A gente só sabe que ama, depois de ter tido a necessidade de perdoar.

A gente só sabe que ama, depois de ter tido a necessidade de perdoar.

Na vida, a gente só sabe que ama alguém, a gente só tem o direito de dizer a alguém que a amamos depois de ter dito infinitas vezes a esse mesmo alguém a frase: eu perdoo você. Porque na verdade a gente só sabe que ama, depois de ter tido a necessidade de perdoar. Antes do perdão a gente pode ter admiração por alguém, mas admirar alguém ainda não é amar, porque admiração não nos leva a dar a vida pelo outro.

Admiração é um sentimento, uma situação superficial, eu admiro aquela pessoa, mas eu sei que amo depois de ter olhado nos olhos, saber que errou, que não fez nada certo e ainda sim eu continuar dizendo que “eu não sei viver sem você”, “apesar de ter errado tanto continuas sendo tão especial para mim”.

A gente sabe que ama as pessoas assim, depois de ter feito o exercício de olhar nos olhos no momento que ela não merece ser olhada e descobrir ainda ali uma chance, ainda não acabou.

Coisa boa na vida é a gente encontrar gente que nos trate assim com esse nível de verdade, gente que nos conhece de verdade, que já foi capaz de conhecer todas as nossas qualidades, mas também todos os nossos defeitos, porque eu não sou só qualidades, eu tenho um monte de defeitos, e só me sinto amado no dia que o outro sabe dos meus defeitos e mesmo assim continua acreditando em mim, muitas vezes nosso amor não é assim, a gente ama o outro pelo que ele faz de certo ou de bom pra nós, e as vezes até elegemos o outro assim “ele é bom demais pra mim”.

E o dia que deixa de ser? Deixou de ser amigo? No dia que falhou, que errou, que esqueceu, no dia que não conseguiu acertar, continua tendo valor pra você? Ou você só ama aqueles que conseguem lhe fazer o bem? Jesus disse que não tinha mérito nenhum em amar aqueles que nos amam, que o mérito está em amar o outro mesmo quando ele não merece ser amado, eu sei que é um desafio, mas essa é tua religião.

Eu creio que não há descanso maior para o nosso coração do que encontrar alguém que nos ama assim, e eu gostaria que você levasse pra sua vida somente as pessoas que te amam assim, com essa capacidade de olhar nos teus olhos quando você não consegue fazer nada de certo, e mesmo assim continua sendo teu amigo e continua acreditando em você.

Deixe entrar na sua vida, somente as pessoas que querem te fazer melhor, porque gente que nos diminui nós já estamos cheios. Amigos de verdade são aqueles que nos desafiam, são aqueles que nos momentos que estamos na lama, nos olham nos olham e dizem ‘você não foi feito pra isso’. Amigo de verdade é aquele que olha nos olhos e nos coloca para sermos mais.

Namorado de verdade é aquele que olha nos teus olhos e te respeita como mulher, que te acha linda, mas que te respeita como mulher porque sabe que tu és um coração que muito mais do que necessitado de ser abraçado e de ser tocado, é um coração que merece ser amado, e o amor vem antes do toque. Quem foi que disse que beijar na boca é declaração de amor? Pode até ser uma das demonstrações, mas eu tenho certeza que seu coração se sente muito mais amado no momento que você é olhado de um jeito certo, do que beijado de qualquer jeito!

Antes de você entrar na vida de uma menina, olhe bem nos olhos dela e tente fazer com que ela descubra que você ama só olhando pra ela, olhe de um jeito que ela se sinta amada, e se você olhar do jeito certo, você não precisa ter ciúme, porque a mulher que for olhada de um jeito certo, nunca mais vai querer encontrar outro olhar.

O homem que for olhado de um jeito certo, nunca mais vai querer outro olhar. Você ainda pode mudar o seu jeito de amar, você ainda pode mudar o seu jeito de viver, você ainda pode mudar o seu jeito de sorrir, você ainda pode perdoar aquele que você não quer perdoar, você ainda pode tratar bem aquele que você desprezou tanto, porque a vida ainda te dar a oportunidade de você se tornar muito melhor do que você é.

Padre Fábio de Melo

Imagem de capa: chainarong06/shutterstock

Da inveja, da cobiça e do ciúme

Da inveja, da cobiça e do ciúme

Perceber o abuso e a injustiça é coisa que deixa sempre muita indignação. Ainda mais quando vem de quem foi escolhido para ser o parceiro de lutas e gozos de uma vida. É por aí que passeia um filme que sugestivamente tem o nome de Grandes Olhos. Muito porque a inveja é o personagem central, mas também porque é como ficaram conhecidas as crianças pintadas por Margaret Keane, cujo marido usurpava a autoria, sob o pretexto de melhor comercializar seu trabalho em uma sociedade machista dos anos 60, que não valorizava o ofício feminino.

Inveja é daquelas palavras bem feias, que alguns nem gostam de pronunciar, ninguém quer por perto e jamais admite de verdade que sente. Até entre os sete pecados, consegue ser menor. Zuenir Ventura quando foi convidado a escrever sobre o tema, de cara deu uma explicação boa pra isso: “O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde.” Anda nas sombras e nem sempre vai sozinha. Tem alguns companheiros de armas de posse, como a cobiça e o ciúme, que por vezes até se confundem com ela, mas devem ser vistos na sua individual corpulência e mesquinhez.

A cobiça é, de modo geral, querer o que não se tem. É aceita e até cultivada. O seu problema está no meio para se conseguir, em tomar como alvo um algo alheio e, principalmente, na conjunção de ambos. Se você estabelece uma meta e corre atrás, beleza. Cobiça boa. Se pisa no que vai pela frente…

Os ciúmes – dito aqui no plural por ser sentimento complexo – relaciona-se com não querer perder o que se tem. Se para isso não são medidos esforços ou limites, é certa a ruína de todas as partes. Reza a lenda dos amores, que em dose pouca apimenta a relação, e há quem considere prova de zelo. Mas ciúme é coisa que amofina, mata em vida e jura em morte. Exige atenção.

Já a inveja… ah… essa não tem lado desculpável e muito menos cara boa. Inveja é querer que o outro não tenha… é só ficar feliz com a infelicidade alheia…. e agir para que isso aconteça. É daninha, covarde e mentirosa. Não faz caso e não tem lei. Transita etérea e disfarçada entre os desejos.

Se tudo é questão de querer, vale lembrar que permeando os anseios circulam as cismas. Um belo dia cisma-se de querer, ou que alguém quer o que é seu, ou de não querer que o outro tenha. Nascidas de uma ideia vista, sugerida ou imaginada, de repente se tornam pensamentos insistentes ou obstinados… e comandam o tal querer. Do mesmo modo que do nada pode-se aparecer na mira de algum amado, amigo oculto, inimigo declarado, desconhecido… e, sem motivo aparente, virar objeto de querências absurdas. Com redes e armadilhas tão disfarçadas em querer bem que, no quando do atino, já perdeu-se de si, dos seus sonhos, da sua fé.

É justo o que acontece no filme onde, a certa altura, Margaret começa a se dar conta da teia de dolo, dor e mentira em que se encontrava. Aos poucos ela vai percebendo que, artista talhada em todos os matizes, podia ter todo o nome e toda a cor. Marinho, cor de noite pousando no céu. Celeste, cor de raso profundo de mar. Marfim, bege areia, nuance cor de ar em movimento, vento… até o roxo cor de cobiça de quem é cinza cor de sombra! Pois eis onde estão e eis a questão: Cor incomoda quem não sabe cor. Salta aos olhos por onde tudo passa… sejam eles grandes, gordos ou mal olhados. De quebra ou de quebranto. Há que se estar alerta, com a figa no dedo pra quem for de encanto, com a reza pro santo pra quem se agarrar, com a paz bem no peito pra nunca envergar. E, principalmente, com olhos sempre nos olhos. Para que de todas as cismas que se aproximem, a mais persistente, seja uma menina teimosa e travessa que venha acordar toda manhã. E se chame esperança.
::: Margaret Ulbrich após o casamento passou a assinar Keane na vida oprimida, na arte que não imitava nada e nas telas que retratavam crianças tristes, com olhos enormes. Sem talento para negociação, insegura e com uma filha pra criar, conseguir um novo marido que lhe desse arremedo de afeto e cuidado, mesmo que lhe enganasse, ainda era lucro. Walter Keane, por sua vez, possuía um carisma cafajeste, mas foi um dos primeiros a descobrir como transformar arte em produto de massa. Roubava as meninas dos olhos, mas tinha visão. Nessa história real contada por um Tim Burton muito sutil, faltam justamente as suas cores singulares e o seu traçado forte. Atuações competentes de Amy Adams e nem tanto de Christoph Waltz, dão vida a uma história que merecia muito ser contada e merece tanto quanto ser vista. :::

Imagem de capa: Cena do filme “Grandes Olhos”, sobre a vida de Margaret Keane

Por uma vida com mais celebração e menos celebridade.

Por uma vida com mais celebração e menos celebridade.

Para mim não dá. Eu passo. Não quero e não aceito a celebrização industrial da vida. Para ser “alguém”, ninguém precisa ser famoso. Cá entre nós, um mundo onde há mais celebridades do que motivos para celebrar é um lugar doente.

Nada contra o sujeito renomado, o cantor de sucesso, a ilustre modelo e atriz. Mas aqui em casa nenhum deles é mais célebre que o meu pão com ovo de gema mole.

Vão me perdoar os editores das revistas de fofoca, mas celebridade para mim é qualidade do que é célebre. Célebre é o que se deve celebrar. E celebrar, entre outros significados, é acolher com festa.

Pode parecer nada, mas eu tenho mais motivos para festejar meu pão com ovo em casa do que para aplaudir um casal televisivo furando a fila de um restaurante, passando à frente dos anônimos que ali esperam para pagar por uma refeição só porque trabalha na novela.

Olhe ao redor. Já viu quantas celebridades instantâneas estourando aqui, ali e em todo canto? Saúde a todas elas! Mas eu acho mesmo é que nos falta bons motivos para celebrar. Aliás, falta a cada um de nós reconhecer o quanto há de celebridades em nossas casas e o quanto não as reconhecemos como tal.

Fosse o mundo mais justo, nosso banho depois do trabalho seria a estrela das celebridades. Você chega em casa, o corpo cansado da lida, a cabeça pedindo remanso, e ele está lá. À espera. Pronto para levar pelo ralo toda a sujeira do dia. O banho depois do trabalho não aparece na televisão, não sai em coluna social, não figura na lista de best seller. Mas é um grande e verdadeiro motivo de celebração.

Os amigos da gente. Poucos ou muitos, os amigos que a gente faz na vida são célebres figuras essenciais à nossa sobrevivência. Celebridades importantíssimas. Nossos parceiros e nossos amores, nossos pais e professores, nossos filhos e netos, sobrinhos e agregados. Nossos bichos! Nosso pijama velho, o sofá da sala que nos abraça, o porteiro boa gente. A panela que foi presente de pessoa querida, o travesseiro que tem o nosso cheiro. Nossas coisas. Nossos companheiros pela vida. Esses, sim, merecem toda sorte de festejos. São celebridades reais, indispensáveis e, quase sempre, despercebidas.

Nossa gente, aquela que nos entra no coração sem mais, rica ou pobre, branca ou preta, popular ou desconhecida, é sempre figura ilustre. Sempre motivo de celebração. Porque o desejo de celebrar, essa disposição poderosa por encontrar razões para agradecer e festejar, ahh… isso independe de fama, dinheiro, sucesso. É para quem tem o coração amoroso e a alma generosa.

Mas vá lá. Para provar a você e a mim mesmo que não sofro de antipatia por quem aparece na televisão, confesso: eu também celebro aquela gente que não se acha especial por ser famosa e insiste em carregar as próprias malas. Aquelas aves raras que dividem com os outros o que têm e o que são. Aqueles poucos seres capazes de ver o trabalho que os coloca sob os holofotes exatamente como o que é: só mais um trabalho.

Essa gente, por sua atenção em resgatar os valores que se perderam por aí, merece ser motivo de celebração. Tanto quanto a minha casa, meu banho quente e o meu pão com ovo de gema mole.

Imagem de capa:  Unchalee Khun/shutterstock

5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humano

5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humano

Por Mariana Ribeiro*, via Obvious

Para quem ainda não se apaixonou por esse tipo de cinema, ele não nos deve roteiros com versões dramatizadas e fantasiosas da vida, quando se diz “final surpreendente” no cinema francês, não é no sentido de felicidade enlatada Hollywoodiana, mas dos ângulos construídos mostrando as capacidades e incapacidades humanas.

As que se seguem não são resenhas técnicas, mas impressões pessoais e impessoais embasadas em conhecimento e experiência de vida.

1. Deux jeurs, une nuit (Dois dias, uma noite)

contioutra.com - 5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humanoÉTICA, depressão

Qual é o nosso comportamento diante do outro, em situações que nos é possível fazer o bem ou simplesmente lucrar? Nesse filme, Marion Cotillard vive Sandra, uma mãe de família partida ao meio pela depressão, que no meio de uma crise financeira, tirou uma licença para se recuperar, mas ao voltar, descobre que seu chefe criou um meio para que ela fosse demitida: ofereceu aos funcionários um bônus, que só ganhariam se votassem a favor da demissão de Sandra, do contrário não receberiam bônus e outra pessoa seria demitida no lugar dela.

Sandra então vai bater na porta de cada um, em meio a uma recuperação conturbada em que volta a depender dos remédios, e pedir humanamente que escolham a ela ao invés do bônus. Ela lembra cada um da sua humanidade e empatia pelo sofrimento do outro e tenta buscar valores humanos em meio à crise. Provoca transformações sociais nas vidas dos colegas de trabalho com um simples pedido, mostrando o quanto nos afastamos na nossa humanidade as vezes, pelo trabalho e pelo dinheiro.

O final é surpreendente, Sandra prova seu valor, mostrando que tinha muito da ética que ela viera pedindo aos colegas, para dar-lhes em troca.

2. Amour (Amor)

contioutra.com - 5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humanoAMOR, vida a dois, companheirismo

Esse filme trouxe uma visão surpreendente da vida a dois e do envelhecer. Colocou-nos dentro da vida de um casal de idosos que havia passado suas vidas juntos e agora, estavam na prova final de sua lealdade, companheirismo e de seu amor, diante de uma doença pela qual a esposa está passando. Seria então o amor o que resta de mais valioso quando as surpresas e as forças já foram embora, quando os defeitos estão à mostra e o tempo passou implacável sobre o corpo?

Mais insuportável do perdê-la era vê-la sofrer. Um final surpreendente e questionador, que deixa a pulga atrás da orelha e ideia que talvez… Só mesmo por amor!

3. La vie d’Adèle (Azul é a cor mais quente)

contioutra.com - 5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humanoSEXUALIDADE, autodescoberta

Esse longa tem quase três horas de duração e o que vemos durante esse tempo é a construção de um indivíduo em suas vontades, carreira e sexualidade. No caso, a jovem Adèle, que no meio de suas descobertas encontra uma liberdade desconhecida na moça de cabelo azul, Emma; esta, por sua vez já tem tais questões resolvidas, o que faz com que o encontro das duas seja um questionador da aprendizagem a dois.

Emma é mais velha e assumida, enquanto Adèle luta para se descobrir, se sentindo presa pela sociedade ao redor, principalmente algumas colegas da escola (representantes de milhares), que cometem o erro ter a sexualidade como uma questão resolvida para um lado ou para outro, como se alguém devesse se assumir de uma vez e tomar seu assento. Ora, Adèle é heterossexual, mas isso não é tudo.

A importância de não ditar verdades duras sobre a própria sexualidade muito cedo e sob influência do meio, é gritante no filme. Vem banhado de Sartre e existencialismo, mostrando que, como disse o mesmo: o homem se encontra no mundo e depois se define. Intimista e sem tabu.

4. De roille et d’os (ferrugem e osso)

contioutra.com - 5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humanoSUPERAÇÃO, depressão, companheirismo

Demasiado humano, esse filme traz personagens sem maquiagem, com defeitos e fraquezas à mostra. Mais uma vez Marion Cotillard, que agora vive Stephanie, uma treinadora de baleias que encontra o conturbado Alain, lutador, pai de um filho de cinco anos do qual não sabe cuidar.

Um relacionamento entre os dois começa quando Stephanie sofre um acidente e tem a parte inferior das pernas amputadas. Do meio de sua depressão e falta de sentido pós-acidente, ela resolve ligar para o segurança de boate que a resgatou um dia de uma briga, que é o então lutador Alain. A ausência de pena e naturalidade com que Alain lhe trata a cativam de primeiro instante.

Stephanie vai voltando à vida e abrindo seu caminho para dentro da vida de Alain, onde ninguém parece conseguir permanecer. De suas desconstruções, ambos vão se reconstruindo. Cenas intimistas e maravilhosas, a saber, uma de Stephanie voltando a nadar sem as pernas!

E ainda resta o mistério da perfeição de efeitos usados para as pernas amputadas da personagem.

5. Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain)

contioutra.com - 5 filmes franceses que nos ensinam muito sobre a vida e o ser humanoFELICIDADE, enfrentamento

Com personagens incapazes de ambicionar uma felicidade idealizada, O fabuloso destino de Amélie Poulain, nos aproxima mais das pequenas alegrias e das coisas simples da vida.

A personagem Amélie, vivida por Audrey Tatou, escolhe sair de seu mundo fechado e angustiado de uma forma inusitada: ajudando os outros. Como ela tinha certo medo de se abrir, no risco de se alegrar ou se machucar, resolve consertar a vida dos outros através de suas pequenas travessuras. E assim vai, levando pequenas alegrias e também se alegrando com elas, até que chega aquele momento em que ela tem que se voltar para a própria vida e enfrentá-la, afim achar suas alegrias pessoais.

O fantasioso da realidade construída por Amélie é brilhante e nos lembra de olhar para a nossa, aquela que construímos para lidar com o sofrimento; uma vez ou outra, temos que enfrentá-la.

MARIANA RIBEIRO é aspirante a muitas coisas, amante da psicanálise, escritora por natureza, fadada a duvidar, viajadíssima dentro de si. “Ismos não são bons”.

Imagem de capa: Reprodução

“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata.” – Nise da Silveira

“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata.” – Nise da Silveira

Título Original: Nise da Silveira , a mulher que imprimiu um novo rumo à psiquiatria no Brasil

Nise da Silveira nasceu em Alagoas, no dia 5 de fevereiro de 1905, e foi uma das mais importantes psiquiatras no Brasil. Em 1926, ao se formar na Faculdade de Medicina da Bahia, onde era a única mulher em uma turma de 157 alunos, Nise apresentou o estudo: “Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil”. No ano seguinte, ao mudar-se para o Rio de Janeiro com o marido e colega de turma, o sanitarista Mario Magalhães, começou a atuar como psiquiatra e iniciou uma coluna sobre medicina para o jornal A Manhã. “Na época em que ainda vivíamos os manicômios e o silenciamento da loucura, Nise da Silveira soube transformar o Hospital Engenho de Dentro em uma experiência de reconhecimento do engenho interior que é a loucura”, explica Christian Ingo Lenz Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto Psicologia da USP.

Envolvida com os círculos marxistas da época, Nise foi denunciada por uma colega de trabalho, que era enfermeira, e presa pelo chefe da polícia política do Estado Novo, Filinto Müller, de 1934 a 1936. No presídio Frei Caneca, dividiu a cela com Olga Benário, a militante comunista alemã que à época era mulher de Luís Carlos Prestes, e conheceu o escritor Graciliano Ramos, que a retratou em seu livro Memórias do cárcere. “(…) lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-se culta e boa. Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se a tomar espaço”, retratou o escritor. Em liberdade, porém colocada na clandestinidade, Nise entrou em contato com leituras de Spinoza e publicou o livro Cartas a Spinoza.

 Arte e os psicóticos
Em 1944, Nise passa a trabalhar no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro. Totalmente avessa ao choque elétrico, cardiazólico e insulínico, à camisa de força e ao isolamento, entre outras técnicas torturantes, Nise implanta, com o psiquiatra Fábio Sodré, a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico. Nesse mesmo ano, cria a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) do Centro Psiquiátrico Pedro II. Nise dirigiu o STOR, famoso por oferecer um atelier de pintura aos pacientes como forma de reabilitação, até sua aposentadoria, em 1974. Por meio das artes plásticas, a psiquiatra foi pioneira ao defender que a comunicação com os esquizofrênicos graves só poderia ser estabelecida inicialmente em nível não verbal, daí a importância dos desenhos.

Um das maiores contribuições de Nise foi o Museu de Imagens do Inconsciente, criado em 1952 para reunir a rica e complexa iconografia concebida por seus pacientes no STOR. Outro feito da psiquiatra foi introduzir entre os psicóticos o convívio com gatos e cachorros, a fim de promover a afetividade entre os internos e os animais. “Entre seus gatos e cartas, entre Espinoza e Jung, entre mandalas, pinturas e imagens do inconsciente, ela sempre recebia os errantes, visionários e candidatos a curadores de almas. Com a mesma benevolência e inquietude de quem sabia que a verdade do homem não pode ser pensada sem sua loucura”, afirma Christian.

Nise fundou o primeiro serviço de egressos psicóticos, a Casa das Palmeiras, em 1956, a primeira instituição que desenvolveu um projeto de desinstitucionalização dos manicômios no Brasil. Durante a ditadura militar que vigorou no Brasil de 1964 a 1985, criou em 1968 o Grupo de Estudos C. G. Jung. Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Psicopatologia da Expressão, com sede em Paris. Voraz leitora de Machado de Assis, costumava afirmar que seu primeiro contato com a psicologia havia sido com a obra do escritor.

Nise da Silveira publicou dez livros e escreveu uma série de artigos científicos que muito contribuíram para os estudos da psiquiatria. Morreu, aos 94 anos de idade, no dia 30 de outubro de 1999.

Imagem de capa: Reprodução

Um dia o amor bateu na minha porta e eu não abri

Um dia o amor bateu na minha porta e eu não abri

Mentira, eu abri sim. Mas confesso que fazer isso tem sido um dos maiores aprendizados até agora. Há um processo longo pela frente pra eu conseguir me olhar de frente e dizer “tudo bem, você pode ser feliz com alguém”. Eu nunca achei que isso seria possível.

É meio louco, mas indo contra a corrente, desde muito nova comecei a me blindar pro amor. Achava que eu era boa demais para passar pelos perrengues de um relacionamento Seria muito mais simples viver a vida sem me envolver demais com ninguém e, assim, estaria protegida de ser enganada ou sofrer por coisas desnecessárias.

Isso vem desde lá de cedo, da separação dos meus pais. Quando eles se separaram, minha mãe, que usava só roupas largas e escuras e passava o dia reclamando, se transformou em um mulherão independente, com roupas descoladas. Ela estava sempre com amigos, namorados e enfim, muito feliz. E essa sementinha foi plantada na minha cabeça. Uma mulher sem um homem é muito melhor, a equação fechava.

É claro que eu só fui descobrir essa influência depois de muita terapia, mas na adolescência me lembro de ver todo mundo namorando e não me identificar nem um pouco com aquele modelo. E cá pra nós, o modelo de relacionamento proposto pela nossa sociedade, de maneira geral, é machista e doentio. Com muita possessão, pouco diálogo, desrespeito e viradinha de olhos sem paciência.

Eu me envolvi com muita gente, porque era isso que eu queria, muitos casinhos, mas nada sério. Eu queria me entregar intensamente, e nossa! Como eu fazia isso… Me apaixonava desesperadamente, queria sugar todo aquele amor momentâneo porque eu sabia que ia passar. E passava. Na mesma velocidade que eu me apaixonava, eu me desapaixonava e eu amava isso. Amava me apaixonar mesmo sem ser correspondida e isso é lindo também. Valia a pena só pra sentir aquelas borboletas no estômago. Eu aprendi que todos os relacionamentos, por mais que durem um segundo, valem a pena serem vividos com vontade.

Até que um dia, um desses casinhos durou mais e quando vi que isso podia dar em algo sério, dei um jeito de acabar logo com tudo. Depois eu achei que o modelo ideal de relacionamento pra mim seria um namoro aberto. Vivi essa história também. Deu certo durante o tempo de durou. Terminou por causa dos deslocamentos da vida e não por ser aberto. Eu queria mais.

A questão não era poder ficar com quem eu quisesse e sim saber que eu estava livre de ter que encarar um amor de verdade. Não poder me desapaixonar a qualquer momento me deixava louca. Eu achava que amar era sinônimo de fraqueza, porque me sentia vulnerável. E como disse Sun Tzu, autor da Arte da Guerra: quem não tem nada a perder é invencível.

E era isso que eu queria ser, invencível. Planejei minha vida pra nunca amar ninguém de verdade. Igual ao filme “Da Magia à Sedução”, que a personagem cria um feitiço para si mesma para nunca se apaixonar por ninguém, só por um homem muito específico, que seria impossível de encontrar. Acontece que esse homem apareceu na vida dela e apareceu na minha também.

Ele tirou a minha base e destruiu todas as minhas certezas, mas plantou algo que eu nunca imaginei que sentiria, a felicidade compartilhada. O amor, aquele que acontece quando duas pessoas completas se somam e conquistam o mundo.

E eu comecei a viver o relacionamento mais incrível, até que eu reparei que eu estava realmente feliz, mais feliz do que eu era antes até. Eu sempre achei que fosse impossível. Então, comecei a me sabotar de todas as formas possíveis, tentando me convencer de que eu estava entrando em uma furada, que amor assim não existe e que, enfim, eu não poderia ser feliz assim. Como assim você tá feliz com um cara? Não, você não planejou ser feliz assim, volte duas casas.

Hoje, é óbvio pra mim que era apenas medo de descobrir que é totalmente possível ser feliz com alguém. Uma teoria de vida inteira sendo jogada no lixo. Não podia ser.

Mas amadurecer é isso, descobrir que certezas são ideias estagnadas fantasias de confiança. E viver sem ter certeza é que é o grande barato. É descobrir, descobrir e descobrir. Arriscar a viver uma vida a dois, ainda me dá frio na barriga, mas é o que mais me faz feliz agora. E amadurecer também é descobrir que não existe jeito certo de viver nada, a única coisa que faz sentido é ser feliz e não importa como. Essa é a única coisa que a gente tem que buscar, ser feliz sem que ninguém e nem você mesmo te diga o contrário.

Eu sempre achei que as pessoas fodas eram aquelas impenetráveis, independentes e que não se envolviam com ninguém. Mas quem é foda é quem se joga e se arrisca com medo mesmo, ainda que seja no amor. E o amor era um abismo escuro pra mim, até conseguir me jogar e descobrir que eu estava voando.

Imagem de capa: Kichigin/shutterstock

E quanto a você, quais sãos seus planos para o futuro?

E quanto a você, quais sãos seus planos para o futuro?

O futuro me enche de expectativas. Faz-me pensar em quem quero ser quando chegar lá na frente, e os anos acumulados, me tiverem preenchido várias décadas. E quando tiver chegado lá, espero conseguir rir dos meus desacertos e ter mais coragem para tentar o que hoje me causa medo.

Desejo ter mais maturidade, para que a opinião alheia não tenha tanto peso sobre mim. Espero ter mais disponibilidade para partir, sem me despedaçar nas despedidas; que eu consiga mudar de lugar, ou de jeito, sem que isso parta meu coração. Quero ter um pouco mais de fé, acreditar piamente que tudo acabará bem e que eu posso me acalmar e esperar esse tempo chegar.

Quero conhecer mais gente, sem a obrigação de construir amizades, para que não sejam precipitadas. Quero refletir luz e serenidade, para que se saiba que o tempo me ensinou o devido valor de cada coisa.

Quero dar mais valor ao menos, aos pratos simples, aos sentimentos descomplicados. Não pretendo mais correr da chuva; espero correr para o abraço, para comemorar este jogo maravilhoso que é a vida.

Quero ter a ousadia de arrancar meus chinelos ou sentar a sós comigo na praça sem ter medo do que pensarão de mim. Espero não ter receio de dias nublados, por ter aprendido que a chuva é tão indispensável quanto o sol.

Desejo rir à vontade. Eu e as marcas de expressão que a passagem do tempo quiser me dar. Quero ter uma presença luminosa, uma alma esperançosa, uma alegria fabulosa.

Quero ser diferente, porque os protocolos e os modos pré-concebidos são para aqueles que não perceberam que a vida é uma oportunidade imperdível.

Espero viajar, ao redor do mundo, ou para uma nova idade, e absorver os ensinamentos que essa mudança me trará. Que eu saiba conviver com meu semelhante e respeitar suas diferenças, e suas opiniões contrárias.

Quero ter força o suficiente para me erguer dos desapontamentos, olhar pra frente ou encarar meu passado. Que eu não me canse de viver, nem de ser. Que eu seja cada dia melhor, um dia após o outro.

Desejo que todos saibam o quão importante é não desistir. E que as invejas, pretas ou brancas, sejam substituídas pela vontade de tentar também.

Quero ter mais sabedoria, mais resistência, viver com mais satisfação. Que o futuro seja exatamente assim, sem tirar nem pôr, e conspire a meu favor.

Mas que antes de tudo isso, eu entenda o valor do agora. E quer saber o que eu tenho feito dele? Ele está me ensinando o passo-a-passo. A pessoa que pretendo ser está em processo de construção.

Imagem de capa: il21/shutterstock

Às vezes, de tanto perder, a gente passa a sentir medo de ter

Às vezes, de tanto perder, a gente passa a sentir medo de ter

Não temos controle sobre os acontecimentos, mas podemos controlar o que guardamos dentro de nós, mantendo o que enriquece e esquecendo o que não contribui em nada.

Essa vida nossa de cada dia não é fácil. Os problemas parecem se avolumar com a passagem do tempo e, pior ainda, quanto mais vivemos, mais pessoas perderemos, inclusive aquelas que nos eram porto-seguro: nossos pais. Nada é previsível, tudo pode mudar em um átimo de segundo, não há nada que não possa ser virado de cabeça para baixo. Sim, ganhamos muito com as experiências, mas sempre existirão perdas irreparáveis pelo caminho.

Embora as incertezas que nos envolvem sejam inúmeras, acabamos nos apegando a certas coisas, certos momentos e a determinadas pessoas, na tentativa de salvaguardar um pouquinho de segurança em nossas vidas. E, nesse sentido, não raro nos prendemos a muito daquilo que nada acrescenta, a lembranças dolorosas, a pessoas que ficam ali sem estarem juntas de verdade. É assim que, mesmo achando que temos coisas nossas e pessoas próximas, de fato estamos perdendo: perdendo tempo, perdendo afeto, perdendo um pouco de nós mesmos a cada dia.

Ainda assim, por mais que nos enganemos com a permanência ilusória do que achamos ser nosso, impossível não percebermos o tanto de gente que se vai, de oportunidades que se distanciam, de momentos que ficam lá atrás. A gente vai caminhando e deixando tanto pelo caminho e, enquanto nos agarramos ao que não tem serventia, muitas vezes deixamos escorrer por entre nossas mãos o que deveria ficar. E o que ficou forçado se fragiliza, enfraquece e acaba indo embora também, uma ou outra hora.

É por isso que muitas pessoas, com o tempo, acabam não se permitindo mais amar, não se entregando, não se abrindo, fechando-se em si mesmas, fugindo ao amor, à amizade, a qualquer tipo de relacionamento. Deixam a dor preencher toda a sua essência, não reservando espaço para o prazer dos encontros verdadeiros, tornando-se incapazes de tentar de novo. É por isso que tantas oportunidades e tantas pessoas especiais passam e se deixam escapar.

Infelizmente, a dor da decepção é imensa, porém, ela jamais pode ser mais forte do que a esperança que todos devemos carregar dentro de nós. Esperança no amanhã, na vida, no amor, em nós mesmos. O que for nosso de fato ficará para sempre, dentro de nossos corações, de nossa alma, pois a força do amor sempre será mais forte do que tudo, até mesmo do que a dor da morte. Não temos controle sobre os acontecimentos, mas podemos controlar o que guardamos dentro de nós, mantendo o que enriquece e esquecendo o que não contribui em nada. É assim que que a vida respira dentro de cada um de nós.

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Mulheres não gostam de água pela canela

Mulheres não gostam de água pela canela

Algumas histórias ficam sem explicação. Alguns enredos chegam ao fim apresentando mais perguntas que respostas. Alguns desfechos deixam vazios que nunca poderão ser preenchidos.

Se uma história foi importante, se em algum momento houve a intenção de que não acabasse nunca, se existiam planos e sonhos em comum, se havia amor e principalmente alegria, o mínimo que esperamos é que nossa falta seja sentida e sofrida.

Porém, na prática não funciona assim. Nem sempre sentirão a nossa falta como gostaríamos que sentissem. Nem sempre seremos o gatilho pra uma noite de nostalgia regada a álcool e lembranças. Nem sempre seremos saudade. Nem sempre seremos dor pela vida que não se concretizou.

Nunca saberemos a real medida do abandono de um coração que já foi nosso e não é mais. Nunca saberemos se nossa falta foi realmente sentida, lamentada, vivida e doída. Nunca teremos a exata noção do quanto fomos importantes e do quanto deixamos de ser. Jamais conheceremos os pensamentos traiçoeiros, as lembranças fora de hora e os arrependimentos secretos daqueles que sentem nossa falta.

Há quem diga que homens têm aquele botão “liga/desliga”, e por isso estariam menos propensos a sofrer pelo fim de uma relação importante. Porém, gosto de acreditar que lidamos de formas diferentes com a dor. Que, felizmente, as mulheres podem contar com uma rede de solidariedade feminina _ a tal da sororidade _ que nos ajuda a processar o luto pelo fim de uma relação importante através de conversas, desabafos, taças de vinho, abraços, empatia e algum choro. Já os homens, com algumas exceções, teriam mais dificuldade em exteriorizar o sofrimento, e talvez por isso disfarcem melhor o quanto estão quebrados por dentro.

Porém, como na letra de Chico Buarque, desejamos ser os primeiros a superar o fim de uma relação importante: “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz ao sentir que sem você eu passo bem demais…” e nos ressentimos com a facilidade que algumas pessoas têm de se refazer rapidamente após o rompimento conosco.

Mulheres não gostam de água pela canela. Elas mergulham fundo na busca de explicações, argumentos e justificativas que validem o fim de uma relação. Elas ventilam os sentimentos, arejam a dor, expõem as lembranças… enquanto eles, na maioria das vezes, trancam as histórias e dores no fundo de uma gaveta e escondem as chaves de si mesmos.

Mas ninguém sabe o que vai dentro do coração do outro. Ninguém sabe se a aparente “virada de página” representa uma genuína superação ou uma fuga. Ninguém sabe se o tempo não será capaz de um dia trazer de volta aquilo que não foi realmente superado, e sim sufocado.

Tenho muita sorte de ter amigas que estiveram comigo nos momentos em que vivi o luto de uma relação. Elas me ajudaram a me curar, a me reerguer, a reencontrar o caminho para meu amor próprio. Minha mãe foi uma dessas mulheres. Me pegou no colo, enxugou minhas lágrimas e me ouviu com amor. Orou comigo, me trouxe uma flor e me lembrou o quanto sou especial. Hoje sigo tentando ser essa mãe amiga também. Tentando ensinar ao meu filho que, embora ele seja homem, não precisa ter vergonha de chorar, de exteriorizar o que sente, de demonstrar afeto e compaixão.

Está provado cientificamente que o fato de formarmos uma rede de solidariedade e amor, em que podemos exteriorizar nossos sentimentos e emoções umas com as outras, faz de nós, mulheres, mais resistentes a doenças e aumenta nossa expectativa de vida. Falar liberta, alivia, regenera. Falar traz entendimento, consolo, recuperação. Falar aproxima, reconforta, cura.

Não é que homem supera mais rápido. Na verdade eles externam menos a dor. Isso pode não ser unanimidade, mas tem razão de ser. Cada um à sua maneira, estamos todos tentando resolver nossos traumas, frustrações e decepções. Ninguém está imune a amar, e amando, se sentir vulnerável, frágil, oprimido. A boa notícia é que passa. Passa e leva embora nossos fantasmas, nossos pontos de interrogação e, principalmente, nossas mágoas…

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Se você é feliz fazendo algo que incomoda a quem você ama, vá amar outra pessoa.

Se você é feliz fazendo algo que incomoda a quem você ama, vá amar outra pessoa.

Qualquer coisa. Se você sente felicidade fazendo algo, qualquer coisa simples que seja, é porque isso lhe toca o coração, conversa com a sua alma, faz a vida valer a pena. Não é pouco. E quando a gente encontra o que nos faz feliz, a gente não larga por nada nem por ninguém. Pelo menos não devia.

Mas o mundo vai cheio de gente repetindo que por amor a alguém se faz de tudo, até abrir mão do que nos faz felizes. Pode haver contrassenso maior do que esse?

Então você imagina uma pessoa que adora dançar, foi feliz a vida inteira dançando e, de repente, deixa de fazê-lo porque seu marido, sua esposa, namorado, namorada ou algo que o valha “não gosta”. Eu conheço meia dúzia.

Tem gente que abandona planos, sonhos, projetos, pessoas queridas, velhos hábitos, tudo, porque foi obrigada a escolher entre uma coisa e outra. Ou faz o que gosta e o que quer da própria vida ou decide vivê-la ao lado de alguém que exige sacrifício, escolha, concessão, entrega e essas coisas que pertencem ao mundo dos contratos, não dos amores. Deus me livre e guarde!

Não sei você, mas eu não deixo de fazer o que me faz feliz para fazer feliz outra pessoa nem que a vaca tussa! Não descubro um santo para cobrir o outro, não. Eu, hein!

Deixar para trás algo que me dá alegria só para satisfazer a vontade egoísta de outro alguém é um gesto burro e maldoso comigo mesmo. Em sã consciência, não faço o que faria de mim um sujeito infeliz.

Se a felicidade do outro depende da minha infelicidade é porque somos incompatíveis. Não devemos ficar juntos. Melhor é seguirmos cada um o seu próprio rumo. E a felicidade há de nos encontrar no caminho.

Tem nada, não. Todos somos incompatíveis aqui e ali. Nossas discordâncias são inevitáveis. Discordar é saudável e quase sempre se pode negociar e fazer concessões em nome do bom convívio. No entanto, certas coisas são inegociáveis e cada um sabe, lá no fundo do coração, até onde pode ceder.

Para mim é muito simples. Se aquilo que faz você feliz não faz sentido para quem você ama, vá amar outra pessoa!

Brigar para quê? Por que motivo investir energia tentando convencer o outro a aceitar que você seja exatamente quem é, que faça o que lhe toca o coração, que siga fazendo o que ama e concilie os seus gostos e as suas preferências com as responsabilidades de seu relacionamento amoroso? O outro já devia ter se tocado faz tempo!

Aqui, entre nós, se aquele com quem você decide caminhar não respeita agora o que você faz, não se iluda achando que isso vai mudar: ele não vai respeitar nunca! O tempo não vai amansá-lo nem demovê-lo da ideia ridícula, cruel e ególatra de impedir você de fazer o que gosta, de ser quem você é.

Sei lá. Eu só acho que se é tudo questão de escolha, eu escolho ficar longe de quem me obriga a escolher.

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É preciso não ter medo de chover se quisermos florescer

É preciso não ter medo de chover se quisermos florescer

Guimarães Rosa dizia: “O que a vida quer de nós é coragem”, e eu concordo plenamente, pois somos a sucessão de escaladas e abismos, somos nossa tormenta e nossa redenção, o início e o fim de nossas inquietações. Travamos batalhas interiores diariamente, e conseguir conduzir nossos pensamentos, emoções e desejos a um lugar de paz é nosso maior desafio.

Outro dia assisti a um vídeo do filósofo Leandro Karnal e me encontrei em suas palavras. Ele dizia que o pensamento das mulheres é um pouco distinto ao dos homens no que se refere à zona de conforto. Dizia que os homens são mais inclinados a permanecer na zona de conforto, enquanto as mulheres procuram mergulhar mais profundamente em seus sentimentos e emoções. Resumindo: somos mais inclinadas a questionar, debater, trazer à tona aquilo que não é escancarado mas não pode ser sufocado.

Às vezes, para conseguir escalar a cordilheira, a gente precisa recuar um pouco para recobrar o fôlego. Assim também acontece que, às vezes, para seguir em frente, precisamos nos reconciliar com nosso passado, com nossa história. Não temer destampar antigos curativos para que possam ventilar; arriscar cair um pouco para então se levantar; ousar desatar antigos nós para enfim continuar.

Olhar para trás e encarar o que doeu, o que feriu, o que machucou não é simples e não acontece da noite para o dia. Muitas vezes passam-se anos até que possamos ter coragem de rever a dor, para que ela não nos defina mais. Permanecer na zona de conforto nos protege, mas não nos ensina a transformar os cacos de vidro em novos vitrais.

Às vezes temos que dar um tempo nas linhas retas onde escrevemos nosso presente para rever as linhas tortas que deixamos para trás. Quem sabe assim a gente consiga acertar aquelas pautas também, nem sempre usando a borracha, mas entendendo e perdoando o contorno daquilo que de alguma forma saiu dos eixos. Só assim permanecemos livres e prontos para o que vem pela frente.

Eu acredito que, na maior parte do tempo, somos as experiências que vivemos, as pessoas que amamos, as saudades que deixamos, as escolhas que fizemos. Por isso, tudo precisa estar em equilíbrio; qualquer linha solta, mesmo que no início de tudo, pode modificar o desenho final. Muitas vezes preferimos não saber, não lidar com isso, não cutucar o vespeiro. Mas ele está ali. Mesmo que a gente não olhe pra ele, ele continua à espreita. Então é preciso coragem e disposição para sair da zona de conforto. Para ousar retroceder e só então alcançar o cume da montanha…

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As pessoas intensas vivem como se não houvesse amanhã.

As pessoas intensas vivem como se não houvesse amanhã.

Eu desconfio que o ponteiro do relógio das pessoas intensas veio com um defeito de fábrica, pois ele é mais acelerado que os demais. Entretanto, deixo claro que isso está longe de ser uma crítica sobre o comportamento delas, ou melhor, comportamento nossos. Para uma pessoa intensa, a vida urge além do normal, e, nem de longe, espere dela uma atitude “morna” quando algo a interessa. Tudo para ela é 8 ou 80. Se algo não desperta o interesse dela, esqueça, ela será uma barra de gelo. Mas, se algo desperta o querer dela, nada nem ninguém poderá contê-la.

Os intensos obedecem a um norteador que é acionado pela alma deles, é como se diante de algo que os atraia, um “dispositivo” acionasse um alarme e uma voz num megafone dissesse bem alto: “vá com tudo, não perca tempo…se jogue”. São pessoas que se entregam com tudo, sem reservas. Isso se aplica a todos os contextos de suas vidas: profissão, hobbies, amizades… e, obviamente, às dores. Ah, e o que esperar de um intenso quando o assunto é amor? Vixi…muita calma nessa hora, aliás, nada de calma, é uma verdadeira avalanche…é temporal…é como romper as comportas de uma represa. Nunca espere um beijo insosso de uma pessoa intensa, se for para beijar assim, ela prefere ficar sem beijo. O abraço dela é diferente, tem uma entrega especial. Tudo parece ser maximizado, mesmo os detalhes mínimos. Quem já se relacionou com um intenso sabe disso, ele é capaz de embarcar num ônibus e ir para outro estado de uma hora para outra após uma conversa de whatssap com seu amor, que despertou uma saudade furiosa, ainda que fique com ele somente 18 horas.

Para os intensos não existe o amanhã, aliás, pensando bem, eles estão certos, afinal, que garantia temos de que o amanhã vai chegar, não é mesmo? Mas nem tudo são flores na vida dessas pessoas. Existem os bônus e os ônus, como tudo na vida. Os bônus é viver tudo com verdade e sem reservas. Os ônus é o fato de eles se entregarem à dor tanto quanto se entregam às paixões. Isso mesmo, eles também não tem reserva na hora de sofrer e enfiam a cara na dor. Mas no tempo deles, eles se refazem e estarão prontos novamente.

Nunca julgue um intenso como ansioso ou destrambelhado…eles são apenas pessoas que sentem com a alma e não conseguem(e nem querem) economizar a euforia diante de algo que os encanta. Eles não conseguem se conter ao ouvir uma música que eles gostam…eles aumentam o volume, eles dançam, eles arrepiam, eles choram…eles fazem poesias. Por fim, deixo uma dica: nunca tente “acalmar” uma pessoa intensa. Ela é linda por ser exatamente assim. Se você acha desgastante se relacionar afetivamente com alguém cuja alma transborda, deixe-o e procure alguém comedido. Tentar impedir uma pessoa de expressar a sua intensidade seria uma crueldade, seria algo parecido como impedir um pássaro de voar.

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Elegância é algo que a gente carrega e não veste.

Elegância é algo que a gente carrega e não veste.

Ser elegante vai além de ter bom gosto com roupas e saber se vestir. Elegância é algo que a gente carrega e não veste.

Regras de etiqueta da vida e não do armário para uma vida onde elegância é sinônimo de educação e bom comportamento.

Sabe o que é mesmo elegante? Ter bom senso e respeito.

Não é preciso estar em cima de um salto alto ou dentro de um terno caríssimo para ser elegante. As atitudes enfeiam pessoas que não tem bom comportamento.

A elegância está na simplicidade de um bom dia sincero para o porteiro que passou a noite toda acordado, no falar baixo quando o outro está perto, no saber ouvir quando o outro fala, e no saber sorrir quando isso é tudo o que você pode oferecer. No saber agir sem agredir.

Uma pessoa elegante tem encantamento na voz, fala com propriedade e tem jeito com as palavras. Sabe chamar a atenção sem ser rude, saber observar sem se intrometer, sabe respeitar o espaço alheio.

A elegância está no tom da voz e no silêncio que também comunica. Na forma de se posicionar quando precisa, no jeito de ver o mundo.

Um pessoa elegante não vive de fofocas, não inventa mentiras e não se mete em baixaria. Quem é elegante tem positividade, atrai pessoas do bem, vibra com a vida, com os sucessos, torce pelo outro, não tem inveja, carrega alegrias e otimismo, e sente com verdade. Não sabe viver de oportunismos, sabe se colocar nas oportunidades e não puxa saco nem tapete.

Elegância está no “com licença” e “muito obrigado”. No reconhecimento do esforço, na empatia e na colaboração.Está na mão que ajuda, está também na gratidão
E quanto mais conheço pessoas, mais percebo que a elegância está vestida de simplicidade e não de rótulos e invólucros sociais. Encontrei mais elegância calçada de chinelos que vestida de etiquetas, e isso não tem haver com situação financeira, mas com referência de vida, criação e sabedoria.

Encontrei a elegância no ser e não no ter, e percebi que é mais elegante aqueles que se vestem de amor.

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Nível de paciência: se a pessoa diz que vai embora, desenho-lhe um mapa

Nível de paciência: se a pessoa diz que vai embora, desenho-lhe um mapa

Ninguém consegue manter um mínimo equilíbrio emocional aturando gente que vive tentando puxar o tapete, que transpira falsidade, que sempre erra, mas nunca muda, que volta para casa, mas não nos enxerga, que acorda e dorme sugando, sem nem ao menos dizer bom dia.

É fato que precisamos exercitar a paciência e a tolerância junto às pessoas com quem convivemos, uma vez que essa é uma das melhores formas de evitarmos aborrecimentos e de conseguirmos seguir sem machucar os outros, por conta de egoísmo. Mesmo assim, sempre haverá quem nos testará quaisquer limites de nossa sanidade emocional, colocando-nos à prova, tentando nos diminuir e folgar sobre nossa solicitude.

É preciso respeitar opiniões contrárias às nossas, modos de vida que não condizem com o que estamos acostumados, bem como o tempo de cada um. Nem todo mundo retornará na mesma medida, nem corresponderá às expectativas que nós próprios criamos sobre os outros, simplesmente porque a vida é de cada um. Ninguém é obrigado a satisfazer às necessidades alheias, tampouco a viver de acordo com o que o outro espera. A diversidade é fato e não tem como mudá-la.

Ainda assim, há que se estabelecerem limites claros entre o que cada um aceita, o que cada um pensa, o que cada um vive, para que terrenos diferentes não ultrapassem as áreas que concernem a cada um. Temos o direito de viver os nossos sonhos, de buscar as nossas metas, de alcançar a felicidade à nossa própria maneira, desde que não machuquemos ninguém nesse percurso, desde que a dignidade de cada um seja respeitada.

Em se tratando de relacionamentos, quando se unem duas histórias diversas, da mesma forma devem ser postos os limites de cada parte envolvida, para que ambos se doem e se enxerguem enquanto indivíduos que possuem algo dentro de si que precisa ser respeitado e levado em conta. Concessões, mudanças e ajustes deverão partir de ambas as partes, pois, quando uma pessoa não consegue sair de si mesma, por um minuto que seja, sem enxergar além do próprio umbigo, todo e qualquer peso somente recairá do outro lado, que fatalmente acabará vergando, uma ou outra hora.

É humanamente impossível aguentar por muito tempo quem só critica, reclama o tempo todo, quem vive de fofoca atrás de fofoca, quem só quer receber, cada vez mais, sem nada oferecer. Ninguém consegue manter um mínimo equilíbrio emocional aturando gente que vive tentando puxar o tapete, que transpira falsidade, que sempre erra, mas nunca muda, que volta para casa, mas não nos enxerga, que acorda e dorme sugando, sem nem ao menos dizer bom dia. Ou seja, se limites são necessários e essenciais, até mesmo a nossa paciência tem limites – e eles devem ser bem claros.

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