Sobre o dia em que eu me apaixonei

Sobre o dia em que eu me apaixonei

Quando cada sorriso faz o coração acelerar e quando todos os abraços viram confissões, você sabe. Você sabe que se apaixonou e depois desse segundo de entendimento, tudo muda. É o momento que jogamos todas as fechaduras que nos trancavam antes e eliminamos as barreiras que antes nos afastavam de qualquer contato que pudéssemos ter. É quando recuperamos todo o amor que guardamos na caixinha e, finalmente, a vontade de entregá-lo supera qualquer medo que antes reinava.

O dia em que eu me apaixonei eu parei de me incomodar com os detalhes que saíam do meu controle e passei a amar todos os impulsos e imperfeições. Foi o em que dia que eu soube que tinha tirado a sorte grande e comecei a olhar mais ao meu redor, porque percebi que nem tudo é tão complicado quanto parece e que tudo bem não calcular cada passo que vou dar, já que posso acabar indo para um caminho que nunca imaginaria antes e, ainda sim, gostar.

Foi o momento em que decidi ir pelo lado da paz e ignorar cada chance de que pode dar errado e me concentrar somente no quanto pode dar certo, já que eu daria o melhor de mim para que realmente desse. Foi quando eu descobri que não precisava que me trouxessem mais nada, pois tudo o que eu precisava era da pessoa que estava do outro lado da linha e foi até mesmo quando passei a gostar do silêncio, pois até a respiração em sincronia com a minha já era capaz de me acalmar.

Quando eu me apaixonei, comecei a criar metáforas e abusar de todas as hipérboles. Tentei fugir de todos os clichês, mas foi como andar em círculos e parar no mesmo lugar. Eu sabia que precisava de alguém. Porém, não sabia como eu queria, com que forma ou com que jeito, mas foi eu me apaixonar para eu saber que estava precisando de alguém que valia a pena precisar.

É um desejo constante de abraçar forte e não mais soltar. Dá vontade de atravessar a cidade, bater na porta só para dizer “oi” e o que vem depois disso não importa, pois só a sensação de receber outro “oi” de volta faz valer todo o caminho andado. É um momento que você para de guardar o que sente dentro de você, porque já não te cabe mais. E quando transborda assim, você precisa compartilhar e guardar um pouco no coração do outro alguém, já que no seu falta espaço para tanto. Simplesmente dividir, com todas as falhas e erros, porque o amor não se faz só de bons momentos. E quando os ruins chegam, o coração está tão calmo que sabe aceitar o silêncio e sabe lidar com os problemas que a vida traz.

Mas superar juntos é sempre a melhor opção. Doar a si e receber o mesmo de volta. Não é preciso cobranças, pois tudo vem por vontade própria. Somam-se os sonhos. E a vontade de estar um com o outro nunca passa, pois tempo nenhum é suficiente para suprir a saudade. É intenso. É tão rápido que você não consegue entender como há segundos atrás não sentia nada e de repente, já sentia tudo. É um impacto imensurável. Todos os dias. O amor pode ser mesmo esse dominó sem fim de clichês, mas continua sendo imprevisível. Sendo assim, cada minuto é uma surpresa. Você pode até saber o que vai dizer, pois em qualquer canto há algum texto falando de amor, mas o que você sente… ah, o que você sente! Isso sim não dá para descrever. Não dá para encaixar em paradigmas ou encontrar escrito em uma parede qualquer. É como um encaixe de peça que pertence só a você, tão único quanto a pessoa que te faz sentir assim.

Então, meu bem, devo dizer que toda a viagem foi compensada na estação em que te encontrei… Assim sendo, fica comigo?

Imagem de capa: wrangler/shutterstock

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses

“Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”
― Antoine de Saint-Exupéry.

A dimensão da existência humana vai muito além daquilo que podemos sentir ou mensurar, tampouco compreender. Não à toa Drummond nos diz que no seu coração sequer cabem as suas dores. A nossa finitude e incapacidade para entender aquilo que acontece, na maior parte das vezes, nos paralisa e nos coloca diante do traço trágico que nos forma, como se não houvesse saída, ou não houvesse tempo o suficiente para que possamos chorar nossas lágrimas.

Quando estamos dentro do furacão ou diante das tantas travessias a que temos que passar, tendemos a esquecer que a vida também é constituída por transições, ciclos, mudanças a que temos que passar a fim de que possamos crescer e tornar-se algo mais próximo daquilo que realmente somos. São as longas e silenciosas metamorfoses da vida, como falou Rubem Alves, e sem as quais continuamos a ser lagartas ou borboletas sempre com as mesmas cores.

Evidentemente, até pela nossa condição humana de finitude e, consequentemente, incapacidade de apreender tudo aquilo que nos forma (interna e externamente), sentimos enorme dificuldade em passar por esses momentos, o que em alguns casos pode ser até mais desesperador, com o desenvolvimento de problemas graves, como a ansiedade e a depressão.

No entanto, é preciso que busquemos perceber que grandes coisas surgem de momentos de conflito e que se estamos sob a ação de um tempo que não conseguimos controlar, não há como lutar contra ele, tentando se apegar a momentos que já não existem ou forçosamente querendo chegar a lugares futuros. É necessário aprender a conviver com esse tempo, sabendo que as quedas fazem parte da vida, assim como as transformações que delas decorrem.

Dito de outro modo, precisamos – como versa o poema da Cecília Meireles – aprender com a primavera a deixar-nos cortar para que possamos voltar sempre inteiros, já que, ainda que não percebamos, sempre há galhos que precisam ser podados ou retirados para que novos ramos possam crescer. É como na estória do Pequeno Príncipe, em que a rosa diz para o principezinho que precisa suportar duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.

A bem da verdade, sabemos o quanto é difícil suportar essas “larvas”, afinal, somos tão pequenos diante da imensidão do universo. Entretanto, é nesse mesmo universo que habitamos, onde a dor e o sofrimento se fazem presentes, que também se esconde a inexplicável poesia da vida, a que encontramos se soubermos olhar. Sendo assim, em cada travessia que fazemos se esconde uma transformação, pois para cada coisa que morre, há sempre outra que nasce, já que “devemos morrer para uma vida, antes que possamos entrar em outra”.

Dessa forma, somos como rios que vão fluindo, reconstruindo-nos de modo diferente a cada tempestade que nos abate, pois somos seres transitórios e é nessa transitoriedade que nos encontramos. Por isso, lembrando mais uma vez Cecília – “A vida só é possível reinventada” – para que a cada estação possamos experimentar o vento com um novo gosto e lavar nossa alma com uma nova luz.

Imagem de capa: Anatoliy Cherkas/shutterstock

“Era o fraco que devia ser forte e partir”

“Era o fraco que devia ser forte e partir”

Como terminar o que ainda nem tinha começado? Como terminar o que dentro de mim ainda vivia e pedia para viver mais? Como dizer adeus se o que eu mais queria era ficar? Como te liberar para outras pessoas se o que eu mais queria era você perto de mim? Como desistir dessa história se o amor que eu sentia ainda não tinha desistido? Como?

Milan Kundera, em a Insustentável Beleza do Ser, disse: “Mas era justamente o fraco que devia ser forte e partir“. E eu sabia que com a gente também tinha de ser assim. Era eu que estava sentindo demais, era eu que tinha todas as células tomadas pelo amor, era eu que que transbordava em lágrimas que morriam no travesseiro quando você desaparecia e não me incluía na sua vida. Era eu que deveria dizer um adeus definitivo e seguir em frente, mesmo que aos pedaços. Era eu que tinha que terminar aquilo, pois aquilo somente pra mim tinha começado.

A sua porta estava entreaberta. Nunca fechada. Nunca escancarada. Por ali eu entrara. Por ali outras garotas entravam também. Isso me doía a cada vez eu que respirava. E a cada vez que meus olhos piscavam, lágrimas passaram a cair. Era o fraco que devia ser forte e partir. Eu olhei pra você uma última vez. Olhei com um cuidado absurdo para que você não percebesse a sutileza das lágrimas que salgavam a minha pele, já ferida. Se você me deixasse partir, eu sabia que não poderia mais voltar. Nunca. E eu não voltaria. Eu te olhei, e eu acho que o meu olhar te disse tantas coisas, tinha tanto sentimento ali. Mas aquilo nunca teria significado pra você e você, naturalmente, não fez nenhuma objeção à minha partida. Em silêncio, fechei aquela porta por onde eu havia entrado meses atrás. E ali, naquele momento, apesar de fraca, fui mais forte que o mundo.

Imagem de capa:  Volodymyr Tverdokhlib/Shutterstock

Nossas crianças gostam de ser nossos filhos perto de outras pessoas

Nossas crianças gostam de ser nossos filhos perto de outras pessoas

A difícil arte de educar um filho perante as exigências da sociedade: “Mamãe, acho que precisamos morar no supermercado e um pouco na sorveteria. Nesses lugares, você parece mais feliz comigo!”

Num desses dias de férias, depois de uma maratona de passeios, idas e vindas, retornamos ao nosso lar. E, após cinco minutos dentro de casa, o caos já tinha se instalado. Eu, como uma “boa” mãe, tive que colocar limites.

Em poucos minutos, todos os brinquedos que moram na casa estavam espalhados pela sala. Nem havia terminado de descarregar o carro com as compras do mercado e já estava cheia de demandas: “Eu quero tomate, pepino e manga”; “Vem brincar comigo!”; “Monte aquele avião.”

Como “boa” mãe, já fui logo estabelecendo as regras: “Vai brincar com o quê?” O que não for usar agora, guarde.” “Quem mandou você tirar todos os bonecos da Marvel do armário?” “Nem terminei de tirar as coisas do carro e você já é um homem-aranha?” “Tire essa fantasia, que está limpa e passada!” “Por que você está com fome, se acabamos de tomar um sorvete?”

Eu ainda nem tinha guardado as compras e já havia dezenas de pedidos. E situei bem meu filho, dizendo que tinha muitas coisas por fazer e que estava muito cansada e chateada com a desorganização dele.

No auge dos seus 4 anos, ele me disse: “Mamãe, acho que precisamos morar no supermercado e um pouco na soverteria.” Eu disse que acharia ótimo, mas queria saber os motivos. Miguel respondeu: “Nesses lugares, você parece mais feliz comigo!”

Essas palavras foram como um soco no estômago, cheguei até a sentir uma dor, passageira, mas uma dor. Fiquei refletindo por horas sobre esse discurso e guardei as compras, os brinquedos espalhados ficaram pela sala. Levei pepino, tomate e manga para o lanche, enquanto o Hulk destruía o Capitão América. Meu filho comeu o lanche, mas meu estômago continuava embrulhado.

Pensei que ele tem razão. Em espaços abertos e com outras pessoas, temos muitas dificuldades de exercer nosso papel de mãe/pai. A sociedade cobra que não sejamos passivos diante das birras, porém, dizem que não se deve dar castigos às crianças.

O filho não pode ser mal educado e, se for, a mãe não pode esbravejar com ele. Deve esperar chegar em casa para conversar, olhos nos olhos. Colocar de castigo também não é muito adequado, pois pode gerar traumas infantis.

Deve ser por isso que eu e outras mães nos encontramos sempre sorrindo com nossos filhos, nas gôndolas de supermercado, mesmo que estejam pirraçando. Talvez nós, mães, enxerguemos no olhar da outra a confusão interna entre tomar uma atitude educacional ou nos colocarmos submissas diante do filho e da sociedade.

Como ficou difícil ser mãe/pai, nessa época em que os filhos podem tudo e colocar regras, limites, é questionado por todos à volta. Mães, pais e educadores, precisamos conversar mais sobre essa “nova” educação. Precisamos assumir nosso papel de detentores do saber e da ordem. O papel de educar é nosso.

A sociedade atual está em crise de valores éticos e morais sem precedentes, mas exige que os pais deem liberdade ao filho, porém, colocar regras e limites às crianças está cada vez mais difícil, pois, toda vez que você dá bronca em seu rebento, tem alguém ao redor com um olhar de reprovação.

Na minha casa tem regras, tem limites e tem horário e terão que ser cumpridas por todos os habitantes da casa. É assim que funciona, é dessa forma que a roda gira.

Talvez o que o Miguel disse esteja relacionado com o fato de eu ser mais branda quando estou em outros espaços sociais. Claro que ele está certo. Não quero ser vista pela sociedade como a mãe megera que não deixa mexer onde não deve, que exige do filho um bom comportamento e que coloca limites e que os suporte sem grandes birras.

O Miguel tem razão, não cumpro minha autoridade em espaços abertos. Eu, assim como outras mães e pais, diante da cobrança social, afrouxamos nossa autoridade e isso não é fazer um bom trabalho de mãe/pai ou educador. Precisamos ser os mesmos dentro e fora de casa.

E, depois dessa reflexão, se eu não conseguir fazer isso, se eu não conseguir desempenhar meu papel como mãe na sociedade, assim como faço dentro de casa, o Miguel que me perdoe, mas eu vou morar em supermercados, bares, sorveterias, restaurantes e aeroportos e abandonar meu papel de mãe e educadora de um ser que creio ter condições de suportar limites e regras em qualquer lugar.

Peço desculpas à sociedade, mas o filho é meu e vou exercer meu papel de mãe.

Imagem de capa: LightField Studios/shutterstock

Tudo que restou de nós foi silêncio

Quando eu achei que estávamos vivendo o nosso auge, eu descobri que aquele deveria ser o nosso fim. E por mais que eu quisesse me agarrar àqueles momentos, dentro de mim eu já sabia que eles agora compunham um passado, e que me agarrar a esse passado só iria gerar mais sofrimento.

Todo auge vem acompanhado do seu declínio e com nós dois não haveria de ser diferente. Os dias em que eu adormeci ao seu lado, deixando o meu coração e os meus sonhos à sua mercê, foram sucedidos por noites solitárias acompanhadas de lágrimas. Me doía saber que a sua vida ia seguir sendo a mesma sem mim. Me doía muito saber que você nunca iria fazer questão de um laço entre nós. Me doía me afastar cada vez mais da sua vida e te ver nada fazer para impedir esse afastamento. Me doía ver o seu mundo continuar girando e o meu estar aos pedaços. Me doía não sentir mais a sua pele e nem o calor das nossas brigas. Me doía o fato das nossas vozes terem se calado e do céu continuar azul embora tudo dentro de mim fosse cinza. Tudo que sobrou de nós foi silêncio. O silêncio mais ensurdecedor já ouvido. Sem ter voz para falar, me restou apenas escrever para quem sabe encontrar a cura daquilo que já foi um dia o maior amor do mundo.

Imagem de capa:  Shutterstock

Não precisa torcer pela felicidade do ex, torça para você ser feliz sem ele

Não precisa torcer pela felicidade do ex, torça para você ser feliz sem ele

Será preciso desconstruir a imagem idealizada que tínhamos do ex e isso implica desgostar, sem simpatia envolvida. Ou isso, ou não teremos como superar e encarar o passado sem sofrimento.

Existe muita idealização a respeito dos finais de relacionamentos, recheada de aconselhamentos que, em sua maioria, prescrevem que tenhamos que querer que o ex seja feliz. Vamos falar a verdade: nenhum rompimento, de início, é tranquilo e sereno, ou seja, muitas mágoas e decepções se acumulam nesse processo. Como é que uma pessoa com o emocional em frangalhos será capaz de cultivar desejos positivos para quem saiu de sua vida sob dores e ressentimentos? Muito difícil.

E havemos de concordar com o fato de que, quando estamos ali sozinhos, sentindo o frio de nossas almas, o mais sensato a fazer é exatamente pensar em nós mesmos, no que fizemos ou deixamos de fazer, refletindo sobre o nosso papel e nossa responsabilidade sobre o que nos acontece. É assim que a gente aprende, que a gente se levanta, que a gente se torna mais gente e evita repetir os mesmos erros. Pedir, nesse momento, que olhemos para o outro, lá longe, pode soar a crueldade.

Na verdade, quando não há mais possibilidade de volta, teremos que colocar um ponto final sobre o que passou, enterrando simbolicamente uma passagem de nossa vida que não deu certo. Mesmo que tenha havido momentos bons, quando do rompimento será melhor deixar lá atrás toda e qualquer lembrança do que acabou, porque teremos que voltar a respirar de novo, sem engasgar com o que não era para ter sido. Será uma jornada muitas vezes solitária, mas terá que ser percorrida.

E mais, quando saímos de um relacionamento que nos tornava menos gente, quando fomos traídos, humilhados, relegados ao vazio em vida, teremos o direito de sentir raiva do outro, sim, mas não por muito tempo, afinal, a raiva fica na gente, no final das contas. Mesmo assim, será preciso desconstruir a imagem idealizada que tínhamos do ex e isso implica desgostar, sem simpatia envolvida. Ou isso, ou não teremos como superar e encarar o passado sem sofrimento.

Logicamente, passado o tempo necessário para nos recompormos – e todos nos recompomos -, poderemos voltar àquele passado, em nossas lembranças, revendo com mais clareza tudo aquilo, muito provavelmente sem nos sentirmos mal ou com raiva. Porém, quando esse passado doído ainda é recente, não há problema em não conseguir torcer pela felicidade do ex, pois isso é sinal de que somos intensos, temos sentimentos e nos entregamos com verdade, desde o início até o depois do fim.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Dê valor ao caminho que te acolhe

Dê valor ao caminho que te acolhe

Se aprendi algo nos últimos anos foi a não desrespeitar a minha jornada. A não repelir sentimentos, experiências e todos os possíveis desdobramentos que posso vivenciar. Sejam ganhos ou perdas, dê valor ao caminho que te acolhe. Não afaste-se da sua honestidade, do seu querer, da sua paz de espírito. Dessa forma, não importa o que virá pela frente, você terá coragem para sorrir e receber o melhor da vida.

O medo faz parte. A dor faz parte. Mas ignorá-las ou imaginar existir algum tipo de proteção emocional contra esses baques da vida, não passa de uma ingênua fábula. Nem sempre as coisas funcionam. Nem sempre esbarramos com os melhores encontros. O importante é não esmorecer, não abandonar o barco. O quanto antes entendermos que ausências são naturais, mais cedo saberemos como lidar com os opostos. Reclamar do caminho é se esquecer da linha de chegada.

Mantenha a fé. Chore, caso precise. Grite, caso esteja necessitando de fôlego. Mas também ame. Também dê gargalhadas. E sem deixar o coração criar uma camada impenetrável, viva. Conceba a sua própria lei da felicidade. Palavras têm poder. Agregue mais e acomode-se menos. Busque, incessantemente, a plenitude que sempre desejou.

Talvez o grande mistério da vida não esteja nas incontáveis tristezas que passamos, e sim nos instantes em que sobrevivemos. Nas tantas vidas que tocamos, deixamos lembranças, saudades e poesias. E tudo isso tem a ver com o caminho te acolhe. É a visão e o pertencimento naquele presente que nos coloca mais próximos da verdadeira receptividade.

A maior demonstração de sintonia que podemos exercer é não deixar de caminhar. Nunca.

Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock

10 filmes biográficos que farão suas pernas tremerem

10 filmes biográficos que farão suas pernas tremerem

Filmes biográficos são geralmente marcantes. Alguns ficam na gente como belas lições para a vida. Nessa lista selecionei 10 cinebiografias que farão suas pernas tremerem. Personalidades marcantes são desnudadas nos filmes a seguir com maestria. Em muitos deles é possível notar que o que sabemos sobre alguns ícones está muito longe do que é literalmente vivido por eles e que ninguém está imune aos altos e baixos da vida.

1- Oliver Sacks em “Tempo de Despertar”, 1990

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremNo Bronx em 1969, Malcolm Sayer (Oliver Sacks na vida real) é um neurologista que consegue um emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente que eles estão só “adormecidos” e que se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados. Assim ele chega à conclusão de que a L-DOPA pode ser o medicamento ideal para eles. Medicados, eles apresentam claros sinais de melhora e se mostram ansiosos em recuperar o tempo perdido. Esse filme é fantástico. A “Doença do Sono” foi uma doença misteriosa que atingiu muitas pessoas durante a 1ª Guerra Mundial. Os pacientes ficavam não só paralisados, como também não envelheciam. Tanto o filme, quanto o livro, de mesmo nome, são memoráveis e imperdíveis.

2- Tina Turner em “Tina”, 1993

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremAnna Mae Bullock, Tina Turner, nasceu em 1938 em Nutbush, Tennessee, e desde criança mostrava inclinação para a música. Abandonada pela mãe, Tina foi criada pela avó até seus 16 anos, quando a mulher veio a falecer. A partir de então ela foi morar com a mãe em St. Louis. Não demorou muito para que Tina começasse a cantar em uma banda liderada por Ike Turner. Os dois se envolvem então, têm um filho e se casam no México. Em 1960 ela já se chamava Tina Turner e, junto com Ike, fazia muito sucesso, mas agredida sistematicamente pelo marido, Tina decide se divorciar. Tina fica sem um tostão, recomeça das cinzas e apesar de todas as dificuldades se torna uma grande estrela da música. Um filme encantador no qual também conhecemos um pouco mais do lado espiritual da cantora que aderiu ao budismo ainda jovem.

3- Antoine de Saint-Exupery em “A Vida de Saint-Exupery”, 1996

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremContrariando a vontade da família o jovem Antoine torna-se piloto. Em uma de suas viagens ele se apaixona pela salvadorenha Consuelo, sua grande paixão, e sem demora os dois se casam. Contudo, Consuelo não consegue conviver com as contínuas ausências do marido e o aventureiro piloto (autor de ‘O Pequeno Príncipe’) vive dividido entre o amor por sua “rosa” e a paixão pelo voo. Muitos desconhecem que há muito de Antoine nas histórias do pequeno príncipe. A sua amada “rosa”, Consuelo de Saint-Exupery, resolveu contar sua conturbada relação com o escritor em um livro intitulado “Memórias da Rosa”. Tanto o filme dirigido por Anand Tucker, quanto o livro, valem muito a pena na medida em que mostram quem é a figura por trás do enigmático e sensível Pequeno Príncipe.

4- Frida Kahlo em “Frida” – 2002

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremO filme de Julie Taymor, Frida (2002) é bastante fiel à biografia da pintora. Nele Frida é uma mulher de encantos atemporais. A pintora mexicana viveu na década de XX, e nunca tentou se encaixar nos padrões da sua época. Ela teve poliomielite ainda quando criança, o que lhe deixou com uma perna mais curta que a outra. Na adolescência, sofreu um grave acidente de bonde, o que lhe rendeu problemas permanentes. Ainda assim, Frida era Frida e foi quem e o que queria ser. Teve um casamento aberto e conturbado com o pintor Diego Rivera. Viveu, sofreu, lutou, nos deixou sua arte e a lição de que somos maiores que nossas dores.

5- Olga Benário em “Olga”, 2004

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremOlga, uma jovem alemã, judia e militante do movimento comunista, contra a vontade dos pais, abandona o conforto de casa para morar na Rússia. Como integrante do partido comunista recebe a missão de acompanhar Luís Carlos Prestes no retorno de navio ao Brasil. O casal precisava fingir estar em lua de mel, mas os dois se apaixonaram de verdade e Olga engravidou em pouco tempo. No Brasil Olga é descoberta e enviada para um campo de concentração e Prestes preso. O longa narra o drama vivido por Olga no campo até a sua morte. Sua filha Anita Leocádia foi criada pela avó paterna e hoje é professora universitária e historiadora germano-brasileira, doutora em Filosofia e Economia. Um filme biográfico marcante baseado no livro homônimo de Fernando Morais.

6- Maria Antonieta em “Maria Antonieta”, 2006

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremEsse filme pode ser considerado um clássico moderno. Obra prima da diretora Sofia Copola, o filme traz para as telas cores alegres e músicas atuais, que contrastam muito bem com a atmosfera romântica do século XVIII. O roteiro foi inspirado no livro da historiadora inglesa Antonia Fraser intitulado “Maria Antonieta, a biografia”, que retrata belamente a vida da esposa austríaca do enfadonho delfim Luís Augusto, até seu triste fim na guilhotina francesa. Todavia, não foi a intensão de Sofia dar enfoque à morte de Maria Antonieta, mas sim exaltar sua vida repleta de diversão. Dessa forma, o clima divertido predomina nesse filme, com direito a um irreverente “all star” em meio aos delicados sapatos de Maria Antonieta.

7- Coco Chanel em “Coco antes de Chanel”, 2009

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremTrabalhando com moda a partir dos anos 1910, Chanel construiu um império e revolucionou o pensamento do século XX. A estilista liberou as mulheres da silhueta conservadora, marcada pelo corselete, e introduziu roupas inspiradas no vestuário masculino. Uma explicação simplificada, mas que dá o tom da influência de Coco. Como o título promete, o enredo enfoca nos anos que antecedem a fama da protagonista. Quem está ali, retratada por Audrey Tautou, não é uma poderosa estilista, mas, sim, uma moça órfã e de família humilde, que costura de dia e canta em cabarés de noite. Um filme maravilhoso e inspirador de uma mulher muito à frente de seu tempo. Reparem na vestimenta escolhida por Coco, assim como a escolhida por seu amante, na festa à fantasia que acontece no filme. As escolham dizem muito sobre os dois protagonistas.

8- Marilyn Monroe em “Sete dias com Marilyn”, 2011

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremMichelle Williams vive primorosamente Marilyn Monroe nesse filme, papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. “Sete dias com Marylin” foi inspirado no livro “Minha semana com Marilyn”, escrito por Colin Clark, na época assistente de produção do filme “O Príncipe Encantado” (1957) estrelado por Marilyn. O filme deixa muito claro que Marilyn, com seu jeito hora ousado, hora ingênuo, deixava os homens ao seu redor loucos por ela. Também percebemos no longa que a atriz precisava de apoio psicológico e que seus sucessivos relacionamentos pareciam ser uma válvula de escape para uma dor íntima não muito clara no longa.

9- Ernest Hemingway em “Hemingway & Martha”, 2013

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremEstrelado por Nicole Kidman e Clive Owen e dirigido por Philip Kaufman, Hemingway & Martha reconta um dos maiores romances do século passado – o tórrido caso de amor e tumultuado casamento entre o mestre literário Ernest Hemingway e a bela e pioneira correspondente de guerra Martha Gellhorn (Kidman) – à medida que acompanha as aventuras dos dois em meio a Guerra Civil Espanhola. Como testemunhas da história, eles cobriram todos os grandes conflitos da época deles, mas a guerra à qual eles não sobreviveriam seria aquela travada entre eles mesmos. O filme também é estrelado pelo brasileiro Rodrigo Santoro.

10- Stephen Hawking em “A Teoria de Tudo”, 2015

contioutra.com - 10 filmes biográficos que farão suas pernas tremeremBaseado na história de Stephen Hawking, o filme expõe como o astrofísico fez descobertas relevantes para o mundo da ciência, inclusive relacionadas ao tempo. Também retrata seu romance com Jane Wilde, uma estudante de Cambridge que se tornou sua esposa. Aos 21 anos de idade, Hawking descobriu que sofria de uma doença motora degenerativa, mas isso não o impediu de se tornar um dos maiores cientistas da atualidade. Destaco aqui o romance entre Jane e Hawking, que mesmo sofrendo um desgaste natural pelo tempo e circunstâncias, mostrou-se de uma delicadeza sem igual, permeado de muito carinho e respeito. Filme lindo.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

N°274, DE 2015: PROIBIDO ACEITAR METADES

N°274, DE 2015: PROIBIDO ACEITAR METADES

O caminho até um amor verdadeiro é cheio de labirintos e desafios aqui e ali. Qualquer passo dado fora de ritmo pode acabar em uma queda até o fundo do poço. Quem nunca se sentiu tão vazio que viu em cada oportunidade uma chance de se ver inteiro de novo?

Mas, se tem algo pior do que estar vazio, é estar preenchido só até a metade. É ter uma parte do seu coração colorido com o mais vibrante e fluorescente vermelho, mas a outra parte estar completamente sem cor, com o contorno fosco e sem vida. Vivemos em busca da pessoa que irá nos completar, mas para isso acontecer, o outro tem que estar inteiro. Se vier incompleto, não só não nos envolve, como também nos torna ainda mais solitários do que se estivéssemos sozinhos.

Estar com alguém que não se entrega a você com a mesma intensidade é viver de sonhos interrompidos, buscando sempre em detalhes escondidos qualquer sinal de carinho. Mas se é amor, não há motivos para ir atrás desses sinais, pois deveriam estar tão claros de modo que atrás de qualquer “bom dia” é visível o cuidado e qualquer palavra nos faz sentir acolhidos.

Eu já tive tantas noites mal dormidas, já quis abrir meu peito e sair de dentro de mim e procurei em cada abraço alguém que quisesse andar o mesmo caminho que eu. Desejei alguém que me desvendasse e soubesse lidar com cada imperfeição e cada cicatriz que levo comigo. Mas acabei me cansando de ouvir sempre as mesmas histórias, de rir das mesmas piadas e de colocar sempre o mesmo sorriso de canto de boca, fingindo que estou completa. Porque ninguém nunca me completou. Ainda não conseguiram encher as duas partes de mim e mesmo que eu quisesse dizer a mim mesma que não preciso estar cheia, decidi que ninguém vale o esforço das minhas falsas aceitações.

Não digo que preciso de um joelho ralado, de tanto alguém se rastejar, atrás de mim. Porém, digo que não preciso do meu coração apertado de tanto tentar se encaixar onde não cabe. Ficou proibido aceitar metades. Não se pode mais nadar em piscinas rasas quando dentro de você residem as mais profundas águas.

Despedir-se e lidar com a saudade dói menos do que viver com a sensação de que poderia ser mais, de que queria ter mais e que merecia ter mais do que possui. Pode ser que atravessando a rua você encontre alguém que mereça ser convidada a entrar, enquanto isso é melhor guardar todo o seu amor dentro de uma caixinha e deixar a alma respirar.

Não adianta dizer um “adeus” e depois implorar por um “fica”. Se a pessoa quer ir, deixe que vá e ainda agradeça por isso, pois ela está deixando um espaço vago para alguém que realmente queira estar ali com você. Eu já quis muito ser o mundo de alguém, já me refiz em infinitas peças com diversas formas só para não correr o risco de não me encaixar em algo. Mas e os meus espaços vazios, quem se refaz para poder completar? Sempre me doei e me doí, mas e quem se doa por mim?

Depois de tantos tropeços e histórias mal resolvidas, escolhi largar de vez os quebra-cabeças. Desisti de tentar montar, entender ou refazer. Pois de tanto aceitar metades, acabei esvaziando o que antes havia de completo em mim. E não adianta, não se pode mendigar atenção de ninguém, não pode viver a vida a mercê de migalhas de afeto ou se esforçar para se incluir onde você não cabe. Para estar completo, é preciso estar com alguém que abra espaço para você entrar. Como alguém que limpa a casa para receber visitas, assim como você se arruma para acomodar alguém dentro do peito. Então, não aceite menos do que seu coração pede.

Os “talvez” os “tantos faz” não me atraem mais. Para que preferir o morno se você pode ter o gelado ou o quente? Eu não quero algo o qual eu me acostume, quero o mais difícil ou mais fácil, nunca o meio-termo. Quero que segure minha mão com força ou que nem chegue a tocá-la. Quero que me ame para sempre ou que nunca diga tais palavras. Quero ultrapassar todos os meus limites, explorar o que nunca antes tenha sido. Quero algo queimando a minha pele ou congelando meus sentidos, mas nunca em uma temperatura confortável. Quero ir de 0 até 100, sem nunca parar no 50. Ou fico onde estou, ou vou até o final. Nada de metades pra mim.

Imagem de capa: 2shrimpS/shutterstock

Sírius

Sírius

Fui ao cinema dia desses e, antes do filme, meio que tentando equilibrar minha pipoca, chocolate e refrigerante gigantes, vi o teaser de uma exposição da Yoko Ono que está passando por São Paulo. Olhando fixamente para mim ela disse algo que me fez pausar um dos bocados de pipoca na metade do trajeto. “Pessoas são como estrelas, às vezes nós só precisamos saber observa-las em sua órbita, brilhando”, disse Yoko.

Me lembrei de quando fui conhecer um centro de observação do céu e o astrônomo apontava para cada luzinha contando suas histórias. Mas por mais que ele tentasse transmitir toda a sua paixão pela estrela Sírius, todo seu fascínio pelas nebulosas, ninguém parecia estar realmente empolgado. Me incluo nisso. Eu só conseguia pensar se aquele frio que eu sentia seria uma sensação parecida com a de mergulhar de sunga num lago congelado da Sibéria.

Foi aí que ele apontou um dos telescópios gigantes para a Lua e disse que quem quisesse poderia fazer uma foto nítida das crateras lunares com o celular. Euforia geral. A ideia de sequestrar um punhado de satélite natural e levar consigo deixou todos nós instantaneamente empolgados. Mas porquê? Aquilo ficou martelando comigo por muito tempo, até ouvir a frase de Yoko. Como quem liga estrelas na noite e enxerga algo maior.

A gente leva essa mania feiinha para tantos espaços de nossas vidas. Aprendemos que o relacionar-se com os outros é meio que também desse jeito: como a tentativa boba de coletar estrelas, como o guardar de um pedaço do rio entre os dedos, como engarrafar o assovio bonito do vento. Nós seguimos tentando ter as pessoas. Coleta-las de suas rotinas, rouba-las para nossas órbitas e inseguranças, tão infinitas quanto o próprio espaço.

O amor seria tão mais verdadeiro se pudéssemos olhar para as pessoas de nossas vidas como Yoko olha para as estrelas: apenas admirados de sua capacidade de brilhar, fascinados com seu mistério de existir, gratos pela possibilidade de nos conectarmos justamente a elas numa infinitude de possibilidades. As estrelas não existem para serem tidas. Como o amor, as estrelas existem para que a gente se sinta menos perdidos, para que nós nunca nos esqueçamos que tudo na vida pode ser grandioso.

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Sinto muito por você ter sentido tão pouco

Sinto muito por você ter sentido tão pouco

Faz tempo que quero te dizer, só que mais uma vez você não me ligou e eu tive que guardar para mim. Espero que aproveite o tempo em que seu telefone fica desligado e que lembre bem da sensação de saber que meus dedos digitam seu número, sem resposta, porque um dia será ao contrário. Sei que parece que eu sou incansável e continuarei abrindo infinitas portas até você estar atrás de alguma, mas admito que até mesmo eu estou me cansando dessas portas vazias.

Faz tempo que eu quero te dizer, só que você não respondeu minha mensagem outra vez, então tive que engolir e fingir que não estou perdendo as esperanças em você. Ando pisando em cacos e dizendo que não dói, colocando curativos por cima sem nem mesmo tirar os pedaços antes. Mas esconder tudo isso não está funcionando mais. Você gosta de saber que conseguiu me fazer chegar no limite?

Faz tempo que eu quero te dizer, mas quando comecei a falar você me interrompeu para me lembrar que eu faço tudo errado e que já está cansado dos meus discursos constantes. Mas como está cansado se nem ao menos me deixou começar a falar? Se ao menos parasse para ouvir de vez em quando, entenderia que atrás de mim está um enorme tapete com poeiras varridas, mas que já não tem mais espaço aqui. Já escondi o máximo que pude, poupei tudo o que consegui para não ter que te dizer, só que até minhas falsas aceitações de que está tudo bem, não me convencem mais.

Eu tive que trancar minha porta, pois sabia que se abrisse eu não iria me conter e iria atrás de você para te fazer me ouvir. Mas foi tanto tempo sozinha, encarando as paredes que comecei a me perguntar se você vale mesmo todo esse sufoco.

Faz tempo que eu quero te dizer, só que você me fez chorar antes mesmo de abrir a boca e engasgada assim não daria para te convencer de que nem tudo é sentimento em mim, mas que também há razão em querer que você se sinta como eu sinto. Porém, a emoção me abraça, já faz tanto tempo que estou guardando que já não sei mais como ser racional nisso.

Acontece que já te dei todos os sinais e mostrei diversas vezes que o amor não basta. Eu quis te avisar que minha morada nos seus braços pode não durar para sempre se você não souber me abraçar de volta, mas você não deixou. Você tinha tudo para me ouvir e entender o que se passa aqui, mas você preferiu se isolar e se agarrar a ideia de que eu já estava apegada demais para ir embora.

Faz tempo que eu quero te dizer, mas você me disse outra vez que estava ocupado e depois a gente conversava. Mas o depois nunca chegou e não deu mais para esperar o dia em que você fosse me olhar e realmente me ver.

Eu já não tenho mais tempo para te dizer. Te digo, então, que eu sinto muito por você ter sentido tão pouco e que dessa vez sou eu quem não vai estar atrás de porta alguma que você bater.

Eu já não tenho mais tempo algum. Tenho pressa em sair desse sufoco. Só posso terminar dizendo que eu sinto muito, só que dessa vez não sinto por mim, sinto muito por você.

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Decanto

Decanto

Aproveita que um dia todo o encanto passa – Ameaçam os amargurados – Ficará a rotina em seus tons acinzentados, tornar-se-á o seu caminho previsível, um dia você simplesmente se acostumará a ela. Um dia ela simplesmente se acostumará a você, até não poder te enxergar mais.

Jamais compreendi o tom de ameaça, se me acostumar à presença dela é exatamente o que busco. Teremos sorte se um dia eu puder mesmo me tornar banal como uma cadeira de balanço. Se um dia deixar de ser um corpo estranho, deixar de ser visita, novidade, ânsia, para ser somente a companhia calma pros seus cotovelos cansados de esperar.

Aproveita, um dia o encanto passa – Repetem os amargurados. E tudo o que eu mais quero é desencantar-me diante dos seus olhos entediados. É ser silêncio calado pra acompanhar sua voz cada dia mais quietinha, como um canto por onde ninguém mais passa. Quero mesmo que todo o encanto nos deixe, que seu afago seja cada noite menos sedento de mim, quero ser tão costumeiro como o curvar dos galhos ou a mudança de opinião serena dos rios.

Sorte de quem puder atravessar os anos a ponto de deixar de ser encanto, sorte de quem puder amanhecer e perder o tom abobalhado dos amantes, o ar embriagado dos sonantes. Amanhecer, entende? Luz sobre a minha confusão.

Tudo o que eu mais quero é que o encanto passe, que os anos não nos perdoem, para que fique em mim a certeza de estar ao seu lado. E que como ameaçam os amargurados, você se acostume mesmo com a minha companhia, num acompanhar-te que nunca passa, lerdo e costumeiro.

E esse que fica quando todo o encanto decanta, e esse que se assenta junto com a rotina, não me ofenderia jamais. Depois que todo o encanto decanta, é ali que está o verdadeiro amor.

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Rubem Alves: o educador da sensibilidade

Rubem Alves: o educador da sensibilidade

Quando era criança, Rubem olhava para a chuva e tinha medo que ela caísse toda em cima dele de uma vez, e não em gotas. Permitia-se maravilhar pela chuva acontecer de um jeito e não de outro. É preciso se deixar provocar pelas perguntas, para que elas impulsionem transformações significativas. Era nisso que acreditava.

Assim como acreditava que precisamos de tempo para aproveitar as coisas boas da vida. “O prazer demanda tempo”, devaneava.  Vida é para isso: gastar tempo. Sendo assim, ganhar tempo é, de certa forma, estragar tempo.

Teve uma vida marcada por desilusões. Diz ter se desiludido com a religião e também com amor. A partir daí, sentiu liberdade para ultrapassar, para ir sempre adiante, construindo seus próprios momentos de liberdade, tijolo a tijolo.

O seu hoje tão reconhecido humanismo foi elaborado quando, denunciado à ditadura por alguém muito próximo, foi para o exílio, em 1964. Depois de uma primeira fase marcadamente teológica, Rubem passou a tentar compreender a experiência religiosa a partir do próprio humano. Essa foi sua preocupação durante o árduo forçado afastamento do país.

Tempos depois, já no final da década de 1970, passou a ter uma visão mais aberta e mais crítica da ciência e é convidado pela Unicamp a integrar a faculdade de educação. Ali começam a surgir os lampejos da sua visão educacional que também o tornariam enormemente conhecido, publicando obras como Estórias de Quem Gosta de Ensinar e Conversas com Quem Gosta de Ensinar.

Depois do nascimento da filha Raquel (hoje presidente do instituto que leva o nome do pai), Rubem deu espaço para uma poética maior em seus textos e quebra um pouco a linguagem acadêmica e dura de seus livros anteriores. É justamente esse autor que costuma ser largamente citado e reproduzido, principalmente nas redes sociais. Suas crônicas cativam pela leveza e pelo profundo mergulho na condição humana que proporciona ao leitor.

“O mundo acadêmico é um lugar perigoso. Dá medo. É muito difícil viver na universidade e continuar a cultivar os próprios pensamentos. É muito mais seguro ficar moendo o pensamento dos outros”, declarou no documentário Rubem Alves, O Professor de Espantos, dirigido por Dulce Queiroz.

Um homem à frente do seu tempo, foi um dos fundadores da Teologia da Libertação. Crítico do tecnicismo, defensor da valorização do sentimento e da sensibilidade humana, ele foi, junto de Paulo Freire, um dos maiores críticos do ensino tradicional.

Humanista de mão cheia, se interessou pelos mais diversos assuntos e até música chegou a estudar. “Eu gosto muito de música clássica. Comecei a ouvir música clássica antes de nascer, quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Ela era pianista e tocava… Sem nada ouvir eu ouvia. E assim a música clássica se misturou com minha carne e meu sangue”, escreveu em coluna publicada no portal O Aprendiz, do Uol.

Se apaixonou pelo piano após assistir uma apresentação do renomado intérprete Alexander Brailowsky e viu ali a oportunidade de ser respeitado por seus colegas, já que se via fora como peixe fora d’água entre os mesmos por ter vindo do interior mineiro para estudar em colégio de elite no Rio de Janeiro.

“Para mim era uma fantasia de ultrapassar a humilhação”, disse para a câmera de Dulce Queiroz. “E se eu estivesse no palco? Todas as humilhações seriam jogadas fora. Eu fiquei com a ideia na cabeça de que podia ser pianista, só que eu não sabia das coisas de Deus.”

E isso é só o começo.

CARINHO E GENEROSIDADE

Silvionê Chaves, 60 anos, é professor e ator. Fundou a Cia. Teatral Matéria Vertente, em 1992. Foi a primeira pessoa a levar as crônicas de Rubem Alves para o teatro, com a peça de nome Cardápio Rubem Alves.

Tudo começou em 2011, quando Silvionê foi apresentar o espetáculo Cartas ao Professor num congresso de professores na cidade de Ilhéus, Bahia. Todos os palestrantes do evento estavam hospedados no mesmo hotel e por uma dessas coincidências da vida, o jovem ator se encontrou com nosso perfilado.

“Quando desci para tomar o café da manhã, vi Rubem Alves sozinho em uma mesa. Aproximei dele e comecei a dizer alguns textos de sua autoria. Ele olhou para mim admirado. Convidou-me para sentar. Conversamos bastante. Contei-lhe minha história e da minha admiração pelos seus textos e o quão eles faziam bem para a minha alma”, conta Silvionê.

“Perguntei-lhe se algum grupo de teatro já havia encenado suas crônicas. Disse-me que não. Fiz lhe uma proposta de trabalhar cenicamente algumas de suas crônicas. Ele imediatamente gostou e aprovou a ideia. Dessa forma, nasceu o espetáculo.”

O nome da peça foi dado pelo próprio Rubem, logo após aquele inusitado café. O espetáculo foi encenado já no ano seguinte, no salão de festas do prédio onde Rubem morava, sob a direção de Marco Antonio Garbellini e Luan Chaves, filho de Silvionê.

Durante o processo de criação, Silvionê ia até o seu apartamento em Campinas. “Ele me recebia com o maior carinho e terminávamos nossas conversas em torno da mesa, onde me oferecia suco com alguns quitutes”, rememora com carinho. “Nesses encontros, ele me presenteava com suas ‘estórias’. Eu me deliciava com elas. Era impossível voltar para casa da mesma forma depois de um encontro com ele. E ao despedirmos ele sempre me oferecia algum livro. Na minha estante, eu tenho 36 livros infantis e 41 livros adultos de sua autoria.”

Mesmo tendo convivido por pouco tempo com Rubem Alves, Silvionê diz que foi um acontecimento que o modificou e que transformou o mineiro numa espécie de guia.

“Ele é para mim um guia espiritual. Todos os dias alimento-me de seus textos, que aliás era um de seus desejos.” Ao fazer tal afirmação, o ator tem em mente um trecho de um texto de Rubem que diz: Não desejo que você simplesmente “entenda” o que escrevo. Entender é um ato racional. O que eu desejo é que o meu texto seja comido antropofagicamente. Quero que você sinta o meu gosto.

Para ele, Rubem Alves foi “um educador que teve um caso de amor com a vida e que era apaixonado pelos ipês amarelos”.

MEMÓRIA VIVA

Enquanto Rubem ainda estava vivo, o professor, educador, biólogo e empresário Samuel Lago, 76 anos, empreendeu a corajosa tarefa de esmiuçar dezenas de livros lançados pelo educador e extrair o sumo, a essência do seu pensamento. A difícil tarefa resultou na coleção Pensamento Vivo de Rubem Alves e no livro O Melhor de Rubem Alves, todos publicados pela Editora Nossa Cultura, da qual Samuel é dono.

O primeiro título trazia crônicas que estavam esquecidas há décadas em jornais de Campinas e São Paulo e que nunca tinham sido publicadas em livros. “Deu muito trabalho coletá-las! Mas fiz!”, afirma Samuel. Já o segundo surgiu por um desejo de realizar uma síntese dos vários temas que eram caros para Rubem (educação, religião, filosofia, política, poesia, etc.)

“Na época li cerca de 80 livros (hoje são mais de 100) para sintetizar o melhor”, relembra o amigo e editor. “Fiz isso pelos leitores de Rubem Alves. Além disso, com autorização das quatro editoras que publicavam os livros do Rubem Alves, toda a renda da venda do livro O Melhor de Rubem Alves é destinada ao hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Procurei resgatar duas ações que amo: resgatar uma memória e ajudar o próximo!”.

Samuel Lago também foi responsável por outros lançamentos com a obra do autor. “Sempre que passava por Campinas ia visita-lo e jantar com a família. Gravei lá em Campinas, no apartamento dele horas de conversa no DVD designado Uma tarde com Rubem Alves.”

Rubem e Samuel se conheceram pessoalmente durante uma viagem à Patagônia Chilena, mas Samuel já era leitor ávido daquele que viria a se tornar seu comparsa e editorialmente chancelado. Costumavam se frequentar e discutir muito sobre tudo.

Das lembranças que mais marcaram, Lago se lembra das longas conversas que tinham em seu apartamento em Curitiba, onde Rubem se hospedava quando estava na cidade. Essas conversas costumavam ir madrugada adentro e os dois aproveitavam o encontro para refletirem juntos sobre ética, religião, filosofia e natureza, entre outras coisas.  “É claro que tomando um uisquezinho Jack Daniels que ele adorava”, confessa Samuel.

Como lição pessoal, diz que aprendeu com Rubem a “amar a natureza, a vida, e a si próprio para então amar o próximo. Pensar, duvidar, contestar o status quo vigente!”.

AMIZADE DURADOURA

No final da década de 1970, era costume da Universidade Católica de Campinas organizar o evento conhecido como Semana de Filosofia. Nesse período não havia aulas e os alunos passavam os dias discutindo temas filosóficos. Rubem Alves era figurinha carimbada nesses eventos, sempre falando sobre algum tópico. Foi nesse período que Antonio Vidal Nunes, 60 anos, teve o primeiro contato com seu futuro grande amigo e mentor.

“Eu gostava muito de vê-lo falar. Na verdade não entendia muito bem o que ele dizia, mas me encantava a forma como ele falava. Sempre muito apaixonado e isso me encantava”, rememora o professor da Universidade Federal do Espírito Santo e estudioso da obra de Rubem – Antonio também foi orientando dele e os dois por muito tempo estiveram próximos.

Em 1996 eles se encontrariam de novo, dessa vez para discutirem o interesse de Vidal em escrever sua tese de doutorado sobre o pensamento pedagógico de Rubem. O antigo orientador foi receptivo à ideia e deu todo apoio. Anos depois, a mesma tese foi publicada no livro Corpo, Linguagem e Educação dos Sentidos no Pensamento de Rubem Alves (Paulus, 2008).

Antes, Antonio Vidal havia organizado o livro O Que Eles Pensam de Rubem Alves e de seu Humanismo na Religião, na Educação e na Poesia (Paulus, 2007), uma compilação de textos de amigos, colegas, intelectuais, pesquisadores e ex-alunos – gente de vários lugares do globo – sobre a vida e a obra do multifacetado mestre. Trabalho que até hoje pode ser facilmente considerado como referência no estudo de Rubem Alves.

Na época em que desenvolvia seus estudos sobre o pensamento do amigo, chegou a ser criticado por se dispor a estudar e pesquisar alguém que ainda estivesse vivo. Uma mostra tacanha da premissa que perdura até hoje no meio acadêmico, que basicamente prega que homenageado bom é homenageado morto – Para a nossa sorte e visível alegria de Rubem, pessoas como Silvionê, Samuel e Antonio ousaram discordar disso.

OS CANOEIROS DA TERCEIRA MARGEM

De 1997 a 2000, enquanto fazia suas pesquisas para a finalização da tese, Antonio frequentou o sarau de poesia que acontecia todas as terças no famigerado e aparentemente agitado apartamento de Rubem Alves, em Campinas.

O grupo foi criado depois de sua aposentadoria da Unicamp e era coordenado pelo próprio Rubem, que o batizou de Canoeiros da Terceira Margem. Os encontros com direito a sopa preparado pelo próprio anfitrião e por vinhos, recebia em torno de 25 pessoas por noite. Uma experiência que marcou Antonio.

“Eu diria que Rubem foi também um dos educadores da minha sensibilidade. Ele me iniciou na poética, na leitura dos poetas”, conta. Dos nomes que costumavam aparecer nas mãos e bocas dos participantes estavam Fernando Pessoa, Clarice Lispector e Chico Buarque, de quem, segundo Nunes, Rubem gostava muito de algumas letras. “Cada noite ele separava algumas poesias de alguns poetas diferentes e a gente passava umas duas ou três horas juntos.”

Os Canoeiros da Terceira Margem ficaram em atividade até 2012, quando os problemas de saúde do entusiasta Rubem começaram a se agravar, impedindo-o de participar das reuniões com assiduidade.

TRABALHO CONTÍNUO

“Depois que eu fiz os trabalhos sobre ele eu ainda percebo que o compreendi pouco. Há muita coisa do mundo do Rubem, do pensamento dele que a gente vai dando maior precisão, que a gente vai compreendendo melhor com o tempo”, conclui Antonio Vidal, mesmo depois de dedicar grande parte da sua vida a se aprofundar na imensidão de Rubem Alves.

Avalia ainda que o grande pensador e humanista brasileiro tomou para si a bonita missão de “desvelar a beleza adormecida que se encontra em cada ser humano” e trabalhava para que a vida fosse mais bonita e para que “pudesse ser vivida em plenitude”.

Vidal, assim como muitos dos seus leitores, vê o antigo mestre como alguém que “não tinha medo de trocar as estradas batidas pelas veredas desconhecidas. Aquele que trocava a tranqüilidade ilusória do porto seguro pelo risco do mar aberto.”

Teólogo, educador, filósofo, psicanalista, cronista, escritor ou simplesmente um homem que amava viver: todas definições vagas para um ser humano do porte e magnitude de Rubem Alves, constato antes de me atrever a colocar ponto final em uma trajetória que permanece vigorosa e reticente. Por isso, é assim que o repórter decide encerrar a reportagem: com duradouras e respeitosas reticências…

Quem diz que todo relacionamento é fácil está mentindo

Quem diz que todo relacionamento é fácil está mentindo

Ninguém disse que se relacionar com alguém é fácil. Aliás, já devem até ter dito, mas ou essa pessoa estava mentindo ou ela não fazia a mínima ideia do que é um relacionamento de verdade.

É na dificuldade que casais crescem ou caem de vez.

Todo percalço numa relação é uma chance de superação, individual e também como casal. As reticências aos poucos vão se tornando vírgulas, até chegarem ao status de pontos finais que nos deixam prontos para o próximo parágrafo.

Desejar que tudo seja extremamente fácil é idealizar, projetar no outro o que você gostaria que ele fosse e não é bem assim que as coisas funcionam. O caminhar juntos, mesmo com eventuais tropeços, é o que faz um relacionamento de verdade.

Errar na quantidade de açúcar no chá, chegar atrasado ou faltar a compromissos, perder a cabeça, ter medo de baratas, não ter a mínima noção de como se troca um chuveiro, roncar, falar enquanto dorme, ter uma péssima memória para datas comemorativas, comer o último pedaço de bolo que o outro guardou religiosamente na geladeira: tudo isso está no mesmo patamar das pequenas falhas que podem se tornar degraus.

Somos humanos e nunca deixaremos de ser. Fantasiar e buscar incansavelmente a perfeição é negar a humanidade do outro. No fundo, é como estar preso em uma relação com mais ninguém além de si mesmo.

É preciso saber respeitar a individualidade e talvez essa seja a coisa mais difícil. É que há uma ideia equivocada de que cada pessoa em um relacionamento deva se tornar o complemento do outro. Algo que fica bonito nas letras de músicas e nos poemas que rimam amor com dor, mas que é um martírio na vida real.

Cada um deve ser livre para ser aquilo que quiser ser. A parceria de uma relação está nos acordos tácitos que respeitem a individualidade e não na obrigação de ser tampa de panela ou metade de laranja.

Uma relação saudável deveria ser aquela que expande, que faz com que os envolvidos se sintam à vontade para se conhecerem melhor individualmente; que apoiem um ao outro, independentemente de discordarem ou não daquilo que está sendo buscado; entender que às vezes o sonho de A não é o mesmo sonho de B e que está tudo bem ser assim.

Relacionamento é um exercício de alteridade, talvez dos maiores que existam. E não se deveria entrar em um sem estar disposto a permitir que exista outra pessoa de verdade nele.

Imagem de capa: MNStudio/shutterstock

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