Tempos idos, tempos vindos…

Tempos idos, tempos vindos…

Não quero adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.
Oscar Wilde

É de manhã e um friozinho brincalhão procura a poeira que a chuva levou e, como não a encontra, rodeia meu rosto, brinca com meus cabelos e eu acolho-o ordenando aos meus sentidos que se abram, sem reservas, ao nosso visitante.

O Sol também vai chegando mais tímido, afastando, vagarosamente, o escuro da madrugada, deixando entrever o azul que deseja manifestar sua beleza.

São 6 horas da manhã. Tranco portas, janelas e deveres… Vou, assim como o vento, buscar novos horizontes, inalar a imensidão do Céu…

Paz e felicidade, assim me defino neste momento!

Há tempos, saboreio uma sucessão de dias maravilhosos, porém, hoje, especialmente, há uma fusão de fragmentos de tempo presente com tempo passado.

Contrariando, no pensamento, o movimento do carro e as regras, desato o cinto de segurança e retrocedo para dias mais remotos, época em que eu era criança e viajava com meus pais e irmãos para a cidade de Santos.

Uma aventura longa e repleta de prazeres…

Desde o momento do acordar (de madrugada), à primeira parada para o café no Posto Castelinho; o almoço em São Paulo na casa dos nossos tios e, depois, a descida pela Serra do Mar, com seus túneis e curvas sinuosas, onde se desacelerava o carro e aceleravam os corações ao vislumbrar a primeira aparição do Mar!

O sorriso de meus pais, ainda jovens, explicando o caminho, o cheiro da maresia, o barulho das ondas arrebentando nas areias, aos poucos, reacende meu corpo e traz inúmeras emoções!
Intensa e incontrolável ansiedade para esse encontro com a areia do Mar e com as águas do mundo.

A pá, o rastelinho de madeira, o balde de plástico ¬- apetrechos necessários para ¬levantar nossos castelos – e o jogo de enterrar os pés na areia selaram minha união definitiva de amor com o Mar…

Abro as janelas do carro porque a alegria não se contém, piso no acelerador, aumento o volume do som e com o vento roçando em meu rosto, vou extasiada para esse reencontro!
Eu e o Mar… O Mar e Eu…

A cada novo encontro, o mesmo Amor.

Imagem de capa: Stas Walenga/shutterstock

Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança

Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança

Em tempos de rede, tornou-se extremamente difícil ficar sozinho. Digo mais, estar sozinho revestiu-se de um significado muito negativo, como se a solidão trouxesse à tona algo ruim que queremos esconder e/ou não lembrar. Entretanto, se ficar sozinho produz um incômodo perene em nosso ser, o problema não está na solidão, e sim, em nós.

As relações humanas são fundamentais para que possamos nos desenvolver individualmente e coletivamente, ou como diz Exupéry, é o maior luxo que podemos ter. Contudo, para que consigamos usufruir plenamente de qualquer relação, é preciso que sejamos inteiros, o que significa dizer, que precisamos nos conhecer, estar em harmonia com as nossas entranhas, ter na solidão uma parceira de dança.

Essa solidão que promove a máxima socrática do “conhece-te a ti mesmo” é também chamada de solitude, e difere da solidão patológica (a que afasta o ser do mundo) por promover o encontro com o nosso eu despido de qualquer máscara, subterfúgio ou proteção que usamos na vida social. Encarar a si mesmo em meio a tantas pessoas nem sempre é uma tarefa fácil, até por isso, a solitude torna-se fundamental no processo de introspecção, autoanálise e descobertas que fazemos.

Ter um tempo só para nós, em que possamos investigar as nossas longitudes, vasculhar os nossos pensamentos, lavar os nossos avessos, é imprescindível para que a nossa casa esteja minimamente arrumada. Nesse processo, encaramos monstros que insistimos em não confrontar, refletimos sobre o modo como estamos levando a vida e o que queremos dela, como temos nos portado nos nossos relacionamentos, conseguimos olhar de modo mais maduro e crítico para os nossos fracassos ao passo que direcionamos as coordenadas para novos sonhos, além de descobrir coisas maravilhosas acerca do nosso eu que sequer imaginávamos.

Ou seja, a solitude consegue nos levar a um grau muito maior de autoconhecimento e, consequentemente, de felicidade, já que quando se é um forasteiro de si próprio é impossível ser feliz. Da mesma forma, ela permite aumentar as cores dos nossos olhos, iluminar a nossa alma e, assim, enxergar mais belezas no mundo que nos cerca.

No entanto, encarar-se sem nenhum tipo de “proteção” é uma experiência que a maior parte de nós procura desesperadamente escapar. Isso se dá porque temos medo, como disse, de encontrar algo que nos desagrade ou nos faça sofrer. Mas, ao buscar o prazer inevitavelmente esbarramos na dor. Portanto, se quisermos descobrir o que somos, o que queremos e, desse modo, razões muito mais fortes para viver e ser feliz, não há como também não sofrer e enfrentar os nossos monstros.

Encarar a nossa “natureza selvagem” não é fácil, mas permanecer sendo um completo estranho de si também não traz nenhum benefício, já que, se ao estarmos sozinhos sentimo-nos sempre incomodados e tristes, é porque de tanto não nos “encontrarmos”, acabamos nos tornando terra seca para que as nossas próprias belezas consigam florescer. É apenas quando nos sentimos em harmonia com a nossa solidão, que conseguimos romper a solidão do outro e nos conectar, pois, como diz o poeta: “Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um”.

Nota: O título do texto faz parte da letra da música “Três Dias” (autoria de André Dahmer e Marcelo Camelo).

Imagem de capa: Anmar/shutterstock

Por um mundo com amores mais maduros

Por um mundo com amores mais maduros

Querendo ou não, o amor não se sustenta sozinho. Ele precisa de maturidade para ser leve e recíproco. Cair nessa conversa de que o amor funciona só na base do “eu te amo” é, além de desgastante, um completo desconhecimento dos próprios sentimentos.

Ninguém pode ou deve criar vínculos sem ter a sensibilidade de reconhecer-se. Os defeitos, as lacunas, as metades. Cada desamor vivido foi uma ponte de aprendizado. Na ausência deles, como viver no amor? Não se vive. Para caminhar no amor é requisito básico estar em contato consigo. É entender que na posse não existe possibilidade alguma de duas pessoas ficarem juntas.

Mas maturidade vem com o tempo. Vem com as perdas e desencontros. Só quem já passou por esses desvios do amar sabe como identificar o amor. E esse amadurecimento emocional anda ausente no mundo atual. Os relacionamentos presentes estão desconexos demais. É uma onda crescente do que é permitido e não permitido expressar, ser. Então, já inconformados, amores se vão.

Os julgamentos amorosos são os piores. Há sempre um pitaco para cada término, para cada início. O amor ganhou ares de dramaturgia, onde o mais importante é opinar em vez de viver. Trocamos o “vamos construir algo juntos” por um “eu preciso mais”. O que fere não é individualidade dos amantes, mas o egoísmo de prontidão para endurecer corações.

Por um mundo com amores mais maduros. Com amores mais dispostos e cientes das próprias escolhas. Pois, quando sentido em comum acordo, o amor é um capítulo contínuo, escrito na base dos gestos e respeitos. Dizer que ama não é lá uma fala tão essencial assim se você souber quais sentimentos nutrir e depositar na outra pessoa.

Imagem de capa: All About Anna (2005) – Dir. Jessica Nilsson

Enquanto ninguém via

Enquanto ninguém via

Quem me viu montada num monociclo, a roda girando em torno de um círculo, a cara pintada de extravagância, o corpo trajado de excêntrico, a garganta cantando absurdos, pensou que demandava atenção. Mas não. Não sou espetáculo ou atração. Não via o caminho e pensei, não pensei, dei voltas procurando a saída, não vi o desvio, desviei por natureza, instinto. Minha esperteza é cega, só sabe sentir. Minha esperteza é cética, não acredita em si. Eu vejo demais e nego, quero alguém para me desmentir. Eu não quero ter razão.

Quem me viu tecendo trechos de vida em textos, embaralhando palavras, violando discursos, pensou que eu queria ser entendida. Mas não. Não sou teoria ou abstração. Não tenho explicação, não me explico, não me justifico. Não há para quem ou para quê, não me limito, não há motivo para que se especializem em mim. Nem matéria de estudo nem filosofia. Não. Sou carne, bicho, falo, palavro, como um pássaro canta, um cachorro late, um sapo coaxa, como um leão ruge, uma pedra se cala.

Quem me viu trocando os passos, tropeçando em meios fios, rasgando os sapatos, furando os bolsos, fazendo e desfazendo as malas, pensou que eu estava entorpecida. Mas não. Eu estive doente de sobriedade. Enferma de coerência. Certezas coléricas. Confiante em placas e mapas escusos, em informações obscuras, em orientações cínicas, como todos os mapas e placas são escuros, informações obtusas e orientações clínicas. Precisei rachar a testa no espelho para ver meu reflexo vermelho nos destroços, como só os destroços vermelhos poderiam mostrar meu reflexo.

Quem me viu através do espelho, não me viu, diante do espelho, por trás de cataratas de estereótipo pensou que eu estava amarga. Mas não. Eu sou ácida, como sempre fui e nunca, porque sempre estive, nunca fui doce. Não vivo de opostos, não estou do outro lado e nem aí. Nem me contento com as fantasias assaltando vitrines de desejos nem com as minhas, eu quero fato, quero existir. Eu não sou sobrevivente. É absurdo! Eu sei. É absurdo querer mais do que isso, sobreviver, querer mais do que isso, lutar para sobreviver e nada.

Essa ambição de querer existir, de querer ser fato, de querer ser e não porque amanhã não serei mais. Arrogante, essa ambição de querer ser livre e não querer os vestidos de festa, ou a casa no campo, ou os filhos sadios, ou o almoço de domingo, ou dar satisfação. Eu sei, é presunção, querer presença bruta. Mas, tanto faz, eu ou você, que modestamente insiste em sobreviver, iremos juntos, vulgares e sublimes, de pés juntos, insolentes e humildes, retrato defunto do que fomos e do que não fomos de qualquer vida que passou.

Imagem de capa: Vitalii Vitleo/shutterstock

Lembra? da vida que se perdeu…

Lembra? da vida que se perdeu…

Às vezes paro para observar como temos vivido nos dias de hoje e o que me vem à mente são pessoas em suas matrix numa realidade em fast motion.

É tudo tão urgente, é tudo tão rápido, tão abundante e raso – as conversas, as trocas, o jeito de sentir a vida. Me parece que os olhos e o coração não conseguem dar conta de reter as sensações de situações e pessoas que atravessam as nossas vidas.

Vejo encontros que passam e não deixam nem lembranças na pele, historinhas que acontecem e depois de duas semanas já se dissolveram totalmente, foram parar no universo das coisas que se perderam e nunca serão procuradas, foram substituídas por uma versão mais atualizada.

E, no entanto, temos uma ânsia por acumular essas coisas e esses momentos que dificilmente serão reacessados. A gente não vai lembrar das viagens, a gente vai se esquecer dos papos, das transas, das amizades repentinas que fizemos, vamos esquecer o nome da capital daquele país do leste europeu e o sabor da uva do vilarejo do Uruguai – se é que não era na Argentina.

Vamos esquecer de olhar as 500 fotos que tiramos num pôr do sol do pacífico. Não há mais álbuns de memórias, nem fora e nem dentro da gente. A gente não senta mais no sofá numa tarde de domingo para folear a nossa vida e sentir um pouquinho de nostalgia. A gente não precisa sentir nostalgia, todos os amigos de infância estão no nosso facebook, as nossas melhores fotos estão no instagram, as músicas da nossa infância e adolescência estão remixadas no spotfy.

Pra que parar, se há tanto para viver, se o mundo ficou pequeno, se os encontros são fáceis? Pra que deixar o celular de lado numa tarde, se as maiores novidades do dia estão nele? E precisamos consultar a nossa própria existência.

A gente não questiona mais, as nossas filosofias vêm prontas em cápsulas nos documentários da netflix. Dizem que devemos ser veganos, comer orgânico, e a gente se adapta, começa a seguir uma nova dieta, mas a gente nunca coloca a mão na terra, não observa o crescimento natural do alecrim, a gente não tenta entender o que é preciso fazer para que uma semente vire muda.

Nos dizem que devemos ser criativos, pois foi descoberto na universidade de Harvard que pessoas criativas são mais felizes, e a gente, então se adapta, cria um espacinho na nossa agenda já tão atribulada e começa a fazer dança, pintura ou arriscar uns versos que ilustram bem a nossa falta de profundidade. Só que a gente não fecha os olhos e deixa uma energia diferente nos desconstruir, a gente não coloca as mãos nos vincos da madeira, a gente não olha nos olhos de uma tela em branco, a gente não silencia e deixa que a poesia venha.

E ainda, por nossas frustrações diárias, por nossas dores e sensações mais difíceis de entender que foram varridas pra debaixo do tapete, a gente procura se espiritualizar. Aprendemos frases feitas, entramos nos grupos dos chás, lemos os mantras do despertar de consciência.

Assim não precisaremos realmente nos acessar, criamos mais um monte de
patuás para virar escudo de nós mesmos, para colorir a nossa bolha protetora.

A gente pega assim tudo sem maturar, sem esperar que germine e crie raízes e chegue até a alma. A gente vive tudo sem adentrar, a gente tem medo de se desestabilizar, tem medo de ficar perto de gente que nos faz questionar, tem medo de amar de verdade, tem medo de mostrar coisas nossas que desconhecemos, tem medo de ficar pra trás, de não curtir o momento, de perder tempo tendo que percorrer inúmeras veredas de autoconhecimento.

Perdemos o tesão de sermos ousados e corajosos, perdemos a audácia de arriscar a pele e o coração, perdemos a vontade íntima de analisar as nossas próprias frustrações. Perdemos o tesão de tocarmos as pessoas com verdade, de ver as coisas fora do nosso umbigo, de nadar num mar sem ter que lembrar de fazer um selfie.

A gente perdeu.

Imagem de capa: kryzhov/shutterstock

Sobre deixar ir embora o que precisa ir

Sobre deixar ir embora o que precisa ir

Enquanto aguardo a lavadora terminar o ciclo básico – lavar roupas a noite nos deixa com uma sensação insuportável de vigília – penso nos ciclos que não terminam, que se multiplicam, transformam, perduram… Penso nas decisões tomadas que não duram nem o tempo de um café esfriar, nas promessas que não resistem nem às pré-lavagens das ideias,  nos “nunca mais” que deixam de existir por qualquer apelo, na eterna resistência em fechar os ciclos da vida.

Podemos nos comparar com as roupas colocadas em lavadoras? Será que elas, as roupas, se debatem tão sofridamente quanto nós para enfrentar as passagens de ciclos?

Enquanto estamos na fase do molho, a mais quentinha e confortável, os sentimentos ainda estão se acomodando e penetrando nas nossas vidas, ainda sem intenção definida, somente rodando e misturando-se ao todo. É quando nada nos faz mal e toda novidade parece bem intencionada e há de nos oferecer emoções novas e felizes, como assim achamos que será para todo o sempre. Passada a mágica, vem a lavagem, a dura tarefa de perceber as impurezas e falhas do que antes recebemos de tão bom grado. E esse é um ciclo que pode parecer interminável, muito embora seja tão rápido quanto aceitamos. As emoções resistem, encontramos argumentos e desculpas para reter as manchas, nos apegamos fortemente aos cheiros que nos levam aqueles instantes que queremos a todo custo reter e não deixar que escoem; nos agarramos a cada sujeirinha com se fosse a nossa única forma de nos reconhecer – como nas relações que fracassam e imploramos que haja uma explicação que seja, por mais absurda, que justifique toda a camada de ressentimento que ali se instalou, e, desapareça numa piscada de olhos, porque encontramos a resposta… ou criamos, ou inventamos..  E, a cada sacolejada, mais confusão e falta de rumo.

Sorte de quem tem amigos que são pérolas de amaciante aliviando o rebuliço da vida. Amigos geralmente tentam nos mostrar o que está mais do que evidente, mas são tão generosos que entendem quando ainda não estamos preparados para mexer naquela mancha gigantesca e preferimos ficar cutucando um pinguinho de ferrugem que nunca nos fez mal e provavelmente jamais fará. Amigos sabem que o importante é estar por perto quando resolvermos encerrar o ciclo, aceitarmos a ferrugem, e partirmos para a guerra contra a grande mancha!

E, finalmente, um dia a gente realiza que é momento de mudança, que do jeito que está não dá para ficar. Então ensaiamos o fechamento do ciclo, fazemos promessas e metas, e, começamos a deixar descer pelo ralo toda a água que não serve mais para nutrir qualquer coisa que viva em nós. Deixamos ir para longe a água suja, as lágrimas, os fiapos, os suores.  Às vezes a gente se arrepende e corre para tampar o ralo. Mas já é tarde e então é preciso aceitar, deixar ir, fechar o ciclo e começar tudo novamente, de alma limpa, a cada lavagem mais batida, mas pronta para uma nova jornada.  Ai de nós se não fossem os ciclos… Talvez estivéssemos ainda rodando e nos afogando nas mesmas águas.

Imagem de capa:fantom_rd/shutterstock

Generosidade Mental, por Mario Sérgio Cortella

Generosidade Mental, por Mario Sérgio Cortella

Em vários momentos, nossa sociedade caminha em direção ao egoísmo mental. Isto é, aquele que algo possui, seja intelectualmente, seja como propriedade, guarda para ele, não quer passar adiante.  O que é um sinal de tolice. Afinal de contas, uma das regras fundamentais na história da humanidade foi a cooperação. Nós estruturamos, nos últimos 400 anos, uma sociedade com uma ideologia extremamente competitiva. Não que a competitividade não deva ter o seu lugar, mas ela não pode se sobrepor à colaboração como a principal maneira de sobrevivência da humanidade.

A colaboração, a capacidade de cooperar, de atuar junto, sempre foi decisiva na trajetória da espécie humana para que nós pudéssemos sobreviver, ainda mais uma espécie como a nossa, que é fraca do ponto de vista físico. Nós não corremos tanto, não ficamos tantos dias sem comer, temos que beber água com frequência, não temos um corpo que nos proteja das interpérires. Ou nós cooperávamos na nossa trajetória evolutiva ou não teríamos conseguido chegar aonde chegamos.

Portanto, a cooperação é a maneira mais direta da nossa força de vivência e a generosidade mental é aquela que nos traz para um campo muito positivo no quem quem sabe reparte, quem não sabe procura.

Mario Sérgio Cortella no livro Pensar bem nos faz bem-vol2

Imagem de capa: altanaka/shutterstock

Como saber se alguém te ama de verdade

Como saber se alguém te ama de verdade

Existem muitas definições do o que é o amor. Há quem diga que o amor e o ódio são dois lados da mesma moeda, e não há muita diferença, pois o amor pode se transformar em ódio e o ódio pode se transformar em amor. Há quem diga que o amor é tudo que existe, e ainda existem aqueles que acreditam que o único amor que existe é o amor de mãe, assim como aqueles que infelizmente não acreditam no amor.

Mas de todas as definições, a que mais me chamou atenção e que jamais me esquecerei, foi aquela que li no livro O Monge e o executivo, que dizia: “O amor é o que o amor faz”. É incrível como essa pequena frase diz tudo por si só. No vídeo abaixo o P. Fabio explica justamente o significado de amar verdadeiramente, onde ele separa o amor da utilidade, confira:

O vídeo acima foi um achado do site Mundo interpessoal. Para ler a transcrição de tudo o que o Padre Fábio disse, clique aqui.

Imagem de capa: Kirikannikar Sukphaibun/shutterstock

Traição virtual é traição?

Traição virtual é traição?

A traição não é algo dos tempos modernos, sempre existiu em todas as sociedades. Sempre foi um tema abordado em filmes, livros, novelas e outras artes. Entretanto, o que é novo é a forma de traição: virtual.

Cada vez mais, tanto no consultório convencional quanto no virtual, recebo essa demanda: “Estou traindo virtualmente ou fui traída(o) virtualmente. O que fazer? É considerado traição?”

E na grande maioria das vezes, as pessoas têm dúvidas se um relacionamento extraconjugal virtual é considerado uma traição de fato ou apenas um passatempo “inocente”.

Para algumas pessoas, a resposta parece ser óbvia, entretanto percebo que para a grande maioria, a dúvida impera a ponto de engessar qualquer atitude ou decisão sobre o assunto e não é para menos.

Observo que tal dúvida seja por essas três principais circunstâncias: 1. A traição virtual é relativamente nova, comparada ás traições “convencionais”, existe há menos de 20 anos e, dessa forma, não há um exemplo de como “resolver” a situação; 2.  crença de que enquanto não houver o contato físico, não há traição consumada; e 3. A visão de que o mundo virtual existe totalmente a parte do mundo real.

 
O conceito de traição:

Em uma breve pesquisa pelo significado da palavra “Traição”, encontramos: Ação de trair alguém; perda completa da lealdade que resulta de uma ação traiçoeira.

E essa ação pode acontecer no ambiente de trabalho, social ou em relacionamentos amorosos. Entretanto, nesse texto, falemos de traição na relação afetiva.

Os principais antônimos de traição são: fidelidade e lealdade. 

Principais motivos que levam as pessoas a traírem:

1-Insatisfação com o parceiro e com a relação afetiva e sexual;
2-Busca pela sensação de perigo;
3-Monotonia da relação amorosa;
4-Procura por sensações novas;
5-Controle excessivo do parceiro (a);
6-Falta de habilidades em lidar com as dificuldades da relação;
7-Novas experiências afetivas e sexuais;
8-Ausência de objetivos comuns;
9-Falta de diálogo entre o casal.
 
Consequências da traição:

Estas são diversas, mas se dão de acordo com algumas variáveis, por exemplo: as mulheres tendem a perdoar mais facilmente por questões culturais, dependência afetiva e econômica e para preservar a família. No caso dos homens, na grande maioria das vezes, tendem a não admitirem que foram traídos, pois a sociedade aceita melhor a traição masculina que a feminina.

Entretanto, o fator relevante para as consequências é se a traição tornou-se pública ou se foi confidenciada apenas ao traído (a), nesse caso é mais fácil de se perdoar, enquanto que a pessoa traída publicamente, sente a necessidade de tomar uma atitude perante a sociedade.

 
E a traição virtual?

Diferente da traição que ocorre há milênios, onde qualquer pessoa pode dar sua opinião a respeito do assunto, a traição virtual, por ser um comportamento relativamente novo, há grandes divergências de pensamentos.

Homens e mulheres traem por diversos motivos, entretanto isso não significa necessariamente que não haja amor, mas, certamente, deixa exposto que há um problema na relação e que deve ser revisto pelo casal.

A internet acaba por ser um terreno fértil para a traição, pois permite o anonimato (pode-se criar um personagem), existe uma proteção da pessoa que trai ( deleta-se e-mails e até a outra pessoa facilmente) e, por ser virtual, a imaginação e a fantasia constroem uma relação com  a pessoa do outro lado da tela, totalmente idealizada e que jamais será alcançada num relacionamento real.

Creio que a traição virtual é um tema que deve ser conversado entre o casal. Faz-se importante saber o que os conjugues pensam a respeito do assunto.

Duas perguntas simples, mas que podem abrir para uma grande reflexão: Havendo um relacionamento virtual afetivo com outra pessoa é infidelidade? É considerado traição apenas o contato físico?

Obviamente que a traição não é uma ação adequada e muito menos a melhor forma de resolver os conflitos dos relacionamentos, entretanto não dá para fechar os olhos diante desse comportamento. Em tempos onde a internet proporciona diversos serviços e facilita relacionamentos entre as pessoas, faz-se importante pensar nesse tema.

Proponho que conversem com seus amigos, familiares, parceiros ou cônjuges, tenho certeza de que se surpreenderão com as opiniões diversas sobre esse assunto.

Imagem de capa: WilmaVdZ/shutterstock

Como preparar uma criança para a morte de alguém querido?

Como preparar uma criança para a morte de alguém querido?

Como pais, temos o dever de ensinar nossos filhos que nem tudo na vida são coisas boas e agradáveis. É preciso mostrar-lhes que também existe sofrimento, dor e morte. Para isso, é importante conhecer os processos naturais de uma criança diante da morte e as perguntas que ela se faz em cada etapa da sua infância.

As primeiras perguntas sobre a morte começam por volta dos 4 ou 5 anos de idade e ressurgem mais tarde com intensidade na pré-adolescência.

Entre 4 e 5 anos

A criança começa a se perguntar sobre a morte, mas a concebe como algo reversível, como se o morto tivesse ido viajar e pudesse voltar a qualquer momento. A morte é relacionada à doença e à dor. Junto ao medo diante da própria morte, surge a angústia pela morte/ausência dos pais, quando são eles os falecidos.

Entre 5 e 8 anos

A criança começa a compreender que a morte é um estado permanente, que algumas coisas que desapareceram simplesmente não voltarão; e se interessa por saber o que acontece com quem morre. É nesta etapa que começa a personificar a morte como monstros ou catástrofes naturais.

A partir dos 8-9 anos

A criança entende o ciclo da vida e descobre a obrigatoriedade da morte, bem como o fato de que é um processo irreversível, pelo qual ela também passará. Podem surgir aqui as perguntas sobre o sentido da vida e, se houver uma morte próxima, o temor pelo destino dos que sobreviveram.

As crianças devem participam do velório, funeral, enterro?

Os psicólogos afirmam que é a criança quem deve decidir isso. Se quiser ir, é preciso permitir. Mas jamais obrigá-la a ir.

Após a morte de alguém próximo, é preciso acompanhar e observar a criança e seus hábitos: alimentação, sono, escola, desejo de ficar sozinha etc. Se houver mudanças significativas nestas áreas, é aconselhável consultar um especialista.

Facilite o luto

Conhecer a forma como a criança concebe a morte em cada etapa da infância e usar sempre uma linguagem simples são maneiras de ajudá-la nestas circunstâncias. É preciso evitar explicações complicadas ou que estimulem fantasias equivocadas sobre a morte (de um familiar, de um animal de estimação etc.).

Alguns conselhos

– Não evite falar da morte
– Incentive a criança a expressar seus sentimentos
– Não diga mentiras nem invente histórias sobre a morte
– Responda às perguntas da criança com honestidade
– Não fale além do nível de compreensão da criança

Fonte indicada La Familia. Encontrado em Aleteia.

Imagem de capa: kikovic/shutterstock

A Raposa e o Príncipe, por Antoine de Saint-Exupéry

A Raposa e o Príncipe, por Antoine de Saint-Exupéry

E foi então que apareceu a raposa:

__Bom dia,disse a raposa.
__Bom dia,respondeu polidamente o principezinho, que se voltou,mas não viu nada. Eu estou aqui,disse a voz,debaixo da macieira…
__Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
__Sou uma raposa, disse a raposa.
__Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
__Eu não posso brincar contigo,disse a raposa. Não me cativaram ainda.
__Ah!desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão,acrescentou:
__Que quer dizer “cativar”?
__Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
__Procuro os homens,disse o principezinho. Que quer dizer “cativar”?
__Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem.Tu procuras galinhas?
__Não, disse o principezinho.Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
__É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”.
__Criar laços?
__Exatamente, disse a raposa.Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

__Começo a compreender, disse o principezinho…Existe uma flor…eu creio que ela me cativou…
__É possível,disse a raposa.Vê-se tanta coisa na Terra…
__Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
__Num outro planeta?
__Sim.
__Há caçadores nesse planeta?
__Não.
__Que bom.E galinhas?
__Também não.
__Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua ideia:
__Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso me aborreço um pouco.Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.O teu me chamará para fora da toca,como se fosse música.
E depois,olha! Vês lá longe,os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil.Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo,que é dourado, fará lembrar-me de ti.E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
__Por favor…cativa-me!disse ela.
__Bem quisera,disse o principezinho,mas eu não tenho muito tempo.Tenho amigos a descobrir e muitas coisas
a conhecer.
__A gente só conhece bem as coisas que cativou,disse a raposa.Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa
alguma.Compram tudo prontinho nas lojas.Mas como não existem lojas de amigos,os homens não têm mais
amigos.Se tu queres um amigo,cativa-me!
__Que é preciso fazer?perguntou o principezinho.
__É preciso ser paciente,respondeu a raposa.Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim,assim,na relva.Eu te olharei para o canto do olho e tu não dirás nada.A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.Mas,cada dia,te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
__Teria sido melhor voltares à mesma hora,disse a raposa.Se tu vens,por exemplo,às quatro da tarde,desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando,mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então,estarei inquieta e agitada:descobrirei o preço da felicidade!

Antoine de Saint-Exupéry no clássico “O Pequeno Príncipe”

A vida de um ansioso

A vida de um ansioso

Nervosismo, expectativas, preocupações. Quem sofre de ansiedade não leva uma vida fácil. Os dias e as horas demoram a passar e, às vezes, seguem um ritmo diferente das outras pessoas. Apesar de ele mesmo não ser, seja paciente com o ansioso!

Não julgue um ansioso. Ele não faz por mal. E garanto: ele gostaria de viver a vida de acordo com o relógio que as outras pessoas vivem.

É normal ficar ansioso por uma viagem, por um show ou até por uma festa. O ansioso, porém, é aquele que mesmo quando nada está acontecendo, tudo pode estar desmoronando. E, sim, ele precisa daquela resposta agora para poder salvar o mundo.

Não deixe um ansioso esperando. Não diga a ele que você tem algo para contar, mas não pode ser agora. Não o deixe quase entra em pânico ao observar aquele “escrevendo…” no Whatsapp e nada da resposta aparecer. Não peça para esperar sete dias úteis. Não se atrase. Ele com certeza começou a se arrumar uma hora antes do que precisava, justamente para não deixar ninguém esperando. O problema é que ele vai ficar pronto antes e vai ficar esperando. Não importa se forem 40 ou 10 minutos, será uma eternidade.

O ansioso já planeja a vida no primeiro dia do ano. Tem um feriadão em maio. Bom para viajar. Vou precisar começar a organizar tudo logo. Sim, ele acha que todos são iguais a ele e, portanto, não será fácil de achar vaga em hotel, nem assento disponível na janela do avião. É preciso correr! Ok, tudo pronto. Já sei até que roupa vou colocar. Só viajar. Mas espera… Vou ter que esperar todos esses meses ainda? Um verdadeiro horror!

O dia não tem apenas 24 horas quando um ansioso está esperando alguma coisa. E, às vezes, ele fica ansioso até sem ter algum evento programado, é só pelo esporte mesmo. Para o ansioso, a ansiedade é tipo um monstrinho que vai comendo seus órgãos internos um a um. Então, não julgue o ansioso. Ele só faz tudo isso, pois está ansioso para viver estes momentos com você!

contioutra.com - A vida de um ansioso

*Mariana Staudt é jornalista, ariana, apaixonada por sol, verão e praia, por viajar, por fotografar e por escrever. Sou a pessoa mais curiosa que eu conheço e tenho os pensamentos a mil quilômetros por hora.

Fonte indicada:Obvious Magazine

Claudio Naranjo: uma aula sobre a vida

Claudio Naranjo: uma aula sobre a vida

O psiquiatra chileno indicado ao Prêmio Nobel da Paz Claudio Naranjo fala sobre como a vida contemporânea influencia o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. “O mundo está vivendo sem propósito em parte porque já não se crê em nada”, lamenta.

Esse material foi publicado originalmente pelo site NAMU, espaço que recomendamos sem reservas.

 Reprodução autorizada.

Sobre a alegria grandiosa de viver com alguém, por alguém, para alguém.

Sobre a alegria grandiosa de viver com alguém, por alguém, para alguém.

Viver só, caminhar sozinho por aí, ser livre para levar em frente a própria vida é bom. Eu não reclamo, não. Mas eu confesso: troco todas as benesses de viajante solitário pelos encargos e compromissos, as incumbências e obrigações de viver ao lado de alguém.

Dei de achar que do primeiro instante em que chegamos ao mundo ao segundo exato em que o deixaremos, poucos sentimentos serão tão caros, profundos e bonitos quanto o espanto de sentir amor e se saber amado por alguém.

Tenho pensado no privilégio de seguir a vida caminhando ao lado de outra vida como uma dessas coisas que acontecem a todo mundo, mas que nem todo mundo aproveita. É uma pena. Mas essas ruas vão cheias de gente incapaz de compreender a alegria imensa de viver com alguém, por alguém, para alguém.

Incapaz de entender que amar é ajudar o ser amado a ser quem ele é, e não ter posse sobre ele nem a ele entregar a própria vida, tanta gente por aí estraga e joga fora a graça de viver na companhia de quem faz valer a pena todo esforço que existe.

Eu, não. Eu ainda sonho com o amor sob a forma de uma ave rara, voando livre, circulando o céu sobre minha cabeça até pousar em minha casa do nada, disposta a mudar o rumo de tudo. Ainda sonho em respirar fundo e alçar meu voo em sua companhia, duas almas livres tratando de si mesmas e cuidando uma da outra, buscando o que fazer de bom a quem quiser e souber receber.

Viver com ela, para ela e por ela será então o exercício diário de um amor generoso e simples, gentil e trabalhador. A vida seguindo adiante em nosso dia depois do outro, nossas questões resolvidas em parceria, nossos almoços de avó, nossas conversas na cama entre um cochilo e outro. Nossa alegria se fazendo certa enquanto fazemos amor. E a beleza renascendo entre nós a cada dia, crescendo forte como os nossos filhos, sob os nossos olhos, entre os nossos braços. A beleza bem aqui e logo ali… na frente. E a beleza, a beleza…

Imagem de capa: Nadia Sobchuk/.shutterstock

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