18 bons motivos para você correr o quanto antes para praia

18 bons motivos para você correr o quanto antes para praia

Título original: 18 coisas que apenas as pessoas que vivem perto da praia entendem

Por Vanessa-Jane Chapman

Para a maioria das pessoas a praia é um lugar para se passar as férias ou para um passeio ocasional. A ideia de viver em real proximidade com o mar pode parecer um sonho para os visitantes de temporada, mas como realmente vivencial a relação com o mar aqueles que vivem ao seu lado?

Aqui estão 18 coisas que só podem ser plenamente compreendidas por aqueles que vivem perto da praia.

1. Você entende que a praia não é apenas para o verão
Vestir algo quente e sair para uma caminhada em uma praia deserta no inverno é uma experiência única e revigorante.

2. Você sempre sentirá um certo orgulho
Afinal de contas, você vive em algum lugar em que as pessoas anseiam para visitar durante todo o ano.

3. Você descobriu que as soluções para a maioria dos problemas pode ser encontrado sentado na praia e olhando para a água
Da mesma forma, se você precisar de pouco de inspiração, você pode encontrá-la enquanto mergulha os dedos dos pés na areia.

4. Você tomará como um insulto pessoal quando alguém deixar lixo na praia
Você não deixaria lixo em seus quintais, então, como as pessoas ousam jogar lixo em sua praia?

5. Você sempre tem algo para fazer quando você mora perto da praia
Mesmo que seja apenas ficar sentado na praia-  que é uma maneira perfeitamente válida para passar o tempo- ao contrário de ficar sentado em qualquer outro lugar.

6. Você sabe que qualquer comida tem gosto melhor quando comida sentado na areia
Ainda melhor se ela for preparada na praia. Você já aperfeiçoou a arte de preparar e comer o alimento na praia sem ingerir areia ao mesmo tempo? Esta é uma habilidade que deve ser invejado pelo visitante ocasional da praia.

7. Você nunca se cansar da vista
Especialmente do pôr do sol.  E do nascer do sol. E, durante o sol do meio-dia.

8. Você aceitou que sua casa nunca vai ser completamente livre de areia
Assim como o seu carro, roupas, cabelo e animais de estimação.

9. Você pode categorizar instantaneamente os visitantes da praia segundo”tipos” específicos só de olhar para eles
Esta categorização permite prever o seu comportamento na praia e ainda proporcionando-lhe muitas outras horas de entretenimento.

10. Você espera nunca perder o encanto infantil de sua relação com a praia
O prazer de encontrar e recolher conchas bonitas ou de ouvir através de pequenas criaturas do mar não está reservado a crianças ou visitantes ocasionais.

11. Você sabe que não há som no mundo mais bonito do que o bater das ondas na praia
Assim como não existe melhor cheiro do que o do ar que vem do mar salgado.

12. Você está constantemente dividido com relação aos seus sentimentos em relação a turistas
Você entende que eles são essenciais para a economia da área, e você gosta de vê-los chegar, mas você gostaria que eles fossem ser menos invasivos com relação as praias paradisíacas da região, que houve um maior controle para que a natureza não seja destruída. Você quer ser simpático e acolhedor com eles, mas desejaria que, às vezes, eles mostrassem mais consideração por suas imediações e pelos residentes locais.

13. Seu guarda-roupa é 80% roupa de praia
No verão você pode facilmente esquecer que existem outros tipos de roupas.

14. Você respeita o poder do oceano
Você já o viu em seus melhores e piores dias e compreende a necessidade de respeitá-lo sempre.

15. Você ficar na defensiva se alguém compara sua praia desfavoravelmente a outras praias
Eles claramente não entenderam a sua praia e esta situação deve ser corrigida imediatamente.

16. Você equivocadamente acha que já viu de tudo
No entanto, todas as vezes que vai à praia sempre vê algo novo, sente algo novo, ouve algo diferente.

17. Você não não é capaz de entender como alguém pode não gostar de praia
Eles poderiam muito bem dizer que eles não gostam de respirar.

18. Você não pode imaginar viver em qualquer outro lugar
Você pode viver fora por um tempo, mas você sabe que voltará. Quem morou perto do mar sempre volta.

Do original  18 Things Only People Who Live By The Beach Understand

Traduzido e adaptado exclusivamente para o CONTI outra.

Imagem de capa: Rocksweeper/shutterstock.com

As mentirinhas perversas, por Fabrício Carpinejar

As mentirinhas perversas, por Fabrício Carpinejar

Protegemos nossas pequenas mentiras em vez de cuidar do relacionamento.

— O que está pensando?
— Por que fez aquilo?
— O que deseja?

Não respondemos o que vem à cabeça, filtramos o que seria mais importante falar, o que daria mais ibope, o que nos fortaleceria naquela situação.

A vontade de agradar é maior do que a vontade de ser verdadeiro.

Não aceitamos nossas imperfeições, e mascaramos os defeitos com imprecisões. A vergonha de errar nos leva aos grandes erros.

Sem querer, já estamos mentindo. E mentimos porque a verdade não impressiona. A verdade não tem roupa de festa. Ela fica abandonada enquanto exercitamos as mentirinhas. Não nos sentimos culpados, pois ninguém conhece a nossa verdade.
Batemos o pé por bobagens, compramos brigas desnecessárias, geramos discussões à toa.

Usamos a toalha do outro por engano. Pode estar encharcada e sustentamos que não foi a gente. Comemos um doce reservado na geladeira e somos capazes de jamais admitir a autoria e desfazer o mal-entendido. Quebramos um objeto na sala e fingimos que ele sumiu de repente.

Era algo simples de ser assumido, e deixamos passar. Criamos uma avalanche a partir de uma pedra de gelo.

Não confessamos o que aconteceu, e o costume ainda é incriminar quem nos chamou atenção, invertendo o jogo: – Não acredita em mim?
Trocamos a espontaneidade pelo orgulho, a franqueza pela persuasão.

Subestimamos quem nos escuta ou não nos julgamos dignos do que pensamos. Planejamos o nosso depoimento para soar natural. Premeditamos nossa conduta para receber somente elogios. Ao evitar os castigos e reprimendas, evitamos também a autenticidade.

Uma mentirinha é logo esquecida em nome de uma nova e não acompanhamos os juros.

A mentira é um modo de não ser julgado. Mas estamos nos condenando secretamente a nos afastar do que nos incomoda.

Nem é mentir no início de um relacionamento, o que é perdoável, é exagerar um pouco por dia. Sobre o emprego. Sobre o sexo. Sobre o amor. É falsificar nossa pobreza. Colocar uma manta para cobrir o sofá rasgado.

A partir de uma resposta mais agradável, desviamos o caminho, distorcemos algumas frases e somos obrigados a inventar todo um passado.

Prefiro estar acompanhado numa estrada real, ainda que penosa, do que viver sozinho em minha imaginação.

Imagem de capa: Reprodução

Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 17/11/2013 Edição N° 17617

10 filmes para repensar caminhos quando a vida parece perder o sentido

10 filmes para repensar caminhos quando a vida parece perder o sentido

A ausência de sonhos e perspectivas é um pedido de ajuda, merece um olhar delicado, acolhimento e suporte. A falta de perspectivas é um lugar, muitas vezes, povoado de culpa e vergonha, apontando para a necessidade de ampliarmos nossos corações nessas travessias, sem julgamentos, dando espaço para falarmos sobre os pedidos de cuidado que cercam essa vivência.

1-HEROIS IMAGINÁRIOS:

Uma típica família norte-americana vive uma rotina perfeita à primeira vista. Porém sob a aparência de normalidade esconde-se uma também típica família em crise. Tim (Emile Hirsch), o filho mais novo, experimenta as angústias da adolescência; seu pai, Ben (Jeff Daniels), vive atormentado pelos erros do passado; e sua mãe, Sandy (Sigourney Weaver), administra seu rancor com o consumo de drogas. E agora Sandy está prestes a revelar um terrível e doloroso segredo capaz de dividir os membros da família.

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2-O PRINCIPE DAS MARÉS: Tom Wingo (Nick Nolte) é um treinador de futebol americano desempregado da Carolina do Sul, que vai a Nova York apoiar a irmã, uma poetisa, que agiu contra a própria vida. Lá ele se envolve com Susan Lowenstein (Barbra Streisand), a psiquiatra que cuida dela, mas seu casamento em crise e seus filhos, além de um terrível segredo de família, perturbam sua mente.

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3-ELENA: Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar. Deixa Petra, a irmã de sete anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Tem apenas pistas. Filmes caseiros, recortes de jornal, um diário. Cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa de seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos. E acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.

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4-GENTE COMO A GENTE: A morte prematura em um acidente de um dos filhos de uma família de classe média alta acaba afetando a todos, principalmente o irmão da vítima, que se considera responsável pelo ocorrido e está em tratamento psiquiátrico. No entanto a mãe faz questão de manter as aparências, para não dar a entender que a unidade familiar foi quebrada.

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5-ENSINA-ME A VIVER: O relacionamento entre um rapaz de 20 anos com obsessão pela morte, que passa seu tempo indo a funerais e simulando atos contra a própria vida, e uma senhora de 79 anos encantada com a vida. Eles passam muito tempo juntos e, durante esta convivência, ela expõe a beleza da vida.

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6-O VALE DO AMOR: Isabelle e Gérard vão a um estranho encontro em Death Valley, Califórnia. Eles não se viam há anos e vão para responder a um convite de seu filho Michael.

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7-ORAÇÕES PARA BOBBY: Mary é uma religiosa que segue à risca todas as palavras da bíblia. Quando seu filho Bobby revela ser gay, ela imediatamente leva o filho para terapias e cultos religiosos com o intuito de “curá-lo”.

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8-INTERIORES: A aparente rotina de tranquilidade de uma família burguesa de Manhattan é abalada quando o pai decide abandonar a casa para viver com outra mulher.

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9-AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL: A história é narrada por um adolescente tímido e impopular que descreve a sua vida em uma série de cartas para uma pessoa anônima e explora as fases difíceis da adolescência, incluindo o uso de drogas e sexualidade.

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10-CANÇÃO DA VOLTA: Um dia, Eduardo chega em casa e descobre que Júlia, sua esposa, tentou se matar. Deixou o marido e os dois filhos, sem dar explicação. Algum tempo depois, ela volta para casa. Eduardo faz de tudo para recolocá-la nos eixos, mas a impossibilidade de conhecê-la por inteiro o aflige. A ressonância da perda e o inevitável fantasma de uma nova tentativa pairam sobre todos os envolvidos. Eduardo insiste em desvendar sua mulher, mas um ciúme crescente e a descoberta de um passado insuspeito passam a torturá-lo. Ele não percebe que, muitas vezes, a busca por controle transforma-se facilmente em obsessão.

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Sinopses via //filmow.com

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse

Por Ellen Nottohm

1) Antes de tudo eu sou uma criança.

Eu tenho autismo. Eu não sou somente “Autista”. O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

2) A minha percepção sensorial é desordenada.

Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam desapercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado.  A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro… Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não quero fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer)

Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não te compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto “BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João”. Ao invés disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: “João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar”. Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.

4) Eu sou um “pensador concreto” (CONCRETE THINKER). O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações.

Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz “não enche o saco”, quando o que você quer dizer é “não me aborreça”. Não diga que “isso é moleza, é mamão com açúcar” quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso e algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado.

Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado).
Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei  exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

6) Eu sou muito orientado visualmente  porque a linguagem é muito difícil para mim.

Por favor, me mostre como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer.

Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de “CONSERTO”. Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

8) Por favor, me ajude com interações sociais.

Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como “LER” expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorregador não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: “você esta bem?”.

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle.

Perda de controle, “chilique”, birra, mal-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido – ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma seqüência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição.

Elimine pensamentos como “Se ele pelo menos pudesse…” ou “Porque ele não pode…” Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda a minha chance de alcançar uma vida adulta digna será pequena. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: VAI VALER A PENA.

E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajudam a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma desabilidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho no olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com os colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho “Fenômeno” do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh. Eles também eram autistas.Talvez um dia iremos encontrar uma possível resposta para o alzheim ou para o enigma da vida extraterrestre – O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas “regras” sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor seja o meu amigo e nós vamos ver até onde eu posso ir.
CONTO COM VOCÊ!!!

A tradução do texto foi realizada por Andréa Simon do site autismo.com.br

Imagem de capa: Aleksei Potov/shutterstock

As nossas possibilidades de felicidade, um texto de Sigmund Freud

As nossas possibilidades de felicidade, um texto de Sigmund Freud

É simplesmente o princípio do prazer que traça o programa do objetivo da vida. Este princípio domina a operação do aparelho mental desde o princípio; não pode haver dúvida quanto à sua eficiência, e no entanto o seu programa está em conflito com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo como com o microcosmo. Não pode simplesmente ser executado porque toda a constituição das coisas está contra ele; poderíamos dizer que a intenção de que o homem fosse feliz não estava incluída no esquema da Criação. Aquilo a que se chama felicidade no seu sentido mais restrito vem da satisfação — frequentemente instantânea — de necessidades reprimidas que atingiram uma grande intensidade, e que pela sua natureza só podem ser uma experiência transitória. Quando uma condição desejada pelo princípio do prazer é protelada, tem como resultado uma sensação de consolo moderado; somos constituídos de tal forma que conseguirmos ter prazer intenso em contrastes, e muito menos nos próprios estados intensos. As nossas possibilidades de felicidade são assim limitadas desde o princípio pela nossa formação. É muito mais fácil ser infeliz.

O sofrimento tem três procedências: o nosso corpo, que está destinado à decadência e dissolução e nem sequer pode passar sem a ansiedade e a dor como sinais de perigo; o mundo externo, que se pode enfurecer contra nós com as mais poderosas e implacáveis forças de destruição; e, por fim, a relação com os outros homens. A infelicidade que esta última origina é talvez a mais dolorosa de todas; temos tendência para a considerar mais ou menos um suplemento gratuito, embora não possa ser uma fatalidade menos inevitável do que o sofrimento que provém das outras fontes.

Não é de admirar que, debaixo da pressão destas possibilidades de sofrimento, a humanidade esteja habituada a reduzir as suas exigências de felicidade, nem que o próprio princípio do prazer se modifique para um princípio da realidade mais acomodado sob a influência do ambiente externo. Se um homem se julga feliz, fugiu simplesmente à infelicidade ou a dificuldades. Em geral, a tarefa de evitar o sofrimento atira para segundo plano a de obter a felicidade. A reflexão mostra que há várias formas de tentar cumprir esta tarefa; e todas estas formas foram recomendadas por várias escolas de sabedoria na arte da vida e posta em prática pelos homens. A satisfação desenfreada de todos os desejos impõe-se em primeiro plano como o mais atrativo princípio orientador da vida, mas implica preferir o gozo à prudência e penaliza-se depois de uma curta satisfação. Os outros métodos, nos quais o evitar do sofrimento é o principal motivo, distinguem-se segundo a fonte de sofrimento contra a qual estão dirigidos. Algumas destas medidas são extremas e outras moderadas, algumas são unilaterais e outras tratam vários aspectos do assunto ao mesmo tempo. A solidão voluntária, o isolamento dos outros, é a salvaguarda mais rápida contra a infelicidade que possa surgir das relações humanas. Sabemos o que isto significa: a felicidade encontrada neste caminho é a da paz. Podemos defender-nos contra o temido mundo externo, voltando-nos simplesmente para uma outra direcção, se a dificuldade tiver que ser resolvida sem ajuda. Há na realidade um outro caminho melhor: o de cooperar com o resto da comunidade humana e aceitar o ataque à natureza, forçando-a a obedecer à vontade humana. Trabalha-se então com todos para o bem de todos.

Sigmund Freud, in ‘A Civilização e os Seus Descontentamentos’

Via Citador

Imagem de capa: Reprodução

A mentirosa liberdade – Lya Luft

A mentirosa liberdade – Lya Luft

Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido. Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não ser livres.

Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter de”. Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.

Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?

Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda agüenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?

Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise. Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.

Lya Luft

Imagem de capa: Reprodução

Amar é desapegar na medida certa

Amar é desapegar na medida certa

Por Marcela Alice Bianco e Juliana Santos

Dependência emocional, ciúmes, possessividade, controle e desconfiança! Quantos dos nossos relacionamentos são marcados por essas características tão destrutivas? Qual seria a origem de tantos males? Por que muitas vezes não conseguimos viver formas mais livres e genuínas de amor? Por que nos custa tanto o desapego, tão necessário às relações saudáveis?

O Psiquiatra suíço, C. G. Jung sabiamente afirmou que “as grandes decisões da vida humana estão, em regra, muito mais sujeitas aos instintos e a outros misteriosos fatores inconscientes do que a vontade consciente, ao bom-senso, por mais bem-intencionados que sejam”. Assim, para entendermos esta questão precisaremos ir a fundo nos aspectos que permeiam o relacionamento humano.

Há muito tempo as pesquisas em neurociências empenham-se em desvelar os meandros das relações humanas. Hoje, já é sabido que nosso cérebro executa sua plasticidade a partir das interações que nos proporcionaram, e das que fomos capazes de fazer ao longo de nossa vida. Ou seja, nosso futuro não é um fato isolado, mas uma consequência daquilo que oportunamente nos foi possível aprender e apreender desde que fomos concebidos, somados às nossas capacidades individuais. Assim, quando se trata de entender as relações, nos é necessário considerar o modo como estas são construídas desde a nossa infância.

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Somos essencialmente sociais e subjetivos! Quando bebês, carregamos dentro de nós um instinto de ligação e formamos com nossos cuidadores uma importante relação de apego. Ao mesmo tempo, eles também se ligam a nós. Este elo que se forma, fundamental ao cuidado e à proteção da vida, poderá oferecer ao indivíduo um senso de segurança, que lhe garantirá a sobrevivência psíquica, ainda que em ambientes ameaçadores.

As relações de apego são essenciais para a ativação e estimulação das nossas capacidades e habilidades, potencializando o crescimento humano. As primeiras interações são primordiais para que a criança crie registros de memória de segurança ou insegurança diante do mundo que a cerca. Esses vínculos poderão marcar o tom emocional que daremos aos fatos por toda a nossa trajetória de vida, influenciando nosso comportamento, nossa percepção da realidade e expectativa do futuro, em geral de maneira inconsciente.

Quando o cuidado ocorre na medida certa, crescemos com uma base segura e confiante! Serão sólidas nossa autoestima, independência e autonomia. Consequentemente, nos relacionaremos com os outros de maneira mais leve, harmoniosa e saudável.

Mas, esse carinho e proteção na dose ideal, não é tão fácil assim de acontecer. No nosso nascimento estamos condicionados à biografia dos nossos pais, à nossa genealogia e ao nosso self social e cultural. E no caminho da evolução humana temos encontrado inúmeros desafios para a realização plena dessa medida certa do cuidado.

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Dominados por uma cultura predominantemente patriarcal, desde cedo impomos regras para a expressão do amor. Tendemos a ditar o que é certo e errado, a traçar curvas de normalidade para os comportamentos, enquadrar e organizar as experiências humanas em padrões morais, estéticos, herméticos e racionalizados. O conhecimento e o relacionamento por meio da experiência dos sentidos e das sensações, mais ligados à experiência do matriarcal, ficam negligenciados e, por consequência, perdemos o contato com nossa essência e com os caminhos do amor verdadeiro.

Nesta continuidade histórica, podemos nascer em famílias despreparadas para oferecer essa relação de apego seguro, porque elas mesmas não vivenciaram tais experiências na construção de suas personalidades, levando à diante um ciclo contínuo de transmissão intergeracional de insegurança.

Muitas crianças sobrevivem hoje em lares devastados pela insuficiência de amor, nos quais prevalecem as relações de poder, de insegurança ou de indiferença. São envolvidas nas agressões, nos limites rígidos, nos descontroles, vícios, ciúmes, possessões, processos depressivos, choros contidos, isolamentos, distanciamentos afetivos e em tantos outros processos desumanizantes. Flagelos à alma ainda indefesa e em desenvolvimento, que fazem com que o amor e a capacidade de amar, cresçam minguados, confusos e solitários, precisando sempre testar a realidade do momento para determinar o próximo passo.

Crianças que vivem em ambientes assim, usurpam inadequadamente o uso de sua função intuitiva afim de proteger-se antecipadamente das consequências desestruturantes dos momentos de insegurança, negligência e terror, pelos quais passam. Elas aprendem que para sobreviver, é preciso se defender dos monstros que moram dentro e fora delas. Estas feridas emocionais podem perdurar pela vida inteira (veja também 5 feridas emocionais da infância que podem persistir na idade adulta).

Repetidas experiências de desamparo, provenientes da pessoa por quem a criança investiu energia, afeição e confiança, resultarão na incapacidade de ligar-se satisfatoriamente a outras figuras de apego ao longo da vida.

Segundo a psicóloga clínica Ana Maria G. Rios, “falhas nos relacionamentos interpessoais levam a dificuldades de criação de um sentimento de unidade e continuidade de si mesma na criança, sentimento este que constrói sua narrativa de vida através do passado, em direção ao futuro“.

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Fixada num comportamento egocêntrico, quando adulto, possivelmente verá diante de si dois caminhos: ou não se apegar mais a ninguém ou investir em relacionamentos afetivos marcados pela dependência, pelo ciúmes, possessividade, carência e controle. O Outro deverá viver, sintonicamente, atendendo seus desejos ou necessidades, caso contrário, estes adultos se desestruturam, vivenciando uma verdadeira experiência de luto, ou confusos, agem agressivamente na tentativa de reverter a situação e manter a pessoa amada por perto.

As feridas da infância são assim projetadas nas relações atuais, tanto porque não há outro repertório a ser usado pela pessoa, quanto porque a nova relação também constitui terreno fértil para a reconstrução do afeto e de novas conexões e caminhos neuronais, agora mais saudáveis e equilibrados. Cada novo amor é uma nova chance de aprender a amar e ser amado!

Assim, aqueles que se veem envolvidos em relações perturbadoras, dependentes e desestruturantes precisam amadurecer o afeto dentro de si! Rever, reajustar e ressignificar as primeiras relações de apego. Compreender quais as vias seguras e saudáveis para a vivência e expressão do amor. Porque se sufocarmos ou destruirmos o Outro por causa do nosso medo da solidão e do desamparo, também sufocaremos e destruiremos nossos próprios potenciais de humanização, autonomia, independência e segurança sobre as próprias bases, sobre os próprios pés.

Precisamos de apego para aprender o desapego! Para amar é preciso “desapegar na medida certa”!  Nem demais e nem de menos! Se amar é “Ser com o Outro”, há de se ter espaço para a expressão das individualidades e isto implica liberdade, segurança e confiança. Seja e deixe o Outro Ser! Só assim permitiremos que tanto nós quanto o Outro possa se sentir feliz, seguro e realizado. Para que o amor e o encontro sejam o que têm de ser:  um momento de plenitude e estímulo aos nossos potenciais de realização humana.

Para que o amor seja nosso antídoto e não nosso veneno. Para que ele permita a transformação e não a estagnação. Para que ele seja a luz que ilumina o nosso caminho e não as trevas que nos lançam na escuridão.

Para que através do amor possamos reconhecer o que há de melhor no Outro e em nós e assim, nos libertemos dos grilhões patriarcais da nossa história pessoal e de toda humanidade.

Para que as novas relações não sejam uma reprise dos nossos primeiros vínculos desajustados e insuficientes, mas que sejam nossa verdadeira salvação!

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Biografia

Bowlby, J. (1990). Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1969).

COZOLINO, L. The Neuroscience of Psychoteray: Healing the social brain. WW Norton & Company, 2010.

JUNG, C. G. Obras Completas. 7ª Edição. Petrópolis: Vozes, [1971], 2011, v. XVI/1

RIOS, A.M.G. Resiliência na infância. In: ARAUJO, C.A.; MELLO, M.A.; RIOS, A.M.G. (Orgs) Resiliência: Teoria e Práticas de pesquisa em Psicologia.  São Paulo: Ithaka Books, 2011, p. 42-67.

WHITMONT, E. C. A busca do símbolo: Conceitos básicos de Psicologia Analítica. São Paulo: Cultrix, 2008.

Autoras

contioutra.com - Amar é desapegar na medida certaMarcela Alice Bianco 

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

 

contioutra.com - Amar é desapegar na medida certa

Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

O olhar adulto, Rubem Alves

O olhar adulto, Rubem Alves

Foi ele mesmo que me contou, como confissão de cegueira, dando depois permissão para que eu relatasse o milagre desde que não revelasse o santo. Médico, chegou a seu consultório com seus olhos perfeitos e a cabeça cheia de pensamentos. Eram pensamentos graves, cirurgias, hospitais, e os doentes o aguardavam na sala de espera.

Entrou o primeiro paciente que se submeteu mansamente à apalpação médica. Terminada a consulta, escrita a receita, no ato de despedida ele fez um elogio: “Doutor, que lindas são as orquídeas na sua sala de espera!”

Meu amigo sorriu embaraçado, com vergonha de dizer que não havia notado orquídea alguma na sala de espera e que, portanto, nada sabia da beleza que o doente notara. Teve vergonha de revelar sua cegueira. Entrou o segundo paciente. Ao final da consulta, sem conseguir conter o que sentia, observou: “São maravilhosas as orquídeas na sua sala de espera, doutor!” Novamente o sorriso amarelo, sem poder dizer o que não sabia sobre as orquídeas que não havia visto.

Veio o terceiro paciente e a coisa se repetiu do mesmo jeito. Aí o doutor deu uma desculpa, saiu da sala, e foi ver as orquídeas que o jardineiro colocara na sala de espera. Eram, de fato, lindas. Mas aí veio o agravante, pois o paciente, não satisfeito com a humilhação imposta ao doutor cego, observou que, na semana anterior, a árvore dentro da sala de consulta, plantada num vaso imenso, num canto, não era a mesma que ali estava, naquele dia. Mas o doutor cego de olhos perfeitos não notara a presença da árvore naquele dia nem a presença da árvore na semana anterior…

Ah! Você se espanta que tal cegueira possa existir! Mas eu lhe garanto que é assim que funcionam os olhos dos adultos em geral.

Lá vão pelo caminho a mãe e a criança, que vai sendo arrastada pelo braço – segurar pelo braço é mais eficiente que segurar pela mão. Vão os dois pelo mesmo caminho, mas não vão pelo mesmo caminho. Blake dizia que a árvore que o tolo vê não é a mesma árvore que o sábio vê. Pois eu digo que o caminho por que anda a mãe não é o mesmo caminho por que anda a criança.

Os olhos da criança vão como borboletas, pulando de coisa em coisa, para cima, para baixo, para os lados, é uma casca de cigarra num tronco de árvore, quer parar para pegar, a mãe lhe dá um puxão, a criança continua, logo adiante vê o curiosíssimo espetáculo de dois cachorrinhos num estranho brinquedo, um cavalgando o outro, quer que a mãe veja, com certeza ela vai achar divertido, mas ela, ao invés de rir, fica brava e dá um puxão mais forte, aí a criança vê uma mosca azul flutuando inexplicavelmente no ar, que coisa mais estranha, que cor mais bonita, tenta pegar a mosca, mas ela foge, seus olhos batem então numa amêndoa no chão e a criança vira jogador de futebol, vai chutando a amêndoa, depois é uma vagem seca de flamboyant pedindo para ser chacoalhada, assim vai a criança, à procura dos que moram em todos os caminhos, que divertido é andar, pena que a mãe não saiba andar por não ter olhos que saibam brincar, ela tem muita pressa, é preciso chegar, há coisas urgentes a fazer, seu pensamento está nas obrigações de dona de casa, por isso vai dando safanões nervosos na criança, se ela conseguisse ver e brincar com os brinquedos que moram no caminho, ela não precisaria fazer análise…

A mãe caminha com passos resolutos, adultos, de quem sabe o que quer, olhando para frente e para o chão. Olhando para o chão, ela procura pedras no meio do caminho, não por amor ao Drummond, mas para não dar topadas, e procura também as poças d’água, não porque tenha se comovido com o lindo desenho do Escher, de nome Poça d’água, uma poça de água suja na qual se refletem o céu azul e os ramos verdes dos pinheiros, ela procura as poças para não sujar o sapato. A pedra do Drummond e a poça d’água suja do Escher os adultos não vêem, só as crianças e os artistas…

 

A mãe não nasceu assim. Pequenina, seus olhos eram iguais aos olhos do filho que ela arrasta agora. Eram olhos vagabundos, brincalhões, que olham as coisas para brincar com elas. As coisas vistas são gostosas, para ser brincadas. E é por isso que os nenezinhos têm este estranho costume de botar na boca tudo o que vêem, dizendo que tudo é gostoso, tudo é para ser comido, tudo é para ser colocado dentro do corpo. O que os olhos desejam é realmente comer o que veem. Assim dizia Neruda, que confessava ser capaz de comer as
montanhas e beber os mares. Os olhos nascem brincalhões e vagabundos – veem pelo puro
prazer de ver, coisa que, vez por outra, aparece ainda nos adultos no prazer de ver figuras. Mas aí a mãe foi sendo educada, numa caminhada igual a essa, sua mãe também a arrastava pelo braço, e quando ela tropeçava numa pedra ou pisava numa poça d’água, porque seus olhos estavam vagabundeando por moscas azuis e cachorros sem-vergonha, sua mãe lhe dava um safanão e dizia: “Olha pra frente, menina!” “Olha pra frente!” Assim são os olhos adultos. Olhos não são brinquedos, são limpatrilhos.

Servem para abrir caminhos na direção do que se deve fazer. Assim eram os olhos daquela minha amiga que os usava para cortar cebola sem cortar o dedo, até que, um dia, o olho que mora dentro dos seus olhos se abriu e ela viu a beleza maravilhosa do vitral translúcido que mora nas rodelas de todas as cebolas, e ela tanto se espantou com o que via que pensou que estava ficando louca…Coitados dos adultos! Arrancaram os olhos vagabundos e brincalhões de crianças e os substituíram por olhos ferramentas de trabalho, limpa-trilhos. Assim, eram os olhos daquele meu amigo médico: não viam nem as orquídeas nem as árvores que estavam dentro do seu consultório. Seus olhos eram escravos do dever. E ele não percebia que as coisas ao seu redor eram brinquedos que pediam aos seus olhos: “Brinquem comigo! É tão divertido!Se vocês brincarem comigo, eu ficarei feliz, e vocês ficarão felizes…”

Rubem Alves
Conheçam o Instituto Rubem Alves e participem de seus projetos.
Imagem de capa: Volodymyr Tverdokhlib/shutterstock

O amor é um filme que você já viu antes, mas esqueceu o final.

O amor é um filme que você já viu antes, mas esqueceu o final.

Eu vi a mim mesmo ali, começando de novo, esperando você em nosso primeiro encontro. Enxuguei nas calças o suor das minhas mãos e abri a porta, senti meu coração bater depressa. Vi você chegar, linda… linda, e ficar por aqui.

Ouvi nossas conversas de madrugada, revivi nossas saudades de todo dia. Provei outra vez o gosto ruim das incertezas do início e das distâncias entre nós, feito caqui amarrando na boca.

Revivi nossos almoços na manhã da tarde, nossas conversas sem mais, nossas angústias divididas sobre a mesa.

Sonhei outra vez os mesmos sonhos improváveis. Você e eu e os nossos numa sala de espera de aeroporto, aguardando o embarque para qualquer lugar bonito. Você passeando em cima de um camelo, fazendo mais belo um deserto inteiro só por estar ali. Vi o meu orgulho aplaudindo seu sucesso, seus discursos de formatura, sua ascensão profissional. Lamentei sua expressão cansada de quem volta do trabalho tarde da noite e ajudei como pude, esperando acordado a sua chegada.

Dei de novo o que tinha para dar, o melhor do que tenho, e já nem lembro o que recebi. Não importa. O amor há de ser isso mesmo, esse dar sem saber o que virá, sem esperar em troca. Essa oferta sem mais, essa certeza de amar e não saber se será correspondido. Se for, muito bem. Se não for, a gente capricha no amor próprio e vai em frente, procurar a nossa turma.

Eu vi de novo todas as nossas lembranças, as que aconteceram e as que nunca se realizaram. Vi você chegar do nada e mudar tudo, ora sorrindo ensolarada, ora chorando devastada. Eu vi você sentindo medo e sentindo amor. Vi você doente e rezei uma vez mais por sua saúde.

Eu fiz tudo isso de novo. Faria para sempre. Vi você chegar e vi você ficar. Assisti a tudo se passar assim, tão bonito, e a desaparecer tão breve, como mensagens que se apagam em segundos, somem sem deixar pistas. Eu também vi você partir.

E lá pelas tantas vi você voltar a seu mundo seguro, blindado. Para junto de quem a fez acreditar que as escolhas acabaram. Para longe de mim. Eu vi.

Eu vi você chegar, vi você estar e vi você passar. Vi tudo isso logo ali… na vida que segue sempre. A vida sempre segue e a gente segue com ela. Vai sentindo amor aqui e ali. Vai vivendo nosso filme que começa para acabar, que acaba para começar de novo. A gente vai vivendo.

Imagem de capa: vvvita/shutterstock

A maldade – Flávio Gikovate

A maldade – Flávio Gikovate

A maldade pode ser definida como um ato que provocará um dano indevido e intencional em outra pessoa. Trata-se de uma ação e não de reação.

As ações maldosas visam a obtenção de um benefício; podem derivar da associação do sexo à agressividade ou serem motivadas pelo desejo de autoafirmação.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução deste material.

Imagem de capa: Reprodução

Transtorno psiquiátrico não é deficiência de caráter

Transtorno psiquiátrico não é deficiência de caráter

Portadores de transtornos mentais sofrem de doença psiquiátrica; não são malucos, não são fracos, preguiçosos ou dissimulados. O transtorno mental requer tratamento médico, acompanhamento psicológico e uma rede de apoio estável. Requer, inclusive – e, talvez principalmente -, a adesão do paciente. Se o portador do transtorno não estiver disposto a acatar as orientações dos médicos e terapeutas, não compreender que o uso dos medicamentos – caso sejam prescritos – é inegociável, o manejo da doença torna-se praticamente impossível.

Em inúmeros casos, amigos e familiares dispostos a oferecer apoio e acolhimento, deparam-se com a resistência da pessoa doente em aderir ao tratamento, comparecer às sessões de terapia e tomar os remédios prescritos, conforme as orientações médicas. É preciso compreender que, além da doença, há traços de personalidade inatos, que podem favorecer a administração do transtorno, ou mesmo agravá-lo.

Ocorre que os males mentais trazem junto consigo muitas ideias pré-concebidas e discriminação. Os pacientes muitas vezes temem e até recusam o diagnóstico, por medo de serem rotulados e estigmatizados. Não são raros os casos em que as pessoas afetadas buscam ajuda, começam o tratamento, mas o abandonam. A interrupção terapêutica acaba ocorrendo porque os resultados custam um tempo para serem percebidos, o ajuste nas dosagens de reguladores de humor, ansiolíticos e antidepressivos depende de muita perseverança e podem gerar desconfortos iniciais, relacionados aos efeitos colaterais dos medicamentos indicados. Para agravar o quadro, o paciente não raras vezes sofre discriminação por parte de pessoas que deveriam ajudá-lo a administrar a doença e persistir no tratamento.
Ter um transtorno mental não deveria ser motivo de vergonha ou constrangimento, não é sinal de falha de caráter; é ter de lidar com uma doença complexa, constituída de fatores orgânicos e ambientais. A doença mental pode advir de predisposição genética, traumas na infância, situações extremas de estresse, desgaste físico e emocional; além de alterações ambientais e químicas cerebrais.

Indivíduos acometidos por transtornos de humor, quadros depressivos, ansiedade ou distimia (mau-humor crônico), sofrem alterações comportamentais importantes que provocam queda de desempenho em todas as esferas da vida: não conseguem cumprir com rotinas de trabalho, destroem relacionamentos afetivos, abandonam os estudos e sofrem com a dor de uma autoimagem distorcida e rebaixada. Tudo isso acaba acontecendo porque o transtorno psiquiátrico interfere na capacidade de concentração, na fluidez de raciocínio, nos níveis de energia física e, também, nos recursos de memória. Pesquisas recentes apontam a depressão como a segunda causa mais recorrente de invalidez no mundo.

Infelizmente, uma grande parcela da sociedade ainda pensa que só em casos de doenças mentais muito graves é que se deve recorrer a uma consulta psiquiátrica; quando a realidade é que a Psiquiatria é uma especialidade médica responsável pelo diagnóstico e tratamento de doenças que causam sofrimentos terríveis, e que geram interferências no comportamento, suficientes para arruinar a vida sentimental, laboral e social de um indivíduo.

Ainda há falsas crenças que reforçam a ideia de que depressão e tristeza são a mesma coisa; que transtorno bipolar é coisa de gente que não sabe o que quer, e que ansiedade é sinônimo de imaturidade. Ainda há quem acredite que alguém que teve a coragem de falar em suicídio está querendo chamar a atenção, e que quem quer se matar não avisa.

O fato é que os transtornos psiquiátricos são doenças tão fatais quanto os mais agressivos tipos de câncer. A diferença é que ninguém é julgado por ter câncer. Já o indivíduo depressivo, compulsivo ou ansioso é visto como alguém em quem jamais se poderá confiar.

Viver com transtornos mentais já seria um peso enorme sem essa carga injusta de posturas preconceituosas. Uma vez diagnosticados, os pacientes que forem fiéis aos tratamentos, podem conquistar de volta suas vidas, podem se sair muito bem profissionalmente, podem ter relacionamentos estáveis e reconquistar condições de vivências plenas e felizes.

Os rótulos impostos aos portadores de distúrbios psiquiátricos são, para dizer o mínimo, cruéis. Eles tiram da pessoa a perspectiva de lutar por objetivos e planos para uma vida futura satisfatória. O preconceito é muito mais letal do que a própria doença. O preconceito exclui, marginaliza e afasta o doente das oportunidades de tratamento e cura.

Existem inimigos concretos e terríveis a serem combatidos: a grande maioria da população portadora de doenças mentais não pode contar com atendimento psiquiátrico e psicológico de qualidade; não tem acesso a medicamentos, atendimento ambulatorial ou internação. O SUS (Sistema Único de Saúde), destina apenas 2% de seus recursos à saúde mental.

Resolver essas questões, tão graves, depende de amealhar recursos financeiros, contar com a mobilização da sociedade e com a implementação de políticas públicas eficientes na área da saúde. No entanto, o combate à estigmatização depende apenas da nossa vontade em abrir a mente e entender que o sofrimento psíquico é real e é tratável. Há casos incontáveis de pessoas que lutaram bravamente para vencer os desafios da doença e conquistar condições para retomar suas rotinas sociais, afetivas e de trabalho. E, mesmo assim, sofrem com a intolerância de pessoas que insistem em transformar o doente psiquiátrico em sua própria doença, negando-lhe a chance de seguir adiante. Comecemos, portanto, a curar nossas petrificadas e pré-concebidas certezas. Esse já seria um excelente começo!

Imagem meramente ilustrativa: cena do filme “As Faces de Helen”

As feridas do círculo familiar são as que mais demoram para sarar

As feridas do círculo familiar são as que mais demoram para sarar

Não podemos permitir que um passado familiar disfuncional e traumático afete o nosso presente e o nosso futuro. Devemos ser capazes de superá-lo e nos curarmos para sermos felizes.

As feridas geradas no círculo familiar causam traumas, carências profundas e vazios que nem sempre conseguimos reparar.

O impacto decorrente de um pai ausente, uma mãe tóxica, uma linguagem agressiva, gritos ou uma criação sem segurança e afeto trazem mais do que a clássica falta de autoestima ou os medos que é tão difícil superar.

Muitas vezes a dificuldade para resolver muitos destes impactos íntimos e privados está em um cérebro que foi ferido muito cedo.

Não podemos nos esquecer de que o estresse experimentado ao longo do tempo em idades jovens faz com que a arquitetura de nosso cérebro mude, e com que estruturas associadas às emoções sejam alteradas.

Tudo isso traz como consequência uma maior vulnerabilidade, um desamparo mais profundo que leva a um risco maior na hora de sofrermos de determinados transtornos emocionais.

A família é nosso primeiro contato com o mundo social, e se este contexto não nutre nossas necessidades essenciais, o impacto pode ser constante ao longo de nosso ciclo vital.

Vejamos a seguir, detalhadamente, por que é tão difícil superar estas feridas sofridas na época mais inicial de nossas vidas.

A cultura nos diz que a família é um pilar incondicional (embora, às vezes, erre)

O último cenário em que alguém pensa que vai ser ferido, traído, decepcionado ou até abandonado é, sem dúvida, no seio de sua família.

No entanto, isso ocorre com mais frequência do que imaginamos.

Estas figuras de referência que têm como obrigação dar-nos o melhor, oferecer confiança, ânimo, positividade, amor e segurança às vezes falham voluntária ou involuntariamente.

Para uma criança, um adolescente e até para um adulto, experimentar esta traição ou esta decepção no seio familiar supõe desenvolver um trauma para o qual nunca estamos preparados.

A traição ou a carência gerada na família é mais dolorosa do que a simples traição de um amigo ou companheiro de trabalho. É um atentado contra a nossa identidade e nossas raízes.

A ferida de uma família é herdada por gerações

Uma família é mais do que uma árvore genealógica, um mesmo código genético, que ter os mesmos sobrenomes.

– As famílias compartilham histórias e legados emocionais. Muitas vezes estes passados traumáticos são herdados de geração em geração de muitas formas.
– A epigenética nos lembra, por exemplo, que tudo que acontece em nosso ambiente mais próximo deixa um impacto em nossos genes.
– Assim, fatores como o medo, o estresse intenso ou os traumas podem ser herdados entre pais e filhos.
– Isso faz com que, em alguns casos, sejamos mais ou menos suscetíveis a sofrer de depressão ou reagir com melhores ou piores ferramentas diante de situações adversas.

Ainda que estabeleçamos distância de nosso círculo familiar, as feridas seguem presentes

Em um dado momento, finalmente tomamos coragem: dizemos “chega” e cortamos este vínculo prejudicial para estabelecer uma distância da família disfuncional e traumática.

No entanto, o simples fato de decidirmos dizer adeus a quem nos fez mal não traz, por si só, a cura da ferida. É um princípio, mas não a solução definitiva.

Não é nada fácil deixar para trás uma história, dinâmicas, lembranças e vazios.

Muitas destas dimensões ficam presas à nossa personalidade, e inclusive em nosso modo de nos relacionarmos com os demais.

As pessoas com um passado traumático costumam ser mais desconfiadas, têm mais dificuldade em manter relações sólidas.

Quem foi ferido precisa, além disso, se sentir reafirmado; anseia que os demais preencham estas carências, por isso muitas vezes se sentem frustrados porque poucas pessoas lhes oferecem tudo de que precisam.

Podemos chegar a questionar a nós mesmos

Este talvez seja o mais complexo e triste.

A pessoa que passou grande parte do seu ciclo vital em um lugar disfuncional ou no seio de uma família com estilo de criação negativo pode chegar a ver a si mesmo como alguém que não merece ser amado.

A educação recebida e o estilo de paternidade ou de maternidade em que fomos criados define as raízes da nossa personalidade e nossa autoestima.

O impacto negativo destas marcas é muito intenso; assim, muitas vezes a pessoa pode ter dúvida sobre a sua própria eficácia, sua valia como pessoa ou até se é digno ou não de cumprir seus sonhos.

Nosso círculo familiar pode nos dar asas ou pode arrancá-las. Isso é algo triste e devastador, mas verdadeiro.

No entanto, há algo de que nunca podemos nos esquecer: ninguém pode escolher quem serão seus pais, seus familiares, mas sempre chegará um momento em que teremos a capacidade e a obrigação de escolher como vai ser nossa vida.

Escolher ser forte, ser feliz, livre e maduro emocionalmente é algo essencial, daí a necessidade de superar e curar nosso passado.

Imagem de capa: altanaka, Shutterstock.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa.

A vida é um sério caso de recomeços

A vida é um sério caso de recomeços

No momento em que um amor encontra o seu desfecho, outro surge. E nesse breve intervalo, tudo pode mudar. Permita-se recomeçar, você merece. A vida está aí para isso, para agarrarmos novas felicidades com tudo o que tivermos em mãos e corações.

Reinicie-se. Não dependa das circunstâncias para que seja feliz novamente. Se a vida é realmente um sopro, cabe a você escolher como respirar essa oportunidade. Todos temos os nossos pontos fracos, mas isso não implica em não tentarmos mudar. A cada manhã temos uma nova janela para deixarmos o sol entrar, para encontrarmos uma nova vista, substituindo aquela que já não nos preenche mais. É sobre sermos seletivos e responsáveis com os nossos sentimentos. Podemos. Devemos, melhor dizendo.

Se o amor sorriu novamente, por que não aproveitá-lo? Por que esperar o pior por causa de um passado que já não é mais presente? Recrie-se. Faça parte da sua própria construção para novos instantes. Acredite, toda e qualquer forma de você, ainda é amor. Repare-se mais, feche-se menos. Saiba identificar os seus instintos e promessas. Alegre-se nas falhas e tente de um jeito diferente. Você não desiste fácil, não?

Precisamos aceitar que a vida não é uma questão de transbordar um sentido claro e de respostas únicas. Pelo contrário, a vida é quase sempre um punhado de dúvidas e sentenças subjetivas. Mas isso não é ruim ou pesado demais para os nossos ombros. Talvez seja um novo amor surgindo, não sei. De certeza mesmo, fica sobre o fim não ser exatamente definitivo. É só um novo caminho nascendo diante de você.

Imagem de capa: magic4walls

Segurar alguém a seu lado não é amor. É prisão domiciliar.

Segurar alguém a seu lado não é amor. É prisão domiciliar.

Ahh… moça. Se eu pudesse fazer alguma coisa. É triste, mas eu posso nada daqui para frente. Agora é consigo mesma.

Já lhe disse o quanto me dói assisti-la, tão brilhante, deixar-se amarrar por um sujeito vil disfarçado em pele de bom homem, o marido que comprou de seu pai o seu termo de propriedade e agora manda em sua vida, controla seus passos, vigia seus movimentos. Alguém que exige a sua presença em casa quando ele chega, que escolhe as suas companhias, que a exibe aos amigos e vassalos como uma caça aprisionada, um objeto comprado com vantagens, uma escrava que o teme e obedece. É triste, mas quanto mais perfeita você for, mais aumentará o poderio de seu dono, orgulhoso de poder cortar-lhe as asas quando queira.

Precisando, eu repito o que penso sobre alguém que em vez de amar a sua esposa sobre todas as outras mulheres do mundo, em vez de ajudá-la a ser o que ela nasceu para ser, em vez de celebrar a sua existência, prefere puni-la pelo simples fato de achar que ela o faz parecer inferior só porque decidiu ser o que ela realmente é. Prefere cobrar dela as coisas que ele tampouco faz. Em cínica e cruel deliberação, decide jogar nas costas dela a responsabilidade por sua própria incompetência como amante, parceiro, cúmplice. Então se põe a castigá-la por ter falhado ele mesmo como alguém que devia caminhar ao lado dela e defendê-la, protegê-la, tomar suas dores, ajudá-la a voar.

Repito o quanto precisar: é triste assisti-la morrer aos poucos, moça linda, na companhia de um tremendo idiota. É triste vê-la ali, logo ali… ao lado de sua filha, na mesa de um café, protelar o quanto pode o retorno para sua casa, sua prisão, para junto de um algoz ridículo e tacanho que a fez, à força, acreditar que você não tem mais escolha.

Se eu pudesse, moça, tiraria você daí. Abriria a porta da rua e a deixaria fugir. Como em minha antiga fantasia de destrancar as gaiolas dos passarinhos durante a noite. E imaginar as caras de seus proprietários patetas pela manhã, surpreendidos pela verdade óbvia de que não são donos de nada, muito menos de uma vida que nunca foi nem nunca há de ser sua.

Hoje é o dia da independência, moça. Você sabe. Pensei nisso cedinho. E pedi aqui comigo a Deus que lhe mostre o caminho da sua. Quem sabe Ele manda uma equipe de anjos conciliadores dar um jeito nisso. Ajeitar as coisas. Dar-lhe forças para reagir e fazê-la acreditar que sim, que você tem escolha. Que quem manda na sua vida é você e mais ninguém.

Se eu pudesse fazer alguma coisa, moça, eu faria. E faria de novo, de novo e de novo. Mas agora é consigo mesma. E a mim só me resta torcer por você.

Imagem de capa: siam.pukkato/shutterstock

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