Fomos feitos para durar.

Fomos feitos para durar.

“Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que eu escolhi me tornar.” (Jung)

Sim, ainda que ninguém nos tenha avisado, a vida não é fácil, não – já dizia Guimarães Rosa, “viver é perigoso”. Teremos, pela frente, muitos daqueles dias em que desejaríamos não ter saído da cama, em que não conteremos as lágrimas, a indignação, as decepções, a dor da impotência frente a acontecimentos sobre os quais nada poderemos fazer.

Será extremamente penoso, por isso, mantermos conosco a força necessária ao enfrentamento lúcido dos problemas que se avolumarão ao longo de nossa jornada. Tenderemos sempre a desistir, a sucumbir à escuridão que intranquiliza nossas esperanças, uma vez que a tristeza lutará o tempo todo contra a luz dos sonhos que moram aqui dentro da gente.

O ser humano possui a capacidade de refletir e de planejar o futuro, ao contrário dos animais. E essa característica inevitavelmente nos enche os planos de expectativas em relação às pessoas e aos acontecimentos que nos dizem respeito. Como desconhecemos o outro em tudo o que ele é, tampouco possuímos algum controle sobre os fatos que incidem sobre nossas vidas, muito do planejamos não vinga. E dá-lhe frustração.

Dentre os reveses que pontuarão o nosso caminho, os mais doloridos ocorrerão por conta de decepções que teremos com aqueles que mais amamos. As pessoas com quem compartilhamos nossas verdades, afinal, serão mais capazes de jogar o tanto que nos conhecem contra nós mesmos, fragilizando-nos com intensidade desmedida. Na verdade, as pessoas nos desapontarão muito mais do que os acontecimentos em si.

Em certos momentos de nossas vidas, seremos alvo de maledicências, de inveja, de comentários maldosos, de atitudes mesquinhas, de invasão de privacidade, de traição, seja do parceiro, do amigo, do colega de trabalho, seja por atos ou por palavras. Inevitável, visto que a inveja permeia a tônica da vida em sociedade, em razão do mundo de aparências em que vivemos, no qual as posses materiais determinam o nosso valor de consideração por parte da sociedade e do governo.

O que importa, em meio a isso tudo, é vivermos nossas próprias verdades, com clareza e convicção daquilo em que acreditamos, pois tudo o que nos move e nos sustenta, caso seja pautado por amor e sinceridade, acabará nos protegendo de todo e qualquer mal que lancem em nossa direção. Viver o que a alma pede sempre será a melhor maneira de nos protegermos dos reveses, das pessoas e de nós próprios.

Quem nos conhece de verdade, nossas forças e nossas fraquezas, jamais acreditará nas mentiras em que tentarão nos envolver. Quem nos ama de verdade é que nos bastará, para que caminhemos em busca de nossos sonhos, a despeito de qualquer força contrária que teremos pela frente, a despeito de toda dor que escurecerá nossa jornada. Porque a luz do amor é mais forte do que qualquer sombra de tristeza e sustentará incansavelmente a esperança de nossos passos. Isso não se nega.

Imagem de capa: RobinE/shutterstock

Siga em busca da sua felicidade e não se preocupe com a opinião dos outros!

Siga em busca da sua felicidade e não se preocupe com a opinião dos outros!

Se vivermos com simplicidade, aprendemos a viver a  vida com intensidade, sem nos  preocuparmos com a opinião dos outros.

É chegado o tempo de termos um relacionamento pessoal com nós mesmos. De nos colocarmos em frente ao espelho e bater um papo sério. É tempo de cada um valorizar a sua vida pessoal, não a de fulano ou de beltrano. É tempo de parar de viver em função dos outros, e passar a viver com intensidade a vida pessoal de cada um de nós, porque aquilo que nos falta, não poderá ser suprido no outro ou na outra. Cada um tem o seu próprio mundo cheio de alegrias ou decepções, por isso devemos nos preocupar com os nossos próprios males.

Nos dias de hoje, com o advento das redes sociais, é muito comum vermos algumas postagens sendo usadas como se fossem da própria pessoa, embora muitos conheçam o seu autor/criador. Diante disso, começam os comentários, sejam eles de elogios ou críticas.  E tudo isso porque as pessoas se preocupam mais com a vida das outras do que com a própria vida. Mas não se trata de um simples desejo de usurpação, trata-se de um ato de negação de si mesmo, porque muitos querem tanto viver a vida de outra pessoa, que acabam deixando de viver a sua própria vida, limitando-se assim, a uma mesquinhez espiritual e pessoal.

Algumas pessoas têm o terrível hábito de se preocuparem mais com a vida alheia, do que com a própria vida. Isso é latente, mas tão forte, que parecem ter o desejo de gritarem de forma audível: “Eu queria ter a sua vida.” É verdade! Como no filme que tem como título essa frase, onde um advogado e pai de família e um solteirão sem rotina definida, numa noite, se entregam à bebedeira e acabam acordando com os corpos trocados. Daí o que acontece é uma enorme confusão.

Esse assunto é meio complexo, e daria na realidade um filme dramático. Essa atitude que leva a pessoa a se preocupar com o que a outra esteja vestindo, se está ou não fora do peso, se o cabelo está cheio de pontas, etc, etc e etc. mostra apenas uma fraqueza de caráter, que faz com que essas pessoas sejam infelizes e mais frustradas do que livres. Porque enquanto fazem disso uma expectativa de vida, estão colocando uma barreira mental na sua própria evolução. Nesse caso, o que faz bem, é não dá muito valor às opiniões alheias, simplesmente porque não dá para viver uma vida intensamente vivida, se ficamos o tempo todo focados naquilo que fulano ou beltrano está fazendo ou tramando.

Nós temos um olho que tudo vê. A nossa própria consciência. Só que esse olho, nada vê da vida dos outros, ele é interno. Ele nos informa sobre tudo aquilo que é reprovável ou aceitável dentro da nossa sociedade e na nossa vida. Então devemos acreditar que nossos comportamentos estão comprometidos com o nosso modo de viver, e não de outras pessoas. Então quando tomamos um remédio, estamos providenciando a nossa própria cura, é a nossa vida que está em jogo. Bem, de qualquer forma, quanto mais nos interagimos com as pessoas que se preocupam mais com a vida alheia, descobrimos que é apenas porque elas não têm o suficiente para preencher o vazio da sua própria vida.

Então vamos aprender a nos preocupar apenas com nossa vida e seguirmos em busca da nossa própria felicidade.

E que cada um, siga fazendo o mesmo…

Imagem de capa: Yuganov Konstantin/shutterstock

“Menina não pode brincar disso, menino tem que jogar aquilo”: a poda e encaixotamento de pessoas que ainda hoje vivemos

“Menina não pode brincar disso, menino tem que jogar aquilo”: a poda e encaixotamento de pessoas que ainda hoje vivemos

Uma das lembranças mais antigas que tenho é a de brincar com meu primeiro amigo, com meus 4, 5 anos, no pátio com os carrinhos dele.

Lembro-me do dia em que as professoras não aguentaram mais e me vieram com a “proposta” de ir brincar com as outras meninas. Fui, mas fui chateada. As brincadeiras das meninas eram sem graça! Eu queria mesmo era brincar com os carrinhos do meu amigo. Que droga!

Outra cena interessante. Nessa época eu já tinha 8 ou 9 anos de idade: estou eu, a única (ou uma das únicas) menina que jogava futsal com os guris da minha sala preparada para bater o pênalti. Mateus no gol. Momento de tensão. Bati! […]

GOL!

Todos os garotos correm para dar tapas na cabeça de Mateus, gritando que ele “levou gol de mulher”. Fica Mateus humilhado e Mísia confusa, sem entender porque seria humilhante levar um gol de uma menina.

E são a angústia e confusão que tomam conta das crianças que não se encaixam exatamente nas regras que lhes são impostas com relação a gênero mesmo.

Menina não pode brincar disso, menino tem que jogar aquilo. Os garotos precisam se vestir assim, garotas não podem se vestir assado. Homem ter que ser DESTE jeito, mulher ter que ser DAQUELE. Uma ditadura que só serve para podar e encaixotar pessoas, personalidades, subjetividades. Algo que nunca fez sentido. Hoje com tanta informação, faz menos ainda.

É óbvio, tal discussão engloba milhares de subtópicos como o machismo, relações de poder, as dicotomias (oposições) da sociedade atual, os conceitos que temos de masculino e feminino e por aí vai, mas o ponto aqui é: precisamos conversar mais sobre gênero em nossas salas de aula.

Isso não é ideologia. Isso é informação, isso é conteúdo, isso é educação, isso é, por mais que você não perceba, promoção de saúde. Saúde para mais Mísias que não precisam necessariamente serem Barbies 24h por dia, para Mateus que não são homens fortes, viris e invencíveis (nem precisam ser) o tempo todo e tantos outros, fulanos e cicranas que estão hoje em sofrimento simplesmente porque fogem um pouco ou muito à regra.

Ideologia é, na verdade, o que nos leva a proferir discursos de ódio contra quem pede por mais destas discussões na escola, é que nos leva a ser ignorantes o suficiente para pensar que é desnecessário abordar o assunto no meio educacional.

Os exemplos aqui dados são mínimos, mas a realidade nem sempre é “piedosa” o bastante. Às vezes, o diferente, o desviante, leva muito mais que só tapinhas na cabeça, e é justamente aí onde temos errado. Vale a pena continuar a excluir, a marginalizar tudo e todos que fogem as “leis” por nós impostas?

Imagem de capa: PAKULA PIOTR/shutterstock

Eu sou um maluco beleza.

Eu sou um maluco beleza.

Eu sou um maluco beleza. Não nasci com o dom de mentir e de enganar. Tampouco estou a fim de ser igual. Não quero ser mais um ou me enquadrar, seja lá o que isso quer dizer. Não preciso de uma cartilha que me diga o que fazer. Ah! Não quero ser o gabarito do mundo. Não sou o gabarito do mundo. Você é?

Eu sou um maluco beleza. Não gosto de fingimentos nem de relações por interesse. Tampouco ser ignorado ou tratado como um saco de batatas. Não tenho preço, por favor, não insistam. Não acumulo coisas. Acumulo amores. E não adianta me dizer que isso não existe. Nessa questão, sou ortodoxo.

Eu sou um maluco beleza. Não concordo com a professora, que me obrigava a começar um desenho pelo chão. Ela dizia que não existem pessoas voando. Eu pensava, como não? Eu sempre voo nos meus pensamentos. Sei lá, prefiro continuar voando, pelo menos no meu mundo posso ser quem sou, sem condenações.

Eu sou um maluco beleza. Sempre ando escorregando e me arrependendo. Acho isso bom, pois consigo me rever e aprender com meus erros, afinal não sou perfeito e sempre tenho algo novo a aprender, sobretudo sobre mim. Gosto de ter as minhas próprias ideias. Não que eu saiba de tudo, já disse. Mas por que pensar exatamente como outra pessoa, se eu tenho uma cabeça que pode pensar por mim mesmo?

Eu sou um maluco beleza. As pessoas não me entendem, então me julgam louco. Sinto-me feliz em saber que elas não são tão cegas. Sou um louco e amo a minha loucura criativa, pois sei que, com ela, consigo risos e torno as cabecinhas mais pensantes.

Eu sou um maluco beleza. Às vezes, sonho acordado, imagino-me no meio de uma multidão. Não me vejo como um sábio, mas como alguém que pode ajudar os sonhos dos outros de alguma forma e que possa, assim, tornar-se muito mais rico. Só quero fazer o que faço de melhor e deixar minha marca no mundo.

Eu sou um maluco beleza. Uma cabeça que pensa tanto, que, na maioria das vezes, não consegue parar. Por isso me canso. Talvez falte alguém com vontade para me entender e mergulhar na minha loucura.

Eu sou um maluco beleza. Não me importo com o que acham, embora passe a maior parte de tempo me sentindo sozinho. Não consigo sorrir o tempo inteiro. Algumas vezes só choro. Sinto os meus sonhos tão distantes. Por que as coisas não podem ser mais fáceis? Poderia não sonhar e então não choraria. Mas eu choro. E você?

Eu sou um maluco beleza. Não quero passar a vida só fazendo contas. Encontrando uma razão para tudo. Tentando ser normal. Quero pode sentir o vento e saber que estou vivo. Quero ser importante. Quero ter a raridade de viver. Quero amar sem avareza. Quero poder desenhar sem o chão. Sei que, se fizer isso, a voz da professora dirá que não existem pessoas voando, mas eu direi que existe um maluquinho que voa. Ela me dirá que não consegue fazer esses desenhos. Então, eu direi que consigo. Você consegue?

Imagem de capa: Reprodução

As vantagens de ser invisível

As vantagens de ser invisível

O filme “As vantagens de ser invisível”, baseado em livro homônimo de Stephen Chbosky (em inglês “The perks of being a wallflower”), narra as pequenas (porém grandes) batalhas diárias de um adolescente que ao sentir-se invisível, deseja inclusão. A maneira leve como temas importantes são abordados é cativante, apesar de aparentemente tratarem-se de problemas simples enfrentados na adolescência, como fazer novos amigos, pertencer à um grupo e até um primeiro amor, o filme aborda ainda temas mais complexos, como traição, preconceito, morte, abuso sexual e distúrbios mentais.

Talvez as mensagens mais importantes do filme venham de um sentimento de “não pertencimento” e dos questionamentos feitos pelo protagonista, Charlie, enquanto observa quanto esforço é feito por muitos nessa ânsia de “pertencer”. O menino, que se sente invisível e excluído, encontra refúgio emocional em um grupo de amigos igualmente deslocados.

Charlie, em sua maneira “deslocada” de olhar a vida encontra dificuldade em entender porque pessoas tão especiais escolhem amores tão fragmentados. Ele não compreende, por exemplo, o que sua melhor amiga Sam (por quem ele se apaixona) vê no namorado, um cara que a trata tão mal. A própria Sam se faz o mesmo questionamento: “Por que eu, e todos quem eu amo, escolhem pessoas que as tratam como se fossem nada?”.

contioutra.com - As vantagens de ser invisível

O menino resolve então perguntar ao seu professor de literatura, a resposta que ele lhe dá é certeira, ainda que complexa na prática:

“Charlie, nós aceitamos o amor que achamos que merecemos.”

A beleza do filme está justamente na maneira invisível como Charlie caminha perante a vida, em simples entendimentos do óbvio que, na atualidade, tornou-se não-óbvio, como a lógica da matemática do amar e ser amado, que parece ter transformado-se em uma equação de subtração e não de adição.

O filme aborda, ainda que sutilmente, um tema que é fundamental para todo e qualquer ser: a necessidade de pertencimento. Pertencer é uma necessidade básica de todos e por trás de nossas escolhas e ações existe uma busca em sermos aceitos e reconhecidos, uma busca por inclusão. E talvez também, a maioria das brigas e desavenças da humanidade surjam quando não nos sentimos incluídos, ouvidos, contemplados. Pois até na revolta ou no isolamento existe uma vontade, mesmo que escondida, de pertencimento.

E assim um dos maiores desafios do ser humano, enquanto ser único e irrepetível, está justamente em encontrar esse equilíbrio entre pertencer, sem perder sua essência, sem perder-se. Porque a beleza existe na autenticidade e nas diferenças e não na mesmice. Portanto, algumas perguntas, não feitas pelos personagens, também surgiram através da leitura do filme:

Por que é preciso perder-se para poder pertencer?

Por que precisamos deixar adormecidas, camufladas, mascaradas partes tão essenciais de quem somos para tornarmos visíveis ao olhar do outro? Quantos amores fragmentados devemos aceitar para sermos amados?

Qual é o limite da barganha?

As perguntas ficam sem respostas, porque as respostas, como sabemos, são muito diferentes e pessoais. Mas, é bom lembrar, como diz o título do filme, em algumas circunstâncias, ser invisível pode sim ter muitas vantagens.

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A cegueira de Saramago

A cegueira de Saramago

E se nós todos fôssemos cegos? Esse foi o questionamento que levou José Saramago a escrever o seu livro de maior sucesso – “Ensaio sobre a cegueira” -, em que trabalha, sob uma perspectiva filosófica e sociológica, problemas da vida moderna, a partir da metáfora da cegueira.

Para o escritor português, a resposta à pergunta veio rapidamente, pois, em verdade, já estamos cegos; cegos da razão, já que, embora dotados de inteligência, não a usamos para instruir nossas vidas.

A cegueira é apresentada, na obra, como uma doença não diagnosticável chamada de “cegueira branca”, a qual se alastra com imensa velocidade. Assim, pouco a pouco, todos vão ficando cegos, com uma única exceção: uma mulher (mulher do médico). Antes da generalização da cegueira, os primeiros a se cegarem são isolados numa espécie de quarentena, demonstrando, desde já, a cegueira que todos já se encontravam, pois o isolamento era a atitude mais fácil a ser tomada, como se aquelas pessoas fossem frutos podres que deveriam ser exterminados para o bem da árvore.

Na quarentena, eles são tratados como animais e, rapidamente, assim se tornam. Parece-me que, em situações extremas, escassas, os homens são tomados por atitudes primitivas e animalescas. A escassez leva à disputa por espaço, comida, privilégios e poder. O instinto de sobrevivência parece sobrepor-se à razão, pois

 “[…] quando a aflição aperta, quando o corpo se nos demanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos”.

Embora, naquela condição horrível em que se encontravam, não residiam sentimentos de redenção, como o coletivismo e amizade (raras exceções), mas antes, o egoísmo; primeiro, daqueles (Estado) que isolaram os cegos e os tratavam como animais; e depois, dos próprios cegos que, ainda que na mesma situação, não possuíam a menor empatia. O egoísmo faz com que a situação torne-se ainda pior e evidencia o quão forte é essa característica, a qual nos parece intrínseca e permanente como uma pele, como se

 “[…] ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra.”

Conforme o tempo passa, a cegueira se alastra e o caos aumenta. A animalidade torna-se mais aflorada e, como se estivessem no estado de natureza de Hobbes, movidos pelo conatus, pelas suas paixões egoístas, cada um busca a sua sobrevivência, sem preocupar-se com o outro.

Nessa cegueira generalizada, apenas uma mulher mantém a visão, e, por ver, sofre duplamente. Como a única que continuou a enxergar, vivenciou a cegueira que as pessoas se encontravam, mas não somente a física, como também aquela manifestada por Saramago. Ela vivencia a falta de visão que as pessoas têm em relação à realidade, à falta de sensibilidade, de enxergar o problema do outro como um que poderia ser seu, essa incapacidade constante que o homem tem de colocar-se no lugar do outro, ou, como prefere Erich Fromm, a incapacidade de amar.

 “É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.”

“A mulher do médico” vivencia a miséria humana, o que somos capazes de fazer para manter a nossa potência, o quanto egoístas somos e o quão difícil é demonstrar o mínimo de compaixão, isto é, sentir a dor com o outro. Essa realidade demonstrada não difere muito da que os personagens viviam antes de cegar, assim como não difere da nossa realidade, uma vez que já vivemos em um mundo de conflitos, egoísmo, medo e isolamento. Não é preciso cegar para entender que lutamos por espaço e poder; que lutamos pela sobrevivência na selva de pedra; que nos tornamos descartáveis.

As únicas coias que importam são as que abastecem o nosso ego. Dificilmente nos preocupamos com o bem coletivo ou se alguém será prejudico por nossas atitudes. De fato, Saramago está certo, todos já estamos cegos. Não foi a cegueira que transformou os homens em animais, eles já eram animais, já viviam em conflito, apenas não viam.

Mas, se estes não viam, havia uma que, podendo olhar, via e, vendo, reparava e, por isso, também sofria, pois entendia que possuía a responsabilidade de ter olhos, quando os outros os perderam; de contribuir para, no mínimo, acalentar os que não veem, tentando mostrar-lhes o caminho e lhes abrir os olhos. A mulher do médico representa a esperança, diante de um mundo cada vez mais burocrático e chato; egoísta e mesquinho.

Isolados nas nossas bolhas, não conseguimos olhar para o lado e, contraditoriamente, em plena era da informação, cada vez menos nos comunicamos; e, quando digo comunicar, não me refiro a dizer palavras lançadas ao vento, mas partilhar algo, tornar comum, afetar o outro e ser afetado.

A reflexão que Saramago nos propõe é desafiadora, pois nos faz questionar o que somos, qual a essência da nossa natureza e qual a responsabilidade de ter olhos, quando os outros os perderam. A metáfora da cegueira branca encaixa-se perfeitamente com a vida moderna (ou pós-moderna), em que não conseguimos enxergar a sociedade doente que nos circunda; a sua fragilidade; a nossa fragilidade; e que, embora tenhamos, hoje, condições de melhorar a vida, esta parece perder o valor.

Para aqueles que ainda não sucumbiram e conseguem pensar fora da caixinha, a de se considerar que precisamos refletir sobre o modus vivendus contemporâneo, sobre o que nos tornamos, sobre o que somos, e entender a responsabilidade de ter olhos, quando os outros os perderam. Pois,

 “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

Imagem de capa: Reprodução

Há pessoas que se amam de verdade, mas não estão juntas

Há pessoas que se amam de verdade, mas não estão juntas

Quando nos lançamos ao encontro do outro, teremos que trazer para dentro de nossas vidas tudo o que ele traz, tanto aquilo que nos satisfaz, quanto o que nos desagrada. Não existe nada que o passar do tempo não desmascara, não traz à tona, não torna claro, mesmo que à nossa revelia. Da mesma forma, estamos sujeitos a mudar de opiniões, a mudarmos nosso comportamento, pois assim é a vida. E, nesse contexto, não raro mudamos de forma a desagradar quem estava acostumado com o antigo eu.

A convivência diária acaba nos obrigando a enfrentar tudo o que somos, o nosso melhor e o nosso pior, uma vez que existem pessoas ali bem perto, que recebem imediatamente os reflexos de nossas atitudes. Porque, quando compomos uma família, já não podemos agir, sem que isso se estenda ao cônjuge e aos filhos, cujas vidas se ligam às nossas com proximidade e carga emocional intensa.

Caso não prestemos atenção aos anseios e necessidades de quem  caminha ao nosso lado, por conta da priorização exclusiva do que queremos, sem levar em conta as vidas que nos rodeiam, dormem e acordam ao nosso lado, iremos nos distanciar cada vez mais de nossa família, de corpo e alma. O amor é troca, é ida com volta, é dar e receber, ou seja, não permanecerá onde não encontre contrapartida sincera, retorno de olhares, de toques, de sonhos.

Por isso é que muitas pessoas se separam, mesmo que ainda se amem. Não deixaram de se amar, mas pararam de prestar atenção nos olhos de quem torcia ali bem juntinho, cessaram o apertar das mãos que se tateavam em vão por entre a escuridão dos lençóis frios, deixaram de construir aqueles sonhos bobos, mas essenciais à continuidade dos passos harmoniosos, dos desejos em comunhão. E assim se perderam de si mesmo e do outro.

Portanto, é necessário que sejamos mais fortes do que a dureza desarmônica do dia-a-dia e do cotidiano maçante, que muitas vezes assolam nossos sentidos, desconstruindo nossos sonhos e nos desviando de nossa busca pela felicidade junto de alguém, inclusive de alguém que já está ali do nosso lado, pronto para lutar junto, sonhar junto, crescer junto. Triste não podermos caminhar de mãos dadas com quem amamos, mas ainda mais desolador é ver o amor de nossas vidas se afastando por conta de tudo o que deixamos de fazer.

Imagem de capa: nd3000/shutterstock

Amar é catarse

Amar é catarse

Relacionamento bom é aquele que tem vida. E vida é sinônimo de movimento.

Tem gente que acha que um bom namoro, casamento ou mesmo amizade é aquela onde existem acordos bem definidos, deveres e direitos estabelecidos, leis muito claras, pessoas sujeitas a punições e recompensas caso ajam fora ou dentro dos moldes cirúrgicos do amor ou da amizade.

Eu fico pasma, mas ainda existe gente que acredita em pintar o amor com as cores da perfeição, colocar no dia a dia o ser idealizado e viver frustrado para sempre ao ver o outro quase nunca sendo capaz de cumprir esse papel.

Para mim relacionamento bom é cíclico, é espaço para amor e descobertas, companheirismo e crescimento, troca e, por vezes, individualidade. É movimento, é caos e calmaria. Tudo no mesmo território. É ficar bem pertinho do lado humano do outro a ponto de deixar aflorar fadas e monstros. A ponto de querer a plenitude do ser e ver beleza nisso. A ponto de se deixar ser livre, a si mesmo acima de tudo. Livre para falar, para expressar, para agir, para ser e sentir tudo o que surgir.

Relacionamento bom pra mim tem jeito de choros e risos, taças vazias de vinho, comidas malucas feitas à quatro mãos, tardes de domingo de conversas e consolos, segundas-feiras descabeladas, desencontros, reencontros, olhos nos olhos do começo ao fim.

Mais importante do que querer colocar todos os pingos nos ‘is’ e ter controle de tudo (ou pensar que se tem!) é dar um abraço ou um espaço para que sentimentos respirem e fluam pelos ares da casa. É ceder um ouvido, uma fala de alívio, não uma verdade, não uma sentença, não uma vingança, apenas um silêncio e um respeito com a incansável maré da vida que ora nos explode de emoções e ora nos deixa amáveis e amando feito noite de primavera.

Porque eu acho que amor sem espontaneidade é como dormir de sutiã. E paixão sem possibilidade de expressão é como um furacão de flores guardado debaixo do tapete. E amizade regrada é a mesma coisa que ficar na fila do banco esperando para pagar o cartão de crédito vencido.

Não são os defeitos, as divergências, os problemas que mais destroem relacionamentos, é o tédio! A chatice conjugal. A falta de habilidade e criatividade para recolorir os dias, é o comodismo nos atos mecânicos. O esquecimento de que a vida pode ser mais interessante, curiosa, dinâmica e verdadeira.

Então, eu espero que os nossos relacionamentos sejam chuvosos, montanhosos, ensolarados, dinâmicos, transbordantes e sorridentes. Samba de Cartola com Dorival Caymmi.

Amar é Catarse!

E assim, alguém poderá dizer que eles foram felizes, tristes, loucos, sãos, confusos, coerentes, espontâneos, mutantes e vivos até que uma morte os separe.

Imagem de capa: Leszek Glasner

Ela quer parceria, cara

Ela quer parceria, cara

Cara, não sei em quantos amores você já investiu alguma coisa mas, vamos ser honestos, se você não chegar na vida dela para somar e entregar uma parceria que tire os pés dela do chão, melhor ir correr atrás de outro coração.

Entenda, ela não quer um amor que só faça mimos e preencha os seus dias de cuidado. Ela quer uma parceria que respeite e fique feliz com os planos dela. Que não faça jogos e chantagens emocionais pelo prazer de estar certo. Isso tudo é pouco e ela está cansada de saber como funciona. Reciprocidade é uma disposição que você deve proporcionar em todos os dias ao lado dela. Não é só quando você quer, não. Não adianta vir depois com desculpas e promessas de instantes melhores. Um amor assim não enche barriga, viu?

Ela espera, melhor, ela merece que você tenha paciência, ternura e tesão por fazer parte da sua vida. E não, ela não é louca. Louco é você que finge não se importar. Que prefere apontar defeitos em vez de admirar as qualidades dela. Ela tem nome, bagagem e muitos sentimentos para compartilhar. Se não te interessa, se é difícil para você escutar e aprender com tudo que ela já passou, siga em frente. Não a prenda nos teus egos. Ela é livre, cara. A única diferença é que, depois de um tempo, ela permitiu que você fizesse parte da liberdade dela. É aí que mora o significado do amor.

Se ela quisesse um amor faz de conta tinha encomendado, passava o cartão, parcelava em várias vezes ou simplesmente pediria indicação para as amigas. Ela não quer o cara perfeito, entende? É parceria. Tudo se resume a parceria. É segurar nas mãos dela, apoiá-la nos seus sonhos e fazer todo o possível para que ela saiba, diariamente, que não está sozinha. Que você quer vê-la feliz antes de qualquer desejo passageiro que tenha.

Cara, me diz que você está entendendo. Te garanto que não é em um aplicativo e nem na casualidade da vida que você encontrará uma como ela. Se ela já sorriu para você com o olhar, acredite, é amor o que ela disse. E se ela disse, ela sente. E se ela sente, cara, que sorte a sua.

Imagem de capa: Pinterest

7 informações vitais sobre o que fazer se você conhece alguém que tem depressão

7 informações vitais sobre o que fazer se você conhece alguém que tem depressão

Dedico esse texto ao meu colega de profissão Diego Calori, que com sua palestra sobre o tema depressão da última semana, me fez refletir sobre dezenas de exemplos vividos durante meus anos de atendimento clínico. 

Vamos lá: 

Primeiro passo para quem quer ajudar: leia esse artigo com atenção.

A depressão é uma doença séria e que vem aumentando ano após ano em praticamente todo o mundo. A lógica do aumento prova que nós não estamos sabendo como lidar com ela e que nossas atitude em relação a doença também não tem sido as mais acertadas.

É muito importante deixar claro que, para qualquer caso de depressão, quanto mais rápido a pessoa iniciar o tratamento, melhor serão as perspectivas de melhora e menos graves se tornarão os casos ao longo do tempo.

Informação, aceitação, consciencialização e diminuição do preconceito são fundamentais para o processo de melhora individual e da sociedade como um todo.

Abaixo listo 5 erros comuns quanto falamos com uma pessoa que tem depressão e, em seguida, qual seria uma sugestão de postura mais acertada a ser tomada.

 

1- Não ouvir o que o outro tem para dizer:

 

ERRO: As pessoas têm muita dificuldade em ouvir o que o outro fala. Muitas vezes nós até pensamos que estamos ouvindo nossos amigos e colegas, mas, na verdade estamos apenas esperando uma chance de falar sobre nós mesmos. Ouvir verdadeiramente significa permitir que o outro diga o que pensa e o que sente antes que tentemos oferecer soluções, comparações ou exemplos de nós mesmos. Ouvir ao outro é deixar ele ser ele mesmo, com tudo de bom ou ruim que ele estiver sentindo naquele momento.

O QUE FAZER: Manter-se em silêncio, em escuta atenta e gentil, é uma das grandes demonstrações de afeto que podemos oferecem às pessoas que amamos. É preciso treino para calar, é preciso humildade para não oferecer ao outro soluções imediatas que, muitas vezes, não servem nem para nós mesmos. Quando ouvimos atentamente, nós permitimos que todo um pensamento seja construído e, só assim, tanto a pessoa que fala quanto aquela que escuta poderá formular uma ideia que depois será melhor explorada. Ouvir, ainda, mostra para pessoa que nós “aguentamos” a sua dor, que nós a “respeitamos” mesmo nesse lado não tão bonito. Ouvir mostra que entendemos que ela não tem que ser forte e nem perfeita o tempo todo. Ouvir é estar lá para e com a pessoa antes de qualquer julgamento ou ação.

2- Julgar, tentar mensurar ou mesmo invalidar a sua dor.

 

ERRO: Existe uma tendência, frente a qualquer problema apresentado, a compará-lo com nossos próprios problemas ou com outras questões da humanidade que, na teoria, seriam mais graves. O erro se encontra em presumir que você pode julgar a dor do outro ou mesmo que, por já ter passado por uma situação pareceria, você tem todas as respostas que essa pessoa precisa.

Outro problema relacionado a depressão é que, muitas vezes, a pessoa nem sabe ao certo o que a está incomodando. Frases como “Vocês não tem do que reclamar”, “Veja a situação de fulano que é muito pior que a sua”, “No dia em que você tiver um problema de verdade, aí sim terá motivos para reclamar”, além de pouco empáticas, são cruéis e desrespeitosas com a dor do outro. Afinal, se você não autoriza a pessoa a sentir, como acha que poderá ajudá-la a melhorar? Com julgamentos como os exemplificados acima, a única coisa que conseguimos é criar constrangimento e pessoas que tentam esconder o seu adoecimento porque sabem que não serão entendidas. Ajudar nunca será fazer uma pessoa sentir vergonha por estar doente.

O QUE FAZER: Reconheça o sofrimento do outro sem compará-lo ou desvalorizá-lo, mesmo que coisas assim passem pela sua cabeça! Quem quer ajudar deve entender que falar das “crianças que passam fome na África” não diz nada para essa pessoa nesse momento. A pessoa adoecida não consegue perceber essas comparações.

Explico:  Pense, por exemplo, em uma pessoa que tem um dedo cortado em um acidente. É necessário que ela seja socorrida e não importa se outra pessoa teve a perna cortada. O dedo, naquele momento, terá que ser tratado, serão necessários pontos, ela viverá um luto pela perda. É o seu dedo e somente ele que importa naquele momento.

É preciso que você saiba que, quando a pessoa está adoecida, ela possui muita dificuldade em ver as coisas de maneira mais global. A pessoa fica mais lentificada e mais voltada para si mesma. Ela tem dificuldade de ver ao outro e TUDO ISSO FAZ PARTE DA DOENÇA e não tem nenhuma relação com egoísmo. Dar um “choque de realidade”, como muitos gostam de chamar, terá muito mais chance de ser uma agressão do que trazer qualquer benefício a médio e longo prazo. Normalmente, esse tipo de postura só gera culpa e sentimento de inadequação na pessoa adoecida.

3- Culpar a pessoa pela sua própria dor. 

Erro- procurar culpados. Depois que um problema está instalado, no momento do adoecimento, não é a hora de condenar a pessoa pelo que teriam sido “más escolhas”. Tenha certeza que, se existiram más escolhas, a própria pessoa estará se culpando e o julgamento não caberá a você. Um exemplo importante para ser dado e que merece muito cuidado é não misturar adoecimento com fé. Pessoas que têm fé e amam a Deus também têm depressão! Nunca digam que uma pessoa está doente porque se afastou da igreja. Isso só gera perseguição e, mais uma vez, culpa.

O que Fazer- Ouça, não julgue, esteja presente. Se existe algo que a pessoa gostava de fazer e não está fazendo, mesmo que ligado a religião como no exemplo acima, você pode fazer convites para pequenas ações, mas tudo de forma gradual. Lembre-se que a pessoa que está adoecida não está sentindo a vida da mesma forma que sentia antes, logo, ela precisa de estímulos, mas pode “espanar” se você insistir demais.

4- Competir com a sua dor

 

Erro: Achar que você tem que dar os seus próprios exemplos. Achar que os seus exemplos são mais graves. Medir força pela sua desgraça ou pela desgraça de outras pessoas. Exemplo: Se a pessoa perdeu um filho de 10 anos, você não tem que dizer que sua vizinha perdeu dois filhos com 3 e 5 anos. Isso não ajuda ninguém nesse momento.

O que Fazer: Se falamos da necessidade de ouvir, de não julgar e nem de competir, o que resta é estar verdadeiramente disponível para a pessoa. Muitas vezes aquele que mais ajuda não é aquele que fala e sim aquele que está presente, e que oferece um café, que disponibiliza um sorriso e, principalmente, que sabe que nas relações verdadeiras existem momentos em que uma das partes estará mais fragilizada do que a outra e, nessa hora, saberá que será o seu momento de doação. Isso é amor.

5- Achar que, pelo fato da pessoa estar bem em um dia, isso significa que ela dissimula os outros dias em que não está bem.

 

Erro: Erramos pelo excesso de julgamentos, mas também erramos pelo excesso de expectativas e falta de conhecimento. Saber mais sobre a doença e sobre como ela funciona, como você está fazendo agora ao ler esse texto, permite que você reaja melhor frente aos momentos de melhora e recaídas de quem está em tratamento.  A informação sempre será uma arma a seu favor e a favor da pessoa adoecida. O desconhecimento dá margem para atrocidades.  Lembro-me de um exemplo de uma paciente que eu acompanhava em um serviço de saúde e que estava afastada do trabalho por síndrome do pânico. Certo dia, em um momento de melhora, a jovem foi ao shopping com algumas amigas e colocou uma foto nas redes sociais. Isso era ótimo! Ela saiu e se divertiu por algumas horas. Essa foto, entretanto, foi usada pela empresa em um processo para dizer que a jovem estava simulando o adoecimento. Com isso tudo o que conseguiram foi uma cronificação ainda maior do caso onde a jovem passou a ter medo de demonstrar qualquer alegria em ambientes públicos, pois poderia ser julgada como mentirosa e punida. A ansiedade aumentou e o quadro piorou. Esse é um exemplo de como a desinformação sobre a doença (da empresa e dos advogados, nesse caso) gerou prejuízos pessoais e sociais. Agora, antes de perguntar para uma pessoa que está afastada por adoecimento sobre como estão as suas férias, recomendo que reflita sobre o peso de uma frase dessas: Ela é fruto de ingenuidade ou julgamento? Erro muito importante, também, é achar que a depressão apenas se manifesta na tristeza. É comum, principalmente em idosos, sintomas de irritabilidade. Ou seja, mais informação sempre!

O que fazer: Os momentos em que a pessoa está melhor são grandes oportunidades para que ela comece a se lembrar de como era a vida antes do adoecimento e volte a ter uma melhor expectativa referente ao seu futuro. Os dias melhores são a prova de que vale a pena continuar!

6- Ter expectativas irrealistas

Erro: Existe uma grande expectativa relacionada a qualquer adoecimento porque nós tendemos a relacionar doenças a coisas que devemos tratar por um tempo e, depois disso, o problema acaba. Isso acontece com uma dor de ouvido, com uma inflamação de garganta. Mesmo com um braço quebrado que, após o uso do gesso, mais uma vez se calcifica. Na depressão, entretanto, nunca sabemos exatamente qual será a evolução da doença e, para piorar, ainda temos a questão de não existir um osso quebrado, ou uma ferida aparente para indicar uma evolução da cicatrização. Muitas vezes o tratamento levará meses ou até anos. Algumas pessoas se mantem em tratamento ao longo de toda a vida. O que é mais importante aqui não é o tempo de tratamento porque isso não importa, o que temos que ter em mente é que qualquer pessoa viva quer e procura qualidade de vida. Logo, se para que essa pessoa tenha mais qualidade de vida ela deve ser medicada em algum momento, devemos abrir nossos olhos e nos despirmos de preconceitos. Nunca incentive uma pessoa que toma medicação para depressão (ou qualquer outra patologia) a parar com uma medicação sem o consentimento de seu médico.

O que fazer: Incentivar ações de cuidado. Seja o acompanhamento com psicólogo e/ou com médico psiquiatra. Seja a prática de alguma atividade física, seja a retomada de algo que gosta de fazer, mas sempre tome muito cuidado para não misturar as coisas. Cada atividade tem a sua função e uma coisa não substitui a outra.

7- Abandonar ou dar a ausência pedida

Erro: Se você percebe que o seu amigo, conjuge ou familiar está adoecido por uma doença que afeta o seu humor em diversos momentos, você também tem que levar em consideração que essa doença também pode afetar a sua capacidade de julgamento do que são as melhores escolhas para si. Isso não quer dizer que a pessoa não esteja lúcida ou que esteja “louca”, não é isso, mas ela pode não estar suficientemente apta para tomada de diversas de decisões que afetam diretamente o seu bem estar. Uma pessoa com depressão moderada ou grave pode passar dias sem tomar banho ou se alimentar, por exemplo. Ou seja, estamos falando de alguém querido que pode precisar de uma ajuda que, naquele momento, ela pode dizer que não quer.

O que fazer: Esteja presente da forma que for possível. Ligue, passe na casa para dar uma olhada se está tudo bem, observe se tem algo faltando, alerte outras pessoas próximas se for preciso. Veja se a pessoa está se cuidando e fazendo tratamento (indo as consultas, tomando os remédios, etc). Um dos grandes problemas da depressão é que a pessoa, por estar sem energia, abandona o tratamento, logo, uma das grandes demonstrações de afeto que você poderá dar é não abandoná-la nesse momento.

Esteja presente.

Segundo passo para ajudar.  Compartilhe esse texto com o maior número possível de pessoas.


Nota: as informações acima trazem conteúdos escritos de forma informal e visam apenas a informação pública preventiva. Nenhuma informação publicada em meios de comunicação substitui a avaliação, diagnóstico e acompanhamento de um profissional.

Imagem de capa: Africa Studio/shutterstock

Tranquilize-se- Rubem Alves

Tranquilize-se- Rubem Alves

Então você está com medo porque acha que a sua vida está prestes a desmoronar: paredes que você considerava firmes estão fora de prumo, há sinais de rachaduras no reboco, as lâmpadas no teto balançam sugerindo terremotos que se aproximam, pensa até em mudar para outras paragens, ninguém segura terremoto, você escora as paredes mas não põe muita fé no que está fazendo, escora outras, mas você é fraco demais para tanta confusão, parece que tudo é inútil, as coisas não se encaixam, sua alma se agita, há muito que você não conhece a felicidade de uma noite de sono feliz, cada manhã é uma angústia, seu corpo está perturbado, faz coisas que não deveria fazer, fere pessoas por onde passa, justamente as pessoas que você ama e que são a razão de ser da sua vida. É triste isto: que frequentemente sejam as pessoas amadas as que vão receber o veneno que se ajuntou em nós. Aí, ao sentimento de catástrofe junta-se o sentimento de culpa, como se você fosse a causa de tudo o que existe de errado.

Quando isso ocorre, a gente começa a sentir raiva e dó da gente mesmo. Essa combinação de sentimentos é letal. Uma vez vi uma maria-fedida chupando os sucos de uma lagarta: enfiou dentro dela uma pequena tromba e foi chupando, chupando, do mesmo jeito que se chupa iogurte com canudinho. A lagarta foi esvaziando até ficar como um saco de pele vazio. Cuidado! Os sentimentos de autopiedade podem fazer com você o que a maria-fedida fez com a lagarta: eles nos exaurem de nossas energias.

Aconselho-o a tomar um banho frio. Banho quente não. Dá moleza. Fuja de quem tem dó de você e deseja consolá-lo. Prefira a voz dura do bruxo D. Juan. O aprendiz de feitiçaria, Carlos Castanheda começou com uma conversa choramingas e logo recebeu do feiticeiro um golpe: “Sua cabeça é um saco de lixo. Você precisa ouvir a sabedoria da morte. A morte é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir, como você sente sempre, que tudo está errado e que você está prestes a ser aniquilado, volte-se para a sua morte e pergunte-lhe se é assim mesmo. Sua morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa, fora do seu toque. Sua morte lhe dirá: ‘Eu ainda não o toquei’”.
A morte ainda não o tocou. Portanto, seus motivos de queixa não têm importância. Mais cedo ou mais tarde seus problemas vão se resolver, de um jeito ou de outro.

Há dois tipos de problemas.

Primeiro, os problemas reais: uma cólica renal, uma goteira, uma conta para pagar, uma perna quebrada, um pneu furado, os pratos do jantar para lavar, um amor que não deu certo, uma pessoa querida que morreu.

Esses problemas se resolvem de duas formas. Os pratos a gente lava, o pneu a gente troca, a perna quebrada se encana. Problemas que devem ser resolvidos sem reclamação e sem muito falatório, pois reclamações e falatórios, além de nada contribuírem para a solução dessas contrariedades, só servem para produzir irritação. Os faladores são especialistas nisso.

Outros não têm solução. O amor que não deu certo, a pessoa querida que morreu: só resta chorar. E o importante é enxotar os consoladores, que são a praga-mor daqueles que estão sofrendo. Os consoladores acham sempre que suas tolas palavras são capazes de encher o vazio do sofrimento.

Problemas, sofrimentos, frustrações são partes da vida. Não é possível evitá-los. Mas é possível sofrê-los com sabedoria.

Por isso cuide de seu corpo e de sua alma. Frequentemente as pessoas me perguntam: “Tudo bem?”. Eu respondo: “Nem para Deus, todo-poderoso, as coisas vão bem. As coisas não vão bem mas eu vou bem”. É como no avião: lá fora está uma terrível tempestade, nuvens pretas, não se vê nada, os raios iluminam o escuro, o avião pula como um cavalo bravo. E eu, já que não posso mesmo fazer coisa alguma, tomando o meu uisquinho. O medo é enorme. Mas entre medo sem uísque e medo com uísque, prefiro a segunda alternativa. Na vida é assim: tudo vai mal, mas preciso que o corpo e a alma sejam um centro de tranquilidade.

Mas essa tranquilidade não acontece por acaso. Ela é o resultado de disciplina.

Sugiro que o primeiro ato do seu dia seja um ato de defesa. Há uma série de encheções à sua espera: listas de coisas para fazer, compras, providências práticas, crianças a serem levadas à escola. Claro, você não poderá fugir dessas responsabilidades. Mas não deixe que sejam elas as primeiras a entrar dentro do seu corpo. Lide com elas com a sobriedade Zen. Caso contrário, elas tomarão conta do seu corpo e da sua alma e se transformarão numa legião de demônios a atormentá-lo através do dia.

Tire quinze minutos da manhã, antes de fazer qualquer coisa. Não é muito tempo. E você merece. Ponha uma música pra tocar. Há tanta coisa bonita. O canto gregoriano, as sonatas de Scarlatti, as sonatas para violino e piano de Bach, as mazurcas de Chopin (pura brincadeira), as Cenas infantis ou as Cenas de floresta de Schumann. Esses são gostos meus. Você terá os gostos seus. O importante é que, no início da manhã, a música seja cheia de paz.

Enquanto você ouve a música, leia. Estou me deleitando com a leitura do livro de Eclesiastes, e estou mesmo me atrevendo a uma tradução poética minha: “Neblinas, neblinas, tudo são neblinas”, diz o poeta. “O homem, por mais que trabalhe, poderá por acaso produzir algo sólido, que não seja neblina? Uma geração passa, outra geração lhe sucede – como a neblina; somente a terra permanece…”.

Esse sentimento de que tudo é espuma e areia tem um efeito tranquilizador. Tudo é neblina, tudo é espuma. Pense na praia, ao final do dia, arrasada pela praga dos humanos que a violentam de todas as formas possíveis. Vem a noite. A solidão. Sobe a maré. Pela manhã a praia é uma pele lisa, jovem, sem nenhuma cicatriz. Toda a loucura humana foi esquecida. Pois assim mesmo é a vida: tudo será esquecido – de sorte que não vale a pena nos afligirmos.
E reze o poema de Ricardo Reis, resumo da minha filosofia de vida:

“Mestre, são plácidas todas as horas que nós perdemos, se no perdê-las, qual numa jarra, nós pomos flores. Não há tristezas nem alegrias em nossa vida. Assim saibamos, sábios incautos, não a viver, mas decorrê-la, tranquilos, plácidos, tendo as crianças por nossas mestras, e os olhos cheios de natureza. À beira-rio, à beira-estrada, conforme calha, sempre no mesmo leve descanso de estar vivendo. O tempo passa. Não nos diz nada. Envelhecemos. Saibamos, quase maliciosos, sentir-nos ir. Não vale a pena fazer um gesto. Não se resiste ao deus atroz que os próprios filhos devora sempre. Colhamos flores. Molhemos leves as nossas mãos nos rios calmos, para aprendermos calma também. Girassóis sempre fitando o sol, da vida iremos tranquilos, tendo nem o remorso de ter vivido”.

Igual ao sábio das Escrituras é a Cecília Meireles: se a morte ainda não o tocou, trate de aprender a viver com sabedoria. A sabedoria não é garantia de felicidade. A vida não oferece garantias de felicidade para ninguém. Como disse Guimarães Rosa, “felicidade só em raros momentos de distração”. Mas a sabedoria nos livra dos sofrimentos provocados pela nossa própria loucura. Quem é sábio sofre pelas razões justas e, por isso mesmo, sofre com tranquilidade. A sabedoria nos traz paz de espírito. Que é aquilo que mais o coração deseja. Paz de espírito é como um campo batido pelo vento, como um riacho de águas limpas, como uma borboleta pousada sobre uma flor.

A cabeça é um útero terrível. Dela tanto podem sair flores e borboletas quanto charcos e escorpiões. De vez em quando ela é invadida pelos demônios das catástrofes e dos horrores – e aí não existe corpo que aguente. Os tais demônios são produtores de filmes, que ficam sendo exibidos em sessão contínua em nossa cabeça.

Imagem de capa: marvent/shutterstock

Os gritos causam danos ao cérebro infantil

Os gritos causam danos ao cérebro infantil

“Por ignorância caímos na escravidão, pela educação alcançamos a liberdade”, disse certa vez Diego Luís de Córdoba. No entanto, a educação das crianças não tem nada a ver com a imposição e com os gritos. Na verdade, os gritos podem causar danos significativos no cérebro infantil.

Educar gritando não traz nenhum benefício para as crianças, ou pelo menos é o que demonstram alguns estudos. Por trás de muitos desses gritos está a impotência dos pais para transmitirem a informação que desejam. Os gritos são uma liberação de energia e não conseguem transmitir a mensagem que os pais desejam impor para as crianças.

“Diga-me e eu esqueço, ensina-me e eu me lembro, envolva-me e eu aprendo”.
-Benjamin Franklin-

Os gritos da impotência

Alguns autores, como Aaron James, dizem que gritar não lhe dá mais razão e nem lhe confere uma posição de vantagem em uma discussão. Isto foi confirmado através dos seus estudos, referindo-se inclusive ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Dessa forma, se quisermos ter razão, gritar não nos ajudará em nada. Pelo contrário, devemos argumentar ao invés de levantar a voz.

Geralmente os gritos aparecem quando alguém perde o controle. Dessa forma, o estado emocional interfere na expressão da mensagem, distorcendo as informações. Se para os adultos é complicado lidar com isso, imagine para as crianças. Os gritos têm um efeito devastador sobre o cérebro infantil.

Os gritos que afetam o cérebro infantil

De acordo com um novo estudo da Universidade de Pittsburgh, concluiu-se que esses gritos, especialmente quando são emitidos regularmente, afetam o cérebro da criança e acarretam uma série de riscos para o seu desenvolvimento psicológico.

Ou seja, as pessoas que optam por gritar, com o objetivo de direcionar ou repreender, estão aumentando o risco do qual falamos anteriormente. Na verdade, por causa dos gritos as crianças desenvolvem comportamentos agressivos ou defensivos.

Esse estudo foi realizado com 1.000 famílias com crianças entre um e dois anos. Os pesquisadores perceberam que as crianças que conviviam com pais que recorriam aos gritos para educá-las desenvolviam na adolescência, a partir de 13 e 14 anos, sintomas depressivos e problemas comportamentais.

Na verdade, eles chegaram à conclusão de que o grito não minimiza os problemas, mas os agrava. Por exemplo, no que diz respeito à desobediência, os pais que são carinhosos com seus filhos conseguem minimizar muito esse tipo de comportamento.

Mais estudos sobre esse assunto

Na verdade, foram realizados muitos estudos sobre esse assunto. A prestigiada Harvard Medical School, através de estudos realizados pelo departamento de psiquiatria, afirma que o abuso verbal, os gritos, a humilhação ou a combinação dos três elementos alteram de forma permanente a estrutura cerebral da criança.

Depois de analisar mais de 50 crianças com transtornos psiquiátricos causados por problemas familiares e compará-las com quase 100 crianças saudáveis, os pesquisadores fizeram uma descoberta alarmante: perceberam que havia uma redução severa do corpo caloso, ou seja, na parte que conecta os dois hemisférios cerebrais.

Dessa forma, tendo as metades do cérebro menos integradas, as mudanças na personalidade e no humor são mais acentuadas, comprometendo a estabilidade emocional. Outra consequência desta conectividade diminuída é a dispersão da atenção.

Como podemos acabar com os gritos?

É verdade que as crianças podem nos deixar loucos, mas o grito não é a solução, por mais que estejamos irritados. Para evitar cair nessa tentação podemos usar algumas das seguintes estratégias:

  • Gritar é perder o controle. Se perdemos o controle, perdemos toda a capacidade de disciplinar adequadamente a criança.
  • Evite os momentos estressantes. Às vezes é complexo, mas com um bom trabalho de observação perceberemos se estamos gritando ou não. Dessa forma, quando conseguirmos detectar esse padrão de comportamento, poderemos trabalhar para eliminá-lo.
  • Acalme-se antes de agir. Procure fazer algo que o tranquilize quando perceber que está no seu limite. Dessa forma, você evitará perder o controle. Pare por um momento, relaxe e assuma o comando.
  • Não se culpe e não se exceda. Tenha cuidado com as expectativas que você cria a respeito dos seus filhos. Não os culpe por não serem da forma como você gostaria. São apenas crianças: o importante é que desfrutem, sejam felizes e se desenvolvam adequadamente.

“Não podemos moldar os nossos filhos de acordo com os nossos desejos, devemos estar com eles e amá-los como Deus nos deu”.
-Goethe-

Agora já sabemos quais são os danos que os gritos frequentes podem causar no cérebro infantil. Então, está em nossas mãos, como adultos responsáveis que somos, encontrar soluções alternativas para educar corretamente sem causar danos ao cérebro das crianças.

Imagem de capa: Shutterstock/ Monkey Business Images

TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA

Primavera- Fábio de Melo

Primavera- Fábio de Melo

Primavera é tempo de ressurreição. A vida cumpre o ofício de florescer ao seu tempo. O que hoje está revestido de cores precisou passar pelo silêncio das sombras. A vida não é por acaso. Ela é fruto do processo que a encaminha sem pressa e sem atropelos a um destino que não finda, porque é ciclo que a faz continuar em insondáveis movimentos de vida e morte. O florido sobre a terra não é acontecimento sem precedências.Antes da flor, a morte da semente, o suspiro dissonante de quem se desprende do que é para ser revestido de outras grandezas. O que hoje vejo e reconheço belo é apenas uma parte do processo. O que eu não pude ver é o que sustenta a beleza.

A arte de morrer em silêncio é atributo que pertence às sementes. A dureza do chão não permite que os nossos olhos alcancem o acontecimento. Antes de ser flor, a primavera é chão escuro de sombras, vida se entregando ao dialético movimento de uma morte anunciada, cumprida em partes.

A primavera só pode ser o que é porque o outono a embalou em seus braços. Outono é o tempo em que as sementes deitam sobre a terra seus destinos de fecundidade. É o tempo em que à morte se entregam, esperançosas de ressurreição. Outono é a maternidade das floradas, dos cantos das cigarras e dos assobios dos ventos. Outono é a preparação das aquarelas, dos trabalhos silenciosos que não causam alardes, mas que, mais tarde, serão fundamentais para o sustento da beleza que há de vir.

São as estações do tempo. São as estações da vida.

Há em nossos dias uma infinidade de cenas que podemos reconhecer a partir da mística dos outonos e das primaveras. Também nós cumprimos em nossa carne humana os mesmos destinos. Destino de morrer em pequenas partes, mediante sacrifícios que nos fazem abraçar o silêncio das sombras…

Destino de florescer costurados em cores, alçados por alegrias que nos caem do céu, quando menos esperadas, anunciando que depois de outonos, a vida sempre nos reserva primaveras…
Floresçamos.

Imagem de capa: Miramiska/shutterstock

Como as pessoas manipuladoras se relacionam?

Como as pessoas manipuladoras se relacionam?

Sem nos darmos conta, podemos estar imersos em relações com pessoas manipuladoras, que mudam nosso modo de pensar ou agir, pelo seu próprio bem.

Existem diferentes “categorias” dentro dos manipuladores, segundo o controle exercido pela pessoa sobre nós. Se essa pressão for muito grave, os especialistas a chamam de: “Narcisista perverso”, e esse é o assunto do qual vamos falar neste artigo.

Certamente você já viu diversos filmes, leu alguns livros ou escutou histórias sobre pessoas que manipulam seus parceiros, filhos, amigos, etc. Esse tipo de personalidade existe em todas as famílias e nem sempre estamos a par da situação. E mais, podemos até ser vítimas de pessoas manipuladoras agora mesmo e não saber.

Os narcisistas perversos, como alguns psicólogos nomeiam este perfil, são aqueles que, constantemente, estão dizendo ao outro o que ele deve fazer. De maneira sutil (ou não), mas com uma efetividade que realmente assusta, uma vez que restringe sua liberdade.

Estas pessoas, por sua vez, podem ter outros tipos de comportamentos negativos, como, por exemplo, excessos emocionais de todo tipo, comportamentos agressivos e ameaçadores, contínuas faltas de respeito e desprezo.

Quando se fala se um indivíduo perverso, ele é assim 24 horas por dia, sem distinção. A relação com sua vítima foi determinada dessa maneira e não há nada que pode mudá-la, a menos que a pessoa que esteja sofrendo a manipulação comece a querer modificar a relação.

Principalmente nos relacionamentos amorosos com uma pessoa manipuladora, pode passar muito tempo até que a vítima se dê conta do que está ocorrendo. Ela não deseja escutar o que seus entes queridos dizem, pensa que todo mundo está errado, que a outra pessoa faz isso porque a ama, que ela pode tomar suas próprias decisões, que não tem medo de seu parceiro, etc.

Em algum momento, ainda não está claro por que a pessoa que sofre nas garras do manipulador acorda desse “sono profundo”.

Imagine, por um instante, o que a aranha faz com sua presa: envolve-a com sua teia, até que, finalmente, alimenta-se dela. Algo similar acontece com os manipuladores e a energia positiva de sua “presa”.

Além de dizer que a vítima de um manipulador tem carências ou problemas, devemos indicar que o narcisista perverso também precisa de ajuda.

O manipulador

Embora todos nos complementemos nos relacionamentos, a pessoa que mais tem a perder é o manipulador, não o manipulado. Isso é assim, já que ele está “consumindo” algo que a vítima tem, como pode ser sua capacidade intelectual, bondade, carisma, solidariedade, autoestima, amizades, trabalho, saúde, etc.

Sempre falamos das características das pessoas manipuladoras e de como nos darmos conta de que alguém está nos controlando, mas nunca tentamos julgar o por quê dessa pessoa reagir dessa maneira, do que ela está precisando e de que forma pede ajuda. Com isso, não estamos dizendo que ele não seja responsável ou culpado por seus atos, no entanto, teríamos que analisar que traumas ou problemas do passado levaram-no a agir dessa maneira, ou quais são suas necessidades mais profundas.

Quando um perverso narcisista se encontra com alguém fácil de controlar, é onde pode colocar em prática ou depositar todos os seus traumas. Sem querer ofender ninguém, um manipulador age quando a vítima permite. Nem sempre isso acontece de propósito por parte do manipulado e, até mesmo, há casos nos quais a vitima também não percebe.

O perverso inveja aquilo que o outro tem, por isso utiliza suas ferramentas para se apoderar. A vítima não pode ver as manobras usadas contra ela, está cega de paixão, não percebe as ações do outro como algo negativo.

Mas isso pode influenciar sua mente e em suas emoções. O mesmo acontece com uma gota que cai sobre uma pedra; com o passar do tempo, acaba desgastando a pedra.

Quando um manipulador se encontra com uma pessoa segura de si, que sabe do que gosta, tem suas próprias opiniões sobre certas coisas e até mesmo lhe aconteceu algo ruim com um narcisista perverso antes, ela conta com armas a sua disposição para não permitir que as teias de aranha o envolvam.

Mas atenção, ninguém está 100% imune a este tipo de personalidade, já que alguns sabem como fazer um trabalho perfeitamente “fino” e quase imperceptível, até que o outro se torne uma marionete.

Tenha muito cuidado com as pessoas com as quais você se relaciona. Não é questão de se sentir ameaçado ou perseguido o tempo todo, mas sim de andar por caminhos seguros.

Também não hesite em fazer um trabalho de introspecção para determinar, de maneira objetiva, se você pode chegar a ter uma personalidade que pode ser facilmente manipulada.

Imagem de capa: BhFoton/shutterstock

TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA

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