Sobras, por Ita Portugal

Sobras, por Ita Portugal

Eu já fui tanta coisa. Fui artista sem plateia. Palhaça sem fazer ninguém sorrir. Ensinante sem aprendiz. Errante sem caminho. Perdida sem direção. Malabarista na estrada.

Costureira de sentimentos rasgados. Menina sem inocência. Moleca feito gente grande. Doutora sem diploma. Artesã sem criatividade. Pintora de ilusões. Contadora de histórias sem pé nem cabeça. Passarinho sem asas para voar. Borboleta no casulo.

Já fui grande no coração. Pequena na fragilidade. Cantora sem nenhuma partitura.
Fui amante e amada e fiz loucuras por amor. E em muitas laudas de coisas que fui, também mudei algumas que não gostei. Mudei de profissão, mudei a cor do cabelo, mudei de casa, de estado; civil inclusive, mudei a rota, mudei o tom, mudei os critérios, mudei a frase, troquei a pilha, rompi os vínculos e tive que refazer depois. Concordei, discordei. Disse não, disse sim tantas vezes.

Já fui quase tudo sem nada. Fui de invernadas friorentas, teimando em sentir calor. Catadora de flores murchas. Já fui escuro. Claridade. Opaca por decisão. Fui da terra com os pés na lua.

Psicóloga sem habilidade. Bailarina sem dança no pé.Fui moleca atrapalhada. Rainha sem reinado.Dicionário sem palavras. Silêncio cheio de ruídos. Beata sem rosário e até santa se santidade. Fui pecadora inocente. Culpada sem merecer.

Fui moça de rua, só na calçada . Menina de família, órfã. Amante sem um amor. Bandida do coração. Estrangeira sem tradução.

Fui sem causa. Sem lei. Sem jeito. Sem teto. Sem sol. Sem doçura e sem frescura.
Escrevi poemas. Reatei amores. Apaguei paixões. Comprei vestidos. Ajudei e esqueci que fiz. Presenteei. Perdoei. Briguei. Abaixei a cabeça. Levantei a crista achando que eu era boa. Estudei o que eu achei que devia e cheguei à conclusão que deveria ter estudado mais. Exagerei na dose. Perdi a paciência. Voltei atrás. Rompi e refiz laços tantas vezes. Comprei briga e o preço foi caro. Esqueci. Perdoei. Machuquei e fui machucada. Disse sim, não, talvez, espere um pouco, deixa pra lá.

Aprendi coisas novas e esqueci coisas velhas. Comecei projetos errados. Conclui trabalhos acertados. Tomei porre. Engoli uma dose. Levei um susto. Tive equívocos. Errei os erros previstos e não cometi todos os acertos programados. Molhei as plantas. Colhi flores. Alimentei os pássaros. Escrevi e rasguei. Reescrevi e guardei. Molhei travesseiros e disse que era a última vez. Tornei a molhar várias outras últimas vezes. Amei rápido demais. Esqueci devagar. Perdi o encanto e sem querer o encontrei.

Fui tola demais. Muito esperta. Ganhei o jogo. Perdi o amor e o mundo quase acabou na minha cabeça. No outro dia, no mesmo lugar, estava o mundo igualzinho eu deixei. Cantei. Chorei. Dancei. Fiquei emburrada. Sai sem rumo.

Não fiz nada sobrenatural. Não salvei o mundo e não consegui me salvar. Vivi os erros. Comemorei os acertos. Escrevi no caderno. Marquei na linha da vida. Fui luz apagada. Borbulhas sem gás. E na imaginação fui até rima, poeta sem inspiração, mas isso meu caro foi tudo sonho numa noite sem verão.

Agora, quero apertar o play para o novo que está a minha porta e fazer o que ainda falta. Com sonhos novos. Doses de coragem sem saber de muita coisa, aliás, eu só sei que uma horinha dessas, eu chego a algum lugar. Roma, Paris, ou talvez apenas no meu quarto.
Feliz, sorte, coragem, fé ou sei lá o quê, para tudo que começa outra vez.
Ita Portugal

Imagem de capa: Mehendra_art/shutterstock

40 anos: hora de jogar os entulhos fora

40 anos: hora de jogar os entulhos fora

Desde menina, escutava as pessoas dizendo que “a vida começa aos 40”. Confesso que isso me deixava bastante intrigada, mesmo depois de adulta. Afinal, que surpresas poderiam aguardar uma pessoa ao entrar para a quarta década de vida? Questionei muitas vezes.

Eu adoraria encontrar uma forma de escrever sobre esse tema sem me expor, mas não seria possível, visto que o texto ficaria pobre em autenticidade. Óbvio que me inspiro também em incontáveis relatos de outras pessoas.

Ao entrar para o clube dos “enta”, pude constatar esse “começo” de vida. Me deparei com a necessidade urgente de uma revisão sobre o modo como eu vinha vivendo. Foi como jogar tudo o que eu tinha de crenças, valores, sentimentos, medos e etc. num grande tatame e fazer uma seleção bem criteriosa. Olha, isso me deu muito trabalho. Eu simplesmente “filtrei” o que me servia e joguei o resto no lixo e mandei incinerar. Percebi, claramente, que eu carregava uma mala gigante de coisas que não me pertenciam. Eram tralhas indesejadas que muitas pessoas foram me entregando ao longo de minha vida.

E, tinha muito lixo, muita tranqueira pesada e incômoda. Me deparei com “objetos” em forma de insegurança, sentimento de incapacidade, sentimento de menos valia, crenças idiotas, necessidade de aprovação de pessoas que eu nunca gostei, bloqueios e etc. Olhei para cada um desses entulhos e disse: chega, vão todos para o lixo, aqui não tem lugar para vocês mais, vou trocar toda minha mobília, vou enfeitar a minha alma.

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No meio dessa bagunça toda, encontrei alguns sonhos e desejos, completamente empoeirados, quase irreconhecíveis. Peguei-os, separei num canto, limpei a poeira mais grossa e prometi a eles que, dedicaria um tempo especial para restaurar-lhes o brilho, mas que esperasse eu jogar fora tudo o que não me servia. Então, após levar todo aquele entulho para a incineração, voltei aos objetos que restaram. Eles eram meus de verdade, faziam e fazem parte da minha essência. O riso, a fé, a espontaneidade, a mania de poetizar tudo, o senso de liberdade são alguns dos itens que estavam empoeirados e que eu fiz questão de restaurá-los, lustrá-los e transformá-los em objetos de decoração da minha alma

Eu encontrei, em meio a essa bagunça toda, no fundo da minha memória, uma menina pobre, que morava num sítio. Muito tímida, desconfiada e completamente desacreditada. Com muita mansidão, acolhi-a, coloquei-a no colo. Ela chorava muito, pois ela disse a um adulto que quando crescesse queria ter o nome dela na capa de um livro, tal qual o nome da Branca Alves de Lima na capa da sua cartilha de alfabetização “Caminho Suave”. O adulto riu e zombou do sonho dela e disse ainda que ela não serviria nem para dar um recado quando crescesse.

Então, enxuguei as lágrimas daquela menina, enchi-a de beijos e disse a ela: olha aqui nos meus olhos e ouça, você vai ser escritora, sim, eu acredito em você e você vai começar a escrever hoje mesmo. A menina sorriu e me abraçou de volta, ela está aqui escrevendo nesse momento. Os recados dela estão espalhados pela internet em forma de crônicas e poesias.

Em suma, fui percebendo que a maioria dos meus medos me foram entregues por outras pessoas. Pessoas que não queriam que eu crescesse, que eu sonhasse, que eu vivesse de forma plena. As razões pelas quais elas queriam podar minhas asas? Não sei e nem me interesso em saber, importa é que me libertei das crenças aniquiladoras que elas me entregaram um dia.

Eu optei por fazer minhas próprias escolhas, foi como tirar um véu das vistas. Eu aprendi a dizer “não” sem me sentir culpada. Aprendi a me tratar com mais respeito, zelo e compaixão. Me perdoei pelas escolhas infelizes e me parabenizo por cada obstáculo superado. Aprendi que devo comemorar minhas conquistas, não importa o quão pequena ela pareça aos olhos dos outros. Desenterrei sonhos e me dedico a eles diariamente. Não preciso mais ouvir alguém dizer que sou ou não capaz de realizá-los. Eu aprendi a me conhecer, perceber meus pontos fortes e o que posso melhorar. Percebi que não existe impossível para quem tem a alma transbordando motivação e fé.

Libertei-me da necessidade de ter uma companhia para me sentir completa. Continuo acreditando no amor e desejo vivê-lo mas não quero nada mais ou menos, eu não suporto migalhas…não as aceito mais em minha vida.

Sabe, acredito que esse despertar aos 40 ocorre porque nos percebemos na metade do caminho, considerando a expectativa de vida humana. Então, não queremos mais viver de qualquer jeito, não queremos viver imposições alheias. Queremos viver aquilo que faça sentido para nós. Isso se refere à crença espiritual, relacionamentos, estilo de vida e etc. Esse filtro do que serve ou não serve acontece diariamente, só que agora ficou mais fácil, pois a “faxina” pesada já foi feita. Nesse despertar, veio, no pacote, um outro modo de olhar o outro. Com mais empatia, com mais leveza, com mais compaixão. ” Eu não tenho um novo caminho, o que tenho de novo é o jeito de caminhar”.

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Photo by Timothy Dykes on Unsplash

Nada que começa com um “vamos dar um tempo” pode dar certo

Nada que começa com um “vamos dar um tempo” pode dar certo

No termo técnico, “stand by” significa deixar um aparelho ser movido com pouca energia, mas não desligá-lo totalmente. Isso permite que, a qualquer momento, você pode ligá-lo rapidamente, sem precisar esperar o carregamento dos servidores de energia. Quando trazemos o termo “stand by” para os relacionamentos, a definição não é tão boa assim.

Provavelmente, se me pedissem um conselho no meio da rua sobre o tema, eu diria que essa conversa de “dar um tempo” é a maior palhaçada que existe, mas, nos textos, a mensagem deve ser mais leve. Então, que assim seja.

Sejamos realistas: essa história de “dar um tempo” no relacionamento não existe. Na verdade, os adeptos da situação, são pessoas convenientes que preferem deixar o parceiro à espera da sua decisão, enquanto aproveitam o melhor da vida de solteiro. E, o pior é que, a sociedade, parece encarar como normal essa atitude e denomina o famoso “tempo”, como um “suspiro de vida” para o relacionamento”.

Não me leve a mal, mas na vida, há verdades que precisam ser ditas e “toda vez que alguém quiser deixar o relacionamento em stand by, está na hora de seguir sozinho” é uma delas.

Atualmente o “vamos dar um tempo” está modernizado. Disfarçado de “não sei o que estou sentindo” ou “preciso colocar na balança o que sinto”, acorrenta vítimas e deixa presas pessoas maravilhosas que deveriam estar livres para amar.

Pela razão “tempo” é a única coisa que não deveria ser pedido, nem deveria ser dado, até porque, não o temos. Ninguém sabe o amanha. A vida acontece hoje! Mas, os audaciosos de plantão trabalham com o tema como se fossem donos dele.

Pare de carregar culpas que não são suas. O fato do relacionamento não estar dando certo, nem sempre tem motivos palpáveis. O problema não é você, são as migalhas que você aceita. Não é ser tratada como segunda opção, é aceitar isso. Está na hora de entender que há coisas que valem a pena e coisas que não. Perder a própria paz esperando o outro decidir o rumo do relacionamento é, no mínimo, loucura.

Amar é transbordar. É querer estar perto. É, como dizia Antonie de Saint- Exupéry, “olhar juntos na mesma direção”. Quando o amor não acontece em toda a sua totalidade, não merece continuar. Entenda que é melhor investir tempo se curando, do que perder tempo de iludindo.

Imagem de capa:  golubovystock/shutterstock

Se você não se ama e espera que o amor venha do outro, você é uma pessoa folgada.

Se você não se ama e espera que o amor venha do outro, você é uma pessoa folgada.

Em qualquer trabalho, se eu espero o outro fazer por mim o que é a minha obrigação, eu não passo de um folgado, relapso, encostado e enganador. Assim é em todo canto. Por que raios no amor há de ser diferente?

O amor é um trabalho e amar a mim mesmo é a minha primeira obrigação. Se eu não me amo e espero o outro fazê-lo em meu lugar, é porque eu sou um péssimo amante! Quem não ama a si mesmo não tem condições de amar o outro nem deve dele esperar amor. É muito simples. Quem é que pode oferecer o que não tem?

Guardadas todas as proporções, é como chegar de mãos vazias a uma festa onde cada convidado contribuiu levando comida e bebida. Lá estão você e sua cara de pau consumindo o que é dos outros sem colaborar com nada. Bonito, né?

Quem não tem amor por si mesmo não pode ter amor pelo outro. Logo, ao receber amor de alguém, pelo menos no primeiro instante, não vai retribuir. Vai guardar aquele amor para consumo próprio feito uma droga, uma medicação.

Bom momento para outra observação importante: a pessoa que tem amor de verdade por si mesma dá amor ao outro sem nada exigir em troca. Abastece de amor alguém a quem o sentimento amoroso anda em falta ou divide seu amor próprio com alguém que também se ama. E se acaso entrar em uma relação vampiresca, com pessoa que só recebe e não retribui, uma hora isso vai lhe cansar a beleza. Então ela vai passar a mão em suas coisas e seguir em frente, ué! Depois, quando quiser e se acontecer, vai dividir com outro o amor que tem de sobra por si mesma.

Dia desses, li por aí uma frase que dizia mais ou menos assim:

“Se você entra na vida dos outros, faz bagunça e vai embora, um conselho: coração gosta de sim e não. Se não sabe onde quer ficar, fique na sua.”

E eu fiquei na minha, pensando no quanto esse tipo de raciocínio protecionista, recriminador e repreensivo se tornou comum hoje em dia. Pena, porque é uma premissa tão estapafúrdia quanto o comportamento de quem se acha perfeito e, por isso, exige perfeição de seus parceiros amorosos, amigos, parentes e colegas.

Com todo o respeito, é discurso de quem cobra dos outros aquilo que tampouco faz. Denota nada senão o típico comportamento da pessoa que não se gosta e espera que o outro vá fazer isso por ela.

Pensemos juntos, minha gente. Se o outro entrou na minha vida, “fez bagunça” e foi embora, foi porque eu permiti. E se eu não cuido de quem entra na minha vida, ou se eu deixo qualquer um entrar, é porque eu larguei o portão aberto, fui desmazelado, descuidei. Não fiz direito o que é a minha obrigação. Se o coração gosta mesmo de sim e de não, como quer o autor da frase que eu li por aí, e eu deixei alguém bagunçá-lo, então eu não cuidei direito do meu próprio coração. A responsabilidade, então, é minha.

Cá entre nós, eu aposto que algum interlocutor abespinhado vai dizer que estou “culpando a vítima”. Não é o caso. Eu não penso que o culpado de um assalto é o assaltado que deixou o vidro do carro aberto ou não instalou um alarme em casa. Também acho absurdo e criminoso insinuarem que a culpa de um estupro é da vítima, por estar sozinha em local indevido, por suas roupas ou por qualquer outro “motivo” absurdo. Não é nada disso. São coisas diferentes.

Eu só não espero que o outro faça por mim o que é a minha obrigação. Começando por amar a mim mesmo.

Imagem de capa: Victoria Chudinova/shutterstock

Toda sensação de perda tem origem numa falsa sensação de posse

Toda sensação de perda tem origem numa falsa sensação de posse

O que é que você responderia a uma pergunta vaga e capciosa como: O que você tem?

“Ahhhhhhh eu tenho dor de cabeça!”
“Como assim? Tipo… Agora? Agora tenho vontade de comer aquele bolo de fubá da sua mãe, sabe?”
“Oras o que é que eu tenho? Tenho nada!”
“Sei lá… tô meio confusa! Será que eu sou normal?”
“Puxa vida… você percebeu? Acho que é TPM!”
“Tenho uma tristeza persistente. Parece que é depressão!”

Já reparou no tanto de coisas que a gente “tem”? E em 99% dos casos “temos” coisas que não prestam; pesos que ficamos carregando no colo. Ou apegos que nos escravizam e nos impedem de sermos generosos, feito aquelas roupas que estão há mais de um ano no armário, que a gente não usa, mas também não dá.

“Temos” uma infinidade de queixas de estimação. Deveríamos, inclusive, dar um nome a elas, comprar logo uma coleira, um pote de água, uma caixa de areia e uma caminha. Comida não precisa, não! Essas bichinhas já estão super bem alimentadas com a nossa idolatria a elas e a nossa auto comiseração.

Diante dessa perguntinha danada: “O que é que você tem?” – afinal -, quem lembraria de dizer que tem uma orquídea na varanda que passou a semana inteira desabrochando? Quem se manifestaria sobre ter descoberto ainda ontem o prazer de dançar? Quem se disporia a revelar que tem tido uns sonhos estranhos e lindos, daqueles que nos fazem acordar cheias de vontade de amar? Quem teria a ideia de dizer que tem uma vida cheia de novas possibilidades, mesmo depois de ter sofrido uma grande queda… ou mesmo, quem sabe, graças a ela. Quem diria que tem uma caixinha de música, daquelas com uma bailarina que rodopia dentro?

Talvez então essa crença paralisante de teimar em ter, não tenha lá muita coisa a ver com as perdas. Porque afinal de contas, nossas “posses” contabilizadas ficariam muito melhor se fossem perdidas.

A posse de qualquer coisa é uma ilusão. É como tentar conter uma bolha de sabão num pote de vidro com tampa. A beleza da bolha de sabão é perder-se no ar, transmutar-se em cores incertas e difusas, estourar para que tenhamos imediatamente a necessidade urgente de soprar uma outra.

As coisas que supostamente temos, e que muitas vezes foram conquistadas com grande esforço, são finitas, perecíveis… quebram, terminam, deixam de funcionar.

Nossos maiores bens não são possuíveis! Os amores vêm e vão. Os filhos criam asas e vão descobrir suas próprias aspirações individuais. Os amigos transitam. Os pais, dentro de uma ordem natural da vida, hão de partir antes de nós. Nossos animaizinhos tão amados, já foram projetados assim com essa alma breve para permanecer por pouco tempo nesse planeta.

O que temos de fato, no fim das coisas é que perseguir com toda a obstinação um jeito de viver com mais leveza. Temos de aprender a amar sem possuir. Temos de aprender a voar sem pista certa de pouso. Temos de aprender a buscar essa tal felicidade em momentos inteiros junto daqueles que nos tocam a alma. Temos de ter fogo aqui dentro, para que as inevitáveis perdas não sejam capazes de nos apagar.

Imagem de capa meramente ilustrativa: Cena do filme “Uma vida em sete dias”

3 séries NETFLIX que são um tratado sobre o inconsciente humano

3 séries NETFLIX que são um tratado sobre o inconsciente humano

“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino.”Carl Gustav Jung.*

Diz o ditado que precisamos comer um saco de sal ao lado de uma pessoa para que possamos conhecê-la. Mas será que, mesmo assim, nós somos capazes de realmente conhecê-la? Será que nós mesmos nos conhecemos?

Com sugestões minhas e do psicólogo Pedro Leite, do Psicologias o Brasil, seguem 3 séries  que indicamos abaixo. Todas foram recentemente incluídas no catálogo Netflix, enriquecem qualquer pessoa interessada no comportamento porque investigam profundamente o que há abaixo da ponta do iceberg que pensamos conhecer.

A intersecção do enredo das séries são atos de violência que, mesmo de maneiras diferentes e decorrente de causas diversas, aparece como válvula de escape para situações relacionadas a história de vida de seus personagens.

No fim de cada episódio nós mesmos nos perguntamos do que seríamos capazes se fossemos levados ao extremo de nossa tolerância? Como seríamos se tivéssemos sido criados de maneira diferente ou passado por situações traumáticas em alguma fase do nosso desenvolvimento onde algo alicerçal estava sendo formado?

Da neurose a psicopatia, o convite dos enredos é para reflexão e aprendizagem. Mais do que respostas, essas séries talvez tragam mais e mais perguntas….e é aí que mora a sua grandeza!

Abaixo, imagens e sinopses de divulgação. Nem preciso falar que ela não fazem justiça às histórias. 🙂

1- Alias Grace

Grace Marks (Sarah Gadon) é uma jovem irlandesa de classe média baixa, que decide tentar a vida no Canadá. Contratada para trabalhar como empregada doméstica na casa de Thomas Kinnear (Paul Gross), ela é condenada à prisão perpétua pelo assassinato brutal do seu patrão e da governanta da casa, Nancy Montgomery (Anna Paquin). Passados 16 anos desde o encarceramento da imigrante, o Dr. Simon Jordan (Edward Holcroft) se apaixona por Grace e fará de tudo para descobrir a verdade sobre o caso.

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2- Mindhunter (primeira temporada disponível)

Baseado no livro best-seller do NYT, que relata os anos que John Douglas passou perseguindo serial killers e estupradores, desenvolvendo seus perfis para prever seus próximos passos. A série discutirá alguns de seus casos mais publicizados, como o homem que caçava prostitutas no Alaska, o assassino de crianças de Atlanta e o matador de Green River.

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3- The Sinner

A investigação acerca de um crime precisa acabar quando se sabe qual foi o crime e quem foi o criminoso? Quando uma jovem mãe de família comete um crime nefasto em público e se vê incapaz de explicar o motivo que a levou áquele estado de fúria súbito, um investigador se torna cada vez mais obcecado em entender as profundezas da psique da mulher, desenterrando os momentos de violência que ela tenta manter no passado, longe dos olhos do mundo.

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THE SINNER — “Pilot” Episode 101 — Pictured: (l-r) — (Photo by: Brownie Harris/USA Network)

*A frase inicial foi usada como citação em um texto sobre The Sinner, de Débora Oliveira, que foi a inspiração para escrever essa pequena trilogia de sugestões. Sinopses Adoro Cinema.

Por um mundo com mais pessoas boas e menos gente “boazinha”.

Por um mundo com mais pessoas boas e menos gente “boazinha”.

Um dia acontece. Você acorda, abre a janela e encontra um tempo feio como bronca de filho em mãe, triste, dia de ser só. O céu cor de chumbo é um longo e imenso desamparo, a rua está úmida, mais vazia que a primeira tarde depois do fim do mundo, e você tem um desejo dolorido de voltar à cama, ao convívio das cobertas, ao escuro silencioso da madrugada, ao útero materno.

Você fica ali, em seu canto sem hora, colando rostos e cenas e motivos nas páginas brancas de seus vazios. Não há nada que dar a ninguém. Fica ali só, até aquilo passar.

E aquilo passa, sempre passa. Vira outra coisa e você vai em frente, vai à vida. Escolhe seguir adiante. Seu olhar insiste em ver beleza no quase tudo. Até o cheiro do dia frio vai lhe dar vontade de arrumar as gavetas, cortar as unhas, ajeitar o cabelo. Deixar o mundo bonito como no trabalho do jardineiro simples em sua intenção sagrada de enfeitar a vista alheia.

Então você compreende o quanto a vida anda à espreita. O quanto ela está ali sempre. A postos. Esperando sua deixa e sua chance de se mostrar grande. Maior que qualquer pesar. Mais alta e franca que nossas picuinhas e nossos venenos. Muito mais forte que a misteriosa e fantástica capacidade que temos nós de armazenar quinquilharias!

É a vida que aparece na lembrança preciosa dos nossos. Todos eles. Avós, bisavós, pais, irmãos, tios, tias, primos, vizinhos de ontem, amores passados, velhos amigos perdidos na neblina da indiferença, toda essa gente que mora em nossa saudade retorna em desfile de dia cívico quando viver se faz mais forte que o nosso medo de que nos soltem a mão no meio do tumulto.

Eles chegam na hora certa, com o sol ardendo depois da chuva. Voltam para avisar: é tempo de viver! E anunciam que, para aqueles que acreditam, a vida é uma lambreta alaranjada pilotada por Deus e que nós estamos na garupa! Às vezes, tem mesmo de apertar forte a cintura do Piloto para não cair.

Vê por aí quanta gente tão certa do que diz? Quantos gênios decretando que a felicidade consiste em fazer isso e aquilo e que a sabedoria está aqui e ali? Palmas para eles! Agora, se você não souber sequer onde está a chave do carro, não esquenta. Se nem sequer tiver carro e tampouco certezas, relaxe.

Quem sabe? Viver pode ser mesmo esse eterno “não ter”. De repente, aqueles que moram em nossas saudades nos jogam na cara que é preciso não ter mesmo. Quem não tem vai em busca.

Sem pressa, eles se sentam e contam uma história antiga sobre o amor e o tempo. E sugerem que é preciso ser bom para viver neste mundo. Mas bom mesmo! Não “bonzinho”. Bom! Tem de ser bom com o mesmo descaramento de quem rouba um carro ao meio-dia, assalta os cofres públicos, engana aos outros e a si mesmos. Porque nesses tempos em que a grosseria virou competência e a firmeza de caráter se confunde com patada, para cada canalha que pratica franca e livremente suas escrotidões é preciso um batalhão de gente radicalmente boa, inescrupulosamente honesta, cruelmente bacana para equilibrar a vida.Olha o sol ali, aquecendo nossas saudades. Voltou, sempre volta, volta para confirmar que é urgente trabalhar com alegria, fazer as coisas com amor, desejar profundo. E que desejo raso não realiza nada.

É. Talvez seja só essa mania de esperança fazendo das suas. Talvez o tempo ruim apareça mais vezes do que nós aguentamos.

Mas aqui dentro, aqui no fundo eu tenho a impressão de que nós podemos ser mais, um bocado mais que pobres bichos vivendo à toa para morrer sós. Sei lá. É só um palpite de quem tem saudade. Olha o sol ali. Olha o sol.

Imagem de capa: Reprodução

18 frases do Padre Fábio de Melo sobre o amor

18 frases do Padre Fábio de Melo sobre o amor

1. Amar alguém é viver o exercício constante, de não querer fazer do outro o que a gente gostaria que ele fosse. A experiência de amar e ser amado é acima de tudo a experiência do respeito.

2. A saudade é um lugar aonde só chega quem amou.

3. Amor a gente não aprende nos livros, na faculdade, com conselhos, com teorias. Amar, a gente aprende amando.

4. Amar talvez seja isso…descobrir o que o outro fala mesmo quando ele não diz

5. Amores perfeitos só existem nas projeções. Ou nos jardins..

6. Amar não é prender nem ter domínio sobre alguém, mas consiste em fazer livre a quem se ama e se quer bem, todo amor que não promove a liberdade, não convém.

7. O amor é a capacidade de descobrir no outro o que ele ainda não viu que tem.

8. O amor só pode acontecer nas pessoas que atravessaram a ante-sala da paixão. Somente depois de conhecidos limites e virtudes é o que o amor é real!

9. O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão.

10. O Amor faz cair por terra todas as maldições.

11. Amar é o mesmo que exercitar-nos na simplicidade. O amor não complica, porque seu único desejo é resolver.

12. Quem quiser se aproximar, que se aproxime, mas não venha desrespeitar o Amor que me faz amar.

13. Não há amor fora da experiência do cuidado. A vida requer cuidado, os amores também.

14. O que da testemunho do nosso amor não é a declaração que a linguagem das palavras nos permitem, mas a linguagem dos gestos que compartilhamos diariamente.

15. Paixão só aprendeu a ficar por pouco tempo. O amor gosta mesmo é de permanecer a vida inteira.

16. Na sua vida, não tenha medo de ser fraco, já que a fraqueza representa capacidade de amar. Quando o outro, pelas mais diversas razões esperar pelo seu ódio, surpreenda-o com o seu amor.

17. Só quem já perdoou na vida sabe o que é amar, porque entendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor…

18. Não desista do amor, não desista de amar, não se entregue a dor, porque ela um dia vai passar…

8 tipos de pessoas tóxicas que são difíceis de conviver

8 tipos de pessoas tóxicas que são difíceis de conviver

Cada pessoa tem seu jeito único de ser e isso torna a vida muito mais interessante. Entretanto, seja dentro de casa, no trabalho ou na faculdade, existem pessoas tóxicas que podem realmente afetar o psicológico e estragar o dia a dia daqueles que convivem com elas.

“No trabalho você pode ter um chefe ou um colega que é sempre grosseiro ou está sempre te diminuindo, isso pode gerar frustação e desestimular uma pessoa. Na família, existe pais ou familiares tóxicos, que estão sempre dizem que a pessoa não é boa o bastante, que ela precisa ser melhor, que está sempre criticando e colocando a prova seu amor, isso pode destruir a autoestima, autonomia e confiança. No relacionamento amoroso ou na amizade também temos esse tipo de problema, com pessoas que só estão com a outra por interesse, que estão sempre querendo passar a perna no próximo e desejando o mal”, comenta a psicóloga Milena Lhano.

Identificar as pessoas tóxicas presentes na nossa vida pode não ser uma tarefa tão fácil, portanto é preciso ficar atento aos sinais, como se sentir ridicularizado ou sufocado por alguém. A melhor forma de prevenir e evitar o conflito com essas pessoas é tentar se afastar, porém, sabemos que nem sempre isso é possível. Então, é importante criar a consciência de que essa pessoa não te faz bem, buscando depender cada vez menos dela.

Para ajudar você a identificar se existe alguém assim nos ambientes que convive, o Minha Vida classificou alguns sinais para reconhecer uma pessoa tóxica em sua vida. Confira:

1. Invejosos

Esse tipo de pessoa nunca está feliz com aquilo que tem e também não fica feliz quando algo bom acontece com você. Os invejosos acreditam que coisas boas só podem acontecer com eles. “O invejo é um perfil bem tóxico. O primeiro passo é ser consciente que a pessoa é invejosa e tentar ter um relacionamento mais superficial com ela”, diz a psicóloga.

2. Fofoqueiros

Todo mundo já teve aquela vizinha que vivia querendo saber da vida dos outros e sempre que tinha a oportunidade contava uma história de alguém para a vizinhança toda. Os fofoqueiros podem destruir completamente a autoestima de alguém e, por esse motivo, a melhor forma de lidar com eles é deixar de compartilhar relatos.

“Algumas pessoas dessa personalidade são dissimuladas, portanto nem adianta falar que elas são fofoqueiras porque elas vão jurar até a morte que não fazem isso. A melhor forma de lidar com essas pessoas é se preservando, não compartilhando coisas muito íntimas. Reconhecer essa pessoa não é tão difícil, pois se ela fala de todo mundo pra você, provavelmente também fala de você para outros”, afirma Milena.

3. Duas caras (pessoa falsa)

Uma pessoa falsa é aquela que só age como amigo quando é confortável, porém se você precisar da ajuda dela, provavelmente não terá. Esse é o tipo de pessoa que na sua frente é toda cheia de amor e, quando você não está, vai falar mal de você. As atitudes dela nunca são a mesma quando você está presente e quando não está.

“Uma pessoa falsa é difícil de reconhecer porque eles conseguem jogar muito bem. Esse também é um perfil muito difícil de se desenvencilhar, pois eles podem se sentir ofendidos. Então, é importante não entrar no jogo deles. Existem pessoas com esses perfis que não podemos deixar de conviver, assim nós devemos buscar outras qualidades da pessoa e tentar se defender”, revela a psicóloga.

4. Vítimas

As pessoas que se fazem de vítima nunca são capazes de assumir o próprio erro, sempre precisam encontrar alguém para levar a culpa por elas. “A vítima é uma pessoa que passa uma falsa imagem de ser fraca, quando na verdade é uma pessoa muito forte. A melhor postura para lidar com esse perfil é nunca alimentar o comportamento ou valorizar isso na pessoa”, comenta Milena.

5. Arrogantes

Existe uma grande diferença entre confiança e arrogância, pessoas arrogantes se sentem superiores e estão sempre intimidando os outros. De acordo com a psicóloga, para lidar com o arrogante é preciso ter autoestima e ter consciência das suas qualidades, porque ele sempre tentará diminuir você.

6. Controladores

As pessoas controladoras acreditam que sabem tudo, mas por trás disso são super inseguras. “Uma pessoa controladora geralmente é muito segura e tentar mostrar controle com esse perfil pode também não ser a melhor alternativa. O ideal é tentar não entrar nesse controle”, revela a psicóloga.

7. Negativos

Sabe aquela pessoa que vive irritada, nunca consegue ver nada de bom na vida e é ressentida com tudo? Então, esse tipo de perfil pode afetar muito a vida de alguém, já que para ela nada parece dar certo. Segundo a psicóloga é importante não se deixar contaminar pela vibração ruim dela.
8. Egocêntricos

Para os egocêntricos parece que o mundo inteiro gira em torno deles, eles estão sempre querendo ser os melhores em tudo. “Com uma pessoa egocêntrica não se pode criar muita expectativa ou querer receber algo em troca. O egocêntrico não consegue ver o outro, só pensa nele mesmo. Em um relacionamento é uma via de mão única”, comenta Milena.

Imagem de capa: Shutterstock/Nomad_Soul

TEXTO ORIGINAL DE MINHA VIDA

Sentir falta não significa querer que algo volte

Sentir falta não significa querer que algo volte

Você pode sentir falta, pode sentir nostalgia por tudo que viveu com uma pessoa que amou, você pode desejar que essas lembranças se repitam, se emocionar novamente ou se fazer várias perguntas: por que tudo acabou? Poderia ter sido de outra forma? O que aconteceria se…? No entanto, a nostalgia não significa que você deseja que a pessoa protagonista desse sentimento retorne para o seu lado.

Sentir falta pode ser complicado, e às vezes também pode estar acompanhado de uma pontada de dor: grande parte do que se encontra nessa viagem mental ao passado é lembrado com saudade. No entanto, o fim teve um motivo e manter a distância ajuda a evitar a tentação de retornar, porque no fundo você não deseja fazer isso.

Podemos sentir falta da pessoa ou da história que vivemos com ela, isso muda muito o significado da memória. Às vezes não queremos que a pessoa volte, a menos que seja para repetir a história, e isso não tem que acontecer com a mesma pessoa. A história e as sensações que vivemos podem ser replicadas em parte, talvez agora com outro companheiro de viagem.

Há pessoas que aparecem em nossas vidas por um tempo limitado, nos dão o bom e o ruim e aí acaba o caminho que trilhamos juntos. Quando sentimos falta, é bom lembrar que a história tem dois lados, o nosso caminho continuará e é graças a isso que podemos continuar aproveitando o sabor doce dos momentos especiais.

Nunca volta a ser quem foi, mesmo que retorne

Aqui a diferença entre sentir falta da pessoa ou das lembranças se torna importante. Quando as histórias terminam, elas terminam, e embora queiramos repetir o mesmo com a mesma pessoa, não será igual, as pessoas amadurecem, crescem, se desenvolvem, e é por isso que não retornam ao mesmo ponto.

Recomeçar com alguém que você já conhece, com quem você tem parte do seu passado em sua história ou alguém com quem você tenta repetir momentos já vividos em outro momento, implicará começar a partir de um ponto diferente, e é por isso que pode significar não voltar a viver ou sentir o mesmo.

As memórias que guardamos devem ser deixadas na memória, sendo saboreadas de tempos em tempos, nos permitindo sentir novamente quando fechamos os olhos, enchendo nossos olhos de lágrimas ao pensar que não estão mais lá, mas devemos nos sentir felizes porque aconteceram e, de uma forma ou de outra, ainda estão em nós.

Nós somos cada uma das nossas lembranças e é por isso que devemos vivê-las dessa maneira. Quando perceber que sente falta, mas que isso vai machucá-lo novamente, deixe, não repita ou force algo que já não serve mais. Você pode sentir falta, mas talvez não queira que volte.

Sentir falta é encher seus momentos com lembranças

Porque sentir falta é isso, é estarmos cheios de memórias, de momentos, de aventuras, de histórias, é estarmos cheios de vida, mas também é estarmos cheios de vida passada. Não seria bom ficarmos lá, temos nosso passado, nossa saudade, mas à frente temos muito mais para continuar preenchendo nossas memórias.

Coloquemos um ponto final, tomemos essa decisão a respeito dessa nostalgia, deixemos de estar cheios do passado e vamos abrir os olhos para tudo o que nos espera, as pessoas que estiveram lá ficarão, registradas em nossa memória e em nossas emoções, mas as pessoas que esperam para começar fazer parte do nosso caminho estão desejosas para lhes abrirmos os braços.

Ser corajoso também implica confiar novamente, seguir sentindo falta, mas se arriscando a viver experiências com pessoas diferentes, dar a oportunidade para que sejam outros que preencham os vazios que hoje temos sentido falta, mas acima de tudo, pessoas que nos preencham e continuem a contribuir conosco, que não apaguem nossa memória, mas que nos deixem espaço para criar novas histórias.

Imagem de capa: Shutterstock/Nick Starichenko

TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA

Perca o medo de ser quem você é, vão te julgar de qualquer jeito mesmo

Perca o medo de ser quem você é, vão te julgar de qualquer jeito mesmo

Passei a minha vida toda com medo do olhar do outro, medo do que iriam pensar, do que iriam falar, do que poderia correr pelas bocas fofoqueiras sobre mim. Por conta disso, engoli muitas vontades e desejos, para que agradasse à maioria, para que deixasse tranquilas as línguas ferinas de quem nem merecia um minuto de meu pensamento. Isso me levava a sufocar grande parte de mim aqui dentro. E faz muito mal engolir sonhos.

A maturidade, porém, trouxe-me mais calma e compreensão, fazendo-me entender que a aceitação dos outros requer, antes de tudo, que eu me aceite como eu sou. Qualquer traço de insegurança ou de vulnerabilidade de minha parte se tornará o alvo perfeito para que distorçam, menosprezem e condenem os meus atos, mesmo os mais inofensivos, mesmo quando nada do que eu esteja fazendo tenha alguma coisa a ver com a vida do outro. Gente ruim fareja o medo e a insegurança de suas vítimas.

No meu caso, trata-se de um processo lento e doloroso, porque desafogar o que a gente sufocou por tanto tempo traz de volta lembranças dos medos tolos que nos levaram ao fechamento em nós mesmos. Esse enfrentamento vem sendo gradual, mas libertador, porque a expansão dos sonhos agigantam a nossa essência, tornando-nos melhores e mais felizes. E felicidade alimenta qualquer esperança, que é o que nos move, afinal.

Somente depois dos quarenta anos de idade, consegui expor publicamente meus escritos, via internet, e qual não foi minha surpresa ao constatar que encontraria leitores que gostam de minhas palavras, leitores que se sentem bem ao ler meus textos, pessoas a quem ajudo de alguma forma, quando leem meus artigos. O retorno é tão positivo, que percebo o quanto eu era tolo guardando meus pensamentos dentro de mim, sendo que podem ajudar muita gente.

Após a morte da minha gata querida, fiquei deveras triste. Mas sempre aparecem os anjos na vida da gente e um deles me aconselhou a fazer algo que nunca fizera antes para ajudar a combater a tristeza. Comecei a gravar uns vídeos e não é que me estão fazendo um bem danado? Ousar requer reunião de força, disposição e, por isso mesmo, acaba aliviando o peso de tudo. Ultrapassar limites expande nossa essência e ela então começa a abrir espaço para o afeto e a esperança, enquanto vai tirando dali aquela tristeza que teimava em ficar.

Portanto, perca o medo do julgamento alheio, isso faz a gente ficar bem mais leve. Quando a gente faz o que tem vontade, sem ferir ninguém e de maneira ética, não tem como dar errado. E você vai ser julgado de qualquer jeito: se chorar ou se ficar forte; se disser não ou se falar amém pra tudo; se sair de camisa ou de camiseta. Vão te julgar de qualquer jeito. Faça o que tiver vontade, o que fizer o seu coração vibrar, sem pisar ninguém nesse percurso, e seja mais feliz.

Li que o medo rouba os nossos sonhos e é assim mesmo. E lembre-se: quem te ama de verdade jamais te julgará por estar vivendo o que você é, pois foi pelas suas verdades que as pessoas começaram a te amar. E é pelas suas verdades que elas te amarão para sempre.

Imagem de capa: ESB Professional/shutterstock

Gentileza gera gentileza… E bons relacionamentos.

Gentileza gera gentileza… E bons relacionamentos.

Quem nunca ouviu, leu, ou escreveu a assertiva “Gentileza gera gentileza”? Esse dito, com ares de profecia, ressalta a necessidade de manter vivo um comportamento que tem ficado cada vez mais diminuto, mas não menos necessário para que convivamos bem uns com os outros.

Um detalhe é que esta frase é mais comumente interpretada como sendo sobre comportamentos adotados na rua. E vez ou outra alguém pinta um muro ou pilastra com ela. Mas é preciso levá-la para casa. Praticar gentilezas em domicílio também faz parte desse apelo e é tão ou mais importante quanto fazê-lo na rua.

É mesmo uma verdade que ser gentil no trânsito, no comércio, no trabalho ou mesmo nas redes sociais é um desafio constante e por vezes exige o máximo do autocontrole de alguém. Não é tão fácil ser gentil, sobretudo quando não se recebe o mesmo tratamento.

Também não é fácil manter-se gentil no dia-a-dia de nossas casas. Por mais que gostemos das pessoas mais próximas, nem todo dia é um bom dia. Quando o cansaço se abate sobre nós; quando, ao retornar para casa, ao invés do descanso encontramos outros afazeres e problemas a resolver; quando o silêncio do quarto é quebrado pelo barulho nas casas vizinhas; quando o despertador nos acorda de um sono tranquilo e nos chama para um dia cheio de tarefas; quando as outras pessoas acham-se no direito de bisbilhotar nossos assuntos particulares…

É exatamente nesses momentos críticos que tendemos a descontar em quem aparece primeiro. Algumas das vítimas são as pessoas que mais amamos, numa controvérsia que gera muitos conflitos em nossas relações.

Torna-se um desafio perceber a refeição sobre a mesa e agradecer o esforço de quem se dedicou tanto para prepará-la; perceber que o outro não teve uma boa noite de sono ou um bom dia de trabalho e se dispor a algum pequeno gesto que possa melhorar esse quadro; molhar as plantinhas de alguém, refazer a cama; fazer um elogio; dizer palavras doces quando se está “cuspindo marimbondo”.

Quanta dificuldade temos encontrado em nos manter atentos a esses detalhes e fazer disso uma oportunidade de melhorar o dia de alguém!

Talvez o melhor seja encararmos as pequenas gentilezas como remédio para curar este mundo hostil; ao praticá-las estaremos fazendo dele um lugar mais acolhedor, e humano.

Alguém que tenha por hábito tratar bem os de casa, mais facilmente tratará bem os outros que cruzarem pelo seu dia, e quem foi bem tratado terá mais chances de fazer o mesmo, fazendo girar o maravilhoso círculo da convivência pacífica.

Gandhi ensinou que “a gentileza não diminui com o uso.Ela retorna multiplicada.” Portanto, não precisamos economizar! Podemos continuar cumprimentando os outros, abrindo portas, cedendo cadeiras, cuidando de animais e fazendo todo tipo de bondade que uma pessoa gentil é capaz de fazer.

A gentileza possui uma espécie de encantamento, que abre portas e faz os relacionamentos tornarem-se agradáveis e muito, muito mais duradouros.

Imagem de capa: Grassmemo/shutterstock

Muitas pessoas preferem manter as aparências a manter a palavra

Muitas pessoas preferem manter as aparências a manter a palavra

Podem até dizer que serão amigos a vida toda, que se amarão em qualquer situação, que é para sempre, mas poucos sobrevivem às turbulências, à ausência de conforto e de dinheiro. Porque o que se diz na bonança raramente se sustenta na tempestade.

Hoje, pouco se valoriza o que somos, como nos comportamos, nosso valores e princípios, nossas atitudes para com o próximo, mas sim o quanto consumimos. O que importa é o poder de compra de cada um, a despeito dos meios que se utilizam para a obtenção daquilo que se quer. Quanto mais moderno for o seu celular, quanto mais possante for o seu carro, quanto mais carimbado for seu passaporte, quanto mais grifes suas vestimentas ostentarem, mais gente você se torna perante a sociedade.

Nada mais tem durabilidade, nem objetos, nem sentimentos. Antigamente, as coisas eram feitas para durar, a afetividade contava muito, para além das aparências. Nossos pais se gabavam por possuírem, durante toda a vida, os presentes de casamento: as camas, os móveis, a louça, os talheres, o enxoval, tudo permanecia na casa por anos e anos. Geladeiras, fogões, televisões, armários, entre outros, faziam parte do patrimônio familiar, inclusive por mais de uma geração.

As pessoas costumavam mandar consertar o que quebrava, porque a qualidade dos produtos valia a pena – até mesmo o ferro de passar roupa era levado para reparos. Hoje, pelo contrário, não se conserta quase nada, joga-se fora e compra-se outro. Substituem-se utensílios, objetos, móveis, eletrodomésticos. Substituem-se casas, carros, terrenos, brinquedos. Substituem-se sonhos, afetos, sentimentos. Substituem-se pessoas.

Nesse contexto em que os bens materiais são supervalorizados, em detrimento do bem que cada um carrega dentro de si, cada vez mais as pessoas se apegam às aparências. O mundo virtual das redes sociais torna essa sistemática ainda mais forte, haja vista a necessidade de se postarem fotos de felicidade inconteste e check-ins em restaurantes badalados e em aeroportos internacionais. Com isso, a felicidade vai se tornando algo que somente se consegue quando se está rodeado de luxo e de conforto material.

Por essa razão é que tudo o que carregamos dentro de nós, nossas verdades e sonhos de vida, parecem não valer muito aos outros. Somos interessantes apenas enquanto oferecemos algo para que o outro possa desfrutar de alguma forma. A partir do momento em que nada pudermos oferecer além do que somos enquanto pessoa, deixamos de existir para a maioria dos indivíduos. Quem fica porque gosta de nossa presença é quem nos ama de verdade, porque o restante não mantém afeto, não mantém sentimento, não mantém palavra alguma.

Podem até dizer que serão amigos a vida toda, que se amarão em qualquer situação, que é para sempre, mas poucos sobrevivem às turbulências, à ausência de conforto e de dinheiro. Porque o que se diz na bonança raramente se sustenta na tempestade. Infelizmente.

Imagem de capa: Ivanko80/shutterstock

“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver”

“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver”

Ela acostumou-se a sonhar. Acostumou-se a buscar uma versão mais livre e mais coerente de si mesma nos sonhos. Descobriu que pode dar trégua para suas próprias batalhas, culpas e aflições quando adormece e mergulha em seus devaneios.

Não foi sempre assim. Seus sonhos já foram extensão de suas condenações, medos e inadequações. Mas hoje são um refúgio seguro, acolhida doce após um dia cansativo, descanso para a rigidez do espírito e gravidade da alma.

Todas as manhãs ela põe sua roupa de viver. Assume compromissos, resolve pendências, cumpre metas, encara desafios. Não se mete em confusões, não dá bandeira para o ex, é sensata nas postagens no Face e Instagram. Responde às mensagens do whatsapp com emojis escolhidos a dedo, manda áudios interessantes e tem sempre uma novidade na ponta da língua. Mas à noite… ah, à noite… ela se despe. Toma uma taça de vinho e remove cada uma de suas máscaras de viver. Não se cobra tanto, se permite sentir saudade, reconhece aquilo que lhe faz falta e o que lhe aquece a alma. Dá uma trégua para sua mania de perfeição, para sua incapacidade de dizer “não”, para seu desejo de ser aceita a qualquer custo. À noite ela descobre que pode ser amada pelo que é de fato, e não pelas máscaras que carrega.

Aos poucos ela tem aprendido a não deixar os sonhos na cama. Tem aprendido a conciliar rigidez com leveza, razão com emoção, proteção com vulnerabilidade e eficácia com perdão. Tem contrariado seus medos, dado uma rasteira em suas inseguranças, se despedido de sua mania de agradar a todos se desagradando. Sua roupa de viver já não pesa tanto, seu maior compromisso é consigo mesma.

Ela continua sendo mais livre nos sonhos, mas sabe que aos poucos irá assumir mais doçura que culpa e mais encantamento que amargura. Tem dado risada de seus tombos e não se culpa quando a mensagem do whatsapp é visualizada e não respondida. Já não espera reciprocidade de todo mundo, e nem por isso se entristece. Tem mandado algumas pessoas “praquele lugar” e deletado alguns papéis que não quer mais representar.

Ela sabe de seu valor, de suas lutas e vitórias, e isso lhe assegura que não precisa provar nada pra ninguém. Quem tiver a chance de conhece-la de verdade irá saber que ela tem suas dificuldades, estranhamentos e manias, mas que, acima de tudo, ela não desiste de ser feliz…

*O título deste artigo alude a uma citação de Clarice Lispector.

Imagem de capa: Leszek Glasner/Shutterstock

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