Arrogância, uma definição de Mario Sérgio Cortella

Arrogância,  uma definição de Mario Sérgio Cortella

Arrogância é o orgulho desviado. Algumas vezes se confunde arrogância com orgulho. Uma pessoa orgulhosa, se ela é inteligentemente orgulhosa, não é arrogante. Orgulho é a satisfação de fazer algo, orgulho de alguém, de uma obra, do resultado obtido, da família que se constrói, da casa que se tem, de um sucesso. Isso é diferente de arrogância. Porque arrogância é a postura de alguém que entende que aquilo que fez ou aquilo que tem é superior a qualquer outra coisa. Sentir orgulho de ter conseguido algo é absolutamente diverso de sentir-se arrogante, isto é, arrogar-se, colocar-se numa posição superior.

Quase sempre esse orgulho desviado, essa ideia de um orgulho que ficou maximizada, torna-se um vício, que é a arrogância. Há ainda outro nome: soberba. Caracteriza a pessoa que se coloca acima, aquela que costuma dizer, em várias situações, : “Você sabe com quem está falando?” Ou a que gosta de ostentar, seja o cargo, a propriedade, a autoridade. Aí, não é algo que dê orgulho. Fazendo um trocadilho meio estranho, mas verdadeiro, dá engulho.

Dá ânsia imaginar pessoas que, por causa do lugar onde estão, daquilo que possuem, do estudo que conseguiram, sejam capazes de ter soberba e arrogância, em vez de usar a vida para partilhar e ficarem orgulhosos daquilo que conseguiram.

Melhor pensar como os chineses, e gosto de retomar esse antigo ditado, “quando a partida de xadrez termina, o peão e o rei vão para a mesma caixinha”…

Mario Sérgio Cortella no livro Pensar bem nos faz bem-vol2

A geração de pessoas que se sabotam emocionalmente

A geração de pessoas que se sabotam emocionalmente

Aí você conhece uma pessoa que parece incrível. Vocês conversam sobre tudo, fazem todos os passeios imagináveis, viram madrugadas em confissões e gargalhadas e têm uma química nunca antes vista na história da humanidade. Tudo parece perfeito, até que aquela pessoa começa a sumir, deixando você sem entender o que aconteceu. Você tenta respeitar o espaço, deixa a pessoa respirar, até que um dia, por não entender o que teria acontecido de errado, você chega com a pessoa e pergunta o que houve. E aí ela diz que não tem como continuar porque não quer se envolver.

Você acha aquilo estranho: afinal, se não queria se envolver, então por que dizia que era uma sorte grande ter te encontrado? Se não queria se apegar, então por que dava bom dia todo santo dia? E por que se preocupava em ser uma pessoa tão carinhosa mesmo tanto tempo depois de as primeiras transas terem acontecido? Nada disso faz sentido, não é mesmo?

Você fica sem entender o que aconteceu, vai investigando, até que a pessoa diz ou que teve um/uma ex que deixou traumas ou que gosta muito de um outro alguém, mas esse alguém não sente o mesmo por ela.

Nessa hora, você pode se sentir como se não fosse uma pessoa boa o suficiente para fazer com que esse alguém que você gosta deixe para trás os traumas e o passado. Você pode sentir um forte sentimento de rejeição, capaz de abalar até a mais inabalável das seguranças. Mas de uma coisa você precisa ter a mais absoluta certeza: tudo isso não é problema seu. Você não tem culpa se a pessoa que você gosta é uma das milhares de pessoas que se sabotam.

Se o outro prefere ficar se sabotando, é problema dele. Se ele não quer se permitir viver uma experiência que seria completamente diferente de tudo o que ele já viveu antes, é problema dele. Você não tem nenhuma culpa ou responsabilidade pelas escolhas das outras pessoas, independentemente de quais sejam elas.

Infelizmente, vivemos em uma geração de pessoas covardes, que se envolvem, mas depois ficam afastando os envolvimentos porque preferem ficar se escondendo atrás dos seus traumas. Eu já fiz isso, você também já deve ter feito. E sabe por que tanta gente faz isso? Porque é mais fácil ficar em uma zona de conforto de auto-piedade, reclamando que os traumas deixaram marcas ou dizendo “Ninguém me ama, ninguém me quer”. Mas tudo isso não é problema seu, amig@: é problema da pessoa. É problema dela se ela só se permite se apegar a sentimentos tão pequenos de mágoa, rancor, egoísmo e pena de si mesma.

Todos nós somos imperfeitos, mas nem as suas piores imperfeições justificam que alguém faça isso com você: se envolva, te trate como se fosse ser algo para valer e depois decida ir embora sem dar explicações. Mas, se essa pessoa quer sair da sua vida, deixe que ela vá embora. Você não merece alguém tão covarde.

Do outro lado da mesa

Agora, se você que está aí do outro lado se identifica com o perfil do covarde, pense no que você está fazendo com a sua própria vida. As pessoas são diferentes. O trauma que você teve com uma não necessariamente vai se repetir com outra. Cada um é de um jeito, e, consequentemente, as experiências que você terá com cada pessoa serão diferentes. Pense em todas as pessoas legais que você deixou passar pela sua vida por esse medo de se envolver. Até quando você vai ficar se sabotando por puro medo?

Eu sei que ninguém está dentro de você para saber o que você está sentindo. Ninguém está aí dentro para saber o quanto aquela rejeição te doeu e você tem todo o direito de sofrer o quanto achar que tem que sofrer. Mas pense comigo: se você não está preparado para se envolver, então não prolongue as coisas. Não tenha atitudes que deem brechas para que o outro crie expectativas. Quer beijar? Beije, mas deixe claro que você só quer o beijo. Quer transar? Transe, mas seja sincer@ e diga que você só quer isso. Quer só uma companhia para não se sentir sozinh@? Ok, todo mundo tem suas carências, mas deixe tudo bem claro para a outra pessoa. Será uma escolha dela se ela decidir ficar com você mesmo nessas condições. Mas ela precisa saber o que, de fato, está acontecendo.

O problema não é você viver o seu luto, mas sim iludir a pessoa e sumir do nada, sem dar nenhuma explicação, fazendo com que ela pense que o problema é com ela, que ela fez algo de errado. Seja uma pessoa adulta o suficiente para assumir as consequências dos seus atos.

Inclusive a de talvez, daqui a algum tempo, estar aí se remoendo porque não deixou que a Júlia ou o João entrassem para valer na sua vida e te mostrassem que o presente e o futuro podem ser completamente diferentes do passado.

Texto de Ana Paula Souza
Fonte indicada: Lado M

Imagem de capa: Alena Ozerova/shutterstock

Não perca a capacidade de se encantar

Não perca a capacidade de se encantar

“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento.” (Adélia Prado)

O amadurecimento nos traz muita coisa boa, pois é somente com o passar do tempo que conseguimos entender muito daquilo que nos agoniava quando jovens. Passamos a aceitar que o tempo da vida não é o mesmo da gente e que nem tudo – ou quase nada – ocorre exatamente como desejamos. Infelizmente, o amadurecimento torna muitas pessoas céticas demais, descrentes e incapazes de colorir o mundo lá fora, mesmo que de maneira boba.

Quando crianças, temos a capacidade de acreditar nas coisas e nas pessoas, de imaginar o melhor em tudo o que existe, porque tudo é tão novo, tão real. Crianças precisam tocar, sentir, ver e ouvir, encantando-se com cada nova descoberta, com cada nova amizade, com cada viagem, cada pedacinho de jardim. E então a gente vai crescendo e nada mais parece ter aquele viço, como se já conhecêssemos tudo e nada pudéssemos esperar de ninguém.

Talvez seja este o maior problema que existe no mundo de hoje: a incapacidade de se encantar. A vida adulta nos cobra tempo demais, apaga as ilusões, colocando-nos frente a frente com a dor da decepção, a dor das perdas, a dor da morte. A finitude do mundo lá fora acaba por nos invadir os sentidos, tornando-nos frios e sérios. Afinal, é feio adulto rir à toa; parece bobo quem é otimista demais; quanta imaturidade em se divertir com pouco.

Na verdade, confundir amadurecimento com carranca é um desserviço à saúde mental de qualquer pessoa, porque nada mais ensurdecedor aos sentimentos do que o mau humor, o pessimismo, a cara e o coração fechados. É preciso se encantar com o que há lá fora a ser vivido, experimentado, sentido. É preciso manter aqui dentro os sonhos de uma vida melhor, junto a gente do bem. É preciso acreditar no amor verdadeiro, em gente de verdade.

Perdemos tanto tempo atrás do que está exposto nas vitrines e nos apelos midiáticos, que acabamos nos esquecendo de olhar tudo o que existe ao nosso redor e pode ser desfrutado de graça, como um sorriso sincero, um bom dia com gosto de amor, um amigo que nos pergunta se estamos bem. Não, jamais poderemos nos permitir perder a capacidade de nos encantar. Afinal, é assim que a gente se eterniza.

IMagem de capa:  Yuganov Konstantin/shutterstock

Função Transcendente

Função Transcendente

Jung define, em Natureza da Psique (1998), função transcendente como “união de conteúdos conscientes e inconscientes”.

Em geral, o consciente e o inconsciente raramente estão de acordo no que se refere a seus conteúdos e tendências. A consciência do ego sempre busca a satisfação imediata e a fuga de sua imagem idealizada, enquanto que o inconsciente busca a realização da totalidade que engloba aspectos sombrios e tem o seu tempo para realizar.

Essa oposição entre ego e inconsciente Jung explica que se deve ao caráter complementar entre os dois.

Esse conflito possui uma função que é gerar tensão, afim de promover energia e movimento, uma vez que a tendência da consciência é se manter no mesmo estado, ou seja, a inércia.

Sobre essa relação Jung (1998) diz:

“A razão desta relação é que: 1) os conteúdos do inconsciente possuem um valor liminar, de sorte que todos os elementos por demais débeis permanecem no inconsciente: 2) a consciência, devido a suas funções dirigidas, exerce uma inibição (que Freud chama de censura) sobre todo o material incompatível, em conseqüência do que, este material incompatível mergulha no inconsciente; 3) a consciência é um processo momentâneo de adaptação, ao passo que o inconsciente contém não só todo o material esquecido do passado individual, mas todos os traços funcionais herdados que constituem a estrutura do espírito humano e 4) o inconsciente contém todas as combinações da fantasia que ainda não ultrapassaram a intensidade liminar e, com o correr do tempo e em circunstâncias favoráveis, entrarão no campo luminoso da consciência.”

O processo de consciência é uma aquisição recente na história da humanidade. Os povos primitivos não apresentam essa distinção de consciência do ego de forma tão acentuada.

Os conteúdos da consciência apresentam uma qualidade de pensamento dirigido, que é a base do pensamento moderno.

Pensamos de forma dirigida, linguística, para os outros e falamos a outros, ou seja, é a exteriorização da ideia formulada, passível de comunicação.

Mas quando não pensamos de forma dirigida, os pensamentos deixam de seguir uma linha reta, mas eles flutuam. Seria uma espécie de “ato voluntário interior”, ou melhor “um jogo automático de ideias”. Este pensamento não requer esforço e afasta da realidade para fantasias do passado e futuro.

Esse pensamento fantasioso é a natureza do inconsciente.

Portanto, temos já na estrutura da linguagem de consciente e inconsciente uma diferença marcante, porém complementar.

Sobre a consciência Jung (1986) diz:

“A natureza determinada e dirigida da consciência é uma aquisição extremamente importante que custou à humanidade os mais pesados sacrifícios, mas que, por seu lado, prestou o mais alto serviço à humanidade. Sem ela a Ciência, a técnica e a civilização seriam simplesmente impossíveis, porque todas elas pressupõem persistência, regularidade e intencionalidade fidedignas do processo psíquico.”

Mas a qualidade dirigida da consciência também tem desvantagem, que é a repressão dos elementos psíquicos que parecem ser, ou realmente são incompatíveis com a consciência, ou são capazes de mudar a direção preestabelecida e, assim, conduzir o processo a um fim não desejado pela consciência.

A consciência determina a direção do caminho escolhido e desejado. Esta determinação é parcial e preconcebida, porque escolhe uma possibilidade particular, à custa de todas as outras. A consciência é limitada e com um julgamento que se baseia, por sua vez, na experiência, isto é, naquilo que já é conhecido. Via de regra, ele nunca se baseia no que é novo, no que é ainda desconhecido e no que, sob certas circunstâncias, poderia enriquecer consideravelmente o processo dirigido. É evidente que não pode se basear, pela simples razão de que os conteúdos inconscientes estão a priori excluídos da consciência (Jung, 1998)

Como, por exemplo, no caso dos problemas dos tipos psicológicos, a consciência se identifica com uma função se torna unilateral, reprimindo as funções que consideradas como “desagradáveis”. As outras funções que proporcionam aumento de consciência se tornam sombrias e com um funcionamento autônomo. A consciência, via de regra, consegue desenvolver duas funções, a principal e uma primeira auxiliar.

O ego, para trabalhar com as funções menos desenvolvidas (incluindo a inferior), precisa abrir mão do controle, do julgamento e do preconceito e isso só se dá por meio de um conflito grande.

Contudo, inconsciente e consciente tendem a se unir e buscar a complementaridade (principalmente na segunda metade da vida).

Essa busca de complementaridade e união, Jung observou na alquimia simbolizado pela operação alquímica denominada coniuctio.

Essa operação consiste no casamento alquímico. É a união do princípio masculino (Rei, solar, vermelho), com o princípio feminino (Rainha, lunar, branca), e é a meta da Opus alquímica e do processo de individuação.

Todo processo de aumento de consciência passa pela separação do ego e dos conteúdos inconscientes (caracterizado pela inflação egóica) e pela posterior união de ambos.

Dessa união surge um novo elemento que une ambos, que se expressa por meio de um símbolo. Esse novo elemento é a função transcendente.

Nos contos de fadas, a função transcendente aparece como o filho que resulta da união do Rei e Rainha.

A função transcendente aparece na resolução do conflito e tem como objetivo a integração dos conteúdos inconscientes na consciência.

Os símbolos podem ser expressos nas imagens encontradas na mitologia, contos de fadas, alquimia e religiões.

Temos de lutar constantemente para não condenar os conteúdos do inconsciente, e reconhecer a sua importância para a compensação da unilateralidade da consciência.

A tendência do inconsciente e a da consciência são os dois fatores que formam a função transcendente. É chamada transcendente, porque torna possível organicamente a passagem de uma atitude para outra, sem perda do inconsciente (Jung, 1998).

O símbolo é a expressão do inconsciente (como vemos nos sonhos, por exemplo), que é assimilável pela consciência dirigida. Com ele a consciência consegue “digerir” o conteúdo psíquico.

No processo de psicoterapia, o analista pode servir como função transcendente para o paciente durante a transferência. Transformando assim a relação analítica em simbólica.

Nesta função do médico está uma das muitas significações importantes da transferência: por meio dela o paciente se agarra à pessoa que parece lhe prometer uma renovação da atitude; com a transferência, ele procura esta mudança que lhe é vital, embora não tome consciência disto (Jung, 1998).

É importante ressaltar que a psique tem função auto reguladora. A reação do inconsciente ao pensamento dirigido da consciência é a reação a atitude unilateral, que pressupõe uma inflação, pois o ego evita situações que não são agradáveis, e isso é legitimo até certo ponto, pois evita conflitos desnecessários. Contudo, se afastar demais dessa ação reguladora afeta os instintos e nos afasta de nossa capacidade criativa.

A função transcendente é criativa, é a solução não aguardada, a solução mágica, que não deve ser encontrada pela disposição egóica, mas pela colaboração da consciência com o processo de regulação inconsciente.

Para finalizar, a função transcendente tem como objetivo unir a consciência e o inconsciente. O se debruçar da consciência sobre o material fantasioso do inconsciente exige coragem. O cuidado, a confrontação e a integração dos conteúdos que deveriam ser conscientes traz a ampliação da consciência, mas com isso conflito e desistência do controle do ego.

Conforme Jung (1998):

“E mesmo quando se tem suficiente inteligência para compreender o problema, falta coragem e autoconfiança, ou a pessoa é espiritual e moralmente demasiado preguiçosa ou covarde para fazer qualquer esforço. Mas quando há os pressupostos necessários, a função transcendente constitui não apenas um complemento valioso do tratamento psicoterapêutico, como oferece também ao paciente a inestimável vantagem de poder contribuir, por seus próprios meios, com o analista, no processo de cura e, deste modo, não ficar sempre dependendo do analista e de seu saber, de maneira muitas vezes humilhante. Trata-se de uma maneira de se libertar pelo próprio esforço e encontrar a coragem de ser ele próprio.”

Imagem de capa: Reprodução

Referências Bibliográficas:

JUNG, C.G. A Dinâmica do inconsciente, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1998.

JUNG, C.G. Símbolos da Transformação, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1986.

JUNG, C.G. Tipos Psicológicos. Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991.

Eu não mudei, você que me julgou antes de me conhecer realmente

Eu não mudei, você que me julgou antes de me conhecer realmente

Só conheceremos alguém de fato após convivermos de perto, no dia-a-dia, atravessando jornadas ao seu lado, não somente em momentos prazerosos, mas, principalmente, durante tormentas e tempestades.

É muito interessante a forma como muitos de nós costumamos levantar pré-julgamentos sobre os outros antes de realmente os conhecer de fato. Baseando-nos tão somente em aparência, no que os outros nos falam, no pouco que sabemos, muitas vezes simpatizamos ou não com as pessoas, bem antes de nos aproximarmos efetivamente delas.

Não raro, acabamos, após a convivência, gostando de algumas pessoas que, a princípio, não nos tinham causado uma boa impressão, pois elas vão se mostrando alguém maravilhoso, por trás daquela aparência tímida, introvertida ou mesmo rude. Da mesma forma, o tempo acaba também por revelar um lado, de algumas pessoas, ao qual não tínhamos atentado, um lado que não nos agrada, um lado que assusta e decepciona.

Isso porque só conheceremos alguém de fato após convivermos de perto, no dia-a-dia, atravessando jornadas ao seu lado, não somente em momentos prazerosos, mas, principalmente, durante tormentas e tempestades. As convenções sociais, as regras de convivência, os ambientes de trabalho, ou até mesmo a necessidade de aceitação, impõem que as pessoas sejam mais comedidas, porém, ninguém suporta sufocar suas verdades por muito tempo e o que somos acaba aparecendo, uma ou outra hora.

Por mais que demore, as pessoas traem a si mesmas, quando teimam em agir em desacordo com o que carregam dentro de si. Aquilo que nos movimenta o respirar, aquilo que nos compõe a essência, tudo o que pulsa em nossos sentidos e que nos sustenta afetivamente não conseguirá ser oculto, abafado ou sufocado enquanto quisermos. Ninguém consegue ser feliz atuando e fingindo e mentindo vinte e quatro horas por dia. Um dia a máscara cai.

Por isso é que não podemos nos antecipar ao curso do tempo, rotulando ou tirando conclusões precipitadas sobre as pessoas, sem ao menos sabermos minimamente sobre suas vidas. Julgar sem conhecer sempre será um erro, pois as pessoas possuem muito a oferecer, de bom e de ruim, e poderemos estar sendo injustos ou ingênuos, quando nos precipitarmos e rotularmos alguém precocemente. Aguardar sempre será melhor, pois todos mostramos a que viemos, por mais que demore, por mais fingimento que carregarmos. A verdade sempre aparece.

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Quem não é feliz sozinho, nunca será feliz a dois

Quem não é feliz sozinho, nunca será feliz a dois

Sinceramente, não sei o que te ensinaram sobre “momento a sós”, “amor próprio” e “liberdade”, mas acredite, nenhuma das definições tem seu significado aliado à solidão.

É, no mínimo, curioso analisar a forma como as pessoas se comportam diante da própria companhia. Enquanto alguns a valorizam, utilizando o tempo em prol do autoconhecimento, outros correm dela na velocidade da luz.

A maior parte das pessoas, para não dizer todas, tem uma experiência ruim de relacionamentos anteriores para contar. São histórias de traições, de abusos sentimentais, de amores não correspondidos que, além de deixarem algum tipo de bloqueio na forma de se relacionar, faz com que a solidão seja vista como um monstro destruidor de sonhos.

Chega a ser engraçado, mas as pessoas se envolvem com pessoas tóxicas, geram expectativas gigantescas e, quando frustradas, comparam todos no mesmo nível de imperfeição, como se ninguém valesse mais a pena. Entenda: melhor ser surpreendido por coisas boas, do que não correspondido com expectativas geradas.

Embora as pessoas não carreguem letreiros dizendo se são, ou não, boas companhias, há sinais que deveriam ser levados a sério: Se ela nunca respeitou limites, provavelmente, não respeitará os seus. Se ele não foi fiel a nenhuma namorada, você não será a primeira.Se ambos comportam-se como propriedades particulares um do outro, a probabilidade de conviverem em sociedade, sem ciúmes, é nula. Resumindo: apaixonar-se esperando que o outro mude, é o mesmo que querer um abdômen sarado e não gostar de treinar.

Acredito que grande parte das frustrações amorosas comece na desvalorização da própria companhia. Quando há a associação do “momento próprio” com a solidão, instaura-se um conflito interior, levando as pessoas a se sentirem inseguras e carentes. Quer a verdade nua e crua? Não é da solidão que você deveria ter medo, é de não gostar da própria companhia.
A partir do momento em que a própria companhia começa a te incomodar é sinal de que seus valores sobre amor e respeito estão distorcidos e, provavelmente, irá aceitar qualquer relacionamento que a vida te oferecer.
Gostar da própria companhia é saber que você vale muito e que “qualquer coisa” é muito pouco para você. É entender que pessoas leves, promovem relacionamentos sadios e que, pessoas neuróticas, relacionamentos abusivos.

Gostar da própria companhia é estar pronto para um relacionamento de verdade, com pessoas inteiras e dispostas. E, sobre as “metades que se completam”: esqueça. Primeiro, que todos somos inteiros e, segundo, que há coisas muito mais interessantes para se dividir do que o amor próprio.

Imagem de capa: Balaguta Evgeniya/shutterstock

“De onde vem a calma”, por Fabíola Simões

“De onde vem a calma”, por Fabíola Simões

Minhas férias vem chegando e ando um turbilhão por dentro. Não pela proximidade de meus dias de paz, mas pelo acúmulo de obrigações e malabarismos que junho trouxe.

É meu filho quem me lembra que preciso me acalmar. Com suas mãozinhas subindo e descendo à frente do corpo, repete seu mantra num sussurro: “Acaaalma… acaaalma…” e paro o que estou fazendo num impulso rápido, para prestar atenção à minha respiração e finalmente me acalmar _ inspirando e falando devagar; expirando e dizendo as palavras um tom mais baixo; inspirando e agindo como uma criatura normal.

É comum sentir-me culpada depois de agir apressadamente, prestando atenção a tudo e nada ao mesmo tempo. A sensação que vem depois é a de vazio e arrependimento. “A vida é tão curta… logo ele cresce e esses momentos serão só lembranças…” ou sua variante: “a vida passa tão depressa… aproveita enquanto tem saúde…”; ou indo mais além: “a vida é tão breve, seus pais não são eternos…”

O fato é que preciso de calma. Preciso desta mercadoria rara que não se vende em farmácias nem está disponível em qualquer site descolado. Mais do que o precioso tempo, preciso reaprender a me acalmar.

A gente usa muito pano pra pouca manga, como diz o ditado. Faz tempestade num copo d’ água pra chover no molhado e depois descobrir que entrou pelo cano por ser tão fogo de palha.

Brincadeiras à parte, a verdade é que dramatizamos demais. Passamos muito tempo desperdiçando energia e esquecemos que calma rima com Alma. Combina com esquecimento, reabastecimento, afrouxamento, alheamento.

Faz bem pra alma. Estar alheio ao buzinaço que acontece dentro ou fora de nós, nadando contra a correnteza de toda tralha sem utilidade que amontoamos sem mesmo saber porque. Esquecemos que a alma também precisa de calma. Pausa e reflexão. Serenidade e faxina.

Fazer faxina na alma vai além de limpar territórios escondidos ou organizar emoções em prateleiras cobertas com papel contact. É amarrar um laço de seda na construção de nossa paz e descartar tanta preocupação irrelevante, irreal ou carregada de culpa inútil que costumamos remoer naquelas horas em que não podemos mais adiar o encontro com nós mesmos.

Nas horas mais silenciosas, em que as luzes se apagam e não há barulho na casa, a goteira da perturbação encontra uma fresta no assoalho de meus pensamentos. E por mais que deseje um tanto de calmaria, ela pinga culpa e desassossego. Tenho tentado virar o jogo. Não pode haver condenações ao assumirmos nossa espontaneidade ou agirmos com autenticidade.

A armadilha da perfeição nos alcança e tira a paz. Querendo dar conta de tudo sem sair da linha nos empurramos barranco abaixo, passando a carroça na frente dos bois.

É preciso tempo para construir uma existência de paz. Sem conflitos entre o Dever e o Poder; sem desavenças entre o Desejar e o Conseguir; sem brigas entre o Quero e o Posso alcançar.

Devagar e em frente, respirando e esvaziando, aceitando e permitindo, dando real valor a cada coisa no seu lugar. Percebendo, acima de tudo, que a maturidade tem o dom de trazer calmaria, e a tranquilidade vem do respeito por nossa natureza, deixando de tentar ser Super-Pessoas, e aceitando nossos limites, nosso tempo, nossa paz.

Que o período de férias seja um tempo bom para acolhermos quem nos tornamos de fato _ a pessoa por trás do avental branco ou uniforme de trabalho; o alguém que não tem que bater o ponto nem provar seu talento a todo momento; a pessoa que carregamos por baixo da superfície, e que precisa ser cuidada e valorizada de tempos em tempos.

Que eu não precise de meu filho repetindo a todo momento que preciso me acalmar. Que seu mantra não seja o alerta máximo para que eu preste atenção à melhor fase da minha vida.

Para que o tempo não passe sem que eu me dê conta.

Para que a gente descubra “de onde vem a calma” e ao contrário do que diz a música, ‘aprenda a ser melhor, viu?’

Imagem de capa: Billion Photos/shutterstock

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18 comportamentos de pessoas com inteligência emocional elevada

18 comportamentos de pessoas com inteligência emocional elevada

Cada pessoa traz em si programas biológicos de ação e reação automáticos. Porém, o meio em que vivemos, nossa cultura local e experiências de vida, vão moldando nossa bagagem biológica para definir nossas respostas e manifestações diante dos estímulos emocionais com que nos deparamos.

Algumas pessoas têm alta capacidade de lidar com as emoções e sentimentos sejam seus ou dos outros – mesmo diante de situações desafiadoras, de ansiedade ou estresse. Essa capacidade de lidar bem (ou não) com as emoções pode ser medida e é chamada de inteligência emocional (QE). As pessoas que tem o QE elevado costumam ter comportamentos diferenciados e mais chances de sucesso em empreendimentos. Veja abaixo quais são esses comportamentos:

1. Amplo vocabulário emocional

Muitas pessoas quando passam por algum problema com suas emoções, apenas expressam que estão se sentindo “mal” ou com um “nó no peito”. Já as pessoas emocionalmente inteligentes podem identificar especificamente como se sentem, “irritados”, “frustrados”, “oprimidos”, ou “ansiosos.”

2. Curiosidade a respeito de pessoas

A vida dos outros e como eles se sentem é importante para a pessoa que tem QE elevado. Um dos sinais marcantes é a empatia. Quanto mais você se preocupa com os outros, mais curiosidade terá sobre eles.

3. Fácil adaptação

As pessoas de alto QE, não se desesperam com as mudanças. Elas sabem que mudanças são necessárias às vezes e estão dispostas a se adaptarem. São flexíveis e sabem que rotinas desgastantes e medo de mudanças são paralisantes.

4. Autoconhecimento

Conhecer seus pontos fortes e suas fraquezas e utilizá-los para seu pleno desenvolvimento é outro comportamento comum de pessoas com inteligência emocional alta. Elas compreendem as próprias emoções e sabem em que são boas e em que são ruins.

5. Senso de julgamento

A inteligência emocional está muito ligada à consciência social. Envolve a capacidade de ver o outro e fazer um julgamento correto sobre seu caráter; é quase uma capacidade de “ler” as outras pessoas. O inteligente emocional compreende seus problemas e motivações, ainda que não sejam aparentes.

6. Autoconfiança

A pessoa que consegue rir de si mesmo, que não se ofende com brincadeiras e até mesmo críticas – pois tem autoconfiança – é uma pessoa emocionalmente bem-dotada. Além disso, os limites entre humor e degradação estão bem claros para ela.

7. Sabem dizer “não”

Tanto a si mesma quanto aos outros. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, concluiu que não saber dizer “não” causa estresse, esgotamento e até depressão. Saber dizer não a si mesmo, adiar a própria gratificação ou exercer autocontrole é característico do QE alto. Dizer “não” aos outros, pode ser libertador. Quando você diz não a um compromisso, isso lhe permite cumprir os que já assumiu e cumpri-los com êxito, já que não há sobrecarga nem pressa.

8. Mudam a si mesmas

Outra característica comum à inteligência emocional alta é a capacidade de ver os próprios erros, corrigi-los ou abandoná-los. Não significa esquecer seus erros, pois se aprende com eles, mas não cometer os mesmos erros novamente.

9. Não são interesseiras

Não dão algo esperando outro em troca. Seus relacionamentos são firmes, porque se preocupam com os outros.

10. Não guardam ressentimentos

Pesquisadores da Universidade Emory demonstraram que guardar rancor faz a pressão arterial subir e causar problemas cardíacos. As pessoas emocionalmente inteligentes sabem que devem evitar a todo o custo.

11. Lidam bem com pessoas

Até mesmo com as chamadas “tóxicas”. Elas identificam as próprias emoções e não se deixam afetar pelo confronto. Mesmo em situações de enfrentamento conseguem encontrar soluções e um ponto em comum.

12. Não são perfeccionistas

Sabem que a perfeição não existe e não perdem tempo procurando por ela. Sabem também que buscar a perfeição que não existe, lhes deixará sempre com a sensação de fracasso e tira seu ânimo para avançar.

13. Apreciam o que têm

Uma pesquisa conduzida na Universidade da Califórnia descobriu que as pessoas que buscam diariamente cultivar uma atitude de gratidão notam melhora do humor, energia e bem-estar físico através da redução do cortisol.

14. Descansam

A qualquer custo. Não negligenciam seu tempo “off-line”, pois sabem que é fundamental para enfrentar a rotina e ter boa saúde.

15. Limitam a cafeína

Cafeína é um estimulante cerebral útil se você precisa de uma resposta do tipo: fugir ou lutar? O que é ótimo, se você está diante de um rinoceronte, mas totalmente desnecessário se for para responder a um e-mail. Indivíduos de alto QE sabem que a cafeína é um problema e não se deixam escravizar por ela. Nem por qualquer outra substância ou hábito.

16. Sono adequado

Pessoas com alto QE são assim por justamente dormirem o necessário. O sono recarrega o cérebro e limpa as memórias desnecessárias do dia através do sonho e armazena as necessárias. Seu cérebro fica alerta e “afiado”. Por isso, sono para pessoas assim é prioridade.

17. Não ruminam pensamentos negativos

Sabem que pensamentos negativos são apenas isso: pensamentos. Sabem que a maioria dos nossos medos jamais acontece. Por isso, se livram dos pensamentos negativos e se movem a uma perspectiva mais positiva.


18. Não se comparam

Sua autoestima é forte. Pelo autoconhecimento e a autoconfiança já citados, não se abalam com comentários alheios e não se comparam com o sucesso dos outros. Quando se sentem bem sobre algo que fizeram, não vão deixar que comentários maldosos lhes tirem a alegria, pois quando se depende da opinião alheia, deixa-se de ser autor da própria felicidade.

Texto de: Stael F. Pedrosa Metzger

Stael Pedrosa Metzger é escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É casada e mãe de dois filhos.

Imagem de capa:  ADS Portrait/shutterstock

Fonte indicada: Família.com

Patrimônio sagrado

Patrimônio sagrado

Eu já não chamo vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que seu patrão faz; eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai.
João:15;15

Achei muito interessante a colocação do professor e psicanalista, Gilberto Safra, de que os amigos guardam a nossa memória; são guardiões do nosso Ser.

Concordo, plenamente! Quantas vezes, surpreendemo-nos com a fala de um(a) amigo (a) de infância, que relata um acontecimento onde estávamos presentes e de que não nos lembrávamos mais? Como é bom! Resgatamos, ganhamos de volta algo precioso sobre nós e que havíamos perdido.

Porém, no dia a dia, vivendo tão preocupados com as tarefas assumidas, não há tempo para uma conversa, no meio da tarde, com as pessoas que amamos. Postergamos esses momentos para quando tivermos um pouco mais de folga. No entanto, somos guardadores de inúmeros rebanhos de memórias de pessoas queridas e, se não as narramos ou não damos a devida escuta à fala do outro, quando uma delas vem a falecer ou se distancia, é que percebemos a perda desses patrimônios vividos.

Posso dizer que tenho uma experiência triste a esse respeito.

Após um tempo da morte de meu pai, arrumando alguns de seus documentos, a frustração foi enorme ao constatar que o conheci tão pouco… Muitas perguntas ficaram no vazio… Quais eram seus sonhos, seus medos, suas alegrias… Quem era esse homem que me carregou no colo e que foi o meu chão por tantos anos?

Sei quando ele nasceu, porém não sei quais eram as circunstâncias em que seus pais viviam; sei que se casou com minha mãe, que teve quatro filhos, entretanto não sei o que ele pensou naquele exato momento em que viemos ao mundo.

E assim acontece com aquelas pessoas amigas que conviveram ou convivem conosco e com as quais pouco conversamos.

Tenho saudades dos diários que escrevi, das cartas de amor que mandei, dos bilhetinhos deixados nas casas de minhas amigas, dos álbuns que trocávamos umas com as outras, para que se deixasse escrito algo sobre nós, acrescido por uma bela poesia.

Porém, quase mais nada existe! As cartas, queimei-as; os diários, num determinado momento, pareceram infantis, rasguei-os e joguei fora; o álbum, felizmente, tenho guardado com muito carinho.

Crescer tem dessas bobeiras! Acreditamos que a primazia tem de ser a racionalidade, o afeto é coisa pequena e, assim, não mais o valorizamos.

Iniciei, recentemente, um diário e quero nele marcar todos os momentos vividos e os sentimentos que me acompanham.

Que insensatez seria deixar passar sem registro certos tesouros!

Como não registrar o céu azul deste mês de maio, a lua cheia que despontou toda orgulhosa nesta noite? E que bem cedinho ela ainda permanecia no alto, com toda a sua majestade?

A vida é bela, os amigos são valiosos e não quero ficar impassível frente a esses patrimônios .

Assim me decidi…

Imagem de capa:  Vasilyev Alexandr/shutterstock

As feridas de uma criança que sofreu violência física e/ou emocional

As feridas de uma criança que sofreu violência física e/ou emocional

Por Lilian Marin Zucchelli e Marcela Alice Bianco

“Um simples barulho diferente no portão era motivo para que o coração acelerasse. Para que a boca ficasse seca e as mãos trêmulas. Os pensamentos percorriam as memórias do passado e lá encontravam cenas de medo, agressão, descontrole e terror. Era possível ainda ver os olhos daquele que deveria proteger, embebidos na raiva e na frustração. Era possível ainda ouvir no coração as palavras rudes, cruéis e descontroladas ecoando pelas paredes dos cômodos da casa. Era possível sentir o vento da cinta saindo para fora do passador da calça em direção ao pequenino corpo. Sentir o tapa, a força das mãos, o verdadeiro mal que saía pelos poros daquele que deveria cuidar. Quando não estava possuído por tal gênio, era bom, calmo, confiável. Mas, quando estava dominado por algo que, talvez nem mesmo ele conhecesse o nome e a origem, aí era possível sentir a vida por um fio. Impossível não chorar, impossível não temer. Era briga de poder para qual ainda não se tinha tamanho para enfrentar. Só restava esperar, que o barulho do portão fosse daqueles dias calmos e silenciosos. Só restava esperar que não fosse preciso ficar quietinha para não cutucar o gênio mal. Só restava sentir que havia uma única fagulha de controle sobre a próxima cena. Prever, antecipar, suportar a ansiedade, se esconder nas veredas da fantasia… esperar passar o tempo… para poder crescer e se transformar numa pessoa boa e capaz de não repetir a história”.

(Memórias de uma vítima da violência na infância)

Um documento divulgado pela UNICEF em 2014 sobre a violência infantil, intitulado “Ocultos a plena luz: uma análise estatística sobre a violência contra as crianças” (traduzido) revelou sérias informações sobre a questão dos maus tratos e dos abusos contra menores.

Entre os alarmantes resultados deste levantamento temos que, 06 em cada 10 crianças pelo mundo sofrem castigos corporais regularmente pelas mãos de seus cuidadores. Além disso, 1 em cada 3 estudantes entre 13 e 15 anos sofrem com atos de intimidação constantes e 1 a cada 3 adolescentes entre 15 e 19 anos ao redor do planeta (84 milhões) já foram vítimas de algum tipo de violência emocional, física e/ou sexual.

O relatório enfatiza que, independentemente do tipo de violência que tenham sofrido ou das circunstâncias em que ocorreram, a maioria das vítimas permanece em silêncio e não busca ajuda.

Tristes consequências de um ciclo de violência que assola as vidas de crianças, jovens e de famílias por todo nosso mundo e que se perpetua devido a repetição de um padrão patriarcal negativo, embasado na punição e no abuso do poder, em detrimento da afetividade e do controle emocional.

A violência não é só física! Bater em uma criança é um ato de covardia. É bater em alguém que não tem a mesma força para se defender e por isso fica humilhado e rendido. O adulto abusa do “poder” que ele acredita exercer diante de uma criança indefesa e sem força de reação adequada para impor-se contra quem “manda” na relação.

Mas, não é só a violência física que machuca. Palavras e atitudes podem ferir muito mais e, mais profundamente. Podem causar danos irreversíveis no desenvolvimento da personalidade de uma criança. Menosprezar, xingar, humilhar, ignorar, imprimir medo, coagir, negligenciar (seja a própria criança ou outro membro da família) é tão violento quanto uma surra de cinta. Não deixa marcas visíveis, mas fere a alma, a autoestima e autoconfiança.

Quando, por exemplo, um pai ou mãe chama seu (sua) filho (a) de burro (a) porque não está indo bem na escola, só está fazendo com que ele (a) acredite que realmente é burro (a), incapaz e que nunca irá conseguir aprender nem fazer nada certo na vida. A criança acredita, pois, os pais são seu primeiro contato com o mundo. São as pessoas em quem ela deveria confiar, se espelhar e de quem deveria receber carinho. Nós nascemos totalmente dependentes do mundo que nos cerca, vivenciamos o mundo e aprendemos sobre através das relações com nossos pais e cuidadores e, assim, vamos nos desenvolvendo e adquirindo (ou não) recursos próprios para enfrentar a vida adulta.

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Colocar a criança em situação humilhante, menosprezá-la ou tratá-la com desdém certamente provocará danos tão brutais quanto o uso da violência física. A violência não ensina a criança os motivos pelos quais deve apresentar um comportamento esperado. Ela só ensina a criança a ter medo das reações agressivas do adulto e, portanto, a obedecer para evitar que o trauma se repita novamente.

A violência psicológica faz com que a pessoa se sinta desvalorizada e diminuída perante os outros. Crianças que sofreram abusos psicológicos podem desenvolver inúmeros problemas de saúde física e emocional e que podem se estender para a vida adulta: baixa autoestima, sintomas de ansiedade, depressão, instabilidade emocional, chupar dedo, gagueira, enurese noturna, transtornos alimentares, uso de drogas, problemas em controlar impulsos e raiva, comportamentos antissociais e até pensamentos suicidas.

Segundo James Hollis, “quando a criança é oprimida, ela vivencia a imensidão do Outro jorrando através de frágeis fronteiras. Por não possuir o poder de escolher outras circunstâncias de vida, por não possuir nem a objetividade de identificar a natureza do problema como Outro, e por não possuir os elementos necessários a uma experiência comparativa, a criança reage de forma defensiva, tornando-se sensível ao ambiente e “escolhendo” a passividade, a co-dependência ou a compulsividade para proteger o frágil território psíquico. A criança aprende variadas formas de acomodação, pois a vida é vista como inerentemente opressiva para um eu relativamente impotente”.

Assim, quando vítima do abandono e do carinho insuficiente, a criança poderá passar toda a vida em busca de um modelo mais positivo e protetivo para se relacionar. Pode sentir o mundo como um lugar inseguro e permanecer presa num padrão ansioso e inseguro diante de tudo e de todos.

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A criatividade, as vias saudáveis para a obtenção de afeto e prazer podem permanecer bloqueadas, determinando a personalidade durante a infância e por toda a vida adulta. Reflexos das primeiras experiências traumáticas sem elaboração e resolução que permanecem fazendo refém a criança interior.

A vivência do descontrole emocional dos adultos com que convive, não ajuda a criança a aprender a regular seus próprios afetos e reações. De acordo com Sauaia, “é frequente que experiências traumáticas rompam limites e causem sintomas como: hipersensibilidade a som, luz ou toque; sensação de estar sem pele; falta de habilidade para filtrar estímulos; descrições de estar “vazando” ou “sendo invadida”; tendência a ser vítima novamente e vulnerabilidade a mais traumas”.

Assim, quando adultas, essas crianças feridas poderão acabar se engajando em relacionamentos que reproduzam o mesmo padrão disfuncional da infância, repetindo o ciclo de abuso e violência compulsivamente. E nessas relações poderão se tornar adultos violentos e abusadores. Portanto, crianças maltratadas poderão se tornar pais que maltratarão seus filhos.

Ou seja, o adulto vive, inconscientemente, reflexos do passado. Sua personalidade e forma de viver e se relacionar com o mundo ressoarão as experiências positivas ou negativas vividas na infância, especialmente através do relacionamento com os pais e cuidadores.

Na experiência da violência infantil a criança vê sair do armário e de debaixo da sua cama o verdadeiro Bicho-Papão na figura assombrosa dos seus cuidadores e protetores. E se, nem eles poderão protegê-la, a quem caberá tal grande tarefa?

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Pesa aqui o enorme papel social que nós todos temos em relação às nossas crianças! Seja através da educação, das denúncias e de toda e qualquer tentativa de assegurar os direitos da infância e da adolescência garantidos pela lei, é necessário romper com os duros ciclos de abuso de poder e punição.

 

Precisamos encontrar saídas baseadas na ótica da empatia, do afeto e do cuidado. E começar a cuidar, não só daqueles que sofrem com as agressões, mas também dos agressores e cuidadores ineficientes.

Segundo o Psiquiatra Junguiano Carlos Byington, “o modelo vivencial de formação da identidade no início da vida, baseado nas vivências e relações emocionais primárias, pode ser visto como o meio mais fecundo de aprendizado durante toda a existência”.

Dentro da perspectiva simbólica proposta por ele, todos os aspectos da nossa vida possuem uma função estruturante para o nosso processo de individuação. Assim, cada função pode se desenvolver tanto na sua polaridade positiva, corroborando para a ampliação da consciência, quanto negativa, fixando-se no inconsciente e manifestando-se de maneira destrutiva, sombria e descontrolada.

O poder no seu aspecto destrutivo, perpetua a violência, a insegurança e a desorganização psíquica. Porém, no seu aspecto positivo e construtivo, auxilia no estabelecimento de limites, oferece contorno e segurança à criança que pode então ter uma base de hierarquia, ordem, organização e respeito que levará por toda a sua vida.

Para Sauaia, “a criança necessita que o adulto sirva como um parâmetro organizador de sua experiência com o mundo através do estabelecimento de limites claros e coerentes. Exercita, assim, a aprendizagem da espera e a capacidade de suportar frustrações, construindo sua socialização e organizando seu mundo intrapsíquico”.

Portanto, precisamos ensinar quem cuida a educar e se relacionar com amor, respeito e equilíbrio emocional com as suas crianças. Precisamos desenvolver nos cuidadores essa capacidade de envolver-se e acalentar.

O adulto que grita, bate, espanca, humilha e abusa também tem grandes chances de ter sido uma criança ferida que não encontrou o amor e a dignidade em sua história de vida.

Referências Bibliográficas

Byington, C. A. B. A construção amorosa do saber: O fundamento e a finalidade da Pedagogia Simbólica Junguiana. São Paulo: Linear, 2011.

Hollis, J. A passagem do meio: Da miséria ao significado da meia idade. São Paulo: Paulus, 2008.

UNICEF – OCULTOS A PLENA LUZ: Un análisis estadístico de la violencia contra los niños. Acesso em: http://www.unicef.es/sites/www.unicef.es/files/informeocultosbajolaluz_0.pdf

Sauaia, N. M. Eros e Poder – Resiliência e Violência. Núcleo Espiral: um trabalho de prevenção com crianças vítimas de violência. Disponível em: http://www.nucleoespiral.org.br/img/artigoErosePoder.pdf

Autoria

contioutra.com - As feridas de uma criança que sofreu violência física e/ou emocionalLilian Marin Zuchelli – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana pela PUC-SP. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Institiuto Sedes Sapientiae. CRP: 06/23768

 

contioutra.com - As feridas de uma criança que sofreu violência física e/ou emocionalMarcela Alice Bianco – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

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A morte é o assunto mais importante da vida

A morte é o assunto mais importante da vida

Por Tatiana Nicz

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

Friedrich Nietzsche

Quando meu pai me contou que havia sido diagnosticado com câncer, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: “fodeu!”(perdoem a palavra, não encontrei sinônimos à sua altura). Em seguida fui tomada por um sentimento, que até então não conhecia, uma tolice extrema que me trouxe muita frustração. Como nunca havia pensado que meu pai morreria um dia?

Não me considero uma pessoa super inteligente, mas achava que já conhecia todas as minhas burrices, geralmente as confrontava nos cálculos complexos das aulas de Matemática ou de Física. Eu nunca fui boa em calcular nada. Mas essas eram burrices que eu já sabia identificar e estava acostumava a lidar, essa frustração já me era familiar. Mas, se sou “burra” para matemática, emocionalmente me sentia mais inteligente, por isso, quando soube do diagnóstico do meu pai fui acometida por um sentimento de burrice emocional que não me era familiar e confesso que foi muito difícil lidar com toda essa frustração.

A doença do meu pai me trouxe uma sensação de analfabetismo emocional profundo, me senti tola, entrei em contato com a imensa desconexão que existia em mim de processos tão naturais e importantes da vida, como a morte. Sim, já havia perdido avós e tios, a morte todos nós sabemos o que é, mas atualmente ela foi tão banalizada que provocou desconexão. Então, mesmo conhecendo a morte, considero que andava pela vida totalmente desatenta do fato de que a vida é de fato finita, de que somos tão insignificantes diante da morte, percebi que entendia muito pouco sobre perspectiva.

Claro que em se tratando do meu pai, algumas coisas contribuíram para tamanha desconexão, ele era um cara que falava de bem estar o tempo todo e fazia tudo conforme o protocolo. Meu pai era um “bon vivant” no melhor sentido da palavra e levava sua saúde e bem estar à sério. O diagnóstico dele contrariou todas as recomendações médicas para longevidade. Antes disso eu nunca tinha visto meu pai ficar doente ou tomar algum tipo de remédio.

 

Depois do dia em que ele mencionou a palavra “câncer”, passei dias à fio dormindo e acordando com esse sentimento tão frustrante que resolvi chamar pelo nome: burrice. Uma ingenuidade muito diferente da inocência bonita que possuem as crianças, uma tolice aguda. Com o tempo fui absorvendo e aprendendo a lidar com essa frustração, comecei a buscar as raízes dessa desconexão e foi então que descobri que não estava sozinha.

O fato de saber que não estava sozinha em meu analfabetismo não me trouxe algum tipo de consolo, muito pelo contrário, contribuiu para que eu me sentisse ainda pior. Eu já sabia que a burrice isolada (no caso em mim) seria muito mais fácil de tratar, o maior problema da humanidade está nas burrices generalizadas.

Enquanto passei a ficar mais atenta entendi que a situação era mais grave do que eu pensava. De alguma maneira a medicina, a ciência e as próprias religiões se encarregaram de nos afastar de processos tão essenciais como a morte e isso é muito perigoso. Eu já havia entrado em contato com isso olhando para o nascimento, na maneira fria como os partos atualmente são conduzidos, mas curiosamente nunca tinha pensado o mesmo sobre a morte.

Foi no Zen Budismo que encontrei algum tipo de consolo para essa minha “solidão”, o tempo da prática de Zazen se inicia e encerra com uma batida seca na madeira e uma voz dura que nos alerta: “O assunto mais importante da vida é a morte”. As práticas de Zazen (40 minutos de meditação sentada) me trouxeram mais serenidade e sabedoria para enfrentar a morte.

Hoje tenho feridas e mágoas muito profundas sobre maneira como o tratamento do meu pai foi conduzido, para com a forma como a medicina se aproximou das máquinas e se afastou do ser humano. A morte é o assunto mais importante da vida e, no entanto, nos falta bom senso e coragem para falar sobre ela.

Conforme o tempo passava e a doença ganhava força, eu ficava mais incrédula com a maneira como a possibilidade tão real da morte (não) era abordada. De todos os médicos que trataram meu pai apenas um soube abordar o tema com humanismo, ele conduziu a última cirurgia e conversou com a família sobre morte. Fora ele, nenhum médico soube falar de morte, ninguém falou de maneira clara com o paciente ou com a família sobre nada, principalmente, ninguém soube preparar o paciente para essa (tão real) possibilidade e conduzir de maneira humana essa batalha da morte contra a vida. Se para o paciente, amigos e familiares o processo de negação era bem compreensível, para os profissionais da saúde acredito que não.

Eu testemunhei incrédula e impotente verdadeiras “atrocidades” durante o processo todo em que estive em contato direto com os profissionais da saúde. Se os médicos e enfermeiros não sabem falar de morte, quem saberia? Me dei conta de que existe uma profunda desconexão nesse tema, muita hipocrisia e um grande descaso para a maneira como a vida humana é tratada. E essa ferida, tenho certeza, vai levar muito tempo para cicatrizar.

Um olhar mais atento e descobri que os médicos não estão sozinhos, acho que os religiosos lideram o topo da pirâmide. Talvez seja por isso que tenhamos nos desconectado ao longo dos séculos. As religiões ocidentais, muito diferentemente das orientais, separaram a morte da vida, nos levando à um apego excessivo para com a vida. A morte é um tabu. As pessoas nas Igrejas rezam pela cura, todo mundo fala em milagre e cura, ninguém menciona a morte.

 

O que sei hoje é que “Deus está com você” não consola ninguém na hora da morte e “Deus vai te curar!” menos ainda. Por favor não me peçam para colocar minha vida nas mãos de ninguém, nem de Deus. Quase dois meses de hospital e os padres e madres visitavam todos os dias, todos prometiam a cura através da vontade de Deus, ninguém falou em morte. E eu ficava cada vez mais incrédula da humanidade diante de tudo que estava vivendo. “A morte é o assunto mais importante da vida!”. E não existe verdade ao falar sobre ela.

Eu sei, é certo, ninguém quer morrer, nosso DNA é programado para lutar pela vida, nenhum ser vivo deseja morrer. Não é natural aceitar a morte de maneira passiva. Ninguém deseja morrer. Nem uma célula de câncer deseja morrer. Nem quem acredita no paraíso quer morrer para chegar nele. E qualquer pessoa, independente de credo ou religião, sofre ao perder alguém que ama. Isso é certo. Mas, mais certo que isso, é o fato de que ninguém sobrevive à morte. A morte é sagrada. O assunto da morte precisa ser abordado, com cuidado e respeito.

Certo dia, enquanto me escondia para que meu pai não me visse chorando, sentada no sofá, fazendo aquele constante exercício de absorver e respirar, respirar e absorver (para não desmoronar). O médico dele que passava por ali se aproximou e, entre algumas palavras de conforto, me aconselhou: “Devido ao histórico de doenças raras de seu pai e sua mãe, acho que você e seus irmãos deveriam fazer um aconselhamento genético”. Boa coisa que eu já estava sentada.

Pausa.

Por um breve momento lembrei-me daquele sentimento de burrice que me acometeu, o fator genético hereditário tampouco era algo que me havia ocorrido. Levei tempo para processar essa informação.

Nesse caso, penso, talvez a minha ignorância seja mesmo uma dádiva. Não basta tudo que vivi com minha mãe e meu pai, era a minha vez. Hoje tenho em minhas mãos uma escolha de enfrentar o conhecimento e quem sabe conformar-me com um diagnóstico que pode colocar fim à vida da maneira como hoje conheço. Tenho a escolha de reviver o pesadelo de tudo que a medicina, a tecnologia, a ciência e a religião não fizeram pelos meus pais.

Ou não.

Ou posso escolher viver na ignorância. Porque, independente de qualquer diagnóstico, a morte chega para todos. Ninguém deveria desejar viver eternamente. A finitude da vida é de fato a sua maior invenção.

Então optei pela burrice. Decidi transformá-la em uma burrice sábia, em minha aliada, na certeza de que, independente de meus genes bons e ruins, eu viverei cada dia como se fosse o último.

Hoje nada que faço é sem propósito: eu aprendi a amar com propósito, trabalhar, contar histórias, viajar, escrever, comprar, me alimentar e até beber com propósito, tudo que faço hoje é em profundo estado de gratidão e celebração, com sentido.

 

É preciso celebrar a vida todos os dias. E sei que quando eu me deparar com a morte novamente, ela me despertará milhares de novos sentimentos que novamente me convidarão à viver esse sentimento tão estranho que é a frustração. Mas fiz com a morte um acordo, independente de quanto tempo leve para a gente se cruzar novamente, em profundo respeito que tenho por ela, ela não me pegará mais desavisada. Eu não me esquecerei dela, hoje ela já me é familiar, hoje vivo cada dia como se fosse o último, pois um dia ele certamente será.

A tradução do vídeo:

“Não existe nada radicalmente errado em adoecer ou morrer. Quem te disse que iríamos sobreviver? Quem te deu a impressão que iríamos continuar eternamente vivos? E não podemos dizer que seria bom se seguíssemos vivendo pela simples demonstração de que se seguíssemos vivos nós nos “superpopularíamos”. Portanto, quando alguém morre é de fato honrável, pois ele está abrindo espaço para os outros. Se pudéssemos indefinidamente adiar nossa morte, nós não iríamos prolongá-la indefinidamente porque em algum momento nos daríamos conta de que não seria essa a maneira como gostaríamos de sobreviver. Para que mais teríamos filhos? As crianças nos dão a chance de sobreviver de maneira distinta, como se estivéssemos passando a tocha, para que não precisemos carregá-la eternamente. Há certo momento em que precisamos parar e dizer: “agora é a sua vez de trabalhar”. É o arranjo mais impressionante da natureza, nos permitir perpetuar nossas vidas através de outros seres e não somente através de nós mesmos. Porque a vida em si é renovada e através desse novo indivíduo e através da maneira como cada novo ser descobre a vida, nos recordamos de como é fascinante olhar as coisas simples da vida através do olhar de uma criança. Porque elas enxergam tudo de uma maneira que não está relacionada à sobrevivência e ganho. Quando atingimos um ponto em nossas vidas onde passamos a olhar para tudo como modo de sobrevivência ou ganho, então as formas e os arranhados do caminho deixam de conter magia em si. Então, quando isso se esgota e não conseguimos mais ver magia no mundo, nós não estamos mais preenchendo os propósitos do jogo da natureza e, portanto, ela segue seu curso. Dessa forma, morremos para abrir espaço para o novo; que traz em si uma maneira única e renovada de enxergar o mundo, para que a natureza seja sempre um jogo no qual manter a chama acesa sempre valerá a pena.” Alan Watts

Imagem de capa: patronestaff/shutterstock

Hábitos antigos que você deveria colocar em prática hoje

Hábitos antigos que você deveria colocar em prática hoje

Nossos avós faziam, você também pode fazer. Confira alguns hábitos do passado que fazem bem para nós e para o meio ambiente.

Muitas pessoas acham que o passado é algo chato e sem muita importância; outros, já pensam nele de forma saudosista e até tentam revivê-lo. Odiando ou amando, uma coisa é certa: podemos encontrar muitas dicas valiosas de como viver uma vida mais verde e com mais qualidade seguindo alguns hábitos praticados e aconselhados pelos mais velhos. Vamos a eles:

Ande mais

Nossos avós andavam bem mais do que a gente para fazer coisas simples do dia a dia. Tente fazer as pequenas tarefas sem a necessidade de ir de carro. Caminhar é bom para o corpo e para a mente. Se para você é impossível encaixar esse hábito durante o seu dia, tente depois do expediente. Caminhar melhora a sua pressão arterial, aumenta a sensação de bem-estar e afasta a depressão.

Cozinhe mais em casa

Cozinhar é algo que muitos consideram uma perda de tempo, principalmente tendo todas as facilidades dos serviços de delivery. Entretanto, cozinhar pode ser algo relaxante e prazeroso. Além disso, é um hábito que pode ser saudável, pois você escolhe os ingredientes e controla o modo de preparo. Dê uma chance para o “faça você mesmo”. Procure receitas rápidas e práticas. Transforme esse momento do seu dia em algo especial.

Cuide de um jardim

Tudo bem, muitos não têm espaço para ter um super jardim como nossos avós tinham. Mas uma planta ou flores em um vaso já fazem diferença. Qualquer coisa que você cuide e veja crescer já contribui para o seu bem-estar. O objetivo é ter um hobbie terapêutico, que te ajude a tirar a cabeça do trabalho e dos problemas. A horta vertical, fazendo uso de garrafas PET, é uma boa dica para quem não tem espaço. Fica super bonito e você ainda ajuda o meio ambiente, reutilizando em vez de descartar. Saiba como fazer.

Escreva cartas

Nós sabemos: faz bastante tempo que você não pega uma caneta e um papel e escreve uma carta pessoal para alguém importante e a coloca no correio. Todos sofremos do mesmo mal: a preguiça de escrever cartas quando se tem e-mail. Nossos avós faziam sempre, eles não tinham escolha. Mas nós temos. Pense que escrever uma carta hoje em dia demonstra atenção. E convenhamos: é bem mais gostoso receber uma carta no correio do que abrir um e-mail. Além disso, parar para escrever uma carta pode ser algo bem relaxante.

Faça mais uso de remédios naturais

Resfriado, tosse, dor de garganta? Por que não tentar remédios naturais primeiro, como nossos avós?

Cuide de suas roupas. Conserte-as quando necessário

O que pensamos quando vemos um furo em uma blusa é:
Jogar fora;
Simplesmente não usar mais.
Isso é uma perda de dinheiro e também uma agressão ao meio ambiente. Nos tempos dos nossos avós, remendar e reutilizar era muito comum. Adotar esse hábito é algo que tem muito a ver com sustentabilidade, com consumo responsável. Há também espaço para a criatividade: quando não dá mais para remendar, transformar uma peça em outra ou dar uma outra utilidade a ela também é uma boa solução.

Aproveite mais o sol

Moramos em um país tropical. E temos boa parte dos dias ensolarados e com bom tempo para secar a roupa naturalmente, no varal, como nossos avós. Utilizando menos a secadora, diminuímos o gasto com energia. Além de ser bom para o nosso bolso, também é bom para o meio ambiente, pois reduzimos nosso impacto sobre ele. De forma geral, tente ser mais consciente a respeito do usos de seus eletrodomésticos.

Utilize as coisas até que elas se acabem

Nossos avós não trocavam de TV assim como trocamos de camiseta. Eles usavam até todos “pifarem”. Ainda se tentava mandar para o conserto. Assim, quando não tinha mais jeito, comprava-se outra. É esse pensamento que devemos ter. Comprar menos e utilizar até quando puder. Sabemos que é difícil, pois as coisas hoje são feitas para durarem menos. Mas resista. Pelo menos, você não estará contribuindo para aumentar o tamanho de nossos aterros.

Recorra à cozinha na faxina

Sim, é verdade. Nossos avós encontravam na cozinha soluções para a sujeira. Recorriam muitas vezes ao fermento (bicarbonato de sódio) e ao velho conhecido vinagre.

Fonte indicada: Ecycle

É covardia cair fora do relacionamento já na primeira dificuldade

É covardia cair fora do relacionamento já na primeira dificuldade

O amor verdadeiro vence, dura e eterniza. Amor é arma pacífica, força afetiva, bem que espalha e se firma como verdade, a despeito do que vem contra.

Diz a sabedoria popular que tudo o que vem fácil, vai fácil. E é assim mesmo, parece que as coisas que conseguimos mais facilmente não têm o mesmo sabor do que é obtido com muito esforço e dedicação. Quando passamos em um vestibular ou em um concurso, quando somos aprovados em uma entrevista de emprego, quando construímos uma casa demoradamente, compramos um carro, economizando cada centavo, tudo isso nos dá uma sensação gostosa de realização e de vitória.

Da mesma forma, nossos relacionamentos se fortalecem em decorrência de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, por meio de cada entrave que conseguimos ultrapassar, cada superação, pois o que fica, então, é cada vez mais verdadeiro. Amizades que vencem desentendimentos, desencontros e momentos de desgaste são para a vida toda. Amores que se redefinem, que aparam arestas, que vencem os desencontros, as inseguranças e o orgulho se mantêm acesos.

Não raro, vemos casais cujos pais desaprovam a relação tornarem-se cada vez mais unidos, o mesmo ocorrendo com amigos, ou qualquer relação que seja. Temos o ímpeto de vencer, de superar, de sobreviver. Temos a necessidade de responder aos anseios do que corre dentro de nós, do que sonhamos, do que nosso corpo e nossa alma pedem. Fomos feitos para durar, para viver o que nos cabe, para gostar de quem quisermos, para amar quem nos arrepia a pele, para sermos felizes.

Na verdade, o amor possui uma força sem precedentes, capaz de romper preconceitos, clarear as dúvidas mais difíceis, unir o que jamais se imaginaria, provocar o que nunca se pensaria, tornar realidade os sonhos mais impossíveis, as loucuras menos plausíveis, as utopias menos concebíveis. Ele vem com tudo, arrebata, permeia, torna-se força e razão de existir. Quanto mais se tenta contê-lo, maior é a dimensão que ele alcança. O amor verdadeiro vence, dura e eterniza. Amor é arma pacífica, força afetiva, bem que espalha e se firma como verdade, a despeito do que vem contra.

Constantemente, com uma frequência muito maior do que gostaríamos, a vida colocará em xeque tudo aquilo em que acreditamos, de modo a tentar abalar as nossas certezas, deslocando-nos de nossa zona de conforto. São as provas de vida, as quais teremos que ultrapassar, para que tudo o que nos restar se torne ainda mais nítido e forte, pois será aquilo em que nos agarramos e nos salvou enquanto atravessávamos as escuridões das nossas noites traiçoeiras. E sempre sairemos vivos enquanto amor de verdade houver, amor lapidado, suado, sofrido e enraizado em nossa alma.

Imagem de capa: Andrey_Popov/shutterstock

Fique com quem seca tuas lágrimas e não com quem as multiplica

Fique com quem seca tuas lágrimas e não com quem as multiplica

Muitas pessoas acabam confundindo “lutar dignamente por algo que vale a pena” com “lutar feito trouxa por algo que nunca trará coisas boas”. Na ânsia de querer manter por perto o que pensamos ser nosso, perdemos a noção exata de nosso próprio valor.

Ninguém, em sã consciência, gosta de sofrer, de chorar, de amargar decepções, porém, há quem se prenda ao que faz mal, ao que suga, ao que diminui, por muito tempo. O normal seria que valorizássemos tudo o que nos faz sorrir, no entanto, na prática, muitas vezes nos aproximamos de algo ou de alguém que nada mais faz do que nos tornar infelizes.

Talvez por ser uma tendência humana querer o que é mais difícil, as pessoas acabam confundindo “lutar dignamente por algo que vale a pena” com “lutar feito trouxa por algo que nunca trará coisas boas”. Na ânsia de querer manter por perto o que pensamos ser nosso, perdemos a noção exata de nosso próprio valor, em favorecimento de quem não nos oferece nada de bom.

Parece que não adianta tentar explicar para algumas pessoas o quanto elas sofrem à toa por conta de pessoas dispensáveis e de coisas supérfluas, como se, ali, envoltas no calor de suas tempestades, nada mais fizesse sentido fora daquela dor a que infelizmente se acostumaram e tomaram como parte integrante de suas vidas. Porque a gente se apega facilmente, inclusive ao que machuca.

Anos de sofrimento não são capazes de clarear os pensamentos de muitos que acham que não conseguirão sobreviver longe de quem nem junto está, longe do emprego que nem crescimento traz, longe de lugares onde sua presença não faz falta alguma. O medo rouba sonhos, rouba o raciocínio, rouba vida. Medo do novo, do que não é certo, do que foge ao que posto está.

Há um mundo tão imprevisível à nossa volta, que tentamos manter certa segurança por perto, nas amizades, nos amores. Infelizmente, nesse percurso, muitos de nós acabamos segurando, não raro forçosamente, justamente o que não faria falta alguma e, inclusive, o que nos impede de seguir em frente em busca de nossa felicidade. Por isso é que há pouco reconhecimento e gratidão em relação a quem realmente merece. Por isso é que há tanta tristeza nesse mundo.

A partir do momento em que cada um refletir sobre o tanto que possui a oferecer, o tanto que tem de humano dentro de si, jamais haverá tanta gente se aproveitando de quem não merece. Quando sabemos o nosso valor, ninguém consegue nos ludibriar, ninguém entra no nosso coração sem oferecer reciprocidade. Falta amor no mundo, mas falta, principalmente, amor-próprio. Só se amando é que se tem certeza do que significa felicidade genuína, bem longe de quem só sabe anular sorrisos. Ame, mas ame-se também.

Imagem de capa: Novikov Alex/shutterstock

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