Se o tempo voltasse

Se o tempo voltasse
© Anna O.

Existe um ditado que diz: “O que não tem remédio, remediado está”. Essa frase serve tanto pra gente se conformar com a realidade (que nem sempre é a que desejamos) quanto para entendermos que o tempo não volta, que o que aconteceu não deixará de acontecer, e que arrependimentos ajudam a construir uma existência mais certeira daqui pra frente.

Alguns acontecimentos nos colocam em xeque mate, e enquanto puxamos o freio de mão da vida que corre acelerada, é possível que questionemos o destino final com o descuido próprio dos viajantes sem direção.

De vez em quando revemos nossas vidas e paramos para pensar nas escolhas que fizemos até o momento. Fica sempre a pergunta: Se o tempo voltasse, eu faria outras escolhas? Teria tomado outro caminho? Ou será que “não somos donos, mas simples convidados”? _ Como disse Mia Couto?

Será que os desfechos de nossas histórias almejam um destino pré traçado, ou são escritos conforme a caligrafia das escolhas que fazemos e que poderíamos não ter feito?

O que sei é que só podemos nos arrepender do amor que não demos, de que forma for. E mesmo lamentando uma situação presente, ela também é fruto da imperfeição dos dias, e não somente de escolhas mal feitas.

De vez em quando somos tentados a achar que se o tempo voltasse estaríamos mais felizes e realizados. Mas será que teríamos adquirido a sabedoria que temos hoje sem errar? Sem tropeçar nesse terreno arenoso e improvável que é a vida? Tombos e deslizes fazem parte do processo, aprender a levantar e seguir adiante tentando superar as cicatrizes, também. Lamentar o desfecho de nossas escolhas nos tira do papel de protagonistas de nossa própria história, e nos arremessa a um lugar secundário, como co-autores da vida que representamos.

Amadurecer é tomar as rédeas da própria existência; é ser protagonista dos bons e maus momentos, acreditando firmemente que, já que o tempo não volta, só podemos construir uma existência de paz aprendendo a lidar com o que temos pra hoje.

Por mais doloroso que seja o presente, ele é o nosso fato concreto. E aceitá-lo sem dívidas é a melhor maneira de nos sentirmos realizados. Sem pensar na possibilidade de sermos mais felizes em outro lugar senão no nosso. Sem cogitar a esperança de dias melhores a partir de um passado que não tem mais volta. Sem imaginar nossa vida com outros perfumes senão o aroma do presente.

É comum pensarmos “nessa altura da vida”… “Se o tempo voltasse, eu teria seguido por esse caminho, mas o tempo passou e eu não fiz o que queria ter feito…” Desconhecemos a lógica de que o presente está mais perto do que imaginamos, ao alcance de nossas mãos. E é só com ele que podemos contar.

Minha avó tem 87 anos e se matriculou num curso de computação. Sigo me inspirando em sua cartilha de otimismo e determinação. No seu pensamento jovem, apesar das raízes brancas que denunciam os anos corridos. Na sua coragem de olhar para frente, lidando com a própria vida com o entusiasmo dos que não se curvam para trás nem lamentam o que aconteceu. Na sua liberdade de construir a pessoa que deseja ser, sem sabotar o desejo de suas asas, nem podar o que existe de mais belo dentro de si.

Se o tempo voltasse, talvez me machucasse menos. Mas minha falta de cicatrizes não ajudaria a valorizar o momento presente com sabedoria, entendendo que só depois de sermos derrubados, podemos descobrir de fato que fomos ensinados…

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Fotografia Anna O.

“É loucura odiar todas as rosas…porque uma te espetou”- O Pequeno Príncipe

“É loucura odiar todas as rosas…porque uma te espetou”- O Pequeno Príncipe

É LOUCURA ODIAR TODAS AS ROSAS…porque uma te espetou. Entregar todos os teus sonhos porque um deles não se realizou, perder a fé em todas as orações porque em uma não foi atendido, desistir de todos os esforços porque um deles fracassou. É loucura condenar todas as amizades porque uma te traiu, descrer de todo amor porque um deles foi infiel. É loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo.

Espero que na tua caminhada não cometa essas loucuras. Lembrando que sempre há uma outra chance, uma outra amizade, um outro amor, uma nova força. Para todo fim um recomeço.

O Pequeno Príncipe

As lições atemporais de “O Pequeno Príncipe”

As lições atemporais de “O Pequeno Príncipe”

Quando era criança, na década de 1960, frequentava muito a Biblioteca Monteiro Lobato, na Rua General Jardim, na Vila Buarque, em São Paulo. Um dia, esbarrei n’O Pequeno Príncipe. O livro, com ilustrações lindas, contava a história de um principezinho que morava num asteroide longínquo, o B612. Ele sai em uma viagem pelo universo e chega a um deserto aqui na Terra, onde conhece um piloto cujo avião está encalhado na areia.

O Aviador escuta as histórias que o pequeno viajante tem para contar e relembra com ele grandes lições de vida, apagadas pelas asperezas dos anos. Eles se tornam grandes companheiros. Lembro-me de querer ter um amigo como o Aviador. Minha mãe morreu quando nasci e não tive irmãos. Era muito magro e alto, sofria com as brincadeiras das outras crianças. Era um garoto introvertido. Fiquei muito feliz de ter sido convidado para dar voz ao Aviador, meu personagem favorito, no novo filme animado O Pequeno Príncipe, que chega aos cinemas nesta semana.
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A animação, dirigida pelo americano Mark Osborne, traz uma nova narrativa para esse clássico da literatura infantojuvenil. Desta vez, é uma garotinha que fica amiga do Aviador – agora um velhinho que mora na casa ao lado da dela. Ela precisa estudar muito durante as férias para entrar na escola que a mãe quer. Mas o Aviador está em busca de um amigo e conta para ela todas as histórias que ouviu do Pequeno Príncipe. Aos poucos, a garotinha percebe que a vida não pode ser tão séria quanto sua mãe prega. E que há algo de precioso na infância – a facilidade de se encantar com a essência das pessoas – que se deve carregar para sempre. “O problema não é crescer”, diz o Aviador. “É esquecer.”

A obra que inspirou a animação foi publicada originalmente em 1943 pelo francês Antoine de Saint-Exupéry. Ele próprio era piloto, assim como o personagem de seu livro. Exupéry morreu apenas um ano depois de lançar o livro, numa missão francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Nem sonhava com o sucesso que sua obra faria. Ela emociona pessoas há 70 anos – é mais tempo do que eu mesmo estou vivo. Nesse período, o livro foi traduzido para mais de 250 línguas e dialetos. Está na lista dos mais vendidos anualmente. No Brasil, vende 300 mil exemplares por ano.
O Pequeno Príncipe é uma obra atemporal. Quando li o livro, aos 13 anos, entendi que havia uma mensagem além da narrativa simples. Mas só com o passar dos anos suas várias nuances se fizeram mais claras para mim. O que ficou foi a lição de que temos de conjugar mais o verbo “ser” do que o “ter”. Somos pessoas melhores quando nutrimos relações baseadas no carinho, quando encaramos a vida de maneira lúdica. Não podemos criar crianças sem fantasia, sem amigos. Elas precisarão dessa infância amorosa e imaginativa para ser bons adultos. Foi a educação que eu dei para meus filhos e a que eles dão a meus netos, Clarice, de 5 anos, e Breno, de 2. Fiquei muito emocionado depois que acabei a dublagem e vi o resultado. O filme reflete minha relação de amizade com meus netos. Eu os vejo pelo menos três vezes por semana e tento proporcionar a eles uma vida livre e criativa. Nesse sentido, sou um pouco como o Aviador. Meus netos têm um amigo lúdico que crê numa vida com menos obrigações e menos tarefas.

Temos de nos preocupar com o que as crianças são hoje, e não com o que elas terão amanhã. Com a rapidez da vida moderna e os avanços tecnológicos, não olhamos mais para o outro, não nos vemos como irmãos. Estamos sempre focados em objetivos profissionais, financeiros e mercadológicos e nos esquecemos de que a vida também é feita de imaginação e criatividade. O Pequeno Príncipe não nos deixa esquecer.

*Em depoimento a Nina Finco
Fonte: Revista Época

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Senta aí, vamos falar de razão e emoção

Senta aí, vamos falar de razão e emoção

Após longos períodos trabalhando, jogando, estudando, se preocupando ou até amando, é necessária uma pausa. Os momentos bons são para o desfrute, os ruins, para aprendizado. Aqueles que apenas desfrutam, param no tempo do ócio, das festas, da falta de auto conhecimento e de utilidade. Sair e experimentar de tudo, ajuda a nos conhecermos mais, é claro. Porém, toda essa liberdade, se não acompanhada de momentos de silêncio e reflexão, de nada vale. Afinal, marionetes da vida, vemos todos os dias. Pessoas que vivem loucamente como se não houvesse amanhã, consumindo tudo de possível que o mundo produz. Articulam-se como experientes, mas quando tentamos puxar o assunto um pouquinho mais para o alto, se colocam na posição de seres espirituais, que estão aqui por algum motivo que é muito especial e que o chá de cogumelo as mostrou que a consciência é apenas a ponta do iceberg de um infinito de sentimentos e almas que existem neste mundo. Nada contra. São boas pessoas para passarmos um tempo. Mas chega o momento em que é necessário se recolher. Se desligar, parar de consumir, de falar, de ouvir, de escrever, de beber, de fumar. Falta hoje em dia o momento de auto reflexão. Falta tempo para a auto avaliação.

Falando em auto avaliação, vamos falar sobre aquilo que tanto nos desconcerta. Vamos falar de amor, senta ai. O que seria o amor senão a principal inquietação da humanidade? E o que seria a principal inquietação da humanidade senão a maior droga a que um ser humano é capaz de se viciar? A paixão é a droga que tem seu efeito mais duradouro. Segundo alguns, dois anos, segundo outros, a vida toda e, para alguns, uns dias, outros menos… mas a verdade é que não dura apenas algumas horas, ao contrário das drogas criadas pelo ser humano ou pela natureza. A paixão, fogo inicial do amor, é nossa droga pessoal, interior, fabricada e destruída por nós mesmos. Por isso, trouxe alguns pensamentos sobre o amor, a paixão e a razão, vindos de momentos de auto reflexão…

1) Não é preciso amar para estar apaixonado.

Paixão é intenso. Amor, é com o tempo. Não diga que ama em vão. Amor é mais que isso. Para estar apaixonado não é necessário amar. Podemos nos apaixonar por aquilo que nos destrói, mas não amar. Tendo consciência disso, não sofremos mais por qualquer porcaria de empolgação. Paixão dá e passa. Pode acontecer mil vezes. Amor é raro. Amor sustenta, amor prevalece, amor dá forças. Paixão tira forças.

2) Quanto mais namoramos, mais tendemos a pensar em namoro.

Neste momento de reflexão eu os convido a repensarem alguns pontos. Reconhecer que quanto mais namoramos, mais nos acostumamos a ter alguém por perto. Cuidado… Carência é uma coisa. Amor é outra. Mas só amamos se somos carentes também. Confunda-se.

3) Quanto mais terminamos, mais preparados ficamos.

Menos frustrados estamos. Menos sofrimentos temos e menos dispostos a nos apaixonarmos nos tornamos. Agora já nos vemos cansados deste jogo. A maturidade sentimental nos leva a reconhecer que nem tudo é como queremos e que aqueles que mais demos valor foram os mesmos que mais nos decepcionaram. A vida vai se tornando chata. Cuidado! Voltemos um pouco mais agora, para que tudo possa voltar ao normal, sem que precisemos sofrer pelos mesmos erros novamente.

4) Que critérios você usou para entregar seu coração a alguém?

Quando foi que passamos a dar muito valor a este que tanto nos decepcionou? Que coisas em troca percebemos daqueles que tanto amamos antes? Fomos cegos e intensos esperando que aquelas pessoas fossem nos completar e fossem ser a luz do nosso caminho. É. Não foram mesmo. Nunca foram. Somos todos individuais ainda que juntos. As pessoas servem para acrescentar, não para substituir a falta de você faz a si mesmo.

Segundo a psicologia, tendemos a amar aqueles que representam aquilo que nos falta. Péssima ideia, humanos. É por isso que quebramos a cara. Nos doamos cegamente para aqueles que esperamos que resolvam nossos problemas. Não resolverão. Nem tente. E o pior é nos abrirmos sem que estes nem se deem ao trabalho de, antes mostrarem suas características para que decidamos nos entregar ou não. Aprendamos que os passos são dados um de cada vez. É apenas isso. Você dá um passo e espera que o outro dê e fique ao seu lado. Se ele não der, pare. Apenas não saia correndo enquanto o outro quer ficar parado esperando você se jogar de um abismo sozinho.

Tendo a consciência disto, passamos então, a buscar aquilo que nos falta em nós mesmos, caso contrário, quando pegarmos do ser amado aquilo que nos completa, brevemente o descartaremos como “uma lição aprendida para a vida”. Ou diremos: “A química acabou, querido”. Ou então, usamos esta pessoa como um suporte, uma bengala, para apoiarmos nossos medos e indecisões, quando não formos capazes de aprender as lições que pretendíamos aprender.

5) Você está procurando sorvete no açougue?

Veja bem… Você quer o amor da sua vida. Quer uma pessoa tranquila, confiante, responsável e tudo mais… Mas você se nota gostando de uma pessoa que te diz que a vida é um mar de rosas, que não existem problemas, que tem que acreditar na energia da atração. Filha, tudo o que você terá será um líder pseudo-profético ao seu lado. Não espere que alguém assim passe a acordar cedo para lutar por algo. Afinal, as energias farão por ele. Utilizando a mesma metáfora, não procure características que você quer enxergar em pessoas que te verbalizam outra proposta de vida. É libertador conhecer gente alternativa, mas isso não se sustenta a longo prazo. Tente criar filhos no mundo de hoje com alguém que dorme até meio dia e passa o dia jogando, pois “a vida é muito mais que sofrer no trabalho”. Depois me conte como foi.

6) Entenda que quanto mais velhos ficamos, mais exigentes nos tornamos. E isso é bom.

Após viver uma série de namoricos, passamos e notar repetições de padrões e de erros. Se passamos a ir com muita pressa, notamos e freamos. Se a pessoa nos machuca duas ou três vezes, é o suficiente. Jamais voltaremos aos romances adolescentes de idas e vindas infinitas. Se a pessoa dá uma mancada como tratar mal o garçom, já temos que muitos problemas existem na personalidade dessa pessoa e repensamos se devemos prosseguir ou não. Notamos ali que o problema não é só o garçom, mas este alguém.

7) Nos permitimos a sofrer cada vez menos. Isso é amor próprio.

Na época da escola eram os amores platônicos que duravam meses ou anos. Não importava muito mais do que a beleza da pessoa amada. Na faculdade, eram os romances intensos, com idas e vindas e lamentáveis choros desesperados por aquilo que, no fundo, sabíamos que daria errado desde o começo. Passamos a questionar se a beleza põe mesa. Ditado antigo, mas que hoje se aplica a: um rostinho bonito é suficiente para meus sentimentos e necessidades? Depois, tudo passa a ser muito bem ponderado e tudo o que precisamos não são mais certezas de planos para a vida toda, mas sim, de aproveitar os bons momentos e viver o presente. Já temos a consciência de que tudo pode acabar de uma hora para a outra e, por isso, não vamos de cabeça, vamos aos poucos, doando na medida em que recebemos. Já sabemos também que somos fruto de cada pessoa que passou por nossas vidas e que todas serviram de amadurecimento, crescimento e experiências, então, passamos a ver o relacionamento como algo a acrescentar, e não, como algo para nos salvar dos nossos problemas. Aprendemos que os amigos devem ser sempre cultivados e que ninguém vive feliz apenas ao lado de uma única pessoa. Pode durar algum tempo, mas depois o vazio volta. Já somos maduros o suficiente para sabermos que ninguém deve nos completar além de nós mesmos e que o outro está ali do nosso lado para dividirmos coisas boas, bons sentimentos e alegrias. Não tornemos mais nossos futuros namorados em penicos para despejarmos nossos problemas. Não esperemos que o outro nos salve. Não é porque o outro se tornou a pessoa mais próxima, que devemos relaxar e transformar a relação num vaso sanitário para jogar as merdas de nossas vidas. Aprendemos que nossos sorrisos dependem mais de nós do que do universo e que nosso sucesso ou fracasso depende de como encaramos o mundo. Já entendemos o que é ego e o que é sentimento. Muitas vezes nos sentimos loucos para correr atrás de alguém que nos rejeitou, apenas por ego… Dane-se o ego. É bom que voltamos a sermos humanos. Nada como um pé na bunda para percebermos que não somos a última bolacha do pacote. Já aprendemos também que carência não é sentimento pelo outro. De nada adianta querer o outro por perto se não nos sentimos bem ao lado da pessoa, se não percebemos que justamente esta pessoa nos faz falta e não qualquer outra… Aprendemos que gostar muito de alguém não significa criar planos para a vida, mas que apenas gostamos da pessoa. A partir daí, vamos pensando no restante.

Mas a lição mais importante de todas e que só aprendemos com reflexão, buscando momentos sozinhos e a nos auto-avaliar, é que… nada nem ninguém é perfeito. Por isso, como bem diz minha querida Tribo de Gonzaga, “se o amor é ilusão, oh menina, eu quero me enganar”. Pois de nada adianta ficarmos calejados, bloqueados, fechados e nos tornamos meias pessoas, meios sentimentos, meias verdades, meias entregas, meias alegrias, meias tristezas, meias palavras, meia vida.

Utilizemos de nossos aprendizados para selecionarmos melhor as pessoas com quem nos relacionamos. E isso só vem através da relação verdadeira, da conversa verdadeira, de horas juntos, da vivência inteira, por completo.

Com o tempo, passamos a perceber também, que a vida passa, que podemos morrer amanhã, hoje, agora. E que a vida é muito curta para se acorrentar a medos e traumas. Passamos a aproveitar, portanto, melhor as oportunidades que a vida nos apresenta e, também, a selecionar mais rapidamente se aquilo pode ser ou não uma boa ideia. Se não for, nos abrimos logo para algo melhor e novo. Mas apenas nos deixamos iludir na medida em que queremos. Sabemos que a razão tira a emoção e que o excesso de emoção bloqueia a razão. No todo, preferimos a emoção. Mas no fundo, já que aprendemos com a razão, agora já sabemos lidar com a emoção. E por isso, podemos escolher a emoção com razão.

Texto de DOMIE LENNON- Fonte: Obvious

Imagem de capa: Monkey Business Images/shutterstock

Zygmunt Bauman, “seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista”

Zygmunt Bauman, “seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista”

Devolver dinheiro para bancos não pode ser solução para crise, pois é sua continuação, revela Bauman em entrevista a Laura Britt e Petros Panayotídis, do Monitor Mercantil, publicada na  quinta-feira  passada (dia 20).

“A metade do problema é o excessivo consumismo, o esbanjamento que predomina. E é por isso mesmo que nenhum provável partido de poder não promete aos seus eleitores que combaterá o consumismo”, continua o sociólogo polonês, vice-reitor da London School of Economics, que se define um pessimista a curto prazo em relação ao futuro da sociedade.

A Grécia e o Sul Europeu atravessam uma prolongada crise econômica e são atingidos, incessantemente, por severas medidas de frugalidade. Qual é a opinião do senhor sobre tudo isto que está acontecendo?

As medidas são ligadas com os empréstimos que foram solicitados. É importante, contudo, alguém verificar para qual objetivo são utilizados os empréstimos que foram concedidos à Grécia. Se foram utilizados para recapitalização dos bancos, então, simplesmente, alimenta-se a raiz do problema e as políticas de frugalidade continuarão irredutíveis. As crises econômicas destinam-se não com a destruição de riqueza, mas com sua redistribuição. Em cada crise existem sempre alguns que ganham mais dinheiro em detrimento de outros. Nos EUA, por exemplo, após a crise observa-se uma lenta recuperação, mas 93% do Produto Interno Bruto (PIB) adicional criado beneficiou, somente, 1% da população.

Em seus livros, o senhor muitas vezes refere-se ao consumismo da atual, pós-nova sociedade. Em que grau existe conciliação entre consumismo e medidas de frugalidade?

Após 1970, existiu uma dominante cultura de poupança e os homens não gastavam dinheiro, a menos que o tivessem ganho anteriormente. Após 1970 e com a colaboração de políticos como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e, teóricos com o Milton Friedman (Escola de Chicago), o sistema capitalista percebeu que, havia terreno virgem que poderia ser conquistado. Rosa Luxemburgo foi aquela que havia dito que, ‘o capitalismo rejuvenesce por intermédio de novas regiões virgens’. Mas, previu equivocadamente que, ‘quando o sistema conquistar todas as regiões virgens, desabará’.

Porém, aquilo que não previu era que o capitalismo adquiriria a capacidade de criar, tecnicamente, regiões virgens e apoderar-se delas. E uma destas são os homens que não têm dívidas. Assim, foram inventadas as cartas de crédito. Então, conformou-se uma cultura diferente daquela de poupança. Já agora, poderá alguém gastar o dinheiro que não ganhou ainda.

A fase de grande crescimento econômico, que durou desde os meados da década de 1970 até o início do século XXI baseou-se sobre esta pressão para endividamento. E quando alguém era devedor a reação dos bancos não era como antigamente, de enviarem o encarregado de cobrança, mas, ao contrário, enviavam uma carta muito gentil, com a qual, ofereciam um novo empréstimo, para resgatar o anterior!

Isto prosseguiu durante três décadas até que Bill Clinton (então presidente dos EUA) introduziu os empréstimos hipotecados de alto risco, significando que até os homens que não poderiam cobrir seus gastos poderiam contrair empréstimos habitacionais. Finalmente, esta situação atingiu o inviável e, assim, foi criada a crise financeira. Apesar de tudo isso, a economia capitalista parece resistir. Temos o exemplo do movimento Ocupem Wall Street, o qual atraiu a atenção da mídia internacional. Mas o único lugar em que não foi sentida era a própria Wall Street, a qual continua funcionando com a exatamente mesma forma!

E este é problema. Predomina a ideia no cérebro, também, da senhora Angela Merkel (chanceler alemã) e dos outros políticos, que a única forma é apoiar os bancos para terem condição de concederem mais empréstimos. Mas esta é uma política de andar às cegas, considerando que a região virgem do capitalismo já está esgotada. Quem pudesse endividar-se, já endividou-se! Até, inclusive, os netos de vocês já estão endividados, não resta dúvida nenhuma. Eles – seus netos – continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista. E enquanto, no início a região virgem dos homens que endividavam-se resultava gigantescos lucros, gradualmente, esses lucros foram reduzidos e agora são mínimos, de acordo com a lei do desgaste de desempenho. Aquilo que acontece na Grécia agora é que o país investe em fantasmas.

Qual é a saída?

Me pedem para responder a uma pergunta, a qual, homens muito inteligentes, como Stiglitz (Joseph, Prêmio Nobel de Economia), têm dificuldade para responderem. É muito difícil serem encontradas soluções radicais. E aquilo que me preocupa, é que, entre as instituições políticas de que dispomos, não existe sequer uma em condição de proporcionar soluções de longo prazo. Todos os governos são submissos às – de acordo com o Dr. R.D.Laing – duplas instituições que, no caso dos governos, para utilizar uma analogia, são constituídas das pressões que recebem. Por um lado para serem reeleitos, devem ouvir as reivindicações do povo – querendo ou sem querer – e prometerem que irão atendê-lo. Por outro, todos os governos – de direita e de esquerda – são incapazes de cumprirem seus compromissos pré-eleitorais, por causa das bolsas de valores e dos bancos.

Por exemplo, quando a senhora Merkel e o senhor Sarkozy (Nicolas, então presidente da França) encontraram-se numa sexta-feira para trocarem idéias sobre o memorando da Grécia, tomaram e também divulgaram algumas decisões que os fizeram tremer durante o fim de semana inteiro até abrirem as bolsas de valores na segunda-feira. Não sei se a opinião do Dr. Laing está certa ou errada com a relação a família, mas julgo que tenho razão quando sustento que vigora no caso dos governos.

O mundo vota por decepção. Temos cada vez mais frequentes alternativas entre direita e esquerda. No âmbito da mesmo crise, o esquerdista Zapatero (José Luis Rordiguez, ex-primeiro-ministro da Espanha) foi derrotado pelo direitista Mariano Rajoy, enquanto, na França, o direitista Sarkozy foi derrotado pelo socialista François Hollande. Isto, exatamente, é o que quero dizer com o termo duplas instituições. Por um lado, a pressão da massa de eleitores e, por outro, o capital mundial, bolsas de valores e investidores que superam (em poder) qualquer governo.

Até, inclusive, os EUA estão superendividados. Imaginem os credores do governo norte-americano (China é o maior) exigirem resgate imediato de dívida. A economia norte-americana despencará num piscar de olhos. Em condições de duplas instituições, tanto na psicologia, quanto na macroeconomia, não existe escape bem-sucedido. Deve ser mudado o sistema inteiro desde os alicerces, e isto demanda tempo.

Sim, precisa-se de solução radical. Qual é a opinião de vocês sobre os movimentos do Sul Europeu? Nós esperamos que os movimentos de base parecem sendo apoiados cada vez mais. É a primeira vez em que na Grécia observam-se semelhanças com os meados da década de 1970, após a queda da ditadura. Existe um ‘cerrar de fileiras’ dos cidadãos e julgamos que isto é um muito bom prenúncio e esperançoso. É a única esperança.

No Diário de um Ano Mau, o escritor sul-africano Coetzee reexamina os princípios básicos que ordenam nosso pensamento, os alicerces de nossa imaginação, que consideram-se fundamentais. Os aceitamos silenciosamente. Kutsi não tem certeza e diz: “Se queremos guerra, teremos guerra. Se queremos paz, podemos adquiri-la. Se decidirmos que as nações devem agir em regime de antagonismos e não de colaboração amigável, isto será feito”.

Consequentemente, qualquer mudança é viável. É questão de vontade política. Em lugar de empresas privadas, podemos ter parcerias. Conforme disse em meu discurso por ocasião de minha nomeação para o cargo de vice-reitor de LSE (London School of Economics), meu tema era análise sociológica do movimento trabalhista britânico. Como desde a sua decadência no final do século XIX consolidou-se e adquiriu poder no século XX. Não aconteceu graças aos bancos e sequer foi financiado por instituições. Mas foi apoiado pela Associação dos Consumidores Rothschild, que foi a primeira ASSOCIAÇÃO DE CONSUMIDOREScontioutra.com - Zygmunt Bauman, “seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista” no século XIX. Seus membros decidiram deixar de adquirir das lojascontioutra.com - Zygmunt Bauman, “seus netos continuarão pagando os 30 anos da orgia consumista”, para não terem que pagar os capitalistas, mas, distribuírem as arrecadações da associação aos seus membros e as comunidades locais.

Rothschild não era o único, existiam outros, também. Existiam o fundos de ajuda mútua que, com um pagamento mínimo, os membros em caso de dificuldades poderiam contrair empréstimos para não recorrem aos bancos. Estes fundos não eram especuladores. E, consequentemente, não são produtos da imaginação de Kutsi, mas é viável o fato de serem realizadas mudanças. Mas pressupõem revolução em nível de cultura e da forma de pensar. Se, finalmente, a mudança da forma de pensar já começou, é um lento processo a longo prazo que deve derrotar adversários fortíssimos. Assim, quando falamos em soluções, o problema maior não é o que encontraremos, mas, o que é necessário de ser feito. E nisto podemos conseguir conjugação de pontos de vista. A questão é quem o fará.

Talvez os cidadãos indignados?

Seguramente, não os partidos políticos de qualquer coloração. E muito menos os governos, que não controlam a economia cujas forças são mundiais. Os Estados, por definição são obrigados a agirem nos âmbitos de fronteiras físicas e institucionais. A economia não ocupa-se mais com o nível local, a legislação da nação, as preferências ou sistema de valores de seus habitantes. Assim que for constatado choque, pegam os laptop, os iPad e iPhones e transferem-se em países como o Bangldesh, onde encontram fácil acesso em mão-de-obra que custa US$ 2 por dia. Existe aquilo que o sociólogo espanhol Manuel Castels denomina ‘espaço dos fluxos’ (space of flows). Milhões de dólares são transferidos, apertando apenas uma tecla no computador. Assim, então, por um lado temos o poder que é liberado do controle político e, por outro, temos a política que, incessantemente, sofre e déficit de poder, de vez que, o poder desaparece no ‘espaço dos fluxos’.

O senhor quer dizer que a política é local, enquanto, o poder é mundial…

Exatamente. O mais fraco elo não é a comunidade, a cidade ou qualquer outra forma de localização, mas, o próprio estado, que é preso na armadilha entre dois fogos, da nação por um lado e, dos mercados por outro. E as iniciativas que vocês mencionaram nascem no nível subnacional. As instituições do nível nacional (partidos políticos, governo, parlamento e outros) não podem enfrentar esta dupla pressão. Já os cidadãos, em seu esforço para protegerem-se das consequências destas forças anônimas dos mercados, reagem de forma tradicional, isto é, organizam-se com seus conhecidos, vizinhos e todos aqueles com os quais percebem juntos que a melhoria de seu espaço físico terá repercussão positiva em todos e não é jogo de antagonismo com vencedores e vencidos.

Fala-se muito nestes dias sobre redes sociais…Sabem, enfrento este termo com descrença. As redes sociais estão relacionadas com a comunicação e a comunicação engloba, simultaneamente, a dinâmica da ligação e a dinâmica do desligamento. Prefiro falar sobre comunidade, porque este termo contém o sentido do compromisso, algo que não vigora no caso das redes sociais. Hoje, qualquer um pode ter centenas de amigos em uma rede online e, simplesmente, em algum momento, encerrar a comunicação com alguns, sem ser preciso explicar a razão ou pedir desculpa.

Como poderá ocorrer a mudança? Como é possível o sistema do mercado permanecer tão estável em um ambiente de liquidez generalizada, para utilizar os próprios termos do senhor?

Como lhes disse, não vejo alguma autoridade capaz de impor algo diferente e, creio que, para existir passarão décadas, não é algo que surgirá até as próximas eleições. A única solução radical que vejo é a consolidação de uma forma de vida, que tornará o sistema existente fora de uso. Quer dizer, encerrar-se o ceticismo de alguém contrair empréstimo para adquirir automóvel ou em nível de estados, de recorrerem ao endividamento para reduzirem os tributos para os muito ricos e adotar-se uma forma de vida que proporcionará – em algum grau – segurança para todos. Assim, em ambiente semelhante, os especuladores não poderão fazer muito.

Quer dizer uma forma anticonsumista de vida?

Exatamente. A metade do problema é o excessivo consumismo, o esbanjamento que predomina. E é por isso mesmo que nenhum provável partido de poder não promete aos seus eleitores que combaterá o consumismo. Não falamos, naturalmente, para frugalidade, mas para mudança da forma de pensar e de forma de vida, com ênfase na satisfação das necessidades e não a satisfação dos consumidores. O mundo, então, não esbanja dinheiro para adquirir diversos gadgets como, por exemplo, você adquirir um novo telefone celular, enquanto o antigo continua funcionando perfeitamente.

Qual o senhor considera que será o papel dos intelectuais neste esforço?

O intelectualismo já tornou-se, também, um produto que vende-se e compra-se e isto vale para todos, tanto conservadores, quanto progressistas. Antigamente, vamos dizer na década de 1930, existiam intelectuais com algum sonho, comunista ou até fascista. Hoje, os intelectuais com algum sonho são muito poucos.

Esta falta relaciona-se com a forma de ser e a comercialização do conhecimento?

Os processos da comercialização, da desregulação, do individualismo caracterizam todos os lados da atual sociedade. Assim, não existem mais ‘centros de peso’, pontos de encontro e ‘fábricas de solidariedade’. O mundo não tem percebido que vivemos a revolução industrial. Consequentemente, se agora vivemos uma pós-líquida revolução, somente seus filhos deverão conscientizar-se. Tudo é disperso, líquido.

Isto é excepcionalmente interessante!

O filósofo greco-francês Cornélios Castoriádis, quando – por motivo de suas posições radicais – foi perguntado se sua meta era mudar o mundo, respondeu: ‘Nem pensar. Nunca passou pela minha cabeça mudar o mundo. Aquilo que desejo é mudar a humanidade por si só, a exemplo de como já se fez tantas e tantas vezes no passado’. Esta é a ótica de homem otimista.

O senhor concorda com esta avaliação, em análise final?

Não terei tempo de vê-la, porque será a longo prazo. Contudo, espero que o século XXI será dedicado à religação de poder e política, dentro de uma ação de silogismo e metas comuns. A diferença entre posição otimista e pessimista é, pela minha opinião logicamente equivocada, considerando que esgota todas as possibilidades. Quem é o otimista? Aquele que acredita que o mundo como está aqui e agora, é o melhor possível. Quem é o pessimista? Aquele que pensa de que talvez o otimista tem razão. Existe, também, Castoriádis entre as duas posições, que diz que um outro mundo é viável e espera que, em algum momento, isto será realizado. Quanto a mim, sou pessimista em curto prazo e otimista em longo prazo. Não vejo mudanças radicais muito em breve, mas estou seguro de que estão no programa.

Fonte: Instituto Humanitas

Imagem de capa: Reprodução

As 4 leis do desapego para a liberação emocional

As 4 leis do desapego para a liberação emocional

É possível que a palavra desapego lhe cause uma sensação de frieza e egoísmo. Nada está mais longe da realidade. A palavra desapego, compreendida dentro do contexto do crescimento pessoal, é um valor interno precioso que todos nós devemos aprender a desenvolver.

Praticar o desapego não significa abrir mão de tudo o que é importante para nós, rompendo vínculos afetivos ou relacionamentos pessoais com aqueles que fazem parte do nosso cotidiano.

“Desapego significa saber amar, apreciar e se envolver nos relacionamentos com uma visão mais equilibrada e saudável, libertando-se dos excessos que o prendem”.

Liberação emocional é viver mais honestamente, de acordo com as suas necessidades. Crescer, progredir com conhecimento de causa, sem prejudicar ninguém e não deixando ninguém o limitar.

Conheça abaixo as 4 leis do desapego para a liberação emocional. Vamos praticar?

1- Você é responsável por si mesmo

Ninguém pode viver por você. Ninguém pode respirar por você, se oferecer como voluntário para carregar suas tristezas ou sentir suas dores. Você é o arquiteto da sua própria vida e de cada passo que dá em seu caminhar.

Portanto, a primeira lei que deve ter em mente para praticar o desapego é tomar consciência de que você é totalmente responsável por si mesmo.

Não responsabilize os outros pela sua felicidade. Não imagine que para ser feliz é necessário encontrar o parceiro ideal ou ter o reconhecimento de toda sua família.

Se a opinião dos outros é a sua medida de satisfação e felicidade, você não vai conseguir nada além de sofrimento. Raramente os outros suprirão as nossas necessidades.

Cultive sua própria felicidade, seja responsável, maduro, conscientize-se das suas escolhas e consequências e nunca deixe que seu bem-estar dependa da opinião alheia.

2- Viva no presente, aceite e assuma a sua realidade

Muitas vezes, não conseguimos aceitar que nesta vida nada é eterno, nada permanece sempre igual; tudo flui e retoma seu caminho. Muitas pessoas estão sempre focadas no que aconteceu no passado, e isso se torna um fardo pesado que carregamos no presente.

Mesmo que seja doloroso, aceite, assuma o passado e aprenda a perdoar. Isso o fará se sentir mais livre e o ajudará a se concentrar no que realmente importa: “o aqui e agora”. Liberte-se!

3- Liberte-se e permita que os outros também sejam livres

“Assuma que a liberdade é a forma mais plena, íntegra e saudável de aproveitar e compreender a vida em toda a sua imensidão”

Ser livre não nos impede de criar vínculos com os outros. Criar vínculos, amar e ser amado, fazem parte do nosso crescimento pessoal.

O desapego significa que você nunca deve assumir a responsabilidade pela vida dos outros, que eles não podem lhe impor seus princípios e nem tentar prendê-lo. É assim que surgem os problemas de relacionamento e o sofrimento.

Os apegos exagerados nunca são saudáveis. Temos como exemplo aqueles pais obcecados por proteger os filhos, que os impedem de crescer e avançar com confiança para explorar o mundo.

A necessidade de desapegar-se é fundamental nesses casos; cada um um deve sair dos seus limites de segurança para enfrentar o imprevisto e o desconhecido.

Leia também: A mãe desnecessária

4- As perdas irão acontecer mais cedo ou mais tarde

Devemos aceitar que, nesta vida, nada dura para sempre. A vida, os relacionamentos e até os bens materiais acabam desaparecendo como fumaça, escapando por uma janela aberta ou deslizando através dos nossos dedos.

As pessoas vão embora, as crianças crescem, alguns amigos somem e perdemos alguns amores… Tudo isso faz parte do desapego. Temos que aprender que isso é normal e enfrentar essa situação com tranquilidade e coragem.

O que nunca pode mudar é a sua capacidade de amar. Comece sempre por você mesmo.

Fonte indicada: A mente é maravilhosa

Imagem de capa: Myronovych/shutterstock

A empatia negativa – o prazer de se afirmar praticando o mal

A empatia negativa – o prazer de se afirmar praticando o mal

Talvez uma boa definição de maldade seja a prática de um ato em que outra pessoa é prejudicada de forma consciente. Ou seja, aquele que pratica a maldade sabe das consequências danosas do seu ato, sabe que se trata do uma ação indevida e a pratica assim mesmo. A maldade se distingue das reações agressivas a que todos nós estamos sujeitos tanto no papel ativo como passivo: quando alguém é agredido existe uma tendência natural para reagir a ela de uma forma ou de outra. A ação agressiva pode ou não ser intencional e não é raro que a reação venha a corresponder a um ato maldoso; porém, houve uma agressão que a antecedeu.

Um exemplo peculiar de reação agressiva é a inveja, não raramente maldosa: uma pessoa se compara com outra, sente-se por baixo e isso provoca uma sensação de humilhação que é vivenciada como agressão; reage a essa suposta agressão de forma sutil e desleal, tentando rebaixar ou diminuir aquele que despertou a inveja. Esse tipo de maldade pode vir a ser praticada por qualquer um de nós.

Na grande maioria dos casos de maldade, o ato é motivado pelo desejo da pessoa de obter algum benefício que não lhe é devido. Assim, uma pessoa egoísta fará o que for necessário para alcançar seus objetivos materiais, intelectuais ou sentimentais sem se preocupar com os danos que porventura venha a causar nos interlocutores. Estará agindo em defesa dos seus interesses, desprovida de sentimento de culpa e de uma forma nada empática. Não irá se incomodar com a dor provocada. Porém, não é essa sua primeira intenção; a real motivação é a de se apropriar daquele dado benefício; o dano ao outro é um desdobramento do objetivo inicial e não é fonte de satisfação e nem de dor.

Em alguns casos, o ato agressivo está claramente associado ao erotismo. Há décadas venho afirmando que o sexo, especialmente nos homens, tem importantes conexões com a agressividade, de modo que isso explica comportamentos sádicos, consentidos ou não, assim como os mais dramáticos atos eróticos relacionados com o estupro, exibicionismo, pedofilia… A associação entre sexo e agressividade pode explicar alguns comportamentos machistas, assim como algumas formas de maldade feminina – ser muito provocante para seu parceiro e, mais ou menos regularmente, rejeitar sua abordagem! A maldade nem sempre envolve violência ou apropriação indevida de objetos ou cargos. Por vezes pode se exercer de forma sutil, provocando dor psíquica, como é o caso do ato de humilhar deliberadamente outra pessoa.

Nas crianças que batem nas mais fracas ou que praticam o bullying, tenho a impressão de que o que está em jogo é a autoafirmação: a criança se avalia como mais forte ao rebaixar física ou moralmente alguma outra. Não é fácil explicar os atos violentos contra alguns animais domésticos que são objeto de maus tratos por parte de algumas poucas crianças. Alguns acham que isso indicaria a existência de algum tipo de predisposição biológica para a prática de ações agressivas e maldosas. Não estou convencido de que essa seja uma boa explicação. Sim, porque se houver uma predisposição para a maldade, aquele que a pratica não pode ser responsabilizado; estará “apenas” exercendo sua natureza (segundo o dicionário de filosofia de Comte-Sponville)! Talvez seja mais uma manifestação do tipo da autoafirmação, especialmente se estiver sendo exercida diante de outras crianças. Seria também uma exibição de coragem, de “sangue frio”, de ser mais competente para o exercício da violência.

É mais ou menos nessa linha que acredito que se possa explicar certas condutas que parecem exclusivamente maldosas, desprovidas de benefício para quem a pratica, próprias dos psicopatas. Sendo pessoas destemidas, muitos gostam de se exibir como mais ousados para executar qualquer ato violento. Isso pode parecer gratuito, mas está a serviço da vaidade, de se sentir superior aos outros membros do grupo a que pertence. A vaidade consiste no prazer (erótico) relacionado ao ato de se destacar; e num grupo de marginais, talvez o destaque ganhe essa forma, qual seja, a de ser capaz de maldades mais ostensivas e desnecessárias.

Além da vaidade de ser um membro destemido do grupo, o que costuma determinar um posto de liderança perante aqueles que sejam portadores de algum medo, o ato violento aparentemente gratuito também costuma estar a serviço de intimidar os membros do grupo, reforçando e definindo de modo claro e definitivo o papel de liderança daquele que é totalmente destemido e, claro, desprovido de qualquer tipo de culpa ou empatia. Aliás, esse gosto pela maldade pode ser chamado de “empatia negativa”: o prazer de se afirmar praticando o mal.

Texto de Flávio Gikovate

Imagem de capa: Nicoleta Ionescu/shutterstock

Te disseram, você acreditou- Diego Caroli Orcajo

Te disseram, você acreditou- Diego Caroli Orcajo

Te disseram que nunca seria belo… e você acreditou.

Te disseram que nunca teria um bom emprego… e você acreditou.

Te disseram que nunca seria amado… e você acreditou.

Te disseram que nunca seria bom o bastante… e você acreditou.

Costuraram uma máscara para ti, e puseram sobre sua face. Isso já faz muito tempo, porém mesmo que nada disso tenha se tornado verdadeiro, permanece com ela.

Não consegue ver-se por baixo desta, passando a vida toda sabotando as chances de convencer-se do contrário.

Uma angústia sempre aparece quando a felicidade se aproxima, angústia tão grande que te faz afastar-se de quem ama. Afastar-se das boas possibilidades profissionais. Afastar-se daquilo que faz de melhor.

É muito triste estar aqui, vendo que o maior obstáculo existente entre ti e seus maiores desejos seja um muro construído por outros, mas mantigo em pé por você mesmo.

Diego Caroli Orcajo. Águas de Lindóia

Nota do editor: A imagem de capa é uma uma obra de Margaret D.H. Keane, a artista plástica americana que inspirou o  filme Grandes Olhos, dirigido por Tim Burton e que descreve o caso de uma das maiores fraudes da história da arte de todos os tempos. Também evidencia o papel da mulher frente à sociedade da decada de 60 e a relação de abuso que sofria no casamento.

Quero uma vida carinhosa!

Quero uma vida carinhosa!

Quero uma vida carinhosa. Macia comigo. Quero que a vida seja mais acolhida do que menosprezo, mais preocupação do que indiferença, mais compaixão do que neutralidade.

Quero que a vida seja o que deve ser, mas que seja cuidadosa. Que minhas quedas encontrem mãos estendidas, que meus desamores sejam delicados, que as despedidas sejam doces.

Quero uma vida mãe atenta e permissiva, não autoritária. Uma vida professora, que educa movida pela paixão e não pela obrigação. Que sabe que brincar é tão importante quanto entender. Que sabe que um sorriso e um gesto positivo valem mais do que uma repreensão.

Que a vida seja uma educadora que respeita os diferentes ritmos. Que ela me ensine pela curiosidade e não pelo medo. Pois minha raça é frágil, lenta e distraída.

Que a vida aceite com ternura o meu déficit de atenção perante as coisas do mundo, que perdoe a minha distração frente aqueles ensinamentos chatos e importantes. Que ela aceite essa minha estranha vocação para ser livre.

Quero uma vida que me ensina pelo exemplo, pela inspiração, que me faz querer estar ainda mais viva, que me sirva de espelho.

Quero uma vida que olha nos meus olhos firme e desarmada. Eu prometo tentar entende-la sempre, mesmo quando ela vier trazendo más notícias. Prometo ser forte e leve e não me desapontar com ela.
Mas, por favor, que ela venha com tato e cautela me contar seus pungentes segredos.

Quero que a vida saiba que eu sou força e coragem e por isso não dissimule comigo. Quero que ela saiba que eu também sou solidão e fragilidade, e por isso me conduza com zelo e dedicação.

Que a vida siga seu percurso como deve ser, sem defesas, mas também sem ataques.

Eu trato a vida como quem cuida de cachorrinho novo, cheia de alegria no olhar por deixa-la livre para seguir e protegida para ficar.
Que a vida me trate da mesma forma.

Imagem de capa: Tatyana Kuznetsova/shutterstock

“Sobre estar sozinho”, de Flávio Gikovate

“Sobre estar sozinho”, de Flávio Gikovate

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficarem sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O ser humano é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmeae, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.

Texto de Flávio Gikovate

Imagem de capa: Jeremie86HUN/shutterstock

Acredite, você não é trouxa por querer um amor tranquilo

Acredite, você não é trouxa por querer um amor tranquilo

Não, você não está pedindo nada demais. Querer um amor tranquilo não é estampar um adesivo de trouxa na cara. É só o seu coração que merece, há muito tempo, ter um pouco de sossego.

Chega um determinado tempo na vida em que amores intensos e desmedidos não cabem mais. Que cansa entrar nessa disputa de quem se doa e expressa mais vontade de estar ao lado do outro. Precisa mesmo tanto? Será que não é possível encontrar alguém capaz de simplesmente aproveitar a companhia, os cuidados e os carinhos propostos?

Não dá para entender essa corrente atual de desapegos, onde demonstrar honestidade em ficar virou alvo de piadas e desinteresse. Se você quer alguém, apenas diga. Se não for recíproco, tudo bem. Acontece. Ao menos você não será ausente pela tentativa. Pode doer receber uma negativa? Pode. No entanto, é certo que a sua paz não ficará presa pela dúvida.

O amor é incerto. É um salto no escuro exibir coragem sem a certeza de que ele será somado com outra metade. Ainda assim, quantos casos de amor foram certeiros na primeira tentativa? Arrisque-se, mas não ache que mereça pouco. Não precisa ser uma completa loucura. Não precisa vir embutido das mais fantasiosas proporções. Mas, convenhamos, o amor precisa sim de tranquilidade.

É ter alguém para te acompanhar, para te fazer sorrir, para te mostrar que tudo é muito e que, juntos, vocês sempre podem descobrir um algo mais um do outro.

Desculpe, mas são infelizes os que acham o amor uma dança das cadeiras, daquelas permitidas apenas para os espertos e ligeiros. Verdadeiros trouxas esses que enxergam os relacionamentos como algum tipo de entrega sem sentimentos.

Acredite, você não é trouxa por querer um amor tranquilo. Você é, dentre tantos descontentes, alguém com leveza e maturidade para compartilhar. E o amor é sintonia para quem sabe abordar sinceridade. Acorde.

Imagem de capa: Candy (2006) – Dir. Neil Armfield

A idade dos seus anos

A idade dos seus anos

A vida começa a morrer quando deixamos de desejar, de fazer planos, de marcar uma data importante, num futuro próximo, que venha acompanhada da realização de uma meta.

A vida começa a morrer quando deixamos de ter metas próximas e distantes.

Essa história de que “não desejo mais nada”, “tenho mais do que pedi a Deus”, ou ainda “ tenho mais de que mereço”, pode ser muito altruísta, mas é uma verdadeira armadilha no processo normal de uma vida significativa.

May Sarton, poetisa e novelista americana, viu a mesma coisa em outras palavras:

“Creio que a verdadeira velhice começa quando se olha para trás, em vez de para frente.”

Também creio.

Quando vivemos em torno das conquistas que obtemos, erigindo altares ao passado, nos esquecemos que desejar é viver, e que, enquanto estamos vivos, merecemos a emoção de novas aventuras.

Em consequência desse “olhar para trás”, em qualquer idade, adquirimos uma velhice prematura.

O envelhecimento pode trazer uma seleção natural de desejos.

É normal que não se deseje tanto, posto que muitas metas foram batidas no decorrer da existência, mas ainda assim é preciso querer mais.

Ou, pelo menos, manter um expectativa de rotina que possa ser quebrada com alguns extras adicionais, como uma viagem, por exemplo.

Não qualquer viagem, mas uma que venha acompanhada de novas emoções e novos conhecimentos.

Um reforço na aquisição de novidades de vida devem ser providenciados, mesmo que isso nos custe o preço de renunciar ao conforto do mundo conhecido.

É preciso que, de tempos em tempos, sejamos surpreendidos por uma nova paisagem, que nos transporte para o centro de uma nova terra, a ponto do novo se inserir por dentro de nós, nos fazendo descobrir habilidades e inclinações que nunca antes existiram.

Eu não creio que seja difícil manter a meta do desbravador, uma vez ao ano.

Mais difícil é conviver com os dias comuns, quando nada desejamos, e a rotina se instala, e cria mecanismos que nos aprisionam ao universo de hábitos, cuja eficiência não ousamos contestar.

Tudo o que fazemos repetidamente, fazemos bem. Desde o café aos exercícios da academia.

E por isso que, de tempos em tempos, o instrutor muda as regras e estabelece novos desafios.

Com a vida não é diferente.

Se quisermos crescer, extrapolar limites, precisamos quebrar paradigmas, e despender esforços adicionais que nos tirem da zona de conforto.

Uma ferramenta muito útil para isso são as listas de tarefas.

Quando fazemos uma lista de tarefas, estamos obrigatoriamente reconhecendo que alguém deverá cumpri-las.

E quando esse “alguém” atende pelo nosso nome e sobrenome, fica evidente que somos, ao mesmo tempo, o empregado e o patrão da nossa empresa.

A vida é uma empresa.

Se ela funciona bem ou mal depende do indivíduo que está no controle acionário.

Depende das metas que estabelecemos para ela.

Depende do quanto investimos em seu funcionamento.

Depende do quanto acreditamos nela.

O indivíduo que não acredita na sua empresa deve esperar a decadência e a morte do seu negócio, tanto quanto aquele que não acredita na necessidade de renovar a vida.

Para que a vida tenha vida, monitore o seu tempo.

Cobre-se.

Liste as atividades comuns, e adicione atividades novas que envolvam interação social.

O simples fato de escrever a tarefa será a mola propulsora do fazer.

Noventa por cento das pessoas que fazem lista de tarefas diárias as cumprem, senão todas naquele dia, pelo menos nos três dias subsequentes.

Olha o poder que uma lista de tarefas tem!

Sabe aquela tarefa que você vem adiando há tempos?

Basta lista-la logo de manhã, no meio das coisas banais que não lhe cobram tanto esforço, para ela ser, finalmente, iniciada, e concluída.

Olhar para a frente, inclui atividades novas que nos livrem do automatismo, que nos libertem de uma vida extremamente metódica, para o nosso próprio benefício.

Preparar-se para viver, é também viver.

Não vivemos uma viagem apenas quando estamos viajando, mas muito antes, quando começamos a ler sobre o lugar que iremos visitar, e nos antecipamos às escolhas que faremos.

As listas parecem um método e são. Elas são o melhor método para buscarmos novas experiências que darão sabor à existência, em qualquer idade dos nossos anos.

Imagem de capa: Goami/shutterstock

Sobre lugares e relacionamentos: se está sufocando está na hora de sair

Sobre lugares e relacionamentos: se está sufocando está na hora de sair

Vivemos tempos de teorias contraditórias: se ele te ignora, ele gosta de você. Se ela não atende sua ligação, está fazendo charme para valorizar o relacionamento. Se ambos não se falam é uma forma de aumentarem a saudade e preservarem o relacionamento. Resumindo: ao amor deixou de ser um sentimento para se tornar um jogo de egos inflados.

Sempre acreditei que o amor deveria ser um privilégio de pessoas maduras e sensatas. Pessoas constantes, que sabem o que querem e que não abandonam a relação na primeira crise, já que entendem que, amar significa entrega, exposição das fragilidades humanas misturadas a um turbilhão de sentimentos intensos. Porém, não sempre assim que acontece.

Por algum motivo desconhecido, as pessoas estão mais carentes a cada dia e o rótulo de “relacionamento sério” está valendo mais que um diploma de faculdade. A lei é essa; ama-se qualquer um, de qualquer jeito e em qualquer lugar.

As pessoas não entendem (ou não querem entender) a diferença entre “amor genuíno” e “amor inventado”. Talvez porque, se descobrirem, serão obrigadas a tomar um posicionamento diante dos fatos e isso exige coragem.

Amor genuíno acontece quando estamos leves, sem bagagens do passado, quando não projetamos no outro a responsabilidade da própria felicidade.

É quando entendemos que o verdadeiro amor não faz charminho, não fere, não vai embora. Quando chega, faz morada. Cria raiz. Já o amor inventado é pura aparência. É como uma réplica de um aparelho celular: a aparência engana, mas o sistema operacional nunca será o mesmo.

Amor não sufoca, não prende, não aperta. Quem faz isso somos nós, como nosso comportamento infantil de ciúmes sem motivos e de brigas desnecessárias. A verdade é uma só: quando temos que forçar para acontecer, não é amor.

Relacionamentos não foram criados para machucar pessoas que se amam. Pelo contrário, foram criados para que haja trocas mútuas de experiências de vida e crescimento pessoal e afetivo.

Não dá para aceitar que o medo de ficar só, seja maior que o de sofrer em um relacionamento abusivo. Não dá para preferir o rótulo de “casada infeliz” do que o de “solteira”. Não dá para aceitar traição acreditando não merecer coisa melhor. Não dá!

Sejamos realistas: quem demonstra não se importar, realmente, não se importa. Não é charme, joguinho ou orgulho. É desinteresse! Então, abra seus olhos, feche seu coração e abra sua vida, somente, para quem merece.

Não tema a solidão, não se diminua para caber no mundo dos outros, nem quebre seus limites em troca de aceitação. Quem não te ama na totalidade, simplesmente, não te merece.

Mais importante do que querer viver um grande amor, é ser capaz de se amar primeiro.

Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock

Às vezes, teremos que atravessar o luto por alguém que ainda está vivo

Às vezes, teremos que atravessar o luto por alguém que ainda está vivo

Já sobrevivi ao luto de amigos, de entes queridos, de minha mãe – travessia mais do que dolorosa – e, agora, atravesso um luto amargo pela minha gatinha amada. Trata-se de um período muito duro, escuro e solitário, porque o que toma conta da gente é só nosso, ninguém mais consegue ver. Daí haver muita incompreensão por parte de algumas pessoas.

Como toda tempestade emocional, o luto nos leva a pensar e a repensar a nossa vida, a forma como vivemos, a dimensão do amor que sai de nós e que em nós entra. A gente compara, tenta entender, lembra, chora, revolta-se, chora, tenta voltar ao normal, mas chora. Olho à minha volta e percebo que cada um tem o seu luto próprio, que transborda com mais ou menos intensidade. Aprendo, assim, que não se deve julgar ou comparar a dor de ninguém. Dor é para ser entendida e consolada, jamais menosprezada.

Meu pai sempre me dizia que, para tudo, há um jeito, menos para a morte. E é verdade, pois, enquanto houver vida, existirão outros caminhos. Já quando a vida se foi, o único caminho será de dor, saudade e reerguimento interior. Tudo passa, dolorosamente, aos poucos, mas passa. Por outro lado, muitas vezes, teremos que atravessar o luto por alguém que se foi de nossas vidas, mas continua por aí, lindo, leve e solto.

Quando nos separamos de alguém por outras causas que não a morte, também teremos um luto a ser enfrentado pela frente. Olharemos ao redor e a pessoa não mais estará ocupando os nossos espaços, mas estará ainda habitando o mundo e longe de nós. E sofreremos do mesmo jeito, ainda mais imaginando onde o outro está, com quem, fazendo o quê, se está mais feliz que nós, se sente a nossa falta, enfim, a separação sem a morte também traz dor e saudades. Também tem seu tempo de cura e cicatrização.

A vida, como se vê, irá nos obrigar a aprender que a gente tem que continuar, muitas vezes sem o que queríamos, de uma forma totalmente diferente daquela com que tanto sonháramos, tendo de sobreviver com ausências doídas, enquanto a alma se dilacera. Apesar de ninguém substituir ninguém, sempre poderemos ir ao encontro de novos amores, novas amizades, novos bichinhos de estimação, para que nosso amor não sufoque dentro do peito e encontre outra morada onde possa repousar com verdade. É assim que o amor não morre.

Imagem de capa: SanchaiRat/shutterstock

Texto publicado originalmente em: Prof Marcel Camargo

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