Respeite a intensidade das pessoas

Respeite a intensidade das pessoas

“O que, para mim, é uma bomba, para você pode ser uma faísca. Aprenda a respeitar a intensidade das pessoas.” (Edvan Santos)

Dizem que há pessoas que sentem muito e outras que sentem pouco. Há quem pense ser quem mais demonstra o que mais sofre ou o que mais se sente feliz. Isso porque as pessoas costumam se ater tão somente ao que veem, ao que se aparenta, haja vista a superficialidade que baliza as relações entre as pessoas e o mundo, atualmente. No entanto, há muito, mas muito mais coisas acontecendo dentro de cada um de nós e nem sempre manifestamos algum traço externo do que ferve em nosso íntimo.

O mundo anda cada vez mais rápido, tornando-nos apressados e compromissados além da conta, o que nos impede de nos demorarmos em frente ao outro, entendendo-o além do que a superficialidade oferece. Mal temos tempo de analisarmos o que acontece dentro de nós, imagina se conseguiremos parar e compreender o que se passa dentro de quem está lá fora. Estamos tão preocupados em aparentarmos uma boa imagem e em comprarmos os bens que enchem os nossos olhos, que relegamos ao segundo plano as essências – a nossa e a de quem for.

Fato é que as pessoas possuem a sua própria maneira de sentir o mundo e de lidar com tudo o que lhes acontece. A forma como reagimos ao que ocorre envolve tudo o que já temos dentro de nós e iremos nos manifestar conforme o que temos acumulado aqui dentro. Muitas vezes, por exemplo, um fato qualquer acaba por ser o estopim que abre a torneirinha de nossas emoções e, assim, a gente deságua um monte de dores acumuladas a partir de um fato nem tão doloroso assim. Tudo o que até então estava guardado extravasa intensamente.

Injusto é ficar julgando a forma como o outro sente as coisas. Injusto é cobrar do outro mais, ou menos, intensidade naquilo que sente, sendo que ninguém sabe o que acontece dentro de cada um, a não ser a própria pessoa. Não é uma enxurrada de lágrimas que irá nos mostrar o quanto a pessoa sofre. Não são as gargalhadas que comprovarão a felicidade que a pessoa pode estar sentindo. E mais, algumas pessoas sentem tudo de uma forma intensa, exacerbada, porque é assim que se reequilibram. Cada um volta a si de uma forma peculiar – o importante é se juntar de novo.

Perderemos e ganharemos ao longo de nossa jornada, faz parte da roda do mundo essa gangorra de acontecimentos que nos dão e nos tiram, assim, de repente, de forma imprevista e, não raro, cruel. Ninguém precisa analisar e julgar as reações das pessoas ao que lhes acontece; entender que cada um tem suas razões e seu tempo já basta. A dor é de cada um, mas a empatia é uma necessidade de todos. Bem isso.

Imagem de capa: Liudmyla Boieva/shutterstock

A fé que nasce da escuridão

A fé que nasce da escuridão

O que acontece quando o homem chega a um ponto em que não sabe mais o que lhe espera, quando a rotina desmorona, quando o desconhecido se apresenta, quando todas as certezas se tornam incertas, e não há mais garantias da vida acostumada que, ele antes, conhecia?

Bem, essa mesma questão foi levantada por Edward Teller,  um físico agnóstico americano, de origem húngara e descendência judaica, que, curiosamente parece ter-se convertido à fé antes de morrer.

É dele esta frase que responde à minha proposição:

“Quando você chega ao fim de toda a luz que conhece, é hora de adentrar a escuridão do desconhecido. Ter fé é saber que uma destas duas coisas vai acontecer: ou lhe será dado algo de sólido em que se apoiar, ou ensinarão você a voar.”

Muitos de nós nunca chegamos a esse ponto cego, escuro, e sem luz.

Mas todos  nós conhecemos pessoas próximas a nós, que chegaram ao fim de toda a luz que conheciam.

Olhamos para elas e não acreditamos que possam estar sobrevivendo a  tamanha pressão e ainda sejam capazes de continuarem caminhando na escuridão do desconhecido.

Como se nada estivesse acontecendo. Como se tudo estivesse bem.

Elas se levantam da cama, tomam o café, seguem para as suas obrigações habituais, falam e respondem a questões, sorriem, se alegram por breves momentos, amam com intensidade, lêem, assistem filmes, oram, falam de Deus com extrema reverência, dirigem seus carros, executam a jornada diária, tomam banho, e dormem.

Como se, na escuridão, tivessem encontrado alguma espécie de sinalização adicional que não lhes foi concedida no caminho luminoso.

Que sinalização é essa que nós não vemos?

Que tipo de segurança encontraram quando nada mais parece humanamente possível, quando todos os recursos foram esgotados diante de uma doença terminal, a morte de um filho, uma tetraplegia, ou qualquer outro acontecimento  igualmente devastador?

Em cem por cento dessas situações, elas encontraram FÉ.

Fé  não é a garantia de que tudo vai ficar bem,

mas a certeza de que uma dessas duas coisas vai acontecer:

– ou lhe será dado algo de sólido em que se apoiar,

– ou lhe ensinarão a voar.

Cada uma dessas alternativas aponta para fora do homem e para dentro de Deus.

Não há sólidos disponíveis na matéria quando todas as certezas se desmancham no ar.

Mas há sólidos disponíveis na espiritualidade,que não precisa de átomos para fazer surgir algo de concreto em que nos apoiarmos.

Eu já me apoiei em passarinhos e borboletas,  na hora mais escura da minha vida.

E no dia em que eles me faltaram,  Deus me ensinou a voar.

De alguma maneira, a fé me catapultou da escuridão total para uma luz que só eu via.

E é isso que não entendemos,  quando somos meros observadores da escuridão do outro.

Como ele consegue continuar vivendo após a perda de um  filho?

Como ele sorri e segue com metástase de CA, em alguns órgãos vitais?

Que fé é essa que eu não tenho?

É a fé de que – se lhes faltar algo sólido em que se apoiar,-  eles serão ensinados a  voar.

Na verdade, na hora escura, os dois fenômenos se alternam:

Há dias em que Deus nos dá algo sólido para nos apoiarmos,

Há outros em que Ele nos ensina a voar.

Quem precisa de uma muleta quando se tem um par de asas?

Nós, os que estamos na “luz”, e olhamos para a escuridão do outro,  não  conseguimos enxergar  nem o apoio e nem as asas, que só ele consegue substantificar.

Porque nos falta essa qualidade de fé que nasce da escuridão.

De forma que aqui,  um paradoxo se apresenta:

QUANTO MAIS ESCURO É O CAMINHO, MAIS ILUMINADA É A FÉ.

Não queremos experimentar esse tipo de fé.

Fugimos das experiências dolorosas, como o diabo foge da cruz.

E não precisamos procurá-la.

Basta-nos saber que aquele que adentrou o caminho da escuridão ganhou uma luz adicional, que nós não vemos, uma  lâmpada com capacidade de força muitíssimo mais forte do que as lâmpadas que iluminam os dias normais e felizes.

Nessa luz eles têm uma – de duas coisas:

– Ou algo sólido em que se apoiar,

– Ou alguém que os  ensine a voar.

Imagem de capa: Anna Om/shutterstock

Quem quer, demonstra. Quem não quer, também

Quem quer, demonstra.  Quem não quer, também

As desculpas são criativas e a culpa sempre é do amigo, da mãe ou da vizinha, mas, o fato é que, para não assumirem um relacionamento, algumas pessoas são verdadeiros mestres.

Que a paixão cega, não é novidade, mas que propaga a alienação, sim. Parece inacreditável, mas há pessoas que ao escutarem “não podemos sair até que Saturno entre na casa de Júpiter”, acreditam que o parceiro é um fã de astrologia e, não conseguem ver, que isso é um “não quero vê-lo nunca mais” disfarçado.

Antoine de Saint-Exupéry, afirmava que o amor exige atitudes (ou sutis sinais) que comprovem sua veracidade: “Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento. Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de palavreado”.

Acredito que a culpa seja dos nossos egos que, ao ficarem inundados de amor e expectativas, invertem as regras do bom senso e adequam aos seus próprios desejos. Vendo e percebendo apenas o que querem.

Talvez seja culpa do instinto humano querer o que não se pode ter. É quase automático: a pessoa demonstra desinteresse, o cérebro avisa “hora de partir para guerra da sedução”. E, nessa luta insana de conquista e desprezo, você perde metade da sua vida tentando entender o comportamento alheio.

Nessas horas, é preciso inteligência emocional e altas doses de bom senso para entender que há uma grande diferença entre demonstrar desinteresse e fazer charminho. Descaso não é sedução, grosseria não é demonstração de cuidado e não responder uma mensagem, depois de uma semana, não é esquecimento. Encare a realidade e não confie em seu coração.

Chega uma hora na vida que é preciso deixar a ilusão de lado e raciocinar. Entenda que, se a pessoa não marca local, horário e dia, vocês não têm um encontro. Se ele não te assume como namorada para a família, vocês não têm um relacionamento. Se ela demonstra desinteresse diante da sua constante demonstração de afeto, ela, realmente, não está interessada em você. A verdade é tão dura quanto libertadora: quem quer, demonstra. Quem não quer, também.

Relacionamentos são conseqüências de vontades mútuas entre duas pessoas. Tenha consciência que, um jantar na sexta-feira, não tem a obrigação de virar um namoro. Tão pouco um namoro tem a obrigação de virar casamento. Essa necessidade de tudo ter que dar certo, o tempo todo, consegue estragar até o que nasceu para dar certo.
Seja sensível aos sinais e inteligente o suficiente para perceber quando alguém não quer ficar. Às vezes, o “não” vem disfarçado de ausência para provar que você consegue viver sem esse sentimento.

Imagem de capa: Nicoleta Ionescu/shutterstock

Martha Medeiros: ‘Viver é uma honra’

Martha Medeiros: ‘Viver é uma honra’

Ilustração: Gillian Rosa

Martha Medeiros escreve porque não sabe cantar, interpretar ou riscar o salão ao som de tango ou gafieira – um feliz caso de inaptidão para a legião de leitores que acompanham sua trajetória, letra por letra.

Ao escrever sobre as pequenas angústias do dia a dia, a escritora, poeta, jornalista e agora roteirista nascida na cidade de Porto Alegre, mostra com jeito e cuidado aquilo que às vezes andava esquecido no fundo das nossas gavetas.

Aventura e liberdade são duas palavras que a definem bem. “A vida premia quem está em movimento”, disse no programa A Máquina, apresentado pelo seu amigo gaúcho e também escritor Fabrício Carpinejar.

Fã declarada de Woody Allen, acredita que a vida não tem sentido e que somos nós que damos o sentido que achamos que ela deve ter. Também não se considera uma “escritora mesmo”, desses de alto nível de debates intelectuais, colecionadores de prêmios e virtuoses da língua, como diz num bem escrito e humorado texto.

É que tornar-se uma escritora, alguém que vive exclusivamente da literatura, nunca esteve entre seus planos iniciais. Publicitária de formação, poeta por vocação e cronista por competência, ingressou nesse mundo por acaso, à convite de um amigo editor depois de voltar de morar um tempo fora por conta do trabalho do marido na época.

Desde então, cativa gente das mais variadas idades, classes e gêneros. Com 29 livros lançados (se as contas do repórter não estiverem erradas, e é bem provável que estejam) alguns deles adaptados para teatro e televisão, Martha segue adiante, “sempre em frente’, como diz a canção de Renato Russo, e não pretende parar por tão cedo e ousar ainda mais nos próximos passos, como contou em entrevista exclusiva à CONTI outra, onde falou sobre amor, medo, viagens, influências, envelhecimento e futuro.

Martha, por que você escreve?

Porque não sei cantar, atuar, dançar… Sempre quis me manifestar artisticamente e foi o dom da escrita que me coube, e honro esse dom diariamente, usando-o não só para me sustentar, mas para fazer alguma diferença na vida de quem me lê, levantando questões humanistas para serem refletidas e com isso tentando iluminar um pouco os caminhos mais sombrios de todos nós.

Sua carreira literária teve início com a poesia. O que foi essencial para que você desistisse de uma carreira na publicidade para ingressar num campo tão incerto?

Não me sentia realizada na propaganda e de repente surgiu uma oportunidade de escrever colunas para jornal. Eu trabalho melhor sozinha do que em equipe, então foi providencial essa possibilidade de deixar de ser um instrumento de comunicação de um cliente para ter uma voz própria. E ainda poder fazer isso em casa, administrando meus próprios horários e podendo estar mais perto das minhas filhas, que eram ainda pequenas. Passei a ter um estilo de vida mais condizente com a liberdade que sempre busquei.

Você começou com a poesia na década de oitenta e o primeiro livro de crônicas, se não me engano, só veio em noventa e cinco. O que te fez pensar em publicar um livro de crônicas?

Não foi iniciativa minha. Recebi o convite da editora Artes e Ofícios e, mesmo prematuramente, topei reunir umas 30 crônicas em livro. Foi quando saiu o Geração Bivolt, hoje fora de catálogo. Na época eu não tinha ideia de que minha carreira em jornal seria longeva, achei interessante documentar aquela experiência que me parecia circunstancial.

Sei que se tornar uma escritora, que vive de literatura foi algo que você não esperava. Foi difícil trocar a publicidade pela literatura? Quais foram os principais desafios e dificuldades de que se lembra?

Não houve dificuldades. Eu já não me sentia satisfeita com a profissão de publicitária. Fiz muitos amigos bacanas em agências, tive ótimas experiências, mas eu não me sentia competente o suficiente como profissional de criação e tinha muita vontade de realizar um trabalho mais autoral. Quando surgiu a oportunidade, me joguei. O problema que poderia haver seria financeiro, já que eu recebia um bom salário em agência, e no jornal comecei trabalhando quase de graça. Por isso fiz alguns frilas até me estabelecer como colunista. Além disso, eu estava casada na época e meu marido deu o suporte que faltava. Logo depois comecei a trabalhar em tevê (por um período curto) e fui recuperando minha independência aos poucos.

Quais foram os autores e livros que você considera fundamentais na sua formação e por quê?

Sempre que penso na minha formação, não me restrinjo à área profissional, penso na minha formação como pessoa, e aí surgem os nomes da minha infância e adolescência: Monteiro Lobato, Mario Quintana, Paulo Leminski, Herman Hess, Caio Fernando Abreu, Fausto Wolff, todos abrindo portas e janelas na minha mente. Mas saliento em especial a escritora Marina Colasanti, ela foi uma espécie de guru da minha transformação de menina para mulher. As obras dela, principalmente as colunas que escrevia em revistas femininas, ajudaram a formatar minha identidade. Eu ficava fascinada ao vê-la levantar questões importantes sem abrir mão da leveza e com muita sabedoria.

O ato de viajar parece ter um papel importante na sua vida. Como se iniciou essa relação, essa curiosidade em conhecer outras culturas, outros lugares?

Conhecer outras culturas se tornou a justificativa padrão para se pegar a estrada, mas hoje vejo que não foi só isso. Entrei na adolescência já tendo muita vontade de expandir minhas experiências, de não me deixar enquadrar pelos projetos sociais comuns a todos: casar, ter filhos, trabalhar e morrer. Sabia que existia muito mais lá fora, não apenas cidades, monumentos e praias, mas um “eu” estrangeiro que eu queria muito conhecer, pois intuía que ele me daria novas respostas sobre mim mesma. Quando fiz minha primeira mochilagem pela Europa, aos 24 anos, sozinha, foi um emocionante encontro comigo, me valeu por anos de terapia. E desde então virou vício, a ponto de eu me sentir mais eu mesma quando estou em outro país, desatada das obrigações da rotina. Claro que é muito bom ter raízes, ter uma casa, vínculos afetivos, tudo que nos retém num mesmo local, mas se eu não escapasse de tempos em tempos desta pretensa “segurança”, consideraria asfixiante viver.

Em seu livro Teoria da Viagem, o filósofo francês Michel Onfray argumenta que ter um lugar para onde voltar é tão fundamental quanto o caminho que se percorre. Você concorda com isso?

Concordo, pois viver todo o tempo solto no mundo, de porto em porto, acaba se tornando o reverso da liberdade, fica-se preso por fora. Ir e voltar são dois verbos com a mesma importância.

Você chegou a comentar que já estava sem muita paciência para viagens e aeroportos. Isso apenas no lado profissional ou também no pessoal?

Devo ter comentado isso após voltar de alguma longa viagem, cansada por ter ficado muitas horas enlatada dentro de um avião. Sempre chego pensando: nunca mais! Porém, no dia seguinte, começo a esfregar as mãos, pensando: quando será a próxima? O que não tenho mais disponibilidade é de pegar a estrada para cumprir compromissos profissionais ligeiros, o famoso bate-e-volta. Preciso ficar mais tempo em casa, dentro do meu escritório, escrevendo.

Atualmente, o que você acha que a vida é? Se você tivesse que explicar de maneira condensada o que é estar vivo, como faria?

Viver é uma honra. A alternativa seria não ter nascido, não ter existido. Então encaro a vida como uma grande oportunidade de criar uma história para si mesmo, ser o personagem de um roteiro que inclui sentimentos intensos, cenários variados, momentos ótimos e momentos péssimos. É um passeio por uma montanha-russa em movimento constante, com altos e baixos, e que uma hora vai acabar.

O que ainda hoje te causa encanto?

Conhecer pessoas com quem descubro afinidades imediatas. Estar perto do mar. A paixão e o sexo. Ler um livro espetacular. Ouvir música. Conversar com minhas filhas. Dia de sol.

Pensar na nossa finitude quase sempre não é nada fácil. Ernst Becker diz que praticamente tudo o que fazemos é para, de certa forma, negar a morte. Se me permite perguntar, como você tem encarado o processo de envelhecimento? Tem problemas quanto a isso?

É um privilégio muito grande ter 55 anos e afirmar que estou na melhor fase da minha vida. De fato, estou. Não lembro de ter me sentido tão entusiasmada e orgulhosa. Daqui “do alto”, contemplo a vista panorâmica do trajeto percorrido até agora e, incluindo os bons e maus momentos, o meu olhar é muito grato. Fico envaidecida por ter conseguido chegar aqui com tantas aquisições afetivas e profissionais. Claro que cometi erros, mas não tenho como voltar no tempo e corrigi-los, então aproveito a maturidade conquistada para viver melhor daqui pra frente, procurando acertar mais, e isso é possível quando se tem um bom conhecimento sobre si mesmo. Isso não significa que eu esteja achando incrível envelhecer… Por mim, daria uma segurada agora, não iria adiante tão rápido, mas não há feitiço contra a passagem do tempo, então estou tratando de aproveitar enquanto tenho saúde, joelhos, bom humor, jovialidade. Acredito que ainda há muita coisa boa pra fazer antes de alcançar a senilidade.

Qual a parte mais difícil do seu trabalho?

Encontrar um tema que me pareça estimulante, que não me dê a sensação de que já tratei sobre ele antes. São 23 anos escrevendo crônicas, muitas questões me parecem saturadas, mas é inevitável retomá-las, desde que com um novo olhar. É buscar este novo olhar o meu desafio de hoje.

Do que você mais tem medo?

De violência. Mas procuro não pensar muito nisso, para não me paralisar.

Tem medo de fracassar em algo?

Fracasso é uma palavra muito dramática. Fracassar totalmente em algo não me parece plausível de acontecer, pois o fracasso sempre divide a conta com o aprendizado.  Podem as coisas não saírem como o pretendido, mas não vejo isso como tragédia, e sim como uma frustração. As frustrações que me incomodam são de ordem emocional: não conseguir levar uma relação adiante, ter magoado alguém. Minha autocrítica custa a me perdoar.

Qual a maior alegria que já teve na vida?

Os dois partos das minhas filhas foram momentos inacreditáveis, sublimes. Não lembro de ter me sentido tão plena.

Existe amor além da abstração e das projeções?

Amor é um sentimento muito amplo. Existe o amor erótico, o amor entre amigos, o amor familiar, o amor por projetos, pela natureza, pela arte, pela vida. O amor é antes de tudo uma necessidade humana, ele é motivacional, dá um sentido para nossa existência. É o álibi perfeito para a maioria das nossas atitudes.

Quais os próximos passos que pretende tomar? O que vem por aí?

Estou escrevendo um roteiro de cinema, acho que ano que vem será filmado. Tenho conhecido pessoas novas, de outras áreas, e elas têm me feito convites para atividades a que nunca me atrevi. É essa a minha vibe no momento: abrir novas possibilidades de realização, não ficar trancafiada no que já deu certo.

Se beber, não dirija e nem entre no Facebook

Se beber, não dirija e nem entre no Facebook

É preciso ter a consciência de que o que se diz, o que se publica, o que se faz, mesmo quando estamos fora do nosso normal, ainda que estejamos passando por algum problema grave, atingirá e machucará outras pessoas, pois então já terá saído de nós e de nosso controle.

Ah, os arrependimentos; quantos a gente carrega vida afora. Quantos “e se” estão presentes em nossas culpas, martelando os nossos pensamentos e tornando nossas dúvidas ainda mais pungentes. Não conseguiremos refletir calmamente sempre que tivermos que tomar alguma atitude, mas prevenirmos um futuro intranquilo nos obriga a exercitar o pensar antes de agir, de falar, de postar.

Fato é que ninguém consegue ser moderado durante uma discussão acalorada, em meio a um problema imenso, quando estiver bem embaixo das tempestades, bem no centro de uma tormenta emocional. Frequentemente, falamos o que não devíamos a quem não merecia, principalmente às pessoas que nos são mais próximas, justamente porque com elas nos sentimos à vontade, inclusive – e infelizmente – para mostrar nossos piores lados.

E hoje, com a facilidade de acesso às redes sociais virtuais, temos ainda mais válvulas de escape para aliviarmos nossas angústias. Trata-se, porém, de um terreno perigoso, pois o que se publica é para sempre, mesmo que excluamos, porque os prints estão aí para eternizar tudo o que postamos, inclusive aquilo que não deveríamos ter escrito. Infelizmente, em poucos segundos, já poderá ser tarde demais para nos arrependermos.

É preciso ter a consciência de que o que se diz, o que se publica, o que se faz, mesmo quando estamos fora do nosso normal, ainda que estejamos passando por algum problema grave, atingirá e machucará outras pessoas, pois então já terá saído de nós e de nosso controle. Mesmo que sejamos perdoados, talvez as coisas nunca mais voltem a ser iguais. Porque a maioria das pessoas ao nosso redor não tem nada a ver com o que nos acontece e não são obrigadas a aceitar tudo o que fizermos.

Não será possível mantermos o equilíbrio o tempo todo, uma vez que enlouquecer, vez ou outra, fará com que nos livremos de pesos inúteis e nos coloquemos perante situações que incomodam. No entanto, será preciso tentar manter a calma quando a vida vier com suas rasteiras, ou estaremos passíveis de perder pessoas que são essenciais em nossa jornada. Como se vê, tudo tem sua hora certa, tanto a leveza quanto a gritaria.

Imagem de capa: aerogondo2/shutterstock

“Estou ficando louca…”, por Rubem Alves

“Estou ficando louca…”, por Rubem Alves

Ela chegou e depois de uma breve indecisão disse: “Acho que estou ficando louca…”

Fiquei em silêncio, como o caçador que espera o voo da caça, pois esta é a minha profissão: sou um caçador de palavras.

Era certo que alguma mudança surpreendente ocorrera com os seus pensamentos. Acostumada com as palavras domesticadas e de voo curto que diariamente se moviam em seu mundo interior, ela deveria ter se assustado com o súbito surgimento de uma outra entidade de cuja existência jamais suspeitara, escondida que estivera ao abrigo da densa vegetação que marca o início da obscuridade da alma. Recebera a visita de um emissário do inconsciente: pensamentos que nunca tivera, incomuns, desconhecidos… ela ignorava sua origem e nada sabia do seu destino. Descobria-se subitamente sem terra sólida sob os seus pés, flutuando sobre o mistério. Era isso que me dizia com sua curta declaração: “Acho que estou ficando louca…”

Mas eu nada sabia nem da cor, nem da forma, nem os movimentos dessa ave misteriosa que a assustava. Por isso fiquei quieto, à espera… confesso que senti um calafrio de prazer. Aves engaioladas são sempre banais e podem ser compradas em qualquer lugar. Não lhes dedico qualquer atenção, pois delas os jornais e a tagarelice cotidiana estão cheios. Mas estas aves selvagens que se anunciam com o nome de loucura nascem do desconhecido e levam-nos a voar por mundos onde nunca estivemos.

Aí ela continuou, explicando o que acontecera: “Eu sou uma pessoa prática, descomplicada. Gosto de cozinhar. E o faço de forma competente, automática, sem pensar. Corto as cebolas, as cebolinhas, os tomates, e vou fazendo as coisas que devem ser feitas da forma como sempre fiz. Estas coisas e estes atos nunca foram merecedores da minha atenção. Enquanto cozinho, meus pensamentos se concentram no prato terminado e no prazer de comer com os amigos.

Mas, na semana passada, uma coisa estranha aconteceu. Peguei uma cebola, igual a todas as outras, cortei uma rodela como sempre fiz, e levei um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Como era isso possível? Já havia visto e cortado centenas de cebolas e agora era como se estivesse vendo a cebola pela primeira vez! Olhei para a sua forma arredondada, senti a lisura de sua pelo sob os meus dedos, vi seus anéis circulares, perfeitos, encaixados uns dentro dos outros, surpreendi-me com sua quase transparência, a luz se fragmentando em centenas de pontos em sua superfície brilhante. Meu automatismo prático se interrompeu. Deixei a faca sobre a pia e fiquei com a rodela de cebola na minha mão, encantada. Esqueci-me do prato que estava preparando. Naquele momento eu não queria fazer prato alguma para o deleite da boca, pois havia encontrado outra forma de deleite: o deleite dos olhos. Meus olhos estavam comento a rodela de cebola. E eu senti um prazer que nunca sentira antes.

Pela primeira vez na vida vi que a cebola era bonita. Se fosse pintora, pintaria uma cebola. Se fosse fotógrafa, fotografaria uma cebola… Minha cebola deixara de ser uma criatura do sacolão, à mercê de facas e maxilares mastigantes, e aparecia como uma criatura encantada, moradora do mundo da beleza, ao lado de jóias e de obras de arte.

Ao acordar desse transe místico, em que vi a rodela de cebola como se fosse vitral de uma catedral gótica, fiquei assustada. Que coisa estranha deveria estar acontecendo com os meus olhos? que transformação deveria ter acontecido comigo mesma?

Se eu contasse aos meus amigos o que tinha acontecido, eles não entenderiam. Pensariam que eu estava fazendo gozação. Ririam. Não poderiam ver minha alegria vendo a rodela de cebola. Eu tive que fazer silêncio sobre a minha experiência. Pensei, então, que estava ficando louca. Pois loucura deve ser isto: Aquilo que a gente experimente e sobre o que tem de se calar. Pois se a gente disser, os outros não entenderão e começaram a pensar que a gente tem um parafuso solto.

Mas o pior é que o que aconteceu com a cebola começou a acontecer com tudo. Meus olhos já não eram mais os mesmos. Estavam possuídos por uma potência psicodélica. Viam o que sempre tinham visto de um jeito como nunca tinham visto. Meus quadros ficaram diferentes. E o mais perturbador era a felicidade que eu sentia em tudo. E eu pensei: se eu continuar a me sentir feliz assim, todos os meus grandes planos irão por terra! Se eu me sentir nas pequenas coisas, pararei de lutar para realizar as grandes coisas…

Ela estava assustada com a felicidade. Assustada ao perceber que a alegria mora muito perto. Basta saber ver. E eu lhe disse: “Você não está ficando louca. Você está ficando poeta…”

A experiência poética é ver coisas grandiosas que ninguém mais vê. É ver o absolutamente banal, que está bem diante do nariz, sob uma luz diferente. Quando isso acontece, cada objeto cotidiano se transforma na entrada de um mundo encantado. E a gente se põe a viajar sem sair do lugar… aquilo que procuramos se encontra bem debaixo dos nossos olhos.

Não é preciso fazer nada. Não é preciso viajar a lugares distantes. Coisa mais inútil haverá que a viagem, quando os olhos vêem tudo em preto-e-branco? Não é preciso também realizar grandes proezas de luta e trabalho – pois a beleza se encontra pronta ao alcance da mão… Dizia Blake: “Ver o mundo num grão de areia e um céu numa flor selvagem…”.

Não, ela não estava ficando louca. Mas eu compreendi o seu espanto. Descobria-se poeta. E a loucura da poesia está precisamente nisto: na compreensão de que basta que a beleza more dentro dos olhos para que o mundo inteiro seja transfigurado por eles… A felicidade nasce de dentro do olhar que foi tocado pela poesia…

Rubem Alves em ‘As Melhores Crônicas de Rubem Alves’
Conheçam o Instituto Rubem Alves e participem de seus projetos.
Imagem de capa:  Syda Productions/shutterstock

Muitos homens têm medo de mulheres fortes – por Flávio Gikovate

Muitos homens têm medo de mulheres fortes – por Flávio Gikovate

A grande maioria dos homens só se sente confortável ao lado de uma mulher que eles consideram mais fracas – ou menos – do que eles. Os critérios para esta avaliação são subjetivos e dependem da hierarquia de cada um.

A maioria gosta de ter controle financeiro sobre as suas mulheres, condição na qual sentem menos medo de serem abandonados. Muitos gostam de se sentir mais inteligentes, mais preparados e cultos, afora, é claro, a superioridade física.

Talvez por isso tenham podido, no passado, defender a tese da superioridade intelectual masculina: cada um escolhia uma mulher que lhe parecia portadora de poucos dotes. As mais qualificadas sempre tiveram mais dificuldade de encontrar um par!

É importante buscarmos uma hipótese explicativa para a insistência neste critério de escolha de cima para baixo.

O fato relevante é que quando este critério não for preenchido e a mulher se mostrar mais bem dotada intelectualmente e também mais bem sucedida profissionalmente, boa parte dos seus parceiros experimentarão uma dramática inibição da sexualidade. Isso foi registrado por Freud (1912): os homens só têm pleno desempenho sexual diante de mulheres que eles consideram inferiores a eles. Trata a questão como um fato biológico definitivo.

Hoje podemos ver isso com mais clareza. O bloqueio sexual realmente existe justamente nos homens que mais respeitam e valorizam as mulheres; costuma ser difícil de ser revertido, mas não é impossível, o que derruba a hipótese biológica.

Tenho pensado assim: os homens são muito fascinados pela aparência física das mulheres. Sentem forte desejo em decorrência dos estímulos visuais que elas provocam. Percebem que não são desejados da mesma forma como desejam e isso os deixa em condição de inferioridade.

Tentam equilibrar esta “conta” se sentindo superiores em outros setores, especialmente naqueles que as mulheres valorizam mais.

Avaliam, pois, a beleza feminina como uma grande vantagem que terá que ser superada pelas suas “prendas”.

Podemos dizer que o “erro” de julgamento é diretamente proporcional à beleza feminina. Assim, as mais lindas – e se ainda forem inteligentes e ricas – serão as que mais “espantarão” os homens. Triste destino para todos.

A esperança vem dos jovens, pois eles começam a avaliar tudo isso de uma outra maneira.

Imagem de capa: Lipik Stock Media/shutterstock

Por Flávio Gikovate

Resiliência é substantivo feminino

Resiliência é substantivo feminino

Existem palavras que nos fazem pensar, e para mim resiliência é uma delas. Fui procurar no dicionário seu significado, para ser mais exata nas minhas definições, e o que refleti a partir daí achei interessante o suficiente para desejar compartilhar com vocês.
Então vamos lá, joguei a tal da resiliência no Google, e o que apareceu foi:

Substantivo feminino
1. fís propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.
2. fig. capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Origem ⊙ ETIM ing. resilience ‘elasticidade’

De repente eu me vi parada, tendo uma pseudo epifania olhando para a tela do computador, quando li que resiliência é um substantivo feminino. Eu sei que a relação do substantivo com o seu significado subjetivo não existe, mas eu gostei dela a ponto de querer criar uma relação, e é o que faço aqui sem medo de críticas. Resiliência é coisa de mulher mesmo, que tem a propriedade mágica de retornar à sua forma original depois do parto, da “deformação elástica” de carregar dentro de si outra vida. Essa foi a primeira coisa que pensei, mas esse sentido é físico e concreto demais para mim, eu gosto mesmo é da parte subjetiva da resiliência.

Resiliência é substantivo feminino, e quer você seja homem ou mulher, precisa exercer sua feminilidade na hora de aguentar o tranco e se recuperar depois de uma rasteira da vida. Calma, deixa eu explicar. Feminilidade é aquela coisa bonita que a gente carrega no peito, que tem a ver com cuidado, atenção, carinho. É aquele instinto de fazer acontecer, esperar a planta germinar no solo, organizar, concertar o que se quebrou e dar comida a quem tem fome. Não tem a ver com homem ou mulher, tem a ver com a delicadeza do feminino, da feminilidade.

E você deve estar aí se perguntando o que isso tem a ver com resiliência. Pois para mim tem tudo. Só aguenta levantar, só consegue se reerguer e ser inteiro de novo depois que te quebraram em mil quem reconhece a importância de ser inteiro. Pois só se ajuda, só conseguimos cuidar, alimentar, reparar, quando nós mesmos estamos reparados, cuidados. Isso não é lindo? Exercitamos nossa resiliência, aguentamos levantar depois da queda, quando reconhecemos o quanto é importante sermos inteiros. Pensei numa metáfora bem simples para entender o significado da resiliência para mim: ser resiliente é cair, mas perceber que mais gente caiu junto, e então levantar correndo, esquecer a dor para poder ajudar quem precisa. Resiliência é ato de amor.

Imagem de capa:  Captblack76/shutterstock

A escolha do coração

A escolha do coração

Das escolhas que fazemos na vida, algumas fáceis outras mais complexas, talvez a mais desafiadora de todas seja a escolha do coração. Escolher com o coração requer desapego dos antigos padrões, requer criatividade e transformação. Para escolher com o coração precisamos aprender a abrir mão do que nos foi ensinado pelos nossos pais, mestres e amigos, com muito carinho, mas que não nos serve.

Quanto mais tenho caminhado, amadurecido e aprendido, mais entendo que é muito fácil cairmos nos antigos padrões, no que esperam de nós, em escolher a trilha mais percorrida. Muitas abordagens da Psicologia tentam explicar porque temos a sensação de estarmos sempre repetindo os mesmos padrões de comportamento, como se nossa vida fosse um eterno “déjà vu”. Estudos na neurociência se aproximam da explicação lógica, hoje existem técnicas eficientes de reprogramação cerebral e ressignificação de traumas. Mas, para mim, leiga, curiosa, entusiasta, a única mudança vem mesmo de aprender a escolher com o coração.

A escolha do coração é uma escolha difícil porque ela é única, intransferível, individual. Conselhos e experiências alheias não se aplicam, pois ninguém, além de você mesmo, pode fazer essa escolha. E não se engane, a tendência é sempre voltar para a trilha mais percorrida, para os antigos padrões, é voltar a cair na mesmice. E na mesmice, não há crescimento.

Cresça.

Percorrer o novo é desconfortável, pois os caminhos não percorridos nos levam à lugares por poucos conhecidos, nos demandam desapego, uma grande dose de fé e um caminhar titubeante já que esse caminho desconhecido ninguém nunca nos ensinou a percorrer.

Percorra.

A escolha do coração é uma escolha difícil, porém fiel. Fiel à minha história e luta, leal à pessoa que me tornei, aos valores que me empenhei em manter e aos que abri mão, é uma escolha fiel às minhas renúncias. Para cada escolha, muitas renúncias.

Renuncie.

Escolher com o coração é fazer diferente, é honrar o caminho que nossos pais e os pais de nossos pais percorreram, aprendendo através de seus erros, aprimorando seus acertos. Escolher com o coração é escolher sem precisar se justificar, é abandonar a razão e desafiar as lógicas que te convencem a ficar, que te convidam a voltar para o caminho já percorrido, é ser visto por muitos como louco.

Enlouqueça.

É certo, repetir é muito mais fácil do que criar. Escolher com o coração é um pedido para que criemos: nossa própria história, nosso próprio destino, nosso caminhar; e que refaçamos nossos votos, reforçando os desejos de nosso coração, todos os dias, a cada obstáculo, desafio, a cada convite para ficar, para voltar, para não se perder.

Perca-se.

A escolha do coração é uma escolha salgada banhada de suor e lágrimas. A escolha do coração é solitária e vulnerável. É desconfortável. É aquela que te desestabiliza, sem promessas nem garantias. Escolher com o coração é correr riscos.

Arrisque-se.

Mas, escolher com o coração, traçar seu próprio caminho tem muito a ver com exemplo e legado. O legado das nossas escolhas, de como escolhemos criar nossa história, daqueles que escolhemos para compartilhar nosso caminho, da nossa caminhada única e irrepetível. E esse é o único legado que vale a pena deixar para o mundo.

Escolha.

Imagem de capa: Angela Waye/shutterstock

Nós somos infinitos

Nós somos infinitos

Você já se sentiu invisível? Sozinho? Como se você não existisse, por mais que fizesse força para existir? Pois é, a invisibilidade ou melhor, a solidão, é um problema que parece ser inevitável em algum momento da vida e, mais ainda, para qualquer indivíduo que se sinta deslocado do meio social.

Esse problema aparece no livro e filme “As Vantagens de Ser Invisível” de 2012, escrito e dirigido por Stephen Chbosky. A trama acompanha a vida de Charlie (Logan Lerman), um garoto tímido, inseguro e extremamente sensível, marcado por vários acontecimentos que o tornaram ainda mais preso dentro de si, entrando no ensino médio sem saber como se portar, mas desejando ter um alívio de todas as dores que carrega silenciosamente.

Sem conseguir se enquadrar, a situação de Charlie só começa a mudar quando conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois formandos que acabam recebendo Charlie no seu grupo, sobretudo, a partir do momento em que percebem que ele é muito mais parecido com eles do que parece. Ou seja, Charlie é um desajustado, um invisível, e por possuir essa condição consegue perceber mais profundamente as pessoas, assim como, sofre as consequências de estar sempre à margem do que é considerado o padrão. Ao seu modo, todos do grupo sofrem as consequências por serem diferentes do convencional e compartilham da solidão que ferve em Charlie.

A partir disso, Charlie começa a melhorar, não tem mais crises, e sente-se vivo, forte, como se as coisas definitivamente fossem mudar. Sem mais dores, sem mais lágrimas, sem tanta angústia, sem uma solidão que o tornava tão perdido. Agora, havia pessoas que o compreendiam, que o aceitavam como ele era, que o admiravam, que o amavam. Não eram os sujeitos mais descolados ou populares, mas eram os mais sinceros, os que carregavam uma verdade que fazia Charlie se enternecer e esquecer que estamos sós no mundo, que nascemos sozinhos e partiremos da mesma forma.

Essa consciência da finitude talvez assustasse Charlie, ainda mais por ser um indivíduo tão sensível para com o mundo e as suas dores, não à toa, um sujeito apaixonado por literatura. Da mesma literatura vem duas frases sobre a solidão, a primeira de Hemingway, que diz: “Mesmo quando estava entre a multidão, estava sempre sozinho” e a segunda de Exupéry: “Você não se sente sozinho aqui no deserto? No meio da multidão também nos sentimos sozinhos”. Em ambas, a solidão não é um mal de quem está só, mas um mal de quem está rodeado por pessoas, mas não consegue em momento nenhum perceber-se ouvido, existindo, deixando de ser invisível. Era essa a solidão carregada por Charlie, Patrick e Sam.

A solidão pela inadequação e pela falta de compreensão para com os seus problemas, as suas dores. E, nesse ponto, a obra se torna tão próxima de nós, porque quantas vezes estamos rodeados de pessoas, mas nos sentimos sozinhos, como se não existisse qualquer abertura cognitiva para que pudéssemos expressar os nossos sentimentos, os nossos desejos, as nossas dores?

Não é preciso ser tímido ou passar por experiências tão fortes e impactantes como as de Charlie, para se sentir sozinho no meio da multidão, porque todos possuem os seus demônios e precisam de alguém que os ajude a exorcizá-los; embora, para aqueles que carregam uma sensibilidade maior dentro de si, isso seja ainda mais penoso. Mas, o fato é que todos precisamos de alguém que nos ajude a permanecer na superfície, afastando-nos dessa terrível dor de estar sozinho no mundo, sendo esmagado pela finitude.

Assim, “As Vantagens de Ser Invisível” é uma obra que não se comunica apenas ao público adolescente, porque ela fala do homem e sua relação com um mundo, que na maior parte do tempo é indiferente, que faz sofrer, mas que também pode ser bonito. Ele fala da solidão do homem, da dificuldade que possuímos em nos comunicar e de como isso nos torna afastados e finitos. E, sobretudo, da importância de ter alguém aberto o bastante para tocar nossa alma, bem no fundo, nos tornando grandes e vivos, porque quando isso acontece, desconhecemos a solidão, o tempo torna-se apenas um detalhe singelo e nós…ah! “Nós somos infinitos”.

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“A vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas”, por Içami Tiba

“A vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas”, por Içami Tiba

Se você abre uma porta, você pode ou não entrar em uma nova sala. Você pode não entrar e ficar observando a vida. Mas se você vence a dúvida, o temor, e entra, dá um grande passo: nesta sala vive-se! Mas, também, tem um preço… São inúmeras outras portas que você descobre. Às vezes curte-se mil e uma. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno.

A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobre-se tantas outras portas. E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa. Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente. É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida… Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!

Por Içami Tiba

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10 formas de ajudar seu filho a ser mais solidário no futuro

10 formas de ajudar seu filho a ser mais solidário no futuro

Que mãe não gostaria de ver seu filho vivendo em uma sociedade mais justa e equilibrada?

Como em muitos lugares isso ainda não é possível, penso que devemos levantar as mangas e despertar dentro de nossos filhos esse desejo de “um mundo melhor” .

Utopia? Por que não? A utopia pode NÃO nos levar à “paz mundial” (dando uma de Miss Mundo agora! rs), mas ela nos faz caminhar em direção a ela. E quando caminhamos, nos movimentamos. E mesmo que pouquinho, esse movimento contribui para uma transformação.

E toda transformação social, acredito eu, vem de um desejo pessoal, incentivado pela família, pela escola ou por um movimento. Acredito no poder das mães. E dos pais também, claro. Somos sim grandes agentes transformadores. Se todas as mães e pais educassem suas crianças no mais amplo sentido possível, talvez a nossa sociedade estivesse melhor.

Sempre digo aos meus filhos que o mais importante é ter um bom coração. E toda situação de conflito que acontece aqui em casa, na escola ou onde quer que estejam, analisamos juntos a apartir desse olhar. Acredito que a solidariedade traz benefícios para o mundo, mas acima de tudo faz um bem “danado” para nós. Vamos plantar hoje essa semente!?

10 formas de ajudarmos nossas crianças a serem mais SOLIDÁRIAS:

1. Nada ensina mais que o exemplo, portanto sejamos aquilo tudo que desejamos aos nossos filhos: que eles sejam respeitados, então devemos respeitar hoje as pessoas. Que eles estejam seguros no trânsito, então que não passemos no sinal vermelho de dia ou de noite. Que eles tenham saúde, então vamos nos alimentar com qualidade nas próximas refeições.

2. Solidariedade horizontal. Todo ano as crianças separam uma sacola de brinquedos para doar. E doamos. Portando, uma ação é feita. Mas de que forma isso aconteceu? Que sentimentos e que valores guardaram as crianças nessa ação? A solidariedade vertical é aquela em que doamos algo que não precisamos, para alguém que precisa. É uma relação de cima para baixo. Do “grande” para o “pequeno”. Por isso, chamada vertical. Devemos tomar cuidado com ela para não despertarmos um sentimento de superioridade nas crianças. Esta solidariedade vertical é aquela que deve ser praticada pelo Estado, é dever dele garantir o direito que todas as crianças possuem de brincar, como no exemplo acima. Já a solidariedade horizontal, esta sim é positiva para a educação dos nossos filhos. Porque é por meio dela que mostramos às nossas crianças que todos nós fazemos parte de uma sociedade, e que se todas as crianças estivessem na mesma linha, com seus direitos garantidos, hoje moraríamos em um lugar justo e tranquilo. Portanto, ajudar dessa forma (solidariedade horizontal) não é apenas dar aquilo que não nos serve, é fazer cumprir os direitos que TODOS nós possuímos, porque não somos nem maiores e nem menores que ninguém.

3. Cuidado com o que for doar: Não se pode misturar a ação de “doar” com o pensamento “jeito de se livrar de coisas quebradas e inúteis”. Isso não combina. A gente doa a roupa que não serve mais porque está pequena, por exemplo, e não porque está furada. A gente doa a televisão antiga porque compramos uma nova, e não porque ela se quebrou. Quem tem coragem de doar uma boneca ou um carrinho quebrado para uma criança que pouco possui? Pois eu já vi muito isso! Quando participava da coleta de brinquedos para doar à crianças carentes em um centro social, muitos brinquedos recebidos para doação vinham completamente sem chance de ser usado. Então, enquanto ajudo as crianças a separarem os brinquedos vou refletindo com eles: “vocês gostariam de ganhar isso?”.

4. Aprender com o outro. Somos solidários, por exemplo, ao ouvirmos uma pessoa mais velha contar suas histórias. Doamos nosso tempo, e a pessoa revive momentos, às vezes especiais, guardados na memória. E isso faz bem para ambos. Estimular a criança a conversar com os mais velhos (avós, bisavós, por exemplo) faz bem, porque ela aprende a escutar, a ser amigável, solidária e acima de tudo, aprende que toda pessoa tem algo a nos ensinar.

5. Cofrinho para o natal: é uma ideia concreta que incentiva o sentimento de solidariedade nas crianças. Durante o ano, podemos fazer um cofrinho para que todas as pessoas da casa ( e por que não as visitas que se sentirem motivadas) possam dar as suas contribuições. O objetivo é muito pessoal, vem de cada família. Talvez comprar uma roupa bem bonita para uma criança de um orfanato, ou participar do “Natal solidário dos Correios”, cujo objetivo é dar uma resposta às cartas das crianças (muitas em situação de vulnerabilidade social) que escrevem ao Papai Noel e, se possível, atender aos pedidos de presentes feitos por elas.

6.Participar de uma ONG: outra ideia concreta! Levar as crianças a participarem de qualquer ação coletiva e solidária! Seja no clube, na escola, na igreja, em uma ONG ou centro social. Agir e ver outras pessoas agindo, trabalhando juntas por outras pessoas, é uma lição de vida e um exemplo nobre, que deveria ser vivido com frequência.

7. Oferecer ajuda: Lembram do primeiro tópico, “nada ensina mais que o exemplo”? Pois bem, ajudar as pessoas no dia a dia é um exercício de cidadania. Abrir a porta do carro para alguém entrar, ajudar uma pessoa a pegar algo que deixou cair no chão, “segurar” a porta do shopping ou do elevador para facilitar a entrada de outras pessoas, ajudar a “tirar” a mesa após o almoço e jantar, levar seu lixo até o lixo e não deixar em lugares públicos…. Todas estas e outras ações diárias são notadas pelos nossos filhos que passam a seguir os nossos exemplos. Vamos, então, fazer coisas boas. Quantas oportunidades temos todos os dias de ajudar alguém?

8. Ser solidário com um amigo na escola: Incentive seu filho a ajudar algum colega na escola. Isso é um ótimo exercício de solidariedade, afinal eles terão a oportunidade de mudar uma situação desagradável real e se sentirão orgulhosos. Como? Converse com ele sobre bullying, e o encoraje a ser solidário com um alvo. Ou ainda, diga que uma ideia legal é ajudar um colega novo na escola a conhecer e interagir com os grupos já existentes. Ou, quem sabe, até incentivá-los a fazerem uma campanha beneficente (recolher agasalhos no frio para doar, ou uma campanha para trocar livros entre os alunos), ideias não faltam!

9. Sempre se colocar no lugar do outro: esse é um exercício que faço a todo momento com as crianças e comigo mesma. Afinal, a gente erra e muito. Pior do que errar, é não ver que errou, então vamos refletir?! Adoro quando acontece uma briguinha com as crianças aqui em casa! Seria loucura? Não, eu explico. Dá para pegar a criança, botar ela no sofá e falar: Hoje vamos conversar sobre mordidas? Até dá, afinal nada é impossível! Porém, não existe hora mais oportuna e eficiente para EDUCAR do que após um conflito! Os conflitos são canais, pontes para o aprendizado de muitos valores, portanto devemos aproveitar. “Filha, você acabou de morder seu irmão, e eles está bravo: você gostaria que ele fizesse isso com você? Dói e isso não se faz”. Ajudar a criança a refletir sobre sua ação é importante desde pequenos, mesmo que no comecinho da infância eles estejam preocupados demais consigo próprio. Vale a pena essa prática!

10. Há perigo em ser solidário? Esse dilema é grande em mim, e gostaria da opinião de vocês, mamães! Como esse assunto de solidariedade e ajudar o próximo é muito vivo nos meus filhos, às vezes meu marido e eu passamos por “apuros”. O último exemplo foi no final do ano. Estávamos de férias em Campinas, quando a noite, um moço nos abordou no carro para pedir dinheiro. (Antes de continuar, tenho uma confissão! Eu dou dinheiro no semáforo! Sei que tem os seus milhares de pontos negativos, que é ruim para eles, mas meu coração aperta e por um segundo eu penso “em não vou dar” e quando vejo, o troquinho já está dado e eles já estão fazendo joia para as crianças no carro). Voltando ao exemplo, nesse noite, quando vi o moço se aproximando tive um mau pressentimento e disse ao meu marido: “Não abra a janela!”, com um sinal e um sorriso disse ao moço que não tinha dinheiro. Por sorte o sinal abriu e seguimos. Eis que meu filho indaga: por que não ajudamos aquele homem? Eu disse que não tinha nenhuma moedinha e disfarcei. Agora eu pergunto mamães, como ensinar as crianças a noção do perigo, da violência que é real, sem deixar de lado a grandeza do doar, de ser solidário? Qual é a medida certa? Como queremos que eles se relacionem, quando aquele conselho “não converse com estranhos” é dado? Dilema grande, afinal eles são pequenos ainda para eu contar coisas reais que acontecem. Explico que o mundo está cheio de perigos, que algumas pessoas podem fazer mal a outras e que tem até gente grande que pega crianças. Mas não vou além. Acho cedo ainda mostrar o lado cruel do mundo.

Afinal, o mundo tem mais gente boa do que má, e crescer com essa certeza deixa a criança mais positiva no futuro (volto nesse assunto em outro post, prometo!!).

Fonte indicada: Super Mammy

Imagem de capa:  mateuszkt/shutterstock

20 das melhores e mais emocionantes frases de Martin Luther King

20 das melhores e mais emocionantes frases de Martin Luther King

Martin Luther King Jr. foi um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo.

Abaixo, confira 20 de suas melhores frases:

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”

“No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.”

“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo.”

“Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver.”

“A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio.”

“O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.”

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“Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.”

“Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.”

“Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele.”

“Se alguém varre as ruas para viver, deve varrê-las como Michelângelo pintava, como Beethoven compunha, como Shakespeare escrevia.”

“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar.”

“Uma das coisas importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la.”

“Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira.”

“Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?”

“O que afeta diretamente uma pessoa, afeta a todos indiretamente.”

“Não permita que nenhum homem o faça descer tão baixo a ponto de sentir ódio.”

“Nunca se esqueça que tudo o que Hitler fez na Alemanha era legal.”

“Não ficaremos satisfeitos enquanto um só negro do Mississipi não puder votar ou um negro de Nova York acreditar que não tem razão para votar.”

“Se eu puder ajudar alguém a seguir a diante, alegrar alguém com uma canção, mostrar o caminho certo, cumprir meu dever como cristão que é divulgar a mensagem que Cristo deixou, então minha vida não terá sido em vão.”
(Do último discurso de Martin Luther King)

Frases via Pensador

Imagem de capa:  kropic1/shutterstock

O tal do amor à primeira vista

O tal do amor à primeira vista

Essa coisa de amor à primeira vista sempre me fascinou. Desde os tempos em que a minha leitura favorita era os contos de fada, me impressionava aquele primeiro encontro em que o tal do príncipe via a princesa e, imediatamente, sabia ser ela o amor da sua vida. A gente nem virava a página e já estavam eles, assim, apaixonados.

Nos filmes que eu via isso também era lugar comum e não posso negar que aquelas histórias me encantaram e ajudaram a construir a minha parcela deste imaginário feminino que faz com que a gente espere sempre, mesmo sem querer, o famigerado príncipe encantado.

Pior que isso, tantas informações equivocadas, veiculadas pelos contos de fada e pelos filmes água com açúcar que adoramos assistir na adolescência, nos fazem acreditar que não só encontraremos o tal príncipe, logo ali , pronto, mas que seremos capazes de transformar sapos em príncipes e, isso tudo, só com um beijinho sequer. Ah , o poder transformador do amor…

E seguimos assim, acreditando que todo aquele que chega até nós, é, sem dúvida alguma, o nosso príncipe. Nem que pra isso tenhamos que mudar o seu mau gosto escancarado para se vestir, o gosto musical duvidoso, a falta de hábito de leitura, aquele dançar desengonçado, fora alguns arrobos de total falta de educação, mas que nós, detentoras do infinito poder transformador do amor, seremos capazes de modificar com a mesma facilidade que é fazer abóboras virarem carruagens.

Por tudo isso,  estou mesmo convencida de que existe o tal do amor à primeira vista. Pois ao segundo olhar, mais detalhado e atento, toda essa paixão cairia por terra em menos de dois capítulos ou cenas. Acontece que a gente vê aquilo que deseja e é por este desejo que nos apaixonamos, assim num primeiro momento, numa olhadela rápida, focada naquilo que a gente quer ver.   O tempo, senhor da verdade, se encarrega de nos devolver a sanidade e nos mostrar quem o outro é de fato e lá se vai, ladeira abaixo, o tal do amor à primeira vista. Mas ainda assim é possível que algo bom e mais duradouro permaneça. Desde que você esteja disposta a aceitar o outro  da maneira que ele é, com tantas imperfeições quanto você e na mesma busca pelo encontro consigo mesmo, só possível quando há aceitação.

Então, esquece isso de amor à primeira vista e dê um bom e atento segundo olhar, que pode trazer algumas decepções, mas , ao menos será mais verdadeiro. Sem essa de querer transformar sapos em príncipes, o que, além de muito trabalhoso e desgastante, é coisa de fada madrinha. E, fada madrinha, pelo menos até onde eu sei, nunca chegou ao final da história com um grande amor e a legenda “viveram felizes para sempre”.

Imagem de capa: Reprodução

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