Sou o meu próprio caminho, o meu próprio tempo

Sou o meu próprio caminho, o meu próprio tempo

Eu já não sou mais o tipo de pessoa que finge alguma coisa. Se sinto saudade, digo. Se sinto amor, amo. E se não tenho vontade de estar e fazer parte de algo ou alguém, vou embora. Com o tempo, aprendi que o jeito mais honesto de encontrar a felicidade é respeitando as minhas escolhas.

Desde que passei a conhecer e entender das minhas metades, pude admirar com sinceridade os meus inteiros. Descobri que a solidão não é ruim se você não lutar contra ela. Porque solidão não quer dizer ausência do outro. Pelo contrário, solidão é autoconhecimento e cumplicidade consigo. É ter a força e a leveza de acreditar, confiar e buscar motivos para seguir adiante. Futuro algum está escrito no presente. Deixei de lado essa arrogância de ignorar o hoje pensando no amanhã.

E o mesmo vale para o amor. Sou uma colcha de retalhos dos amores que tive. Não há razão para apagá-los da memória. Por causa deles, conheci o verdadeiro gosto da minha pessoa. Tive decepções e alegrias, mas sobrevivi. Continuei e continuo vivendo por enxergar o amar como uma jornada a ser escrita em muitas mãos. Desejar um limite de tempo e intensidade para o amor, é não permanecer de olhos fechados e coração aberto.

Quero o simples. O extravagante não me impressiona ou inveja. Valorizo os momentos em que compartilho conhecimentos. Neles, quebro ordens e paradigmas. Viro caos antes de vestir tranquilidade. Não ligo para o que pensam, contanto que respeitem os espaços permitidos. É fundamental não entrar sem convite. A menos que seja uma encomenda surpresa, com o remetente carinho e o carimbo em gentilezas.

Cá pra nós, preciso de muito pouco para ser. Ainda erro e tropeço em algumas emoções, não tenho problemas para confessar isso. Mas, por incrível que pareça, ando abraçando mais chegadas do que partidas. Tudo no meu próprio tempo, no meu próprio caminho.

Imagem de capa: vladee, Shutterstock

Fugir do roteiro

Fugir do roteiro

Depois de caminharmos alguns minutos pela praia, meu amigo Filip apontou à frente: – Ali têm duas pedras que formam um coração perfeito. Se você vier aqui e não tirar uma foto lá, não veio. Respondi com ares de moleque: – Se todo mundo vai, eu não tenho o que fazer lá. Não há nada para se descobrir nos lugares em que todo mundo já foi – E saí andando na outra direção.

E foi assim que deixei de ver a troca da guarda real em Londres para conhecer uma trupe de atores em St. Martin’s Gardens. Foi assim também que me encantei bem mais vendo como os jovens franceses matavam o tédio dos fins de tarde bebendo vinho barato e conversando à beira dos canais do que com as obras do Louvre. Foi desse jeito que descobri muito mais sobre o Monte Roraima e seus demônios brincando com as crianças do vilarejo do que com o guia da Roraima Tour. Meus amigos foram para o tango? Preferi ir para as baladas subterrâneas de Buenos Aires. Alguém já te disse que aquela cidade pode ser eletrizante? Digo eu.

Eu sei, soa implicante da minha parte. Concordo que há lugares que precisam ser conhecidos se eles significarem algo para você. Dureza é pensar que tem gente que vive sem questionar os rumos que toma, as escolhas que faz, gente que segue roteiros que alguém escreveu, seja para viajar, seja para amar, seja para sofrer. E seguem vendo os mesmos lugares, tirando fotos ocas em monumentos sem graça, comendo nos mesmos cantinhos, dormindo nos mesmos hotéis que a amiga da amiga indicou por puro medo de se frustrar e ferrar a coluna. Arriscar é se permitir errar, mas é antes e acima de tudo se permitir a descoberta de novos acertos.

O poeta português José Régio já bem dizia em seu Cântico Negro: “Ninguém me diga: ‘Vem por aqui’. Não sei por onde vou, não sei para onde vou. Sei que não vou por aí”. E seguem tentando nos guiar para as profissões pré-fabricadas, para as franquias emocionais pré-testadas, para os abusos com os quais nos acostumamos de tão repetidos que são. Desconfie das verdades preguiçosas que tentam contar para a gente. Desconfie, rápida e imediatamente, não do que os outros lhes dizem, mas do que sua alma diz a si mesma ao sabê-lo, em um misto doce de curiosidade e intuição.

Só existe hoje um coração perfeito feito de pedras à beira do mar porque um dia alguém decidiu que era hora de tomar uma direção diferente. E o fez, doce e teimosamente, como aos poucos tudo à nossa volta nos desensinou a ser.

Imagem de capa: Evgeny Glazunov/Shutterstock

“Somos finos como papel”

“Somos finos como papel”

Essa semana uma grande amiga perdeu o marido. Aquela manhã parecia ser o início de mais um dia comum, eu fazia abdominais no chão da academia quando uma mensagem no meu celular trouxe a triste notícia. Pegamos a estrada e fui ficar ao lado dela. Porém, não havia palavras que estancassem o desamparo, não havia presença que camuflasse a solidão, não havia argumentos que dissipassem a dor.

No final da tarde, quando me despedi dela, percebi que se preparava para as horas mais difíceis. Ter que encarar a vida, tal qual como ela é, sem uma parte de si mesma. Ter que confrontar a realidade e encontrar palavras para contar à filha de dois anos o que tinha acontecido. Ter que encarar a hora de se recolher e enfrentar a aridez da ausência e da amarga imprevisibilidade da vida.

Certas coisas são inevitáveis nesta vida, e a morte é uma delas. A morte nos mostra que “somos finos como papel” (como recitou Bukowski), e que em algum momento de nossas vidas sentiremos desamparo, tristeza e solidão. Mas não precisamos antecipar o fim. Apenas entender que é urgente amar mais, despertar mais alegria ao nosso redor, dissipar cobranças desnecessárias e controles irrelevantes, perdoar quem nos feriu e zerar as mágoas com nossa história.

Diante da vida e de seus caminhos tortos, é comum não compreender. E é essa incompreensão que nos torna humanos. É essa incapacidade de encontrar sentido no sofrimento que nos torna semelhantes.

Todos nós somos assim. Todos nós atravessamos desertos e sentimos desamparo uma vez ou outra. Porém, algumas pessoas carregam fardos maiores. Algumas pessoas são desafiadas a enfrentar estiagens persistentes e tempestades abundantes. Minha amiga é uma dessas pessoas. O marido não foi a primeira de suas perdas, e ela luta para não enrijecer. Luta para não deixar de lado a delicadeza e a gentileza com a vida. Luta para continuar inteira ainda que lhe faltem pedaços. Tem muito a me ensinar, eu que ainda estou a engatinhar.

O sofrimento traz muitos ensinamentos, mas também leva um pouco da nossa vitalidade. É preciso cuidado para que nosso caminho permaneça florido apesar de todos os espinhos. Para que a fé em Deus e em seus propósitos não seja colocada à prova. Para que a gente não se blinde demais, mas siga acreditando que em algum momento será capaz de sorrir de novo.

Naquela tarde triste, uma música foi cantada. A letra é conhecida e diz assim: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura nas mãos de Deus e vai… Não temas, segue adiante, não olhes para trás; segura nas mãos de Deus e vai…”. Talvez essa música resuma tudo. Deus dá, Deus tira. Não temos controle nem compreensão, e diante do inevitável tem que permanecer a confiança. A capacidade de conseguir entregar o restante de nosso caminho a Deus, mesmo que a vida nos tenha feito em cacos.

Há momentos em que viver dói. Dói pela descoberta de nossa insignificância e impotência. Dói por descobrirmos, não sem uma ponta de decepção, que não controlamos nada. Dói por constatarmos que perdemos tempo travando batalhas diárias em busca de dinheiro, posição social, status, reconhecimento, popularidade. Dói por compreendermos que mais cedo ou mais tarde a vida acabará por desfazer a ilusão de que podemos prever ou controlar tudo.

Mas essa descoberta também nos faz crescer. Faz com que a gente valorize o chão que pisa e reconheça o que é essencial. Faz com que a gente sofra menos por coisas miúdas e não dê tanta importância à unha quebrada, roupa que não combina ou crush que não liga.

Queria dizer à minha amiga que ela é especial. Que, de alguma forma que nosso raciocínio humano não é capaz de entender, ela precisava estar ao lado dessas pessoas que se despediram da vida ao lado dela. Que somente uma pessoa como ela seria capaz de doar um pouco de paz e serenidade àqueles que tinham que partir. Que de vez em quando servimos de instrumento para a ação de Deus, e mesmo sofrendo muito, somos convidados a abraçar a dor e transformá-la em amor.

“Somos finos como papel”. Num instante, tudo muda. Não temos tanto tempo. A vida não é eterna. Nunca estamos prontos. A vida é um soluço entre o nascer e o morrer. É preciso amar mais. É preciso dizer às pessoas que as ama. É preciso fazer a diferença. Ser gentil. Ser generoso. Não acumular culpas. Perdoar. Valorizar. Não sofrer à toa. Perceber que não há tempo certo para ser feliz. O agora nos chama. O hoje é aqui. O tempo é curto. O tempo passa depressa, e mais do que o tempo, nós passamos depressa…

Imagem de capa: / Shutterstock

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De uns tempos pra cá, mudei. Foi a melhor coisa que fiz.

De uns tempos pra cá, mudei. Foi a melhor coisa que fiz.

De uns tempos pra cá, mudei. Comecei a dar a importância que as coisas têm e parei de sofrer por bobagens. Se antes, ponderava muito antes de sair das relações e ficava como porteiro desequilibrado tentando controlar o fluxo e as despedidas, hoje ajudo a fazer as malas e fecho a porta sem arrependimento.

Não, não me tornei uma pedreira. Não sou insensível. O meu coração continua bobo por sutilezas, tem predileção por exageros bonitos, bate na frequência mais forte, e às vezes, fica descompassado e louco quando se depara com alguma beleza extravagante. O que acontece é que não faz sentido colocar intensidade nas coisas que não vibram. Despejar amor em corações baldios e improdutivos. Se dedicar a quem não sabe o que é ter alguém que se preocupa com a qualidade do seu dia e que espera ansiosamente pelo carinho do seu abraço. Alguém que cuida e se doa nos mínimos detalhes só pra ver a dança da felicidade se exibindo no seu rosto.

Toda mudança requer um olhar demorado sobre as coisas, e ainda me pego pensando nos penduricalhos inúteis que guardei ao longo dos anos; amizades de ocasião, que duraram apenas o quanto pude dar a elas a minha melhor versão. Pseudoamores que despejaram uma carga de insegurança na minha vida e me fizeram duvidar de que o pré-requisito pra ter o amor genuíno é cultivar o próprio. A vida virou uma extensa passarela, onde vi tudo se exibir com pressa e se desmanchar, sem nenhum entusiasmo, sem nenhuma verdade, sem compromisso algum com a reciprocidade. Pessoas que chegaram, interpretaram suas cenas com calculada frieza e desapareceram.

Hoje cuido dos meus afetos com demorada alegria. Sem deixar os meus desejos pra depois. Sem estocar os sentimentos porque coração intenso é órgão que vive exposto. Mas, compreendi que é preciso domesticar os ímpetos e fazer triagem do que fica, de quem fica nestas terras sagradas, neste coração que não precisa sofrer quedas desnecessárias pra descobrir o quanto é importante. Hoje, sei me despedir sem achar que é o fim do mundo, sem imaginar que viver sem uma pessoa vai comprometer a minha vida inteira. Hoje, compreendo que quem não fica é porque não quer. Aprendi que a primeira cláusula de um sentimento verdadeiro se chama “liberdade”.

De uns tempos pra cá, mudei. Foi a melhor coisa que fiz.

Sobre dizer eu te amo

Sobre dizer eu te amo

Lembro que nunca gostei muito daquela banda que você adora e mesmo assim passei noites seguidas ouvindo as músicas, analisando cada letra e batida, porque queria sempre ter o que conversar. Nunca fui muito fã de comida japonesa. Porém, cada vez que você me convidava eu ia sem reclamar e ainda tentava comer com palitinhos para te impressionar.

Sempre odiei falar ao telefone e mesmo assim, em todo momento que meu celular tocava eu atendia correndo e passava horas, trocando o aparelho de mão para não cansar. Durante toda a minha vida eu tive costume de dormir cedo. Contudo, durante meses vi o dia amanhecendo com você do outro lado da tela do computador.

Eu deixei de lado minhas preferências e me concentrei apenas no que eu sabia que ia te interessar. Soltei meu rotineiro rabo de cavalo e deixei que meu cabelo caísse sobre os meus ombros, bem do jeito que você achava bom. Frequentei bares, mesmo não gostando do ambiente. Viajei para praia, ainda que eu preferisse o campo. Assisti incontáveis filmes, embora eu gostasse muito mais de acompanhar séries.

Larguei o livro de romance que estava lendo e comecei aquele de suspense que você tanto queria conversar sobre. Eu saí do meu casulo. Eu abri espaço para você entrar. Contei sobre mim, mesmo odiando ser o foco do assunto. Acordei de madrugada para contar de um pesadelo e ouvi, calmamente, todos os seus. Te abracei. Te olhei dormir. Te esperei acordar.

E ainda, mesmo depois de tudo isso, você ainda tem a coragem de falar que eu nunca soube dizer eu te amo.

 

Imagem de capa: Ivanko80/shutterstock

Antes de Partir

Antes de Partir

Lúcia é minha amiga desde que me entendo por gente. Tenho a impressão de tê-la visto à beira do berço me fazendo caretas já nos meus primeiros dias. Me acostumei a tê-la ali, espevitada, cheia de energia, morando do lado da casa onde cresci. Há alguns meses, o pai dela adoeceu e descobriu que estava morrendo de uma doença rara. Perguntei como era se despedir de alguém devagarinho, como era possível dar adeus tão pausadamente? Uma dor inconcebível, imagino.

Ela me contou que ele estava calmo e que ao contrário do que muita gente imagina nessas situações, não queria saltar de paraquedas, viajar pelo mundo ou fazer uma tatuagem. Ele pediu para voltar pra casa e continuou fazendo café com seu famoso pão de queijo para que seus amigos e sua família pudesse encontrá-lo. Ele já havia conhecido muitos lugares, mas nada se comparava à paz que sentia ao observar a fervura da água, o cheiro do forno preenchido de afeto e paciência. Um dia, fez algo que não costumava fazer: dormiu até mais tarde. E foi assim, sem alarde, que ele nos deixou.

Hoje fiz meu café e fiquei sentado na ponta do sofá com a xícara acolhida entre as mãos como se fosse um pequeno pássaro, olhando para a luz que vinha de fora da janela. Parte de mim pensava na sabedoria de Lúcia diante da morte. Sabedoria que sinceramente não sei se saberia um dia ter. Ela falava de seu pai com a doçura de quem ia revê-lo na noite de Natal, tangendo as crianças da mesa de doces.

Minha outra parte pensava nas pessoas com quem gostaria de passar meus últimos dias. Nos tantos amigos que não caberiam numa mesa, nas nossas músicas preferidas, Lúcia certamente estaria entre elas. Lembrei de todas as pessoas que já me surpreenderam com sua doçura deixando instantaneamente de ser desconhecidos meus, senti uma saudade danada da minha família.

Pensei no quão adoraria passar meus últimos dias com a pessoa que mais amei na vida vendo-a reclamar de qualquer bagunça que eu fizesse na cozinha, vendo-a alinhar os temperos como quem despreza a importância do tempo, vendo-a pegar no sono com um programa de TV, e eu diria boa noite mesmo sabendo que ela não me ouviria. Como se o fim da vida fosse só um dia preguiçoso que esqueceu de acordar.

Imagem de capa: Kite_rin/shutterstock

“Duas pessoas que se amaram muito têm que ser amigas, senão o mundo fica cruel demais”

“Duas pessoas que se amaram muito têm que ser amigas, senão o mundo fica cruel demais”

Existe um período de tempo que os ex amantes necessitam para se recuperar de uma separação. Esse período pode durar dias, meses ou anos. Porém, chega uma hora em que as mágoas são dissipadas, as lembranças dolorosas não machucam mais, e o carinho pelo tempo de convivência aflora.

Cedo ou tarde esse momento chega para todos que um dia se amaram. Porém, nem todos conseguem romper a barreira do estranhamento e se reaproximar de um jeito novo.

Existe um ciclo afetivo que determina um prazo até que estejamos prontos para nos relacionar novamente com aqueles que um dia amamos. Esse ciclo estabelece um período de tempo em que temos que nos curar e sermos capazes de direcionar nosso afeto, nosso carinho e nossas boas lembranças para um novo tipo de relação: a amizade.

Foi Domingos de Oliveira que disse: “Aqueles que se amaram muito um dia têm que permanecer amigos para sempre, senão o mundo fica cruel demais“. Pois eu penso da mesma forma. Não há crueldade maior que nunca mais trocar algumas palavras com aqueles que um dia amamos. Não há insensatez maior do que acreditar que não é possível olhar para trás com ternura e afeição, sem um pingo de má intenção. Não há incoerência maior que imaginar que o amor não possa se transformar numa amizade real e desprovida de recaídas.

Por alguma razão seguimos em frente por caminhos distintos, mas isso não significa que colocamos uma pedra em cima do que fomos ou do que vivemos. Carregamos em nós retalhos de nossas vivências e vestígios de nossas experiências afetivas.

Como filha de pais separados que estiveram juntos por quarenta anos, me alegra perceber que o hiato de mágoas, desconforto, tristeza e ressentimento entre eles chegou ao fim. Devagar conseguem se apoiar nos momentos difíceis, posar para fotos juntos nos aniversários dos netos e compartilhar a alegria dos bons momentos.

Mais que um gesto de civilidade, eles permanecem se amando de um jeito novo, com muito menos dor. Crueldade seria permitir que o tempo passasse sem voltarem a se cumprimentar. Crueldade seria autorizar o avanço da vida sem nunca mais sentarem à mesma mesa para tomarem um chá.

Aqueles que um dia se amaram muito jamais poderão agir como meros desconhecidos. Depois que a poeira baixa e as feridas cicatrizam, ainda resta a possibilidade da amizade. Não como um prêmio de consolação, e sim com a certeza de que é possível usufruir desse vínculo de uma outra maneira, muitas vezes bem melhor.

Por mais doloroso que tenha sido o fim, um dia deixará de doer. E sentiremos falta da pessoa _ não como objeto da nossa paixão _ e sim como alguém que queríamos sempre por perto. Tornar possível a amizade com quem um dia amamos é um gesto de amor próprio.

Porém, é importante ressaltar que não devemos romantizar essa amizade, e sim entender que ao possibilitarmos esse elo, estamos aumentando nosso repertório de relações humanas, amadurecendo nossa afetividade, nos tornando melhores e mais sensíveis. Não há perdas, só ganhos.

Sendo assim, só posso concluir que a tristeza pelo fim de uma relação amorosa pode ser amenizada pela esperança de um dia nos tornarmos amigos. Pela possibilidade de um dia voltarmos a nos encontrar de uma forma mais suave, sem o medo de ser abandonado, sem a insegurança da paixão, sem as cobranças e exigências de uma relação. Talvez isso amenize a dor do fim. Talvez isso possa ser o combustível para termos paciência com o tempo e as demoras. Talvez isso nos permita ver a vida como um ciclo de finais e recomeços…

Imagem de capa: Suzanne Tucker/ Shutterstock

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Um pouco de cada um

Um pouco de cada um

Sempre existem pessoas ao nosso redor difíceis de se conviver. São tantos temperamentos, ideias e personalidades que, muitas vezes, pensamos em como seria melhor se só tivéssemos semelhantes ao nosso redor. Ocorre que essa diversidade toda tem uma razão: temos muito a aprender com cada “tipo” de individuo, afinal, somos seres em constante reformulação e aprimoramento.

Se pararmos para pensar, é incrível como todas as pessoas acrescentam algo em nossas vidas. E são muitos os indivíduos que cruzam o nosso caminho durante a nossa jornada, alguns “bons”, outros “maus”, uns paranoicos, outros perfeccionistas, uns chatos, outros “devagar-quase-parando”, uns “da paz”, outros insuportáveis…

Gente dos mais variados tipos e temperamentos…
Mas todos, se formos ver a fundo, nos ajudam a ser melhores, a crescer e a perceber que não somos seres estanques, com personalidades já formadas e imutáveis, definidos e ponto final.
Por exemplo, aquele chato e teimoso, que vive nos “charopiando” com alguma coisa, acaba por nos mostrar que, às vezes, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”…

Aquela pessoa totalmente “da paz”, que não se incomoda com nada e com ninguém, para quem todo mundo é bom, nos faz ver que, em algumas ocasiões, somos rudes demais, que temos que tentar ver o lado bom das pessoas – todos o tem, nem que seja um pouquinho – e que não vale a pena se estressar por pouca coisa…

O perfeccionista, por sua vez, nos induz a perceber que temos (e podemos!)nos dedicar muito para determinadas coisas, que algumas realmente precisam de todo o nosso empenho para acontecerem…
O insuportável, outrossim, pode transformar-se num espelho e nos fazer enxergar que, às vezes, também o somos, que em alguns momentos – não quase todos, como ele, é claro! – nos tornamos tão chatos, insistentes ou forçados que quase nem nós aguentamos a nossa presença…

O “devagar” demonstra que, às vezes, temos que dar uma freada na vida, diminuir o ritmo, ir curtindo a paisagem, afinal, o mundo não vai acabar no instante seguinte…

O “paranoico” pode nos fazer ver que dedicamos pouca atenção para determinados aspectos da nossa vida, que devemos, sim, ser “relax”, mas nem tanto para coisas importantes como, por exemplo, a nossa saúde…

O “bondoso”, ao seu turno, nos faz lembrar que todos temos uma centelha de bondade dentro de si, que somos capazes de distribuir amor e solidariedade para quem menos imaginamos, e que sonhar com um mundo melhor não é tão sem fundamento assim…

O “mau”, por fim, nos impede de esquecer que não há pessoa sem um tantinho que seja de maldade, e que, em algum momento de nossas vidas, acabamos a transparecendo – nem que seja matando uma formiga que nem estava nos incomodando ou magoando, conscientemente, alguém que nos ama -, e por isso não somos moralmente legítimos para julgar quem quer que seja…

E assim por diante, tendo em vista a imensa variedade de seres humanos que habitam esse planeta. Interagimos, crescemos com isso, e mesmo que as pessoas com quem cruzamos não nos pareçam as melhores companhias, elas sempre têm algo a acrescentar, inclusive valores importantes, e nós, por consequência, na vida delas…

Então, no fim das contas, somos todos uma mistura uns dos outros, seres sempre em reformulação, razão pela qual devemos tentar extrair o que há de melhor em cada um que cruza o nosso caminho…

Imagem de capa: Rawpixel.com/shutterstock

13 regras de etiqueta do século 21 para evitar constrangimento

13 regras de etiqueta do século 21 para evitar constrangimento

Ser original é maravilhoso. Ainda assim, ser educado, gentil e respeitar os limites dos outros nunca cairá de moda. O que muda com o tempo são nossos comportamentos e a maneira como interagimos com as pessoas.

“Gentil é aquele que passa pela vida do outro, toca-o com leveza e marca-o onde ninguém mais pode ver.” 

Abaixo, segue uma lista inspirada em um texto do Incrível. Nela, são listadas algumas “regras de etiqueta” atuais (umas mais do que as outras). É claro que não existe verdade absoluta, mas o velho e equilibrado bom senso é sempre bem-vindo!

Etiqueta = pequena ética 

1- Olhar para pessoa com quem você está conversando. Se alguém falar com você, esqueça que existe celular, por exemplo. As maiores grosserias de hoje estão relacionadas com o uso de eletrônicos. O ser humano é, e deve continuar, sendo o nosso foco principal de interação. Ainda mais porque é absolutamente impossível prestar atenção com qualidade nas duas coisas ao mesmo tempo.

2- Não marque seus amigos em fotos, independente de eles saírem bem ou mal.  Na maioria das vezes as pessoas nem gostam de marcações e as aceitam só por educação. Se a pessoa quiser ser marcada, ela lhe dirá. Tenha a autorização para fazê-lo ou conheça muito bem a pessoa para saber que isso não a incomodará.

3- Se a pessoa que está com você cumprimentar (ou for cumprimentada) por alguém, pare, olhe e cumprimente também. Afinal, aquela pessoa está na sua frente e merece respeito.

4- Quando te convidam a algum lugar, não responda com a pergunta: “Quem mais estará lá?”. Isso é de mau gosto, pois pode passar uma impressão de que a pessoa que te convidou não é motivo suficiente para você ir.

5- Se alguém estiver te visitando, desligue a TV, esqueça o celular e afaste-se do computador. Parece muito? Pois deveria ser o mínimo.

6- Se estiver na casa de alguém ou tiver visitas em sua casa, não converse ao telefone por mais de 5 minutos. Afinal, quando nos dispomos a receber alguém essa pessoa merece nossa total atenção.

7- Quando a comida estiver servida e todos estiverem à mesa, só comece a comer quando o dono da casa também estiver sentado. Isso não vale para todos os ambientes, mas certamente vale para a maioria deles.

8- Quando terminarem de comer, ofereça-se para ajudar, tire seu prato da mesa, ofereça-se para pagar ou dividir a conta. Gestos como esses, independente da aceitação do anfitrião, mostram que você tem o mínimo de consideração com o trabalho que ele teve e que ainda terá com você. Lembre-se que ninguém tem a obrigação de te servir e muito mesmo de te sustentar. Relações são mediadas por trocas e essas trocas devem transitar entre afetos, gentilezas e prestatividades de um para com o outro. Se você não pode ajudar de um jeito, ajude de outro.

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Sergey Clocikov/shutterstock

9- Sempre desligue o som do celular quando estiver no teatro, cinema, biblioteca ou durante uma aula. Até alguns anos ninguém precisava disso. Confie em mim: Você vai sobreviver!

10- Não importa o que você acha, se você estiver na casa de outra pessoa, a palavra final sobre o que pode e o que não pode acontecer naquele espaço deve ser do anfitrião. Não está bom? Se for um crime, chame a polícia. Mas, se for conflito de opiniões e você considerar aquilo inaceitável, talvez esse não seja o seu lugar. Afinal, aquela casa não é sua.

11- Cumprimente o vizinho, o porteiro, a pessoa do elevador. Agradeça e sorria. Não gosta de ser educado com os outros? Ok, é seu direito. Entretanto, não se considere educado, pois você certamente é uma pessoa grosseira.

“O verdadeiro entendedor da gentileza sabe ser suave com o outro, percebe que somos interligados por algo maior que nossos próprios interesses, que as relações humanas são pétalas de uma mesma flor.”

12- Quer algo, dê exemplos. Não há nada mais legítimo do que se mostrar digno de respeito.

13- Adeque-se. Se estiver em uma casa simples não é falta de etiqueta comer com uma colher. Se as pessoas não tiveram as mesmas chances de estudo ou educação que você, perceba que o inadequado naquele espaço pode ser você mesmo.

“Ainda hoje, embora tenham se tornado espécimes raros, diz a lenda que, quando vistos, são facilmente reconhecíveis. São aqueles que nos olham verdadeiramente nos olhos, que, quando íntimos, nos dão abraços apertados, que cumprem suas promessas e que não pensam antes de se levantar e oferecer seu lugar no banco.”

Citações Josie Conti, texto sobre gentileza. Imagem de capa: Oksana Mizina/shutterstock. 

Emocionalmente racionais… Essa é a nossa busca!

Emocionalmente racionais… Essa é a nossa busca!

Uma acorda… a outra adormece, imediatamente.
Vivem como se não e conhecessem.
Bem, na verdade, não se conhecem mesmo, apenas habitam o mesmo corpo.
A razão vive voltada para assuntos perturbadores, querendo entender tudo.
Anseia por consertar o mundo.
Vive desesperada por aprender o que ainda não sabe.
As injustiças a inquietam, incomodam, provocam.
Ansiosa por absorver mais e mais coisas, a razão é sábia, embora julgue-se pouco esperta.
É linear e lógica.
Encontra respostas para perguntas angustiantes.
É reflexiva e densa.
Gosta de ser desafiada.
Mas pensa conhecer seus limites, e exatamente por isso, tenta não se arriscar.
Busca um sentido pra vida.
Vive por um ideal.
E seria capaz de qualquer coisa em nome do que acredita.

A razão acredita.
A emoção é completamente maluca.
Não precisa se ocupar com assuntos perturbadores, pois vive perturbada.
Não entende nada de nada, muito menos a si mesma.
A emoção anseia por um mundo perfeito, mas não tem ideia de por onde começar.
A emoção não precisa aprender nada. Sente, pressente, adivinha.
A emoção se insurge contra as injustiças (todas) como se nunca fosse morrer ou ser ferida.
Absorve tudo ao seu redor e pensa que tudo, tudo mesmo, tem conserto.
A emoção não faz ideia do que seja sabedoria, muito menos esperteza.
É tola, ingênua, pura.
É sinuosa, cheia de caminhos secretos e desconhecidos.
Nunca acha respostas, porque nem sabe o que deve perguntar.
É fugaz e etérea.
Vive além do limite do risco.
Desconhece a prudência.
Está sempre mergulhada no sentido da vida.
É ao mesmo tempo ideal e impossível.
É explosão, processo e fim. Tudo misturado.
Caótica.
A emoção não crê em nada, porque é capaz de enganar-se a respeito de tudo.
E desconfia que a razão nunca tenha existido!

Imagem de capa meramente ilustrativa.

8 principais motivos que tornam uma pessoa carente.

8 principais motivos que tornam uma pessoa carente.

O que torna uma pessoa carente? Conheça os oito principais motivos.

Por Andrezza Czech

Todos já passamos por momentos de carência ao menos uma vez na vida. Em fases de pouca autoconfiança ou após um fim de relacionamento, por exemplo, estamos sujeitos a sofrer desse mal.

“Há estados situacionais de carência, mas o problema é quando é um sentimento constante”, afirma o psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso, formado pela USP (Universidade de São Paulo).

Segundo Ailton Amélio, doutor em psicologia e professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), a carência pode ter origem no passado, devido a problemas vividos na infância, ou pode ser decorrente de algum acontecimento recente.

Para te ajudar a entender se a sua carência é passageira ou se é melhor procurar ajuda profissional, UOL Comportamento conversou com especialistas para conhecer os principais motivos que tornam uma pessoa carente.

1 – Baixa autoestima
De acordo com Tommaso, o que está por trás do comportamento de alguém que se sente bem na presença do parceiro, mas sofre de carência na ausência dele, é a baixa autoestima. “É como se a pessoa buscasse no outro aquilo que não sente por si mesma. Ela acaba entrando em um processo de dependência muito grande”, afirma o psicoterapeuta.

Segundo ele, problemas de autoestima acabam com o equilíbrio do relacionamento. “No início, quando ninguém tem certeza se a relação vai dar certo, é normal que haja medo. Isso, normalmente, é amenizado à medida que o envolvimento evolui. Mas as pessoas carentes têm os sentimentos de insegurança e medo de perda ainda mais fortes conforme a relação se fortalece”, diz Tommaso.

Como resultado do medo de tomar um fora a qualquer momento, a pessoa com baixa autoestima começa a cobrar mais o parceiro, a pressão aumenta, os pedidos de provas de amor são cada vez mais frequentes e ela se mostra excessivamente pegajosa e possessiva. “Ela revela a necessidade de uma atenção intensa que nunca conseguirá”, diz Tommaso.

Esse tipo de pessoa está sempre carente: quando não tem ninguém, sente-se assim por temer a solidão; quando tem, age desse modo por ter receio de perder o outro. “Para não tomar um fora, a pessoa tolera maus tratos, humilhações e se torna dependente do outro”, afirma.

2 – Pais inseguros
Em um lar onde as pessoas são autoconfiantes, a criança cresce com uma visão positiva sobre ela e sobre a vida. Do mesmo modo, uma família com pais inseguros pode criar filhos com problemas de autoestima e, consequentemente, carentes.

“As crianças assimilam o que os pais fazem e os valores que têm. Pais inseguros, pessimistas e que se desentendem com frequência criam filhos pouco autoconfiantes e mais ciumentos. São crianças que dependem dos amiguinhos e que podem se tornar adultos que agem primeiro de modo extremamente submisso e, depois, com possessividade”, afirma Tommaso.

3 – Pais inconstantes
Segundo Ailton Amélio, quem tem propensão a ser carente pode ter sido uma criança criada por alguém inconstante. “Se a mãe um dia era carinhosa e, no outro, fria, a criança se torna ansiosa, pois nunca sabe se o outro estará presente ou não”, diz. Na vida adulta, ela se torna insegura, ciumenta, possessiva e grudenta.

4 – Superproteção na infância
Nem só de falta de carinho e atenção na infância é feita uma pessoa carente. De acordo com a psicanalista Luciana Saddi, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, o excesso de atenção também pode levar uma criança a ser carente quanto adulta.

Segundo ela, é comum que quem foi superprotegido e mimado na infância exija muita atenção, algo com o qual sempre esteve acostumado. “Pessoas superprotegidas, sempre consideradas coitadinhas pela família, não foram estimuladas a acreditar que podem ser autossuficientes. Esperam e exigem muito dos relacionamentos”, diz Luciana.

5 – Rompimento traumático
Há também fases de carência situacionais, com origens mais recentes e mais fáceis de serem superadas. Uma delas é consequência de um rompimento. “Alguns tipos de desfecho afetivo deixam a gente carente, mexem com o nosso amor próprio, que fica ferido depois de um fora. Mas, com o tempo ou um novo amor, você se renova”, diz Tommaso.

6 – Situações de desemparo
De acordo Luciana Saddi, a carência momentânea também pode surgir se a pessoa perde o emprego, recebe uma crítica muito violenta e inesperada ou sofre com a morte de alguém próximo. “Qualquer situação grave, que gere angústia, leva ao desamparo. E uma pessoa desamparada tem maior tendência a se sentir carente”, afirma.

7 – Resquícios de um relacionamento
Segundo Ailton Amélio, experiências afetivas anteriores podem tornar a pessoa carente. “Uma pessoa que costumava ser independente, mas vivenciou um relacionamento que estimulava a dependência e o abandono dos amigos, está sujeita a sofrer assim que houver o término”, diz.

8 – Personalidades
A carência também pode ser um traço de personalidade. “Pessoas muito vorazes dificilmente se satisfazem na vida”, diz Luciana. E esse desejo de querer sempre mais também acontece nos relacionamentos, onde há a tendência de se mostrar carente.

De acordo com Luciana, aqueles que se vitimizam também são fortes candidatos à carência. “São pessoas que gostam de se colocar em uma situação de maior sofrimento e costumam culpar sempre o outro por sua dor. É como se não fossem responsáveis por suas vidas”, diz ela.

Quando a carência exige ajuda
Quando a origem da carência é um problema de autoestima, com origens no passado, decorrente da criação, o problema é mais sério e exige ajuda profissional. Quando é situacional, como um término de relacionamento, é possível sair dessa sozinho, com o tempo. “Uma dose de sofrimento e carência é natural e até saudável. Mas se durar demais e prejudicar a pessoa, é preciso procurar ajuda”, diz Ailton Amélio.

Quando a carência é uma característica constante, um comportamento repetido em todas as relações, também é preciso ficar atento. “Se você fica cada vez mais ansioso à medida que seu relacionamento avança, se tem fantasias decorrentes do medo de perder o outro, tendo ciúmes e fazendo coisas que não deveria para manter o outro, vale procurar ajuda psicológica”, diz Tommaso.

IMAGEM DE CAPA:  Nagy-Bagoly Arpad /shutterstock TEXTO ORIGINAL DE UOL. 

Eu não insisto mais em algumas pessoas

Eu não insisto mais em algumas pessoas

É cansativo demais quem cobra, cria regras e faz julgamentos precipitados. Não tenho como adivinhar pensamentos e sentimentos alheios. Por mais que exista empatia, carinho e respeito, de nada adiantam essas entregas se a pessoa do outro lado não expressar o que sente e pensa. Quem quer ficar, fica. Meios termos, desculpa, não suporto.

Não sou estepe para qualquer um enxergar apoio vitalício. Tenho um limite, como todos, do que posso e não posso aguentar. Expectativas superestimadas é uma delas. Porque não é pelo fato de gostar, amar ou ter uma sintonia com alguém, que sou obrigado a provar constantemente todo o meu apreço e valor. Algumas pessoas distorcem o significado da reciprocidade. Ser recíproco não é entregar-se na hora que aquela pessoa deseja. O nome disso é ego. Pessoas recíprocas entendem de algo chamado naturalidade. É quando você intercala, por livre e espontânea vontade, emoções e gestos gentis. Sem a necessidade de pressionar, impor ou suplicar.

Certos indivíduos nutrem o péssimo hábito de colocarem opiniões na frente dos fatos e, principalmente, dos possíveis sentimentos da outra pessoa. É preguiça em larga escala conviver e confrontar gente assim. Não vale a pena. Definindo em uma sentença mais objetiva, não encontrei a minha dignidade no lixo. Não é imaturidade ou falta de disposição, mas há quem diga, e não são poucos, que todo mundo possui o direito de desistir. Seguir um caminho diferente não é crime. Às vezes, laços são desfeitos. Não quer dizer que foram em vão, nada disso. Simplesmente aconteceu deles decidirem por novos entornos.

A vida segue, com ou sem algumas pessoas. Reconhecer quem realmente está presente e alinhado naquele momento, naquele inteiro proposto, é a máxima das relações. E não precisa muito, nunca precisou. Depende apenas da serenidade e coragem de cada um identificar os instantes experimentados.

Eu não insisto mais em algumas pessoas. Não é por falta de amor ou coisa parecida. Felizmente, entendi que antes de adentrar na vida de quem quer que seja, tenho uma responsabilidade emocional comigo. E ela implica em não perder o amor próprio que construí ao longo de tantas metades por aí.

Imagem de capa: Us (2013) – Dir. Mani Maserrat Agah

Mais uma definição de amor: mostrar que quer que o outro fique, mesmo sabendo que ele tem de ir

Mais uma definição de amor: mostrar que quer que o outro fique, mesmo sabendo que ele tem de ir

Nos últimos meses, a partir do momento em que comecei a estudar no turno da tarde, fui introduzida a um novo ritual aqui em casa. Todos os dias, meu pai acorda cedo o suficiente para deixar meu irmão na escola, abre a loja e, entre 8:30 e 9:00, se nada atrapalhar, ele volta para casa e toma um café da manhã “mais sossegado”.

É por essas horas que tenho me levantado. Faço, com ele e minha mãe, a primeira refeição do dia. Preparamos o que tiver disponível e tomamos café ouvindo e discutindo com o pessoal da rádio (eles gostam de nos fazer raiva, esses radialistas) e conversando entre nós mesmos.

Quando estamos todos satisfeitos, meu pai sinaliza que está de saída, pega as chaves e vai se retirando para voltar ao trabalho. Minha mãe, por sua vez, sem falta, todos os dias, como que de protocolo, solta um “vai não, mô!”, mesmo tendo plena consciência de que ele tem que ir. Por vezes, completa a frase com um “fica aqui conversando com a gente”.

Presencio tais episódios desde o início do semestre. Algo tão simples. Assim, de longe, nem parece nada demais. Mas, sei lá, às vezes a gente se inspira e começa a achar poesia nesses detalhes.

Fica aqui, então, uma nova definição de amor para minha (nossa) coleção: mostrar que quer que o outro fique, mesmo sabendo que ele tem que ir de qualquer forma.

Imagem de capa: gpointstudio/shutterstock

A verdadeira amizade modifica a nossa história

A verdadeira amizade modifica a nossa história

Uma vez li uma crônica que dizia que pra sempre teremos nossos 16 anos. Nossos 21. Nossos 25 e todos os outros números que contabilizamos a cada aniversário. Os anos que vivemos que, somados, nos transformam no que somos hoje.

Pois no feriado de Tiradentes deixei vir à tona meus 17 anos. Nos três dias de encontro de turma, revivi meus 18, 19, 20 e 21 anos. Ao lado de meu marido e filho, abracei aqueles que ajudaram a construir a pessoa que sou hoje e extravasei minha melhor versão.

A semana que antecedeu o encontro foi tensa. Na segunda feira, um grande amigo sofreu um infarto e nos apoiamos à distância. Porém, para surpresa de todos, ao receber alta do hospital seguiu para nos abraçar. Foi comovente nos depararmos com o carro subindo a ladeira do hotel e, no banco do carona, o sorriso conhecido. O susto tornou o reencontro mais especial; a vulnerabilidade da vida trouxe mais significado à nossa amizade e estreitou os laços.

A amizade nos faz acreditar que ainda estão em curso nossas primeiras experiências e sensações. É ela quem diz que mesmo que o tempo cronológico tenha passado, uma parte de nós ainda vive as emoções, brincadeiras, rubores e afeições daquele período que chamamos “ontem”.

Sentados em círculo, revimos

fotos e ouvimos histórias de um tempo que foi um divisor de águas para o restante de nossas vidas. Pois naqueles quatro anos tão intensos, ficou evidente que, mais do que aprender uma profissão, aprendemos a viver. A nos relacionar uns com os outros, a administrar uma casa longe de nossos pais, a iniciar e romper um namoro, a nos divertir com responsabilidade e nos apoiar como irmãos.

Na noite de sábado, uma missa celebrada por outro amigo que se tornou padre nos aproximou ainda mais. Ele lembrou alguns colegas ausentes e falou sobre o sofrimento. Nos comovemos recordando os altos e baixos na vida de cada um, sem exceção. Éramos amigos se reencontrando após mais de vinte anos, e isso bastava para entender que, mesmo que a vida tenha deixado cicatrizes, não houve perdas, só ganhos.

A verdadeira amizade modifica a nossa história. Nos desperta pra vida, dá um chacoalhão no nosso comodismo e nos faz prestar atenção ao que é essencial. Nos diz que essa vida vai passar rápido, e que é preciso não perder o sono pelas insignificâncias e frivolidades. De vez em quando nos dá asas, outras vezes nos dá chão. Nos livra de nossas auto depreciações, culpas, submissões. Nos ajuda a amadurecer, a desatar os nós, a descalçar os sapatos e suportar os vazios.

A amizade nos faz entender que todos têm uma história, que não é só a sua história que é importante, que ninguém está aqui para fazer figuração na sua vida. Nos mostra que de vez em quando somos os protagonistas, e em outros momentos assumimos o papel de coadjuvantes, e que isso é fascinante também.

Com a idade e algumas vivências, a gente fica mais sentimental. Assim, dei pra me emocionar a cada reencontro, sentindo o abraço forte daqueles que viajaram dez horas seguidas ou o esforço de quem recebeu alta do hospital para poder estar entre nós. Nem todos entendem isso. Nem todos criam vínculos ou cuidam das memórias. Me sinto privilegiada. Sortuda por perceber que o tempo não passou e os amigos não se despediram. Eles permanecem e resistem, mês a mês, ano a ano, vivos dentro de mim…

Imagem de capa: Rawpixel.com/Shutterstock

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