A terra arada e a alma machucada possuem fertilidade para novas sementes

A terra arada e a alma machucada possuem fertilidade para novas sementes

Nos meus tempos de infância, assisti, incontáveis vezes, o meu pai preparando a terra para o plantio. Tão logo caía a primeira chuva, lá estava ele, revirando a terra, deixando-a pronta para as novas sementes. A terra, antes de ser arada, era submetida à queima por ser a forma mais rápida e eficaz de deixá-la limpa. Após todo esse processo, vinha a fase do plantio, na qual eu também participava, depositando as sementes nas covas e tampando-as com os pés descalços. Alguns dias depois, os brotos surgiam das covas, a coisa mais linda de se ver, juro que aquilo me deixava encantada.

Ficava claro ali, diante dos meus olhos, a vida nascendo do caos. A terra que teve toda a sua vegetação destruída pelo fogo, estava ali nos presenteando com novas vidas em forma de mudas que, em breve, trariam o alimento para toda a nossa família. O que, meses antes era só o carvão, transformava-se em uma linda paisagem, tudo verdinho, cheio de brotos e naquela atmosfera encantadora de resiliência e fertilidade. A terra parecia gritar: tentaram me destruir, porém, ressurgi mais fértil ainda. E a “vingança” dela pelo sofrimento oriundos da queima, e dos cortes pelas lâminas de uma enxada era a oferta de alimentos dali a poucos meses. Então, nessa experiência do plantio, é plenamente possível extrair dois ensinamentos que podemos trazer para a nossa condição humana: a) é possível nos tornamos mais fortes e férteis após um grande sofrimento (analogia com a queima da terra); b) podemos optar por devolver, a quem nos feriu, o que temos de melhor, ao invés de nos vingarmos (a terra devolveu alimentos a quem a queimou).

Traçando um paralelo da condição humana com a natureza, é possível, sim, perceber que também somos dotados desse poder de resiliência e superação. Podemos sair mais fortalecidos das circunstâncias que agem como um arado em nossa alma. Podemos, sim, florescer após grandes dores, decepções e golpes dolorosos da vida. Tudo é uma questão de escolha, cabe a cada um de nós decidir o que fazer com aquilo que chega em nossas mãos e em nossas vidas. Em muitas situações, experimentamos a sensação de ter a alma incendiada e transformada em cinzas, então, caberá a nós, a decisão de transformar essas cinzas em adubo nutritivo para germinar novas sementes, ou simplesmente permitir que a esterilidade venha assumir o lugar da vida. Podemos ser um manancial ou um deserto, a escolha está em nossas mãos.

A natureza é uma grande e sagrada escola, as lições estão em todos os lugares possíveis, basta a sensibilidade para enxergar, aprender e praticar. Cada um de nós carrega uma infinidade de sementes ávidas por germinar em forma de amor, solidariedade, perdão, superação, amizade, compaixão, caridade etc. Entretanto, por vezes, falta a disposição do dono das sementes para plantá-las num terreno devidamente preparado, bem como faltam a coragem e a paciência para cuidar delas após o plantio.

A nossa alma, ainda que machucada, não perde as condições de fertilidade e renovação. As sementes da resiliência são preservadas num recôndito intocável, prontas para germinar, brotar, crescer, florescer e frutificar no tempo certo. É possível, sim, sairmos mais fortes, inteiros e férteis após uma grande dor, eu aprendi isso percebendo que uma terra queimada transforma cinzas em verde, alimento e vida.

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Eu mesmo me excluo quando percebo que minha presença não faz nenhuma diferença ali

Eu mesmo me excluo quando percebo que minha presença não faz nenhuma diferença ali

É lógico que existirá alguém que nos amará com inteireza. É lógico que existirão lugares onde seremos recebidos com sorrisos e abraços verdadeiros. Desde que mantenhamos nossos sentimentos intactos dentro de nós, as pessoas certas, nos lugares certos, chegarão e ficarão para sempre em nossas vidas.

Talvez seja difícil percebermos quando não estamos recebendo a atenção e a importância devidas, nos lugares que frequentamos, ou quando não temos de volta nem metade do que ofertamos ao outro. Quando gostamos de alguém, queremos ser próximos, assim como temos o costume de frequentar locais que nos agradam. No entanto, nem todo mundo gostará de nós e nem em todos os lugares seremos bem recebidos.

A vida já anda tão corrida, lotados que estamos de compromissos trabalhistas, que tomam a maior parte de nossas vidas, ou seja, o pouco tempo que nos sobra para usarmos com o que quisermos não deve ser desperdiçado. Mesmo que sejam poucas horas livres, deverão ser desfrutadas junto a quem é verdadeiro, onde somos queridos e não somente tolerados. Termos consciência de que não somos unanimidade nos poupará de perder tempo com aquilo que não nos recebe de braços abertos.

A muitos, infelizmente, é difícil aceitar que nem sempre agradarão, que nem todo mundo lhes terá estima. E, quando não há reciprocidade em relação a quem nos é muito querido, tudo piora. Não adianta: aceitar-se como se é torna-se imprescindível para que se supere o que não dá certo, o que não teve volta, qualquer rejeição que apareça – e muitas aparecerão, inevitavelmente. Quando temos certeza de tudo o que somos de verdade, não nos preocuparemos com quem não gostar de nós, pois estaremos fortalecidos e procuraremos verdades na mesma medida.

Temos que nos amar o bastante, para não aceitarmos a invisibilidade em vida, para que não nos conformemos com a nossa permanência em lugares onde não somos queridos, para que não forcemos amizade, atenção, carinho e, muito menos, amor de quem mal se lembra de nossa existência. O afastamento de tudo o que nos torna invisíveis nos ajudará a sermos alguém de verdade junto a sentimentos sinceros e recíprocos.

É lógico que existirá alguém que nos amará com inteireza. É lógico que existirão lugares onde seremos recebidos com sorrisos e abraços verdadeiros. Desde que mantenhamos nossos sentimentos intactos dentro de nós, as pessoas certas, nos lugares certos, chegarão e ficarão para sempre em nossas vidas.

Imagem de capa Hanna Kuprevich/shutterstock

Não precisa fazer sentido, mas precisa trazer paz.

Não precisa fazer sentido, mas precisa trazer paz.

Tem amor que é calmaria. Tem amor que é turbilhão. Alguns aparecem do nada, mudam a rotina, o fluxo, o caminho. Tiram o ar sem dó, dão dor de estômago e arrumam um jeito de invadir nossos pensamentos. Outros, são mais tranquilos, gostam do silêncio e detestam exposições. A verdade é que a forma de amar pouco importa. Amor é amor de qualquer forma, em qualquer definição e de qualquer jeito.

No livro “ A Décima Segunda Noite” de Luiz Fernando Veríssimo, o autor utiliza-se de seu bom senso peculiar para falar sobre as diferentes formas de amar: “Amores simples, amores loucos, amores sem esperança, amores grotescos – isso sem falar no meu, que competia em todas as categorias”.

Amor não é um sentimento que traga explicações ou que deixe exposto suas regras como em um jogo. Amar se aprende amando. Não precisa fazer sentido, precisa, apenas, trazer paz. O problema acontece quando as pessoas confundem “turbilhão de sentimentos” com “prisão psicológica” e acreditam que, para serem felizes precisam, antes, sofrerem demasiadamente.

As pessoas, em sua grande maioria, acreditam em teorias amorosas pregadas como verdades absolutas: “relacionamento a distância não dá certo”; “amor à primeira vista não existe” ou “amor verdadeiro só existe um”. Como se o amor fosse um manual elaborado por especialistas da felicidade e seguisse regras pré- determinadas.

Quem inventou a história de que o amor está relacionado à taquicardia? Que o coração tem que bater em uma frequência surreal? Que tremores, suor e respiração pesada são sinônimos de amor verdadeiro?

Sabe, nem sempre o amor da sua vida será a grande paixão do passado. Pode ser que seu amor nem tenha aparecido ainda, que seja totalmente diferente do que você espera e não seja tão sarado quanto o Wolverine, mas acredite, você será mais feliz do que imaginou.

Uma das citações mais doces e reais do amor genuíno foi feito por Gabriel Garcia Márquez, Em “O amor nos tempos do cólera”: “(…)tinham contornado juntos as incompreensões cotidianas, os ódios instantâneos, as grosserias recíprocas e os fabulosos relâmpagos de glória e cumplicidade conjugal. Foi a época em que se amaram melhor, sem pressa, sem excessos, e ambos foram mais conscientes e gratos pelas vitórias inverossímeis contra a adversidade. A vida ainda havia de confrontá-los com outras provas mortais, sem dúvida, mas já não tinha importância: estavam na outra margem.”

Amor é o que fica quando a beleza vai embora, quando a rotina se instala e quando o dinheiro aperta. Amor é calmaria em meio à tempestade e certeza da companhia, indiferente das marés contrárias.

Amor, meu caro, é o que faz seu coração sossegar e não o que proporciona uma parada cardíaca a cada situação inesperada.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Por que complicamos tanto a nossa vida?

Por que complicamos tanto a nossa vida?

Por que problematizamos as nossas dificuldades? Por que tornamos coisas simples tão complexas? Por que dificultamos a nossa vida com mentiras criadas pelos outros e por nós mesmos? Por que endeusamos os outros, na expectativa de que sejam perfeitos? Por que não paramos e vemos o que é essencial?

Hoje, enquanto dirigia para o trabalho, acompanhado por minhas próprias preocupações, tocou uma música no rádio chamada Epitáfio, dos Titãs. A música faz uma reflexão sobre frases colocadas em um túmulo e reflete sobre certos arrependimentos por não se ter vivido a vida da melhor maneira: saboreando-a.

Tive, então, um insight sobre como tudo isso é significativo, pois acredito que essa seja a maior busca de todas, além de descobrir quem somos, que é:

Como vivemos? Como viver melhor nesse lapso de tempo em que estamos aqui?

Então, lembramo-nos das vezes em que amamos e expressamos o nosso amor usando conta gotas; em que seguramos o choro por termos crescido; em que não paramos e aproveitamos o que há de bom ao nosso redor; em que não arriscamos; em que tivemos medo de errar e não agimos; em que fizemos o que os outros queriam que fizéssemos; em que não respeitamos e aceitamos a individualidade de cada pessoa; em que não deixamos a vida ser como é; em que complicamos as situações com julgamentos, rancor, ações e palavras, em vez de simplificarmos e ficarmos com o que é essencial e importante; e quando demos importância a algo que, na verdade, não tinha importância alguma.

Existe uma boa notícia: ao perceber que talvez essas coisas possam estar acontecendo na nossa vida, é possível mudá-las quando e o quanto quisermos. Diferente da música, por tratar de arrependimentos que não podem ser reparados, ou ser feito um novo futuro, nós ainda estamos vivos. Nós ainda temos uma outra chance, nada está perdido, ainda há tempo de fazer diferente.

Agora podemos nos permitir amar mais, chorar mais, rir mais, festejar mais, aceitar mais, errar mais, arriscar mais, aproveitar mais, descomplicar mais e viver mais.

Para isso tudo, é necessário uma boa dose de insanidade, no bom sentido, e de coragem. Isso quer dizer, muitas vezes, largar o que já passou, perdoar quem um dia ofendeu, esquecer o que já não é importante, aceitar o que não acontece conforme desejamos, respeitar o que é maior que nós e parar de tratar a vida e Deus como mordomos pessoais, como se tudo existisse para satisfazer os nossos desejos.

Parar de se colocar no centro do universo, parar de se achar importante, parar de se achar melhor que alguém, parar de exigir perfeição, parar de julgar e de acusar o outro.

Sei que as pessoas têm suas expectativas em relação a nós e que também temos as nossas imagens sobre nós mesmos, mas quem é você, sem o seu passado para buscar? Quem é você agora, sem consultar a sua memória? Você é preso a alguém ou a alguma situação? Você é obrigado por quem a entrar em um molde, a ter uma característica, a agir de uma determinada forma?

O seu passado o influencia porque, no fundo, você acredita que ele pode influenciá-lo. Nós somos, muitas vezes, fiéis ao passado, porque acreditamos que ele é uma propriedade nossa, é a nossa história, o que nós temos para contar para os outros. Assim como ainda somos fiéis aos nossos pais, repetindo seus traços, mesmo sem concordarmos com isso.

Mas quem sou eu sem o meu passado? Quem sou eu sem os exemplos dos meus pais?

Perceba que você é muito mais do que isso, é muito mais do que passado, memórias, defeitos, qualidades, repetições, condicionamentos, pensamentos, ações, palavras, acontecimentos, corpo; mas é isso em que você ainda se baseia para se identificar.

É como se eu lhe perguntasse quem você é, sendo que você só me mostra a sua identidade. Veja que isso é só um papel e não tem importância nenhuma, assim como todo o resto.

Mude, mas mude para você. Realize o que lhe traz sensação de felicidade. Trabalhe o amor e compaixão em você. Perceba que muitas certezas que guardamos são meras pedras em nossa mochila que carregamos pela vida. Desapegue-se do que não lhe serve mais e permita conhecer-se a cada dia, não para ser uma pessoa perfeita, pois, em certo sentido, isso não existe, mas para aproveitar esse período de tempo, entre nascimento e morte, que chamamos de vida.

Apenas queira estar bem consigo mesmo e com a vida, queira estar contente, queira ser feliz. Existe uma missão mais bonita do que essa? Assim como uma vela, que não dura para sempre e o seu propósito, depois de acesa, é iluminar o seu redor e poder acender outras velas, sem que isso a faça se apagar no caminho.

“Há um leão em você e você está vivendo como um rato, eu vou lhe dizer para rugir e ser o leão que você é. A vida é grande o suficiente para assumir todos os nossos erros, todas as nossas aventuras, todo o nosso coração aberto, tudo, você não pode ultrapassar, ser maior que a vida. Se você é um leão, então você tem de rugir, mas não é um rugido de arrogância ou estupidez, é que você abra o seu coração para a vida. Eu digo a você para caminhar o seu trajeto, não desrespeite outros seres, demonstre amor à sua família, tanto quanto você pode, mas caminhe sempre a sua verdade. ” MOOJI

Que a sua parte que acredita nisso tudo e que quer o seu melhor seja vitoriosa perante uma parte pequena e míope sua que lhe impõe dificuldades.

Imagem de capa:Reprodução

São Paulo recebe MUSEU DA EMPATIA no Parque do Ibirapuera

São Paulo recebe MUSEU DA EMPATIA no Parque do Ibirapuera

Qualidade cada vez mais rara no ser humano, a empatia vem sendo tema de inúmeras discussões. Depois de sua exposição original em Londres, agora chega em São Paulo, no Parque do Ibirapuera, a mostra “Caminhando em seus sapatos…”.

O título original da exposição – ‘A Mile in My Shoes’ – remete ao provérbio indígena never judge a man until you have walked a mile in his moccasins (nunca julgue um homem até você ter andado uma milha em seus mocassins). Desde 2015, o Empathy Museum coletou mais de 150 histórias e pares de sapatos, tendo recebido um público de mais de 10 mil visitantes. A Mile in My Shoes foi exibida em Londres e em Redcar, na Inglaterra, e em Perth, Austrália. Nos próximos anos, há planos de realizar novas versões da instalação em Namur (Bélgica), Moscou (Rússia) e Milão (Itália)- (conteúdo divulgação)

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Imagem Felipa Porto

A exposição, que acontece de 18 de novembro a 17 de dezembro, tem como objetivo possibilitar experiência sensoriais e emocionais ao seu visitante.

Tudo começa quando o visitante entra dentro de uma grande caixa de sapato e, lá no seu interior, escolhe um calçado. A partir disso, ele trilhará o caminho ouvindo o depoimento do dono daquele sapato. Nem preciso falar o quanto de diversidade uma atividade dessa pode promover, né.

Os relatos, segundo o portal Terra,  vão da perda à superação, do luto ao amor, do preconceito e exclusão à esperança e inspiração, e refletem os temas diversidade, violência social e direitos humanos, LGBTfobia, gordofobia, educação, cultura, acessibilidade e direito à cidade.

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Imagem Felipa Porto

Mais informações:

SERVIÇO

Museu da Empatia – Caminhando em seus sapatos… 
ONDE Parque do Ibirapuera
QUANDO 18 de novembro a 17 de dezembro de 2017
HORÁRIO terça a sexta, 10h às 19h / sábados e domingos, 11h às 20h
ENTRADA Grátis / 25 pessoas por vez (senhas distribuídas no local)

Imagem de capa: Felipa Porto

“Você é louca!”

“Você é louca!”

Quantas vezes, ao tentar reagir à violência psicológica perpetrada por um parceiro abusivo, você ouviu a frase: “Você é louca, está inventando coisas e precisa de tratamento psiquiátrico”? Quantas vezes ouviu isso a respeito de outros alvos de violência psicológica?

Creio que muitas, já que o típico perverso narcisista faz você parecer, de fato, louca. Se você o confronta sobre algo que fez, ele diz que você “tem uma imaginação fértil”. Aliás, esta é uma frase usada comumente por abusadores de todos os tipos para invalidar o depoimento das vítimas.

Com frequência dirá que você não sabe o que diz, ou que ele não tem ideia do que você está falando. Quando confrontado, vai alegar que não se lembra nem dos fatos mais marcantes, simplesmente negando que tenham sequer acontecido, nem mesmo admitindo a possibilidade de ter esquecido.

Esse comportamento trata-se de uma tática extremamente agressiva e especialmente revoltante chamada “gaslighting”, comum a abusadores de todos os tipos. Sua percepção da realidade é constantemente posta em cheque até que você perca toda a segurança em sua intuição, sua memória ou seu poder de argumentação. Isso a torna uma vítima ainda mais fácil para o abusador.

Perversos narcisistas praticam o “gaslighting” de forma rotineira. Ele insinua ou diz diretamente que você é instável, que suas crenças são ridículas e que você é pouco cooperativa.

Sim, você é hipersensível e está imaginando coisas. Você é histérica e completamente irracional. Você está exagerando, “como sempre faz”. Em seguida, pune com silêncio passivo-agressivo, avisando que só voltará a falar com você quando você tiver se acalmado e não estiver “tão irracional”.

Com a maior normalidade, vai caracterizá-la como alguém que tem problema psiquiátricos, que precisa de tratamento. Infelizmente, na maioria das vezes, vai ter êxito em levá-la a buscar ajuda psiquiátrica, vez que a sucessão de técnicas de manipulação e confusão mental utilizado num ritmo cruel, de fato leva seus alvos a exaustão mental.

Depois que o perverso narcisista tiver construído essas fantasias sobre suas patologias emocionais, ele contará aos outros sobre elas, como sempre, apresentando-se preocupado e declarando-se uma vítima da situação insuportável que VOCÊ criou.

As falas variam:
“Você tem problemas mentais”, “é promíscua” (mesmo sem jamais ter traído), “alcoólatra” (mesmo sem por uma gota de álcool na boca), “faz stalking” (mesmo sendo ele a perseguir) e que “só não faz algo contra isso porque não quer prejudicá-la”, pois “gosta, ama ou tem consideração por você”. E ele sofre.

“Sua insanidade e instabilidade” faz da vida do narcisista um tormento e por isso, todas as suas traições, os seus abusos verbais, psicológicos e físicos são justificáveis. Ele tem crédito com você. Você causou tudo isso.

Confrontado, fará a inversão dos fatos e responsabilidades. Não, ele não fez nada. Ele não tem ideia do porquê você estar tão irracionalmente furiosa ou machucada, afinal foi VOCÊ que o magoou terrivelmente. Ele acha que você realmente precisa de tratamento. Ele gosta muito de você e faria qualquer coisa para te ver feliz, mas não sabe o quê, porque você sempre o afasta quando ele tenta ajudar. Às vezes, é ele quem se afasta apenas “para preservar você”.

Assim, o perverso narcisista mata dois coelhos numa cajadada só, ao, simultaneamente, se eximir de qualquer responsabilidade por sua óbvia antipatia, falta de colaboração, descontrole ou desequilíbrio emocional e deixa implícito que há algo fundamentalmente errado com você e por isso está tão furiosa com ele.

Sua “expertise” é minar a credibilidade de seu alvo junto aos outros, pois representa o papel do parceiro/genitor/irmão/amigo abnegado tão perfeitamente que ninguém vai acreditar em você, até porque, muitas vezes você terá, de fato, atingido um grau importante de descontrole emocional.

O problema é que ninguém sabe ou compreende como você chegou a esse ponto e por mais que tente, conseguirá explicar a poucos que na maioria das vezes tiverem um experiência semelhante.

O caminho para fora dessa teia perversa é o autoconhecimento e a ruptura completa de contato com esses tipos. Qualquer tentativa de manter o contato em qualquer nível que seja pode levar você ao total desequilíbrio emocional, a doenças físicas e psíquicas, ao auto-abandono e, na pior das hipóteses, ao suicídio.

Lembre-se que quando qualquer uma dessas alternativas se confirma, seu abusador VENCE. Portanto, reaja, tirando de suas mãos o poder que, sem perceber, lhe conferiu.

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Imagem de capa: oneinchpunch/shutterstock

Um curta sobre a aceitação da diferença e amizade verdadeira.

Um curta sobre a aceitação da diferença e amizade verdadeira.

A animação “Partly Cloudy”, da Pixar mostra uma dupla de amigos um tanto quanto peculiar quando comparada ao resto das nuvens do céu. O trabalho dessa dupla é o mesmo que o das outras, mas o resultado sempre sai diferente.

Aceitação, adaptação e superação são os ingredientes básicos de uma boa equipe.

Confira:

Imagem de capa:Reprodução

A forma como trata um garçom revela a sua personalidade

A forma como trata um garçom revela a sua personalidade

“Dizem que a forma como se trata o CEO não diz nada. No entanto, a forma como se trata um garçom é como uma janela para a alma.” – Del Jones.

A “regra do garçom” sugere que a forma como tratamos os garçons, ou qualquer outro indivíduo numa posição hierarquicamente inferior, pode revelar muito sobre a nossa personalidade. Trata-se de um consenso que se tornou uma tática de entrevista. O cofundador da Au Bon Pain, Ron Shaich, hoje CEO da Panera Bread, avançou que quando um candidato está a ser entrevistado para uma posição executiva, pergunta ao seu assistente como é que o mesmo o tratou. Ser rude e exigente nestas etapas é muitas vezes um sinal de que se trata de uma pessoa que não sabe trabalhar em equipe.

Além disso, de acordo com Frederic Neuman da Psychology Today, a forma como se tratam os garçons/as garçonetes deve ser tomada em conta quando se “escolhe” um futuro parceiro. A forma como se tratam os garçons/as garçonetes pode revelar muito sobre a personalidade de uma pessoa. Não há dúvidas sobre isso. Para entender completamente os traços de personalidade é preciso olhar para os extremos opostos do espectro: as pessoas que tratam bem e as que tratam mal. De cada comportamento podem ser deduzidos traços de personalidade — e podemos fazê-lo ao analisar as cinco categorias que se seguem.

Pessoas que têm um sistema de valores “situacional”.

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“Esteja atento a pessoas que têm um sistema de valores situacional, que “ligam” e “desligam” o charme consoante o estatuto da pessoa com a qual estão interagindo.” – Raytheon, CEO, Bill Swanson

O sistema de valores de uma pessoa é revelado através do seu comportamento. Os valores são algo que determina o comportamento e que influencia as escolhas que as pessoas fazem. Muitas pessoas possuem algo conhecido como sistema de valores situacional. As pessoas com este sistema de valores tratam mal um garçom na medida em que tem um papel de subordinado. O seu caráter muda constantemente com base no estatuto. É condicional.

Por outro lado, as pessoas sem sistema de valores situacional tratam bem qualquer pessoa em qualquer situação. O seu comportamento é incondicional. O seu comportamento não muda a toda a hora.

Aceitam que cada pessoa tem a sua história. O garçom pode ser a única pessoa que sustenta a respetiva família ou talvez até tenha dois empregos — provavelmente para pagar os seus estudos. Independentemente da situação, este tipo de pessoas está ciente de que todos os seres humanos são iguais.

Pessoas que julgam vs. percebem a natureza

As pessoas que tratam mal garçons a maior parte do tempo são pessoas que julgam. Veem-nos como inferiores devido à função que detêm. Falam com estes de forma condescendente. Talvez até estalem os dedos para chamar a sua atenção.

As pessoas que tratam bem os garçons reconhecem que toda a gente tem uma história a partilhar — e não julgam um livro pela sua capa. Têm uma natureza compreensiva.

Pessoas rudes com garçons — não sabem trabalhar em equipe

As pessoas que são rudes com garçons e falam de forma condescendente geralmente não são colaborativas. Não sabem trabalhar em equipe.

Tratar um garçom como igual é um sinal de que as pessoas sabem trabalhar em equipe. Mostram respeito — e recebem respeito.

Pessoas rudes com garçons — não são bons líderes

As pessoas que tendem a ser rudes com garçons exigem respeito. Não é uma característica que se procure em um líder.

Para as pessoas no outro lado do espectro é fácil ganhar respeito. Tal coloca-as numa boa posição para liderar.

Pessoas bondosas com garçons — são solidárias e empáticas

Tratar mal um garçom é sinal de falta de compaixão e empatia. Pelo contrário, tratar bem revela compaixão incondicional e empatia pelas pessoas em geral. Não depende das condições.

Toda mundo é igual

O comportamento que usamos com garçons e garçonetes, ou com qualquer outro indivíduo numa posição hierarquicamente inferior, o jeito como interagimos com os mesmos e o modo como os tratamos pode revelar muito sobre a nossa personalidade. Somos todos humanos. Somos todos iguais, independentemente do cargo profissional que ocupamos.

Fonte: Lifehack, via Insider

Imagem de capa: wavebreakmedia/shutterstock

A sua ausência fez mais por mim do que a sua presença

A sua ausência fez mais por mim do que a sua presença

Estive em um relacionamento sério com a sua frieza, com a sua falta de modos, com a sua estranha mania de só pensar em si mesmo, com as suas mentiras e com a sua ambiguidade. Estive em um relacionamento sério com a sua falta e esse relacionamento foi tão sério que me fechei em um mundo de difícil acesso e alcance. Eu me fechei para quem quer que fosse.

Quando nos conhecemos, eu estava em um momento calmo e muito bom da minha vida. Me apaixonar não estava nos meus planos. Eu ouvia músicas românticas e não pensava em ninguém. E então, a Vida e seus mistérios, permitiu que você surgisse. E você abalou todas as minhas estruturas, antes tão sólidas. Abalou para o bem e para o mal. Você foi terremoto devido a força e intensidade dos sentimentos que provocou em mim. Mas como todo terremoto, depois o que ficou não era bonito de se ver… Uma rocha quando se quebra, se parte em mil pedaços. Eu me quebrei.

E no meio da destruição, eu perdi um pouco a direção dos passos. Eu não sabia mais se andava pra frente, se retornava ao ponto de origem ou se ia para os lados. Perdi, me perdi. E só tempos depois eu fui entender que a sua presença é que havia me tirado dos trilhos. Quando você sumiu, eu voltei a me encontrar. A sua ausência fez muito mais por mim do que a sua presença. As coisas que você nunca disse, o seu silêncio e a sua falta de notícias na verdade eram o melhor que você poderia me dar. E foi só tendo você bem distante que eu fui entender isso. Dentro de mim enfim havia sossego.

Mas quando a gente acha que a lição foi aprendida, a Vida nos testa. Você reapareceu. E quando reapareceu eu já não estava mais naquele ponto do caminho. Eu havia andado alguns passos, meu cabelo estava mais curto, meu olhar mais centrado e o mais importante: eu já não era a mesma. Você me disse “Olá. Ando lembrando muito de você, te procurando sem te encontrar” e confesso que por dentro estremeci. Mas não estremecimento de excitação. Estremeci de medo. Medo de que você me intoxicasse de novo com seu egoísmo disfarçado de amor. Medo de que eu acreditasse novamente que o seu egoísmo era realmente amor. Medo de que eu caísse na armadilha de inventar desculpas para as suas falhas e acreditasse que na verdade você é assim, frio, por natureza. E por um momento eu quase deixei que isso acontecesse. Eu quase deixei que você segurasse a minha mão, eu quase deixei que nossos lábios se encostassem, eu quase deixei que meu coração sentisse a batida do seu, eu quase te amei de novo, quase. E eu resisti por muito tempo, cinco meses para ser exata, devido ao medo. E foi aí que eu soube que o meu medo não era infundado. Eu não era a única na sua vida. O mais provável é que eu nunca houvesse sido a única. O seu egoísmo continuava sendo a sua principal característica; e sem o mínimo de empatia você arriscou machucar mais de um coração simultaneamente. E você quase conseguiu, quase.

Corri na direção oposta, em direção à sua ausência. Em direção a onde você não estivesse. Você se tornou uma ameaça à minha sanidade. Era como se aquele amor fosse um dia terminar na delegacia. Eu corri na direção oposta com todas as forças que eu tinha, sangrando, confesso, mas decidida a nunca mais permitir que mentiras adentrassem em meu coração e que terremotos me tirassem de mim.

E novamente me reencontrei. A sua ausência era de fato o melhor que você poderia me dar. Radioativo, você não me trazia nada de bom. E eu criei a maior distância que poderia haver entre duas pessoas. Um caminho sem volta. Um tratado assinado pelos dois lados. Tratado não de paz, mas de desligamento. De morte de uma relação, seja ela qual for. O impossível entre nós começava ali. Felizmente. Assim dizia a Lei!

É difícil recomeçar enquanto seus olhos ainda doem. É difícil acreditar no amor novamente enquanto seu coração têm cicatrizes . Mas dentro de mim aquela certeza: a sua ausência era o melhor que você e a Vida poderiam me dar. Eu havia passado no teste, eu realmente havia aprendido a lição!

O próximo passo era me reconstruir do terremoto, das marcas que ficaram na perna e no coração. Mas acima de tudo eu precisava me conscientizar sobre quem eu era e sobre o tipo de pessoa que eu queria que estivesse ao meu lado. Porque só sentimento não basta. É preciso respeito e constância. É preciso verdade e empatia. Eu vi o quanto era preciso a gente se conscientizar das nossas escolhas. E se responsabilizar por elas. Se colocar nas rédeas do próprio destino.

E então, mais uma vez, eu retomei o meu lugar de direito: protagonista da minha própria história. Ciente de cada passo que eu dava e acima de tudo consciente do que eu queria ou não pra minha vida. E então, por um segundo, eu olhei para trás, e te vi cada vez mais distante do meu caminho. Não senti saudosismo, o que eu senti foi muito maior: eu senti alívio. E novamente olhei pra frente e segui firme em busca de amor, o recíproco, mas principalmente: o próprio.

Imagem de capa: Voyagerix/shutterstock

O abraço é o gesto mais bonito que existe

O abraço é o gesto mais bonito que existe

Que me perdoem outras inúmeras formas de demonstrar carinho, mas o abraço é fundamental para o coração viver pleno. Não há gesto mais bonito do que o abraço. Ele perdoa, consola, ama, faz gentilezas e simplifica tudo aquilo que gostaríamos de dizer e não encontramos palavras. Nele, o tempo é algo à parte. Não se contam os segundos e os minutos do mesmo modo, pois existe uma espécie de união afetiva capaz de manipular o sentido de passagem, onde os instantes ganham explicações e confortos.

Como é bom abraçar e ser abraçado. Abraçamos por querermos aproximar amores e somos abraçados por estarmos dispostos a recebê-los. Uma melodia de braços que se confundem e fazem falta quando espaçados. Abraço completa. Viver um único dia na solidão desse carinho é a pior coisa que se pode vivenciar. Porque o abraço não é exclusivo aos membros. Ele também é descrito no cheiro de quem está ao encontro, e ainda mais na intimidade encontrada quando rostos diferentes criam sintonia. Um acordo sem cláusulas, um compromisso sem obrigação e, adiante, um vínculo sem posse.

Abraços são poesias e roteiros dos mais sinceros. Acontecem sem hora, data ou lugar marcado. São livres para estarem e serem quem quiserem. E dessas liberdades genuínas, nascem o respeito e a admiração por todas as formas e jeitos.

O abraço é gesto mais bonito que existe. Cabe de tudo quando encontramos outros pares para compartilhar.

Imagem de capa: Bogdan Sonjachnyj/shutterstock

Ninguém é livre sentindo medo

Ninguém é livre sentindo medo

Com uma frequência maior do que eu gostaria, leio relatos de pessoas, em especial mulheres, que afirmam ter o ardente desejo de sair de uma relação abusiva, mas que não saberiam por onde começar, essencialmente, por falta de recursos financeiros. Para minha surpresa, quase sempre se trata de mulheres jovens, saudáveis e bem formadas, mas que, após anos de sequestro da subjetividade, estão completamente dependentes emocional e financeiramente de seus carrascos.

Estão diante da porta, mas afirmam, com os mais diversos argumentos, que não conseguem, de forma alguma, sair. Por fim, me perguntam como tratá-los, mudá-los, para que se tornem bons companheiros, de modo que a vida possa fluir “normalmente”. Em outras palavras, anos e anos de abuso poderiam ser esquecidos se eu pudesse fornecer a fórmula que lhes desse de volta o príncipe que as salvaria do mundo assustador que existe lá fora, para onde não desejam ir, cientes de toda a dor que teriam de experimentar para fazê-lo. Mais do que pessoas impossibilitadas, encontro mulheres com um incrível potencial, completamente paralisadas pelo MEDO.

Isso me lembra sempre uma citação de Salústio, que conheci durante a leitura do livro “Amar ou Depender?” de Walter Riso:

“São poucos os que querem a liberdade. A maioria quer apenas um amo justo.”

Sentir medo de fechar uma porta atrás de nós definitivamente, de recomeçar, de ousar, de romper paradigmas, de tocar em nossas feridas, de voltar ao ponto de partida para entender onde perdemos aquilo que não cessamos de buscar, de virar-se do avesso, de bater de frente com nossos temíveis demônios, de reconstruir o que quebramos em pedaços, de reconhecer erros em nós mesmos e de enxergar sem crueldade, mas nem tão pouco submissão os erros de quem conosco errou, tudo isso, aniquila nossa capacidade de ser livres.

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Ninguém é livre sentindo medo, encarcerado por grades imaginárias daquilo que exige ação, mas que escolhemos evitar por terror de tomar para nós mesmos a responsabilidade de conduzir a própria história.

De alguma forma, nos esquivamos por muito tempo das obrigações impostas a quem deseja adentrar a vida adulta estando no comando dela, não como passageiro. Sentimos pavor diante do pensamento de abandonar o conforto da infância emocional e ficamos ali, quietinhos, esperando que alguém cuide de nós como se daquele tempo em que tínhamos 5 anos, não tivessem se passado 25, 30, 40. Queremos levantar vôo livre, mas o medo dessa liberdade nos incapacita e sabota.

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E é por medo que passamos a direção de nossas vidas e nossas decisões aos outros ou às circunstâncias. Sabemos, inconscientemente ou não, que assim será mais fácil culpar alguém pelos inevitáveis fracassos que se sucederão, um após o outro, até que um dia decidamos nos tornar gestores de nossas vidas e tomadores de nossas próprias decisões e suas consequências.

Assim, para a infelicidade (ou sorte) de quem busca essa fórmula mágica que lhe permita ser adulto sem ter de exercer suas funções, o que tem para hoje é que é preciso aceitar que não há meios de conduzir a vida nesses moldes e ao mesmo tempo ser dono de si. Crescer sendo livre exige CORAGEM.

Quando criamos coragem para sair de casa para encarar a solidão e dificuldades materiais e imateriais a tolerar a pseudo-companhia de um pseudo-amor; quando encontramos ânimo para começar uma faculdade a lamentar-se por ganhar menos do que os colegas formados; quando ousamos abrir aquele negócio ou mudar de emprego a tolerar um patrão opressor do velho cargo estável; quando trilhamos uma estrada de dor para pedir perdão a nós mesmos por todas as agressões a que nos submetemos a viver a amargura de jamais ter se dado a chance de saber como teria sido, é que perdemos o medo e damos aquele passo aterrorizante no tudo ou no nada, que nos desestabiliza para logo em seguida, proporcionar uma sensação de poder absoluto.

E é bem nesse instante que, aos perdemos o medo de existir no potencial pleno de cada um de nós, finalmente nos comportamos como SERES LIVRES e somos presenteados com um crescimento pessoal, intelectual e emocional jamais experimentado antes. Ao perder o medo, não importa em qual situação você se encontre, de um momento ao outro você não vê mais dentro de si aquela pessoa medíocre que tinha uma desculpa para tudo. Você encontra o comandante de sua aeronave com sede de muitas horas de voo, com ou sem turbulência.

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Imagem de capa: Beboopai/shutterstock

Meu problema é esperar que os outros ajam como eu agiria

Meu problema é esperar que os outros ajam como eu agiria

Por Valeria Sabater

A origem de muitas das nossas decepções é esperar que os outros ajam como nós mesmos agiríamos. Esperamos a mesma sinceridade, o mesmo altruísmo e reciprocidade, mas, no entanto, os valores que definem os nossos corações não são os mesmos que vivem na mente dos outros.

William James, filósofo, fundador da psicologia funcional e, por sua vez, irmão mais velho de Henry James, comentou em suas teorias que uma maneira simples de encontrar a felicidade reside no fato de minimizar as nossas expectativas. Quanto menos você esperar, mais poderá receber ou encontrar. É certamente um argumento um tanto controverso, no entanto, não deixa de ter a sua lógica.

“Não espere nada de ninguém, espere tudo de si mesmo, desse modo o seu coração irá armazenar menos decepções.”

Todos nós temos muito claro que no que diz respeito às nossas relações, é impossível não ter expectativas. Esperamos que certos comportamentos e aspectos desejamos ser amados, defendidos e valorizados. Agora, isso não significa que, por vezes, estas previsões nos falhem. Quem espera muito dos outros geralmente acaba ferido em algum detalhe, alguma nuance, portanto, vale a pena considerar uma série de aspectos.

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Quando esperamos que os outros ajam de acordo com nossas expectativas

Os pais que esperam que seus filhos ajam de uma determinada maneira, os casais que esperam tudo de seu parceiro, e amigos que esperam que os apoiemos em tudo que fazem, mesmo que às vezes vá contra os nossos valores. Todas estas situações comuns são exemplos claros do que é conhecido como “a maldição das expectativas.”

Às vezes, algumas pessoas passam a acreditar que o que pensam, sentem e julgam é quase algo “normativo” e até mesmo chegam a colocar um patamar tão elevado quando se trata do conceito de amizade, amor ou família que ninguém pode chegar a estas cimeiras e, portanto, a decepção encontra-se em todos os lados. A chave, como sempre, está no equilíbrio e, sobretudo, na necessidade de ser realista.

É claro que existem certos tipos de expectativas que se enquadram dentro do que é esperado (não traição, sinceridade, respeito, fidelidade …) todos são pilares que sustentam relacionamentos positivos e saudáveis. No entanto, assim que alguém se torna obcecado com a “excelência” da ligação, seja emocional, pai-filho ou amizade matéria, frustração, ressentimento ou até mesmo a raiva que parece. É algo a considerar.

Como parar de esperar muito dos outros

Ninguém é ingênuo por necessitar ver sempre o lado bom das pessoas. Temos o direito de vê-lo, encontrá-lo e até mesmo promovê-lo, mas com alguma cautela. Porque a decepção é a irmã das elevadas expectativas, por isso é mais apropriado não se deslumbrar antes do tempo.

“As aparências não costumam enganar, o que muitas vezes costuma falhar são nossas próprias expectativas sobre os outros …”

Podemos esperar muito dos demais, no entanto, o certo é sempre esperar mais de nós mesmos.

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Chaves que nos ajudarão a deixar de esperar muito das pessoas

Para ajudá-lo a deixar de esperar muito das pessoas ao seu redor, oferecemos as seguintes chaves:

  • Ninguém é perfeito, nem mesmo nós mesmos. Se fôssemos agradar as expectativas que os outros têm sobre nós, viveríamos estressados e infelizes. É impossível, ninguém é um exemplo de perfeição ou virtude absoluta. Basta respeitar uns aos outros e exercer a reciprocidade da forma mais humilde possível.
  • Aprenda a diferenciar expectativas e dependência. Às vezes culpamos os outros pela nossa própria felicidade. Nós construímos grandes expectativas em relação a alguém em particular porque somos dependentes do que nos oferece, e, portanto, exigimos que aja com queremos, porque é a única maneira de nos sentirmos bem..
  • Aceite que nem sempre tem que obter algo em troca. Este é um aspecto que caracteriza muitas pessoas: “Se eu lhe fizer um favor, espero outro de volta.” Como essas coisas nem sempre são cumpridas, o correto é aceitar os outros como eles são.

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Para concluir, talvez William James, a quem citamos no início, estava certo com sua simples proposta: quanto menos esperamos, mais surpresas podemos ter. Isso seria simplesmente dar-se ao luxo de ser um pouco mais livre e menos dependente do comportamento dos outros.

Somos todos falíveis, somos todos seres maravilhosamente imperfeitos tentando viver em um mundo onde, por vezes, decepções caóticas são inevitáveis, mas no qual também habitam o amor sincero e amizades duradouras.

Imagem de capa: Dubova/shutterstock

Sejamos mais gentis. Se isso não vai mudar o mundo, dane-se o mundo!

Sejamos mais gentis. Se isso não vai mudar o mundo, dane-se o mundo!

A gente precisa fazer alguma coisa. Passou da hora. O negócio aqui vai estranho demais. Já faz tempo que anda assim, mas a gente vive feito cavalo na corrida e nem percebe.

Chateia demais essa coisa de viver esquivando, saltando um milhão de rasteiras como criança que pula corda no meio da rua, de olho no carro que vem acelerando acabar com a brincadeira, pronto a atropelar quem estiver à frente.

Aborrece, enfastia seguir tantos manuais de instrução. “Viva assim”, “faça assado”, “durma mais”, “trabalhe menos”, “ligue no dia seguinte”, “coma ovo”, “não coma ovo”. Duro obedecer a tanta ordem, tanto preceito e conselho e receita e palpite. Impossível responder a tanta expectativa. Tanta instabilidade. “De manhã eu te amo, à tarde eu quero que você suma daqui!”

A gente precisa fazer alguma coisa. Mas fazer assim, sem mais, pela mera expressão da vontade de que as coisas melhorem. Devagar. Fazer pela esperança de construir, vencer pelo empenho. Fazer sem esperar que o outro retribua. Fazer sem expectativa, sem esperar em troca. Fazer pelo outro o que você pode fazer de novo amanhã. E depois de amanhã. E depois.

Olha quanta gente se engalfinhando e agredindo! Olha aquele sujeito ressentido da alegria do cachorro da vizinha que brinca lá embaixo com as crianças. Ele não se conforma de todos serem felizes, os meninos, as mães, os cachorros. Esbraveja em silêncio, resmunga “como assim? Esse cachorro é mais feliz do que eu? No meu condomínio? E então eu pago as taxas de manutenção das áreas comuns para um cachorro se divertir no meu lugar? NÃO aceito!”

Infeliz, ele faz uma reclamação formal à síndica, a síndica proíbe os cachorros de brincar na pracinha do prédio com as crianças, as crianças e os cachorros brincam no apartamento mesmo e sujam o tapete da mãe, a mãe fica nervosa, grita e manda todo mundo ficar quieto que ela tem mais o que fazer e não vence limpar a casa. E assim as crianças e seus cachorros vão brincando menos. E assim a gente se distancia devagar.

É tempo de fazer alguma coisa. Não essas reclamações covardes e ressentidas aos síndicos. A gente precisa fazer alguma coisa que preste. Vê aquela senhora ali? Está ardendo de raiva porque desejou feliz aniversário a alguém que depois esqueceu de fazer o mesmo por ela. Sabe o que ela fez? Prometeu nunca mais desejar feliz aniversário a NINGUÉM!

Quanta gente afetada, autorreferente e apaixonada pelo som da própria voz! Tão convencida de sua perfeição, tão dedicada a exaltar as próprias façanhas como se ninguém mais no mundo prestasse!

Não dá. A gente precisa fazer alguma coisa. Essa mania de achar que o mundo gira em torno de nossas vontades fez de nós um bando de cegos tateando os corredores pegajosos e fedorentos de nossos egos.

Está ficando pior. Deve ser porque a gente prefere achar que o problema não é nosso. É preciso fazer alguma coisa agora. Não precisa ser passeata, protesto, abaixo-assinado, manifestação. Pode começar pequeno. Com gestos mais simples. Uma ação solitária que provoque um milhão de respostas solidárias: vamos fazer gentilezas. Se não fizer bem, mal não vai fazer. Se não mudar o mundo, o mundo que se dane. Sejamos gentis assim mesmo!

Imagem de capa: Dmytro Zinkevych/shutterstock

Só dê ouvidos a quem te ama- Padre Fábio de Melo

Só dê ouvidos a quem te ama- Padre Fábio de Melo

Só dê ouvidos a quem te ama. Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo. Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.

Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer.

Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.
Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita, o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as opiniões de pessoas estranhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro.

Ando pensando no poder das palavras. Há palavras que bendizem, outras que maldizem. Descubro cada vez mais que Jesus era especialista em palavras benditas. Quero ser também. Além de bendizer com a palavra, Ele também era capaz de fazer esquecer a palavra que amaldiçoou. Evangelizar consiste em fazer o outro esquecer o que nele não presta, e que a palavra maldita insiste em lembrar.

Quero viver para fazer esquecer… Queira também. Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir que destruir.

Repito: só dê ouvidos a quem te ama. Tudo mais é palavra perdida, sem alvo e sem motivo santo.

Só mais uma coisa. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. Quem geralmente acha não achou nem sabe ver a beleza dos avessos que nem sempre tu revelas.

O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito.

Imagem de capa:Reprodução

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