian a um jogo, em que ele teria que seduzir e acabar com a reputação de Cecile. Inspirado em uma história real acontecida em meados do século XVIII, contada em detalhes por Choderlos de Laclos no livro Ligações Perigosas.

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9- Um homem de sorte, 2012

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Em meio a uma batalha no Iraque, o fuzileiro Logan Thibault (Zac Efron) encontra no chão a foto de uma mulher desconhecida. Ele a guarda e passa a cuidar da foto como se fosse um talismã. Meses depois, ele retorna aos Estados Unidos e passa a pesquisar onde a mulher da foto poderia morar. Ele a encontra em um canil, onde trabalha juntamente com a avó (Blythe Danner) e vive com o filho pequeno (Riley Thomas Stewart). Logan passa a também trabalhar no canil, sem revelar o verdadeiro motivo pelo qual chegou até ele. Um filme pra lá de romântico para quem adora histórias inspiradoras.

10- Uma linda mulher, 1990

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Um magnata perdido (Richard Gere) pede ajuda uma prostituta (Julia Roberts) que “trabalha” no Hollywood Boulevard e acaba contratando-a por uma semana. Neste período ela se transforma em uma elegante jovem para poder acompanhá-lo em seus compromissos sociais, mas os dois começam a se envolver e a relação entre eles muda de rumo. Um dos filmes mais emblemáticos da década de 90.

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Foto de capa: Um Dia

Não existe fórmula mágica para esquecer o/a “ex”, o segredo é você perceber que merece muito.

Não existe fórmula mágica para esquecer o/a “ex”, o segredo é você perceber que merece muito.

Imagem de capa:  SunKids/shutterstock

Recebo muitas mensagens sobre términos. Afinal, como esquecer o ex? A verdade é que não existe uma formula mágica para “esquecer” alguém.

Vejo que muita gente tenta, a todo custo, mascarar a dor de um término. E lá vêm as postagens de fotos nas redes sociais em festas, lugares “badalados” e frases que soam como superação.

Mas, no fundo, ainda existe o choro no fim da noite, a saudade vem visitar todos os dias, mesmo o outro não merecendo o nosso sofrimento. Essa história de joguinhos de desinteresse na busca de fazer o outro perceber o que perdeu é roubada, pois, infelizmente algumas pessoas simplesmente não conseguem reconhecer a grandeza que tem ao seu lado e precisamos entender isso.

A verdade é que precisamos respeitar o nosso tempo, entender que não se “esquece” alguém, mas sim passamos a nos lembra desse alguém sem sentir amor, sem que haja saudade ou aquele sentimento de perda que nos deixa tristes. Precisamos aceitar que superar o fim de um relacionamento pode levar tempo e não há uma fórmula para acelerar esse processo.

Outro problema que vejo é o fato de as pessoas compararem a sua forma de lidar com o sofrimento pós-término com o de outras pessoas. “Ah, mas fulano superou isso tão rápido e eu não.” Justamente, cada um é cada um; então, não compare a sua forma de ver e reagir as coisas com a de outras pessoas, isso é se afundar ainda mais no sofrimento e caímos no erro de nos achar o problema.

Eu sei que dói ver esse alguém tocando a vida sem você, enquanto ainda sente saudade e não entende o porquê de ter dado errado. Também imagino quantas vezes você tentou achar onde falhou, o que poderia ter feito para que o fim não chegasse, mas a verdade é que quem quer partir simplesmente arruma desculpas para isso. E não há nada pior do que amar por dois em uma história de amor, do que insistir para alguém permanecer em nossa vida.

Precisamos aprender a deixar no passado aquilo que nos feriu, jogando fora o que nos impede de ir para a frente. Ficar preso à vingança ou àquela ideia de o outro “pagar” o que nos fez é besteira e quem sofre somos nós mesmos. Vislumbre as possibilidades tão lindas que você tem bem à sua frente, pare de olhar para trás e de tentar entender o que você fez de errado: o que foi simplesmente foi.

Você fez o seu melhor e, se não fez, terá a oportunidade de fazer diferente em um próximo relacionamento, mesmo descartando a chance de se relacionar novamente. Eu entendo todo esse bloqueio e essa mania de não querer ouvir a palavra amor ou relacionamento, isso é apenas o resquício de um coração ferido, que acreditou, amou e se decepcionou.

Calma, nem todo mundo provoca feridas, nem todo mundo vem para ir embora. Tem gente que gosta do seu jeito, que acha você incrível e que não só promete como também fica. Não ter dado mais certo com esse alguém pode ser uma forma de a vida abrir caminhos para você viver outras coisas, conhecer outras pessoas e também entender o que você realmente merece. Vejo muita gente permanecendo em uma história de amor morna por medo da solidão; muita gente intensa recebendo um amor frio quando, na verdade, precisava ferver.

Quanta gente romântica deixando de ser romântica porque o outro não valoriza os seus gestos; quanta gente achando ser bobagem demonstrar o que sente porque o outro simplesmente não faz questão dos seus gestos que esboçam amor. Por mais que você acredite ter perdido o amor da sua vida, pode ser que a vida esteja lhe dando a chance de encontrar, de fato, o amor.

Enquanto isso, cuide de você, dos seus sonhos, invista tempo em quem lhe quer bem, dedique-se ao que você gosta e faça seu jardim florescer, não permitindo que a dor de um término esmague a sua coragem, roube os seus sonhos mais lindos e leve embora todo o seu brilho. Tem gente que amaria estar ao seu lado, dividindo uma vida com você. Tem gente que amaria ver o seu sorriso todos os dias e que acharia o máximo o quanto você se esforça no trabalho, nos estudos e corre atrás dos seus sonhos.

Mas, às vezes, ficamos tão cegos, tão presos ao passado, às lembranças e a toda dor causada, que não conseguimos seguir em frente e vivemos tropeçando no nosso medo de que as coisas deem certo de uma vez, que o amor chegue e fique sem nos causar dor. A verdade é que temos medo de que a mesma história se repita e evitamos, a todo custo, entrar em um relacionamento, deixando, assim, passarem oportunidades tão bonitas, por medo de que tudo dê errado novamente.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida”, diz filha de Manoel de Barros sobre o pai.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida”, diz filha de Manoel de Barros sobre o pai.

“Há várias maneiras sérias de não dizer nada
mas só a poesia é verdadeira”

Foi com esse trecho de um poema que o diretor Pedro Cezar decidiu abrir o documentário Só Dez por Cento é Mentira, que homenageia e conta a trajetória do poeta-passarinho Manoel de Barros.

O homem que trouxe o mundo dos caramujos, folhas e gravetos para o imaginário de milhões de leitores ainda é um dos poetas mais lidos nacionalmente. É que não dá para ficar indiferente frente ao tão rico idioleto manoelês (definido por ele como a língua dos bocós e dos idiotas). A profunda simplicidade de sua escrita comove olhos e corações por onde pousa.

Essa simplicidade, que não deve ser confundida com simplismo, não era só aparência. Para construir seu universo literário, Manoel utilizava-se apenas de lápis e bloquinhos de papel que ele mesmo fabricava. Parece até coisa herdada de seu quase homônimo passeriforme da família Furnariidae, que só precisa de barro fresco para erigir seu castelo.

Manoel chamava seu escritório, um cubículo 3×4 situado no segundo andar de sua casa em Campo Grande, MS, de “lugar de ser inútil”. Lá escrevia as coisas mais grandiosas em tons apequenados, captados pela caligrafia tremida e irregular.

Não se veem páginas oficiais no facebook ou sites, apenas homenagens à sua vida e trabalho. É assim que sua poesia resiste, em silêncio tranqüilo feito corredeira de rio no meio do mato.

Sua catapulta para o sucesso literário veio através de Millôr Fernandes, quando Manoel já contava já com 70 anos. Dez anos depois, já era premiado e gozava de imensa fertilidade imaginativa, além de ser o autor brasileiro com maior vendagem no estilo poesia.

Passou boa parte da vida trabalhando em empregos que não gostava. Só depois de dez anos trabalhando duro na fazenda Santa Cruz, no Pantanal, herdada do pai, é que Manoel conseguiu fazê-la dar lucro, permitindo que ele então se tornasse num, em suas palavras, vagabundo profissional após comprar seu próprio ócio.

Seu desejo era sair do lugar comum, de transmutar as coisas que via e ouvia. Quando criança, era também inventor. Não no sentido ortodoxo e pragmático do termo. Suas invenções, resgatadas pelo escritor-inventor já adulto, incluem coisas como o abridor de amanhecer e o esticador de horizontes, batizados por ele de inutensílios. “A Invenção é um negócio profundo… Invenção é uma coisa que serve pra aumentar o mundo, sabe?”, disse diante da câmera do diretor Pedro Cezar.

Ainda na infância, quando era interno no colégio marista, trocou os romances de cavalaria e aventuras pelos Sermões de Padre Antonio Vieira que exerceu grande influência na sua imaginação já mirabolante

Era também fã declarado de Charles Chaplin e da figura do desheroi. Se dizia influenciado pelo diretor e comediante inglês, que usava figuras marginais e inocentes para falar de temas importantes, como escreveu em um de seus poemas: São Francisco monumentou as aves/Vieira, os peixes/Shakespeare, o Amor, A Dúvida, os tolos/Charles Chaplin monumentou os vagabundos.

UM POETA QUE ENSINA A SER POETA

Quando jovem, o escritor, apresentador e torcedor colorado Fabrício Carpinejar foi cativado pela poesia de Manoel de Barros. O primeiro contato com a obra dele foi com o livro A Gramática Expositiva do Chão, quando tinha 16 anos de idade. Ali Fabrício percebeu uma soberba de ensinamentos. A seu ver, Manoel é “um poeta que ensina a ser poeta, como Quintana foi”.

Mais tarde, escolheu Manoel como tema da sua dissertação de mestrado, batizada com o sugestivo nome de Teologia do Traste. Nela, compara com rigor acadêmico a escrita manoelesca com a de João Cabral de Melo Neto.

Fabrício contou que sua mãe enviava livros para Manoel e que ele também começou a enviar cartas para a residência da família Barros, com quem se comunicou assim por um tempo até que, em 2005, teve a oportunidade de ficar cara a cara com ele.

O conteúdo da conversa ele resume bem: futilidades. “A poesia se engrandece de futilidades”, justificou o gaúcho. A primeira impressão que teve ao chegar à casa de Manoel e Stella, a esposa com quem foi casado até o fim e com quem teve três filhos (dois deles falecidos antes de Manoel) foi acolhimento.

Em suas considerações literárias, Carpinejar defende que Manoel foi mais discípulo do poeta e diplomata brasileiro Raul Bopp, cujo livro Cobra Norato figura entre as obras mais importantes do Movimento Antropofágico, do que de Guimarães Rosa.

Aos olhos entendidos e líricos de Carpinejar, Manoel de Barros não possui uma poética, mas sim uma teologia do abandono. “Toda a sua poética é feita como almanaque. Um almanaque para deixar de ser”, argumentou. Por suas histórias sensíveis e minimalistas, é lugar comum acreditar que Manoel construa sua obra tendo a intuição como pilar de sustentação. Fabrício acha esse tipo de pensamento um tanto equivocado, já que Manoel seria um autor culto, esclarecido e estudado. Em outras palavras: alguém que sabe exatamente o que está fazendo.

“Seus personagens é que são intuitivos. Confundem ele com seus personagens”, disse.

Durante nossa conversa por telefone, percebo algo curioso: Fabrício fala de Manoel de Barros sempre no presente, como se ele continuasse vivo, palpitante. Mesmo curioso, decido por não perguntar sobre isso, para que assim ele permaneça um pouco mais entre nossos silêncios.

Para Marcelo Maluf, autor do livro A Imensidão Íntima dos Carneiros, Finalista do Prêmio Jabuti, 2016 e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, 2016, “Manoel de Barros é daqueles autores que têm a capacidade de invadir o nosso inconsciente. E remexer as coisas que deixamos nos sonhos. Toda vez que leio os seus poemas tenha a sensação de que algo que mora ali nos poemas, mas que não está nas palavras se grudou em mim e começou a brincar. Manoel de Barros só pode ser digerido assim, de alma para alma”.

DE PAI PARA FILHA

A guardiã de sua obra é a filha e artista plástica Martha Barros, de 66 anos, que é bibliotecária de formação. É sabido que Manoel só aceitava dar entrevistas por escrito, para que a voz não o traísse em seus deslizes sonoros. Martha também aceitou dar entrevista à CONTI outra mediante a condição de que ela fosse feita assim, por escrito.

“No caso dele,  penso que era porque tinha uma prosa linda e era sua arte escrever. Além do mais, respondia o que queria e como queria… Isso era engraçado. No meu caso é  por cuidado mesmo com as palavras, coisa que aprendi com ele”, esclareceu.

Segundo a imaginação lírico-afetiva de Carpinejar, o apreço de Manoel pela palavra no papel em suas respostas é porque ele “gostava da palavra como lagartixa gosta de parede”. Ou seja, grudada no papel.

Martha definiu o pai como um amigo e incentivador de seu trabalho. Tinham uma relação intensa devido às afinidades que tinham. Ambos aprenderam a amar a exuberância do Pantanal e conviveram com ela na infância e passaram suas juventudes no Rio de Janeiro e isso, segundo ela, se reflete no trabalho dos dois através do que chamou de “lembranças híbridas de dois lugares onde a natureza predomina com exuberância, ainda que de formas muito distintas”.

Uma das maneiras mais comuns do Pantanal se apresentar no texto de Manoel não é na forma de animais e paisagens, mas na imagem de um personagem que teve enorme influência na sua forma de enxergar o mundo: o Bernardo.

Bernardo é quase uma figura mitológica, situado no folclore íntimo do poeta. Sujeito de baixa estatura e de pouca fala, era seu maior companheiro, enraizado no Pantanal, como os sonhos e memórias que serviram de supra-sumo para a poesia de Manoel. Uma das coisas que Bernardo mais sabia fazer era reproduzir o som dos navios que chegavam em Corumbá, região onde fica a fazenda da família Barros.

É ele que está imortalizado em poemas como este: Bernardo é quase árvore/Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe/E vêm pousar em seu ombro.

“Conheci muito e de perto o Bernardo. Fez parte de minha infância e juventude”, relembra Martha. “Tinha deficiência auditiva e era quase mudo. Mas sabia tudo da natureza. Falava com os olhos. Era um homem inocente e cheio de bondade. Creio que o próprio poeta tratou de perpetuar essa amizade entre os dois, através de suas poesias.”

Bernardo Puhler, que atende pelo nome artístico Bernardo do Espinhaço, partilha das atenções dadas à natureza pelo autor de Menino do Mato. Contrapondo o predominante Guimarães Rosa do álbum O Alumbramento de Um Guará Negro numa Noite Escura (2014), Manoel de Barros é “o mestre de indução literária” do seu segundo trabalho, Manhã Sã, lançado em 2015.

“Há uma evidente aproximação entre seu discurso obcecado pela simplicidade e a natureza solar das canções que ali estão. Entre elas está Tardeando, que é dedicada a este poeta e narra imaginário encontro com o mesmo em uma paisagem pitoresca do Espinhaço. Outra curiosidade que me entrelaça à obra de Barros é a coincidência do nome com seu irmão [sic] Bernardo, um dos protagonistas mais recorrentes em seus livros. Frequentemente pessoas me abordam com tais poemas identificando a curiosidade do nome com o interesse pelas paisagens e pela vida natural.”

Martha Barros tem o vício da pintura desde criança. Começou a expor profissionalmente na década de 1970 e sempre contou com o apoio do pai. Quando pergunto sobre os momentos mais marcantes, menciona as pequenas angústias de uma alma gigante e os grandes prazeres de momentos miúdos.

“Tenho lembranças fortes e bonitas de toda uma vida. Quando ele ia receber homenagens e prêmios, ficava tão nervoso que no dia seguinte precisava deitar. Dizia que era descarrego… Da infância, é inesquecível como gostava de juntar toda criançada, netos e meninos da fazenda para conversar e descascar laranja. Achava graça nas brincadeiras e no apetite das crianças!”

Quando Manoel faleceu em 2014, aos 97 anos, Martha e Stella receberam mensagens de fãs dos quatro cantos. “Foi uma enxurrada de amor e carinho de toda parte! E também o que me deu força para administrar uma obra tão importante! Ele deixou tudo organizado, foi generoso até o fim”, afirmou Martha, que também ponderou sobre as lições que recebeu do pai: “Aprendi muita coisa boa! E sempre que tenho situações difíceis para resolver lembro dele. Sua humildade para reconhecer os erros, voltar atrás e pedir desculpas me comovia. Essa atitude nos humaniza e nos redime de culpas. É sábia e linda.”

Em 2016 foi editada a Antologia Meu quintal é maior do que o mundo e Martha agora cuida da reedição dos livros de poesia de Manoel de Barros pela editora Alfaguara. “Cada volume contém não apenas prefácios novos, mas também fotos pessoais, documentos inéditos ou cartas de amigos e admiradores. Um primor!”, revelou com entusiasmo.

Talvez Fabrício Carpinejar esteja certo, afinal. Manoel continua entre nós.

Quanto vale uma saudade

Quanto vale uma saudade

Imagem de capa: FCSCAFEINE/shutterstock

Uma saudade vale o preço do amor. A gente pisca os olhos e começa a correr em quintais que não existem mais, estranhando como o mundo era grande, apesar de pequeno, precisando de pouca gente pra ser povoado. Deita no berço, chora, faz hora com o relógio, busca a criança que ficou lá, brinca no quintal, tendo como destino o banho, a comida na mesa, o cobertor colorido no berço, o primeiro dia na escola, o susto de ver como as ruas de nossas casas eram insuficientes para tantas descobertas.

Uma saudade pode valer os abraços no medo do escuro, o sopro que curava o machucado, o bolo de aniversário, as histórias contadas antes de dormir. Pode valer o primeiro futebol, a primeira briga de rua, a bolinha de gude, a pipa construída por quatro mãos e o vento que favorecia olhos voltados para o colorido no céu.

A saudade pode vir fantasiada de primeiras juras de amor, planos futuros, beijos, tinta na parede, escolha dos móveis, pequenas e grandes viagens, abraços na dor, brigas, lágrimas e novos abraços, sorrisos e a vida repleta de encantamentos.

Uma saudade pode vir na barriga crescendo, nos sapatinhos, fraldas, mamadeiras e um amor que ultrapassa as nuvens. Nossas mãos passearão pelo banho, cabelos penteados, tarefas escolares, chamadas na escola, acampamentos no colchão, filmes e pipoca.

Uma saudade terá cheiro, nome e rosto, será tocada nas viagens da alma pelas ruas da memória. Amanhecerá de olhos inchados, pedindo mais, anoitecerá de mãos cheias, devolvendo gratidão, se esconderá dos lugares vazios, pois sua única exigência será sinalizações que apontem para a existência do amor. Seus cômodos comportarão pai, mãe, filhos, avós, amigos, comportará nossa história e a descoberto de chegadas e partidas, do amor acompanhado da dor, um não existirá sem o outro.

“Contatinho” é para quem prioriza quantidade e menospreza qualidade

“Contatinho” é para quem prioriza quantidade e menospreza qualidade

Imagem de capa:  tuthelens/shutterstock

A agenda está lotada de contatos, as redes sociais abarrotadas de convites para eventos e você mais sociável que um promoter, mas por dentro, sua alma está vazia e solitária.

Embora pareça contraditória, essa é a realidade de muitas pessoas que possuem uma grande dificuldade social: estabelecer um relacionamento duradouro e verdadeiro.

Eu poderia começar esse texto, com uma lista de perguntas que fizesse você refletir sobre os tipos de relacionamentos que tem atraído para sua vida, mas restrinjo-me a uma única: por que você se sujeita a relações que não tem nada a ver com você?

Contatinhos daqui, contatinhos dali e os vazios existenciais aumentam à medida que a lista de nomes para baladas cresce. É tanto joguinho de conquista e tanto charminho para chamar a atenção que as pessoas não conseguem mais manter um relacionamento por mais de dois anos, já que acreditam ser mais fácil conhecer superficialmente alguém do que conviver com seus defeitos e com a rotina do relacionamento.

Relacionamentos superficiais não exigem dividir problemas, não permitem risadas assistindo Netflix, nem diálogos no final do dia e, por isso mesmo, andam na contramão a qualquer relacionamento genuíno.

Amar exige respeito, criatividade e fidelidade. Significa dividir a alma, discutir por coisas pequenas, estar pronto a arriscar, correr o risco de sofrer, e é isso que faz as pessoas temerem tanto o sentimento.

Relacionamentos superficiais são reflexos da cultura do desapego: “pegue e não se apegue”. A troca de parceiro é mais rápida que a troca de roupa. Funciona assim: queremos um amor que satisfaça nossas carências, mas por um período que dure menos que os dias da semana.

Esse tipo de relação lembra Tolstói quando comentava sobre essa superficialidade afetiva: “aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil.”

Não é à toa as livrarias estão cheias de manuais de sedução e os aplicativos de relacionamentos com usuários fiéis. As pessoas se perderam na própria solidão e buscam, a todo custo, alguém para preencher o espaço que elas não conseguem sozinhas. Além de acreditarem que, basta ter interesses em comum e uma aparência agradável, que o “felizes para sempre” está garantido.

É preciso entender que um verdadeiro amor não precisa de aplicativos, manuais de instruções ou baladas constantes para acontecer. Nossos avós já nos ensinavam: quando está escrito para acontecer, até na fila da padaria, acontece.

Entenda de uma vez por todas: você não nasceu para ser contatinho de ninguém! Seus valores não estão à venda na feira e seu corpo não está à mercê da escolha alheia. Você é formado de alma, princípios, história e, estar em uma lista de contatinhos, é aceitar muito menos do que você merece.

Falem o que quiserem, mudem os sentimentos conforme as próprias conveniências, mas o amor nunca sofrerá alterações. O sentimento é imutável, soberano, forte. Como dizia Mário Quintana: “espalhe que o amor não é banal. E que, embora estejam distorcendo o sentido verdadeiro dele nos tempos modernos de hoje, ele existe.”

Não há nada que se possa fazer quando o outro não quer mais ficar

Não há nada que se possa fazer quando o outro não quer mais ficar

Imagem de capa:  wk1003mike/shutterstock

Quando o rompimento vem à tona, todos os indícios de que aquilo seria inevitável já foram dados, porém, uma das partes simplesmente os ignorou o tempo todo. E, assim que o outro decide partir, nada mais o mantém – nada.

Sempre que alguém sai de nossas vidas por conta própria, temos a sensação de que poderíamos ter feito alguma coisa para impedi-lo. Ficamos nos questionando se não poderíamos ter tentado mais um pouco, se não deveríamos ter feito isso ou aquilo, se deveríamos ter agido dessa ou daquela forma. E então a gente carrega um monte de peso que, muitas vezes, nem é nosso, tampouco deveria passar pela nossa mente.

A verdade é que não sabemos lidar direito com as perdas e com os fracassos, uma vez que queremos sempre vencer, na vida em tudo o que dela faz parte, porque é assim que somos ensinados desde sempre. Inundados pelos finais felizes folhetinescos e pela cultura do “seja um vencedor”, pouco refletimos acerca do que pode vir a não dar certo em nossa jornada, embora tantas e tantas coisas não deem certo para ninguém.

Assim, quando nos deparamos com os nãos que batem à nossa porta, sentimo-nos totalmente desolados, como se não houvesse mais nenhuma opção no mundo a não ser aquela que não vingou. Parece que ninguém se lembra de que as pessoas vão embora, muitos planos escorrem água abaixo, empregos não são eternos, e por aí vai. A gente quer ficar com tudo, com todos, mas a realidade da vida não chega nem perto disso.

Fato é que ninguém é obrigado a gostar de ninguém para sempre, simplesmente porque ninguém é igual todos os dias, por uma vida inteira. As pessoas vão se moldando, à medida que o tempo passa e conforme digerem aquilo que lhes acontece. Aquele indivíduo de hoje muito provavelmente não será o mesmo daqui a algum tempo, pois nada nem ninguém permanecem exatamente iguais. E, nesse compasso, pode haver descompasso entre os envolvidos.

Muito provavelmente, quando o outro decide partir, é porque aquela ideia já foi maturada dentro dele há tempos – ninguém acorda e, de repente, decide não querer mais. Quando o rompimento vem à tona, todos os indícios de que aquilo seria inevitável já foram dados, porém, uma das partes simplesmente os ignorou o tempo todo. E, assim que o outro decide partir, nada mais o mantém – nada.

Se fizemos o nosso melhor e partilhamos as verdades que nos importavam, não há o que lamentar. Se erramos e sentimos que provocamos a partida alheia, cabe-nos aprender a não voltar a repetir os erros, quando o próximo amor chegar. Embora seja complicado, quanto menos culpa sentirmos, mais aptos estaremos para abraçar tudo de novo que sempre virá em nossa direção. E sempre virá.

As facilidades nos tornam leves, as dificuldades nos fazem fortes!

As facilidades nos tornam leves, as dificuldades nos fazem fortes!

De tanto acreditar numa coisa, ela se torna real. Acredite que não é digno de ser feliz e não será. Acredite que é capaz de tornar a vida de alguém melhor e tornará. Acredite que a vida é intercalada de desafios mais fáceis e mais difíceis, porque é assim que é.

Alguém sabiamente já disse que quando a água bate na bunda, a gente sai nadando. E isso é absolutamente verdadeiro. Muitas vezes, precisamos ser confrontados com a urgência de uma atitude, para sermos arrancados de uma situação tão cômoda, mas tão cômoda, que vem nos entorpecendo e nos impedindo de evoluir.

Se a vida fosse uma sequência de sucessos, nós acabaríamos por atrofiar o cérebro e ressecar o coração. O sucesso só tem esse gosto de iguaria rara porque, até que ele chegue, o percurso da viagem nos transforma, nos testa, nos impulsiona para experiências inaugurais de uma vida que ainda não havíamos provado.

Se a vida fosse uma sucessão de tragédias, sucumbiríamos à dor da frustração e do fracasso; perderíamos a fé naquilo que há de mais concreto dentro de nós: a nossa capacidade de renascer em uma outra forma, numa alma renovada dentro do mesmo corpo.

É esse intercalado de ápices e vales, apertos e relaxamentos, prazeres e dores que nos torna capazes de inventar, de reinventar, de transmutar cada uma das inúmeras tarefas a que somos apresentados em algo maior, melhor e mais significativo.

Somos seres dotados de habilidade afetiva. Somos instrumentalizados para sermos muito melhores do que temos sido. Somos muito maiores do que as tempestades que nos devastam.

E é a partir dos escombros de uma empreitada que não deu certo que, muitas vezes, reerguemos nossas bases e estruturas cognitivas e emocionais, a fim de criarmos um substrato diferente sobre o qual possa nascer o inusitado, o improvável, o que antes parecia ser impossível.

As maiores descobertas científicas, nascem de um embate devastador, quer seja na origem de uma doença física ou psíquica, quer seja num dilema acerca do universo, para o qual nunca encontraremos todas as respostas.

As ideias mais brilhantes, brotam do caos criativo. Nascem no silenciar de mentes que ousam refletir sobre o que parece absurdo aos olhos da maioria. A maioria que faz muito barulho por nada e cala diante da necessidade de um irmão.

Que sejamos, pois, sábios o bastante para honrar com solidariedade tudo aquilo que nos é oferecido pela vida como oportunidades de evolução. E que sejamos humanos o suficiente para submergir das dificuldades, íntegros em nossa essência e flexíveis em nossas crenças. Porque as facilidades vêm para nos tornar mais leves, e as dificuldades vêm para nos tornar mais fortes. Mas, leveza sem integridade, não faz nenhuma diferença. E força, sem bondade, não é nada.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A teoria de tudo”.

 

Infelizes ladrões de protagonismo

Infelizes ladrões de protagonismo

Imagem de capa:  g-stockstudio/shutterstock

Eles, os ladrões, ainda que tenham os seus próprios momentos de estrelato, não se conformam nem toleram o protagonismo alheio.

Sabotam de todas as formas possíveis, não medem esforços para ocultar os papéis principais que não são seus, desmerecem, roubam a cena, fazem cena, ateiam fogo no palco.

Os ladrões de protagonismo são os que não sabem bater palmas, são exibicionistas, convencidos, egoístas, egóicos. Querem tudo para si sem se importar com consequências. São atropeladores de quem quer que seja, guiados pela cegueira da vaidade.

Há pais e mães que subtraem o protagonismo de seus filhos.
Há filhos que ignoram o protagonismo de pais e mães.
Há mestres que sonegam o protagonismo de seus alunos.
Há alunos que não reconhecem o protagonismo de seus mestres
Há pares que só são pares porque um dos pares cedeu, ainda que contrafeito, o protagonismo ao outro par, que ficou com tudo.
Há pares que negociam seus protagonismos por esmolas de amor.
Há amizades que disputam protagonismo.
Há colegas de trabalho cuja motivação é tão somente de conquistar todo o protagonismo disponível. Há chefes que fazem o mesmo.

Há de tudo. Há muita tristeza nessas afirmações. Um protagonismo roubado é uma moeda de três reais. Atrai atenção, ainda que nada valha.

O protagonismo é um momento tão poderoso quanto importante, que molda e modela os mecanismos de segurança e autoestima de uma criatura. É o instante em que os olhares convergem para quem, de fato, merece atenção e reconhecimento. Não há nada mais essencial do que se sentir protagonista das próprias escolhas!

Um ladrão de protagonismo não consegue suportar a ideia que não teve, a resposta que não deu, a decisão que não tomou, a criatividade que não brotou. E, quando alguém o faz, não hesita em tentar sufocar, ou, tomar para si.

Não há como adivinhar quando alguém tentará nos roubar o protagonismo, mas há como nos vigiar para não tentarmos, ainda que sem querer, abafar o protagonismo alheio.

E, para o caso de alguma tentativa de assalto, soem os alarmes! Nada mais válido do que chamar a atenção de quem tenta lhe roubar um momento feliz!

As coisa boas vêm com o tempo, as melhores vêm de repente

As coisa boas vêm com o tempo, as melhores vêm de repente

Imagem de capa: Jacob Lund/shutterstock

Mantendo o coração limpo e a mente em ordem, estaremos sempre prontos a abraçar os presentes mágicos que nos chegam, na forma de momentos preciosos e de pessoas especiais, que entram sem pedir licença e nos tornam seres humanos melhores e mais felizes.

Ainda que tenhamos muitas decepções nesta vida, justamente de quem esperávamos o melhor, sempre seremos surpreendidos com atitudes bondosas de gente do bem e com presentes especiais que esse universo não se cansa de nos trazer. Costumamos dar demasiada atenção ao que é ruim, mas um olhar mais atento nos clarifica quanto à quantidade de bênçãos que nos rodeiam diariamente.

É com a passagem do tempo que iremos conseguir entender muito do que nos acontece e não aceitamos, tampouco conseguimos digerir, uma vez que não há clareza suficiente enquanto se está no meio dos redemoinhos que escurecem nossa jornada. Mesmo assim, lá na frente, seremos capazes, inclusive, de sermos gratos por tantos livramentos com que fomos presenteados, embora achássemos que tivéssemos perdido o que era essencial.

A maturidade tem essa característica de acalmar os nossos corações diante dos tombos, de nos conscientizar quanto à real importância de cada acontecimento, de cada pessoa que passa pelas nossas vidas, tornando-nos mais serenos enquanto assistimos a tudo o que vai embora da gente, dia após dia. Ficamos mais acostumados com as perdas, porque aprendemos a guardar o melhor do que vivenciamos, de forma a fazer com que as lembranças do que foi bom nos tragam alento e sabedoria.

E, ainda assim, por mais experiências que tenhamos acumulado, felizmente seremos surpreendidos com momentos mágicos, com acontecimentos luminosos, com estradas coloridas, com gente que abraça a nossa alma, enquanto vivermos, sempre que caminharmos de olhos abertos. Assim, de repente, sem motivo aparente, acabamos vivenciando algo novo, surpreendente, acolhedor, iluminado e que, muitas vezes, cura e nos salva do medo, da solidão e da desesperança.

O que nos fortalecerá, mais e mais, será a nossa capacidade de aprender com tudo o que nos acontece, enfrentando o que vier, sem perder a esperança de um amanhã melhor. Mantendo o coração limpo e a mente em ordem, estaremos sempre prontos a abraçar os presentes mágicos que nos chegam, na forma de momentos preciosos e de pessoas especiais, que entram sem pedir licença e nos tornam seres humanos melhores e mais felizes. Assim de repente.

Procura-se um amor sacana para relacionamento sem validade

Procura-se um amor sacana para relacionamento sem validade

Com todo o respeito e admiração aos casais que duram, persistem e seguem na ciranda de homenagens afetuosas. Não é despeito ou inveja. Mas seria bom, pra variar, que a gente assumisse a vontade louca de um amor sacana, daqueles que são instantâneos e, possivelmente, perecíveis com o tempo.

Por que não um relacionamento sem validade? Por que não um relacionamento sem a pesada preocupação de até quando durará e se durará? Porque cada vez mais tentamos controlar o quanto de amor pode-se ter e ser. E quanto mais o fazemos, mais ele se torna irreconhecível. Sacanagem é medir as relações amorosas em regras e comportamentos. O encontro teve aval de ambos? Desce amor, desce beijos, desce cerveja ou vinho. Em comum acordo, qual é o tabu?

Vamos sorrindo, vamos vivendo, vamos desbravando o que cada um gosta. Um dia depois do outro. Deixemos os planos estocados para um feriado em família. Enquanto isso, toca a música que você diz lembrar da gente. Combina comigo uma aventura de última de hora, um passeio pra admirarmos o nada ou qualquer coisa. Joga intensidade nos meus braços que seguro e ainda multiplico.

Sejamos francos, o pecado é inventado. Está liberado nos perdermos numa noite em casa. É seguro afirmar, esse nó não machuca. Não é o nosso primeiro caso de amor e também não será o último. Deixe a especulação emocional para o dia em que você não tiver mais interesse. Descomplique a alma e vista o seu amar mais bonito.

Procura-se um amor sacana, um que não fique saciado com facilidade. Mas se ficar, tudo bem. É válido mesmo vindo sem prazo. O consumo é no agora, nada de guardar para depois. O amor gostoso é feito na hora e sem embalagem para viagem.

Imagem de capa: Matrimônio à Italiana (1964) – Dir. Vittorio de Sica

Perdoe a ignorância alheia e limpe o seu coração

Perdoe a ignorância alheia e limpe o seu coração

Imagem de capa: alexkich/shutterstock

Ninguém consegue respirar carregando no colo gente folgada. Ninguém consegue receber o novo, enquanto mantém tralha emocional dentro de si. Ninguém há de voltar a sorrir com verdade, sem entender e perdoar a ignorância alheia. Perdoar a si mesmo.

Embora seja um lugar comum, a necessidade de fazermos faxinas emocionais diárias será sempre algo imprescindível nessa nossa caminhada de alegria, mas também de muita dor. Enquanto houver alguma pendência mal resolvida aqui dentro, incomodando, mesmo que bem no fundo, não conseguiremos seguir com leveza, tampouco abraçar tudo o que nos espera ali à frente.

E esse caminho de leveza e clareza depende de nossa conscientização de que não poderemos carregar conosco o que não nos pertence, quem não soma, bem como rancores paralisantes. Prosseguir requer deixar para trás, requer limpar os espaços para o novo poder entrar, requer perdoar e perdoar-se. É preciso entender que muitas coisas e várias pessoas terão que permanecer no passado, pois nem tudo poderemos levar conosco.

Vai doer, vai machucar, vai ter lágrimas, sim, mas tomar as resoluções certas para o fortalecimento de nossos sonhos, livrando-nos de bagagens inúteis, tornará tudo melhor com o passar do tempo. Ninguém consegue respirar carregando no colo gente folgada. Ninguém consegue receber o novo, enquanto mantém tralha emocional dentro de si. Ninguém há de voltar a sorrir com verdade, sem entender e perdoar a ignorância alheia. Perdoar a si mesmo.

É difícil ter que aceitar as derrotas que teremos pela frente, no trabalho, no amor, na vida, mas teremos que nos reequilibrar e procurar outros caminhos, incansavelmente, sem desistirmos de ser feliz – isso, sim, seria imperdoável. Da mesma forma, em muitos momentos, desistir de coisas, de sentimentos e de pessoas nos salvará de ficarmos uma vida toda sem sair do lugar, por medo do novo, do recomeço, do começar do zero.

Nada é nosso de fato, a não ser o que temos dentro de nós: amores sinceros, sentimentos verdadeiros e todas as boas lembranças que carregamos no peito. A vida pode mudar num piscar de olhos, sem mais nem por quê, sem que estejamos preparados. Nossa capacidade de levantar toda vez que a vida ferra com tudo, nossa resiliência, é o que nos reerguerá das escuridões que parecem intermináveis e nunca o são. E por isso é que devemos manter o coração leve: ele é a morada de nossa resiliência!

O que nos falta para darmos certo na vida?

O que nos falta para darmos certo na vida?

Então, em nome da “descontração”, uma escola do Rio Grande do Sul promoveu uma festa com a temática “Se nada der certo”.

Obviamente, não deu muito certo. Fotos de alunos fantasiados de vendedores de cosméticos, atendentes de fast-food, faxineiros, cozinheiros, mendigos, e assim por diante, foram divulgadas e o mundo virtual não perdoou.

Em resposta às duras críticas, a escola pediu desculpas à comunidade e se justificou dizendo que “atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto à conscientização da importância de pensar alternativas, no caso de insucesso no vestibular e também a lidar melhor com essa fase”.

Assunto encerrado? Não, não. O episódio abre discussão sobre incontáveis pautas que podem e devem ser debatidas, mas a que se evidencia mais fortemente é a influência da escola na educação de nossos jovens.

Que tipo de educação nossas instituições escolares têm promovido? Que tipo de valores têm pregado? Que tipo de pensamento elas têm disseminado?

Eu resumiria o ensino médio das escolas brasileiras – principalmente as particulares – em três palavras: disciplina, competição e sucesso. É tudo bem simples. Se você não tiver a disciplina necessária para competir por um lugar no vestibular, não terá sucesso na corrida por seu curso de Medicina/Direito/Engenharia – os únicos que podem lhe conceder uma vida confortável. Nesse mar de exigências, ansiedade e rivalidades (entre as próprias escolas inclusive), ficam esquecidos, como no exemplo da escola em questão, o respeito, a empatia e a própria consciência crítica.

Pois bem. Quem é educado de forma a respeitar todos, independentemente de classe social, etnia, religião, gênero e sexualidade, não contribui com “brincadeiras” como essa. Quem está em contato com o conceito de empatia não contribui para abusos assim. Quem tem um mínimo de consciência crítica pensa duas vezes antes de propagar e divulgar eventos como esse. Aonde fomos parar, não é?

A verdade é que não temos como apontar concretamente culpados. Nem com relação ao evento na escola do Rio Grande do Sul, nem com relação à educação brasileira no geral. Nossas escolas e os valores que elas pregam são um simples reflexo da sociedade na qual elas atuam: individualista, excludente e indiferente. Tal afirmação não encerra o assunto. Na realidade, ela nos leva a novos questionamentos.

São esses os valores que queremos que se propaguem em nossa sociedade? É esse o tipo de cidadão – individualista, superambicioso e alheio ao resto do mundo – que queremos formar? Aliás, é esse o conceito de “dar certo” que queremos levar adiante?

Educar pressupõe, para além de ensinar e moldar para o sucesso, humanizar. Nisto, temos – todos, no geral – falhado miseravelmente, a nível social, escolar e familiar. A festinha na Instituição Evangélica de Novo Hamburgo é só a ponta do iceberg. Por hora, o que nos resta é remar contra a corrente. Se o conceito de “dar certo” é isto tudo que o mundo tem nos imposto ultimamente, é melhor seguirmos dando errado mesmo.

E por que não no elevador?

E por que não no elevador?

Ela havia acabado de sair de um namoro que já vinha assim meio que se arrastando há alguns meses. Aqueles fins de relacionamento em que nenhum dos dois mais sabe o que é que está fazendo junto, mas tem um pouco de medo – ou será preguiça? -, de encerrar a história e descobrir lá fora na vida o que é que que há de novo.

Naturalmente veio aquela ressaca pós-término. Um pouco era saudade dos bons momentos que ficaram na memória; um pouco era pena porque “é sempre triste no fim”; um pouco era apego ao hábito da vida já conhecida e livre de riscos inesperados.

Mas… se até ressaca de tequila passa… Por que é que ressaca de namoro que não vingou não haveria de passar?! Tanto passa, que passou. E, junto com o fim da ressaca veio a sede e a curiosidade de provar outros sabores. Veio também uma espécie de renascimento; um desejo de resgatar de lá do passado, amigos, festas e noites que ficaram esquecidos no tempo, no espaço de uma vida sem compromisso.

Foi assim que naquela noite ela se arrumou, perfumou e se fez bonita para si mesma. Saiu dirigindo tranquila, com o corpo perfeitamente encaixado em sua nova realidade, e o pensamento solto, dançando ao som de uma música divertida que tocava no rádio do carro.

Era uma festa de aniversário. De uma amiga querida que não via há muitos anos. Uma amiga que sempre fazia festas memoráveis para comemorar a passagem dos anos. Festas às quais “nossa heroína” nunca comparecia porque o tal ex-namorado não gostava de festas. E ela foi cultivando ao longo do relacionamento uma dependência daquelas que fazem um casal não saber ser outra coisa, além de ser um casal.

Enquanto estacionava o carro, “nossa bela recém-solteira” não conseguiu evitar de pensar em como seria estar em uma festa tendo outra vez o coração e a vida livres. Por um instante, quase pensou em ir embora. Mas não foi.

O elevador chegou ao térreo e ela embarcou. Como sempre, distraída, esqueceu-se de marcar o andar. Só se deu conta da distração quando o “veículo” chegou ao subsolo e por sua porta entrou um homem. Um homem daqueles que têm um sorriso de arrasar quarteirões.

Não bastasse o sorriso, o cara era uma mistura de caiçara (uma pele super bronzeada), vocalista de banda de rock (o cabelo comprido e uma barbinha charmosa por fazer), e lobo de Wall Street (estava de terno e gravata – impecáveis por sinal!). Não bastasse todo esse conjunto da ópera, o “príncipe” ainda trazia em uma das mãos um belíssimo arranjo de orquídeas e, na outra, uma garrafa de vinho.

Um pouco em choque pela aparição, “nossa surpresa garota”, balbuciou um “Boa noite” em resposta ao cumprimento do gato e ficou observando a porta do elevador se fechar. Então, percebeu que um dos dois precisaria dizer ao elevador onde ele tinha que ir, e perguntou “Qual é o seu andar?”, e o gato respondeu “Vinte e três, por favor?”.

Foi nesse momento que a noite começou a ficar realmente melhor. Eles iam para o mesmo lugar. Quanto tempo será que um elevador gasta para ir do terceiro subsolo ao vigésimo terceiro andar?! A ela pareceu uma viagem longa… posto que o “deus grego” não tirava os olhos dela. De repente, ele pergunta: “Você não é a Bel?”.

E, sim, ela era a Bel. Bem… pelo menos ela era uma Bel. Mais por espanto do que por curiosidade, a pergunta voa de seus lábios: “Como é que você sabe o meu nome?”.

O fato é que não deu tempo de o gato responder. Nesse instante o elevador se abriu, ele segurou a porta para que ela passasse e tocou a campainha. O apartamento foi aberto por uma sorridente aniversariante que, ao se deparar com os dois juntos à sua porta, dispara: “Nossa Felipe! Não acredito que você encontrou a sua musa!!!”.

E foi a partir daí que uma história de amor teve início. A história entre duas pessoas improváveis que se descobriram num elevador. Ela descobriu que ele a cobiçava há muito tempo, graças a uma foto tirada na adolescência e que morava pendurada no quarto da amiga, em tributo à uma antiga amizade.

Ela descobriu que por trás daquele homem, cuja figura externa impactava, havia ainda um ser humano muito mais belo e interessante. Uma pessoa íntegra, inteligente, curiosa, bem-humorada e gentil. E se a viagem de ida no elevador pareceu interminável…. A viagem de volta, pareceu acontecer na velocidade de um raio; porque afinal de contas, os primeiros beijos costumam fazer as pessoas perderem a noção do tempo, não é mesmo?

Se durou para sempre?! Ahhhhh… eles ainda estão descobrindo.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Drive”

Tenho preguiça de quem tem sempre razão

Tenho preguiça de quem tem sempre razão

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Conversa boa é aquela em que a gente troca, ensina e aprende na mesma disposição. Conversa boa é aquela em que a gente pode falar de dúvidas elementares e defender teorias espetaculares.
É a conversa que nutre, que a gente sai feliz por conhecer quem participou do bate papo.

Mas, e a conversa com quem tem sempre razão? Com quem vai aumentando a voz e trincando os dentes a cada contrariedade que sofre com o discurso alheio? Essa conversa, na boa, é daquelas de pedir licença para ir ali e não voltar mais.

A conversa com quem odeia tudo o que você diz que gosta. E justifica com argumentos que sugerem que você é uma pessoa inteiramente idiota.
A conversa com quem, na saída, já manda o “você não está entendendo”.
A conversa que se apoia no mau deboche (porque o bom deboche, é divertido).
A conversa com aquela figura que afirma que você não pensa o que acabou de dizer.

Gente, qual o propósito da comunicação, então? Me perdi.

Tenho uma preguiça cataléptica dessas conversas. Deve parecer covardia, falta de argumentos, aceitação da verdade alheia, mas não, é preguiça. É desânimo. É desconforto.

E a dó que a gente sente? Porque dá dó ver uma pessoa tão cega de razão. Ela fica cega mesmo! E brava! Porque defender a sua razão lhe custa batalhar pelo silêncio da plateia. E pelas palmas e ovações, que geralmente nunca chegam.

Eu tenho uma estratégia para essas situações. Nem sempre funciona, porque existem as provocações, as alfinetadas, os cutucões. Mas, na medida do possível, vou me calando, me distanciando, me esgueirando por outros pensamentos e paisagens, até que me faço parte nula da conversa, deixando clara e delicadamente que não tenho interesse em participar.

É bom fazer silêncio para deixar o outro ouvir a sua própria voz. Às vezes, dá certo, mesmo sem razão.

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