3 filmes “cult” que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.

3 filmes “cult”  que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.

Nem cobremos do cinema que ele tenha sempre representações fiéis da realidade. Um filme pode fantasiar sobre diversos aspectos da vida. Ainda assim é muito importante que estejamos atentos para características das obras que pretendem contar histórias sem a pretensão de estarem corretas do ponto de vista científico, principalmente quando o assunto é Saúde Mental. Tema que tem ainda pouca propagação de conceitos.

Então é melhor ler este artigo para não cair nas boas pegadinhas de cinema.

  1. Clube da Luta

contioutra.com - 3 filmes "cult"  que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.
Cartaz feito por Floren Maquin

Jack e Tyler fundam juntos um clube onde homens se reúnem para lutar, disto formam um baita exército que pretende destruir as empresas de cartão de crédito ( quem nunca quis fazer isso após a mensagem “saldo insuficiente” aparecer na maquininha, hein?). Tyler desaparece e Jack tenta encontrá-lo. No caminho, com todo mundo dizendo que ele mesmo é Tyler, descobre a sua alucinação, eles são a mesma pessoa.

Poderíamos pensar que Jack sofresse de um transtorno dissociativo de identidade, mas nesse transtorno as personalidades de uma mesma pessoa se alternam no mesmo corpo, enquanto que no filme os dois chegam a lutar, ou seja, estão presentes ao mesmo tempo. Jack aparece em algumas cenas brigando sozinho, pensando que está sendo atracado por Jack. Mas nada disso se parece com um transtorno psicótico, por exemplo, pois as alucinações envolvem mais de uma modalidade sensorial ao mesmo tempo. Num transtorno psicótico Jack veria Tyler ou ele ouvira sua voz.

O filme não tem como ser uma obra elucidativa sobre transtornos mentais, mas cumpre o seu papel como metáfora. Afinal, todos travamos batalhas contra nós mesmos, não é?

  1. O Iluminado

contioutra.com - 3 filmes "cult"  que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.
Ilustraçao de Sunday Dog Parage

Outro Jack aqui, o Jack Torrance foi contratado para trabalhar como zelador, durante o inverno, em um hotel que abre apenas nas outras estações do ano, onde ficara com a esposa e o filho. Neste hotel, outro zelador matou a família com um machado e depois suicidou-se. O que acontece é que Jack Torrance e sua família, ficam enlouquecidos, ou melhor, enfantasmados. Passam a alucinar com pessoas que só aparecem para eles e participam de eventos que acontecem apenas em suas cabeças. O filho de Jack é um “iluminado” que enxerga coisas que aconteceram no passado nos lugares que agora se encontra.

Tudo isso deu um filme amado por muita gente, mas, outra vez, o erro para caracterizar um transtorno é o mesmo. Combinar alucinações auditivas, visuais e táteis.

Ou seja, melhor mesmo ter O Iluminado como um filme sobre fantasmas do que saúde mental.

  1. Taxi driver

contioutra.com - 3 filmes "cult"  que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.Travis é um motorista de táxi que não gosta de conversa e frequenta assiduamente um cinema porn. Após se interessar por Betsy e assustar a moça por levá-la para assistir pornografia, Travis fica doidaço. Acha que precisa limpar a cidade do  “lixo moral”. Compra armas e mata um bandido que tenta assaltar uma loja em que ele está. Mata um candidato a presidência, um cafetão, um dono de hotel. Leva tiros, entra em coma e quando volta todos o consideram um herói. Ao recuperar-se, volta a sua vida de taxista.

Travis não tem nenhum delírio ou alucinação evidente, querer limpar a moral da cidade não trata-se de uma distorção da realidade, como também o comportamento de fazer “justiça com as próprias forças” não estava associado a nenhuma mística. A “loucura” de Travis é muito mais um fenômeno cultural do que um transtorno mental.

Nas próximas vezes que você assistir um filme, fica liberado se divertir e depois  perguntar para profissionais de saúde mental se aquela “doidera” daquele personagem realmente é coisa de louco ou de roteirista.

Ao escrever este artigo me baseei no livro Cinema e Loucura, conhecendo os transtornos mentais através dos filmes, da editora Artmed e escrito por J. Landeira-Fernandez e Elie Cheniaux. Recomendo para quem deseja conhecer um pouco mais sobre como transtornos mentais são retratados em diversos filmes.contioutra.com - 3 filmes "cult"  que nos ensinaram ERRADO sobre transtornos mentais.

Queridos professores, ou vocês ensinam ou vocês humilham. As duas coisas não dá.

Queridos professores, ou vocês ensinam ou vocês humilham. As duas coisas não dá.

Primeiro, vamos ter calma. Sabemos das dificuldades  de ensinar alguém. Quer testar? Pense em algo extremamente polêmico e tente explicar para alguém que pensa o extremo contrário. Ensinar pode exigir níveis altíssimos de paciência.

E paciência é um bicho que nem todo mundo tem de estimação.

Preparar aula, suportar o desinteresse quase intransponível de alguns e muitas vezes receber mal. Eu sei de tudo que é difícil e complicado na Educação do Brasil, já estive como aluno e professor em ambientes públicos.

Entretanto.

Uma coisa são dificuldades do nosso sistema, outra são as  originadas de nosso “jeitinho de ser.” Alguns professores estão mais ocupados em humilhar seus alunos do que em despertar interesse por conhecimento. Talvez por necessidade de afirmação, costumam usar de sua autoridade de ser quem faz passar ou não, para violentar as pessoas.

Essa idealização do professor por dom divino um sábio inquestionável, que jamais pode ser criticado, atrapalha tanto estudantes quanto educadores. Professor, antes de tudo, é gente e gente erra. E tem gente que se acostuma a ser violenta em suas relações e não seria entrar numa sala de aula que mudaria isso.

Sem  esquecer do professor que usa do trabalho para paquerar forçadamente com suas alunas. Da professora que ensina gritando. Das inúmeras vezes que são feitas perguntas nas salas de aulas e todos morremos de medo de responder e estarmos errados?

O medo muito mais afasta as pessoas do conhecimento do que aproxima.

O hábito de humilhar demonstrando ser o “dono do conhecimento” costuma ser forte em algumas pessoas,  não importando se os outros  aprendem ou não, quanto mais silêncio fizerem, melhor. Isso não cabe mais, queridos professores, ou vocês ensinam ou vocês humilham. As duas coisas não dá.

Se em nossa história de vida aprendemos que só existe ensino autoritário, certamente em nossas relações repetiremos. Mas aqui temos uma oportunidade. Todos. De nos desintoxicarmos dessa maneira de explicar o mundo e conhecermos formas menos violentas de nos relacionarmos.

Toda vez que qualquer pessoa, em qualquer ambiente, pensa em ensinar algo para humilhar deveria ser claro que os resultados disso são pessoas humilhadas ao invés de pessoas ensinadas.

A imagem da capa: De Master of None, disponível na Netflix, que vale a pena todo mundo que quer aprender a ensinar sem agredir. Vale mesmo, assista.

Tudo o que eu quero para esta noite é um miojinho

Tudo o que eu quero para esta noite é um miojinho

Como é bom aquela noite no mês em que a gente se arruma toda, coloca o vestido decotado, a lingerie de renda, o batom carmim, o rímel importado, escolhe um lugar especial para ir jantar com o namorado. Pesquisa com cuidado um restaurante bonito, requintado, que serve comida diferente, cheia de detalhes, um vinho importado, uma sobremesa incrementada.

Uma noite especial pra gente quebrar a rotina, gastar o salário, e sentir agradando a si mesma, como se fosse uma noite de princesa.

E para ser princesa, para viver essa ilusão toda, a gente se esforça, se transforma, a gente cria a atmosfera e espera o melhor de cada momento. Assim a gente valoriza mais a vida.

Mas, sinceramente, numa noite como esta de hoje (e como tantas outras), é bom eu deixar aqui registrado, falar alto, e agradecer ao bendito chinesinho que inventou esse macarrãozinho! Que a minha felicidade de hoje é comer um miojo quentinho debaixo do cobertor.

Ah, o meu miojinho! Ele está ali sempre que eu preciso, pra matar a fome, pra quebrar um galho para tapar o meu buraco no estômago. Ele é a resposta mais fácil, acessível, rápida. Vira uma sopa que me conforta o corpo, traz sabor da infância, nem muita louça suja.

Vai bem na frente da TV, combina com a minha calça velha (e mais confortável) de edredom, combina com filme ruim, com cabeça que não quer pensar em nada, com final de domingo.

Ele pode não ser nada requintado, criativo, mas ele sabe me esquentar por dentro.

Ele não liga para o prato, para a mesa, para o talher, para a mulher que segura o bow, ele não se importa se a calcinha é velha, se é madrugada ou meio da tarde. Ele é companheiro, para o que der e vier!

Não precisa de luta, não precisa de jogo de cintura, não precisa de grande investimento de tempo, dinheiro e energia.

Talvez ele não alimente com muitos nutrientes os meus sonhos indecisos. Mas ele sacia a fome do meu corpo e ampara a carência da minha alma.

De vez em quando é bom um jantar de gala. Mas para todos os dias, bom mesmo é o que está bem ali no armário da cozinha. E que minhas mãos não precisam fazer força nenhuma para alcançar!

Imagem de capa: Alpha_7D/shutterstock

Nem todos os finais são felizes, mas todos deveriam ser dignos

Nem todos os finais são felizes, mas todos deveriam ser dignos

Por tudo o que lutamos para que o final não chegasse, merecíamos um final digno, para que as nuvens se dissipassem mais cedo, vislumbrando-nos todo o caminhar que há pela frente.

Não existe adeus tranquilo, não existe separação leve, nem despedida serena, uma vez que o rompimento com o que já parecia ser nosso abala as nossas certezas. E esse abalo traz decepção, saudade, sofrimento e desesperança, pelo menos de início. Mesmo que, lá na frente, confirmemos que era o melhor a ter ocorrido, ali no meio do turbilhão de sentimentos, a sensação de perda é primazia.

Não muitos encaram o processo de mudança de frente, seja para romper com pessoas, com lugares, seja para deixar ideias para trás. As pessoas ouvem e assimilam o que lhes chega, guardando aquilo tudo dentro de si, de acordo com o que possuem intimamente e na sintonia daquilo em que elas próprias querem acreditar. Porque só somos convencidos daquilo em que acreditamos – há raras exceções nesse sentido. Poucos têm disposição de mudar a direção de suas crenças, pois isso dói muito e requer uma coragem absurda. O mesmo ocorre em relação a pessoas.

Não estamos preparados para enfrentar o que não dá certo, o que termina de vez, porque parece que sempre sonhamos com o sucesso, embalando-o, envolto com todas as nossas forças, esquecendo-nos de guardar um lugar onde repousar nossas derrotas, as rejeições, os nãos, as despedidas enfim. E então, quando a vida não dá certo, a gente se revolta, a gente sofre demais, porque a gente não se preparou para isso, por nem um minuto sequer. Queremos mesmo é o “felizes para sempre”.

Infelizmente, o “para sempre” pode não durar a vida toda, as pessoas não ficam o tempo todo junto de nós, as oportunidades podem não aparecer do jeito que queríamos, o amor pode não voltar na mesma medida, tampouco vir de quem tanto desejamos. Talvez os finais, por isso mesmo, sejam tão importantes – ou até mais – do que os inícios. Quanto mais traumático e doloroso for o adeus, mais difíceis serão para nós o reerguimento e a esperança no poder de cada novo dia.

Embora seja difícil, é preciso muita força e muita maturidade para atravessar os rompimentos da vida, sem que tentemos manter um mínimo equilíbrio, necessário para que não nos percamos de nós mesmos nessa dor. Pessoas que vivenciaram sentimentos e afetos juntos, pelo tempo que for, no mínimo deveriam se despedir sem gritaria destemperada e ofensas generalizadas, ainda mais se houver filhos em jogo.

Por tudo o que lutamos para que o final não chegasse, merecíamos um final digno, para que as nuvens se dissipassem mais cedo, vislumbrando-nos todo o caminhar que há pela frente. Quase nunca é assim, mas deveria sê-lo.

Imagem de capa: danm12/shutterstock

Não quero viajar para fugir dos problemas, mas para encontrar afetos que não conheço.

Não quero viajar para fugir dos problemas, mas para encontrar afetos que não conheço.

A minha vida não é ruim. Posso dizer – e sem nenhuma injustiça, que colhi coisas boas por onde andei. Só falta uma coisa, viver de verdade. Não quero viajar para fugir dos problemas, mas para encontrar afetos que não conheço.

Tenho essa vontade louca, juntar uns trocados, separar o necessário e, sem agendar um adeus, simplesmente partir. Não importa o destino, apenas preciso ir. Não é fuga, mas encontro. Um encontro esperado há tanto tempo que não pode ser evitado, quanto mais adiado. Nada contra as coisas que ficam, mas o mundo é grande demais para ter depositado os meus inteiros num único lugar. Quero conhecer, provar e trocar sentimentos. Porque nada relacionado ao sentir pode começar e terminar do mesmo jeito. Sou metamorfose. Ocupo e transbordo facilmente. Sou daquelas almas que, apesar de juntarem sensações, não se privam das oportunidades dadas pela vida.

Posso ter problemas, muitos problemas a lidar. Mas nada disso impede o meu espírito de voar mais longe. E é exatamente assim que a gente se cura dos machucados, dos incômodos e das decepções. Viajar é um exercício de explodir autoestima. É quando descobre-se o verdadeiro propósito desse transitar entre espaços e pessoas.

Portanto, não estou fugindo. Não quero fugir. O que quero é encontrar as minhas próprias composições e definições. Para isso, viajar. Conhecer, desbravar e contemplar os lados e vistas, os versos e prosas, os cumprimentos e despedidas. Reescrever, capítulo por capítulo, a minha história. Para autoconhecimento, para afetos.

Imagem de capa: everst, Shutterstock

É covardia pedir a um amor que fique

É covardia pedir a um amor que fique

Porque se for amor, se realmente configurar a tal da reciprocidade, pedido algum será necessário. Do contrário, é preciso deixar ir. Com o tempo, você aprende que nem todas as metades possuem vocação para serem chamadas de inteiros.

Está na hora de entender, de uma vez por todas, que relacionamento não é posse. Colocar o seu sentimento acima da liberdade de escolha do outro, é figurar naquele grupo dos manipuladores e chantagistas. Geralmente, a súplica antecede o fim. “Você não pode me deixar”, “não vou viver sem você” e mais inúmeros discursos que, a princípio, podem soar como inofensivos ou românticos. Entretanto, não passam de graves agressões ao coração partido. Quem quer, fica. Sem discussão.

Obviamente, nada é tão preto no branco assim, e casos diferentes acontecem. Generalizar nem sempre é o caminho, mas o comum entre todos, amor é liberdade. É sempre uma escolha. E o seu desejo de permanecer não deve ser motivo para obrigar alguém a continuar. Caso consiga, tenha certeza, o gosto não será mais tão doce. Transformações chegarão e, você, ainda crente naquilo que sentem um pelo outro, sequer notará novas ausências e rupturas da chama que um dia foi justificativa para tamanha plenitude.

Logo, respeite o adeus. Abandone o medo da solidão, pois ela já fazia parte de você antes mesmo do primeiro encontro. Tudo bem, você acostumou com o calor e com a rotina de ter alguém para dividir tantos momentos. Também sobraram saudades, lamentos e suspiros. Tudo isso é compreensível e não há uma só alma que não crie empatia diante da situação. Mas não é o fim, não o seu fim. Dói demais, mas passa. Sempre passa.

Enquanto o tempo trata de cicatrizar essa nova versão de você, permita-se. Tire da gaveta quem era e reassuma o controle do próprio amor. Tão logo perceba, novos objetivos serão estabelecidos, sonhos serão conduzidos e, talvez, a sorte de um despertar para um novo amor. De repente, algum que fique. Por querer, por escolher, por somar.

Amores acabam. Não é covardia. Você também pode ir embora quando quiser. Ser ou não ser amor depende da coragem de reconhecer-se. Na próxima vez, não peça que fiquem, apenas esteja. Porque todos os dias escolhas são feitas. Até mesmo o amor merece trocar de moradia.

Imagem de capa: Tudo Que Eu Amo (2009) – Dir. Jacek Borcuch

O indispensável amor próprio não é tudo. Eu preciso ser amado também.

O indispensável amor próprio não é tudo. Eu preciso ser amado também.

Você precisa gostar de si mesmo. Isso não tem a ver com se achar perfeito, exuberante, sensacional. Mas se você acha que é perfeito, exuberante, sensacional, tudo bem também. Desde que isso não te crie um excessivo ar de superioridade, esta liberado , como diria minha mãe ou o Neymar, ser TOP.

Acontece que este tal de amor próprio não nasce do nada, de uma força de vontade mágica e restritamente interna. Não sei se você conhece uma pessoa que é sempre violentada em suas relações e ainda sim se ama absurdamente. Eu não conheço. As pessoas que vejo com boa autoestima estão cercadas de bom afeto.

Apesar de existir um discurso que nos individualiza constantemente, acredito que somos seres sociáveis. Aprendemos a ser bípedes porque estamos inseridos em culturas que as pessoas andam usando as duas pernas. Nos vestimos, seguimos determinadas leis, temos certos gostos culinários. Tudo isto fruto de nossa interação como o mundo.

Mas  eu recebi uma corrente no WhatsApp dizendo que amor próprio é tudo.

Tudo mesmo.

Toda vez que eu ouço alguém falando que algo é tudo, me baixa um espírito questionador. Experimentei pesquisar “Amor próprio é tudo” no Google e vi que muita gente concorda.

Aliás, descobri infinitas campanhas publicitárias, textos de autoajuda, alertando para as pessoas:

TENHAM AMOR PRÓPRIO. SE AMEM.

Costumamos optar pelo discurso mais fácil mesmo que ele não funcione na prática. Se há tanto aconselhamento sobre ter amor próprio, por que não temos? Por que basta uma corrida de olho na timeline das redes sociais pra descobrir uma serie de pessoas reclamando de baixa autoestima?

Ainda. Se há tanto apelo publicitário para que as pessoas amem a si mesmas, não seria por a publicidade enxergar que as pessoas não estejam se amando?

contioutra.com - O indispensável amor próprio não é tudo. Eu preciso ser amado também.
Este desenho foi feito pelo Gillian Rosa no facebook.com/PongoComics

Se eu não me sentir amado por ninguém, seria no mínimo doentio da minha parte ter amor próprio exuberante. Uma fuga da realidade. Esperar que alguém tenha muito amor próprio sem ser amado por ninguém, é como esperar que uma criança fale hindu nascendo cercada de gente que fala o português do Ceara. O amor, assim como o idioma materno, é um fenômeno social.

Autoestima. Amor próprio. Tudo isso pode ser construído. Talvez um caminho seja aprender a estabelecer boas relações com as pessoas que nos cercam. Também reconhecer nelas qualidades e sermos assertivos em seus defeitos. Assim, elas também estarão mais aptas a retribuir com afeto de qualidade. Baixar as relações de competição e aumentar as de colaboração ajuda na construção da autoimagem de todos.

Ah.

Tem gente que não tem jeito, viu? Fica atento. Com quem só quer te desgraçar mesmo, seja lá qual for o motivo, não permita. Foge disso. Por favor.

Amor próprio é indispensável. Mas não é tudo. Ser esperto pra mandar uma galera para o raio que o parta ajuda muito também.

E outra.  Como disse Francisco, para alguns São Francisco de Assis, é dando amor que se recebe amor.

contioutra.com - O indispensável amor próprio não é tudo. Eu preciso ser amado também.

Observação: Caso  seja dessas pessoas que amam alguém e precisem morder para demonstrar isso, peça permissão antes, se a pessoa permitir, aproveita e taca-lhe os dentes que o amor próprio,  neste caso, nasce de uma mordida própria.

A capa deste texto foi uma aquarela feita pela

Gabriele Lopes do Hey Insonia

no https://www.facebook.com/heyinsonia

Enquanto brigamos, o tempo passa

Enquanto brigamos, o tempo passa

Enquanto brigamos, o tempo passa. O tempo que não espera, não volta, não nos compensa.

E enquanto insistimos em gastar o tempo, brigamos, arrumamos pretextos para discordar, lutar para sermos proprietários de todas as verdades, todas as razões, todas as coisas que não conseguimos sequer carregar, nas mãos nem na consciência.

E a morte nos aguarda. Nos espera no final do tempo, aquele tempo que tínhamos de sobra, mas preferimos gastar com brigas, fofocas e desunião.

Essa é uma realidade incontestável. O tempo passa e nos entrega a morte.

Não só as brigas consomem o tempo, é verdade. Mas, de todas as opções por vontade próprias, esta é uma forte candidata ao lugar de mais tola.

Não falo de discussões e lutas por direitos. Isso é outra coisa. E muita gente boa já utilizou seu tempo para que nós, briguentos, desfrutássemos das conquistas.

Falo de brigas por poder, vantagens, territórios, espaços, razões, tudo o que nos coloca em posição de destaque, ainda que pelo lado mais desprezível.

O ditado afirma: – Dou um boi para entrar numa briga, mas dou uma boiada para não sair. – fala muito de nós, briguentos. Vamos às últimas consequências para levar para casa o troféu, ou os chifres, não sei. E, nisso, o tempo passou. Juntamos mais alguns desafetos para a conta. E menos algum tempo para a vida.

E a morte nos aguarda. Não importa de que forma levamos a vida. Ainda assim, ela vai nos levar. E ainda assim, escolhemos desperdiçar o tempo, brigando.

Batemos no peito orgulhosos e dizemos: – Sou pavio curto! E morremos, independente do tamanho do pavio. Aliás, independente de qualquer tamanho que possa se comparar.

Meu palpite: Correr das brigas. Correr para valer. Só ficar, se for por justiça. Só brigar, se for pela vida. Qualquer vida.

A morte que nos aguarde, como é a sua tarefa. E o tempo, que passe com prazer, assistindo o melhor que vamos fazer de nossas vidas.

Imagem de capa:  David M G/shutterstock

Caminha ao lado de quem te quer bem ou caminha só.

Caminha ao lado de quem te quer bem ou caminha só.

Se um dia, lá pelas tantas, num momento banal e insuspeitado, tu notares lá no fundo que alguém te quer ver pelas costas, não te avexes. Aceita e dá a esse alguém o que é de sua vontade: segue em frente. Toma distância. Se não é para teu bem, que fique lá atrás.

É que o caminho tem tanta gente boa à espera de olhar em teus olhos, ouvir tuas coisas, contar-te as dela, tanta alma carecida de tua ajuda, tanta mão estendida para quando tu caíres, tanto alguém com quem vale a pena estar, que perder um só instante em companhia equivocada é jogar a vida fora.

Quem aceita deitar em mau lençol acorda de mau jeito. Priva de sua presença aqueles que a merecem, fecha a porta a quem deve entrar. Interrompe o fluxo. Tranca-se, abrevia-se e se encerra com quem há muito já devia ter sumido.

Eu, não. Eu escolhi andar ao lado de quem quer me ver de frente. Preferi caminhar na companhia de quem me quer livre para ser quem eu sou e preza sua liberdade de ser quem é. O resto não me interessa. Fica lá atrás. Se não quero bem, quero longe.

Tu sabes. Aqui e ali há sempre um adulto que se recusa a crescer e permanece imaturo feito um bebê birrento, oferecendo correntes a quem se aproxima. E ai de quem confundi-las com braços abertos. Viciado em sua própria ira egoísta e incapaz de resolvê-la sozinho, faz de pessoas objetos e as amarra para odiá-las de perto, paralisá-las, aprisioná-las de costas, puxando-as para trás em seu jeito sujo de não deixá-las seguir em frente. Mantendo-as no atraso, cortando suas asas, roubando-lhes a vida.

Foge. Foge que sempre é tempo. Luta contra esse mal, estoura suas amarras, grita, esperneia, pede ajuda. A vida é movimento e viver vale a pena. Caminha ao lado de quem te quer bem ou caminha só, para frente, sempre.

Imagem de capa:  Jacob Lund/ shutterstock

Que tal parar de engolir sapo?

Que tal parar de engolir sapo?

Sabe aquelas palavrinhas que ficam entaladas aí na sua garganta? Ou, então, aquelas frases inteirinhas, perfeitas e prontas que vêm à sua cabeça só depois de algumas horas do confronto, da provocação ou da humilhação? E, as mais contundentes: aquelas declarações que vivem encarceradas no seu peito, perdidas num tempo que não volta… Sabe?!

Essas danadinhas têm um poder muito maior do que você pode supor. Palavras não ditas vão paralisando as nossas engrenagens emocionais aos poucos. E, quando a gente se dá conta, viraram ferrugem a impedir a movimentação de sentimentos dentro de nós e para fora de nós. Morrem desidratadas. Apodrecem.

Palavras são pensamentos que tomam forma, feito uma imagem que se conjura a partir de desejos, coragens ou medos inconfessáveis. E se ficarem aprisionadas, causam um enorme estrago. Pesam. Travam. Perturbam.

E como são seres essencialmente livres, vão achando jeitos de vazar da gente. E para que possam vazar, deixam de ser palavras. Transformam-se. Viram olhares cortantes ou ressentidos, transmutam-se em dores pelo corpo e pela alma, materializam-se em ações colaterais que de tão alteradas em sua origem, não as podemos mais identificar ou reconhecer; tampouco controlar.

Há coisas que são demasiadamente difíceis de dizer. Será mais difícil acolher um pedido de perdão, ou proferi-lo com toda a honestidade do coração? Será mais custoso, verbalizar uma falha de caráter ou ter palavras de acolhimento para tranquilizar aquele que a confessou? Será mais doloroso ouvir um adeus, quando se quer que o outro fique, ou dizer adeus vendo nos olhos do outro a súplica pela nossa permanência?

Acontece que, depois de proferidas, as palavras já não nos pertencem mais. Temos algum controle sobre aquilo que dizemos, ainda que cada coisa que saia de nossa boca, passe por milhares de filtros internos e externos, antes de ganharem vida. Somos responsáveis pelo que deixamos o outro ouvir. Mas não temos nenhum controle sobre o que ele é capaz de entender.

Cada um transforma o que foi dito pelo outro, a partir de suas próprias verdades e de sua constituição emocional. Cada um encontra jeitos de interpretar a fala do outro, baseado em sua percepção do mundo, em sua capacidade de interagir com as incontáveis experiências afetivas.

As palavras podem, a um só tempo, nos condenar ou absolver; nos aproximar ou afastar; nos propiciar encontros adoráveis ou embates terríveis. É por isso que nos cabe a honradíssima tarefa de encontrar uma forma qualquer de comunhão entre o que somos, sentimos, queremos e expressamos para o mundo. Porque sempre haverá coisas difíceis demais a dizer, na mesma medida em que haverá outras tantas dificílimas de se escutar.

Então… sejamos mais generosos e piedosos diante de nossas fraquezas e das alheias, também. Quem sabe não seja essa a única forma de nos conectarmos por meio de um espaço sagrado de convivência, no qual ninguém esteja obrigado a engolir sapos, e onde todos aqueles que já foram engolidos possam ser libertos e, finalmente, viver em paz… lá fora… definitivamente fora de nós!

Substituir pessoas sem curar o coração não é seguir em frente, mas sim trocar de problema

Substituir pessoas sem curar o coração não é seguir em frente, mas sim trocar de problema

Quantos de nós, na ânsia de curar um coração em pedaços, não nos lançamos a um novo relacionamento? Infelizmente, a máxima do curar um amor com outro amor nem sempre vale para todo mundo, da mesma forma. Entregar-se a um novo parceiro, sem ter se recomposto dos cacos deixados pelo anterior, raramente pode dar certo, porque amor requer inteireza e integralidade, coisas que almas feridas ainda não estão prontas para ofertar.

Qualquer rompimento nos deixa machucados, seja quando fomos nós quem tomou a decisão de romper, seja quando o outro vai embora à nossa revelia. Sempre nos resta uma carga pesada de derrota e de culpa, após nos separarmos de alguém, o que nos torna mais vulneráveis a tomar decisões erradas. É difícil acertar lá fora, quando aqui dentro tudo parece ruir, porque, nessas horas, geralmente estaremos agindo puramente com a emoção.

Tomar atitudes levadas tão somente pelo sentimento de revide implica querer machucar o outro, para que ninguém perceba o quão miseráveis nos sentimos internamente. Revidar não dá certo, porque nada do que fizermos no calor das emoções, sem ter posto os sentidos em ordem, será coerente o bastante e poderá nos ajudar de alguma forma. Qualquer ação que se valha de rancor trará somente dor a todos os envolvidos.

Fato é que iniciarmos um novo relacionamento apenas para dar satisfações aos outros a respeito daquilo que nem é uma certeza dentro de nós muito provavelmente não nos trará os resultados esperados. Pior ainda, poderemos estar brincando com os sentimentos de alguém que não tem nada a ver com nossas pendências emocionais. Ninguém merece ser usado dessa forma, como estepe de luxo ou troféu de vitrine.

Os problemas nos acompanharão aonde formos, onde e com quem estivermos, ou seja, sem colocarmos um ponto final no que aconteceu, nada do que então vier poderá ser tido como um verdadeiro recomeço. Recomeçar requer uma alma leve e livre, sem pendências, sem rusgas, isenta de dores acumuladas, porque o novo sempre vem, mas vem para quem realmente resolveu seguir de coração aberto, tendo deixado lá atrás o que não tem mais jeito.

Imagem de capa: 8th.creator/shutterstock

É preciso saber desistir. O que há de ser será com ou sem a nossa vontade.

É preciso saber desistir. O que há de ser será com ou sem a nossa vontade.

Funciona assim. De tudo o que acontece no mundo, quase nada é do jeito que a gente esperava. Não é mesmo. Nunca vai ser. Com exceção do nosso próprio nariz, nós não mandamos em nada!

Para a nossa vontade estão pouco se lixando o clima, as alterações do mercado, o movimento das águas, o destino e suas reviravoltas, o preço do pãozinho e tudo quanto há no mundo para além de nosso domínio geográfico umbilical. Em nada disso nós apitamos, não mandamos em coisa nenhuma. Muito menos na vontade das outras pessoas. Ok, tem gente que abre mão de ser dona da própria vida e se deixa escravizar por alguém sem escrúpulos, mas essa é outra história.

O ponto aqui é que a nossa própria vontade só vale alguma coisa para nós mesmos. Para o outro, aquilo que nós queremos não tem valor nenhum se de alguma sorte conflitar com o que ele também quer.

Pensemos. Para cada uma de nossas conquistas há filas de caminhões carregados de derrotas na frente, congestionando o caminho. Cada “sim” recebido é uma joia em meio a tanto “não” esperando nosso desapontamento. Convenhamos: saber perder é condição indispensável de toda conquista. Para sempre haveremos de perder muito mais do que ganharemos.

Essa verdade irrefutável só não enlouquece ou desvirtua aqueles de nós que aprendem a aceitar e compreendem o que não era para ser, que é melhor largar mão e seguir adiante. Está aí uma das únicas vantagens que nós, os seres humanos, levamos sobre todo o restante do reino animal – essa velha e démodé capacidade de racionalizar. Coisa da qual, por estúpido que pareça, muitos de nós abrimos mão em nome de uma sanha egoísta, mal resolvida, birrenta, cruel e tacanha. É…

Passou da hora de tirar o cavalo da chuva e aceitar o óbvio: o que há de ser será com ou sem a nossa vontade. Saber o tempo de desistir é um gesto tão nobre quanto perseverar. Tem hora em que é preciso largar mão, deixar pra lá, buscar mais o que fazer, tirar o time. Essas coisas duras que a gente só começa a aprender na vida mil e uma frustrações depois.

Imagem de capa: Viktoriya Panasenko/shutterstock

Que a paz que vem de dentro possa desarmar a tempestade que vem de fora

Que a paz que vem de dentro possa desarmar a tempestade que vem de fora

Seja a paz que você almeja, o exemplo que seu discurso prega, o amor que deseja para a sua vida. Seja doce, positivo, seja grato, quem chega somando. Só não seja igual a quem você critica, não seja pior do que o outro.

O mundo anda bem complicado, a cada dia mais difícil de ser entendido, em toda a sua complexidade, em toda a sua violência, ignorância, falsidade e valorização do que é inútil. Esvaziam-se as essências humanas, enquanto avultam o consumismo desenfreado e a supervalorização do poder de compra. E seguimos lotados de quinquilharias, tanto materiais quanto emocionais.

Difícil é encontrar um momento de tranquilidade nessa correria toda. Difícil é encontrar alguém que saiba ser acima do que possa comprar ou estampar visualmente. Difícil é regar amor com afeto, onde só se encontra aridez sentimental. Procuremos, então, dentro de nós, a paz por que tanto ansiamos, mantendo firmes nossos valores e crenças, alimentando nossos corações com o que realmente importa.

Seja a paz que você almeja, o exemplo que seu discurso prega, o amor que deseja para a sua vida. Seja doce, positivo, seja grato, quem chega somando. Só não seja igual a quem você critica, não seja pior do que o outro. Não seja desesperança para ninguém, pois tem gente que o ama e torce por você, todos os dias.

Quando a maldade não encontra recanto algum em nós, fica mais fácil para a felicidade chegar e se instalar. Às vezes, ela parecerá ter sumido, mas estará sempre alerta e, quando mais precisarmos, mesmo sem esperarmos, a felicidade convidará a bênção para nos visitar e, junto com ela, florescerá a gratidão – e então tudo se completará. Porque nada é fácil, tampouco simples, e poucas coisas valerão a pena guardarmos na memória, mas fé e amor dignificam qualquer existência.

Enfim, que saibamos com o que nos importar, o que deve ser guardado no coração e o que nunca deverá entrar nele. Que não escondamos a verdade e não enterremos o passado sem resolvê-lo. Que nos conscientizemos de que o tempo – senhor da razão – traz as verdades e cura as feridas, embora seus resultados quase nunca sejam imediatos. Que haja amor e fé em nossos recomeços e que sempre haja recomeços, pois somos todos seres inacabados. Assim seja!

Imagem de capa:  Anna Om/shutterstock

Quando você fecha os olhos é que nascem as mudas

Quando você fecha os olhos é que nascem as mudas

Tenho medo das manipulações genéticas do amor!
Essa coisa de pensar, de analisar, de jogar, de manipular pessoas, mentes, corações, momento, intenções.

Essa coisa de querer colocar as mãos e as expectativas da mente nos sentimentos, de exigir um formato, de direcionar o percurso, pode ser que desestruture um caminhar sereno de evolução e adaptação.

Será que o tempo, a terra, as transformações do entorno não se ocupam de arrumar os destinos? De fazer com que corações se encaixem ou se distanciem?

Tem semente que vinga, cresce bonita, se ajusta ao solo, ao clima, e tem semente que simplesmente não germina. E assim é a vida.

Forçar a barra para que algo nasça, cresça, se desenvolva no tempo que esperamos, da forma que esperamos; exigir que tenha uma forma, uma cor, um aroma; arrancar os defeitos; manipular as curvas do amor, é colocar agrotóxico, é modificar a essência.

Plante, mas tire os olhos da terra; ame, mas serene o coração.

Ame como quem planta, como quem semeia com as mãos, como quem sabe respeitar as estações, as terras (férteis e inférteis), os períodos de seca e de abundância, as sementes que germinam e as que morrem.

Ame como quem planta com poucas ferramentas, mas com muito intento – relaxado, semeando amor, mas sem saber bem de onde virão os frutos, que árvores vingarão. Porque amores novos (e velhos também) precisam de uma dose de carinho e cuidado, mas também de outra grande porção de distração e relaxamento. Quando você fecha os olhos é que nascem as mudas.

O que é orgânico leva um tempo e uma vontade própria. Deixe que venha ou não venha. Deixe que seja a verdade. Se vier, vai ser para nutrir a alma. Se não vier, é porque não seria bom alimento.

Há sentimentos que não crescem porque não têm energia por dentro. Respeite os ciclos das sementes, das pessoas e dos corações. Que o amor seja orgânico e não geneticamente modificado!

Imagem de capa: Kuznechik

INDICADOS