Talvez essa dor não seja sua. Ou não seja de agora

Talvez essa dor não seja sua. Ou não seja de agora

Você já parou para pensar da onde vem essa dor que não lhe deixa em paz? Essa dor que não passa muitos dias sem dar as caras, que aparece nos momentos mais improváveis, que surge sem um motivo específico? Essa dor que não pede licença, que te tira do prumo, que consome as tuas energias?

Muitas vezes, por sermos sensíveis demais, acabamos captando a dor alheia. A dor de um planeta de terceira dimensão, que abriga seres em evolução, que passam diariamente por provas e que, muitas vezes, não conseguem ter a consciência necessária e acabam se desvirtuando. A dor de um planeta que, propositalmente, é denso e cheio de contrariedades.

Ocorre que, se não despertarmos para essa realidade, ficaremos imersos nessa nuvem escura de sofrimento. Esse sofrimento que não é nosso, e que só nos faz mal.

Precisamos ter consciência que, ao sentirmos a dor alheia, não estamos ajudando o outro. Pelo contrário, estamos nos afundando também. A empatia positiva é a que te permite se colocar no lugar do outro e entender a sua situação para ajudá-lo. E o ajudaremos sendo luz, iluminando a realidade e não penetrando com ele na escuridão.

É imprescindível compreender que cada um tem o seu caminho, o seu livre arbítrio e os seus resgates. E isso refoge ao nosso conhecimento e à nossa intervenção.

Por isso, ao sermos atingidos por aquela sensação negativa, devemos parar e analisar: ESSA DOR É MINHA? Se não for, é preciso, de imediato, espantá-la. Senti-la não ajudará ninguém…

Porém, às vezes, a dor que surge pode ser nossa mesmo. Mas não ser de agora. Por isso, ela não faz sentido algum. Mas precisa ser compreendida para ser superada.

Somos, indiscutivelmente, seres em evolução. Nossa história não iniciou agora. Trazemos conosco traumas, tristezas, angústias e desilusões de tempos antigos. Mas, por não termos ciência deles, a dor se torna sem sentido algum. E isso nos deixa confusos. Pode drenar nossas energias e nos desanimar.

É preciso transcender. Há quem afirme que a nossa primeira missão nessa existência seja abandonar a bagagem emocional que carregamos nas costas por eras. Essa bagagem que nos mantém atravancados, que nos entristece e não nos permite avançar.

Precisamos nos libertar desse peso emocional entregando-o ao universo, pois ele não ser serve de nada. Permitir que uma brisa fresca e leve nos envolva com sentimentos novos e positivos. Acreditar, firmemente, que a existência nos concederá tudo o que necessitamos, seja material ou imaterial.

Transcender o sofrimento significa dar um passo além, passar por cima, deixá-lo para traz. Significa compreendê-lo e abandoná-lo. Mas, para tanto, é preciso autopoliciamento, pois não estamos acostumados com essa liberdade. No início, será preciso vigilância constante para não “recairmos”.

Só estaremos colaborando conosco mesmo, com as outras pessoas e com o mundo quando vibrarmos amor, luz, alegria e serenidade. Enquanto ficarmos imensos e dor e sofrimento, o efeito será negativo, para todos.

Imagem de capa Antonio Guillem/shutterstock

O que aprendo com um vizinho barulhento

O que aprendo com um vizinho barulhento

Aprendo todos os dias que tolerância tem limites.
Reforço mentalmente a certeza de que gritar não educa, não resolve, não diverte, não garante poder, não prova razão.
Descubro que vontade de ir para longe dali, pode se transformar em meta de vida.

Um vizinho barulhento pode morar dentro da casa da gente. O nível de incômodo é tanto, que ele parece sempre estar sentado na beira da cama, cantando, repetindo mil vezes o mesmo refrão, fazendo sua versão particular para um jingle, imitando Fred Flintstone.

O vizinho barulhento não se conforma só com sua própria voz. Ele acha pouco. Então, arrasta móveis, deixa cair de tudo no chão, traz vinte amigos para seu apartamento num domingo a noite, assiste ao futebol urrando e batendo com o pé no chão. No chão não, na minha cabeça.

Se tem um cachorro, provoca-o até que o bicho não pare mais de latir e pular pelo apartamento.
Se tem filhos, desde cedo os ensina a arte dos gritos, dos brinquedos jogados no chão com força, das bolas na parede, do concerto com o pianinho às duas da manhã, dos arrotos barulhentos.
Se tem filhos e cachorros, aprendo que os incomodados realmente devem se mudar o quanto antes.

O vizinho barulhento é ainda mais insuportável, se comparado a vizinhos conscientes. Nessa hora, não há nada que o defenda. E, se a tentativa é de suportar sem reclamar dia e noite, por graças, às vezes os vizinhos do prédio ao lado reclamam por mim. É, nessa hora aprendo que um ruído chega longe!

Ah, não deixo de aprender alguns palavrões diferentes quando o futebol é o tema do dia.
E, como se quisesse, mas não quero, aprendo também que o filho é dotado como o pai, coisa que ele repete junto à janela, para que eu não consiga esquecer, e lembre sempre que o encontrar no corredor.

Mas o danado é bonzinho, e, ao me encontrar na entrada, abre sempre um sorriso e cumprimenta com alegria. O que eu aprendo com isso? Que, ainda que eu não creia, um dia ele vai se mancar que alguém mora no apartamento de baixo.

Isso serve para vizinhos, amigos, amores, família, e todas as relações em que o barulho atrapalha a verdadeira mensagem que se quer passar.

Imagem de capa:  shutterstock/Valery Sidelnykov

Minha família não cabe no Whatsapp:

Minha família não cabe no Whatsapp:

Observei que muitas famílias têm um grupo no Whatsapp. Eu mesmo já vi alguns conteúdos que chegam por mensagem nesses grupos das famílias. E confesso que achei interessante: chegam fotos de passeios, da comida que alguém fez e acertou a receita, de bebidas escandalosas em taças lindíssimas, mandam piadas, e fotos dos filhos que estão crescendo.

E se minha família tivesse um grupo no whatsapp, como todas as outras famílias?

Isso não acontece, acho que funcionamos um pouco diferente. Minha família tornou-se estranha nessa época digital. Nos reunimos todos aos domingos e não fotografamos nada, na maioria das vezes.

Tem primos que brigam entre si. Há fofocas na família e grandes discussões são bem habituais. Minha avó, de 85 anos, conta como foi a semana, vendendo e entregando seus produtos da “Avão” (Avon). Como sempre diz, faz mais de 40 anos que vende esses produtos.

Meus tios queixam-se da economia do país. O outro primo perdeu o emprego e tem filhos pequenos. Que confusão, minha família não tem um grupo no whatsapp, mas conversam pessoalmente. Às vezes, sinto-me estranha no meio dessa família tão real, pois nos acostumamos a mensagens e a beijos virtuais.

Na minha família, as pessoas se relacionam pessoalmente, brigam, choram e sorriem juntos. Tem desempregados, tem os que prosperam, tem os que viajam, tem os que não saem do lugar e, às vezes, é difícil suportar tanta realidade, quase não nos aguentamos.
Penso que aquele velho jargão “Família de comercial de margarina” deveria mudar para “Família de whatsapp”, onde tudo parece mais bonito.

A minha família é bem confusa, tem muita gente, tem brigas, tem abraços e tem cheiro de macarronada aos domingos, tem risadas ou lágrimas, dependendo dos acontecimentos na semana.

Acho que prefiro assim, encontros familiares que não cabem em sites de relacionamento, tampouco em whatsapps, mas que cabem em abraços e que têm beijos de verdade.

Imagem de capa: shutterstock/Jack Frog

1984, de George Orwell: distopia ou realidade próxima?

1984, de George Orwell: distopia ou realidade próxima?

1984, clássico de George Orwell, conta a história de Winston, moço que vive em uma sociedade totalitária e tem, assim como todo o resto da população considerada “perigosa”, cada passo seu vigiado pelo governo. São diversas as reflexões que podem ser feitas através da leitura, mas, hoje, me reterei a uma delas.

Orwell fala sobre um conceito chamado duplipensamento. O duplipensamento seria, de uma forma simplificada, a coexistência de ideias contraditórias em nossa sociedade. Tais contradições seriam uma forma que as classes mais poderosas encontraram para a perpetuação da desigualdade. Seria, então, uma ferramenta para evitar mudanças, manter o regime, preservar seu poder.

Que tal recorrer ao próprio livro? “Duplipensamento significa a capacidade de abrigar na cabeça duas crenças contraditórias e acreditar em ambas. “Mas, oras! Esse conceito não se aplica ao aqui? Ao agora?”

Começando pela justiça, por exemplo. O poder judiciário – que, pela lógica, deveria fazer justiça – tem se mostrado, em diversas situações, injusto. O poder executivo, que deveria primar pela melhora da qualidade de vida dos cidadãos, tem contribuído, de forma sistemática, para a diminuição de nossos direitos. A polícia, que tem como dever a promoção de segurança, causa-nos, no mínimo, desconfiança. O cristianismo, que teve como um de seus messias um homem que pregava o amor, tem seguidores e mais seguidores que destilam ódio com orgulho. Guerreamos em prol da paz. Matamos em nome da paixão.

A contradição, base para a perpetuação da desigualdade, enraíza-se. Não faz parte do cotidiano só dos “grandes”. Nós, os “menores”, contribuímos também. Desaprovamos programas assistencialistas, entretanto, fazemos campanhas de arrecadação de roupas e alimentos para doação. Menosprezamos pessoas que têm bolsas nas faculdades privadas, mas damos um jeitinho para conseguir um desconto do governo para o curso de Direito ou de Medicina nessas mesmas faculdades privadas. Falamos demais sobre respeito e aceitação, mas somos os primeiros a julgar e a desrespeitar qualquer traço ou característica diferente em alguém. Queremos mudar, mas seguimos o mesmo roteiro diariamente.

“Esse estranho entrelaçamento de opostos – conhecimento com ignorância, cinismo com fanatismo – é um dos principais traços da sociedade oceânica.” Não estaríamos, nós, caminhando para um cenário parecido com o que o autor pinta?”

A razão, tão vangloriada na modernidade, parece estar sendo sistematicamente ignorada. Nossas falas não condizem com nossas ações, nosso discurso é totalmente vazio, não nos esforçamos para colocar em prática nossas ideias. Desprezamos nossas incoerências. Evitamos olhar para o horror de nossa hipocrisia. É mais confortável assim. E, assim, seguimos irracionais, ou talvez cegos demais, para enxergar nossas falácias diárias.

Talvez a sociedade em que Winston vivia não seja assim tão diferente da nossa. Pensemos. Matutemos. Mudemos. Acima de tudo, espalhemos mais bom-senso e coerência, para que não nos tornemos esse amontoado ignorante de incongruências.

Imagem de capa:  shutterstock/Michael Wende

Tudo ou nada

Tudo ou nada

“Existem apenas duas maneiras de viver: Uma é como se nada fosse um milagre. A outra é considerar tudo um milagre.”
Albert Einstein, físico.

Parece um radicalismo muito grande colocar o mundo sob essas duas únicas perspectivas: ou nada que acontece embaixo do sol é um milagre, ou tudo o que acontece embaixo do sol é um milagre.

Contudo, a reflexão de Einstein é bastante precisa. Basta viver para conferir. Eu já vivi bastante para apreciar os dois lados dessa proposição. Sob o ponto de vista dos céticos, nada é um milagre.

Um cético ou um distraído sempre terá justificativas baseadas em leis e probabilidades científicas ou matemáticas, para justificar acidentes que deveriam matar, mas não matam, doenças que deveriam progredir para o óbito, mas não progridem, circunstâncias dadivosas que não encontram sujeito na ação, mas encontram o objeto na recepção, de modo que não se sabe quem fez o impossível acontecer, mas sabe-se que ele aconteceu e beneficiou uma vida que dele precisava.

Ainda assim, o cético dirá que não é milagre. Que é perfeitamente explicável. Que foi obra do acaso. Que o resultado é apenas produto da sorte.

Um religioso ou um homem de fé sempre terá justificativas baseadas na fé para reconhecer milagres em livramentos de acidentes que não deveriam matar, na cura de doenças que são perfeitamente tratáveis pela medicina, em circunstâncias cujo resultado final pode ser creditado ao talento, ao sucesso, ao trabalho, ao conhecimento humano, de modo que o milagre sempre é lembrado, antes do que o empenho da humanidade para produzir aquele resultado.

Um homem de fé sempre verá o milagre em tudo.

E o maior dos milagres é que ele mesmo é um milagre: nesse mundo materialista de tanto fazer, o humanismo se coloca não como a grande coroa da criação, mas como o criador de todos os resultados positivos que beneficiam a humanidade.

Há um jeito melhor de viver do que o outro jeito? Eu não creio.
Creio apenas que cada pessoa escolhe as suas posições segundo a sua convicção interior, e se sente mais verdadeiro ao praticar a sua verdade.

Não é o conhecimento acadêmico que determina a postura cética, mas uma conformação a princípios filosóficos pré estabelecidos durante a vida pregressa.

Contudo, isso não explica tudo. Há algo a mais no equipamento do milagre que os céticos não possuem. Há uma visão além dos sentidos da visão, algo que os místicos denominam terceiro olho, e que os religiosos denominam experiência espiritual.

Se você pedir a um cego que substantifique o azul, ou o verde, ele não saberá substantificar a experiência da cor porque não a tem. Da mesma forma, o cético não consegue substantificar o milagre por mais que tente faze-lo.

Conheço pessoas que praticam o “nada é milagre” com extremo pesar. Elas até querem acreditar porque gostariam de substantificar a experiência do milagre que alguns lhes dizem possuir. Contudo, não conseguem.

Parece ser possível consegui-lo. Em determinado momento, o terceiro olho se abre, e o que antes não via, começa a ver o milagre na flor que desabrocha, no sol que brilha todas as manhãs, na criança que nasce, no entendimento que eleva as coisas comuns da vida à categoria de milagres.

O oposto não parece acontecer. As pessoas que praticam o “tudo é milagre” nunca conseguem deixar de ver o que já viram. O terceiro olho, a visão espiritual, é um equipamento que se apresenta, e que vem para ficar até o último suspiro.

Uma vez visto o milagre, algo dentro delas torna impossível não vê-lo e não praticá-lo mais. Einstein é o modelo perfeito disso que estou dizendo: em dado momento de sua vida ele VIU O MARAVILHOSO, E SE RENDEU AO MILAGRE, e após ter visto, formulou a teoria que deu origem a este texto, que não é destinado a explicar nada, mas a compreender a tudo e a todos, e aceita-los da forma como são.

Imagem de capa: Bokic Bojan/shutterstock/

O que há de errado com nossas crianças?

O que há de errado com nossas crianças?

A infância é o período mais rico e interessante de nossas vidas. É na infância que desenvolvemos nossa força criativa, nossa curiosidade e capacidade de lidar com situações novas. O inusitado nos encanta. O mundo é um mistério maravilhoso. Queremos experimentá-lo, sorvê-lo e transformá-lo.

Há sempre um tempo certo para cada uma de nossas experiências ao longo da vida. Assim como há diversas maneiras certas de garantir que façamos o melhor proveito possível de cada uma das infinitas aprendizagens a que temos direito. E abreviar a infância é uma violência contra a nossa natureza, e as consequências dessa abreviação podem ser seríssimas.

Adultos que somos, temos em nossas mãos a capacidade de determinar o tempo que ofereceremos às nossas experiências, bem como o direito de escolher o que queremos ou não aprender.

As crianças, no entanto, dependem de nós para terem assegurados tempo suficiente para que possam desenvolver-se de forma saudável e harmoniosa. Os pequenos dependem do nosso bom senso, da nossa permissão e do nosso apoio para que possam ser crianças durante esse período de vida maravilhoso que é a infância.

Entretanto, na ânsia de oferecer aos nossos pequenos as melhores oportunidades de futuro, corremos o sério risco de não os deixar viver o presente em toda a sua plenitude. Nossas crianças vivem super estimuladas por uma gama de informações e acesso a artefatos tecnológicos que acabam por esgotá-las e tirar delas a chance de chegar às suas próprias conclusões acerca das descobertas necessárias ao seu desenvolvimento cognitivo e emocional.

Do ponto de vista material, estamos caprichando demais. Estamos rodeando nossos meninos e meninas de coisas, de brinquedos, de livros e mais tudo o que nos é possível adquirir, porque já estamos acostumados a responder aos apelos de consumo. Quase sem pensar – e de fato sem nenhuma intenção nefasta -, acabamos por incorporar essa ideia de que eles precisam mesmo de tantas coisas para serem felizes. E eles não precisam.

A realidade é que passamos do ponto. Deixamos para trás vivências e convivências de uma vida mais simples, mas incrivelmente mais rica, no que diz respeito à criação de vínculos e formação de habilidades afetivas e intelectuais.

Há em nosso cotidiano um número considerável de espaços que precisam ser ocupados com presença, nossa presença. E por mais que seja difícil escapar dessa concordância coletiva, precisamos parar alguns instantes e reconhecer que estamos submetendo nossas crianças a rotinas estressantes demais, competitivas demais, exigentes demais.

Talvez a responsabilidade maior seja nossa, pelo excesso de agitação, pela falta de foco, pela irritabilidade e pela falta de autoridade amorosa que, no fim das contas é a maior causa de tantos transtornos de comportamento e aprendizagem.

Os consultórios andam cada vez mais abarrotados de crianças encaminhadas com suspeita de Déficit de Atenção e Hiperatividade. É assustador a quantidade de crianças medicadas, em idades cada vez mais precoces. É preocupante demais observar o nível de sofrimento dessas crianças que não conseguem caber nas rotinas engessadas e conteúdos excessivos oferecidos pela grande maioria das escolas, com a anuência e aplauso dos responsáveis.

Soterradas sob pilhas de tarefas e expectativas, elas vão criando suas próprias estratégias de sobrevivência. Sempre haverá aquelas que são mais resilientes e acabarão dando conta, serão bem-sucedidas e recompensadas com boas notas e com o reconhecimento à sua inteligência, como se a inteligência fosse algo que se resume ao que se ensina na escola. Mesmo esses, no caso de inadequação da dose, ainda que sobrevivam, estão sendo massacrados.

A verdade é que o que há de errado com nossas crianças é que elas estão exaustas. Estamos negando a elas o direito à infância. Estamos criando atalhos cada vez mais eficientes para o mundo adulto, quando o que elas precisam é de mais tempo para brincar, explorar, refletir e conviver.

Precisamos sair do piloto automático e meditar com mais profundidade sobre o nosso papel nessa história. Precisamos parar de nos preocupar tanto com o amanhã deles, a ponto de nos esquecermos quem eles são hoje, do que eles precisam hoje. Porque se conseguirmos abraçar uma vida mais simples e significativa agora, teremos crianças plenas e em condições de se tornarem adultos inteiros, adultos que serão mais capazes de entender, acolher e respeitar as crianças de amanhã.

Mulheres são movidas a carinho, por que é tão difícil para homens entender?!

Mulheres são movidas a carinho, por que é tão difícil para homens entender?!

Às vezes tenho a impressão que precisamos desenhar. Fazer um roteiro, com legendas e afins. Espalhar lembretes por aí. Nós, mulheres, somos movidas a carinho! Não adianta homens, se vocês querem se relacionar bem conosco, tem que entender isso. E, mais do que entender, colocar em prática. Já. E sempre.

No mundo machista e “prático” em que vivemos, não raro as nossas peculiaridades femininas vão passando batidas, a coisa vai “empurrada com a barriga” e negligenciada, num “faz de conta que tá bom assim”…

De repente, boom, a coisa estoura e nos vem com aquelas perguntas: “mas como assim?”, “por que não falou nada?”, “estava tudo tão bem!”…

Podemos ser independentes nos mais variados aspectos, emocionalmente estáveis, bem resolvidas e evoluídas, mas isso definitivamente não significa que podemos ser tratadas com desdém.

Sempre, leiam bem, S E M P R E, independente de qualquer de qualquer coisa, nós, mulheres, precisamos – e merecemos! – ser tratadas com jeitinho, com afeição e com doçura.

Temos uma sensibilidade mais aflorada e necessitamos ter as nossas peculiaridades consideradas. Mas isso não significa que vamos ficar o tempo todos os relembrando das nossas particularidades. Não nos cabe – nem nos cai bem – ficar mendigando um tratamento compatível, digno, atencioso.

Portanto, se liguem! Nós lhes damos até algumas chances de acertar, emitimos alguns sinais, oferecemos umas dicas veladas, mas, se percebermos que a coisa não vai funcionar, só lamentamos: quando vocês se derem conta, já não haverá mais tempo. Somos eficientes, além de tudo, não se esqueçam disso!

E não venham com chamegos e afins apenas quando quiserem “algo mais”. “Eu te amo”, “minha linda” e tal só quando se está com segundas intenções não adianta de nada. Pelo contrário, percebemos que sabem o caminho, mas têm preguiça de se dedicar constantemente, só o buscando quando lhes convém. Não é por aí!

No que se refere às relações íntimas, salvo algumas vezes em que resolvermos curtir uma troca mais “concentrada”, precisamos de caprichadas “prévias”, de “durantes” prolongados e muito bem trabalhos e de “posteriores” igualmente consideráveis.

A coisa, para nós, não é tão extintiva – e nem tão automática – quanto pode ser para vocês, homens. A excitação, para nós, começa no emocional antes de ir para o físico. Por isso, é bom sermos cortejadas, estimuladas e seduzidas, e isso deve começar muito antes de irmos para a cama, bem como continuar depois. Na verdade, deve ser constante.

A intensidade, para nós, tem muito mais a ver com dedicação, profundidade emocional e extensão temporal do que com uma “pegada mais forte”.

Vocês nos envolverão verdadeiramente e enlaçarão o nosso coração se entenderem essa nossa dinâmica e se dedicarem, efetivamente, a atendê-la. Constantemente.

Ambos sairemos ganhando – e muito!-, não tenham dúvidas.

Imagem de capa:  shutterstock/ Mihajlo Ckovric

Algumas considerações para as mães recém-nascidas:

Algumas considerações para as mães recém-nascidas:

Todos já ouviram a célebre frase: “nasce um bebê, nasce uma mãe”. Nada a discordar desse jargão popular. É no dia-a-dia que vai se aprendendo a árdua tarefa, afinal de contas, bebês não vêm com manuais, assim como as mães não vêm prontas.

Os pais são imprescindíveis nos cuidados com seus filhos para a formação da personalidade da criança, mas não entrarei nesse mérito no texto, pois o escrevo do ponto de vista de mãe.

Objetivo, com esse singelo dizeres, acarinhar aquelas que estão engatinhando nessa incrível viagem chamada maternidade.

Algumas situações que acontecem no processo “tornar-se” mãe:

1- Cuidar de um bebê é muito mais difícil do que disseram e do que se imaginou;
2- Passar noites e noites sem dormir adequadamente é enlouquecedor;
3- Para algumas mães, amamentar não é a oitava maravilha do mundo;
4- Muitas vezes, perdemos a paciência diante de tantas demandas de um bebezinho tão pequeno;
5- Ter depressão pós-parto é mais comum do que se imagina, mas poucas mulheres sentem-se tranquilas para dizê-lo;
6- Ficar com barriga pós-parto e acima do peso, por meses e até anos, não é relaxo;
7- É natural questionar se a decisão de se ter um filho foi a mais acertada, afinal, a vida era boa antes;
8- A frase “Você vai entender quando for mãe” vai ressoar centenas de vezes em sua cabeça;

9- Há mais dificuldades em estabelecer alguns limites e dizer alguns “nãos” para seus filhos do que você imaginara;
10- Impossível oferecer comida saudável a seu filho por toda a infância;
11- Compreendemos mais os comportamentos dos nossos pais;
12- Empatia exacerbada, ou seja, a dor de uma mãe é sentida por todas as mães;
13- Desejo de transformar o mundo para melhor;
14- Reza-se mais;
15- Emociona-se facilmente;
16- Muitas vezes, sente-se que se erra mais do que se acerta na educação do(s) filho(s);
17- Dorme-se menos;
18- Aprende-se a cozinhar comidas coloridas e saudáveis;
19- Há lágrimas nos olhos das mães no primeiro dia de aula do(s) filho(s);
20- Dói muitas vezes; ser mãe dói a alma;
21- Tem-se apenas o suficiente de roupas e sapatos, pois as prioridades são outras.

E, de repente, a vida vai fluindo, vai fazendo o seu próprio desenho e essa nova realidade, a da chegada de um bebê ou outro filho, vai fazendo mais sentido.

É bem possível que você se pergunte: como fui capaz de mudar tanto? A resposta é: a maternidade.

Aprende-se a sentir e a receber um amor diferente e talvez aí estejam os “superpoderes” das mães.

Os beijos de mães curam os machucados, abraços dão mais coragem para que seus filhos sigam em frente, suas palavras e incentivos fazem com que continuem em frente e percam seus medos.

Aprende-se que, mais importante do que a aparência e as unhas feitas, é o sentir-se em paz. Aprende-se que, melhor do que ter dinheiro, é ter filhos saudáveis.

Possivelmente, a maternidade nos conecte com as sensações mais primitivas do ser humano, com as melhores emoções que alguém possa sentir.

A maternidade é um transformar-se constantemente. Parabéns a todas as mulheres que suportaram as dores das mudanças e transformaram-se em mães.

Imagem de capa:  shutterstock/FamVeld

O problema dos erros é que, às vezes, eles beijam bem

O problema dos erros é que, às vezes, eles beijam bem

“Se a gente for parar para pensar no que faz mal, não come nada, não vive nada e não ama ninguém.” (Rosi Coelho)

Tudo nesta vida pede um pouco mais de calma, pois exceder-se não é bom, em nada e para ninguém. É preciso cautela, tanto nas atitudes que tomamos, quanto nos sentimentos que acumulamos, ou carregaremos consequências amargas e pesos inúteis. Algumas vezes, será preciso, inclusive, nem chegar perto de pessoas e de situações, pois quanto menos daquilo tivermos, mais felizes estaremos. A palavra-chave é equilíbrio.

Tem gente que trabalha demais, tem gente que trabalha de menos. Tem gente que pensa demais, enquanto outros nem pensam. Tem gente que ama demais, já outros exageram na medida da frieza. Uns se exercitam além da conta, mas há quem não se mexa. É muito difícil sabermos a dose exata de tudo o que trazemos para nossas vidas, porque as aparências enganam, as pessoas enganam e a gente se engana muito. Nem tudo aquilo que é gostoso faz bem, ao passo que nem tudo o que faz mal é ruim.

Da mesma forma que nos entregarmos a tudo sem precaução pode ser perigoso, negarmos qualquer coisa que não esteja incluída na lista de itens saudáveis pode nos privar de alguns prazeres que fariam diferença na qualidade de vida que temos. Comer bacon todos os dias acabará certamente com nossa saúde, mas nunca se permitir experimentar um doce soa a exagero. Porque não dá para ser feliz e tranquilo se policiando vinte e quatro horas por dia. Quem presta demais atenção em si mesmo não terá tempo de curtir muito do que acontece lá fora.

E outra, temos que ousar, de vez em quando, para que erremos e aprendamos, porque sentir na pele as dores das consequências em muito nos ajuda, tornando-nos melhores e mais convictos do que somos, de nossos sonhos, de quem realmente vale a pena manter por perto e de quem tem que ficar bem longe. Passar do ponto, vez ou outra, ajuda-nos a sermos mais fortes do que os nossos medos, ajuda-nos a sair do lugar, a não estacionarmos enquanto a vida vai passando em volta de nossa estagnação.

Quem muito escolhe acaba ficando sem nada, quem se preocupa demais contando calorias não sente o gosto, quem nunca erra não aprende, pois já sabe tudo. Ninguém, aqui, está afirmando que é besteira preocupar-se com a saúde ou com as atitudes tomadas, vivendo perigosamente todos os dias, nada disso. Apenas é aconselhável não se privar de tudo o que faz mal, nem de todos que não são perfeitos, porque, dessa forma, também poderemos estar nos afastando de prazeres e de pessoas interessantes. Como dizem, afinal, existem certos erros que beijam tão bem…

Imagem de capa:  shutterstock/Orla

Dor. Ainda que não pareça, vai passar

Dor. Ainda que não pareça, vai passar

Que tarefa mais difícil, a de acreditar que uma dor passará, justo naquele momento em que ela vem com tudo, e leva tudo o que poderia servir de consolo e esperança.

Qualquer dor, desde que doa, se apresenta como se viesse para ficar, para jamais nos deixar. Talvez, uma das sensações mais reais que possamos sentir. A dor nos despedaça. E, juntar os pedaços, nos parece sempre um ato impossível. A dor nos rouba as forças, o colorido, a porta para o futuro.

No tempo de dor, só o que alivia são os pequenos momentos de consolo, solidariedade, empatia. E como fazem diferença! Ainda que não afastem a dor, negociam uma trégua, nos arrancam alguns sorrisos e poucas esperanças.

Dor de perda, dor de remorso, dor de desamor, dor de corpo e de alma. Dores que irradiam e são capazes de nos transformar em algo que nunca fomos. Até essas passam. Embora não pareça, elas passam.

A dor só dura o tempo que a ferida tem para curar. O mais importante é deixar curar. Se a gente fica arrancando a casquinha, ela volta, muitas vezes, pior. E arrancar as casquinhas das dores é quase uma especialidade nossa. É querer a cura mas não deixar cicatrizar. É mexer no que já foi tão traumatizado e magoado. Contaminar aquilo que o tempo, pacientemente, se encarrega de finalizar.

A gente se agarra até às dores, não quer deixar passar. E depois reclama da vida amarga que sempre teve. É preciso deixá-las. As dores entram na nossa vida para cumprir um papel temporário. Muitas vezes ensinam, educam, noutras, derrubam, pisoteiam. E sempre doem! Mas passam. Um dia, passam.

E quando uma dor está indo, nada de chamá-la de volta. Nenhuma nostalgia cabe na partida de uma dor. O melhor a fazer é nos despedir, certos de que não será a última dor da vida, mas que também passará.

Imagem de capa: shutterstock /kittirat roekburi

 

É importante não embrutecer o coração em tempos de desapego

É importante não embrutecer o coração em tempos de desapego

Eu sei que o mundo tem andado pelo avesso e que o desapego nunca esteve tão na moda. As relações estão cada vez mais efêmeras e desinteressantes. Mas é importante, e muito, não embrutecer o coração nesses tempos onde o mais foi trocado pelo tanto faz.

O duro é que esquecemos de como gostar da companhia de alguém. São tantas oportunidades de conhecer outras pessoas que, vez ou outra, passamos do ponto de ligar ou se importar com quem quer que seja. Parece existir uma predileção pela tortura do outro. Em vez de assumirmos uma postura sincera e dizermos o quanto antes que aquela não nos atrai densamente, optamos por essa manipulação esquisita, deixando alguém no famoso “stand by” enquanto resolvemos nos aventurar em diferentes metades. É algo muito estranho a ser feito, mas que parece fazer sucesso entre alguns.

Só que ao destratarmos o afeto de alguém, não percebemos os entristecedores males causados naquele coração em questão. É daí que surgem os descasos, destemperos e incredibilidades no tal do amor. Coitado, vira e mexe ele é lançado nesse redomoinho de expectativas superestimadas e mal conduzidas. Mas me recuso a acreditar que o amor possa terminar assim, surrado e nas mãos dessa gente que idolatra o constante viver de mutos pares e poucos ímpares. Somos livres para descansarmos nos sentimentos alheios, não importa o momento. Ainda assim, não custa nada nutrirmos uma dose de responsabilidade afetiva para com quem não encontramos tantos motivos para continuarmos.

Depois não adianta reclamar do mundo, das pessoas que aqui vivem e nas formas das quais elas reproduzem o amor. A culpa não é dele e sim nossa. Quando o complicamos, quando queremos forçá-lo a tomar caminhos egoístas, simplórios e separados. Nesse processo, é essencial para o coração manter-se aquecido. Torná-lo bruto em tempos de desapego não é benéfico para ninguém. Quem não quer estar, que parta. Mas se for pedir um lugar aqui dentro do peito, que venha trazendo ternura e reais intenções de soma.

Imagem de capa: Song to Song (2017) – Dir. Terrence Malick

Aos leitores de olhares

Aos leitores de olhares

Todos nós, em algum momento da vida, independente de qual seja a causa, passamos por momentos difíceis. São aqueles dias em que a vida perde a cor, o mundo lá fora é assustador, mas viver dentro dos nossos próprios corpos também é. São os dias em que gostaríamos de sumir, mas não temos para onde; em que gostaríamos que alguém nos abraçasse e pudesse simplesmente captar e entender toda toda a tortura e agonia que explode dentro de nós, assim, sem que precisemos dizer uma palavra.

Ultimamente, dados alguns acontecimentos que não poderiam me deixar de outra forma, tenho estado nesses dias. Comer é um sufoco. Sair de casa é um sufoco. Falar sobre os meus sentimentos? Dificílimo. Visto o melhor sorriso que consigo, cubro as olheiras com maquiagem e saio por aí fazendo o necessário. Exceto pela perda de peso que sempre denuncia que as coisas não vão muito bem comigo, eu engano direitinho. Alguns dias são melhores; noutros, levantar da cama é missão impossível, mas, como sou mestre em ocultar sentimentos – ainda que não o faça de forma voluntária – poucos parecem notar a diferença.

Mas, recentemente, um amigo – uma daquelas raras pessoas que ainda carregam sorrisos de criança e que parecem ter nascido com a função de ser anjo para aqueles que precisam – me chamou a atenção ao acertar, por vários dias seguidos, antes mesmo que eu tivesse tempo de esmiuçar qualquer expressão facial ou dizer alguma palavra, como estava o meu estado de espírito: “Patrícia, hoje tu não tá muito bem, né?” “Olha, tô feliz de te ver, hoje tu estás bem!”

Comecei a ficar intrigada, resolvi até testá-lo. Num determinado dia em que nos encontramos, não estava me sentindo muito bem, mas, mesmo assim, propositalmente caprichei no sorriso e na empolgação ao cumprimentá-lo e, para minha surpresa, ele olhou demoradamente para o meu rosto e concluiu: “Patrícia, não gostei do que vi, tu não estás bem!” Bruxaria? Leitura de pensamentos? A curiosidade estava me matando e decidi perguntar: ” Qual é o segredo? Como tu sempre adivinhas como estou me sentindo?” “É simples, Patrícia” – ele respondeu “Quando tu estás feliz, teus olhos brilham”.

Isso não saiu mais da minha cabeça. Em tempos de sensibilidade minguada, de olhares que fogem uns dos outros e que passam mais tempo voltados para telas de celulares, me descobri perplexa e comovida ao constatar que ainda existem leitores de olhares. Mal eu sabia que meus olhos me denunciavam. Talvez eles tivessem a espera de outros que ainda preservassem suficiente inocência para serem capazes de ver o que ninguém mais vê; de enxergar os brilhos que são visíveis apenas a almas nuas.

Graças a ele, agora sei o que perseguir, agora tenho um medidor de felicidade mais genuíno do que qualquer riso espontâneo que os meus lábios possam vir a formar; agora sei que, ainda que eu tenha conhecido a escuridão, meus olhos sempre serão capazes de brilhar e que, quando isso acontecer, terei a certeza de que haverá alguém no mundo apenas esperando para dizer: “Nunca perca esse brilho”.

Emagem de capa: eldar nurkovic/shutterstock

Não perca seu tempo regando pedra

Não perca seu tempo regando pedra

Um dia assim, quase sem querer, a gente se pega com um regador na mão regando uma baita pedra.

Parece que já virou costume regar pedras pelo caminho. A gente faz por instinto, costume ou por pura ingenuidade. A gente acredita que dali vai brotar algo, vai nascer folha, fruto, flor.

Então lá se vão litros de tempo e cuidado perdidos com uma pedra. Uma pedra que não deixará de ser pedra. Não, não adianta dizer que a pedra vai crescer, que ela vai ganhar vida e vai virar outra coisa que não ela mesma. Não, não importa o que você faça, a bendita pedra vai ficar ali, assim como estava antes de você chegar, e permanecerá exatamente igual quando você partir.

Um dia a gente tem que olhar para pedra e ser menos poético. Tem que olhar para pedra e ver pedra mesmo. Tem que se enxergar, se tocar e perceber que alguns caminhos não levam a lugar algum. Que algumas pessoas não mudam. Que algumas situações são complicadas e que não dá para resolvê-las sem o apoio do outro.

Um dia a gente tem que colocar na cabeça que há um caminho além das pedras e que ele merece ser priorizado. Que a gente tem que ser cuidadoso com o nosso tempo. Que o nosso tempo é valioso e finito. Que tudo que desprendemos desnecessariamente para regar pedras pode nos fazer falta em algum momento da vida.

A gente tem que aprender, de uma vez por todas, que tem muito chão precisando de água por aí. Que tem muito coração sedento de amor. Que tem muita gente boa ao lado de quem vale a pena caminhar.

Não importa quantos litros desperdiçamos com uma pedra, dela não virá uma única gota para nos saciar se um dia tivermos sede.

Talvez tenha chegado a hora da gente descansar os braços estirados pela rega desnecessária. Talvez tenha chegado o momento da gente guardar os regadores e chover cuidado em tudo aquilo que merece ser efetivamente regado.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Na disputa entre suas vontades e seu domínio próprio, quem vence?

Na disputa entre suas vontades e seu domínio próprio, quem vence?
Undatierte Aufnahme des deutschen Schriftstellers Hermann Hesse bei der Lektüre in seinem Arbeitzimmer in Montagnola. Hesse wurde am 2. Juli 1877 in Calw/Württemberg geboren und verstarb am 9. August 1962 in Montagnola/Schweiz. 1946 wurde er mit dem Nobelpreis für Literatur ausgezeichnet.

O título refere-se ao tema principal do romance “O lobo da Estepe”, do alemão Hermann Hesse. O romance de 1927, é tema de grandes discussões até hoje, visto que aborda temas atemporais, polêmicos e individuais.

Hesse definia sua obra de forma objetiva: “ser um lobo da estepe não é um capricho de um solitário, mas a enfermidade do próprio tempo.”

De forma muito resumida (fica aqui a sugestão de leitura do livro) a história de “O lobo da Estepe” não é nada simples. Harry Haller, protagonista da obra e intitulada, por ele mesmo como “o lobo da estepe, é um sujeito culto que se julga autossuficiente e, por isso mesmo, torna-se um ser antissocial. Halley não acredita em amizades, amores ou qualquer relação humana que possa ser estabelecida através da convivência. Vive seus dias, em Berlim, no início do século XX, como um lobo solitário.

Diante de vários questionamentos que envolvem questões sobre a própria existência, o protagonista resolve acabar com a própria vida, já que não vê motivos suficientes para permanecer nesse mundo. Porém, no dia em que resolve cometer o ato, Haller conhece uma mulher que mudaria seus pensamentos em relação à humanidade, fazendo-o acreditar que existem “pessoas” que valham a pena dividir os dias. O problema enfrentado por Haller é que, ao envolver-se sentimentalmente com ela, o protagonista é tomado de sentimentos desconhecidos por ele (ataques de pânico e fortes crises de angústia e desespero), visto que a rotina de solitário tinha dado lugar à convivência de casal.

História apresentada, foquemos nas mensagens de Hesse, descritas nas entrelinhas dos pensamentos de Haller.

Uma das frases mais marcantes do livro, embora represente uma justificativa do comportamento solitário do protagonista, proporciona várias interpretações que levam a sociedade a refletir sobre os próprios sonhos: “Todo o homem forte alcança infalivelmente aquilo que procura com verdadeiro afinco” e, continuava ao argumentar sobre sua opção pela solidão: “(…) pobre daquele que não pode se dar a um prazer sem pedir antes a permissão dos outros”.

Se por um lado a solidão era justificada por Haller, por outro entendia que a dor era uma condição de melhorarmos como humanos: “o homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe”.

Outro subtema recorrente do livro é o suicídio. Apesar de estar convicto que praticaria tal ato, Haller demonstrava uma luta, no campo da mente, entre a razão e o desejo: “(…) a todos os suicidas é familiar a luta contra a tentação do suicídio. Cada um deles sabe muito bem, em algum canto de sua alma, que o suicídio, embora seja uma fuga, é uma fuga mesquinha e ilegítima, e que é mais nobre e belo deixar se abater pela vida do que por sua própria mão”.

Essa luta entre razão e desejo estende-se por todo o livro e leva o indivíduo a refletir sobre sua postura em relação à sociedade que está inserido: “tenho manifestando já por vezes minha opinião de que cada povo e até cada indivíduo, em vez de sonhar com falsas “responsabilidades” políticas, devia refletir a fundo sobre a parte de culpa que lhe cabe da guerra e de outras misérias humanas, quer por sua atuação, por sua omissão ou por seus maus costumes; este seria provavelmente o único meio de se evitar a próxima guerra.”

Ouso dizer, em uma humilde e objetiva opinião, que Hesse pretendia levar o homem à refletir sobre suas próprias batalhas mentais, já que todos nós temos vários “Eus” dentro da mente. Se hoje somos amáveis, amanhã podemos estar raivosos. Se uma situação nos agrada, em outro momento pode nos incomodar. A questão é como lidamos com essas situações e até que ponto as emoções prevalecem sobre nossas ações.

Autocontrole, domínio próprio e razão deveriam ser natos no ser humano, mas como não são, o mesmo criar essas qualidades como forma de sobrevivência. “Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”. (Hermann Hesse)

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