“Porque eu sou do tamanho do que vejo”, uma reflexão de Fernando Pessoa

“Porque eu sou do tamanho do que vejo”, uma reflexão de Fernando Pessoa

Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade…

“Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura.”

Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.

Sou do tamanho do que vejo!”Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. “Sou do tamanho do que vejo!” Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. “Sou do tamanho do que vejo!” E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.

Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.

Mas recolho-me e abrando-me. “Sou do tamanho do que vejo!” E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer.”

Bernardo Soares, semi-heterônimo de Fernando Pessoa
Em “Do livro do Desassossego”

Imagem de capa:  lassedesignen/shutterstock

Os quatro fantasmas, crônica de Martha Medeiros inspirada em Irvin Yalom

Os quatro fantasmas, crônica de Martha Medeiros inspirada em Irvin Yalom

Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que eu sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e acabei descobrindo, através do escritor Irvin Yalom, as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental.

São elas:
1) Sabemos que vamos morrer.
2) Somos livres para viver como desejamos.
3) Nossa solidão é intrínseca.
4) A vida não tem sentido.

Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.

Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer. Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Portanto, não aborreça os outros e nem a si próprio, trade de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal.

Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem os aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.

Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é o nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.

Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo com esses quatro fantasmas – finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida – é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada.

Imagem de capa: kramynina/shutterstock

 Martha Medeiros no livro Doidas e Santas

 

Se não for para ser assim…

Se não for para ser assim…

Se não for para caminhar ao seu lado, fazer planos, somar sorrisos e entender um pouco mais um do outro, qual é o sentido? Não existe isso de amor perfeito, mas é possível acrescentar a nossa melhor versão para que ele seja de verdade.

Se não for para ser assim…

Se não for para te escutar quando transborda, quando me conta – empolgada, histórias sobre o seu passado e presente, melhor nem deixá-la entrar.

Se não for para acreditar nos carinhos, no seu cuidado comigo e no seu constante desejo de viver novos instantes na minha companhia, melhor nem sentir vontade de te abraçar.

Se não for para confiar em você, para segurar a sua mão com certeza e para abrirmos uma cerveja no domingo, melhor nem sair de casa.

Se não for para nos admirarmos em silêncio, para dançarmos sem uma música específica e para nos desligarmos do mundo com algum filme fora de cartaz, melhor nem dizer que a sorte está conosco.

Se não for para ser assim…

Se não for para viver um bocado ao seu lado, corrigir o futuro, esticar as pernas no presente e amar a cada toque um pouco mais, qual é o sentido? Quem sabe, talvez o amor perfeito não seja um estado utópico, mas um conjunto de intensidades daqueles que o sentem.

Se não for para ser assim, cheio e tranquilo, melhor nem dizer que te amo.

Imagem de capa: Loucamente Apaixonados (2011) – Dir. Drake Doremus

Os sonhadores permanecem jovens

Os sonhadores permanecem jovens

Os sonhos são como as frutas…

Se ainda estiverem verdes, requerem de nós a paciência contemplativa de saber esperar; se estiverem maduros, esperam de nós a determinação ousada de se arriscar a colher; mas, se já passaram ou estiverem fora de época, eles nos ensinam que, algumas vezes, é preciso, simplesmente, deixá-los ir.

Para olhar para os sonhos de forma tão racional, é preciso estar maduro, assim como os frutos que já podem ser colhidos. Para permanecer com a capacidade de sonhar e colher os sonhos, estejam eles na época certa de colheita ou não, é necessário deixar repousar na alma a leveza de uma certa imaturidade benigna.

Os sonhadores permanecem jovens, a despeito dos anos de vida colecionados e vividos. Contrariando as engrenagens de um mundo que vive correndo atrás de melhores resultados, de mentes práticas e resolutas. Os sonhadores subvertem as regras sisudas e lógicas. Os sonhadores ousam acreditar numa existência menos árida e mais amorosa.

E é por isso que sonhar requer o cuidado da semente, mesmo antes que ela encontre no seio da terra fecunda, a chance de brotar. Há que se ter o afeto e o desapego na medida certa, para que as primeiras folhinhas não desistam de romper a fibra das horas de espera, e tampouco sejam sufocadas pela ansiedade de não saber honrar o tempo e, por isso mesmo, sorrir para ele e deixa-lo cumprir seu curso.

É preciso oferecer aos sonhos a aragem cálida das lágrimas de olhares emocionados, ou a correnteza de libertação dos prantos em rios, tão necessários para lavar a alma dos inevitáveis medos, das perdas, e das despedidas.

E assim, depois de lavados e libertos de todo o peso das bagagens que carregam os ensinamentos benditos, os sonhos devem ser estendidos para que sequem apenas o suficiente, no calor dos risos e das alegrias. É preciso que eles sejam invadidos pelo fogo de todas as coisas lindas, pelas quais pudermos nos apaixonar.

Iluminados, úmidos de vida e estufados de um pulsar que não mais se pode conter, os sonhos haverão de florir. E as flores haverão de ser tão coloridas e cheirosas, que todas as limitações em volta, acabarão por verem na própria imagem desbotada, algo que já foi esquecido. Elas ficarão quietinhas e obedientes e desistirão de nos apertar o peito.

E nesse silêncio de contemplação e júbilo, finalmente nascerão os frutos. Doces, tenros e cheios do caldo da fé em nossa capacidade de transformar experiências reais em fantasias possíveis. Fantasias coletivas, que transmutem esse mundo que anda tão hostil num lugar mais seguro e confiável. Um lugar onde ainda seja possível simplesmente sonhar!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme Queen of the Tearling

Seis chaves para ser feliz, segundo a Universidade de Harvard

Seis chaves para ser feliz, segundo a Universidade de Harvard

Parece cada vez mais claro que a nova febre do ouro não está ligada a ficar milionário ou encontrar a fonte da juventude eterna. O tesouro mais cobiçado de nossos tempos é a felicidade, um conceito abstrato, subjetivo e difícil de definir, mas que está na boca de todos. A felicidade é até objeto de estudo da prestigiosa Universidade Harvard.

Alguns dos estudantes de psicologia dessa universidade americana têm sido um pouco mais felizes há vários anos, não apenas por estudar numa das melhores faculdades do mundo, mas também porque de fato aprenderam com um curso. Seu professor, o doutor israelense Tal Ben-Shahar, é especialista em psicologia positiva, uma das correntes mais presentes e aceitas no mundo e que ele próprio define como “a ciência da felicidade”. De fato, Ben-Shahar diz que a alegria pode ser aprendida, do mesmo modo como uma pessoa aprende a esquiar ou a jogar golfe: com técnica e prática.

Com seu best-seller Being Happy e suas aulas magistrais, os princípios tirados dos estudos de Tal Ben-Shahar já deram a volta ao mundo sob o lema “não é preciso ser perfeito para levar uma vida mais rica e mais feliz”. O segredo parece estar em aceitar a vida tal como ela é; isso, segundo Ben-Shahar, “o libertará do medo do fracasso e das expectativas perfeccionistas”.

Embora mais de 1.400 alunos já tenham passado por seu curso de Psicologia da Liderança, ainda seria o caso de fazer a pergunta: será que alguma vez temos felicidade suficiente? “É precisamente a expectativa de sermos perfeitamente felizes que nos faz ser menos felizes”, ele explica.

Seguem os seis conselhos principais do professor para ajudar as pessoas a se sentirem afortunadas e contentes:

1.Perdoe seus fracassos. E mais: festeje-os! “Assim como é inútil se queixar do efeito da gravidade sobre a Terra, é impossível tentar viver sem emoções negativas, já que fazem parte da vida e são tão naturais quanto a alegria, a felicidade e o bem-estar. Aceitando as emoções negativas, conseguiremos nos abrir para desfrutar a positividade e a alegria”, diz o especialista. Temos que nos dar o direito de ser humanos e perdoar nossas fraquezas. Ainda em 1992, Mauger e seus colaboradores estudaram os efeitos do perdão, constatando que os baixos níveis de perdão estão relacionados à presença de transtornos como depressão, ansiedade e baixa autoestima.

2.Não veja as coisas boas como garantidas, mas seja grato por elas. Coisas grandes ou pequenas. “Essa mania que temos de achar que as coisas são garantidas e sempre estarão aqui têm pouco de realista.”

3.Pratique esporte. Para que isso funcione, não é preciso malhar numa academia até se cansar ou correr 10 quilômetros por dia. Basta praticar um exercício suave, como caminhar em passo rápido por 30 minutos diários, para que o cérebro secrete endorfinas, essas substâncias que nos fazem sentir-nos “drogados” de felicidade, porque na realidade são opiáceos naturais produzidos por nosso próprio cérebro, que mitigam a dor e geram prazer. A informação é do corredor especialista e treinador de easyrunning Luis Javier González.

4. Simplifique, no lazer e no trabalho. “Precisamos identificar o que é verdadeiramente importante e nos concentrar sobre isso”, propõe Tal Ben-Shahar. Já se sabe que quem tenta fazer demais acaba conseguindo realizar pouco, e por isso o melhor é se concentrar em algo e não tentar fazer tudo ao mesmo tempo. O conselho não se aplica apenas ao trabalho, mas também à área pessoal e ao tempo de lazer: “É melhor desligar o telefone e se desligar do trabalho nessas duas ou três horas que você passa com a família”.

5. Aprenda a meditar. Esse simples hábito combate o estresse. Miriam Subirana, doutora pela Universidade de Barcelona, escritora e professora de meditação e mindfulness, assegura que “no longo prazo, a prática regular de exercícios de meditação ajuda as pessoas a enfrentar melhor as armadilhas da vida, superar as crises com mais força interior e ser mais elas mesmas baixo qualquer circunstância”. Ben-Shahar acrescenta que a meditação também é um momento conveniente para orientar nossos pensamentos para o lado positivo; embora não haja consenso de que o otimismo chegue a garantir o êxito, ele lhe trará um grato momento de paz.

6. Treine uma nova habilidade: a resiliência. A felicidade depende de nosso estado mental, não de nossa conta corrente. Concretamente, “nosso nível de felicidade vai determinar aquilo ao qual nos apegamos e a força do sucesso ou do fracasso”. Isso é conhecido como locus de controle, ou “o lugar em que situamos a responsabilidade pelos fatos” – um termo descoberto e definido pelo psicólogo Julian Rotter em meados do século 20 e muito pesquisado com relação ao caráter das pessoas: os pacientes depressivos atribuem seus fracassos a eles próprios e o sucesso a situações externas à sua pessoa, enquanto as pessoas positivas tendem a pendurar-se medalhas no peito, atribuindo os problemas a outros. Mas assim perdemos a percepção do fracasso como “oportunidade”, algo que está muito relacionado à resiliência, conceito que se popularizou muito com a crise e que foi emprestado originalmente da física e engenharia, áreas nas quais descreve a capacidade de um material de recuperar sua forma original depois de submetido a uma pressão deformadora. “Nas pessoas, a resiliência expressa a capacidade de um indivíduo de enfrentar circunstâncias adversas, condições de vida difíceis e situações potencialmente traumáticas, e recuperar-se, saindo delas fortalecido e com mais recursos”, diz o médico psiquiatra Roberto Pereira, diretor da Escola Basco-Navarra de Terapia Familiar.

Imagem de capa: Shyvoronkova Kateryna/shutterstock

Por PATRICIA PEYRÓ JIMÉNEZ
Fonte: El País

Filho predileto

Filho predileto

FILHO PREDILETO

Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
“Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo: o filho predileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma…
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba.
O que estuda, até que aprenda.
O que está com frio, até que se agasalhe.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou…
…até que o reencontre…

Poema atribuído a Erma Bombeck

Imagem de capa:  LightField Studios/shutterstock
Fonte: Senado Federal

Quero saber o que desejas ardentemente.

Quero saber o que desejas ardentemente.

Não me interessa saber o que fazes para ganhar a vida. Quero saber o que desejas ardentemente, se ousas sonhar em atender aquilo pelo qual o teu coração anseia. Não me interessa saber a tua idade. Quero saber se arriscarás parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo. Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a tua lua. Quero saber se tocaste o âmago da tua dor, se as traições da vida te abriram ou se te tornaste murcho e fechado por medo de mais dor! Quero saber se podes suportar a dor, minha ou tua; sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la. Quero saber se podes aceitar alegria, minha ou tua, se podes dançar com abandono e deixar que o êxtase te domine até às pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem nos dizeres para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos. Não me interessa se a história que contas é verdade. Quero saber se consegues desapontar outra pessoa para ser autêntico contigo mesmo, se podes suportar a acusação de traição e não traíres a tua alma.

Quero saber se podes ver beleza mesmo que ela não seja bonita todos os dias, e se podes buscar a origem da tua vida na presença de Deus, quero saber se podes viver com o fracasso, teu e meu e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: Posso! Não me interessa onde moras ou quanto dinheiro tens. Quero saber se podes levantar-te após uma noite de sofrimento e desespero, cansado, ferido até aos ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos. Não me interessa saber quem és e como vieste parar aqui. Quero saber se ficarás comigo no meio do incêndio e não te acovardarás. Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem estudaste. Quero saber o que te sustenta a partir de dentro, quando tudo o mais se desmorona. Quero saber se consegues ficar sozinho contigo mesmo e se, realmente, gostas da companhia que tens nos momentos vazios.

Fonte “O Convite”, de Oriah Mountain Dreamer
Agradecemos à Elisabete Mitiko Watanabe pela indicação da autoria correta.

Imagem de capa: brickrena/shutterstock

Fugidinhas

Fugidinhas


De vez em quando escapo da atmosfera da minha própria vida. Fujo sorrateira para tempos onde já estive ou ouso inventar. De vez em quando sumo da minha realidade para viver outros mundos.

Parece loucura, mas faz parte do processo de existir permitir que fantasias se somem à nossa realidade como parte do que somos também. Talvez isso nos torne pessoas menos enrijecidas, mais suaves e felizes.

Alguns dias são mais puxados que outros. Aquela segunda feira, que desperta amarga e confirma que a semana não trará ventos de simplicidade, também pode ser invadida, se você permitir, por pensamentos soltos, sonhos de felicidade, desejos de superficialidade.

Eu preciso pensar no oceano azul esverdeado das últimas férias enquanto instrumento o canal atrésico do meu paciente _ é a única forma de não perder o bom humor diante da árdua tarefa que tenho à minha frente.

Também gosto de saber da fofoca envolvendo Ben Affeck, a babá e Tom Brady; porque, de alguma forma que não sei dizer, isso me ajuda a esquecer um pouco que o Brasil vai mal das pernas, que o Real está cada dia pior, e que a inflação bate à nossa porta com vontade de ficar.

Preciso de um pouco de superficialidade; de descobrir que formato de sobrancelha fica bem num rosto como o meu, ou que tom de base é perfeito para minha pele. Por mais fútil que pareça, essas fugidinhas me ajudam a enfrentar a noção de que o mundo é um lugar injusto, de que milhões de pessoas passam fome, de que muita gente acorda antes das quatro na manhã pra ir trabalhar, de que sou impotente perante a maioria das misérias do mundo.

É preciso dar uma fugidinha de vez em quando. Respirar fundo e mergulhar na alegria que carregamos em pequenas frações dentro de nós. Abrir um a um os diminutos frascos de boas lembranças e permitir que eles exalem calmaria e bem estar na realidade que vivemos. Realidade nem sempre fácil de experimentar e assimilar.

De vez em quando tudo o que a gente quer é pensar num sapato novo, numa bolsa bacana, numa unha pintada de vermelho-Gabriela. São nossas fugidinhas corriqueiras, pequenos agradinhos à alma e ao pensamento.

Meu local de trabalho não é um lugar solar. É sombrio, tem os corredores abarrotados de gente carente e doente, com deficiências no corpo e na alma; as paredes são frias e a beleza, escassa. Para não pirar, aprendi a me resguardar desviando o foco. Quem sabe ouvindo a música do Marcelo Jeneci _ “Temporal” _ cuja melodia me deixa instantaneamente feliz; talvez escrevendo entre um paciente e outro; eventualmente fazendo uma leitura rápida na internet. São pequenices que ajudam a apaziguar a visão da fragilidade humana, e amenizar a impotência diante do sofrimento alheio.

Como eu disse, Marcelo Jeneci e seu “Temporal” tem feito meus dias mais felizes. A melodia é doce, e a letra diz assim:
“O que tem começo, tem meio e fim
Deixa passar o dia ruim
Que a tempestade resolve com Deus…”

Talvez seja isso. Acreditar que mesmo que nem todo dia seja bom, ele passa. Passa e leva embora os tropeços, as sensações ruins, as faltas e falhas. Passa e nos ensina a buscar soluções para superar o que não pode ser modificado, aceitar o que não pode ser consertado, acolher o que não consegue ser remediado. Passa e nos mostra como seguir em frente deixando o pensamento fluir nos momentos em que a vida fica difícil de digerir…

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

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Depressão atinge cada vez mais crianças no Brasil

Depressão atinge cada vez mais crianças no Brasil

Conhecida por “mal do século 21”, a depressão também pode ser observada em crianças. O estado anormal de comportamento e a perda do interesse em atividades cotidianas podem ser sentidos ainda na fase infantil. Porém, os sintomas podem ser diferentes da depressão apresentada por adultos, fato que dificulta o reconhecimento do distúrbio nessa fase.

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam o transtorno como principal causa na incapacidade de conclusão de tarefas rotineiras entre crianças e jovens de 10 a 19 anos.

“A criança que sofre de depressão pode se apresentar mais irritada, mais agitada, inquieta ou irrequieta do habitual. Ela também pode se desinteressar pelas atividades da escola ou de lazer, parecer cansada o tempo todo e, algumas vezes, apresentar perda de sono e alterações de apetite. Estes são sintomas comuns em crianças deprimidas e bastante diferentes dos apresentados pelos adultos”, explica a Anne Maia, psiquiatra e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Segundo ela, nem sempre o quadro de depressão infantil tem relação com algum episódio estressor, mas pode acontecer sem que haja algo pontual.

Para o diagnóstico é fundamental que os pais, professores e parentes mais próximos a criança observem qualquer comportamento incomum, além do desinteresse por atividades de lazer e a falta de reação frente a uma situação em que é contrariada. Assim como outros distúrbios nessa fase, é importante que haja uma detecção precoce para evitar possíveis complicações.

“As abordagens terapêuticas para a criança deprimida devem ser as mais amplas possíveis. Com o avanço nas formulações dos antidepressivos (com menos efeitos colaterais e mais seguros), hoje o tratamento da depressão infantil já é realizado com psicoterapia e psicofarmacoterapia. Conjugadas, essas medidas comprovadamente auxiliam na melhora dos sintomas e do desempenho escolar”, afirma a psiquiatra.

Além do tratamento medicamentoso, a médica acrescenta que o suporte familiar é indispensável na recuperação da criança. Segundo ela, esse apoio e orientação também são medidas de prevenção para eventuais recaídas ou continuidade do problema na fase adulta.

Imagem de capa: anna.danilkova/shutterstock

Fonte: Vert Social

Dica de livro:Livro De Referencia Para A Depressao Infantil 

O câncer terminal de Oliver Sacks gerou sua belíssima carta de adeus

O câncer terminal de Oliver Sacks gerou sua belíssima carta de adeus

“A vida de um homem não é mais importante para o universo do que a de uma ostra”, escreveu o filósofo escocês David Hume.

O escritor e neurologista Oliver Sacks pegou emprestado o título da autobiografia de Hume, “Minha Própria Vida”, para um ensaio no New York Times em que contou de um câncer diagnosticado em 2005 que teve metástase em seu fígado, dando-lhe alguns meses.

É uma belíssima carta de adeus, uma reflexão serena e altiva sobre a morte e o que importa realmente. “Nos últimos dias, tenho visto minha vida como se de uma grande altitude, uma espécie de paisagem, e com um senso profundo de conexão com todas as suas partes”, escreve.

Não é o testemunho de um moribundo. Ao contrário: ele avisa que tem livros para terminar, mas agora há outras prioridades. Não há mais por que discutir política ou o aquecimento global.

“Esses assuntos não me dizem mais respeito; eles pertencem ao futuro”, diz. “Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito e dei algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi”.

O artigo de Sacks:

“Há um mês, eu sentia que estava em boas condições de saúde, robusto até. Aos 81 anos, ainda nado uma milha por dia. Mas a minha sorte acabou – há algumas semanas, descobri que tenho diversas metástases no fígado. Nove anos atrás, encontraram um tumor raro no meu olho, um melanoma ocular. Apesar da radiação e os lasers que removeram o tumor terem me deixado cego deste olho, apenas em casos raríssimos esse tipo de câncer entra em metástase. Faço parte dos 2% azarados.

Sinto-me grato por ter recebido nove anos de boa saúde e produtividade desde o diagnóstico original, mas agora estou cara a cara com a morte. O câncer ocupa um terço do meu fígado e, apesar de ser possível desacelerar seu avanço, esse tipo específico não pode ser destruído.

Depende de mim agora escolher como levar os meses que me restam. Tenho de viver da maneira mais rica, profunda e produtiva que conseguir. Nisso, sou encorajado pelas palavras de um dos meus filósofos favoritos, David Hume, que, ao saber que estava terminalmente doente aos 65 anos, escreveu uma curta autobiografia em um único dia de abril de 1776. Ele chamou-a de “Minha Própria Vida”.

“Estou agora com uma rápida deterioração. Sofro muito pouca dor com a minha doença; e, o que é mais estranho, nunca sofri um abatimento de ânimo. Possuo o mesmo ardor para o estudo, e a mesma alegre companhia de sempre.”

Tive sorte de passar dos oitenta anos. E os 15 anos que me foram dados além da idade de Hume foram igualmente ricos em trabalho e amor. Nesse tempo, publiquei cinco livros e completei uma autobiografia (um pouco mais longa do que as poucas páginas de Hume) que será publicada nesta primavera; tenho diversos outros livros quase terminados.

Hume continua: “Eu sou… um homem de disposição moderada, de temperamento controlado, de um humor alegre, social e aberto, afeito a relacionamentos, mas muito pouco propenso a inimizades, e de grande moderação em todas as minhas paixões.”

Aqui eu me distancio de Hume. Apesar de desfrutar de relações amorosas e amizades e não ter verdadeiros inimigos, eu não posso dizer (e ninguém que me conhece diria) que sou um homem de disposições moderadas. Pelo contrário, sou um homem de disposições veementes, com entusiasmos violentos e extrema imoderação em minhas paixões.

E ainda assim, uma linha do ensaio de Hume me toca como especialmente verdadeira: “É difícil”, ele escreveu, “estar mais separado da vida do que eu estou no presente.”

Nos últimos dias, consegui ver a minha vida como a partir de uma grande altitude, como um tipo de paisagem, e com uma sensação cada vez mais profunda de conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que terminei de viver.

Pelo contrário, eu me sinto intensamente vivo, e quero e espero, nesse tempo que me resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus àqueles que amo, escrever mais, viajar se eu tiver a força, e alcançar novos níveis de entendimento e discernimento.

Isso vai envolver audácia, clareza e, dizendo sinceramente: tentar passar as coisas a limpo com o mundo. Mas vai haver tempo, também, para um pouco de diversão (e até um pouco de tolice).

Sinto um repentino foco e perspectiva nova. Não há tempo para nada que não seja essencial. Preciso focar em mim mesmo, no meu trabalho e nos meus amigos. Não devo mais assistir ao telejornal toda noite. Não posso mais prestar atenção à política ou discussões sobre o aquecimento global.

Isso não é indiferença, mas desprendimento – eu ainda me importo profundamente com o Oriente Médio, com o aquecimento global, com a crescente desigualdade social, mas isso não é mais assunto meu; pertence ao futuro. Alegro-me quando encontro jovens talentosos – até mesmo aquele que me fez a biópsia e chegou ao diagnóstico de minha metástase. Sinto que o futuro está em boas mãos.

Nos últimos dez anos mais ou menos, tenho ficado cada vez mais consciente das mortes dos meus contemporâneos. Minha geração está de saída, e sinto cada morte como uma ruptura, como se dilacerasse um pedaço de mim mesmo. Não vai haver ninguém igual a nós quando partirmos, assim como não há ninguém igual a nenhuma outra pessoa. Quando as pessoas morrem, não podem ser substituídas. Elas deixam buracos que não podem ser preenchidos, porque é o destino – o destino genético e neural – de cada ser humano ser um indivíduo único, achar seu próprio caminho, viver sua própria vida, morrer sua própria morte.

Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito e dei algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi. Tive uma relação com o mundo, a relação especial de escritores e leitores.

Acima de tudo, fui um ser senciente, um animal pensante nesse planeta maravilhoso e isso, por si só, tem sido um enorme privilégio e aventura.”

Por Kiko Nogueira

Fonte: Diário do Centro do Mundo

Imagem de capa: Reprodução

Nota da página: Oliver Sacks faleceu hoje, 30 de agosto de 2015, aos 82 anos, cerca de 6 meses após a publicação de sua fala.

Se levarmos tudo para o lado pessoal, viveremos eternamente ofendidos

Se levarmos tudo para o lado pessoal, viveremos eternamente ofendidos

Existem aqueles que vivem ofendidos. Longe de se permitirem levar uma existência em sintonia com o próximo, com respeito e harmonia, optam por “bater a cabeça no muro” quase a todo momento.

O mundo talvez tenha confabulado para agir contra nós? De modo algum. O que ocorre é que, neste sutil porém complexo mundo das emoções e das personalidades, existem aqueles que fazem da ofensa um hábito constante.

Longe de ver estas pessoas como focos problemáticos a serem evitados, é necessário entender o que acontece em seu interior.

A hipersensibilidade, a baixa autoestima e a falta de recursos psicológicos faz com que seus esquemas de pensamento sejam muito duros.

Qualquer palavra, gesto ou ação é interpretado como uma ofensa. E está aí a essência do problema. A autoestima baixa coloca problemas onde não existe um. Enxerga ódio onde não existe.

Personalidades que enxergam tormentas quando somente existe a luz do sol. Convidamos a todos a refletir sobre o assunto.

Vivemos ofendidos 24 horas por dias, 7 dias por semana

“É que com você não se pode conversar”. “Você se ofende por nada”. “Você que é impossível, você vai de mal a pior”.

Se em algum momento lhe disseram estas frases, é bem possível que também não tenham gostado de você. No entanto, por trás destas verbalizações se esconde uma realidade.

  • Se aqueles que nos rodeiam possuem problemas para interagir conosco, algo acontece. Se não estão cômodos, se não existe harmonia na comunicação nem o cuidado, é necessário descobrir o porquê.
  • Longe de pensar que “todos que me rodeiam me odeiam”, é necessário mergulhar em uma reflexão profunda e delicada.
  • Devemos retirar cada camada desta cebola que nos envolve para saber o que está em nosso interior.
    A seguir, vamos descobrir o que ocorre com aqueles que se sentem eternamente ofendidos.

Ninguém te ofende, são suas expectativas

É provável que sejam suas altíssimas expectativas que não se ajustam à realidade. De certo modo, todos nós temos uma ideia do que os outros devem fazer. Sobre como deveriam nos tratar e como deveriam reagir diante de certas coisas.

Em primeiro lugar, que fique claro que estes focos citados não são totalmente adequados. Veja o porquê.

  • A única coisa que devemos ter em mente é como queremos que os outros nos tratem. Merecemos respeito e devemos exigi-lo. É uma necessidade pessoal que todos têm.
  • Agora, o que o restante faz, deixa de fazer ou decide não é competência nossa. Cada pessoa é livre para decidir o que deseja e agir como quer, sempre que exija respeito.
    Se ficarmos obcecados se nosso namorado(a) se comporta de tal modo, se nossos amigos fazem isso e aquilo, não nos sentiremos bem.
  • Para avançar com mais tranquilidade e equilíbrio interno, lembre-se de algo: não espere nada de ninguém, espere tudo de si mesmo.

O mundo não está contra você: é você que deve se harmonizar com o mundo

Quem vive eternamente ofendido é como uma pedra ou como um tronco de carvalho. Para compreender isso, tente visualizar o seguinte:

  • Imagine que você é uma árvore diante de um oceano. As águas vêm e vão, o vento às vezes é suave, às vezes intenso. Em certos momentos este oceano te acaricia, mas em outros te golpeia com seus dias de tormenta.
  • Agora, se você é uma árvore grande e firme, esse oceano, suas ondas e os elementos acabaram te derrubando. Em um cenário assim, todo firme, tudo o que aparenta obstinação acaba no chão.
  • No entanto, se é como o ramo flexível do bambu, dançará com o vento e nem a tormenta mais feroz te fará cair. Porque você se adapta, porque não é como uma parede que recebe cada golpe.

Viver eternamente ofendido é propiciar a chegada de mais danos. No entanto, os culpados somos nós.

  • Quem se ofende por nada gera desconfiança.
  • Se você vive sempre ofendido, seus entes queridos deixarão de se sentir bem ao seu lado e se afastarão.
  • Se você somente enxerga ofensas quando te oferecem palavras amáveis, criará distância.

Ame-se um pouco mais e pare o ruído de seus pensamentos obsessivos

O mundo não te odeia. Ninguém está contra você. Não acumule ofensas onde não existem, nem veja atos que nunca tiveram a intenção de lhe fazer mal.

  • Quem não gosta de si mesmo se torna exigente com os demais. Espera, acima de tudo, que o resto lhe ofereça aquilo que ele mesmo não se dá: amor, reconhecimento, respeito.
  • Se não começarmos a trabalhar com o interior projetaremos nossos abismos mais obscuros para fora, até que pouco a pouco, toda a nossa realidade se converte em um inferno.

Não vale a pena. Diga não ao sofrimento inútil e não apague mais incêndios com gasolina. Comece reparando suas feridas e ofereça a si mesmo o amor de que precisa.

Somente quando queremos o suficiente, o mundo começa a avançar de outro modo muito melhor.

Imagem de capa:  Nasgul/shutterstock

Ei, a pessoa que está aí do seu lado foi escolha sua

Ei, a pessoa que está aí do seu lado foi escolha sua

Olhe ao seu redor. Veja a sua vida. Tudo que está no seu entorno foi escolha sua. Tudo. Parece que não, mas você tem um poder imenso: o de escolher.

Você escolheu entre ir e ficar. Entre sorrir e se lamentar. Você escolheu os adornos da sua casa. A área na qual trabalha. Os livros que preenchem suas prateleiras. As roupas que usa. E até quando você não escolheu acabou por fazer uma escolha. A escolha foi sempre sua, por incrível que pareça.

A pessoa que está aí do seu lado também foi uma escolha. Quando vocês se conheceram algo nela te fascinou. Daí vocês se deram as mãos, distraídos, e partiram juntos. Sim, para amar, como bem disse Clarice, há de se ter um certo grau de distração.

Acontece que nesse caminhar distraído muitas vezes seguimos embalados por ilusões acerca do outro. E como uma certa música fala, muitas vezes, a gente se apaixona pelo que inventa do outro mesmo. E depois disso, da desastrosa revelação do nosso engano, é nossa a decisão de partir ou permanecer.

Você pode continuar com o que não te agrada ou mudar. Pode mudar a si mesmo e quem sabe até mesmo mudar o outro (algo raro, mas possível) ou se conformar. Você pode decidir se calar ou falar. Pode decidir se render ou lutar.

Entenda, você não é vítima da má sorte. Essa pessoa do seu lado, assim desse jeitinho, não surgiu magicamente em seu caminho. Você abriu a porta para ela entrar em sua vida. Você permitiu que ela ficasse. Você acreditou que esse era o amor que te cabia na vida e esse seu achismo perpetuou aquela sua primeira escolha. Você está vivendo uma experiência buscada por você.

Tenha em mente que assim como um pássaro não pode deixar de voar ou um lobo não pode deixar de uivar, você como humano não pode deixar de escolher.

Pare e reflita sobre tudo que você acredita ser de seu merecimento. Pare e pense no melhor para sua vida. Escolha ser feliz, não é pecado, viu. Pecado é achar que sofrimento é redenção.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain.

Afastar-se pode ser uma grande demonstração de amor

Afastar-se pode ser uma grande demonstração de amor

Afastar-se não quer dizer que o outro deixou de ser importante para nós. De fato, pode ser um indicativo de que gostamos demais dele, já que queremos que cresça por si só.

Afastar-se de alguém pode ser uma grande demonstração de amor. Porque nossa presença às vezes não ajuda, e sim o contrário.

Acreditamos que é valioso estar ao lado de alguém mas, e se fosse mais valioso ainda nos afastarmos?

Esta atitude não necessariamente tem que nos fazer sentir mal ou ser interpretada pelo outro como um insulto. Em algumas ocasiões, tomar distância da pessoa que mais amamos no momento adequado pode ser um grande presente.

Afastar-se permite que os outros lutem suas próprias batalhas

O que acontece quando amamos muito a alguém? Desejamos que nada de ruim aconteça a essa pessoa e velamos por seu bem-estar até chega ao ponto em que, se pudéssemos nos colocar em seu lugar, faríamos.

Porém, sabemos que isso não é positivo. Imagine que você está passando por um momento muito ruim onde não consegue erguer a cabeça.

Pode ser que muitas pessoas ao nosso redor nos ofereçam palavras de ânimo, mas isso é tudo: não podem fazer mais nada por você.

Caso alguém tente direcioná-lo, aconselhá-lo e guiá-lo, mantendo sua visão externa, ou inclusive fazendo coisas que você é quem deveria fazer por si mesmo, essa pessoa estaria lhe tirando a grandiosa oportunidade de aprender com uma das muitas experiências que a vida está lhe oferecendo.

Tendemos a fugir de todas as coisas negativas que nos acontecem. Porém, fazer isso evita que tomemos a responsabilidade pelo que ocorre.

Ninguém gosta de sofrer, mas sofrer nos permite crescer, amadurecer e aprender. Sem as coisas negativas, jamais valorizaríamos as positivas; sem o mau, não saberíamos nos dirigir ao que é mais conveniente para nós.

Tentar ocupar o lugar dessa pessoa que tanto amamos, desejar lutar as batalhas dela por ela, é um enorme erro.

Quando o amor nos cega tanto que nos impede de pensar com clareza e observar que as circunstâncias são as que são e podem ser uma grande oportunidade, afastar-se é a melhor opção.

Tomar distância não quer dizer que você não se importa

Existem diferentes crenças que podem nos ajudar a refletir quando pensamos em nos afastar de alguém, em dar seu espaço para deixar de ser um lastro em seu caminho até o crescimento.

Sem nos darmos conta, às vezes manipulamos, coagimos, e tudo porque vemos a realidade de outra maneira. É normal! Cada um, em seu lugar, faz uma coisa diferente.

O importante é permitir que cada um aja como quer, ainda que não nos pareça a maneira mais adequada.

Por isso é tão importante se afastar, ainda que diversas crenças que temos em nossa mente nos incentivem a seguir ao lado dessa pessoa que amamos. Aqui temos algumas delas:

Não posso deixá-lo porque o que você vai fazer sem mim? Isso está evitando que a outra pessoa tome as rédeas da situação, e mais, está lhe tirando valor como se não pudesse solucionar as coisas sem você. Você não é o salvador da pessoa.

Se me afasto, vão pensar que não me importo. Talvez a outra pessoa nem pense isso. De fato, este pode ser um medo que você tem de que os outros o critiquem por não fazer o que consideram “correto”.

Ela precisa de mim, sempre me diz que sou muito importante. Talvez a pessoa que você tanto ama tenha se apoiado tanto em você que depende de você pra se sentir bem e enfrentar a situação.

Você nem imagina o quanto a ajudará a crescer se você se afastar.

As demonstrações de amor têm diferentes perspectivas

Tomamos como certo e verdadeiro tudo o que estávamos fazendo até o momento. Porém, às vezes é preciso questionar as formas de agir e de pensar, tomar novas perspectivas.

Durante muito tempo acreditamos que o fracasso era terrível, até que começamos a encará-lo como um aprendizado; consideramos a dependência como sinônimo de amor, quando o verdadeiro amor é cultivado de forma individual.

Afastar-se de alguém pode permitir que essa pessoa cresça, amadureça e se torne forte. Porque ninguém pode tomar o controle de nossas vidas, exceto nós mesmos.

Não tiremos dos outros a oportunidade de se empoderar. Se eles têm medo, se se apegaram e se precisam de nós porque acreditam que por eles mesmos não conseguem, é o momento de nos afastarmos.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

Imagem de capa: Nasgul/Shutterstock

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