Entrar em um relacionamento é aceitar que o amor tem o seu próprio ritmo

Entrar em um relacionamento é aceitar que o amor tem o seu próprio ritmo

Não adianta fazer promessas, estipular provas e esperar que o amor se encaixe nas suas expectativas. O amor é livre e tem o seu próprio ritmo. Quando entrar em um relacionamento, entenda que o amor pode chegar e também partir.

Após muitos desencontros, você percebe ter amado errado. Sim, existe amar errado. É quando você assume o amor como sendo seu. Mas não é assim. Amor não é posse, no qual você o conquista e ganha o direito de tê-lo só para si. Dizer que ama, que sente aquele amor todo é, acima de tudo, respeitá-lo. É saber que ele pode ir e vir por mais que você o queira para sempre. Aliás, não existe isso de “para sempre”. Damos um tiro no pé cada vez que tomamos o amor como uma linha perpétua e sem desvios.

Em vez de querer controlar o amor, por que não apenas sê-lo? Por que não permiti-lo na sua leveza e autenticidade? Todos os amores são diferentes. Comum é como os vivemos. Utilizamos de máscaras e falsos pretextos para viver ao lado de alguém. Confundimos uma boa companhia e boa conversa com um contrato emocional que nunca pode ser quebrado. Se simplesmente aproveitássemos os instantes cedidos, talvez o amar não doesse tanto. Pois o amor, na sua plenitude, é nada mais do que viver o agora.

A verdade é que estamos ainda mais distantes daqueles relacionamentos duradouros e cobertos de sintonias. Não por falta de intensidade e entrega, mas por escolha. Estamos manipulando o amor. E o amor não combina, independente da sua vontade, com obrigações. Ele precisa ser espontâneo, cúmplice e atencioso.

Nada de loucuras. Que o amor venha tranquilo, paciente e consciente dos seus abraços. O amor requer doses de autoconhecimento para prevalecer.

Imagem de capa: Anetlanda, Shutterstock

Nenhum dia termina

Nenhum dia termina

Envolvida pela leitura do ótimo “Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite”, de Fal Azevedo, revisito as cenas de minha vida, as de ontem e as de hoje, e percebo o quanto os retalhos se entrelaçam, mostrando que o tempo passa e se repete, flui e permanece, conduz e é envolvido, avança e recua.

Nenhum dia termina, nenhuma história de hoje existe sozinha sem os vapores de ontem, nenhuma escolha ficará impune ao amanhã.

Somos a continuação dos planos, a evolução dos desejos, o prosseguimento das primeiras histórias.

Encostada no muro da casa da minha avó, aos oito anos, eu tecia meu primeiro diário. Nele exercitava meu desejo de fazer-me palavra escrita, e nenhum dia terminou desde aquela tarde. Hoje, em frente ao computador, dou continuidade às linhas da menina, alterando os versos, modificando a musicalidade, mas carregando em mim toda prosa dos primeiros atos.

Somos a soma dos dias; a língua queimada no primeiro gole de café quente, a embriaguez perfumada do primeiro porre, o hálito seco ao encontrar o grande amor da adolescência. Somos os quintais onde brincamos, as casas onde moramos, os beijos que ofertamos, as músicas que ouvimos, as goiabeiras que subimos, as emoções que provocamos.

Nenhum dia termina. Mesmo desbotados, não morrem os sonhos ou as ilusões. Mesmo atrasados, não morrem os risos nem as canções. Mesmo distantes, não morrem os sentidos ou as sensações.

Carregamos conosco retalhos do que fomos, fragmentos de um tempo em que a mãe batia um bolo e, equilibrando-nos em cima de uma cadeira alta, invadíamos a massa com nossos dedinhos atrevidos. Hoje, nossos filhos repetem o gesto como herdeiros de nossa memória e afetividade.

A gente diz “boa noite”, mas os dias não vão embora. Permanecem vivos nos pijamas das crianças, nos vapores da chaleira, no cheiro aconchegante dos biscoitos na assadeira. Na voz delicada de Chico Buarque cantando “João e Maria”, no livro antigo ofertado ao filho mais velho, na receita repetida pela moça recém casada, na porcelana herdada, nas escolhas que carregam partes do que fomos.

Enquanto coloco na máquina de lavar as sensações ruins que também fazem parte do que sou, estendo no varal ao sol minhas promessas, meus desejos de menina, meus encontros e desencontros pela vida. E assim também percebo que tudo faz sentido, nenhuma peça está ali por acaso, e por isso sou grata aos dissabores também. Entendendo que somos continuação, sequência, consequência e conclusão. Somos a soma dos dias, a constatação única de que nenhum dia termina

Imagem de capa: taramara78/Shutterstock

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“Mãe é a própria continuidade de Deus”

“Mãe é a própria continuidade de Deus”

Mãe sabe quando o filho não está bem. Mãe tem faro apurado e remédio certeiro pra qualquer mal. Não adianta esconder o choro pesado atrás das pálpebras.

Não adianta deitar cedo pra fingir que não passou a tarde chorando. Não adianta lavar a tristeza a seco e exibir o sorriso forjado no café da manhã.

Não adianta dizer que está tudo bem se realmente não estiver.

Não importa qual é o problema, ela sabe. O magnetismo dela com a alma do filho nunca se rompe. Mãe tem um jeito especial de sentir as coisas. Possui detector de carga vibracional.

É uma vidente em pleno exercício de amorosidade. Uma sensitiva que vive de peito colado ao coração do ser que gerou. Um anjo da guarda que às vezes sofre de insônia proposital pra proteger a prole.

Preocupação de mãe nunca deve ser ignorada. Começa com um atordoamento, uma agonia no peito, um desespero, uma vontade de abraçar o filho. De escutar a voz. De juntar um punhado de frases do próprio repertório e embalar, dar colo e dizer: Eu estou aqui, meu filho. Não se preocupe”.

Enquanto o filho não chega, ela passa o café. Faz inúmeras ligações. Envia mensagens. Aguarda retorno. Anda esfregando as mãos pelos cômodos da casa. Faz prece. Multiplica as atividades pra não dar a entender que está sofrendo. Atende o telefone, agora mais aliviada. Bate a massa do bolo, mas o pensamento ferve. Ela não se distrai. A memória é uma ficha que gira rápido e cai direto na infância dele. Recupera a imagem da criança agitada e risonha correndo no quintal. Sorri ao contemplar no álbum antigo, o menino cheio de travessuras que adorava colorir as paredes da sala. O menino-artista que pintou o cachorro da família.

Preocupação de mãe pode ser a coisa mais séria do mundo, mas às vezes é só a fúria da saudade. Não importa o quanto ele tenha crescido, mãe quer o filho por perto. Mãe quer ter certeza que o sorriso é genuíno. Que a voz rouca é só uma gripe boba. Que o choro é passageiro. Que a cabeça baixa é puro cansaço.

O pensamento que une a mãe ao filho é um mantra que só eles sabem. É uma mensagem afetuosa que amolece qualquer silêncio. Uma partitura etérea. Um pacto de amor eterno firmado na maternidade.

Mãe pega no ar, a tristeza do filho. Fisga nos olhos qualquer poeira de avaria emocional. Às vezes, silencia. Depois de observar que não é febre, que não é gripe ou qualquer outra doença com sintomas visíveis, se põe a cantarolar.

Acolhe o filho entre os braços e dissipa as dores pelo canto. Põe fita colorida nos sonhos opacos. Revitaliza a esperança. Adorna a face com beijos calorosos. Diz palavras carinhosas. Os desânimos e as tristezas logo se despedem, após o toque manso que faz redemoinho no cabelo.

Mãe possui um estoque de métodos infalíveis pra despertar o que há de melhor nos filhos. Mãe tem mania de alegria. Urgência de sorrisos. Um jeito peculiar de expandir a rotineira graça. Mãe é mãe mesmo antes de nascer. O tempo tem notícia dela quando ainda era absoluta pluma e mistério. Mãe é o sopro originário, o milagre vital, é a própria continuidade de Deus.

Imagem de capa: Frolova_Elena/shutterstock

Amor não é ter, é ser

Amor não é ter, é ser

Abir mão de você e daquilo que eu era quando eu estava com você, seria desafio demais pra mim. Eu só conseguiria fazê-lo quando o amor fosse tão grande que ele me desse coragem pra dizer adeus. Paradoxo. Talvez, e isso me vem à cabeça somente agora, você tenha achado que naquele dia em que eu optei por darmos um fim, eu tivesse deixado de gostar de você ou até mesmo que eu estivesse gostando de outro alguém. Mas não. Naquele domingo em que decidi encerrar a nossa história, foi o momento em que eu mais te amei. Eu nunca quis tanto dividir a minha vida com você, eu nunca quis tanto estar ao seu lado.

Eu nunca quis tanto ser melhor e estar melhor para dividir somente o bem com você. Mas eu sabia que aquele amor, por mais grande que fosse, não seria o suficiente para abrir aquela porta. A porta que se manteria fechada pra mim acontecesse o que acontecesse. Então, num impulso, com três doses de dor e de coragem, te disse adeus. Eu abri mão dos nossos encontros semanais por noites regadas a lágrimas.

Eu abri mão de te olhar antes de dormir para olhar a tela do meu celular enquanto o sono não vinha. Meu frio celular que agora me mostrava você seguindo sua vida a cada dia, e a cada dia mais longe de mim. Eu abri mão de te amar tão perto para agora te amar à distância. Em silêncio. Até o meu choro se tornou silencioso, por incrível que pareça. Eu já havia lutado muito pelo amor que eu sentia até que eu entendi que a maior provação desse amor seria agora desistir, pois você não sentia o mesmo. E aquilo que eu sentia não deveria te aprisionar, pelo contrário, deveria te libertar para outros caminhos. Assim eu não estaria provando que eu era uma pessoa madura, nada disso. Assim eu estaria apenas e finalmente entendendo que o amor não precisa da matéria e da física para existir.

Mesmo sem te ver, sem te tocar, mesmo sabendo que agora, neste exato momento em que escrevo essas linhas, você possa estar com um outro alguém, mesmo assim eu continuo te amar. Eu acho que pela primeira vez eu sei o que é amor genuíno, sem posse. O amor é luz que ilumina e cura a dor que fica ao ter que se dizer adeus. Amor não é ter, é ser. Eu estou em catarse.

Imagem de capa: Hrecheniuk Oleksi/Shutterstock

Por que que o “nós” já não faz sentido?

Por que que o “nós” já não faz sentido?

Lembra-me o porquê de já não fazermos sentido. Lembra-me o porquê de não dever ficar triste quando me lembro de tudo o que passamos juntos. Diz-me por que não chorar por já não ver as minhas pantufas em frente aos teus chinelos, como se estivessem dando um beijinho.

Diz-me por que o meu coração já não deverá apertar de saudade ao recordar quando preparávamos o pequeno almoço ou, antes de deitar, íamos ver uma besteirinha qualquer para comer. Diz-me onde arrumar as memórias de todos os passeios por Lisboa, da tua voz cantando para mim, ou quando me fazias cafuné antes de adormecer.

Ainda hoje, não sei o que há na tua voz que me acalma. Antes de me ajudares a te esquecer, ensina-me alguma outra forma de apaziguar o coração. Lembra-me o que deixou de fazer sentido nas bobagens que diz e que ou me dão raiva ou me fazem simplesmente sorrir. Para onde irão todas as longas conversas que tivemos? E os beijos e abraços?

Não sei se irei te ver novamente… a vida tem destas coisas. Uma vez, uma pessoa que, de fato, nunca mais vi, disse-me: nós nos veremos no céu. Sempre achei essa frase tão triste… mas há tantas pessoas que talvez já só se vejam no céu. Pode servir de consolo saber que pelo menos ainda te verei? Talvez seja apenas loucura minha, mas, amor, nós nos veremos no céu.

Imagem de capa: Ollyy/shutterstock

O maldito vício da reclamação

O maldito vício da reclamação

Viver ao lado de um “reclamão” é um verdadeiro teste de paciência. A pessoa que já se habituou ao modo “queixa contínua” vai perdendo a capacidade de ouvir-se, de refletir sobre a situação que vive e de resolver os problemas que aparecem, por mais simples e corriqueiros que sejam.

Reclamar, todo mundo reclama. Aliás, é dificílimo passar um dia inteirinho sem fazer nenhuma reclamação. Você já tentou? Se ainda não tentou, tente. É uma experiência no mínimo reveladora, porque a gente simplesmente não tem noção do tanto de vezes que abre a boca para soltar lamúrias num prazo de vinte e quatro horas.

Reclamamos do calor, do frio, da chuva, da falta dela, do fim de semana que passou depressa demais, do nosso peso, da falta de dinheiro, do excesso de trabalho, do parceiro que podia ser mais atencioso, dos filhos que podiam ser menos trabalhosos, dos políticos (essa aqui vai ser difícil pra &%#@*§ de evitar!). Enfim, reclamamos até para puxar assunto com um estranho na fila do supermercado “Nossa como estão caras as coisas, hein?” e outro responde “Sim! Tudo pela hora da morte!”.

O fato é que essa ruminação verbal não vai tirar a gente do sufoco financeiro, não vai mudar os ponteiros da balança, não vai provocar uma brisa natural nos nossos cabelos para aliviar a temperatura de um dia quente, não vai fazer desaparecer aquele lugarzinho do capeta no Planalto Central (isso é realmente uma pena!).

Viver reclamando não vai adiantar de nada e ainda vai deixar a gente mal-acostumado em relação a tudo o que nos incomoda, porque a nossa mente entende que uma vez feita a reclamação – mesmo que ninguém tenha escutado – é como se tivéssemos feito algo a respeito daquilo que originou o desejo de reclamar; nosso foco fica perdido nessa cantoria repetitiva e inútil, e deixa de ser direcionado para uma tomada de consciência assertiva acerca do problema.

O fato é que reclamar faz parte daquele grupo de ações que fazemos no piloto automático. A reclamação é nossa reação impulsiva como resposta a uma situação desagradável, incômoda ou dolorosa. É quase impossível resistir ao impulso de reclamar.

E me arrisco a declarar que não deve haver cura definitiva para esse mal, porque além das reclamações explícitas, há aquelas que vêm disfarçadas de críticas ou opiniões. Fora o tanto de vezes que a gente lamenta a própria sorte só em pensamento, sem proferir uma única palavra.

Pois é… Acontece que quem manda no que a gente pensa é a gente mesmo. E se houver um desejo verdadeiro para mudar esse padrão de comportamento “mimimi”, algum avanço a gente há de conseguir, não é mesmo?

Quem sabe a gente não para de ser tão submisso às nossas manias inúteis e parte para uma postura mais atuante. Olha só… vou propor aqui um singelo exercício: toda vez que vier aquela frase pronta de queixa na sua boca, deixe que ela saia e anote o teor da reclamação num papel; faça isso por um dia inteiro.

Antes de tomar seu banho da noite – aquele que tira a “inhaca” do dia de labuta e envia você cheirosinho para o ninho -, leia a sua listinha lamuriosa. Analise cada item com calma e distanciamento. Questione sobre cada uma das queixas: É legítima? Posso mudar isso? Como? Anote também as respostas no papelzinho e vá dormir.

No dia seguinte… acorde determinado a solucionar – ou pelo menos tentar – as que tem jeito; e as registre numa outra lista: o rol das “proibidas”, ou seja, proponha-se firmemente a não reclamar mais dessas coisas; proponha-se a agir para mudá-las. As que não têm jeito de sumir, com certeza podem ser olhadas com outros olhos, e de repente você consegue descobrir que ao reclamar delas só as alimenta, e nada mais.

Por fim, seja bacana com a sua própria pessoa e dê a si mesmo um presente: cada vez que cair na tentação de reclamar, pense em algo pelo que possa agradecer. Sua mente é muito esperta e flexível, pode acreditar. E de tanto agradecer, você vai acabar descobrindo que andava reclamando apenas porque não se dava o direito de olhar para o quanto você é uma criatura de sorte!

Imagem de capa:  personagem Roz do filme Monstros SA

Um bilhete.

Um bilhete.

Talvez você não saiba, mas existe um tempo que é só seu. Ainda não é já. Está tudo nebuloso agora; a janela está fechada, a rua está silenciosa e você está triste, isso fez com que as luzes se apagassem por dentro. Você parece minúsculo diante de um mundo de coisas que confundem e pesam. Dói não ter certeza. Dói não descobrir o ângulo da mirada porque você está curvado, olhando pra trás. Deixa o passado passar. Se alguém que você amava foi embora não se culpe nem atribua a partida a qualquer coisa que você não tenha feito. Quem parte magoado costuma deixar cacos no meio do caminho pra lembrar que ainda é capaz de ferir, mas tenha a habilidade de desviar e fazer outra rota. Ninguém constrói vida nova guardando a demolição dos outros como souvenir. Ninguém vive e nem precisa recuperar um passado que não serve para abrilhantar o presente. Esqueça a ladainha de sofrer por alguém que não está mais aqui. Quem foi embora sabe exatamente o que fez. O melhor disso tudo é que você não precisa partir e nem se despedaçar pra se sentir confortável com outra presença, pois a única pessoa capaz de ser abrigo e se dar a melhor companhia é você mesmo.

Imagem de capa: Nejron Photo/shutterstock

Respeite sua tristeza

Respeite sua tristeza

Se eu pudesse te dar um conselho hoje seria: respeite a sua tristeza. Respeite sua tristeza porque ela é um sentimento natural. Respeitar algo que se está sentindo é o mesmo que se respeitar e que se acolher.

Não somos obrigados a sentir alegria todos os dias. Há dias em que tudo que queremos é manter silêncio e um certo isolamento da sociedade. E não há mal nenhum isso. Não somos seres estáticos que possuem apenas um tipo de emoção. Somos seres vivos, em constatante mutação, vivendo situações diferentes e convivendo com pessoas diferentes todos os dias. As emoções fluem e se transformam. Cedo ou tarde a tristeza virá e ela deverá ser ouvida e respeitada. Quanto mais a menosprezarmos, mais difícil será lidar com ela.

Mas confesso que nem sempre eu aceitei estar triste. Nem sempre eu aceitei esse estado de espírito em minha vida. Foram inúmeras as vezes em que ela se instalou em meu peito e eu me obriguei a ir em direção à multidão como forma de me convencer que “estava tudo bem”. Resultado? Eu só voltava pra casa pior porque chorar dói mas forçar um sorriso quando não se quer sorrir é ainda mais incômodo. Vestir máscaras pesa muito na alma da gente. Ressalto que estou falando de tristeza, não de depressão que é uma doença séria, onde a tristeza persiste e se alonga, exigindo diagnóstico e tratamento. (Estar triste é bem diferente de ser triste e precisamos nos atentar a isso para levarmos uma vida mais saudável).

Em uma sociedade que nos obriga constantemente a expor nas redes sociais felicidade nem sempre genuína, é um ato de coragem admitir: estou triste. Eu fiz isso recentemente, deixei de esconder uma tristeza que veio me visitar, eu a assumi e estive disposta a aprender o que ela veio me ensinar. O resultado disso? Ainda não sei, ainda estou sendo sua aprendiz. Mas pessoas ótimas vieram dizer que estão comigo e estariam disponíveis se eu precisasse. Talvez uma das lições que a tristeza veio me ensinar é de que não preciso fazer tudo sozinha, que há pessoas legais nesse mundão e que baixar a guarda às vezes pode ser muito bom.

Então, novamente, se eu puder te dar um conselho, seria: se a tristeza te visitar, ouça o que ela tem a te dizer. Geralmente ela nos ensina mais do que a alegria e pode ser justamente ela quem vai nos orientar a sair de uma situação que não vem dando certo há algum tempo. Além disso, sentir tristeza, assim como qualquer outro sentimento, nos faz lembrar que estamos vivos.

Imagem de capa:  Photographee.eu/Shutterstock

Sei o que quero, sou decidida!

Sei o que quero, sou decidida!

Talvez um dos meus maiores erros seja acreditar no amor. Talvez um dos maiores acertos, também. Ser romântica já me custou muitas noites de sono, mas preciso admitir que igualmente deixou muitos dos meus dias mais vivos e ensolarados. Mesmo aqueles dias mais nublados.

O preço de ser intensa é sofrer mais, disso eu não tenho nenhuma dúvida. A dádiva de ser intensa é sentir mais, é possuir cores mais fortes, é amar mais também. Isso quase me mata em algumas ocasiões mas me faz renascer em outras, muito mais resistente. E apesar de intensa, devo admitir que não sou uma pessoa segura, na verdade, eu sou cheia de inseguranças. Tenho muitos defeitos, mas sou bem decidida. Eu sei exatamente o que eu quero e o que eu não quero. Quem eu quero e quem eu não quero. Geralmente, ou eu estou envolvida até a alma com um único alguém ou eu estou sozinha, com o coração pacífico e desértico.

Estar com alguém não pode ser autoafirmação, jogo ou manobra pra enganar a carência; ainda mais pra alguém que aprendeu a se bastar com a sua própria companhia. Estar com alguém tem que ser mágico, transcendente. Se minha alma e meu coração não estiverem ali, eu também não posso estar. Devo me liberar e liberar o outro. Nada mais justo. O mesmo ocorre quando o meu coração e a minha alma estão, mas a do outro não. Eu não posso me agarrar a alguém que não sente o mesmo que eu. Porque, aos trancos e barrancos, aprendi que o amor não deve estar onde ele não poderia sobreviver. Porque aí já seria autoengano.

Ser decidida é ter coragem de lutar por aquilo que faz nosso coração arder, mas também é ter a firmeza de finalizar aquilo que não evoluiria, aquilo que não depende só da gente. É saber o que quer, e saber desistir do que se quer quando o outro não quer também. Confesso que nem sempre eu soube disso. Hoje eu sei.

Imagem de capa:  Look Studio/shutterstock

Chore, até que sua dor se esvazie e se preencha de esperança

Chore, até que sua dor se esvazie e se preencha de esperança

O choro esvazia toda a dor que nos oprime a essência, para que ela possa novamente vir a ser preenchida com fé e com esperança. Pode chorar.

A vida não é fácil e, não raro, vem com tudo, derrubando tudo o que encontra pela frente. Viver nem sempre é calmaria, haja vista as tempestades que se formam, de maneira imprevisível. E a gente se quebra e se diminui, a gente perde pessoas, perde oportunidades, perde sonhos, amores, perde tempo. É preciso chorar. Ou implodimos por dentro.

Quando a dor da decepção esgarçar a sua alma, derrubando por terra todas as confianças depositadas em quem usou o seu melhor de maneira desumana e cruel. Quando as pessoas retornarem o oposto da fidelidade que você lhes ofereceu, traindo e denegrindo a integridade por que sempre foram pautadas suas ações. Pode chorar.

Quando você rega o seu amor diariamente, com verdade e entrega integral, interessando-se pelo outro, olhando-o nos olhos e segurando-lhe as mãos com todas as suas forças, sem retorno afetivo. Quando você diz “bom dia”, sorri por simplesmente o outro estar ali na frente, é grato por amar, mas sem volta. Quando não há reciprocidade. Pode chorar.

Quando nada dá certo, ninguém o entende, ninguém o ouve, nada de bom existe ali por perto. Quando o desânimo invade, a tristeza toma conta e a angústia sufoca o peito, faz tremerem as mãos, faz a cor desaparecer do mundo lá fora. Quando é tanta porrada, que dói tudo, dói a alma, dói a dor da desesperança e da solidão. Pode chorar.

Quando a amizade fere, ignora, não responde, não procura, não vem junto e você percebe que somente de sua parte havia luta, havia parceria, havia cumplicidade. Quando nem era amizade, nem era estima, nem era nada, somente você gritando ao eco solitário do retorno vazio. Pode chorar.

Chorar faz bem, vai limpando tudo por dentro, lavando cada canto de nossa carga dolorosa que se acumula em nossos corações. Ninguém consegue sufocar e calar, quando a tristeza quer achar uma saída, quando é preciso esvaziar-se de tudo o que fere e machuca a alma. Chore, mas escolha bem os lugares onde verterá suas lágrimas e as pessoas que serão dignas o bastante para assistir ao seu pranto e entender seus sentimentos, sem usá-los em proveito próprio.

É dessa forma, afinal, que iremos esvaziar toda a dor que nos oprime a essência, para que ela possa novamente vir a ser preenchida com fé e com esperança. É assim que a gente recomeça e volta a sorrir de novo.

Imagem de capa: Laura Pashkevich/shutterstock

Se há uma possibilidade de amar, não recuo.

Se há uma possibilidade de amar, não recuo.

Se há uma possibilidade de amar, não recuo.

Corro o risco de ser arrastada pelo sabor adocicado das palavras, seduzida pela sutileza dos gestos, atraída pelo tempero da voz que passa a ser a minha música predileta.

Amo com o corpo inteiro e passo noites construindo declarações, testando o encaixe das palavras e a tessitura dos verbos, mesmo sabendo que diante do seu sorriso o meu preparo se dilui e a minha voz desaparece, corro o risco de voltar a ser apenas uma amante em início de carreira. Uma funcionária humilde a serviço do coração.

Bem provável que esqueça de assinar o cartão e improvise um poema antes de entregar o presente. O tom desajeitado da voz e a maneira confusa de esquecer os olhos na sua boca será a minha maior declaração de amor. A minha distração mais comovente.

O meu jeito de amar não se repete, é uma estreia que descobre nos gestos trêmulos a melhor maneira de tocar.

Um desejo paciente que aguarda a resposta dos poros sem desespero.

Um querer que não mente as intenções, mas não ultrapassa nem agride a vontade do outro.

Enquanto aguardo a possibilidade de ser correspondida, projeto futuros, alinho afinidades na curva do pensamento.

Entendo o sorriso como um convite para encurtar a distância. A aproximação num banco de praça é o comprovante que autentica a certeza.

Quando as mãos se tocam é sinal de que as almas já piscaram, no mínimo, uma vez. A partir daí, corro o risco de ser mais ousada: deixo bilhetes dentro do livro favorito, sublinho citações, construo enigmas e avanço devagar…

Desbravo o espaço entre os dias com uma determinação invejável. Começo a tirar férias da rotina. Perco o medo de fracassar. Sinto saudade do cheiro do cabelo, das palavras risonhas distribuídas entre um e outro afago, as recordações se transformam numa passarela onde transito alegremente.

Esqueço que há poucos dias, eu estava solitária. Só consigo abrandar a fúria da saudade com a lembrança das carícias.

Satisfeita, percebo que há uma movimentação sublime do outro lado. Uma resposta intensa que se derrama pelos gestos. Sinal de que já posso caminhar na mesma direção sem ter de inventar desculpas.

Que já posso sentir saudade sem rebobinar o dia anterior porque serei abençoada com um novo encontro. Se há uma possibilidade de amar, não economizo. Faço dela um investimento.

Imagem de capa: Anna Om/shutterstock

É aos poucos que tudo se ajeita

É aos poucos que tudo se ajeita

A gente não quer sentir dor. Não quer sentir aflição. Não deseja experimentar o desamparo nem a solidão. Mas vez ou outra sentimos. Vez ou outra o medo vem nos visitar e a angústia nos faz companhia. E descobrimos que isso nos torna vivos também. Isso faz parte da condição humana, que não é só forte e bem resolvida o tempo todo, mas também é feita de desassossegos e inquietações.

“A angústia é um privilégio de quem está completamente dentro da vida”. A frase, de Maria Ribeiro, me fisgou nesse momento em que aguardo ansiosa o lançamento do meu segundo livro. Faltam dois dias. Dois dias em que a ansiedade e a angústia fazem parte do repertório de sensações que experimento. Mas constato que nunca me senti tão viva. Nunca me senti tão à flor da pele e tão humana.

Sentir-se no alto de uma montanha russa faz parte dessa aventura que é a vida; entender que vamos suportar a descida e encontrar sentido nas curvas do caminho nos dá coragem para abrir os olhos e soltar as mãos, cientes de que no fim, a angústia foi um combustível importante também.

De vez em quando somos tentados a tirar alguém da tristeza. Mas ela tem sua utilidade e seu tempo. Tem a serventia de nos equilibrar, de nos posicionar corretamente na vida, de trazer clareza e lucidez. Nos torna mais reflexivos e criativos, pois nos impulsiona a encontrar recursos para atravessar o deserto, para transpor os rios, para desbravar as subidas e romper os cadeados.

Todo mundo sente angústia vez ou outra na vida. E é um erro acreditar que só porque alguém parece ter a “vida perfeita”, não sente medo e solidão. Só porque aparenta ter equilíbrio e sofisticação, não experimenta ausência e inadequação.

A felicidade é feita de altos e baixos, e é assim pra todo mundo. Temos o costume de superestimar a felicidade alheia e nos ressentir de nossa própria realidade. Esquecemos que na vida real qualquer um pode acordar num dia imperfeito, sentindo-se desajustado, carente de respostas e com o coração cheio de lembranças. Isso é premissa para sentir-se vivo também, e quem nunca experimentou esses sentimentos vive em outro planeta ou está mentindo.

É aos poucos que tudo se ajeita. Aos poucos que a gente entende que de vez em quando a alegria se atrasa, mas não vai embora de nós. É suavemente que a gente compreende que de repente tudo se enche de significado de novo, as peças se encaixam, a roupa serve, a intuição flui, o riso irrompe. Sim, a vida é linda e espantosa…

Tenho me reconciliado com minhas aflições. Andado de mãos dadas com minhas imperfeições. Aceitado que meu caminho não está imune a rasuras e correções. Entendendo que só errando e não tendo medo de tentar novamente é que irei crescer e me fortalecer. Descobrindo que não preciso adiar a angústia de estar viva só porque ela me lembra que o tempo é escasso e tudo passa, mas reconhecer que ela dá significado ao mosaico de peças de que sou feita. Pois na vida tudo se ajeita, basta ter uma fé enorme de que, sem urgências ou impaciências, encontrarei a dança perfeita…

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Imagem de capa: Aleshyn_Andrei  / Shutterstock

 

Todos os dias o seu silêncio me diz que eu fiz o certo ao me afastar

Todos os dias o seu silêncio me diz que eu fiz o certo ao me afastar

Eu sempre tive certeza que a decisão que eu tomei era mesmo a mais acertada. Mas, às vezes, principalmente no início, eu me pegava me questionando: “E se…?”. E se eu tivesse feito diferente, e se eu não tivesse demonstrado tanto, e se eu tivesse dividido a atenção que eu oferecia a você com um outro alguém? E se eu tivesse sido menos exclusiva, e se eu tivesse te tratado como alguém sem tanta importância pra mim? E se eu tivesse te amado menos?

Nós nunca sabemos o impacto que alguém vai causar em nossas vidas até que abrimos a porta e deixamos aquela pessoa entrar. O fato é que eu quase fechei a porta pra você. Foi por muito pouco que não te ignorei como forma de finalizar aquele nosso primeiro contato. Quando você pediu meu telefone, eu tive o impulso de te excluir, mas ao contrário disso, te ignorei. Fiquei dois dias sem te responder, eu não sabia o que fazer. Por fim, num impulso, te mandei meu número já pensando nas desculpas que eu haveria de te dar para te ignorar sem culpa.

A vida nos surpreende e ela me surpreendeu muito quando causou o nosso encontro. Não foi no primeiro nem no segundo encontro que eu me apaixonei. Mas desde a primeira vez que conversamos pessoalmente, eu percebi que ali havia uma mente pensante e eu sempre me atraí muito por pessoas inteligentes. Ao te conhecer melhor, sentimentos surgiram. Com o tempo, evoluíram. Me envolvi, relutei, mas por fim me entreguei e posso dizer que foi um caminho sem volta. Te amar menos era impensável, ter sido menos exclusiva do que fui não era alternativa pra mim. Eu nunca me envolvi com mais de uma pessoa simultaneamente. E agora que eu amava alguém eu iria fazer isso? Esse tipo de jogo não cabia na minha vida. Se eu te perdesse, que fosse por amar demais e nunca por valorizar de menos. Eu não estava disposta a errar. Não com você.

Mas nenhuma relação depende apenas de uma só pessoa. E com o tempo eu fui obrigada a encarar a verdade: você não queria ser amado, pelo menos não por mim. E amar alguém que não quer ser amado é mais que arriscado, é atestado de sofrimento. Apesar de tudo, eu ainda estive disposta a ficar ali. A tentar transpor barreiras. Mas de onde eu tirava obstáculos, você construía muros. Nós dois não tínhamos os mesmos objetivos, um dia você disse. E você disse nada menos que a verdade. Eu terminei aquilo porque não havia caminho mais acertado que o fim.

Por mais que eu tivesse certeza desta decisão, como eu disse, às vezes me perguntei se aquilo era o melhor (era o mais certo, mas seria o melhor?). Procurei nas músicas, nos livros e nos astros resposta para os meus questionamentos. Em vão. Nada me respondia. Meses se passaram sem que eu encontrasse esclarecimento. Foi só então que eu percebi que meses se passaram e você se manteve calado. E o seu silêncio dizia tudo, ele era a resposta que eu procurava. O seu silêncio me mostrou todos esses dias que eu fiz o certo ao me afastar.

Imagem de capa: Naresuan261/shutterstock

Vai doer muito, às vezes, mas teremos que seguir

Vai doer muito, às vezes, mas teremos que seguir

A gente não pode parar. A gente tem que prosseguir. Mesmo que julguem, condenem, derrubem, mintam. Ainda que escureça, que chova, que nos digam não, nunca, impossível. Temos que seguir, pela família, por quem nos ama, por quem amamos, por nós mesmos.

Não poucas vezes, iremos nos sentir impotentes, alquebrados, não enxergando solução alguma, doendo muito por dentro, por todos os poros, sem vislumbrar uma centelha sequer de esperança. Os dias se arrastarão, as horas esmagarão a nossa paciência e ninguém parecerá ser capaz de nos animar. O sorriso não sairá, nem forçosamente, para nada e por ninguém.

Passaremos por tempestades dolorosas, perderemos o que tínhamos como certo, pessoas amadas nos serão retiradas sem aviso prévio, seremos alvo de maldade, acumulando decepção e dor. Expectativas serão quebradas, verdades serão derrubadas, certezas serão extintas. A gente vive bastante e, por isso mesmo, vai aumentando a carga e as bagagens que se interpõem entre nós e nossa felicidade.

A vida dói e dói para todo mundo, não importando o cargo, o sobrenome, a grana que se tenha. Uma ou outra hora, tudo parece dar errado. Não existe felicidade perene, pois tudo passa; e, se tudo passa, o que é ruim também passará. Cada dia é novinho em folha e nos recebe de braços abertos, para que tentemos fazer dele um momento melhor e mais bonito. Esperança ninguém nos tira, ninguém, porque ela é bem nossa.

Não adianta é ficar se comparando com o vizinho. Não adianta é se sentir a mais infeliz das criaturas. Não adianta é culpar o mundo por tudo o que nos acontece. Embora, na prática, a coisa seja bem mais complexa, teremos que tentar manter um mínimo de sobriedade e lucidez, para que não repousemos definitivamente nossa luz sob a escuridão miserável da desesperança e do conformismo.

A gente não pode parar. A gente tem que prosseguir. Mesmo que julguem, condenem, derrubem, mintam. Ainda que escureça, que chova, que nos digam não, nunca, impossível. Temos que seguir, pela família, por quem nos ama, por quem amamos, por nós mesmos. Será preciso lembrar que tem gente ao nosso lado que veio e ficou, que torce por nós e não se negará a estender as mãos, com amor sincero.

Não estamos sozinhos e somos capazes, sim, de vencer o que jamais imaginaríamos. Pessoas são incríveis e ilimitadas. Eu sou assim e você também é. Sigamos!

Imagem de capa: Albina Glisic/shutterstock

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