A sua ausência fez mais por mim do que a sua presença

A sua ausência fez mais por mim do que a sua presença

Estive em um relacionamento sério com a sua frieza, com a sua falta de modos, com a sua estranha mania de só pensar em si mesmo, com as suas mentiras e com a sua ambiguidade. Estive em um relacionamento sério com a sua falta e esse relacionamento foi tão sério que me fechei em um mundo de difícil acesso e alcance. Eu me fechei para quem quer que fosse.

Quando nos conhecemos, eu estava em um momento calmo e muito bom da minha vida. Me apaixonar não estava nos meus planos. Eu ouvia músicas românticas e não pensava em ninguém. E então, a Vida e seus mistérios, permitiu que você surgisse. E você abalou todas as minhas estruturas, antes tão sólidas. Abalou para o bem e para o mal. Você foi terremoto devido a força e intensidade dos sentimentos que provocou em mim. Mas como todo terremoto, depois o que ficou não era bonito de se ver… Uma rocha quando se quebra, se parte em mil pedaços. Eu me quebrei.

E no meio da destruição, eu perdi um pouco a direção dos passos. Eu não sabia mais se andava pra frente, se retornava ao ponto de origem ou se ia para os lados. Perdi, me perdi. E só tempos depois eu fui entender que a sua presença é que havia me tirado dos trilhos. Quando você sumiu, eu voltei a me encontrar. A sua ausência fez muito mais por mim do que a sua presença. As coisas que você nunca disse, o seu silêncio e a sua falta de notícias na verdade eram o melhor que você poderia me dar. E foi só tendo você bem distante que eu fui entender isso. Dentro de mim enfim havia sossego.

Mas quando a gente acha que a lição foi aprendida, a Vida nos testa. Você reapareceu. E quando reapareceu eu já não estava mais naquele ponto do caminho. Eu havia andado alguns passos, meu cabelo estava mais curto, meu olhar mais centrado e o mais importante: eu já não era a mesma. Você me disse “Olá. Ando lembrando muito de você, te procurando sem te encontrar” e confesso que por dentro estremeci. Mas não estremecimento de excitação. Estremeci de medo. Medo de que você me intoxicasse de novo com seu egoísmo disfarçado de amor. Medo de que eu acreditasse novamente que o seu egoísmo era realmente amor. Medo de que eu caísse na armadilha de inventar desculpas para as suas falhas e acreditasse que na verdade você é assim, frio, por natureza. E por um momento eu quase deixei que isso acontecesse. Eu quase deixei que você segurasse a minha mão, eu quase deixei que nossos lábios se encostassem, eu quase deixei que meu coração sentisse a batida do seu, eu quase te amei de novo, quase. E eu resisti por muito tempo, cinco meses para ser exata, devido ao medo. E foi aí que eu soube que o meu medo não era infundado. Eu não era a única na sua vida. O mais provável é que eu nunca houvesse sido a única. O seu egoísmo continuava sendo a sua principal característica; e sem o mínimo de empatia você arriscou machucar mais de um coração simultaneamente. E você quase conseguiu, quase.

Corri na direção oposta, em direção à sua ausência. Em direção a onde você não estivesse. Você se tornou uma ameaça à minha sanidade. Era como se aquele amor fosse um dia terminar na delegacia. Eu corri na direção oposta com todas as forças que eu tinha, sangrando, confesso, mas decidida a nunca mais permitir que mentiras adentrassem em meu coração e que terremotos me tirassem de mim.

E novamente me reencontrei. A sua ausência era de fato o melhor que você poderia me dar. Radioativo, você não me trazia nada de bom. E eu criei a maior distância que poderia haver entre duas pessoas. Um caminho sem volta. Um tratado assinado pelos dois lados. Tratado não de paz, mas de desligamento. De morte de uma relação, seja ela qual for. O impossível entre nós começava ali. Felizmente. Assim dizia a Lei!

É difícil recomeçar enquanto seus olhos ainda doem. É difícil acreditar no amor novamente enquanto seu coração têm cicatrizes . Mas dentro de mim aquela certeza: a sua ausência era o melhor que você e a Vida poderiam me dar. Eu havia passado no teste, eu realmente havia aprendido a lição!

O próximo passo era me reconstruir do terremoto, das marcas que ficaram na perna e no coração. Mas acima de tudo eu precisava me conscientizar sobre quem eu era e sobre o tipo de pessoa que eu queria que estivesse ao meu lado. Porque só sentimento não basta. É preciso respeito e constância. É preciso verdade e empatia. Eu vi o quanto era preciso a gente se conscientizar das nossas escolhas. E se responsabilizar por elas. Se colocar nas rédeas do próprio destino.

E então, mais uma vez, eu retomei o meu lugar de direito: protagonista da minha própria história. Ciente de cada passo que eu dava e acima de tudo consciente do que eu queria ou não pra minha vida. E então, por um segundo, eu olhei para trás, e te vi cada vez mais distante do meu caminho. Não senti saudosismo, o que eu senti foi muito maior: eu senti alívio. E novamente olhei pra frente e segui firme em busca de amor, o recíproco, mas principalmente: o próprio.

Imagem de capa: Voyagerix/shutterstock

O abraço é o gesto mais bonito que existe

O abraço é o gesto mais bonito que existe

Que me perdoem outras inúmeras formas de demonstrar carinho, mas o abraço é fundamental para o coração viver pleno. Não há gesto mais bonito do que o abraço. Ele perdoa, consola, ama, faz gentilezas e simplifica tudo aquilo que gostaríamos de dizer e não encontramos palavras. Nele, o tempo é algo à parte. Não se contam os segundos e os minutos do mesmo modo, pois existe uma espécie de união afetiva capaz de manipular o sentido de passagem, onde os instantes ganham explicações e confortos.

Como é bom abraçar e ser abraçado. Abraçamos por querermos aproximar amores e somos abraçados por estarmos dispostos a recebê-los. Uma melodia de braços que se confundem e fazem falta quando espaçados. Abraço completa. Viver um único dia na solidão desse carinho é a pior coisa que se pode vivenciar. Porque o abraço não é exclusivo aos membros. Ele também é descrito no cheiro de quem está ao encontro, e ainda mais na intimidade encontrada quando rostos diferentes criam sintonia. Um acordo sem cláusulas, um compromisso sem obrigação e, adiante, um vínculo sem posse.

Abraços são poesias e roteiros dos mais sinceros. Acontecem sem hora, data ou lugar marcado. São livres para estarem e serem quem quiserem. E dessas liberdades genuínas, nascem o respeito e a admiração por todas as formas e jeitos.

O abraço é gesto mais bonito que existe. Cabe de tudo quando encontramos outros pares para compartilhar.

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Ninguém é livre sentindo medo

Ninguém é livre sentindo medo

Com uma frequência maior do que eu gostaria, leio relatos de pessoas, em especial mulheres, que afirmam ter o ardente desejo de sair de uma relação abusiva, mas que não saberiam por onde começar, essencialmente, por falta de recursos financeiros. Para minha surpresa, quase sempre se trata de mulheres jovens, saudáveis e bem formadas, mas que, após anos de sequestro da subjetividade, estão completamente dependentes emocional e financeiramente de seus carrascos.

Estão diante da porta, mas afirmam, com os mais diversos argumentos, que não conseguem, de forma alguma, sair. Por fim, me perguntam como tratá-los, mudá-los, para que se tornem bons companheiros, de modo que a vida possa fluir “normalmente”. Em outras palavras, anos e anos de abuso poderiam ser esquecidos se eu pudesse fornecer a fórmula que lhes desse de volta o príncipe que as salvaria do mundo assustador que existe lá fora, para onde não desejam ir, cientes de toda a dor que teriam de experimentar para fazê-lo. Mais do que pessoas impossibilitadas, encontro mulheres com um incrível potencial, completamente paralisadas pelo MEDO.

Isso me lembra sempre uma citação de Salústio, que conheci durante a leitura do livro “Amar ou Depender?” de Walter Riso:

“São poucos os que querem a liberdade. A maioria quer apenas um amo justo.”

Sentir medo de fechar uma porta atrás de nós definitivamente, de recomeçar, de ousar, de romper paradigmas, de tocar em nossas feridas, de voltar ao ponto de partida para entender onde perdemos aquilo que não cessamos de buscar, de virar-se do avesso, de bater de frente com nossos temíveis demônios, de reconstruir o que quebramos em pedaços, de reconhecer erros em nós mesmos e de enxergar sem crueldade, mas nem tão pouco submissão os erros de quem conosco errou, tudo isso, aniquila nossa capacidade de ser livres.

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Ninguém é livre sentindo medo, encarcerado por grades imaginárias daquilo que exige ação, mas que escolhemos evitar por terror de tomar para nós mesmos a responsabilidade de conduzir a própria história.

De alguma forma, nos esquivamos por muito tempo das obrigações impostas a quem deseja adentrar a vida adulta estando no comando dela, não como passageiro. Sentimos pavor diante do pensamento de abandonar o conforto da infância emocional e ficamos ali, quietinhos, esperando que alguém cuide de nós como se daquele tempo em que tínhamos 5 anos, não tivessem se passado 25, 30, 40. Queremos levantar vôo livre, mas o medo dessa liberdade nos incapacita e sabota.

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E é por medo que passamos a direção de nossas vidas e nossas decisões aos outros ou às circunstâncias. Sabemos, inconscientemente ou não, que assim será mais fácil culpar alguém pelos inevitáveis fracassos que se sucederão, um após o outro, até que um dia decidamos nos tornar gestores de nossas vidas e tomadores de nossas próprias decisões e suas consequências.

Assim, para a infelicidade (ou sorte) de quem busca essa fórmula mágica que lhe permita ser adulto sem ter de exercer suas funções, o que tem para hoje é que é preciso aceitar que não há meios de conduzir a vida nesses moldes e ao mesmo tempo ser dono de si. Crescer sendo livre exige CORAGEM.

Quando criamos coragem para sair de casa para encarar a solidão e dificuldades materiais e imateriais a tolerar a pseudo-companhia de um pseudo-amor; quando encontramos ânimo para começar uma faculdade a lamentar-se por ganhar menos do que os colegas formados; quando ousamos abrir aquele negócio ou mudar de emprego a tolerar um patrão opressor do velho cargo estável; quando trilhamos uma estrada de dor para pedir perdão a nós mesmos por todas as agressões a que nos submetemos a viver a amargura de jamais ter se dado a chance de saber como teria sido, é que perdemos o medo e damos aquele passo aterrorizante no tudo ou no nada, que nos desestabiliza para logo em seguida, proporcionar uma sensação de poder absoluto.

E é bem nesse instante que, aos perdemos o medo de existir no potencial pleno de cada um de nós, finalmente nos comportamos como SERES LIVRES e somos presenteados com um crescimento pessoal, intelectual e emocional jamais experimentado antes. Ao perder o medo, não importa em qual situação você se encontre, de um momento ao outro você não vê mais dentro de si aquela pessoa medíocre que tinha uma desculpa para tudo. Você encontra o comandante de sua aeronave com sede de muitas horas de voo, com ou sem turbulência.

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Meu problema é esperar que os outros ajam como eu agiria

Meu problema é esperar que os outros ajam como eu agiria

Por Valeria Sabater

A origem de muitas das nossas decepções é esperar que os outros ajam como nós mesmos agiríamos. Esperamos a mesma sinceridade, o mesmo altruísmo e reciprocidade, mas, no entanto, os valores que definem os nossos corações não são os mesmos que vivem na mente dos outros.

William James, filósofo, fundador da psicologia funcional e, por sua vez, irmão mais velho de Henry James, comentou em suas teorias que uma maneira simples de encontrar a felicidade reside no fato de minimizar as nossas expectativas. Quanto menos você esperar, mais poderá receber ou encontrar. É certamente um argumento um tanto controverso, no entanto, não deixa de ter a sua lógica.

“Não espere nada de ninguém, espere tudo de si mesmo, desse modo o seu coração irá armazenar menos decepções.”

Todos nós temos muito claro que no que diz respeito às nossas relações, é impossível não ter expectativas. Esperamos que certos comportamentos e aspectos desejamos ser amados, defendidos e valorizados. Agora, isso não significa que, por vezes, estas previsões nos falhem. Quem espera muito dos outros geralmente acaba ferido em algum detalhe, alguma nuance, portanto, vale a pena considerar uma série de aspectos.

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Quando esperamos que os outros ajam de acordo com nossas expectativas

Os pais que esperam que seus filhos ajam de uma determinada maneira, os casais que esperam tudo de seu parceiro, e amigos que esperam que os apoiemos em tudo que fazem, mesmo que às vezes vá contra os nossos valores. Todas estas situações comuns são exemplos claros do que é conhecido como “a maldição das expectativas.”

Às vezes, algumas pessoas passam a acreditar que o que pensam, sentem e julgam é quase algo “normativo” e até mesmo chegam a colocar um patamar tão elevado quando se trata do conceito de amizade, amor ou família que ninguém pode chegar a estas cimeiras e, portanto, a decepção encontra-se em todos os lados. A chave, como sempre, está no equilíbrio e, sobretudo, na necessidade de ser realista.

É claro que existem certos tipos de expectativas que se enquadram dentro do que é esperado (não traição, sinceridade, respeito, fidelidade …) todos são pilares que sustentam relacionamentos positivos e saudáveis. No entanto, assim que alguém se torna obcecado com a “excelência” da ligação, seja emocional, pai-filho ou amizade matéria, frustração, ressentimento ou até mesmo a raiva que parece. É algo a considerar.

Como parar de esperar muito dos outros

Ninguém é ingênuo por necessitar ver sempre o lado bom das pessoas. Temos o direito de vê-lo, encontrá-lo e até mesmo promovê-lo, mas com alguma cautela. Porque a decepção é a irmã das elevadas expectativas, por isso é mais apropriado não se deslumbrar antes do tempo.

“As aparências não costumam enganar, o que muitas vezes costuma falhar são nossas próprias expectativas sobre os outros …”

Podemos esperar muito dos demais, no entanto, o certo é sempre esperar mais de nós mesmos.

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Chaves que nos ajudarão a deixar de esperar muito das pessoas

Para ajudá-lo a deixar de esperar muito das pessoas ao seu redor, oferecemos as seguintes chaves:

  • Ninguém é perfeito, nem mesmo nós mesmos. Se fôssemos agradar as expectativas que os outros têm sobre nós, viveríamos estressados e infelizes. É impossível, ninguém é um exemplo de perfeição ou virtude absoluta. Basta respeitar uns aos outros e exercer a reciprocidade da forma mais humilde possível.
  • Aprenda a diferenciar expectativas e dependência. Às vezes culpamos os outros pela nossa própria felicidade. Nós construímos grandes expectativas em relação a alguém em particular porque somos dependentes do que nos oferece, e, portanto, exigimos que aja com queremos, porque é a única maneira de nos sentirmos bem..
  • Aceite que nem sempre tem que obter algo em troca. Este é um aspecto que caracteriza muitas pessoas: “Se eu lhe fizer um favor, espero outro de volta.” Como essas coisas nem sempre são cumpridas, o correto é aceitar os outros como eles são.

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Para concluir, talvez William James, a quem citamos no início, estava certo com sua simples proposta: quanto menos esperamos, mais surpresas podemos ter. Isso seria simplesmente dar-se ao luxo de ser um pouco mais livre e menos dependente do comportamento dos outros.

Somos todos falíveis, somos todos seres maravilhosamente imperfeitos tentando viver em um mundo onde, por vezes, decepções caóticas são inevitáveis, mas no qual também habitam o amor sincero e amizades duradouras.

Imagem de capa: Dubova/shutterstock

Sejamos mais gentis. Se isso não vai mudar o mundo, dane-se o mundo!

Sejamos mais gentis. Se isso não vai mudar o mundo, dane-se o mundo!

A gente precisa fazer alguma coisa. Passou da hora. O negócio aqui vai estranho demais. Já faz tempo que anda assim, mas a gente vive feito cavalo na corrida e nem percebe.

Chateia demais essa coisa de viver esquivando, saltando um milhão de rasteiras como criança que pula corda no meio da rua, de olho no carro que vem acelerando acabar com a brincadeira, pronto a atropelar quem estiver à frente.

Aborrece, enfastia seguir tantos manuais de instrução. “Viva assim”, “faça assado”, “durma mais”, “trabalhe menos”, “ligue no dia seguinte”, “coma ovo”, “não coma ovo”. Duro obedecer a tanta ordem, tanto preceito e conselho e receita e palpite. Impossível responder a tanta expectativa. Tanta instabilidade. “De manhã eu te amo, à tarde eu quero que você suma daqui!”

A gente precisa fazer alguma coisa. Mas fazer assim, sem mais, pela mera expressão da vontade de que as coisas melhorem. Devagar. Fazer pela esperança de construir, vencer pelo empenho. Fazer sem esperar que o outro retribua. Fazer sem expectativa, sem esperar em troca. Fazer pelo outro o que você pode fazer de novo amanhã. E depois de amanhã. E depois.

Olha quanta gente se engalfinhando e agredindo! Olha aquele sujeito ressentido da alegria do cachorro da vizinha que brinca lá embaixo com as crianças. Ele não se conforma de todos serem felizes, os meninos, as mães, os cachorros. Esbraveja em silêncio, resmunga “como assim? Esse cachorro é mais feliz do que eu? No meu condomínio? E então eu pago as taxas de manutenção das áreas comuns para um cachorro se divertir no meu lugar? NÃO aceito!”

Infeliz, ele faz uma reclamação formal à síndica, a síndica proíbe os cachorros de brincar na pracinha do prédio com as crianças, as crianças e os cachorros brincam no apartamento mesmo e sujam o tapete da mãe, a mãe fica nervosa, grita e manda todo mundo ficar quieto que ela tem mais o que fazer e não vence limpar a casa. E assim as crianças e seus cachorros vão brincando menos. E assim a gente se distancia devagar.

É tempo de fazer alguma coisa. Não essas reclamações covardes e ressentidas aos síndicos. A gente precisa fazer alguma coisa que preste. Vê aquela senhora ali? Está ardendo de raiva porque desejou feliz aniversário a alguém que depois esqueceu de fazer o mesmo por ela. Sabe o que ela fez? Prometeu nunca mais desejar feliz aniversário a NINGUÉM!

Quanta gente afetada, autorreferente e apaixonada pelo som da própria voz! Tão convencida de sua perfeição, tão dedicada a exaltar as próprias façanhas como se ninguém mais no mundo prestasse!

Não dá. A gente precisa fazer alguma coisa. Essa mania de achar que o mundo gira em torno de nossas vontades fez de nós um bando de cegos tateando os corredores pegajosos e fedorentos de nossos egos.

Está ficando pior. Deve ser porque a gente prefere achar que o problema não é nosso. É preciso fazer alguma coisa agora. Não precisa ser passeata, protesto, abaixo-assinado, manifestação. Pode começar pequeno. Com gestos mais simples. Uma ação solitária que provoque um milhão de respostas solidárias: vamos fazer gentilezas. Se não fizer bem, mal não vai fazer. Se não mudar o mundo, o mundo que se dane. Sejamos gentis assim mesmo!

Imagem de capa: Dmytro Zinkevych/shutterstock

Só dê ouvidos a quem te ama- Padre Fábio de Melo

Só dê ouvidos a quem te ama- Padre Fábio de Melo

Só dê ouvidos a quem te ama. Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo. Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.

Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer.

Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.
Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita, o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as opiniões de pessoas estranhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro.

Ando pensando no poder das palavras. Há palavras que bendizem, outras que maldizem. Descubro cada vez mais que Jesus era especialista em palavras benditas. Quero ser também. Além de bendizer com a palavra, Ele também era capaz de fazer esquecer a palavra que amaldiçoou. Evangelizar consiste em fazer o outro esquecer o que nele não presta, e que a palavra maldita insiste em lembrar.

Quero viver para fazer esquecer… Queira também. Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir que destruir.

Repito: só dê ouvidos a quem te ama. Tudo mais é palavra perdida, sem alvo e sem motivo santo.

Só mais uma coisa. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. Quem geralmente acha não achou nem sabe ver a beleza dos avessos que nem sempre tu revelas.

O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito.

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A felicidade está no quintal de cada um!

A felicidade está no quintal de cada um!

Sempre me causou admiração a história do principezinho que possuía apenas uma rosa e era feliz ao seu lado. Não era a singularidade da flor que me deixava admirada, mas o contentamento que esse tão pouco podia provocar.

Andei por aí a observar o comportamento alheio, e enxergando de perto tantas lamúrias e desalentos, deparei-me com a inevitável conclusão de que o que nos falta é cultivar nossas roseiras. É isso sim!

Imaginando as possíveis experiências e os significantes aprendizados que poderia alcançar, decidi fazer para mim esse experimento. Com a disposição para cultivar, compreendi que meu primeiro ganho estava em fazer uma convocação da coragem. Precisava dela para deixar uma já conhecida zona confortável e me expor à busca da rosa que eu desejava. Nem todos sabem lançar-se assim e pude sentir uma leve brisa de mudança. Nesse meu intento também descobri quão necessária é a perseverança. Já sabia de antemão que o cuidado dispensado tornaria valoroso meu cultivo, e fiz desse um motivo para não desanimar.

Hoje cultivo minha própria roseira e sei o valor que ela tem!

Na luta pelas flores, muitas vezes esbarrei nos espinhos, e entendi que eles pertencem ao ato de florescer. Verifiquei que a mudança de ambiente fazia bem à nova vida que eu cultivava, e ao ver minha roseira crivada de pequenos botões entendi que todos os esforços valeram à pena.

Agora sei como cultivar melhor minha própria vida e aconselho a todos que não conseguem delimitar seus horizontes, a fazerem a experiência do cultivo. De roseiras também. Mas de mudanças de atitude, principalmente. Muitos de nós não saberíamos administrar o fato de ter apenas uma roseira assim, tão no singular. Nem mesmo saberíamos valorizar esse pequeno tesouro.

A inquietude e a insatisfação tem nos deixado completamente cegos. Queremos demais, reclamamos demais e nos contentamos de menos. Escondidos em nossas redomas vaidosas, traçamos planos cada vez mais ambiciosos e quase sempre deixamos de ver que somos afortunados ou que já chegamos aonde queríamos estar.

Um sem números de lamentos pela falta de perspectiva, ou de conquistas, seria facilmente calado se estivéssemos de olho em nossas roseiras. E desanimaríamos menos, se soubéssemos que não é a quantidade de rosas que nos faz felizes.

É uma pena, mas nem todos se dão conta de que a vida é uma roseira prestes a florescer!

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Você chutou o balde? Esse texto é para você, guerreiro(a)!

Você chutou o balde? Esse texto é para você, guerreiro(a)!

Leitor(a) querido(a), começo esse texto parabenizando-o pela sua coragem de ter desistido daquilo que tanto o incomodava. Isso mesmo, parabéns por ter se posicionado e pensado em você. Você foi muito guerreiro(a) por ter chutado o balde e saído daquele emprego no qual sentia-se profundamente desvalorizado e infeliz, e hoje está diante da possibilidade do recomeço. Não foi e não está sendo fácil, acredito. Provavelmente, você esteja enfrentando severas críticas dos seus amigos e familiares. Mas, entenda, você não fracassou ao desistir daquele emprego, você, na realidade, resgatou a sua dignidade, e, confie, novas portas se abrirão para você.

Parabenizo a você que ficou tantos anos vivendo uma relação afetiva infeliz. Aliás, pensando bem, será que você viveu mesmo uma relação “afetiva” ou um tormento? Certamente foi muito difícil para você conseguir romper, isso é perfeitamente compreensível, pois as rupturas nessa área são sempre carregadas de dores e angústias, por mais infeliz que a pessoa esteja. São muitas questões para se levar em consideração, sabe? E acontece de muitas pessoas optarem por uma vida infeliz e amargurada por receio de serem julgadas como egoístas ou inconsequentes ou por medo de sentirem-se desamparadas, como se já não estivessem vivendo dessa forma na relação.

Então você foi forte o suficiente para dar um basta e recomeçar a sua vida. Não importa se um novo amor vai chegar em breve ou se continuará sozinho(a) por um longo tempo, importa é que teve capacidade de lutar por você e hoje olha para trás e respira aliviado.Talvez você já tenha ouvido a expressão “fulano fracassou no casamento”, bem, acredito que seja melhor um casamento fracassado do que viver infeliz pelo resto da vida. É preciso muito cuidado para não permitirmos que esses dedos que a sociedade nos apontam ditem a forma como devamos viver.

Sem falar que, muitos que criticam alguém que teve coragem de sair de uma relação infeliz, sentem inveja dessa pessoa por ter feito algo que elas gostariam mas não tem coragem. Parabéns…há, sim,vida após a separação. Deixando claro que não estou fazendo apologia ao divórcio, apenas não concordo que alguém tenha que viver como um morto-vivo dentro de uma relação falida onde não há sequer respeito, imagina amor.

Palmas para você que desistiu de continuar com uma “amizade” ao se dar conta de que o(a) amigo(a) era só você, o outro apenas tirava proveito. Não sinta remorso por isso, você merece um prêmio por ter dito “chega” a esse(a) sanguessuga. Uma coisa é fato: quando optamos por nos tratar com respeito e zelo, tudo muda ao nosso redor. Inclusive, pode acontecer de experimentarmos a sensação de solidão por algum tempo, isso porque as pessoas com as quais nos relacionávamos nos mais variados contextos( amizade, namoro, trabalho,família etc.) vão percebendo que não somos mais os mesmos. Elas se depararão com outra pessoa e isso gera um desconforto muito grande nelas.

Então, ao perceberem que, com essa nova criatura elas não terão como ser abusivas, desrespeitosas ou folgadas, então, só restará a elas a opção de saírem de cena. Mas não devemos nos preocupar com essa aparente solidão, trata-se apenas de um breve período de reconstrução das nossas relações. Outras pessoas chegarão em nossas vidas, nos trazendo o que elas tem de melhor e receberão, também, o nosso sagrado. É vida que segue!

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Nós, os imperfeitos

Nós, os imperfeitos

Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas
( Baltasar Gracián )

Pequenas inconveniências diárias podem ser irritantes; o senão dos outros pode ser muito desagradável. Ninguém gosta da deselegância dos convictos de suas certezas. Ninguém tolera os egoístas e os ingratos, os que não retribuem o amor que lhes é dedicado, estes são inesquecíveis.

Difícil suportar os fúteis; os que falam mas não agem; os que nos esquecem sem entendermos o por quê. Irritante os que perdem o humor no momento em que reina a graça, ainda que unilateralmente. Insuportável os que reclamam apenas pelo hábito de certificar-se de sua falta de controle.

Se o inferno são os outros, não se iludam, somos parte da flama.

Bendito o dia em que se percebe consumida a liberdade do autoritarismo de nossos desejos. Bendito o dia em que nos encontramos acompanhado de nós mesmos e espantados nos vemos cheios de pequenas inconveniências, egoísmos e ingratidões, e nos notamos coberto por certezas, atos e despropósitos. Neste dia percebemos o que somos, e somos o que o outro também é.

Somos feitos de pequenas imperfeições, seres cobertos por certezas equivocadas e desatinos. Quando a arrogância do outro nos alcança, não deveria haver espanto, porque também já estivemos na arrogância, no o dia em que irrompemos na impaciência da espera.

Quando a ingratidão do outro nos fere, há que se achar o anestésico, porque também já ficamos na condição de ingratos, nos dias em que perdemos a memória, a graça e a fé. Quando o mal humor do outro nos assusta há de haver sorrisos, porque também já negamos abraços por falta de disposição de espírito.

Não há nesta vida quem não tenha falado mais do que agido, quando golpeado de paixão jurou esquecer e recordou ou deslembrou daquilo que um dia jurou eterno.

Bendito o dia em que nos percebemos desapropriados de certezas e nos permitimos ser imperfeitamente livres, abarrotados de simplicidades.

Bendito o dia que traz aos nossos olhos nossas próprias imperfeições, porque são elas que nos ensinam a amar.

Imagem de capa: Reprodução

Gente bem resolvida

Gente bem resolvida

Quanto mais gente melhor.

” Veja se dá para entender: a gente, para a gente mesmo, é a gente. Raramente consegue ser o outro. A gente, para o outro, não é a gente, é o outro. Deve estar confuso. Tento de novo. Cada um de nós vive uma ambiguidade fundamental: ser a gente e ao mesmo tempo, ser o outro. Pra gente, a gente é a gente. Para o outro, a gente é o outro.”
( Artur da Távola )

Gente bem resolvida não precisa do outro. Quem inventou isto?

Eu penso que gente bem resolvida precisa de todo mundo. Outro dia ouvi a seguinte frase: “Estou com ele não porque eu precise, mas porque quero. Não sou carente.” Ora, todo mundo é um pouco carente e um pouco alforriado. Parece que precisar de alguém é fraqueza. Pura bobagem.

À medida que vamos amadurecendo, ficando autônomos, independentes no sentir, vamos percebendo que precisar é também uma forma de felicidade. Eu particularmente quanto mais livre fiquei mais precisei do outro. Precisei de amigos para rir das decisões equivocadas que tomei, precisei de amores para dividir a vida. Precisei e quis.

Precisar de alguém é ótimo, é troca no melhor dos sentidos. A auto-suficiência exagerada é tediosa. Precisamos de amores e amigos, precisamos inclusive dos ex, são eles quem nos lembram dos caminhos percorridos, erros, acertos e evoluções. O tempo nos ensina a notar delicadezas; detalhes compartilhados.

Sem a percepção do outro nos perdemos em uma linha reta e dura. Saber ficar só não significa não precisar do outro. Coçar as costas com régua, escova ou mãozinha de madeira, resolve, mas não é tão prazeroso como dizer: Mais para esquerda, mais para o centro, aí, aí.

Na qualidade de seres incompletos que somos, brotamos na presença do outro, com o afeto do outro. Ter um amigo para dividir a preguiça ou a emergência é delicioso; um amor para dividir as implicâncias e o edredom é aconchegar a existência; um ex amor para lembrar a data esquecida ou a velha piada faz parte de saber-se existido.

A existência requer o outro. Há pessoas que ficam, há pessoas que partem, mas ninguém parte ou fica apenas, há sempre um pouco de nós espalhado em lembranças. Somos, portanto, muitos. Ter pessoas enchendo nossa vida e algumas vezes nossa paciência é muito bom.

Nossa vida é composta de imprescindibilidades que desprezamos sem nos dar conta: A ligação da mãe para perguntar se você já almoçou; o cafezinho que a secretária nos leva no meio do desespero de papeladas sem fim; a massagem nos pés depois de um dia terrível; o sorriso e a reclamação do filho; o abanar do rabo do seu cachorro ou o ronronar do seu gato; o amigo que você telefona depois de beber todas; o amor que você liga para esvaziar a raiva, aliviar o aperto no peito ou dizer que ama.

Todos os detalhes importantes e inesquecíveis da vida têm o outro; de alguma forma o outro está. Tem aquele que ficará pra sempre, que ficará por uns instantes ou por um tempo, não importa, todos os detalhes importantes e inesquecíveis da vida, do café ao amor, tem o outro, porque a gente quer e precisa.

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Amores Nocivos: como sobreviver

Amores Nocivos: como sobreviver

O coração é um músculo irresponsável que vive dentro do peito da gente. Qual um cavalo selvagem, não aceita limites que o impeçam de se aventurar por aí. Age de acordo com regra nenhuma, escolhe ignorando qualquer tipo de critério que venha determinado pela razão (essa chata e pentelha que não sabe nada de amor!). O coração deveria ser menos independente em suas loucas experiências; mas é insolente, debochado e venal. Somos hipnotizados pelas preferências do coração. Seduzidos por sorrisos que nos colocam nus diante da lógica, submetemo-nos ao sabor delicioso de estar apaixonado. Paixão é fogo ligeiro, tanto queima, quanto arde e pode transformar nossa desarmada pessoa em cinzas, caso sejamos tolos o suficiente para nos deitarmos em sua morna e sedutora cama, sem compreender sua linguagem dúbia e envolvente.

ATIRE A PRIMEIRA FOTO RASGADA QUEM NUNCA SOFREU DE AMOR

Não importa o quanto seja arriscado amar. Viver sem amor é tão saboroso quanto um pão deixado ao relento por três noites; duro, sem gosto e difícil de engolir. O amor romântico é invenção dos loucos, loucos por uma vida com sentido, emoção e graça. O amor romântico é aquela friagem no estômago que se compara ao voo de mil borboletas coloridas e indóceis. Amar alguém nos torna mais humanos, abertos a novas experiências e propensos à felicidade. E tudo isso seria perfeito, caso houvesse no mundo a maravilhosa premissa de que todo amor fosse correspondido; de que só fosse permitido ao amor extinguir-se num compromisso tácito e silencioso entre todos os envolvidos. Ahhhh… mas não é assim! O amor é o torrão de açúcar que alimenta o cavalo selvagem no peito. Caso seja cortado de repente, causa sofrimento e dor; saudade que machuca pela ausência do toque que não se tem mais. Quem nunca sofreu de amor talvez não seja nem ao menos capaz de entender que o fim do amor não tem nada de belo ou romântico. É ferida sob o sal; é perder-se num labirinto sem saída; é encontrar o fundo do poço, sem nem uma gota de água para molhar a alma e trazê-la de volta à luz.

HÁ QUEM TENHA (DE VERDADE) UM DEDINHO PODRE PARA O AMOR

Como quase todas as coisas mais maravilhosas da vida, não há curso preparatório para nos ensinar “as mil maneiras de amar a pessoa certa”. Escolhas equivocadas são bem tentadoras, na verdade; têm aquela sedutora pitada do risco. O fato é que aprendemos a amar, amando. E é bom que se saiba: às vezes dá certo, às vezes dá errado. O que nos faz ver no outro algo que nos faça tremelicar por dentro, é a soma de todas as nossas experiências afetivas. À medida que vamos nos tornando mais íntimos dos sentimentos, criamos uma espécie de roteiro interno; rabiscos amorosos que nos fazem reconhecer no outro aquilo que nos faz sentir mais vivos e despertos. Sem que tenhamos muita consciência disso, a intensidade do amor que somos capazes de ter por nós mesmos, revela muito sobre nossas escolhas amorosas. Por alguma misteriosa razão, há quem estabeleça um perigoso e estreito vínculo entre amor e sofrimento. A pessoa fica cega para as pequenas vozes de alerta e embarca repetidas vezes em relações fadadas ao fracasso, porque cismou que se não doer, não é amor.

FAZER AS PAZES COM A POSSIBILIDADE DE SER FELIZ

Sobreviver a um amor nocivo, daqueles que colocam a gente num lugar escuro e árido; daqueles que nos apequenam diante da vida; daqueles que nos fazem duvidar sobre termos algum valor ou atrativos, é semelhante a ter a chance de nascer de novo nesta mesma vida. Há que se fazer da dor do fim, uma base para escolhas diferentes. Há que se fortalecer a alma, diante da crueza de um não à nossa alegria de viver. Há que ser o suficiente para fazermos as pazes com nosso amor próprio. Há que ser a ponte para nos darmos a chance de visitar outros lugares, mais prontos a nos acolher e tirar de nós nossa melhor porção. O tombo só faz sentido se aprendemos a cair de um jeito que nos ressignifique. Que os joelhos ralados num amor nocivo, nos torne mais aptos a optar por veredas que nos apontem vales, cavernas e montanhas de luz. Amar é para ser bom, para fazer a vida ter mais gosto. Se faz sofrer, não é amor. É, apenas uma versão pirateada, uma mentira que precisa a todo custo ser revelada, desmascarada e levada para bem longe de nós.

Imagem de capa: Rawpixel.com/shutterstock

Ninguém vai te ensinar a viver

Ninguém vai te ensinar a viver

Esqueça os guias e manuais. Preparada ou não, a vida vai te pegar de jeito. No escuro, de surpresa. Rápido feito um tapa na cara, intenso feito orgasmo. Acontece com todo mundo. Quando menos se espera, ela salta na sua frente e te nocauteia com a força de dez Alis. A contagem se inicia, tudo fica turvo e a gente tateia em busca de algo pra se apoiar. No corner, centenas de treinadores gritam ordens e estratégias. Pais, tias, primos, fiadores, filhos. Cada um com sua própria estratégia “infalível” de vitória.

“Se case”, “tenha filhos”, “não come isso”, “e os namoradinhos?”, “fecha as pernas”, “seja educada” e coisa e tal. Uma confusão de vozes e nenhuma delas é a sua. É complicado se fazer de surdo, mas às vezes é preciso. Ninguém sai sem um arranhão ou dois e quanto mais cedo você se acostumar com essa ideia, melhor. No entanto, nada de baixar a cabeça esperando a contagem final. Lute do seu jeito. Seja dançando, fazendo finta, plantando bananeira ou rindo descomedidamente dos erros e acertos. Não há fórmula mágica. Nunca houve e nunca haverá.

É preciso coragem para olhar nos olhos, um pouco de gingado e, claro, muito preparo. Se você acredita que vai se dar bem apenas por conta de alguma habilidade inata, prepare-se pra levar a maior surra. Toda vitória é fruto de esforço e renúncia. Muito suor, alguns hematomas e por aí vai.

Estamos posicionados entre a ordem e o caos. Estamos ali, feito cego em tiroteio enquanto o tal Universo se decide o que vai ser de tudo que existe. Enquanto isso, uns se apegam à transcendência, outros à ciência ou aos livros e muros da academia. Também existem aqueles que, como eu, preferem o álcool, a pele e o hábito de agricultor obsoleto que ainda colhe suspiro em pé do ouvido. Mas todos nós vamos para o mesmo lugar: a lona.

Não, peraí. Nada de pessimismo. Não tenho paciência pra isso. São rounds de menos pra ficar remoendo toda essa coisa existencialista. O tempo corre, mais rápido que o velocista mais ligeiro. Quem tenta acompanhar come poeira. Como diria Siba, “se eu correr atrás do mundo eu vou gastar meu calcanhar”. Melhor não. Vamos experimentar, fazer do nosso jeito, mesmo que isso acarrete um escorregão ou um knock down.

Mas e daí? Não é uma briga de rua. Lembre bem disso. Existem algumas regras. Mas quem deve ditar o ritmo é você, ninguém mais.

Imagem de capa: Rawpixel.com/shutterstock

Felicidade é uma coisa assim: quanto menos a gente mostra, mais a gente tem

Felicidade é uma coisa assim: quanto menos a gente mostra, mais a gente tem

É triste, mas é verdade. Infelizmente, o mundo anda cheio de gente incapaz de aceitar que você está feliz. Nem sempre é por mal. Pode ser “sem querer”, sem intenção, mas acontece. Cada vez menos pessoas sabem lidar com o fato de que o outro está bem.

Primo distante da intolerância a lactose, esse tipo de mazela causa muito sofrimento a seus portadores. Quem padece da dificuldade de aceitar a satisfação alheia apresenta sintomas diversos, desde uma inofensiva coceira até um desejo irrefreável de disparar uma metralhadora em praça pública.

Entre um extremo e outro, uma infinidade de reações mesquinhas acomete o portador de intolerância a pessoas felizes: fofocas, intrigas, picuinhas, olhos gordos, falsas denúncias, mentiras, nomes na boca do sapo e outras “coisas mandadas” com um único objetivo: despachar o seu estado de graça às favas.

Sentir felicidade é um direito tão sagrado quanto padecer de tristeza. São sentimentos irmãos. Só pode estar verdadeiramente feliz quem já esteve triste e vice-versa. Sem a comparação não é possível saber o que a gente sente. Então, é claro que toda gente feliz merece a felicidade que sente, sobretudo porque foi capaz de sobreviver à tristeza que, vira e mexe, sempre volta.

Agora, felizes ou tristes, isso é departamento nosso. No máximo, diz também respeito às poucas pessoas que fazem parte da nossa vida e nos querem bem.

Acredite: divulgar para além dessa esfera íntima a sua tristeza é muito menos “perigoso” que anunciar aos quatro ventos a sua felicidade. Exceto um ou outro excêntrico, ninguém inveja miséria, desespero, contas vencidas, casamento infeliz, saldo no vermelho, despensa vazia. Ninguém.

Já a sua viagem dos sonhos, sua refeição cara, seu encontro de família, suas bodas de prata, sua alegria escancarada, quando gritadas para todo mundo ouvir, provocam as mais diversas reações. Quase sempre ruins. Fazer o quê? Muito pouca gente está preparada para saber que você está feliz.

É claro que a vida é sua e você conta o que quiser para quanta gente desejar. Mas pensemos. Será mesmo que a sua felicidade vai ser menor ou menos intensa se você vivê-la somente aí, entre você e os seus? Vai saber, né? Na dúvida, é melhor não arriscar. E sejamos todos felizes.

Imagem de capa: Nick Starichenko/shutterstock

Pode me contrariar, eu dou conta!

Pode me contrariar, eu dou conta!

E não é que na semana em que decido mudar de casa, arrumar um novo ninho, gastar as pobres economias com todo o aparato de mudança e pintura e uma coisinha aqui e outra ali, a lavadora resolve quebrar? Ela decerto não gostou da ideia, não queria sair do seu pedestal imponente; talvez tenha ouvido alguém comentar que iria para uma área externa.

Pois é, foi-se ela. Partiu dessa para um ferro velho melhor. E cheia d’água para dar bastante trabalho, sujeira e contrariedade.

E no mesmo dia a sandália arrebentou, o preço daquela mesinha que eu estava paquerando aumentou, a internet rateou, a paciência quase acabou.

Creio que um dos maiores desafios desse vida moderna, é o de ser contrariado. A tecnologia ainda reforça isso, instigando respostas rápidas, caminhos alternativos, decisões certeiras e instantâneas.

Mas a vida não é bem assim, e mesmo quem usa o mais top, fantástico e extraordinário equipamento, vez ou outra tem o seu chinelo arrebentado, ou sua internet congelada. Contrariedades…

Matutando sobre isso, decidi enxergar as contrariedades com uma outra lente, aquela mesma do óculos que já não serve mais, mas faz o feio ficar desfocado, mas bonitinho.

Contrariedade é como aquela pessoa decidida a te provocar. Uma, duas, várias vezes, até você explodir. Experimenta sorrir para ela e encarar até ela desviar o olhar. Acabou, você venceu.

Contrariedade é o professor que não quer testar seus conhecimentos, e sim te pegar num descuido. Ele pode até conseguir pegar, mas não consegue cumprir a própria missão.

Contrariedade é gente que sente prazer em contar notícia ruim, em provocar agonias e medos. Mas, se não houver quem ouça, o vento leva para longe, as notícias e as agonias.

As contrariedades já me viraram do avesso, me tiraram do prumo, da educação, da organização e segurança.

Mas a vida é isso! É botar o pé no chão e encarar o movimento que essa pisada provocou. Pode tudo dar certo, e, na maioria das vezes, dá mesmo. O que não deu, o que contrariou, vira experiência, vira bagagem, sabedoria.

Daqui para frente, e isso é uma promessa, elas vão chegar, fazer suas mandingas e bater em retirada. Não tem contrariedade que ouse me segurar!

Vai me contrariar? Pode vir que eu dou conta. E ainda mando a conta, se for o caso.

Imagem de capa: Uber Images/shutterstock

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