Escolha fazer-se bem

Escolha fazer-se bem

Título Original: Caminhos

Ontem, a lição de casa do meu filho trazia um desafio. “Peça para seus pais lhe contarem uma escolha que tenham feito, e como isso afetou a vida deles”. Deixei a missão por conta do meu marido. Ele tem uma história bonita, de força de vontade e superação, que definiu seu destino a partir de uma escolha, inicialmente feita por seu pai, mas acatada e vivenciada por ele.

No trabalho que entregou hoje na escola, havia duas imagens. Numa, o desenho de um menino com uma enxada na mão; na outra, um médico de jaleco branco e maleta em punho.

Porém, muito além de uma escolha meramente profissional, a decisão de deixar o trabalho na lavoura e ingressar na faculdade de medicina foi uma guinada na vida do menino que até os dezessete anos não conhecia luz elétrica, vivendo num sítio onde a ocupação maior era ajudar o pai com a enxada, perturbar a vida dos bichos e ir para a escola rural, onde várias turmas, em diferentes estágios de aprendizado, tinham aulas na mesma sala. Não havia água encanada, automóvel, muito menos tv ou geladeira. Ao escolher a faculdade, uma nova versão foi escrita. E percorrer esse caminho pode ter sido tudo, menos simples.

Enquanto orientava meu menino, me veio à lembrança trechos de Eliane Brum, em seu mais recente livro, “Meus desacontecimentos”. Logo no comecinho ela questiona, indagando ‘como cada um inventa uma vida. Como cada um cria sentido para os dias, quase nu e com tão pouco. Como cada um se arranca do silêncio para virar narrativa. Como cada um habita-se’.

Por enquanto, meu menino só pode entender acerca de escolhas palpáveis _ coleção de figurinhas da Copa ou cartas pokémon, matinê no cinema ou festa do amiguinho, crocs ou tênis, pijama curto ou longo, ‘o que vou ser quando crescer’, que livro vamos ler antes de dormir. Com o amadurecimento, virão questões mais relevantes, entroncamentos no meio da estrada que fatalmente lhe desafiarão a dar uma resposta que possivelmente conduzirá seu destino.

Nesses momentos, o controle estará em suas mãos. O trajeto escolhido determinará uma nova versão de si mesmo. Porém, muito além das direções que se distribuem pelo caminho, haverão outras questões, não tão óbvias, mas ainda mais perturbadoras e íntimas. Essas serão as mais difíceis. Porque a batalha será travada não somente entre profissões, negócios, status e pessoas. Serão decisões mais profundas, que fará diariamente, dentro de si mesmo, envolvendo a forma como deseja viver e responder àquilo que não pode controlar.

Todos os dias, meu filho, você terá que escolher de que forma irá habitar-se, para o bem ou para o mal. Porque a gente escolhe fazer-se muito mal também. E o pior é que nem se dá conta disso, acostumados que estamos em não nos enxergarmos ou ouvirmos no meio de tanto barulho que há lá fora. Então imaginamos que o que não vai bem é a rua, o fulano que não vai com a nossa cara, a esposa que ronca, o marido que não colabora… mas no fundo somos nós. Nós, que nos afastamos da verdade, e preferimos nos refugiar numa vida inventada que justifique nossas mazelas.

Assim, se posso dar-lhe um conselho, escolha fazer-se bem. É importante também que saiba escolher suas batalhas. Que não perca tempo com expectativas irreais, aquelas que não levam a lugar algum. Nem imagine que seu jeito de ser e viver é o certo para todos. Certamente é o certo para você, mas não julgue nem discrimine quem reconhecer outras formas de construir uma vida. Você descobrirá que nessa selva existem leões e cordeiros, bichos preguiça e guepardos, e não cabe a você querer que todos sejam leões, só porque você escolheu ser um. Depositamos muito da gente nos outros. E muito dos outros é depositado na gente. Desejamos que o outro seja como nós mesmos seríamos no lugar dele, mas quem sabe o que vai dentro do coração alheio?

Uma das lições mais difíceis de se aprender nessa jornada é a questão da aceitação. A gente traça um roteiro próprio, estabelece metas, acrescenta vontades, junta uma grande dose de sentimentos e espera que tudo corra conforme o combinado. Criamos expectativas em cima de pessoas tão diferentes de nós, querendo que elas sigam o script, ou que, pelo menos, obedeçam nosso combinado. Se somos tigres ferozes, nos indignamos com a serenidade dos coalas. Se temos a agilidade do beija flor, nos impacientamos com a lentidão dos caracóis. E de repente você percebe que está numa batalha que nem escolheu estar, tentando se defender de quem julga lhe conhecer melhor que você. Portanto, mesmo que discorde ou acredite conhecer aqueles que ama, entenda que jamais o saberá por completo, pois cada um carrega muito mais bagagem do que supomos desvendar.

Tenho escolhido muito também. Escrever e criar esse blog foi uma das boas escolhas que fiz, num momento difícil que um dia você vai entender. Também cansei de ser um rio turbulento, e essa escolha tem feito meus barcos de papel resistirem com mais leveza desde então.

Assim, trace seus caminhos com cuidado, sem se deixar influenciar pela linhagem de sua família _ essa coisa de sobrenome ou árvore genealógica não pode ser responsável por nosso destino. Não é preciso perpetuar as características, principalmente se não concordar com elas. O que vai dentro de você é resultado de uma equação complicada, que começou antes das primeiras palavras, e dar sentido a isso é responsabilidade sua e de mais ninguém.

Quanto a seu pai, a escolha não foi simplesmente entre ser médico ou caminhoneiro, como ele tanto queria. Suas maiores batalhas foram travadas do lado de dentro, tentando superar os próprios obstáculos_ como a timidez quase paralisante_ e a resolução de habitar-se com coragem, humildade e serenidade.

Finalmente lembre-se: a vida não é e.x.a.t.a.m.e.n.t.e. como a gente quer. E por mais que seja tentador ditar as regras, não temos controle sobre tudo. Então escolha somente fazer-se bem, principalmente quando tudo parecer errado, confuso ou ruim do lado de fora.
Mais importante que o enredo, o que vale é como você se portou dentro da história que contou.

Imagem de capa: Sjale/shutterstock

Sobre Peso

Sobre Peso

Não pese sua mão sobre meus dedos, não pese, por favor, seus pés sonolentos sobre os meus. Não pese sua coxa tesa sobre as minhas. Encoste em mim, mas não se deite. Dai-me ar, dai-me combustível para querer-te mais. Só não pese seus olhos sobre meu olhar, não sufoque meu beijo com sua fome. Beijo não se pede, minha querida, beijo se perde.

Eu sei que é difícil encontrar a medida, entre bem querer e querer tudo ou nada. Eu sei que é frágil a ladeira que incita para se chocar no outro como um carrinho infantil e sem freio. Há avisos por toda parte, sinalização por toda a via, mas você os evita, você ignora o que não lhe interessa. Mas no fundo, todos os avisos, todos os sinais, também sou eu.

Não vou carregar, não vou mais levar suas mágoas. Não pese seus braços sobre meus ombros, chamando-me de meu bem. Não pese seus sonhos com minhas medidas, meu passo já é largo na direção oposta aos teus. Não pese meus ouvidos com suas palavras de culpa, não pese minha solidão com seu incômodo em viver a sua. Toma-me por teu e no instante seguinte eu serei completamente outro. Como a mulher-gorila em metamorfose: a incrível Monga.

Eu sei que algum dia sua paciência vai acabar e você observará a casa em chamas do lado de fora. Eu rezo por isso. Queime tudo, meu amor. Quem sabe as chamas te iluminem também. Eu queria que você soubesse que havia amor por toda parte, afeto em todas as pausas, verdade em toda a leveza que te pedia e te oferecia.

Mas não é isso o que você quer. Você quer meu corpo sobre o seu como um peso de papel, meu afeto sob o seu como a sombra de uma nuvem. Se quer algo para chamar de seu, voilà. Mas não peça a ninguém para carregar teus pesos. O que você quer, minha querida, ninguém pode te dar. Eu tentei ser contigo, não teu. Agora nem isso mais é possível. Não pese na minha saída.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock

Matryoshka

Matryoshka

Matryoshka, ou boneca russa, é um brinquedo tradicional da Rússia, constituído por uma série de bonecas que são colocadas umas dentro das outras, da maior (exterior) até a menor (a única que não é oca). Parece que o significado do brinquedo provém de uma lenda e pode significar fertilidade, cuidado e proteção.

Outro dia, porém, pensando no quanto a vida da gente é costurada e ajustada, cheia de bainhas, recortes e emendas, cheguei à conclusão que bom mesmo é ser a última bonequinha da Matryoshka, aquela menorzinha que encontramos ao final e que, significativamente, não é oca.
Porque evoluímos demais. Adquirimos hábitos civilizatórios, aprendemos a cumprir nossos deveres e adquirimos bons modos pra viver em sociedade. Mas também nos afastamos da matéria de que somos feitos, mais ou menos como se colocássemos bonecas em cima de bonecas e ao final acreditássemos ser a boneca maior, quando na verdade somos a menor.

Talvez a maior evolução que nosso cérebro tenha alcançado evolutivamente tenha sido essa capacidade de se adaptar e nos permitir sermos seres sociáveis. Aprendemos, desde muito cedo, quais hábitos são aceitáveis ou não. Mas ninguém nos explicou de que forma iríamos assimilar tanto “isso pode e isso não pode”. E daí que colocamos pra baixo do tapete coisas demais, que poderiam facilmente conviver bem à tona de nós mesmos sem causar prejuízo a ninguém… Varremos porque entendemos que aquilo poderia não ser tão agradável. E assim nos transformamos em Matryoshkas enormes, mas que no interior carregam um desenho original bem distante do que é visível aos olhos.

Vivendo em sociedade, aprendemos que é de bom tom ser sorridente, simpático, resignado, tranquilo, sensato, equilibrado e até obediente. Só que nem todo dia é assim, primaveril… Existem dias áridos, em que você acorda e não está a fim de seguir a cartilha, nem forçar um sorriso, e sinceramente, querendo que tudo se #¨*oda. Então você descobre que há maneiras mais saudáveis de conviver. E entende que essa história de “bonzinho” não passa de identificação _ identificação de um ego inseguro com o modelo de perfeição. Então você vai diminuindo de tamanho. Remove uma a uma as Matryoskas ocas que lhe deram essa identidade e descobre-se pequeno, mas inteiro.

Somos muitos. Assumimos papéis e interpretamos diferentes versões. Só que a identificação é muito perigosa. O perigo é acreditar que sou uma das bonecas ocas. E viver em função dessa identidade oca também _ o ego.

Não se trata de retirar máscaras. Nem acreditar que autenticidade é dizer na cara das pessoas as mais duras verdades. É, antes de tudo, viver com mais coerência e menos culpa. Descobrir, lá no fundo, o que lhe permite ser livre _ verdadeiramente, sem se levar a sério demais.

Faz parte do desejo de ser aceito renegar um pouco a si mesmo. Mas depois que a gente cresce e percebe que precisa ser mais leve, descobre que deu importância demais a regras sem sentido só em função do medo de não ser amado. E percebe que bom mesmo é ser verdadeiro, pois quando me aproximo de mim, sou mais feliz e consequentemente, fácil de conviver.

Quando renegamos a nós mesmos, é como se colocássemos bonequinhas em cima de bonequinhas, como a Matryoska, e disfarçássemos nossa essência com excesso de controle e julgamento. Quando nos aceitamos, estamos prontos para a mudança, e por mais paradoxal que isso pareça, a mudança não nos torna diferentes de quem somos e sim parecidos com quem realmente somos. E aqui não me refiro a jogar tudo pro alto, ser egoísta, negligente, promíscuo ou mau educado. Falo da busca daquilo que não faz parte do ego, nem da necessidade de agradar, mas que representa o que realmente sinto e penso. Quando conseguir chegar ao interior das bonequinhas ocas, a mudança estará completa, pois decido viver de acordo com minha verdade, e não assumindo papéis que distorcidamente acumulei durante os anos de minha vida em função de agradar, de ser perfeito, de ser aceito, de ser amado. Enfim descubro que posso ser amado pelo que sou, e não pelo que represento ser.

Na vida, a gente se ajusta como pode. E isso implica negar impulsos, necessidades, vontades. E como varremos tantos anseios, ou precisamos de tantos limites, nos incomodamos com quem se assume. Se assume imperfeito, incompleto, despreparado, descuidado, atrasado, inadequado… Isso incomoda, porque se somos tão controlados, como alguém pode não ser? Se sofro tanto pra trancar meus pecadinhos lá no fundo, como alguém pode escancará-los numa boa?

Por isso a liberdade é tão difícil de ser encontrada. Difícil porque está no fundo, camuflada por essa necessidade que temos de nos ajustar. Então desejamos, mas será que desejamos o que realmente queremos? Ou estamos tão identificados com a superfície que não sabemos mais o que no fundo queremos realmente? Sendo a liberdade a menor bonequinha da Matryoshka, a capacidade de percebê-la é um exercício difícil, que requer retirar as carapaças e identidades, descobrindo a própria verdade.
Você já parou pra pensar que aquilo que aparentemente está mais bem resolvido pra você pode ser o que lhe afeta mais? Ou que toda essa culpa que você frequentemente experimenta vem da dificuldade de ser coerente, de estar alinhado entre o adequado e o desejado? #Fica a dica, como dizem por aí… quem sabe um dia você possa perceber que a maior e mais vistosa boneca Matryoshka não lhe representa. Ao contrário, será removendo uma a uma das bonecas ocas que você encontrará a si mesmo, menor e mais compacto, mas acima de tudo, inteiro.

Imagem de capa: Amedeo Zullo/shutterstock

Relacionamento abusivo – um nome novo para algo antigo

Relacionamento abusivo – um nome novo para algo antigo

:: Relacionamento abusivo é um nome novo para algo antigo e traz luz a várias questões sociais intrínsecas onde há o excesso de poder pelo outro e de total controle – (ou descontrole) ::

Quando o assunto é “relacionamento abusivo” a primeira coisa que aparece na mente da grande maioria é a relação casal – mais comumente entre homem e mulher. Mas é importante lembrar que há histórias e características semelhantes da relação abusiva que atingem outros círculos de relacionamentos, como o familiar/parental e o profissional/empregatício.

A relação abusiva é aquela que atinge o psicológico da pessoa colocando-a num lugar de submissão e de perca do controle. O comportamento abusivo varia do verbal ao físico, chegando até mesmo ao sexual.

Numa relação parental e familiar é mais comum ocorrer este tipo de violência, já que os pais ou quem quer que seja o provedor do lar, carrega tacitamente esta autonomia de controle. Os pais são incumbidos da responsabilidade da educação que pode ser confundida e levada a uma relação abusiva, de total DEScontrole, refletindo no desenvolvimento daquele ser humano, resultando em sequelas psicológicas e emocionais. Não há educação por meios da agressão, repressão ou violência. Isso só resulta em revolta, desrespeito e mais violência.

A manipulação emocional, ou chantagem, é uma forma de violência e é perigosa, porque penetra mais fundo que uma agressão física. Não é fácil detectar uma pessoa que está sendo vítima desse tipo de comportamento, pois não são os fatores físicos que entregam as agressões, porém o abuso emocional fere enormemente uma pessoa e, em muitos casos, essa ferida pode ser permanente.

Relacionamento abusivo é um nome novo para algo antigo e traz luz a várias questões sociais intrínsecas onde há o excesso de poder pelo outro e de total controle – (ou descontrole).

É importante reconhecer um relacionamento abusivo, perceber se está vivendo este tipo de relação ou se alguém próximo vive essa realidade. É essencial buscar apoio familiar e de amigos aliado a uma ajuda psicológica.
O agressor também pode se dar conta de suas atitudes e buscar ajuda.

É comum os agressores fazerem as vítimas acreditarem que são culpadas pelos ataques, mas elas não têm culpa pelo comportamento agressivo e manipulador do seu agressor.

Falar sobre o assunto pode ajudar a despertar pessoas que vivem esta realidade e pensam que são atitudes normais para suas relações. Nenhuma relação que tenha medo, será uma relação saudável. Cuide-se.
Relacionamento abusivo existe e é preciso reconhecê-lo.
Busque ajuda quando necessário.

Imagem de capa: Roman Samborskyi/shutterstock

No dedo, uma aliança de ouro. Nos olhos, a ausência de brilho.

No dedo, uma aliança de ouro. Nos olhos, a ausência de brilho.

Ela esperava por um luto, afinal, é o que se espera após a ruptura de um relacionamento com um tempo de convivência considerável. Se o fim de um namoro já é capaz de nocautear as emoções de alguém, o que esperar, então, de um divórcio? Contudo, ela percebeu algo estranho ao se perceber ali, em seu quarto, sem aquela aliança. Ela procurou aquele vazio tão previsível que acompanha as pessoas nas separações. Ela se preparou para angustiar-se ao se perceber sozinha numa cama de casal, mas nada disso aconteceu. Pelo contrário, havia uma cama espaçosa em que ela podia mover-se sem restrições e sem censura. Havia ali, um quarto inteiro para uma mulher que viveu, por um longo período, as suas noites pelas metades.

Ela sentiu-se estranha, com um quê de culpa por estar tranquila, entretanto, continuou na expectativa de viver o luto, o vazio e a saudade. Ela chegou a pensar que estivesse vivendo algum mecanismo de fuga, uma espécie de máscara dos sentimentos e que, a qualquer hora, se depararia com aquele sentimento devastador que, no geral, assola os corações divorciados. Contudo, os dias foram passando, e ao contrário do que se esperava, ela estava cada dia mais serena, mais tranquila e mais apaixonada pela própria companhia. E a realidade veio à tona, a “ficha caiu”. Ela se deu conta de que vivia uma solidão a dois. Ela já era sozinha, ela não tinha uma companhia efetiva, tampouco afetiva. Ela apenas dividia a cama com um corpo masculino, que deitava ao seu lado, dormia e levantava todas as manhãs apressadamente, sem ao menos dar-lhe “bom dia”. Ah, não era um corpo qualquer que dividia a cama com ela, era um corpo que negava abraços e afagos a uma mulher ávida por carinho e toques.

Era uma companhia cujos ouvidos nunca estiveram interessados em ouvir os desabafos, as risadas, tampouco o choro dela. Honestamente, acho que, o que eles tinham de unidos eram apenas os nomes na certidão de casamento, o famoso casamento de “papel passado”. Entretanto, ela sentia falta de um casamento de almas, ela sonhou com isso desde a adolescência. Ela queria um casamento onde fosse possível aquela comunicação apenas pela troca de olhares. Ela desejava abraços que lhe envolvessem a alma, afinal, abraçar o corpo qualquer um consegue, né? Ela queria ser admirada além dos seus atributos físicos, ela queria alguém que olhasse a beleza que ela traz na essência mesmo naqueles dias em que ela foge do espelho.

Ela precisava de entrega sincera e acolhimento, senhas que abrem o cofre que guarda o tesouro da mulher que ela é. Contudo, nada disso ela viveu com ele. Tudo era muito regrado e cronometrado. Tudo vinha a conta gotas para a mulher que transbordava intensidade. Quando ela deu por si, estava diagnosticada com desnutrição afetiva, um quadro grave, quase irreversível. Uma espécie de falência de múltiplas expectativas sentimentais. Sorte a dela que o diagnóstico foi feito a tempo de ela buscar providências.

Ela optou por retirar o nome daquele documento que o cartório emitiu um dia, perante alguns convidados. Ela percebeu que o carimbo que ratificava aquela união no civil, não tinha poder de unir a alma deles. E cá pra nós, quem a conhece sabe o quanto ela é avessa à hipocrisia e superficialidade. Do que adiantava um status de casada e uma realidade de solidão e frustração? Questionava ela. Ela constatou que não fazia sentido ter o dedo anelar esquerdo ostentando um anel de ouro enquanto o coração vivia choroso e sem adorno algum. Ela chutou o pau da barraca e disse “sim” para a própria dignidade. Dignidade para não aceitar migalhas de afeto e de não aceitar menos do que ela merece. Dignidade para não viver de forma contrária ao que a alma dela acredita.

Então, ela percebeu que nem toda ruptura é dolorosa, pois para doer é necessário um vínculo de alma, ainda que discreto. Ficou claro para ela que eles não se pertenciam e que aquela certidão de casamento era uma formalidade completamente dispensável diante do que ela deseja viver…e vai viver. Por fim, ela assimilou que ter um marido é uma coisa e ter um companheiro é outra coisa completamente diferente. O título de marido e esposa, um tabelião pode conceder a qualquer casal que se dispõe a ir a um cartório com essa finalidade. Em contrapartida, o título de companheiro(a) é concedido pelo amor sem reservas e  pela vontade de ser e fazer o outro feliz. Ainda não habilitaram um tabelião a fazer casamento de almas, e é esse casamento que interessa a ela.

Contrariando o que acontece com muita frequência, o divórcio não a machucou, pelo contrário, devolveu a ela a inteireza de antes, a liberdade de sonhar e a certeza de que casou-se por equívoco. Em suma, oficializou-se a separação dos corpos uma vez que, no quesito almas, eles nunca trocaram um “oi”. Nada melhor do que a sensação de ter tomado a decisão certa, revela sua alma.

Imagem de capa: Nestor Rizhniak/shutterstock

Quando preciso me pego no colo

Quando preciso me pego no colo

Ando testando e praticando na minha própria pele uma mudança de vida.
Uma mudança que tem a ver mais com observar atentamente pensamentos e emoções, tentar entender e desconstruir padrões mentais, do que mudar drasticamente o rumo dos meus passos.

Ando tentando reconstruir e reinterpretar caminhos internos independente da realidade que me circunda.
Começo a perceber e a acreditar que todo sentimento pode se transformar no momento em que acontece.

Todos os nossos pensamentos podem adquirir uma diferente conotação se olharmos para eles com cuidado e delicadeza ao invés de acharmos que eles são a mais pura e verdadeira expressão do que somos e de onde estamos. É possível deixar que os pensamentos e emoções nos transbordem sem que, no entanto, atropelem o nosso amor pela vida e por nós mesmos.

A primeira prática que faço é simples, é apenas um deslocamento de referencial.

Ao invés de ficar alimentando a autocompaixão, olhando insistentemente para um joelho ralado, sangrando, doendo, que parece tomar todo o meu tempo e energia, impossibilitando outros passos pelo medo de outras quedas, eu lembro de todas as outras partes do meu corpo que estão cheias de energia vital. Eu lembro que apesar da dor, eu não sou só um joelho, eu sou um inteiro. E não é porque um lado meu dói, que a vontade de vida em mim tem que se submeter.

Ao invés de eu ficar lamentando as folhas secas de minha árvore, os sentimentos que não vingaram, que voaram e deixaram saudades, a dor da falta, a solidão de um inverno que me acometeu. Eu celebro, cuido e sinto tão fortes e vivas minhas raízes, úmidas, crescendo vastas em meus subterrâneos. Cheias de vontade de renascimento e com coragem para novas primaveras.

Ao invés de eu olhar com intensidade para minhas doenças, dores e tristezas, coloco um pensamento de gratidão em tudo que ainda cresce livre, vivo, saudável dentro de mim.

Invisto energia em meus risos bobos, em meus pensamentos soltos, na dança dos meus sonhos, nas minhas vontades sem nexo. Deixo de ser severa comigo mesma, de me martirizar e me punir pelas quedas, pelas decisões não tomadas, pelas metas não alcançada, pelos amores não vividos, por cambalear ainda na vida.

E, quando preciso, me pego no colo, como uma mãe bondosa que segura o próprio filho e deixa que chore, que grite, que lamente. Como uma mãe que conversa com calma com a dor da criança, falando baixo e perguntando porque é que dói tanto, porque é que é tão grande, até a criança perceber que tudo foi só mais um arranhão. E enxugando as próprias lágrimas,enquanto recupera o fôlego, resgata espontaneamente a vontade de ir brincar na rua.

Ando aprendendo a cuidar da minha criança interna, que é espontânea, simples, livre, que chora, mas que no momento seguinte deixa isso de lado, esquece e sorri. Que ama sem culpa, que fala o que pensa, que olha pra dor e que se resguarda quando ainda não entende.

Porque a mãe dentro de mim sabe acalmar e cuidar. Mas a minha criança sabe, como num toque de mágica, mudar a válvula das emoções e recolorir as verdades de um dia.

Porque eu já aprendi que assim como a tristeza e o desanimo sabem se alastrar em meu corpo e mente, a paz e a leveza também. E a escolha é minha.

E isso não é autoajuda é não querer desperdiçar a vida.

Imagem de capa: DmitryBelyaev/shutterstock

Aquilo que ninguém sabe, ninguém estraga.

Aquilo que ninguém sabe, ninguém estraga.

É normal querermos que os outros saibam de nossas conquistas pessoais e de nossos queridos, uma vez que, da mesma forma que a tristeza, a alegria costuma ficar estampada em nossos semblantes. Existem momentos tão intensamente felizes na nossa vida, que mal cabemos em nós de tanto contentamento e acabamos querendo contar e espalhar o quanto estamos felizes.

Entretanto, sempre estaremos rodeados por pessoas invejosas, maldosas e que não suportam ver alguém feliz, pois a felicidade lhes é tão estranha, que não são capazes de entendê-la, a ponto de fazer de tudo para destruí-la. Não devemos temer a maldade alheia, no sentido de que ninguém é capaz de fazer conosco aquilo a que não estivermos vulneráveis. Cautela, porém, é preciso, a fim de que não tenhamos que enfrentar o pior dos outros em nossa jornada.

Por mais que estejamos seguros e certos quanto às nossas convicções, existirão pessoas que tentarão nos diminuir por meio de provocações constantes e de maledicências espalhadas ao nosso redor. Incapazes de torcerem pelo sucesso de ninguém – nem de si mesmas -, não se permitirão conviver com as conquistas alheias sem que tentem trazer o outro ao nível da própria escuridão emocional, muitas vezes utilizando-se de meios antiéticos e covardes.

Muitas vezes, é inevitável disseminarmos pelas redes sociais o contentamento pelas nossas viagens, nossas conquistas amorosas e profissionais, pelo sucesso de nossos filhos, inclusive seria muito chato apenas postarmos lamúrias, indiretas venenosas e lamentações em nossos perfis – existem ótimos psicólogos para isso. No entanto, é necessário saber que muitos verão tudo isso como ostentação inútil, excesso de vaidade, ego inflado, ou seja, estaremos sujeitos a comentários desagradáveis sobre nós, muitos deles pelas nossas costas.

Sempre existirá quem torcerá por nossa felicidade, quem caminhará conosco sob sol ou tempestade, quem nos amará verdadeiramente, quem, enfim, será capaz de compartilhar nossas vidas com reciprocidade sincera, porém, serão bem poucos capazes disso. Por isso, uma de nossas maiores conquistas será exatamente poder contar com pelo menos alguns poucos que nos admirem realmente, sem qualquer ranço de negatividade. A esses, sim, poderemos nos desnudar inteiramente, em nossa grandeza e em nossa pequenez mais inconfessável. Quanto aos demais, repete-se, cautela.

Não precisaremos estampar nossa felicidade nas vitrines sociais e virtuais, para que ela se complete. Aqueles que sempre estiveram conosco, bem de perto, ali ao lado, compartilhando verdades, lerão a felicidade em nossos olhos e comemorarão de mãos dadas conosco cada conquista, cada degrau superado, e é por eles que sempre valerá a pena sobreviver com ética e dignidade a cada batalha de nosso caminhar.

Imagem de capa:r HBRH/shutterstock

O tempo de cada um

O tempo de cada um

O Facebook me lembrou recentemente de uma imagem de alguns anos atrás. Dá pra ver um grupo de mochileiros na frente de uma cachoeira no interior do Amazonas. Lá no meio estou eu, todo felizinho, barba por fazer, e do meu lado um grande amigo que fiz naquela viagem: Sol Galáctico Amarelo. Sim, esse é o nome dele. Chileno e uma das pessoas mais doces que já conheci.

O curioso é que comecei essa viagem sozinho. Botei uma mochila nas costas e fui. Aos poucos, fui conhecendo uma pessoa aqui, outra ali, e fomos formando uma espécie de família de rota. A gente se encontrava numa cidade, alguns na próxima, outros na posterior, depois o grupo todo uns dias depois. Sem combinar nada. A gente apenas chegava e já avistava aquele pequeno grupo de mochilas coloridas.
Nesse mesmo dia da foto, conversei com Sol sobre como achava isso incrível. “Até onde será que vamos fazer o mesmo trajeto? Digo, todas essas pessoas. É muita coincidência, você não acha?”. Ele pensou e respondeu: “Eu não acho que a gente se encontre porque vamos pra mesma direção. Eu acho que nós nos encontramos porque vamos no mesmo ritmo”.

Essa conversa sempre me vem à mente quando penso nas relações à minha volta, e claro, nas que meu próprio coração atravessa. Cansei de ver casais que aparentemente sonham com as mesmas coisas, seguem a mesma estrada, mas se perdem pelo caminho por discordância de ritmo. Amigos com os mesmos interesses, mesma visão de mundo, desinteressando-se, desprendendo-se, tomando trajetórias completamente diferentes. Ritmo, repetiria Sol. Ritmo.

Na vida e na estrada é preciso respeitar o ritmo das pessoas. Seu tempo para aprender, absorver, enxergar certas verdades. Não dá para apressar o caminhar do outro, não dá para arrastar ninguém para a dianteira conosco. Não dá para atrasar o passo de quem vai longe por nossa vontade de ficar mais um pouco. O máximo que se pode fazer é ralentar seu passo, mas isso seria profundamente injusto consigo. E com o tempo aprendi que essa é a pessoa que mais devo respeitar pelo caminho: eu mesmo.

Eu torço pra que nossos passos sejam pareados. Eu torço pra que a gente continue se encontrando, meu amor. Mas jamais iriei intervir no teu ou no meu ritmo. Você é lindo demais no seu próprio tempo. Teu tempo é tua perfeição e imperfeição na mesma proporção, como tudo o que é bonito. Vim descobrindo que te admirar é parte essencial dessa parte da minha jornada. Simplesmente imperdível. Meu amor é aceitar teu ritmo, defender teu caminho e torcer para que a gente continue se encontrando aqui, ali ou mais adiante, pelo tempo que nos for possível.

Imagem de capa: Maridav/shutterstock

Amar ou depender

Amar ou depender

Um dia desses vi um post com milhares de curtidas numa página famosa que fala sobre o amor. Dizia assim:

“QUANDO É AMOR? AH, A GENTE TOLERA, PERDOA, MUDA, ESPERA E SUPORTA ATÉ O INSUPORTÁVEL, SÓ NÃO DESISTE!”

Fui imediatamente tomada por uma perplexidade tamanha que me fez balançar a cabeça e ler de novo. Inconformada, li os comentários de centenas de que pessoas realmente acreditam que esses comportamentos sejam sinais de amor.
O que dizer desse ideal romântico e irreal que nos é posto constantemente, desde pequenos? Confunde-se amor com dependência afetiva e cegueira emocional, pelo qual tudo se tolera, tudo se espera, tudo se perdoa e onde só é permitido desistir de si mesmo.

Perdoem-me os românticos de plantão, mas não, isso não é amor.

Amor se dá quando um não submete o outro ao insuportável exatamente porque o ama.
Amor se dá quando gasta-se mais tempo encontrando modos de preservar o outro de dor, do que criando constantes motivos para pedir “perdão”.
Amor se dá quando prefere-se deixar ir, a submeter o outro a dor.
Amor se dá quando duas pessoas se respeitam, se alegram mutuamente, se apoiam nos momentos de dor, sem DEPENDER uma da outra.
Amor cura. Dependência abre úlceras difíceis de fechar.
Amor não dói. Dependência dilacera e aterroriza.
Amor impulsiona, encoraja e diz: “Vai lá!”. Dependência amedronta e faz do mais forte, um covarde.
Amor liberta. Dependência incapacita, aprisiona.
Amor caminha lado a lado. Dependência viaja sobre as costas do outro, pois um é conjunto colunas que sustentam um todo, e o outro, pilar central que, derrubado, faz o mundo vir ao chão.
Amor se dá quando é possível respirar a plenos pulmões ao lado do outro, a estrada é ampla, o chão é firme. Dependência se dá quando respira-se um ar tão denso que seria possível cortá-lo com uma faca, a estrada é estreita e coberta de ovos.
Amor se dá quando você percebe que não é o destino sonhado ao qual o outro deseja chegar, mas está servindo apenas de pavimento sob seus pés e, diante disso, você bate em retirada, em nome do maior amor de todos: o amor próprio.

Imagem de capa: Bekir Dag/shutterstock

Sei lá, tem sempre um amor esperando para ser encontrado

Sei lá, tem sempre um amor esperando para ser encontrado

Não desiste, não. Tenta. Sorria um pouco mais, olhe para os lados e para frente. Reconheça quem te faz bem. Valorize quem você se tornou até aqui. A soma de tudo isso é o início para o amor que você merece ganhe um nome, um rosto e um abraço daqueles.

O amor também precisa ser encontrado. Você não precisa sair por aí atrás dele. Não precisa correr, suplicar e realizar mandingas. Só que você também não pode esperar encontrá-lo assim, de braços cruzados e com sentimentos fechados para balanço. Mesmo não sendo uma busca, o amor é um encontro. E, além da sorte, do destino e do acaso unindo forças, é bom contar com a sua disposição e maturidade para tê-lo.

Existem vários tipos de amores. Amores passageiros, amores gastos, amores quentes, amores prisões, amores mais do mesmo. Nomeie quantos quiser. Em algum ponto da vida, você passou por um deles. Você pode não gostar de recordar, mas não fique triste. O passado faz parte do amor. Um amor sem passado não consegue saborear a importância do amor presente. Porque a fantasia do para sempre deve ficar nos filmes e comerciais de margarina. Na vida real, o amor é aquilo que dura em cada instante, em cada momento ao lado de alguém. Ter a leveza de reconhecer o afago do amor no agora é o que pode fazer com que ele dure. Remova essa tranquilidade e restarão promessas não cumpridas.

Entenda, o amor é renovável. Ele nunca acaba. Ele muda e reaparece com uma nova oportunidade. Não é difícil sê-lo. Não é difícil amá-lo. Os amores que não deram certo antes, quer dizer, eles deram até quando foi possível. Continue. Recarregue o amor que você trouxe consigo a vida inteira e viva.

Sei lá, tem sempre um amor esperando para ser encontrado. Ele pode não chegar no dia que você quer, mas isso não quer dizer que ele não está a caminho. Mantenha os olhos abertos e o coração ligado. Você sabe como amar e o amor sabe disso. Com um pouco de coragem – já ouviu a história do feitos um para o outro? Então, não desiste.

Imagem de capa: Kat Irlin Photography

Moça, esquece dos que te viram uva. Fica ao lado de quem te sabe vinho

Moça, esquece dos que te viram uva. Fica ao lado de quem te sabe vinho

Estou andando no meio de antigas parreiras. Delicados cachos de uva pendem por todos os cantos. São uvas Pinot Noir. Dizem que essa é a rainha das uvas tintas. E é verdade, eu concordo. A Pinot Noir é uma uva delicada, que exige muito empenho e cuidado no cultivo, no entanto, os vinhos feitos dela são os mais misteriosos e perfumados do mundo.

Quando olho para essas parreiras me lembro de você, mas não a vejo como um cacho de uva a ser degustado de pronto, eu te enxergo como um vinho sedoso e suave, capaz de adoçar os mais duros corações.

Moça, nem todos sabem fazer vinho, e bem poucos sabem como cultivar essa uva. Ela é difícil e temperamental. Não se adapta a qualquer solo, não se adapta onde a querem plantar. Ela vai bem onde sente que pode ser exatamente o que é. Você é assim, já reparou?

Eu imagino que no passado muitos devem ter achado essa uva caprichosa demais. Julgaram-na presunçosa por preferir a proximidade com o mar. Acharam-na pouco prática por não poderem plantá-la junto das outras. Mas um dia houve um alguém que a olhou de um jeito diferente e entendeu que ela precisava de outros toques, de novas técnicas, que ela exigia entrega. Que o que era ideal para as outras, não funcionava bem com ela.

Moça, você é a doçura e a insensatez juntas, assim como essa formosa uva e eu que nasci em terras antigas, que vi os que vieram antes de mim fazerem alquimia com o solo, vejo a uva que hoje você é, e o vinho que amanhã será.

A vida me ensinou a transformar a terra, o vento, o sol e a lua em vinho. E é por isso que eu te conto que a poesia da vida está no amor que cuida. O amor é soma e transformação. Só ele é capaz de enxergar o vinho que há em um cacho de uva.

Moça, esquece quem um dia te viu pequena. Quem te listou pelas suas particularidades, dizendo serem ruins. Não dê ouvidos aos que te quiseram efêmera. Busque no mundo quem te ame e transforme em alguém melhor.

Mas seja você a primeira a acreditar naquilo que pode ser. Acredite na magia da vida. Na transformação amorosa daqueles que cultivam o solo com amor. Espere o tempo certo. Receba com carinho o sol, a chuva, a luz da lua e o vento. Todos têm sua razão de ser.

Tire das suas raízes forças e não permita que te colham antes do tempo. Cresça com as intempéries e evolua. Moça, transforme-se naquilo que você nasceu para ser.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

Responsabilize-se por seus fracassos amorosos. Deixe de vitimismo.

Responsabilize-se por seus fracassos amorosos. Deixe de vitimismo.

No universo dos relacionamentos amorosos é bastante comum algumas pessoas se queixarem de que seus vínculos amorosos sempre se repetem no que se refere à dinâmica e ao desfecho. São frustrações sucessivas que levam a pessoa a sentir-se cada vez mais inconformada e destruída emocionalmente, optando, em muitos casos, por desistir de vez dos vínculos afetivos. Tudo acaba se repetindo a cada nova tentativa: os maus tratos, que podem ser emocionais ou físicos, os enganos, as traições e, por fim, o abandono.

Dependendo do contexto social e religioso da pessoa, é possível que ela vincule essa desordem a fatores espirituais como castigo divino, maldição, carma ou algo do gênero. Ou seja, atribuir as causas de um fracasso aos fatores externos ou mesmo místicos parece bem mais confortável do que tentar uma auto responsabilização. Afinal, uma vez que a culpa é de alguém ou de um ente espiritual, a pessoa não terá que mudar nada em si, não é mesmo? Considerando que a auto responsabilização implica em se colocar como agente das próprias escolhas e responsável pelas consequências delas, colocar-se na condição de vítima parece ser uma escolha bem atrativa para muitos.

É fato que o papel de vítima tem suas recompensas psicológicas, uma vez que o sujeito será sempre visto como o injustiçado, o incompreendido, o bonzinho que nunca foi valorizado, etc. Quem nunca ouviu ou pensou algo do tipo: “puxa vida, um homem tão bonzinho e a mulher não valorizou”, ou “nossa, uma mulher tão bacana, e não dá certo com ninguém”? Em contrapartida, o sujeito precisa de muita honestidade e maturidade para assumir que foi ele que escolheu a primeira pessoa que apareceu em sua frente para se relacionar, afinal, sua autoestima estava em frangalhos, justamente por ter sido traído e ultrajado no relacionamento anterior.

Não será nada cômodo, para esse indivíduo sair do papel de coitado e admitir que não fez questão de avaliar nenhum critério na hora de iniciar um namoro, afinal, quem procura acha, dessa forma, foi melhor fazer vista grossa e nutrir a pretensão de “consertar” algum possível “defeito” que a pessoa manifestasse posteriormente.

Há ainda uma tendência, especialmente por parte das mulheres, de agir com uma espécie de maternalismo para com aqueles pretendentes que aparecem em suas vidas totalmente deprimidos e, inclusive, com alguns traços de transtornos psicológicos preocupantes que requerem uma intervenção séria(psiquiatra, psicoterapeuta etc).

Muitas vezes, são pessoas que já fracassaram em relacionamentos anteriores por conta de atitudes agressivas, e que se recusam a aceitar que estão adoecidos psicologicamente. Essas pessoas atribuem os desajustes comportamentais ao comportamento do parceiro, dessa forma, elas justificam-se dizendo: “eu surtei em casa porque minha ex mulher(ex marido) me estressava”, “eu quebrava tudo e agredia a todos porque eu era muito injustiçado”, ou seja, a culpa é sempre do outro, sempre haverá um fator desencadeador dos seus distúrbios.

Diante disso, um carente em grau máximo pensará: “bem, ele(a) é uma excelente pessoa, o que ele(a) fazia de errado era por culpa de outras pessoas, basta que eu me comporte direitinho com ele(a) para que tudo dê certo”. Eis aí a grande cilada.

Não que seja contra indicado as pessoas doentes emocionalmente se relacionarem afetivamente. Contudo, elas precisam entender que um distúrbio psiquiátrico não será curado com um novo relacionamento, um novo amor não substituirá o papel de um psiquiatra, tampouco a medicação que ele deveria estar tomando. Não será possível uma pessoa passar a vida toda culpando os outros pelos fracassos dela.

Passar a vida inteira atribuindo aos outros os seus próprios fracassos é, no mínimo, uma mistura de irresponsabilidade com imaturidade, atributos totalmente incompatíveis com a prosperidade de qualquer relacionamento.

Se algo está se repetindo demais na vida de uma pessoa e isso tem trazido um descontentamento, faz-se necessária uma revisão de vida. Fazer uma pausa, desacelerar ou mesmo brecar qualquer envolvimento amoroso é recomendável. É preciso identificar o que está acontecendo, e a busca por ajuda profissional precisa ser encarada como uma decisão urgente. O que não é saudável é viver andando em círculos, protagonizando as mesmas tramas infelizes, substituindo apenas o parceiro. Assumir a responsabilidade pelo próprios atos, em especial, os mal sucedidos, pode trazer muito desconforto, inicialmente, porém, ainda não inventaram outro método para uma transformação efetiva na vida de uma pessoa, afinal, é necessário expor a ferida para que ela seja curada.

Imagem de capa: baranq/shutterstock

Você não vai se curar voltando para o que te deixou em pedaços

Você não vai se curar voltando para o que te deixou em pedaços

Há um ditado que diz: “Gato escaldado tem medo de água fria”. Isso serve para diversas situações da vida, e significa que aqueles que sofreram com alguma situação, farão de tudo para que ela não se repita.

Você não precisa viver blindado, se protegendo de sentir demais, amar demais, confiar demais. Porém, é necessário aprender a se resguardar, a se preservar, a não entregar seu coração para qualquer um, a não expor suas dores de graça nem ser publicitário de suas dificuldades e carências.

Jamais estaremos imunes a sermos machucados pelas circunstâncias da vida. Viver é um exercício de resiliência e aprendizado, e somente aqueles que não se aprofundam, preferindo viver superficialmente, não se expõem aos riscos. Mas também não vivem. Também não experimentam os desatinos e delícias de amar profundamente; não conhecem o gosto salgado da pele que transpira e dos olhos que choram; não saboreiam a conquista da intimidade e a dor da vulnerabilidade com a mesma coragem.

Porém, às vezes a gente se confunde. E sente falta de um relacionamento ruim por causa das emoções oscilantes que ele proporcionava. Essa adrenalina vicia. Você pensa que sente falta da pessoa, mas o que está fazendo falta é a emoção _ nem sempre positiva _ que a relação despertava em você. E agora que está livre e pode surfar em águas mansas e cristalinas, você se pergunta onde foi parar aquela tempestade que te movia.

Não caia nessa. Você não vai se curar voltando para o que te deixou em cacos. Você não vai se reerguer reprisando a mesma história dolorosa. Pois as pessoas não mudam, e aquilo que te machucou e te fez menor do que realmente é, não pode se repetir. Não há segundas chances para aquilo que um dia te causou dor e sofrimento. Não há segundas chances para aquilo que algum dia te despedaçou. Só quando você aprender a recusar a dor, irá adquirir amor próprio. Só quando você desistir de tentar compreender o incompreensível, irá conquistar uma fé enorme em si mesmo.

O que nos cura não é o retorno para aquilo que nos feriu. O que nos cura é deixar de tentar consertar o que não tem conserto e parar de dar desculpas para justificar nosso desejo de olhar para trás, para aquele lugar de dor e sofrimento. O que nos cura é dar um basta à tentação de imaginar que as coisas poderiam ser melhores se a gente tivesse agido diferente. O que nos cura é nos redimir pelo que não deu certo e seguir em frente dando uma nova chance à bela e dolorosa passagem do tempo…

Imagem de capa: Maksim Shirkov / Shutterstock

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Ser feliz é uma graça que não vem de graça.

Ser feliz é uma graça que não vem de graça.

A felicidade é para os fortes, meu filho. Para os destemidos, os resistentes, os ousados e os valentes. É uma graça que não vem de graça, não. Quem senta e espera ser feliz passa a vida reclamando. Felicidade é recompensa de quem faz por merecê-la, prêmio de quem vai buscá-la. A gente se movimenta, se articula, encara o que tem e o que vem, segue em frente, e ela se constrói em seu tempo, revela-se em nosso dia depois do outro. O trabalho mais trabalhoso do mundo é ser feliz.

Hoje encontrei um amigo triste e disse a ele: “desiste não, viu!”. É que a felicidade também mora na tristeza da gente. É preciso resolvê-la, compreender suas razões, entender seus motivos. Deixá-la doer como queira. Não há mal nenhum. Depois a gente lava o peito com a escova, o sabão e a água corrente do tempo que jorra de uma torneira aberta e segue em frente, numa manhã fresquinha de sol e festa. Meu amigo continuou aborrecido, mas uma hora passa.

Em cada pequena alegria da vida a gente vai sendo feliz e fazendo feliz quem nos quer bem, meu filho. Quando estamos tristes também é assim. Nosso jeito de lidar com a tristeza e sair dela com a cabeça erguida e o passo firme revela o tamanho da nossa vocação para a felicidade.

A gente complica, mas no fundo é tudo muito simples, filhote. Quando somos honestos com o que sentimos, quando não escondemos de nós mesmos o que passa aqui dentro, mantemos o movimento indispensável das coisas vivas e caminhamos rumo à alegria seguinte. Porque é no trânsito entre as alegrias e as tristezas que vive a nossa felicidade, esse estado de ser e estar que a vida inteira perseguimos, ora sonhando feito os cantores de karaokê, ora na lida dura de seguir em frente realizando o que podemos. Do jeito que pudermos.

Tem muita gente aqui e ali exigindo felicidade. Mas só meia dúzia disposta a pagar o preço. Ser feliz dá o maior trabalho. É obra para a nossa vida inteira.

Hoje eu também andei triste. Estou longe de casa e a saudade de você e do nosso cachorro me dói. Mas é o preço. Amanhã passa. Agradeço por ter um trabalho honesto que paga as nossas contas e nos ajuda a seguir tranquilos. Daqui a pouco estaremos juntos de novo, bagunçando o prédio, fazendo a distância de agora valer a pena, aproveitando para ser felizes juntos.

Então eu tenho a impressão de que a felicidade é o que a gente sente quando volta para casa, esse lugar qualquer do mundo em que nos sentimos amados e onde amamos também. Seja lá para onde vamos, voltar para casa é sempre o destino seguinte. Por ele a gente paga qualquer preço que a vida nos cobre. Por ele a gente paga, sim.

Agora falta pouco. Espera mais um pouquinho aí, meu filho. Aguenta aí que o papai já volta. O papai já volta já.

Imagem de capa: Africa Studio/shutterstock

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