Aos mestres da vida, amor e gratidão

Aos mestres da vida, amor e gratidão

Ontem adormeci pensando nos mestres da vida. Os mestres da vida por vezes estão dentro de salas de aulas, mas quase sempre não. São mestres do cotidiano. Pessoas que nos salvam do mundo. Os mestres da vida são exemplo e abrigo em dias de desencanto e desesperança.

Os mestres podem ser crianças ou adultos. Lembrei-me ontem do menino gentil que encontrei um dia em um consultório médico. Ele tinha os cabelos de um anjo e um sorriso doce. Assim que cheguei com minha filha ele a puxou pela mão e perguntou: Você sabe do segredo? Você sabe desvendar o mistério?

Entendi ali que ele era uma criança especial, principalmente quando notei que ele falava dos números marcados em pedaços de fita crepe embaixo das cadeiras do consultório. Minha filha esqueceu da febre e sorriu com sinceridade com a explicação do segredo que dizia dos números. Aquele menino sabia encontrar coisas bonitas onde ninguém mais encontraria.

Também tenho comigo que a moça que me ajuda aqui em casa é uma mestre. Todas as vezes nas quais almoçamos juntas eu sei que estou diante de alguém com uma sabedoria imensa. A sabedoria dela vem da vida, mas especialmente do coração, que bom ao extremo, enxerga o melhor nos outros e sabe viver de forma leve e bonita. Ela anda pela vida dando a chance de ser surpreendida, cuidando carinhosa de si e de todos aqueles que a rodeiam. Ela tem uma sorte imensa em sorteios e eu no fundo sei que a beleza do seu coração propicia que a vida lhe dê uma parcela do que ela dá à vida. A sorte é companheira dos bons.

Outro mestre que sempre vejo é o inspetor da escola da minha filha. Tive certeza disso quando o vi na calçada segurando uma pessoa que tinha desmaiado. Notei que todos correram até ele para pedir ajuda. Mestres chamam a responsabilidade para si. Não falam, mas agem na hora certa. Têm no coração muita verdade, ensinamento e amor. Eles são anjos sem asas. Mestres nunca são demagogos. Eles são práticos e altruístas e fazem o que tem que ser feito.

Não vou negar que existem também mestres que nos ensinam de forma dura. A vida nem sempre é feita apenas de flores. Esses mestres não são fáceis, pois são um pouco mais enérgicos e incisivos. No entanto eles confiam em nossa capacidade de aprender e sabem que um dia seguiremos em frente com as nossas próprias pernas. Esses mestres, são quase sempre quietos e não muito simpáticos, mas confiam plenamente em nossa força.

Mestres assim, muitas vezes, são confundidos com falsos mestres, pessoas que agem duramente com relação à verdade dos outros. A diferença é que falsos mestres adoram aprisionar pessoas e fazê-las pensar que não são capazes, que são fracas e que nunca conseguirão aprender. Um mestre de verdade sabe que um dia o outro saberá tanto quanto ele. Um mestre de verdade ensina e não condiciona.

Ontem adormeci grata aos mestres da minha vida. Feliz por ter a sorte de encontrar pessoas bonitas e inspiradoras pelos caminhos do viver. Ontem eu adormeci agradecida por saber distinguir aqueles que sabem, daqueles que dizem saber.

Eu desejo uma vida recheada de mestres de verdade para todos vocês!

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain

O Universo atrai aquilo que pensamos.

O Universo atrai aquilo que pensamos.

Na vida atraímos todas as coisas que temos e tudo o acontece conosco. Os acontecimentos, as passagens, as pessoas, tudo é atraído. Trabalho, relacionamentos, saúde, problemas, conquistas, seu peso, seu salário, suas companhias e tudo que ocorre em todos os dias com a gente são consequências dos nossos pensamentos, das nossas atitudes e de como nos sentimos, nos comportamos e das atitudes que tomamos.

Muito poucas são as pessoas que conseguem o que desejam sem empenho e coragem de conquistar. Trabalhar cansa, estudar cansa, rotina cansa e dedicar muitas horas todos os dias em uma mesma coisa cansa, mas se você realmente não for uma dessas pessoas que já nasce com seus desejos realizados, não conquistará nenhum deles sem algumas noites mal dormidas, muita dedicação, força, paciência e pensamento positivo em todos os dias. Desistir mentalmente atrasa tudo. As coisas boas e que valem a pena não vêm rápidas e facilmente. Persista, pense, aja.

Por mais preparado que esteja rumo a um objetivo, somos humanos e vamos falhar algumas vezes antes de vitória, antes do alcance do objetivo e da realização de um sonho. Nossos caminhos serão feitos de tentativas, erros e aprendizados. As coisas não acontecerão sempre da maneira como planejamos e isso não significa que não conseguiremos. As falhas que cometemos durante o processo é uma das etapas necessárias para aprender o que se precisa para chegar ao final mais forte, mais preparado e valorizar muito mais cada conquista, por menor que essa seja.

O Universo atrai aquilo que pensamos. Vamos sempre atrair o que pensamos. Pense positivo sempre.

Imagem de capa: Kitja Kitja/shutterstock

O lado obscuro dos cães. Eles também tem dias ruins e direito a escolhas.

O lado obscuro dos cães. Eles também tem dias ruins e direito a escolhas.

Todos os dias lemos matérias em jornais sobre os pets em nossa vida, e nos ligamos somente ao lado bom dos nossos peludos. Porém, lembrando que se tratam de seres sensitivos, emocionais e instintivos, são também dotados de mau humor e descontroles hormonais. Cães são fiéis, amigos, protetores, pacientes e nos perdoam por tudo? Sim e….. Não! Elevamos nossos amores de focinho gelado a um patamar dos deuses, mas quando batemos de frente com os problemas que nos causam, alguns gravíssimos, esquecemos da doçura e entramos em um quarto escuro cheio de dúvidas, questionando em que momento o filhotinho fofo se tornou um Diabo da Tazmânia, e pior, sem dar conta de que o erro provavelmente foi nosso. Resultado: Abandono, maus tratos ou indiferença.

Cães possuem uma linha de estratégias complexa e dividida em regras que ainda são bastante estudadas. Alguns são possessivos, imprevisíveis, reativos, oportunistas, ciumentos, hiperativos, ou seja, entram com uma lista extensa de defeitinhos sub humanos. Se pararmos para observar nossos fiéis amigos por um outro ângulo que não seja a fofura, percebemos isso. Por trás de algumas atitudes bonitinhas e agradáveis, pode haver uma negociação da parte deles, nem sempre, mas pode. Comumente ouvimos nas consultas comportamentais: “faço tudo pelo meu cão e mesmo assim ele não me respeita!”. Defina” respeito”. Defina “fazer tudo”. Dar ração, biscoitos, carinho, passeios, brincadeiras intermináveis é dar tudo que ele precisa? Respeito é ter um cão totalmente ao seu dispor sem um pingo de dignidade? Pelo meu ponto de vista, não! Há uma infinidade de raças no mundo, todas projetadas pelo que queremos delas, mas acima disso não são robôs e carregam um instinto muito aguçado. Raças consideradas mais submissas, como as de companhia por exemplo, talvez sejam menos complexas de se concluir uma teoria sobre elas. Até onde se sabe, quando um cão é definido como de luxo, não está relacionado a nenhuma atividade criada para ele, sendo assim, se tornam mais flexíveis. Já os de caça, proteção, pastoreio, tração e guarda, por adotarem uma postura mais independente e persuasiva, são considerados os possíveis problemáticos aos olhos dos leigos. Claro, não é uma regra e sim uma estatística. Quando se cria alguma coisa, podemos modificar o que queremos e podemos para obter o melhor resultado, e com os cães não seria diferente. Um cão de guarda em tese, jamais vai deixar de ter seu instinto apurado, por mais intromissão que exista de nossa parte. Obviamente oscilando entre bons e péssimos exemplares genéricos. Alguns mais ativos e intensos e outros menos, mas a arte de proteger sua matilha, é nata. Um caçador pode ter outros animais, de outras espécies como amigos, vemos isso em vídeos e fotos. Foram socializados desde filhotes, essa é a chance de sucesso para uma boa convivência, no mais, com o tempo passando e o animal se tornando adulto sem a devida socialização, essa esperada harmonia vai deixando de ser um sonho concreto e se tornando uma utopia. Cães produzidos para trabalho, carregam em sua genética esse amor pelo que fazem, ou pelo menos faziam. Levam consigo uma memória genética bem definida. Digo genética, porque muitos donos se atrapalham na hora de imaginar como isso funciona. Acham por exemplo, que um filhote de Border Collie nascido em um apartamento, nunca soube, nunca viu ou praticou, portanto nunca terá a ânsia de trabalhar, seja pastoreando ou se movimentando freneticamente em busca de algo que não foi apresentado a ele. E isso é um erro. Os cães não agem apenas pelo que vivenciam e sim pelo que corre em suas veias desde aqueles tempos que mencionei no começo. Solte um border collie de apartamento junto a ovelhas e verá o espetáculo acontecer. Os chamados de independentes, levam essa denominação porque ao longo da história, precisaram se virar sozinhos para conseguir sobreviver, de fato cães rotulados nessa categoria são mais individualistas e menos submissos, com uma índole quase felina. Os chamados de anti sociais carregam a má fama de menos efusivos, mas esquecem de analisar o motivo. Onde, como e para que foram criados. Independente da beleza e estrutura de um cão, as pessoas deveriam considerar fortemente o temperamento de cada raça antes de levar para casa. “Cada pé tem o sapato certo” já dizia o ditado.

Esses animais, acima de tudo, testam os humanos. Alguns disfarçam essa tendência natural com sutileza, e fica complicado perceber. Mesmo os cães mais submissos tentarão um lugar ao Sol se houver uma oportunidade. Receber uma lambidinha na mão, pode significar carinho, mas também um pedido camuflado. Eles carregam toda uma linguagem corporal que passa despercebido pela maioria, mas que se pudessem ser enxergadas por nós, tudo ficaria mais fácil. Uma orelha postada diferente, uma pata em uma posição raramente vista, um olhar de lado com a boca fechada, ou atento com a boca aberta, um suspiro, bocejo, cauda em pé, abaixada, de lado, balançando ou não e mesmo assim, balanços diferentes, que poucos decifram mesmo. Não é fácil. Cauda balançando nem sempre é alegria, cachorro de boca fechada pode ser um perigo, uma pata erguida pode indicar uma espera por algo que ele ainda não entendeu.

Seu amigo de quatro patas pode sim te morder, podem teimar, eles fogem e alguns não retornam, podem se entediar, entrar em depressão mesmo recebendo todos os mimos, porque de alguma maneira tem um erro na condução da sua rotina. Uma falha na educação ainda não estabelecida, negligência na hora de impor as regras, falta de interesse nos atos desse animal, nos sinais que ele dá, na rotina que ele recebe. Isso tudo se transforma em um caos interior e esse bicho vai dar problemas. É encantador viver ao lado de um cão, o amor que recebemos e a devoção deles quando o ciclo está perfeito em sua cabeça complexa é fantástico. Entretanto, compreender que uma nuvem negra pode pairar de vez em quando em torno de seus atos caninos, irá reforçar ainda mais o laço entre ele e sua família.

Imagem de capa: Soloviova Liudmyla/shutterstock

Quanto mais a pessoa estiver disponível, menos será procurada, por incrível que pareça

Quanto mais a pessoa estiver disponível, menos será procurada, por incrível que pareça

O ser humano possui algumas características difíceis de entender, sendo uma delas o desejo por aquilo que ainda não possui e, caso se trate de algo quase impossível de se obter, o desejo se torna ainda mais forte. Embora seja esse um dos motivadores de nossas conquistas diárias, prender-se a sonhos por demais utópicos acaba por trazer tão somente desilusão.

O que se encontra a uma distância significativa de nossas posses e de nossas vidas parece ser um chamariz, como se precisássemos sempre ter uma pontinha de desejo aqui dentro. Sem metas e planos, a vida perde todo o sentido, uma vez que o que nos leva adiante, o que nos força a prosseguir, a não desistir, a melhorar o que somos, é nosso querer mais, nossa necessidade de realizar sonhos de vida.

Talvez isso explique, em parte, o porquê de muitas pessoas não se interessarem por aquilo que se encontra bem pertinho, por aquilo que é fácil de se obter, por tudo o que cai de graça em seus colos. Somos movidos, também, pelo prazer de superar dificuldades e obstáculos durante nossa jornada, valorizando imensamente aquilo que conseguimos através de muita luta, depois de suar bastante por todos os poros.

Assim sendo, essa sistemática acaba se dando também em relação aos relacionamentos interpessoais, seja de amizade, seja de amor. Quantos de nós não ficamos correndo atrás de quem mal nos cumprimenta, nunca nos responde, pouco sabe que existimos? Quantos de nós não nutrimos, por anos e anos, um amor não correspondido, não semeado, por quem já escolheu o amor de uma outra pessoa? Quantos?

Caso olhemos ao nosso derredor, já haverá alguém que guarda a nossa amizade com carinho, torcendo verdadeiramente por nós. E existirá alguém que possa nos amar com inteireza recíproca, alguém que ainda não tenha pousado seus sentimentos em outros terrenos. Nem sempre, como se vê, desejar o que está longe nos leva adiante, pois, em certas situações, valorizar a disponibilidade do que é mais próximo e plausível nos fará mais felizes junto ao que é verdadeiro, a quem é real.

Imagem de capa: Iakov Filimonov/shutterstock

Raro é quem conversa, as pessoas só querem falar

Raro é quem conversa, as pessoas só querem falar

Se prestarmos atenção, perceberemos que o costume de aguardar a vez para falar está desaparecendo entre muitas pessoas. Todo mundo quer falar, extravasar, opinar, mas poucos estão dispostos a ouvir e realmente escutar o que o outro tem a dizer. Não importa o quanto precisemos de alguém que nos ouça, raramente encontraremos quem consiga parar de pensar em si mesmo, para nos dispensar um mínimo de atenção.

E esse comportamento, infelizmente, acaba atrapalhando também a leitura de textos escritos. Se o que importa é tão somente a própria opinião, como conseguir ler um ponto de vista diferente e pensar sobre aquilo? Geralmente, as pessoas leem só o superficial, sem se aprofundar no que está subentendido, porque querem estar certas, querem ser as donas da razão, portanto, nada do que as contradiz é levado em conta.

Em muitos momentos, precisaremos de alguém que nos ouça, que preste atenção em nossos sentimentos, que divida a dor que nos assola, apenas ali do lado, olhando-nos os olhos e acolhendo nossa alma quebrada. Não será preciso falar nada, apenas escutar, entender, abraçar e ficar junto de fato. Alguém que não corte nossa fala, que não diga que também sofre, que não abra concorrência com a nossa dor – muitas pessoas sempre acham que sofrem mais do que qualquer um.

É como se quase ninguém mais conseguisse conversar, ou seja, trocar ideias, opiniões e pontos de vista de forma compartilhada, pois muita gente quer somente falar, impondo o que acha ser o certo e ponto final. Assim, tornam-se incapazes de se colocar no lugar de alguém e de refletir sobre a própria vida. Gente assim é incapaz de mudar, de perceber-se errada, de melhorar. Não conversam com pessoas, não interagem com textos, nem dialogam com o mundo, pois só o que existe é seu próprio mundinho.

Devemos, portanto, valorizar as pessoas com quem conseguimos conversar de fato, com quem chegamos a trocar ideias de forma saudável, quem nos escuta e nos acolhe, quando mais precisamos. É preciso que nos demoremos junto às pessoas que nos devolvem sentimento, porque, caso acumulemos pesos demais dentro de nós, dificilmente teremos a chance de seguir em busca de nossa felicidade. E isso ninguém merece.

Imagem de capa: Roman Samborskyi/shutterstock

Felicidade em comprimidos: a triste realidade da geração dopada

Felicidade em comprimidos: a triste realidade da geração dopada

Existe uma sociedade que quer ser feliz o tempo inteiro. Existe uma sociedade que não enxerga elegância em poder cair e se levantar. Existe uma sociedade que cobra “sucesso” o tempo todo de você. Existe uma sociedade onde se desconhecem a dor e a tristeza. Existe uma sociedade que só enxerga o valor das vitórias. Existe uma sociedade que desconhece a vida.

Existe uma sociedade que toma Prozac e, assim, nunca ouviu falar em ficar triste, em sentir-se infeliz. Basta um comprimidinho diário e, veja só, lá se vai mais um rindo à toa. Os problemas… Que problemas? Ah! Que solução mágica inventaram. Como pode o homem ser feliz sem o Prozac? Pobre dos nossos ancestrais, que não puderam engolir a felicidade com apenas um copo d’ água.

Existe uma sociedade que toma Ritalina e, assim, nunca ouviu falar em desatenção. Há muito que se aprender. Há muito que se fazer. Portanto, ficais concentrados. Acabaram as desculpas para não ser o melhor, para aquela desconcentração que lhe custou o dez na prova. E não me venha com essa de que não precisa tirar dez sempre. Ora, você quer ser um alfa ou um gama menos?

Existe uma sociedade que toma Lexotan e, assim, nunca ouviu falar em ficar preocupado, ansioso com algo. A tranquilidade reina, sem direito a exceções. Todos são perfeitos no que fazem, têm relacionamentos maravilhosos e carreiras de sucesso. Todos os créditos, é claro, devem-se ao Lexotan. Para que ficar preocupado com o futuro, quando essa maravilha nos dá garantia de tudo?

contioutra.com - Felicidade em comprimidos: a triste realidade da geração dopadaExiste uma sociedade que toma Rivotril e, assim, nunca ouviu falar em ficar estressado ou agitado. Que calmaria. Quanta paz. Já não sabemos o que é ter olheiras, por causa de insônia. Tudo é tão tranquilo. E aqueles dias em que se acordava “virado” viraram lendas de que pouco se ouve falar. Nem se fala naquelas sensações ruins de aperto no coração, né? Não consigo imaginar o quão ruim era a vida daqueles que desconheciam dessa dádiva.

Existe uma sociedade que não passa por incômodos ou dores existenciais. Existe uma sociedade que transformou tudo em mercadoria e, assim, compra-se tudo. Amor, tranquilidade, felicidade, disposição, atenção, sucesso, tudo em comprimidos. Dor? Que palavra estranha, está para ser abolida do vernáculo. O último relato de lágrimas já data de muito tempo. Oh! Admirável mundo novo cheio de belezas. Maravilhosas são as tuas pílulas. Maravilhoso é o sabor da tua felicidade.

Existe uma sociedade que toma essas maravilhas, que insistem em chamar de remédios, separadas. Mas já estão produzindo todos juntos em um único e belo comprimido, o qual chamam de soma. Haveria nome melhor? A publicidade já está tratando de divulgar esse milagre, com o seguinte slogan – “E se por acaso alguma coisa andar mal, há o soma”. Quanta graça em único lugar.

Existe uma sociedade perfeita, em plena paz. Com apenas um problema, um selvagem, esquisito que ainda chora. Que lástima! Reclama aos quatro cantos o direito de ser infeliz. Diz não estar disposto a virar um dopado e perder sua autenticidade. Que audácia! Bem, ele já está sendo removido para a selva que é seu lugar. Entre nós, só aceitamos aqueles que aceitam a felicidade. Confesso que só não entendo a música que o selvagem insiste em cantar: “Eu que já não quero mais ser um vencedor. Levo a vida devagar pra não faltar amor”. Faltar amor com o soma? Quanta ingenuidade.

Nota: O autor tem plena consciência da necessidade de medicações. A crítica do artigo é referente à alienação medicamentosa.

Imagem de capa: puhhha/shutterstock

A vida que eu quero ter!

A vida que eu quero ter!

A vida que eu quero ter passa bem longe do furor do dia-a-dia,  segue por uma estradinha onde não cabe tanta ambição nem tem as curvas dos humores.

A vida que eu quero ter não deve começar no final da vida, quando tudo estiver no seu lugar, já que não há lugar certo para nada, nem garantias ou certezas.

A vida que eu quero ter não se encaixa com tudo o que desejo comprar, com tudo o que preciso conquistar, com uma fração do que eu já consumi.

A vida que eu quero ter não combina com tanto barulho – dentro e fora de minha cabeça –  não depende da  cor do meu esmalte, não acaba nos limites do meu território.

A vida que eu quero ter não é a vida que eu acho que preciso ter, para acompanhar o fluxo, para me inserir no contexto, para garantir presença nos acontecimentos.

A vida que eu quero ter é aquela vida que me vem aos pensamentos quando fecho os olhos, aquela vida que me convida a dar menos valor aos consumos e mais importância às conversas e às risadas.

A vida que eu quero ter me diz todos os dias que mais um dia já se foi e eu o usei com a vida que eu acho que preciso ter, matando leões e esquecendo de olhar para o céu.

A vida que eu tenho hoje anda em conflito com a vida que eu quero ter, pois desapego é uma coisa difícil de empreender. A vida que eu tenho hoje já me permite não ver televisão, mas ainda não me deixou desligar o telefone para ouvir o barulho do mar.

A vida que eu acho que preciso ter me cobra a cada hora mais um conquista. Me castiga e submete, provocando comparações e competições.

A vida que eu quero ter me diz que eu só preciso pagar minhas contas e ter tempo. Tempo para viver. Juntar apenas forças, cultivar saúde e equilíbrio, prestar mais atenção na brisa do que nas buzinas.

A vida que eu quero ter não engana e já me avisa que haverá dores, mas,  ao mesmo tempo me alerta que, quando se vive a vida escolhida, até as dores são mais legítimas e se vão com o passar da vida.

Um brinde à vida!

Imagem de capa: eldar nurkovic/shutterstock

‘Provo que a mais alta expressão da dor consiste essencialmente na alegria’

‘Provo que a mais alta expressão da dor consiste essencialmente na alegria’

‘Provo que a mais alta expressão da dor consiste essencialmente na alegria’

Sempre interpreto esta frase do grande poeta Augusto dos Anjos como a coragem de ser o que se é, por inteiro. A coragem de vasculhar até o que nos dói em busca de um despertar de consciência, em buscar de uma paz maior.

Acredito que deixar que a dor se manifeste em nós é uma atitude de desacomodar e desanestesiar para possibilitar virem à tona lados nossos que, por diversos motivos, marginalizamos e camuflamos dentro de nós mesmos.

Na correria dos dias, na necessidade de nos mantermos firmes e fortes, na falta de tempo e de energia, mascaramos nossas dores e tristeza. E assim, sem querer, deixamos de vivenciar, de sentir, de entender e consequentemente de curar um sentimento que precisa de atenção.

Todos nós temos momentos de dores e de tristezas e acredito que esses sentimentos, rotulados negativos, sempre têm algo a nos revelar sobre nós mesmo e sobre a nossa vida.

Sentir-se triste pode significar que a vida está nos pedindo uma reflexão mais profunda, ou um momento de parar para respirar e se deixar doer.

Encarar a dor pode ser um encontro profundo consigo mesmo. A dor pode ser um desequilíbrio que nos tira da zona de conforto, pode ser um chocalhão psicológico, pode ser a erupção de algum sentimento antigo, esquecido, algo mal resolvido e ignorado por tanto tempo e que agora começa a pedir a devida atenção.

Evitamos encarar a dor e a tristeza, pois elas podem nos pedir mudanças, coragem, energia, atuação. Podem estar mostrando que nossos caminhos devem ser repensados.

Precisamos estar abertos para os momentos de tristeza, assim como estamos para os momentos de alegria. Pois ignorar nossas dores, e seguir em frente como se elas nunca tivessem se manifestado, é arranjar um efeito paliativo, é empurrar a sujeira para debaixo do tapete. As dores continuam existindo em algum canto da alma. E provavelmente um dia voltarão de alguma forma, ou vão viver deixando seus rastros mansos e contínuos nos dias.

E se desenterrarmos nossos mortos? e se dialogarmos com nossos medos? e se nos deixarmos ser fracos um pouco? e se abdicarmos da paz mais fácil? Acredito que como disse o poeta, encontraremos a alegria, uma alegria mais genuína. Ou o que eu gosto de chamar de a paz maior.

Isso tudo me faz lembrar de uma frase de outro grande poeta, Paulo Leminski: ‘isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.’

E para terminar este texto cheio de dores e alegrias, compartilho um pequeno poema meu:

‘Às vezes é preciso morrer por amor à vida
Criar guerras por querer a paz maior
Deixar a febre ferver nas veias para que surja a cura
Mudar o rumo da história para encontrar face a face uma versão nossa que sempre quisemos conhecer

Seguir por novos caminhos para que a beleza permaneça’

Imagem de capa: Mila Supinskaya Glashchenko/shutterstock

Até que um dia eu acordei disposta a deixar essa história de nós dois pra lá…

Até que um dia eu acordei disposta a deixar essa história de nós dois pra lá…

Fazia dias que estava querendo acordar com esta disposição e por que não dizer coragem, de libertar você dos meus pensamentos até então insanos sobre nós dois.

Estava eu lá alimentando algo que não existia. Vivi as amarguras de um amor que se foi e me dei conta de que não fui… Fiquei parada esperando algo que jamais voltaria.

Acordei e realizei através de um sonho que não deveria mais estar ali – Sonhei com um velório, um caixão e um corpo no meio que não soube bem de quem… Mas entendi que representavam a informação do meu inconsciente: deveria sair das emoções que me prendia.

Eu senti que era hora da transição, de enterrar velhos sentimentos sentido por apego e medo. Medo de não encarar os fatos, medo do desconhecido, medo de entender que tudo havia acabado e eu estava lá ainda com a luz apagada e a sala vazia.

Que ingenuidade. Ai vida! Só você mesmo pra me fazer amadurecer.

Então eu levantei, lavei meu rosto, me olhei no espelho. Me reparei. Me senti. Me vi.

“Menina, como você é bonita! Você vem sempre aqui”?Perguntei. Acho que estava me apaixonando por mim.

Respondi: “ Sim, às vezes eu apareço por aqui. Mas é que estive perdida sabe… Estou me reencontrando”.

– “Você tem todo o direito de se perder. Na verdade, é assim que acontecem os maiores encontros. A gente precisa mesmo se perder para se encontrar”.

Eu foi nesse diáologo interno que fui me trazendo pra mim.

Me perguntava diariamente: ” OI! Você está aí?” e me sentia: “Sim!”.

– “toma juízo”!

Comecei a me sentir tão grande, tão tão que não seria possível mais voltar à pequeneza de onde estava apenas para ser amada como queria. Não estava lá o meu amor… estava mesmo nessa grandeza em mim.

Se eu ficasse lá abafada entre sonhos e expectativas, também não me daria a chance de viver algo maior e verdadeiro.

Sinto que podemos ser mais verdadeiros com nossos sentimentos e os viver com profundidade.

Cansei de ser rasa, de viver na marginalidade. Hoje quero ser nobre, viver de abundâncias, de entregas, de coisas que sejam mais concretas.

E essa história de nós dois foi ficando a cada dia mais e mais pra lá…

Fui me desapegando de contatos, de olhares, de vontades, de chamadas, de convites… Fui me desapegando daquele jeito, daquele olhar, daqueles gestos que me faziam ficar.

Fui soltando dia a dia as amarras e me libertando de uma paixão que me pegou pela perna e não me deixou respirar.

E foi assim mesmo… em um dia eu acordei disposta a deixar essa história de nós dois pra lá… Sem mágoas, sem ressentimentos, sem dor, nem piedade. Foi por mim, foi pelo meu amor em mim, fui eu dona de mim.

Imagem de capa: Shymanska Yunnona/shutterstock

Ou você muda o tipo de pessoa que traz para sua vida, ou voltará sempre aos mesmos erros

Ou você muda o tipo de pessoa que traz para sua vida, ou voltará sempre aos mesmos erros

Muitos de nós conhecemos ao menos uma pessoa que entra e sai de relacionamentos com indivíduos que se assemelham demais quanto aos seus comportamentos. Com o tempo, a pessoa começa a fazer as mesmas reclamações sobre o parceiro, sofrendo de novo e, por fim, rompendo com ele, entre lágrimas e lamentações. Então, tudo se reinicia, da mesma forma, embora com um parceiro novo, como num “flashback” sem fim.

Existem pessoas que não conseguem ficar sozinhas por muito tempo e, por isso, engatam um romance atrás do outro. Caso esse engate não leve em conta a maturação dos sentimentos recém-embaralhados, após um término ainda recente, muito provavelmente serão feitas escolhas equivocadas. Sentimentos fragilizados são facilmente enganados, tornando-se, inclusive, presas fáceis de quem quer chegar sugando.

Da mesma forma, muitas pessoas possuem uma falsa imagem de si mesmas, uma visão limitada sobre tudo o que possuem dentro de si. Não se sentem boas o suficiente para que não aceitem o que não seja recíproco. Não se sentem inteiras o bastante para que não aceitem menos do que inteireza. Não se sentem completas e esperam do outro aquilo que só elas mesmas precisam encontrar, e bem dentro de si mesmas.

Existe, ainda, quem ainda não tem clareza sobre o tipo de amor que deseja receber, por ter vivido sem amor verdadeiro até então, ou mesmo por ter se decepcionado toda vez que se relacionou. Há até quem idealize um romance hollywoodiano, perfeito e cor de rosa. A vida a dois, no entanto, não é uma travessia tranquila e perfeita, pois requer concessões, requer não, requer olhar também para si mesmo. Infelizmente, nem todos estão dispostos a esses enfrentamentos.

Portanto, todo fim de relacionamento, embora seja penoso, deverá nos servir como ponto de reflexão sobre o que queremos e não queremos para nossas vidas, bem como sobre quem queremos como parceiros de jornada, visando sempre à felicidade. Afinal, ou mudamos o tipo de pessoa que trazemos para nossas vidas, ou sempre voltaremos aos mesmos erros, só que em outros endereços. Desse jeitinho.

Se não puder te esquecer, vou escrever uma carta te pedindo socorro.

Se não puder te esquecer, vou escrever uma carta te pedindo socorro.

É improvável que alguém consiga esquecer o primeiro amor. Não me refiro ao primeiro namoro ou ao primeiro relacionamento, me refiro àquele amor que a gente traz na lembrança mesmo que não faça mais parte da vida da gente. Aquele sentimento que causou um impacto transformador e sem precedentes, que deu origem ao primeiro “tudo” nas nossas vidas – o primeiro olhar, o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira noite sem dormir – e que nos proporcionou muitas alegrias, lágrimas, lutas e recompensas. Eu acredito que o fato de não vivermos mais esse amor, não quer dizer que tenhamos que esquecê-lo; e que muitas pessoas são infelizes porque não acreditam no amor, ou não investiram de forma plena nesse sentimento, outras acreditam tanto quanto em Papai Noel ou Coelho da Páscoa.

As sensações que sentimos ao amar pela primeira vez, se diferem obviamente do primeiro namoro. No primeiro caso, muitas vezes, usamos frases curtas e penetrantes para demonstrar esse amor que emana de forma simples e natural, ao passo que o namoro denota uma carência que não seria demonstrada num texto inteiro, o que torna tudo muito mais racional.

Atentamos para o primeiro amor, que nos parece ser muito breve, mas tem o peso de um amor eterno. E quando ele chega, vemos que com o que trouxe, pode voltar que continua sendo amor, mesmo quando acabou. (Entenda…)

Muitas pessoas ingressam num relacionamento usando a máxima de que “um novo amor fará esquecer o anterior”. Entretanto julgo que isso seja impossível acontecer, caso contrário, é porque não era amor. Não podemos pensar evidentemente, que há a obrigação de se manter isolado para manter vivo esse amor. Muitas pessoas pensam, de forma errônea, que é impossível aprender a amar, quando passamos pela experiência de perder quem amamos, mas a verdade é que em muitos casos, a desistência revela o verdadeiro amor, quando se abre mão da presença da pessoa amada, apenas para vê-la feliz. Porque nem sempre há compatibilidade entre as pessoas para que haja reciprocidade na sua vida pessoal, como no amor. Nem sempre há entre as pessoas a realização de chegarem ao matrimônio com o seu “grande amor”. O problema em si, não é a beleza do romance ou a falta de amor de uma das partes, mas as incompatibilidades ou os problemas inerentes ao dia a dia das pessoas.

Mas devemos nos lembrar de que o primeiro amor chega quando não se espera. Quem sabe ele se lembre de que à beira daquele rio, havia uma menina que estava brincando e que por um momento, esboçou um sorriso que marcou para sempre? Ou que ela no parque, quando viu aquele menino sentado na grama, sorrindo, ficou encantada e desde aquele dia ela guardou o seu sorriso e tentou nunca mais se esquecer. Então eles se separam. Com o tempo se casaram, e um dia, distantes, se lembraram, cada um no seu mundo, do seu primeiro amor. Eles então sorriem, e dizem a si mesmos: Eu vivi meu primeiro amor, quando tinha tantos anos…

As histórias de amor são sempre parecidas. As pessoas se amam se desejam, mas dificilmente podem viver a realidade de um conto de fadas, O primeiro amor é a loucura que vivemos com louvor. Podemos dizer que nele, há um sentimento muito verdadeiro, mas que depende de muitos fatores para que seja vivido. Entretanto em muitos casos, ficará apenas na lembrança, como um amor marcante, e que será descrito apenas como cartas de poemas.

Imagem de capa: Sergey Furtaev/shutterstock

Viva a vida de verdade

Viva a vida de verdade

Desejamos tanto a chuva e quando ela vem nos protegemos dela. Desejamos tanto o frio e quando ele chega nos agasalhamos reclamando. Depois queremos que venha o calor, mas daí ficamos mais estressados ainda. Pedimos um amor pra toda vida e quando ele aparece, sorrateiro e caladinho, dispensamos ou não sabemos cuidar. Pedimos saúde deitados no sofá. Oramos por bênçãos nos teclados do celular. Queremos emagrecer, engordar, caber na roupa, ajustar, folgar. Queremos barba, queremos depilar. Queremos tudo e tudo fazemos ao contrário. Deixamos as contas pra depois, louças quebradas no armário. Queremos um cachorro e não gostamos dos pelos pela casa. Compramos bicicletas, mas não gostamos de sol na cara.

Nunca estamos felizes essa é a verdade. E seria tão simples o se-lo. Felicidade está naquilo que deixamos acontecer, deixamos aparecer, cativamos, plantamos pra depois colher. Sejamos simples, humildes, menos exigentes, menos marketing e mais produto. Sejamos sorriso gratuito, sejamos abraços fortuitos, sejamos andar ao sol, admirar a lua, banhar na chuva e pisar na lama. Sejamos desarrumar a cama, não maquiar o rosto, se contentar com o esboço, reconhecer quem nos ama. Sejamos um bom dia, sejamos alegria, sejamos um café, sejamos fé, sejamos criança, sejamos lambança.

Mude, fuja dos rótulos, esqueça o virtual, tire as máscaras do varal, saia do populismo, caia no improviso de escrever ao léo e quem sabe o céu você possa conquistar. Vamos viver com o que temos, ensinar o que aprendemos, reclamar menos. Levantar quando sofremos, compartilhar o que recebemos, aproveitar o clima sem reclamar. Adapte-se, tire o que te esquenta, vista outra pra esquentar.

Viva mais, emburre menos. Tenha um dia maravilhoso com coisas de verdade, humildade, amor, pessoas de osso e carne, gestos concretos, amizade e muita coisa real em nossas vidas. Viva a vida de verdade.

Imagem de capa: Andrey Bondarets/shutterstock

Minha maturidade

Minha maturidade

Com as rugas que começam a marcar no rosto a passagem do tempo, a gente vai aprendendo a lidar melhor com tudo. Os óculos de grau já não ajudam apenas a ler e ver ao longe, já nos dizem que é hora de enxergar a vida de uma outra forma. É o tempo trabalhando nossa individualidade, alicerçando nossa personalidade, fazendo a gente entender que a perfeição da vida, é justamente que ela nunca vai ser totalmente perfeita, mas a gente tem que abraça-la com amor, como ela vier.

Os cabelos insistindo em nascer branqueados, nos dão a coragem necessária para sermos mais sinceros sempre. Simplicidade. Coragem. Humildade. Bondade. Idade. Verdade. MATURIDADE. Essa é a palavra. Ser maduro não é ser adulto. É ter coragem, é ter opinião, amor-próprio, é adquirir a visão diferenciada para o que é comum, é saber apreciar devagar cada momento que a celeridade da juventude faz passar despercebido. É ser simples, porém intenso em tudo que faz. Humilde, mas com um orgulho que o proteja.

Amadurecer é começar a aproveitar a viagem, sem muito se preocupar com o destino final. É quando a gente aprende a lidar com os impulsos, dominá-los e vencê-los, coisas que a energia da mocidade nunca deixou.

A maturidade vai fazendo a gente compreender a vida sem se iludir, navegar os dias com tranquilidade, aceitar os erros sofrendo menos e querer realizar os desejos com mais vontade. Maturidade é dizer não quando preciso, é dizer sim quando necessário, é baixar e levantar a cabeça nos momentos certos. Nem trouxa, nem espertalhão, apenas sábio o bastante pra não se importar com qualquer coisa. É driblar os imprevistos com bom humor. É revidar o ódio com amor. É rir das provocações, é entender as indiretas e rir mais ainda, é responder ás negatividades com desprezo, mas com respeito. É não desejar mais ter a vida que o outro tem. É querer, ter e aceitar a nossa própria. É ir em busca do que acreditamos, sem dar mais ouvidos aos pessimistas. Amadurecer não é envelhecer, não é se tornar velho. Não significa idade, não é um número. Significa a bagagem de conhecimento do que tiramos das lições de tudo que o tempo veio, pacientemente, ensinar. Ela vem aos poucos, vai ficando, vai moldando, vai construindo, vai fazendo morada nas falas, nos atos, no que nos dispomos a ouvir, ver e falar.

Maturidade são os sonhos realizados, sem anúncios. São as vitórias, sem palanques. São os momentos eternos, sem registros. São os dias inesquecíveis, sem postagens. É o resumo das pancadas, das lágrimas, das alegrias e conquistas. É conseguir lidar bem com doçuras e amarguras, com os azedos e com as delícias, com o vigor e com a preguiça. É o equilíbrio da balança da vida. É confiar na esperança. É acreditar na própria fé. Amadurecer é chegar ao ápice da juventude sem apodrecer. A adolescência já passou. A velhice depende de nós mesmos para chegar. É o período mais longo da nossa vida, passe por ela tendo a consciência sobre quem se tornou, entenda que somos todos iguais, que toda a história, todo caminho percorrido, todos os sonhos imaginados e objetivos realizados, foram somente pra que tenhamos a certeza absoluta de que a felicidade anda de mãos juntas com a maturidade e elas independem de posses, títulos, bens, companhias, idade, empregos, dores, amores… Elas dependem somente de aceitarmos ser quem somos e de perceber que chegou a hora de cuidar e de viver a nossa própria vida em paz. O restante é consequência.

Imagem de capa: Jacob Lund/shutterstock

Deixe o outro ser ele mesmo. Se lhe faz mal, afaste-se, ué.

Deixe o outro ser ele mesmo. Se lhe faz mal, afaste-se, ué.

É muito simples. Assim como os cachorros latem e as pombas arrulham, os gatos miam e as mulas zurram, os patos grasnam e os cavalos relincham, as pessoas falam. E quase sempre falam o que querem, quando e como quiserem. Fazer o quê?

Diferentes das galinhas, que cacarejam quase sempre do mesmo jeito, pessoas se expressam de modos diversos. Porque são diferentes, ora essa! Têm vozes distintas, pontos de vista discrepantes, impressões variadas sobre a vida. Logo, dizem, pensam, sentem e fazem coisas desiguais.

Pior: tem gente que diz uma coisa mas pensa outra, sente uma terceira e faz uma quarta. Acontece muito. Quase sempre, o que uma só pessoa diz é diferente do que ela faz, que por sua vez é diferente do que ela pensa, que é diferente do que ela sente. Mas essa é outra história.

Importa mesmo é que ninguém é obrigado a concordar com nada. Aliás, discordar e divergir não é só um direito de cada um. Quase sempre é um dever! Eu posso e devo discordar de quem faz algo que me ofende ou agride. Aceitar, jamais. Nem em nome da boa convivência! Se eu não aceito, eu me manifesto. E aí é que está: pessoas também são diferentes em seu jeito de se posicionar contra o outro. Tem gente que xinga, que briga, que bate, gente que tenta conversar, explicar, mudar a opinião e o jeito de ser alheios. E tem gente que dá as costas e vai embora. Deixa o outro ser quem ele é e pronto. São os meus favoritos.

A vida é um sopro. Pra que jogar tempo no lixo? Escolho outras pessoas com quem estar ou sigo em frente só. Agora, tentar mudar o outro, transformar as visões e atitudes arraigadas em seu jeito de ser, “corrigir” à força o que achamos errado, aí já é um pouco demais. Tiro n’água, murro em ponta de faca, peteleco na própria orelha. Perda de tempo.

Afinal, o outro não é obrigado a pensar como eu. A sentir como eu sinto. A fazer o que eu faço. Se assim fosse, ele seria eu. E não o outro.

Pensando desse jeito, me custa entender por que tanta gente berra, chora, esperneia e rosna quando avista algum raciocínio aparentemente discrepante do seu. Agorinha ainda, um sujeito senhor da razão, desses que compraram a verdade e a trancaram num cofre, deu de ofender a minha mãezinha assim, sem mais, depois de ler uma croniqueta que escrevi sob o título “Fuja das almas mesquinhas. Viver é um exercício de grandeza”. Pois o sujeito, descendente direto de Moisés, veio bater em minha cara com a tábua do décimo primeiro mandamento. Nosso único diálogo foi mais ou menos assim:

Ele: ALMA MESQUINHA É A PROSTITUTA QUE BOTOU VOCÊ NO MUNDO!

Eu: Perdão?

Ele: PREFIRO SER MESQUINHO DO QUE SER COVARDE, QUEM FOGE É COVARDE!!!

Eu: Ah, é? Que bom pra você!

Ele: TE CHAMEI DE COVARDE. VOCÊ É BURRO, SURDO OU SEU EGO GIGANTE NÃO TE DEIXA ENXERGAR NADA ALÉM DO SEU UMBIGO?

Eu: Sou tudo isso ao mesmo tempo. Obrigado. Você também é ótimo.

Ele: NÃO SIGO NUNCA MAIS ESSA B… DE PÁGINA!!!

Eu: Au revoir.

Ele: VAI SE F… SEU FILHO DA P…!!!

Eu: Você também, meu irmão…

E bloqueei o sujeito para todo o sempre. Não por moral ou por grandeza. Foi por preguiça mesmo. Sempre é. Confesso meu pecado mais recorrente. Tenho a mais funda preguiça de gente rasteira, superficial, incapaz de aceitar que cada um pode pensar de seu jeito. Gente muito disposta a arrastar o outro à força para seu jeito pessoal de ver o mundo me dá enjoo, desencadeia minha labirintite.

Ainda que eu passasse a madrugada explicando que a crônica é só uma reflexão impessoal, que não está julgando um cidadão ou outro, que tão somente pondera sobre a falta de grandeza que nos assola a todos e lá vai conversa, de nada adiantaria. Meu interlocutor só ficaria satisfeito se ouvisse de mim: “você está certo. Eu sou um idiota. Desculpe-me por ter pensado que podia pensar do meu jeito.”

Lamento, mas isso eu não faço.
“Ouvir” o outro não significa necessariamente “concordar” com ele. O fato de eu discordar de alguém não quer dizer que eu me recusei a escutá-lo. Eu ouvi e não concordei, ué.

Deixemos o outro ser quem ele é: o outro. Se ele não me agrada ou me faz mal, passo de lado e sigo em frente. Para longe, para bem longe.

Imagem de capa: Alena Ozerova/shutterstock

INDICADOS