Tentar diminuir o outro não te tornará melhor do que ele

Tentar diminuir o outro não te tornará melhor do que ele

Diga-me quais são suas qualidades, não adianta tentar denegrir o outro. Se alguém vier falar mal de uma pessoa de quem gosto, eu tenderei a defender justamente a pessoa de quem gosto. Porque eu não gosto das pessoas à toa; esse gostar tem uma história que o sustenta.

Lamentável notar que, ultimamente, a forma mais utilizada de argumentação vem a ser a difamação do outro, em vez de se comprovarem as próprias qualidades. É como se, destruindo a imagem alheia, a pessoa fosse conseguir se sobressair, como se, assim, enxergaríamos o que quem critica possui de positivo. Mas não é dessa forma que as coisas ocorrem.

Certos funcionários, por exemplo, não se cansam de falar mal dos colegas de trabalho, apontando falhas e defeitos no serviço deles, tentando, dessa maneira, despontar como os mais capacitados. Para tanto, espalham fofocas e maledicências a quem possa ouvir, em sucessivas tentativas de acabar com a imagem do outro, para que possam vir a serem reconhecidos pelos superiores como os melhores e mais competentes, querendo subir somente pisando quem atravesse seu caminho.

Da mesma forma, há quem tente diminuir as qualidades de alguém que, por ele, é visto como um oponente nas relações amorosas ou de amizade, não perdendo uma única oportunidade de disseminar histórias inverídicas e maldosas sobre essa pessoa, que seus devaneios delirantes classificam como um inimigo. Querem conquistar amizades e amores, geralmente em vista de interesses próprios, afastando as pessoas por meios antiéticos e mentirosos.

O mesmo se dá em relação à política. Muitos partidos nada mais fazem do que levantar atividades escusas dos oponentes, tornando públicas quaisquer notícias que denigram a imagem dos opositores. Raramente se veem propagandas exaltando as conquistas e avanços que o partido promoveu, uma vez que os ataques sistemáticos aos outros demais são recorrentes e ganham importância cada vez maior e mais frequente. Interessa, nesse contexto, destruir o outro e não melhorar a própria imagem.

Seria mais eficaz focar a si mesmo. Diga-me quais são suas qualidades, qual é o seu melhor. Não adianta tentar ficar atacando o outro, porque não é assim que alguém consegue mostrar a que veio. Se alguém vier falar mal de uma pessoa de quem gosto, eu tenderei a defender justamente a pessoa de quem gosto. Porque eu não gosto das pessoas à toa; esse gostar tem uma história que o sustenta. O que Pedro diz sobre Paulo me mostra mais sobre Pedro do que sobre Paulo – acho que Freud disse algo do tipo. Simplesmente melhorem.

Imagem de capa: wrangler/shutterstock

Liberdade caça jeito

Liberdade caça jeito

“Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras – LIBERDADE CAÇA JEITO.”
— Manoel de Barros.

Eduardo Galeano diz em um dos seus versos, que o mundo é formado por um mar de foguinhos, em que alguns são bobos e, portanto, não queimam nem iluminam nada; enquanto outros são loucos e incendeiam a vida com tanta vontade, que é impossível olhar para eles sem se espantar e pegar fogo.

A vida constantemente nos faz fogos bobos, pequenos, que não sentem o vento do mundo passar. Não é para menos, é preciso se dar um desconto. Há momentos em que tudo parece que vai desabar e nossa potência de ser diminui tanto, que não passamos, nesses momentos, de meras brasas procurando a todo custo manter a menor chama que seja acesa.

Em uma realidade como a nossa, em que há tanto com o que se preocupar, em que a cada dia surge uma nova coisa que “precisamos” fazer, “precisamos” ter, o tempo nos esmaga e urge sobre nós um peso tão grande das responsabilidades cotidianas, que a existência parece insustentável e nós esquecemos de ser. De ser gente, ser humano, ser nós mesmos. Ser o tempo, o mundo, a natureza e fazer sê-los parte inseparável do nosso ser.

No entanto, por mais que as condições sejam adversas e que, na maior parte do tempo, o mar pareça não estar para peixe, é preciso sentir o vento, convidá-lo para dançar, comer algodão doce de nuvem, nadar nas janelas do céu, mergulhar nos avessos, desamassar as almas. É preciso ser fogo grande, chispado, porque em nós habita o impossível e os nossos olhos têm fome de mundo.

Mesmo que não seja fácil, porque as propagandas dizem o contrário e prometem a felicidade eterna de jardins vigiados – como disse Manuel Bandeira – “Liberdade caça jeito”; embora seja necessário aprender a ser, a conhecer o mundo e se conhecer nele, na imensidão de foguinhos.

Pois só assim, a gente entende que é preciso queimar, para então, ser fogo, ter um deus dançando dentro de si e incendiar o universo com a alegria de almas que compreendem que somos instantes, mas que – quando nos tornamos tão luminosos quanto as estrelas do céu – nos tornamos infinitos.

Imagem de capa: nullplus/shutterstock

Não perca tempo com quem só sabe dar o contra

Não perca tempo com quem só sabe dar o contra

Não adianta, se dissermos que sim, dirão que não; se falarmos que é azul, afirmarão que é verde; se explicarmos que verdura faz bem para a saúde, contestarão cada palavra ouvida.

Vivemos tempos de exposição exagerada e de polêmicas inúteis, haja vista a rapidez com que as informações se propagam via net. Os mais variados assuntos são colocados à nossa frente, principalmente pelas redes sociais, bem como entramos em contato com pontos de vista diversos. E os assuntos veiculados acabam, assim, chegando às rodas de conversa fora da tela do computador.

O problema nem é o excesso de informações, muitas vezes distorcidas, que chegam até as pessoas, mas sim a forma como são analisadas, os tipos de comentários que provocam, as reações muitas vezes violentas que suscitam em alguns leitores. Os valores embaralham-se tanto, que aparece gente justificando violência, disseminando preconceito, defendendo desumanidade. Muitos destes, porém, nem opinam direito, só querem mesmo é dar o contra.

Parece haver uma necessidade de aparecer, entre algumas pessoas, uma necessidade de chamar a atenção dos outros. No entanto, saudável seria destacar-se pelo que de bom, útil e interessante a pessoa tem a oferecer, ao contrário do que muitos fazem: opinam contrariamente a todo e qualquer tema que seja, polemizando assuntos triviais, enxergando o que não existe. Como se diz, querem causar. E acabam causando, sim: ânsia, náuseas e vergonha alheia.

Não adianta, se dissermos que sim, dirão que não; se falarmos que é azul, afirmarão que é verde; se explicarmos que verdura faz bem para a saúde, contestarão cada palavra ouvida. Porque o prazer de algumas pessoas está em contradizer, contrariar, contestar, em refutar a tudo e a todos, indistintamente, muitas vezes com argumentos pífios. Defenderão sempre o oposto de tudo, em casa, no trabalho, na vida, seja sobre qual assunto for.

Sempre será saudável debatermos ideias com quem pensa diferente, afinal, é assim que amadurecemos nossos pontos de vista, mantendo-os ou repensando-os, para que percebamos que nem sempre a razão estará conosco. No entanto, tentar discutir com quem só sabe contestar, sem que consiga reanalisar o próprio pensamento, é perda de tempo, de saúde mental e de saúde física. Esse tipo de gente não merece que nos desgastemos por conta de suas birras. Gastemos energia com quem pelo menos sabe escutar e deixemos os demais gastarem saliva à toa.

Imagem de capa: pathdoc/shutterstock

Diante da sua insegurança, experimente dizer a si mesmo(a) o que diria a uma criança assustada.

Diante da sua insegurança, experimente dizer a si mesmo(a) o que diria a uma criança assustada.

Querido(a) leitor(a), esse texto é dedicado aos pequenos desafios que você tem enfrentado para superar aquela limitação ou dificuldade que tanto afeta a sua auto confiança. Eu disse pequenos desafios, no sentido de compará-los ao que talvez as pessoas que te cercam esperam de você, ou mesmo ao quanto você se cobra. Entretanto, são passos de grande magnitude se comparados à grandeza do que isso simboliza em termos de enfrentamento dessa dificuldade. O que quero, na verdade, é que você mude a forma como percebe as suas ações. Por gentileza, não menospreze o seu esforço diante do enfrentamento de uma dificuldade. Não sei ao certo o que você considera como a sua “pedra no sapato”, pode ser o medo de falar em público, ou o pânico de pegar um carro e dirigir mesmo sendo habilitado(a), quem sabe seja a necessidade de emagrecer, etc. Não importa o que seja, importa é que você precisa comemorar qualquer atitude que fizer em prol da superação desse desafio. Sabe, o mundo em que vivemos já é competitivo por demais e a tolerância tem se tornado uma moeda cada vez mais escassa. Diante disso, precisamos trabalhar a nossa paciência diante das nossas próprias dificuldades. Por exemplo, se você é habilitado e tem medo de dirigir, eu gostaria que você festejasse a cada vez que você se dispusesse a enfrentar essa limitação. É simples: se você pegou o seu carro e foi até a esquina, você já está de parabéns, pouco importa se o carro apagou várias vezes, ou se o seu desempenho não foi como você esperava. Importa é que você foi valente o suficiente para dar um passo, passo esse que vai fazer a diferença no seu processo de superação. Ainda que tenha ficado com muito medo, não se sinta fracassado(a), sinta-se um(a) corajoso(a). Entenda que a cada vez que você enfrentar essa situação, você estará se fortalecendo diante dela, é como encher um copo com água, gota a gota. Sabe o que possivelmente pode estar te atrapalhando demais? Essa mania que você tem de se cobrar perfeição, essa mania cruel que você tem de se comparar aos outros. Basta que você entenda uma coisa: o outro possui habilidades que você não tem, mas você também possui habilidades que o outro não tem. Ocorre que você fica sempre focado(a) nas habilidades alheias, enquanto menospreza as suas habilidades e aptidões. Tenha compaixão por suas fraquezas, e acolha-as como você acolheria uma pessoa muito querida ou mesmo uma criança que você ama muito. Se você presenciar uma criança aprendendo a andar de bicicleta e ela cair algumas vezes e vier chorando em sua direção dizendo que vai desistir de aprender a pedalar, que não dá conta e tal, como você se comportaria com essa criança? Provavelmente, você se agacharia até a altura dessa criança, a olharia nos olhos, enxugaria as lágrimas dela e diria frases motivadoras e acolhedoras como: “você vai dar conta, sim.”…”Isso é normal, cada um tem um ritmo para aprender.”…”Vamos tomar um banho,descansar e mais tarde, você tenta novamente”…”Você vai aprender, sim, eu tenho certeza”. Estou certa? Então, por que você não fala essas frases para você mesmo(a) diante de uma dificuldade? Pouco importa se o mundo inteiro está te achando um desastre ou um caso perdido, importa é que você não pensa isso a seu respeito. Seria tão mais fácil se você não ficasse focado(a) na perfeição e conseguisse enxergar a beleza de cada passo que você dá ao enfrentar essa dificuldade. Eu vi essa beleza materializada no dia 10 de setembro de 2017. Minha amiga, Glaciele Gerônimo, que é habilitada e tem muito medo de dirigir, chegou em minha casa dirigindo o carro dela. Aquilo me emocionou muito, pois havíamos combinado de irmos ao parque fazer um caminhada, então imaginei que o marido dela a trouxesse até minha casa, como aconteceram algumas vezes. Daí, no horário combinado, chegou uma mensagem no meu celular: “Amiga, estou aqui embaixo”…desci ao encontro dela e a avistei em frente ao portão do meu prédio na condição de condutora do próprio carro. Meu coração sorriu diante do privilégio de assistir, num fim de tarde de domingo, um espetáculo chamado resiliência.

Imagem de capa: FamVeld/shutterstock

É preciso aprender a respeitar o silêncio do outro

É preciso aprender a respeitar o silêncio do outro

Sempre achei a pergunta “no que é que você está pensando?” uma invasão tremenda de privacidade. Observei a vida toda os distraídos serem pegos de surpresa por esse questionamento tão desnecessário e invasivo em certos momentos.

Os calados incomodam. Incomodam e por isso, são incomodados. Foi o que aprendi a partir do momento em que passei a me reunir com aglomerados de pessoas em reuniões, encontros e festanças. Incomodam por pensarem demasiado e por observarem demais. Ao final da noite, é inevitável. Alguém comenta que você não falou quase nada e todas as cabeças se voltam para sua pessoa. “Você passou a noite só observando, não é? Agora fale alguma coisa!!!”. Eles dizem como se tivéssemos cometido um crime ao não expormos um tanto de nossas opiniões e histórias. A gente se sente assim mesmo. Como se tivesse cometido um crime.

Você que é considerado “expansivo”! Faça o exercício de calar-se um dia para ver. Será bombardeado. “O que tu tens hoje?”, “qual o teu problema?”, “o que foi que aconteceu?”. Se a resposta for “não foi nada” você provavelmente será acusado de estar mentindo. Pelo que vejo vida afora, parece que é inconcebível a ideia de que alguém esteja calado só por estar.

É que o silêncio inquieta. O silêncio constrange. O silêncio é uma interrogação perturbadora que não nos deixa deixar de questionar quem se deixa levar por ele. Tão complicado quanto a oração anterior, é entender que este silêncio, por vezes, precisa ser respeitado.

Tem gente que pede socorro silenciando, por outro lado, tem gente que acha seu conforto no silêncio. Há pessoas só precisam de pequeno empurram para entrar na conversa, outras nem adianta insistir. Alguns são simplesmente tímidos, outros, tímidos e calados. Neste último caso, bom-senso! Pra quê constrangê-los?

Às vezes, sim! Seu entende querido precisa de alguém para trocar algumas palavras, às vezes, está simplesmente viajando em seus próprios pensamentos e ideias e quer ser deixado em paz.

De fato, a paz de não ser o centro das atenções e poder conversar consigo mesmo é tudo que queremos em algumas situações.

Todavia, urge dentro de nós algo que quer a todo custo preencher os silêncios. Preencher nossos silêncios, preencher os silêncios dos outros. Por isso falamos, falamos, falamos. Falamos exaustivamente e invadimos sistematicamente a privacidade alheia para não dar de cara com o silêncio. Por que será?

Talvez seja por isso que a prática do respeito ao silêncio do outro se faz tão urgente em nós. Para descobrirmos o motivo de querermos evita-lo a todo custo. O silêncio do outro diz algo sobre ele sim, mas a dificuldade em respeitar este silêncio diz tanto quanto ou mais… sobre nós mesmos.

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A geração que descarta afetos

A geração que descarta afetos

Vivemos em tempos críticos. O amor na era do Tinder. Relacionamentos descartáveis a serem escolhidos como quem escolhe o que beber na mesa de um bar. Oferta e demanda crescente quando tratamos dos nossos sentimentos. No simples toque, escolhemos onde distribuir o nosso carinho. Acontece que, o poder gerado disso, carrega cada vez mais solidão. Poucos sabem ou reconhecem oportunidades para mais afetos. Obviamente ninguém é obrigado a mergulhar em outros braços sem sentir vontade, mas essas disponibilidades momentâneas acarretam muito mais distâncias do que proximidades. Ainda assim, não há nada de errado com o Tinder e outros aplicativos compromissados com encontros. Longe disso. O problema maior reside em nós.

A vida anda corrida. Mal podemos nos dar ao luxo de termos um tempo só para nós, quanto mais para conhecer alguém. E se você conhece alguém na rua, fatalmente perde o senso de direção e iniciativa no curto espaço no qual reflete: inicio ou não uma conversa? O que ela (e) irá pensar? No passado isso poderia significar coragem. Hoje, talvez um passo de medo ou até abuso. Porque no fundo, estamos perdendo a nossa capacidade de interagir no mundo real. Ao menos não da mesma forma em que a geração passada fora acolhida. Isso é preocupante? Sem dúvida. Mas também botar na conta dos meios disponíveis não chega a ser um veredicto justo. Porque somos confusões sentimentais que perambulam nas nuvens e nas ruas. Essa falta de tempo mencionada no início, resulta na falta de autoconhecimento. Muita gente não sabe o que quer, mas acha que sabe o que diz. Daí quando nasce um sentimento para ser distribuído, lambanças e mais lambanças no momento de expressá-lo.

O amor não vive de medo, mas nós vivemos de medo do amor. Os afetos que tanto queremos e soltamos nas linhas e diálogos, assusta-nos. Dosamos meias palavras e recebemos meios sentimentos. Por quê? Relacionamentos tornam-se descartáveis a partir do momento no qual não sabemos proporcionar carícias. De nada adianta fazer prece pelo amor de dois e agir pelas regras do querer de um. Gabriel García Márquez escreveu intensamente em O Amor nos Tempos de Cólera: “Nunca teve pretensões de amar e ser amada, embora sempre nutrisse a esperança de encontrar algo que fosse como o amor, mas sem os problemas do amor”.

Mesmo na possível crítica do autor quando se refere – mas sem os problemas do amor, talvez, sem qualquer disparidade, Márquez estivesse querendo agir sobre os nossos problemas do amor. Na maneira como o enxergamos e o mantemos. Assim, nessa vista turva e grossa de egoísmos e vaidades que já não podem caber em qualquer abraço.

Primeiro você se encontra e, depois, quem sabe, transborde. Não descarte afetos para depois reivindicar carinhos. O amor não precisa viver de aparelhos, mas do nosso conhecimento em querer tê-lo.

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Você é o último amor da minha vida

Você é o último amor da minha vida

Acho que já deu, você não acha? Já tivemos a nossa cota de amores ao longo da vida. Se eles não aproveitaram, que sorte a nossa. Agora somos um do outro. A partir de hoje, você é o último amor da minha vida.

O passado foi o nosso primeiro encontro e, apesar de não termos percebido naquele momento, ali começou o que viria a ser esse amor todo. Estávamos cada um em uma outra história, em um outro abraço. Seguimos acreditando ser para sempre, mas esquecemos que o para sempre só funciona se visto por dois. Laços foram desfeitos e resolvemos focar nas vidas dos nossos. Fizemos o certo, fizemos o que podíamos. Mas a conta não batia. Ainda que sobrasse amor para os outros, e o nosso? Não havia um nome, mas não era ausência.

Felizmente, a vida tem sempre razão. Amor leva tempo e encontros requerem sorte. Foi quando, numa tarde sem expectativas, o nosso presente sorriu. Trocamos histórias e experiências pelos olhos do outro. A felicidade finalmente pousou na nossa janela sem a intenção de ir embora. Tratamos logo de acabarmos com as desculpas. Chegou a hora. É você, sou eu.

A minha mão fica bem na sua. O meu coração é tranquilo perto do seu. Você é o último amor da minha e não posso sequer discordar disso. O amor com você é tudo, menos um sonho. Na verdade, vejo cada sentimento futuro alinhado em nossos dias. Sinto paz, sinto imensidão.

Eu te amo.

*O texto acima é uma celebração ao amor para minha mãe, que está casando de novo e passa muito bem.

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj, Shutterstock

A gentileza é intuitiva, ser egoísta é uma escolha

A gentileza é intuitiva, ser egoísta é uma escolha

Ao contrário do que muitos pensam, a gentileza não é uma escolha, e sim um instinto natural do ser humano. É o que indicam as pesquisas científicas feitas sobre o assunto até agora. E mais: como aponta o Science of Us, as pessoas aprendem a ser egoístas e escolhem o ser em determinadas situações.

Um dos principais exemplos é um experimento realizado em 2012 por professores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Com o objetivo de descobrir se a natureza humana é egoísta ou gentil, os pesquisadores recrutaram universitários e os dividiram em grupos de quatro. Cada estudante recebeu uma quantia de dinheiro e teve a opção de separar um pouco do valor para ser multiplicado e distribuído entre o restante dos participantes. Os participantes ganhariam algo mesmo sem compartilhar, mas apesar da tentação de ser egoísta, a maioria das pessoas escolheu por contribuir com o restante.

A gentileza vai além: um estudo realizado por psicólogos da Universidade Yale, nos Estados Unidos, afirma que o primeiro instinto das pessoas é cuidar e salvar os outros. Os pesquisadores entrevistaram várias pessoas que tinham se arriscado por desconhecidos. “A maioria das pessoas acredita que somos instintivamente egoístas, mas nossos experimentos mostram que quando as pessoas dependem de seus instintos, elas são mais cooperativas”, explicou o psicólogo David Rand, de Yale, em entrevista ao Nautilus.

Os pesquisadores sugerem ainda que o egoísmo aparece quando as pessoas param para pensar antes de tomar uma atitude. Ou seja, a gentileza faz parte do instinto, o egoísmo é uma escolha.

Domine seus sentimentos ou alguém fará isso por você

Domine seus sentimentos ou alguém fará isso por você

Somos ímpares e amamos de forma singular. Há quem defina amor como tempestade, outros como calmaria. Há quem prefira viver com ciclones no estômago, enfrentar turbilhões de sentimentos e perder o controle das situações, enquanto outros preferem a tranquilidade de um amor seguro. E tudo bem! Na verdade, a teoria e forma de amar pouco importam, o que realmente, faz diferença é saber diferenciar um amor que te proporciona paz de um amor que te tira ela.

Amar virou um objetivo de vida. O medo da rejeição, da solidão e de encarar a própria companhia faz com que pessoas incríveis aceitem “qualquer forma de amar”, tornando-se escravos de um sentimento que deveria ser libertador. Gustave Le Bom, psicólogo e sociólogo francês, dizia que “o homem que não sabe dominar os seus instintos, é sempre escravo daqueles que se propõem satisfazê-los”.

Romantismo à parte, as pessoas precisam entender que essa teoria de que nossas emoções são incontroláveis e dominam nossa mente é tão ridícula quanto fraca. Se pensarmos na situação que gerou a emoção, somos capazes de controlar até a dor (e isso não é brincadeira). Resumindo: as emoções dão sentido a nossa vida, mas o controle sobre elas nos dá equilíbrio.

Quando somos capazes de entender nossas emoções e utilizá-las de forma sadia, somos capazes de discernir entre relacionamentos bons de relacionamentos doentios e, isso, já é uma grande coisa.

Saber identificar a maldade alheia, não se envolver com quem não está disposto a amar e dominar os próprios sentimentos são atitudes de quem reconhece o próprio valor e, sabe que, poucas coisas, valem a sua paz.

Você pode se sentir carente, mas isso não te dá o direito de implorar a presença de alguém. Você pode amar muito, mas não pode obrigar o outro a sentir o mesmo. Respeito, limites e bom senso são desenvolvidos no silêncio da alma e não na gritaria do corpo.

Amor é paz. Indiferente da teoria que deram ou da falta de ar que ele traga. Enquanto você for controlado pelas emoções, sua vida será uma montanha russa e seus relacionamentos estarão fadados ao fracasso, já que conviver com pessoas desequilibradas e inconstantes é insuportável.

Ser sensível é diferente de ser carente. Ser impulsivo é diferente de ser corajoso. Falar o que pensa é diferente de ser sincero. Lembre-se que ou você domina os próprios sentimentos ou alguém fará isso por você.

Imagem de capa: MillaF/shutterstock

Não guardo mágoas, mas não sofro de amnésia

Não guardo mágoas, mas não sofro de amnésia

Não precisamos esquecer o mal que nos fizeram, mas sim retirarmos dele forças para que não mais nos façam o que tanto nos magoou, para que não mais sejamos enganados, passados para trás, traídos, diminuídos, nunca mais.

Nossa sobrevivência e lucidez emocional em muito dependerá daquilo que resolvermos guardar dentro de nós e de tudo o que estivermos mantendo junto a nossas vidas. Quanto mais peso, quanto mais mágoa, quanto maior a dificuldade em sorrir, menos forças teremos para buscar a felicidade que tanto desejamos. Prosseguir sempre implicará deixar para trás o que for inútil, mesmo que doa, de início.

Tentar dar certo, no amor, na amizade, na profissão, é necessário, porém, jamais poderemos nos estender além dos limites de nossa dignidade nesse caminho. Não somos acostumados a perder, em nenhum setor de nossas vidas, pois queremos sempre acertar e fazer as escolhas certas. No entanto, isso não pode, em hipótese alguma, impedir-nos de desistir de coisas, de pessoas, de situações que não mais se sustentam.

Infelizmente, seremos surpreendidos negativamente em muitos momentos de nossa jornada, porque simplesmente nem todo mundo nos entenderá, nem todo mundo pensará como nós, nem todo mundo trará retorno por tudo o que oferecermos. Seremos mal entendidos, nossas palavras serão mal interpretadas, usarão nosso melhor da pior forma. Amargaremos muitas decepções e de quem mais amamos, de quem menos esperávamos.

Logicamente, ficaremos muito magoados e juntaremos raiva e mágoa à decepção, pois, num primeiro momento, perderemos o chão e nada parecerá fazer sentido. Com o tempo, porém, será necessário digerir, aos poucos, as mágoas que carregamos, no sentido de torná-las cada vez mais distantes, menos pesadas, menores, até que se transformem em lições. Sim, lições de tudo o que deveremos evitar e de todos de quem deveremos nos distanciar.

Por essa razão é que não precisamos esquecer o mal que nos fizeram, mas sim retirarmos dele forças para que não mais nos façam o que tanto nos magoou, para que não mais sejamos enganados, passados para trás, traídos, diminuídos, nunca mais. Juntar mágoa paralisa e enfraquece, mas transformar cada experiência em fortalecimento emocional é o que nos tornará mais aptos a enxergar em cada novo dia uma nova chance de ser feliz.

Imagem de capa: Tanya Shatseva/shutterstock

Não gaste mensagens com quem não te responde, não gaste palavras com quem não te escuta

Não gaste mensagens com quem não te responde, não gaste palavras com quem não te escuta

Sentimento não se cobra, não se mendiga, não se compra. Amizade requer amor e carinho, é sentimento verdadeiro. As pessoas que gostarem de nós não precisarão ser lembradas de que existimos, pois já estaremos guardados em seus corações.

O tempo é cada vez mais precioso, uma vez que a vida moderna nos enche de compromissos com tudo aquilo que não nos dá prazer. Por isso mesmo, os momentos que temos para desfrutarmos sem responsabilidade agendada deverão sempre ser preenchidos com sorrisos sinceros, com gente de verdade, onde consigamos ser alguém querido e amado com verdade.

Infelizmente, tudo o que é mais difícil e longínquo parece acabar prendendo mais a nossa atenção do que aquilo que já é certeza e serenidade. Quantos de nós não sofremos por alguém que não nos ama? Quantos de nós corremos atrás da amizade de quem já comprovou, pelas atitudes, que não nos quer tão bem assim? Quantos de nós ficamos sonhando com o que jamais será, menosprezando tudo o que já é?

Mantermos planos, sonhos, ambicionando galgar degraus mais altos, não é ruim, pois é assim que a gente conquista e vence os obstáculos da vida. No entanto, esse percurso jamais poderá ser construído através de procedimentos antiéticos, tampouco às custas de perdas das quais nos arrependeremos. Não podemos nos esquecer de quem sempre caminhou ao nosso lado, de quem ficou junto, mesmo quando nada tínhamos a oferecer, ou nos veremos num lugar bem alto, mas solitário e vazio.

Já existe muita coisa fazendo parte de nossas vidas. Já há alguém que gosta de nós, com amizade sincera. Já estamos conseguindo sobreviver às tempestades, porque sobrevivemos a 100% de nossos piores dias. Quem foca tão somente o que ainda não possui não terá tempo de aproveitar os momentos prazerosos que pode ter junto a quem está ali pertinho. E mais, se ficarmos olhando somente para o alto, não conseguiremos nos desviar dos buracos à nossa frente, ali embaixo.

Sentimento não se cobra, não se mendiga, não se compra. Amizade requer amor e carinho, é sentimento verdadeiro. As pessoas que gostarem de nós não precisarão ser lembradas de que existimos, pois já estaremos guardados em seus corações, ao passo que outras pessoas nunca serão parte de nossas vidas. É preciso aceitar essa dinâmica, bem como o fato de que nunca seremos unanimidade, pois assim seremos poupados de jogar tempo e energia pelo ralo.

Imagem de capa: Sergey Edentod/shutterstock

Rigidez mental: Quando sua forma de pensar te impede de crescer

Rigidez mental: Quando sua forma de pensar te impede de crescer

Por Tales Luciano Duarte

Albert Einstein disse que “a mente que se abre a uma nova ideia nunca retorna ao seu tamanho original.” No entanto, abrir a mente é um exercício complicado, muito mais do que gostaríamos de admitir.

Na verdade, já começamos a construir a rigidez mental a partir do nascimento. Cada aprendizagem abre novas portas, mas também fecha outras.

À medida que crescemos e formamos nossa própria imagem do mundo, já estamos cheios de estereótipos, preconceitos e crenças que são muito difíceis de remover. No entanto, a rigidez mental não se refere apenas às ideias, mas, acima de tudo, a maneira de pensar.

A rigidez mental nos torna prisioneiros, pois diminui nossa capacidade de adaptação, criatividade, espontaneidade e positividade. Nos prendemos a velhos padrões que nos impedem de crescer intelectualmente e emocionalmente.

Na verdade, as pessoas rígidas mentalmente são aquelas que:

– Pensam que só há um “modo adequado” de fazer as coisas.

– Assumem que a sua perspectiva é a única correta e que o resto das pessoas está errado.

– Não estão abertas à mudança porque isso as assusta.

– Se apegam ao passado e recusam se mover.

Mas, se há alguma coisa que caracteriza pessoas com rigidez mental, é o desejo de ter razão a todo custo. Elas não percebem que este desejo é extremamente prejudicial porque a possibilidade de estarem erradas e cometerem erros é, justamente, a principal ferramenta de aprendizado e crescimento.

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Nós não podemos crescer, não podemos realmente assimilar novos conhecimentos, seja a nível intelectual ou emocional, se não nos dermos conta de que o que sabemos ou cremos pode estar errado ou, pelo menos, ser insuficiente.

Na verdade, uma das principais características das pessoas que têm uma certa flexibilidade mental é serem capazes de perceber que decisões erradas não são “más decisões”, e sim que qualquer decisão é boa se for seguida por uma outra decisão: a de vermos o lado positivo disso.

Flexibilidade mental é justamente saber que qualquer decisão que tomamos, sempre abre diante de nós um mundo de possibilidades.

Portanto, a flexibilidade mental consiste em estarmos dispostos a aceitar a possibilidade de equivocar-nos, não ter medo dos erros e tentar entender e abraçar as coisas novas ou pontos de vista diferentes dos nossos.

A Rigidez Mental como resistência inconsciente

contioutra.com - Rigidez mental: Quando sua forma de pensar te impede de crescer

A pessoa que desenvolve uma maneira muito rígida de pensar, de certa forma, está se protegendo. De fato, a rigidez mental pode também ser entendida como uma resistência psicológica. Em certo ponto, pois quando uma ideia vai contra ao que se pensa, a pessoa experimenta uma sensação estranha que lhe confunde, paralisa e faz com que se feche às razões.

Assim, muitas pessoas simplesmente rejeitam o argumento, sem analisar. No entanto, a boa notícia é que, quando isso acontece, é porque algo no seu interior se dá conta que há um problema, algo precisa ser resolvido, embora o processo seja doloroso.

De fato, em muitos casos, perceber que algo que você acreditava cegamente por anos não é verdade, ou pelo menos não é toda a verdade, pode causar uma dor enorme que pode dar lugar a uma crise existencial.

Como Abrir a Caixinha

A boa notícia é que a flexibilidade mental é uma habilidade que pode ser desenvolvida e aprendida.

1. Concentre-se em suas emoções.

Quando você está tentado a rejeitar completamente uma ideia, observe como você se sente. Se você se sentir desconfortável com o que você ouve, é provável que a rigidez em sua maneira de pensar esconda uma resistência inconsciente.

Pergunte a si mesmo de que tem medo. Se você responder honestamente, irá descobrir muitas coisas. Na verdade, quanto mais medo você perceber que sente, mais será capaz de iluminar essa resistência.

2. Alimente o desejo de crescer.

A curiosidade continua sendo uma das ferramentas mais poderosas que temos à nossa disposição para crescer como pessoas.

Em vez de aceitar as velhas ideias, pergunta-se: “Por quê?”. Se começar a se questionar sobre tudo que você sempre deu como certo, não só encontrará respostas novas como também descobrirá um novo mundo, muito mais vasto.

3. Desenvolva empatia.

Em muitos casos, você provavelmente não concordará com as ideias, as formas de pensar e atitudes dos outros. No entanto, em vez de rejeitá-los de imediato, tente se colocar no lugar deles para entender de onde vêm esse ponto de vista.

Se você rejeitar o que não sabe ou não gosta, você será a mesma pessoa de antes, mas se você tentar entender o outro, terá caminhado um passo além e crescerá.

4. Abrace os erros.

Ter certa flexibilidade mental significa não ter medo dos erros, significa estar disposto a aproveitar as novas oportunidades, mesmo que isso signifique se equivocar.

Trata-se de entender a vida como um contínuo aprendizado, onde cada erro não é um passo atrás, mas sim um passo a frente em nossa evolução, pois nos permite desfazermos velhos padrões já enraizados.

5. Não busque a verdade absoluta.

Toda vez que assumimos uma verdade como um fato imutável, significa que paramos de olhar nessa direção e, portanto, começamos a morrer um pouco todos os dias nessa área. Assim, é importante não se prender a uma única maneira de ver as coisas e manter uma mente aberta.

O mais importante para se livrar da rigidez mental é não buscar a verdade absoluta, simplesmente, porque ela não existe.

Quem se afeiçoa à ferida, nunca se cura

Quem se afeiçoa à ferida, nunca se cura

Sabe quando você era criança e ficava cutucando o machucado e ele nunca sarava? Pois é, depois que crescemos, muitas vezes, fazemos o mesmo.

Veja bem, quem se afeiçoa à ferida nunca se cura. Quem se prende ao que traz sofrimento acaba sofrendo para sempre. A vida é feita de ciclos nos quais passamos sim por dores, no entanto, devemos passar e não ficar nelas.

Quem volta para a mesa onde o amor não está mais sendo servido, se alimenta de ingratidão. Quem visita àqueles que trancaram as portas, encontra indiferença. Quem se torna marionete das vontades dos que não se importam, acaba órfão de si.

Deixa a tua ferida sarar. Sem uma morosidade mórbida ou ansiedade louca para isso. O tempo é um ótimo remédio. Deixa ele agir. Deixa ele curar as dores.

É comum que nos afastemos de algumas situações e depois de um tempo, mais fortalecidos, decidamos voltar ao passado para acertar as coisas. Mas ao voltar, comumente, percebemos que por mais evoluídos que possamos estar, existe ali uma situação tóxica que, em momento algum, nem no passado, nem no presente, nem no futuro nos trará qualquer tipo de contentamento.

Algumas pessoas e situações não valem a pena. Alguns caminhos não levam à lugar algum. Nem todos sabem amar. Alguns vivem de fazer sangrar corações. Outros de menosprezar e entristecer. Alguns até mesmo sentem prazer em usar pessoas como se fossem coisas.

Deixa o tempo soprar tuas feridas! Levanta e segue em frente.

Mostre-se assim bonita e curada. Não adia a tua felicidade cutucando dores que te fazem lembrar de situações tristes e pessoas vazias de amor.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain.

Canalhas também envelhecem!

Canalhas também envelhecem!

Eu cresci aprendendo que devemos sempre respeitar pessoas idosas e concordo com isso. Concordo porque devemos respeitar qualquer ser humano, independentemente de sua idade ou de qualquer outra coisa. E devemos respeitar também suas limitações e incapacidades. Então, do mesmo jeito que devemos respeitar a inocência e a falta de experiência de vida das crianças, devemos respeitar também a fragilidade de pessoas idosas.

O que não devemos fazer é transformar pessoas idosas em pessoas automaticamente boas e transformar todos os vovôs e vovós deste mundo em santos, pois não são, não todos.

Já não me agrada a forma como costumamos falar dos idosos, como se eles fossem gente diferente, uma espécie à parte, como se os “velhinhos” não fossem nós amanhã e como se nós não fôssemos o passado deles. O idoso é gente como todo mundo, gente que foi jovem e envelheceu, do mesmo jeito que todos nós vamos envelhecer – se tivermos a sorte de (sobre)viver até lá. O idoso não é gente diferente, é gente igualzinha a nós, só que em outra fase da vida.

Uma pessoa idosa estudou e trabalhou, pagou impostos e viveu sua vida dentro de suas possibilidades. Ela não caiu neste mundo já como pessoa de idade avançada. Ela foi criança, adolescente, foi jovem, atravessou a meia-idade e viveu com tudo que se tem direito.

Se uma pessoa viveu uma vida egoísta, se só pensou em si e nas próprias vantagens, talvez com mau-caratismo e safadeza, essa trajetória de vida não se anula porque avançou a idade. Seu caráter não melhora simplesmente porque ela envelheceu.

Eu era criança quando presenciei duas brigas. Primeiro de uma mulher com outra, essa outra já idosa. A briga foi feia, a mais jovem gritou com a idosa e a xingou de um monte de coisas, até que a idosa começou a chorar e foi embora.

Aí começou outra briga de outras pessoas com a mulher por ela ter sido tão dura com a “coitada da vovozinha”, acusando-a de não ter respeito pelos anciãos. A mulher ficou uma arara e berrou: Canalhas também envelhecem!

Escutei aquilo e nunca esqueci, pois fazia sentido para mim. Se alguém viveu sua vida como um canalha, por que ele deixaria de ser canalha na velhice?

É claro que realmente o avanço da idade pode contribuir para que a pessoa amadureça, já que, afinal de contas, o tempo nos ensina muita coisa. As cabeçadas que damos contra a parede e os cascudos que tomamos da vida também.

A experiência de vida pode sim suavizar muita gente, torná-la mais serena, mais responsável, mais autocrítica e até mesmo mais dócil, mas também há o contrário, com gente amargurando um pouco mais com cada ano que passa, gente que luta contra a natureza da vida, que não aprende com as porradas tomadas e insiste no caminho egoísta, que não desapega, que envelhece sem se livrar da carga inútil que colecionou por aí, as mágoas, a inveja, o ciúme, o orgulho, a ganância, a avareza e mais meio mundo de coisas que não prestam para nada.

Tem gente que não aprende, que não suaviza, que insiste em espalhar na velhice os mesmos venenos que espalhava no passado ou mesmo veneno pior, muitas vezes escondido atrás da máscara de “velhinho indefeso e frágil”.

Sim, os canalhas envelhecem, assim como os idiotas, os hipócritas, os fofoqueiros, os trapaceiros, os falsos, os bandidos, os perversos, os narcisistas, enfim, todos mesmo.

Como já disse, tem gente assim que consegue melhorar, que aprende e amadurece. Nunca devemos esquecer disso. Alguém que foi muito mau-caráter no passado pode ter amadurecido, reconhecido os próprios desvios e se tornado uma pessoa boa. Envelhecer também renova, sempre que estamos abertos para isso.

Mas isso não é automático, não é todo mundo que envelhece que se torna bom. Muitos idosos por aí aprontam e aprontam muito. Tem gente idosa que não vale a dentadura que tem na boca.

Como disse no início, devemos respeitar os idosos porque devemos respeitar todos os seres humanos. E devemos respeitar também suas limitações e incapacidades. Assim, devemos ter sim cuidado com sua fragilidade, relevar seus problemas de saúde, mas isso não significa que devemos santificar idoso algum. Temos o direito de criticá-los e de não concordarmos com seu comportamento e temos o direito de dizer isso a eles, mesmo que devamos sempre dar um desconto por causa da idade avançada e maneirar na intensidade.

Se alguém se comporta como um canalha, para mim ele é um canalha, tanto faz sua idade. E não acho que só envelhecer seja suficiente para melhorar o caráter de ninguém. “Canalhas também envelhecem” continua fazendo sentido para mim.

Imagem de capa: OneSmallSquare//shutterstock

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