Gente ruim cai sozinha

Gente ruim cai sozinha

Que a sorte me proteja de gente focada, predestinada, concentrada e mais uma série de adjetivos que tais, terminados em “ada”. Conto aqui com a sua imaginação! Essa gente disposta a fazer maldade é de uma concentração que eu vou te dizer. Porque é preciso muita concentração mesmo para prejudicar os outros.

Estragar a vida alheia requer planejamento, estratégia e disciplina. A pessoa precisa dedicar tempo na observação; mais um tempo na coleta de dados; e mais um outro tempo na tarefa de reprodução.

O que mais se vê nesse mundo, seja virtual ou real é gente fake. Estou para dizer que podemos considerar que seja essa a praga do século 21! Ideias roubadas, repaginadas e maquiadas vendidas como se fossem uma criação original.

Plágios feitos sem a menor cerimônia, sem nenhum critério, sem qualquer sentimento de culpa ou necessidade de disfarçar. Sinto-me transportada para a Idade Média, rodeada de copistas, que apenas reproduzem letras, palavras e textos, sem ao menos entendê-los.

O objetivo é claro e obscuro na mesma intensidade: conseguir visibilidade, popularidade, notoriedade e mais uns tantos substantivos que tais – não todos terminados em “ade”, é bem verdade! Conto novamente com a sua rica imaginação!

Eu só fico aqui pensando que a pessoa deve dormir pendurada num cabide, né? Porque não há travesseiro – nem que seja de plumas de ganso da Baviera – que faça a mágica de subtrair o peso de cabeças tão vazias e mal-intencionadas, a ponto de lhes garantir um descanso justo.

Se bem que, se o dito cujo – ou dita cuja – for mau caráter mesmo, dormirá feito uma pedra. Nada mais lógico para quem tem uma cabeça oca e tão pouco favorecida que não deixa outra alternativa a não ser a de reproduzir, copiar e imitar.

Abençoados sejam os dispersos, os distraídos, aqueles que vivem com a cabeça nas nuvens a criar ideias novas, a trazer beleza ao mundo a esparramar leveza, em atitudes e gestos de generosidade e criação de novos caminhos.

Abençoados sejam os que cantam desafinados, os que desenham bonecos palito, os que fazem o melhor ovo frito do planeta, os que dividem a única barrinha de cereal que sobrou na bolsa. Abençoados sejam para sempre, os que são ainda gente o suficiente para viver daquilo e com aquilo que é capaz de produzir, criar e oferecer.

E que os “similares” ponham suas barbinhas – ou cílios postiços – de molho. Porque é verdade que existe muita gente que não vale nada se dando bem. Sim, eu sei! Mas eu ouso acreditar que é pelo talento, pela honestidade e pela veracidade que a vida segue o curso natural do desenvolvimento e do sucesso. E creio, também, com toda a minha fé concreta, que gente ruim cai sozinha, mais dia ou menos dia.

Imagem de capa: Victoria Chudinova/shutterstock

Fiz um trato comigo, só aceito amores inteiros

Fiz um trato comigo, só aceito amores inteiros

Nem adianta chegar com esse papo de vamos ver como as coisas se desenrolam. Não sei qual é a sua visão sobre relacionamentos, mas a minha é a seguinte, amor bom é aquele que não vive de migalhas.

Achei melhor deixar isso bem claro para você. Assim ninguém perde tempo, sabe? Ninguém precisa ficar dando desculpas ou tentando encontrar explicações óbvias que, por sinal, estão estampadas nas suas atitudes. Poupe o meu coração, te peço. Ele não sente para ser mais uma conquista. Ele existe para saborear o que merece. Percebe a diferença?

Vou te explicar de uma forma diferente, presta atenção. Eu não consigo viver esperando o amor cair do céu. Penso que se você quer, gosta e tem interesse por alguém, nada mais natural que demonstre. Não precisa ser o tempo inteiro, não é isso. Mas você concorda comigo que demonstrar, muitas vezes, está nos detalhes? Então, detalhes. Carinhos, cuidados e respeitos são facilmente encontrados nos detalhes. Se você não pode ou não quer, fala comigo e cada um segue o seu caminho.

Entenda, não estou fazendo cobranças e muito menos agindo por carência. Acredite você ou não, me conheço muito bem. Sei dos meus pontos fracos e fortes. Acontece que parei de enxergar problemas nas minhas entregas. Me recuso a aceitar que é um crime deixar o meu coração respirar sinceridades. Eu sei, você já teve uma cota de passados mas, que coincidência, eu também. Não seria bacana se a gente deixasse a verdade aparecer?

Não fica com medo, vai. Pode ser que tudo termine conosco chateados? Pode. Mas ao menos terá sido pela confiança em não esconder sentimentos. É bem melhor do que empurrar um amor goela abaixo. Isso sim é carência.

Pois bem, esse é o trato que fiz comigo. Decidi aceitar somente amores inteiros. Não rolam metades, parcelamentos e o quando estou com vontade. O meu amor próprio não vive de migalhas. Logo, não é com você que vou esperar para ver como as coisas se desenrolam.

Imagem de capa: Lia Koltyrina, Shutterstock

Comer, Rezar, Amar e Introjetar

Comer, Rezar, Amar e Introjetar

“E uma vez que já estou ali ajoelhada no chão em posição de súplica, deixem-me manter essa posição enquanto viajo no tempo até três anos atrás, até o instante em que toda esta história começou – um instante que também me encontrou nessa mesma exata posição: de joelhos, no chão, rezando. No entanto, tudo o mais em relação à cena de três anos atrás era diferente. Daquela vez eu não estava em Roma, mas sim no banheiro do andar de cima da grande casa no subúrbio de Nova York que eu acabara de comprar com meu marido. Eram mais ou menos três horas da manhã de um novembro gelado. Meu marido dormia na nossa cama. Eu estava escondida no banheiro pelo que deveria ser a 47a noite consecutiva, e – como em todas aquelas outras noites – estava soluçando. Soluçando com tanta força, na verdade, que uma grande poça de lágrimas e muco se espalhava à minha frente sobre os ladrilhos do banheiro, um verdadeiro lago formado por toda minha vergonha, medo, confusão e dor. Eu não quero mais estar casada. Eu estava tentando tanto não saber isso, mas a verdade continuava a insistir. Eu não quero mais estar casada. Não quero morar nesta casa grande. Não quero ter um filho.” Elizabeth Gilbert em Comer, Rezar, Amar.

Embora não seja próprio do espírito gestáltico falar em tipologia, Fritz Perls e outros gestaltistas descreveram alguns “modos operantes” utilizados para evitação de contato com o outro, com o meio ou com situações de conflitos emocionais. Os gestaltistas chamaram estes modos de se relacionar de “Mecanismos de Evitação do Contato” ou “Mecanismos de Defesa”.

Os mecanismos de evitação de contato são recursos que desenvolvemos desde muito cedo, primeiramente como forma de ajustamento e sobrevivência ao modo (muitas vezes disfuncional) como nosso sistema familiar está organizado; posteriormente repetimos os mesmos padrões em outros círculos relacionais. Todos nós alternamos entre os diferentes mecanismos, de acordo com dada situação ou conflito, por isso não se deve “engessar” alguém em um determinado mecanismo. Porém, fala-se em prevalências, que moldam nosso funcionamento e personalidade.

A introjeção é uma manobra onde o sujeito incorpora ideias, sentimentos, comportamentos e uma série de outros aspectos do ambiente. Há um processo passivo de “engolir” o que vem de fora e assim a pessoa acaba entrelaçando as próprias escolhas, preferências e opiniões com as dos outros e tendo dificuldade de diferenciar o que é realmente seu.

Segundo Perls, “não há nada em nossas mentes que não venha do meio, e não há nada do meio para o qual não haja uma necessidade orgânica, física ou psicológica. Estas devem ser digeridas e dominadas se quiserem se tornar nossas de verdade, realmente uma parte da nossa personalidade. Mas se simplesmente as aceitamos completamente e sem crítica, baseados na palavra de outra pessoa, ou porque estão na moda, ou são de confiança, ou tradicionais, ou antiquadas ou revolucionárias – tornam-se um peso para nós. São realmente indigeríveis. Ainda são corpos estranhos, embora tenham se instalado em nossas mentes.” (Fritz Perls em “A abordagem gestáltica”, p. 46 e 47)

No livro “Comer, Rezar, Amar”, a personagem principal se vê em meio a uma crise existencial quando dá-se conta que a vida “nos eixos” que escolheu não é exatamente a vida que ela quer viver. Ela termina um relacionamento de anos, abandona uma vida considerada por muitos “perfeita” e embarca em uma jornada em busca de autoconhecimento, do que lhe serve, e o que não lhe serve, de desconstrução de crenças e valores.

A pessoa que introjeta é aquela que segue regras, faz tudo “certinho”, mas nem sempre é feliz. Introjetores são pessoas que se esforçam para manter e seguir regras, muitas vezes são religiosos, conservadores e radicais em seus posicionamentos. Introjetores podem ser extremamente incoerentes, pois não conseguem manter conexão clara entre o que acreditam e o que fazem. Outras vezes, esforçam-se demasiadamente para manter essa coerência, tornando-se pessoas cristalizadas, sem autenticidade e espontaneidade. As crises surgem quando encontram-se em situações conflituosas e de grandes impasses emocionais e dão-se conta que mesmo fazendo tudo “certinho”, os resultados nem sempre são aqueles esperados.

Lembrando que todo mecanismo pode ser funcional, a introjeção é saudável quando utilizada em situações em que as regras precisam ser cumpridas para que a ordem seja mantida. Ninguém pode sair nu na rua, por exemplo, existe um senso comum em que nos baseamos para que tenhamos uma vida relativamente harmoniosa em comunidade. Introjetar torna-se um mecanismo neurótico quando passamos a seguir regras, sem questionar, a nos esforçar para agradar os demais, quando nos tornamos radicais em nossas crenças e valores sem considerar ou ponderar crenças e valores alheios.

Para uma vida emocionalmente saudável é preciso que aprendamos a “mastigar” antes de engolir os muitos introjetos que nos são impostos desde pequenos. A partir da maturidade podemos criar autonomia para fazer nossas próprias escolhas e filtrar aquilo que nos serve. O convite é ampliar o mapa mental através da análise individual de cada conflito e queixa, com contextualização para aquela situação específica, também é importante falar sem utilizar-se de generalizações e entender o que funciona para si, que é diferente do que funciona para os outros. Sim, a saúde consiste no equilíbrio, e temos que lembrar sempre que ele é diferente para cada um de nós.

Imagem de capa: Reprodução

O Quarto de Jack, Os Outros e Educação, quando o cinema fala ao coração

O Quarto de Jack, Os Outros e Educação, quando o cinema fala ao coração

Quando assistimos a um filme quase sempre não imaginamos que existe por trás da história muito mais do que está sendo contado.

Podemos assistir ao delicado “O Quarto de Jack” e não imaginarmos que o filme não trata apenas da vida de uma mãe sequestrada e seu filho, mas de cativeiros emocionais nos quais muitos de nós vivemos diariamente.

Podemos assistir aos “Os Outros” e não nos darmos conta de que ele trata simbolicamente dos danos causados pela superproteção materna aos filhos.

Ou ainda passar os olhos por “Educação” e não perceber que o filme nos conta que não só coisas são roubadas, mas também pessoas, falando do ponto de vista emocional.

Aqui faço uma breve análise psicológica desses três ótimos filmes que parecem óbvios, mas que estão muito longe disso!

1. O Quarto de Jack, 2016 (Na Netflix)

contioutra.com - O Quarto de Jack, Os Outros e Educação, quando o cinema fala ao coraçãoSinopse: Joy (Brie Larson) e seu filho Jack (Jacob Tremblay) vivem isolados em um quarto. O único contato que ambos têm com o mundo exterior é a visita periódica do Velho Nick (Sean Bridgers), que os mantém em cativeiro. Joy faz o possível para tornar suportável a vida no local, mas não vê a hora de sair dali. Para tanto, elabora um plano em que, com a ajuda do filho, conseguirá enganar Nick e retornar à realidade. O filme pode ser facilmente encontrado na internet.

Você pode até mesmo imaginar que esse filme trata de uma mulher que teve a infelicidade de encontrar um sequestrador em seu caminho, mas esse filme fala de muito mais que isso. O Quarto de Jack fala da caverna de Platão e de como é estar e sair dela.

Joy foi sequestrada e dentro de um quarto minúsculo tenta criar, da forma mais saudável possível, o seu amado filho. Joy não é livre. Seus olhos mal conseguem tocar as nuvens do céu pela diminuta janela do teto. Joy é vítima de uma situação deveras abusiva que se perpetua por longos anos. Em sua cabeça passa então a figurar o mundo hipotético que existe lá fora. A casa de infância imaculada, os pais felizes, um mundo externo amistoso em contraponto ao mundo de tormentos experimentado todos os dias.

Joy está na caverna de Platão. Acorrentada por um homem abusivo em uma situação angustiante, mas ciente de que precisa sair.

O quarto é uma metáfora da caverna e a caverna é o lar de um número considerável de pessoas. Não percebemos, mas muitos estão presos, por opção ou não, em cativeiros emocionais.

Quando Joy sai do quarto ela se encanta com a liberdade, mas logo descobre que o mundo pós-caverna muitas vezes dói e sangra. Sua família de infância está desintegrada e o mundo não é tão amistoso quanto ela pensava. Joy tem um choque de realidade.

Sair da caverna não é algo sossegado. Sair da caverna implica ver as coisas de outra forma, implica deixar as certezas por caminhos quase sempre incertos. Sair da caverna implica, muitas vezes, sentir dor, mas mesmo assim ser incapaz de ficar.

Notem que ao voltar ao quarto Joy e o filho acham o quarto pequeno demais. Apesar da realidade, por vezes, doer, quem sai da caverna não consegue mais voltar a ela, felizmente.

2. Os outros, 2001 (Na Netflix)

contioutra.com - O Quarto de Jack, Os Outros e Educação, quando o cinema fala ao coraçãoSinopse: Durante a 2ª Guerra Mundial, Grace (Nicole Kidman) decide se mudar, juntamente com seus dois filhos, para uma mansão isolada na ilha de Jersey, a fim de esperar que seu marido retorne da guerra. Como seus filhos possuem uma estranha doença que os impede de receber diretamente a luz do sol, a casa onde vivem está sempre em total escuridão. Eles vivem sozinhos seguindo religiosamente certas regras, como nunca abrir uma porta sem fechar a anterior, mas quando eles contratam empregados que quebram essas regras, imprevisíveis consequências acontecem. O filme está na Netflix.

Os Outros é um ótimo suspense (um pouco assustador sim – tenho que admitir), mas um filme profundamente psicológico e muito bem dirigido por Alejandro Amenábar.

Simbolicamente o filme trata da superproteção materna e das consequências psicológicas dela sobre os filhos. Grace é uma mãe controladora e superprotetora.

Ela acredita que tudo que vem de fora é ruim e prejudicial às crianças. Ela pensa que até mesmo a luz do sol pode matar seus filhos. De acordo com ela a luz pode fazê-los sufocar, dentre outras coisas. Nesse ponto é muito bom lembrarmos da célebre frase de Freud na qual ele afirma: Quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo. A luz não os sufocará, mas ela sim.

A escuridão da casa remete a um estado de perpétuo medo e assombro. Até mesmo a luz artificial, que poderia indicar a clareza de ideias e a abertura às mudanças é negada. O fato das portas não ficarem abertas impede que o ar corra livre pela casa. A casa é uma prisão. A superproteção materna é uma prisão emocional que incapacita os próprios filhos.

O marido que desaparece pode também indicar o esquecimento do cônjuge ou o distanciamento dele, algo que pode acontecer quando há uma conduta superprotetora, como a da personagem principal.

Os empregados são “os outros”. O mundo é visto como “os outros”. “Os outros” são aqueles que estão contra Grace. A personagem pensa assim. Na verdade, “os outros”, nesse filme, são aqueles que trazem a verdade e a clareza de ideias. São os que têm coragem de tirar as cortinas e de apontar a luz da verdade.

3. Educação, 2010

contioutra.com - O Quarto de Jack, Os Outros e Educação, quando o cinema fala ao coraçãoSinopse: Jenny Carey (Carey Mulligan) tem 16 anos e vive com a família no subúrbio londrino em 1961. Inteligente e bela, sofre com o tédio de seus dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta. Seus pais alimentam o sonho de que ela vá estudar em Oxford, mas a moça se vê atraída por um outro tipo de vida. Quando conhece David (Peter Sarsgaard), homem charmoso e cosmopolita de trinta e poucos anos, vê um mundo novo se abrir diante de si. Ele a leva a concertos de música clássica, a leilões de arte, e a faz descobrir o glamour da noite, deixando-a em um dilema entre a educação formal e o aprendizado da vida.

O filme Educação é um filme surpreendente, no meu ponto de vista. Nele conhecemos a jovem Jenny, uma jovem que sonha com uma vida adulta diferente da vida tediosa de seus pais. Então ela, em um terrível acaso do destino, conhece David, um psicopata gentil e delicado que a vê não como uma bonita moça, mas um objeto a ser roubado. Nem só objetos e bens podem ser roubados, uma pessoa também pode ser levada.

David é um golpista. Ele rouba coisas (para ele coisas e pessoas têm o mesmo peso) que acredita merecer e que, na cabeça dele, estarão muito bem em suas mãos. Rouba quadros de velhinhos e filhas de famílias tradicionais. Leva de cada lugar o que há de mais valioso. Jenny não é a primeira, nem a última a ser roubada.

O interessante em Educação é que David ilude as pessoas com seus próprios desejos. Como se ele os pudesse adivinhar e realizar. David trabalha com a tentação que existe em cada ser humano e assim ele rouba sem ser percebido, quase que com o consentimento da vítima. Reparem ao assistirem ao filme na conduta dos pais com relação a ele. David, sabe quais chaves usar para destrancar todas as portas sentimentais, diferente do jovem pretendente da filha que no começo do filme se senta à mesa e é massacrado pelo pai de Jenny.

O filme é um alerta e trabalha belamente com a ideia de que não só o que é material pode ser levado. Muitas pessoas são ludibriadas sentimentalmente, se deixam levar literalmente e, quando descobrem, um grande estrago já foi feito.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Pare de fingir que não se importa e comece a não se importar de verdade

Pare de fingir que não se importa e comece a não se importar de verdade

Não se importe tanto. Amores fúteis acabam com um sopro. A gente gera expectativas, faz planos, sonha longe, mas o que não é para ser, a vida dá um jeito de levar.

Aposto que não são raros os momentos em que, nos momentos de desespero, você questionou se um dia essa dor iria passar e eu respondo categoricamente: a cura só acontece quando há uma intenção que objetiva nela. C.S.Lewis dizia de forma metafórica que “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.

Toda cura envolve dor. Note que nenhuma ferida é cicatrizada, sem antes, mexerem nela. Na área sentimental o processo de cura não é diferente. Quando uma ferida é aberta, tem que doer muito, para não doer nunca mais.

Muitas vezes, focamos em relacionamentos amorosos e os temos como fábrica de frustrações. Porém, quando me refiro a não se importar, refiro-me  à todas as relações sociais que estabelecemos ao longo da vida.

Pode ser que sua frustração esteja baseada em um amigo que te traiu, um sócio que te levou a falência ou um desconhecido que jogou ao vento comentários maldosos sobre seu comportamento. Mesmo assim, o conselho continua sendo o mesmo: não se importe tanto!

Não importa o que falaram a seu respeito, se o outro já está namorando ou se traíram a sua confiança. Isso só revela o caráter de quem cometeu tais atos e, você, não tem nada a ver com isso.

O processo de cura começa quando você entende que ninguém vale a sua paz. Que ninguém vale tanto a pena a ponto de você se perder. Que, ao cair, são poucos os que nos ajudam a levantar.

Começa quando você sai do banco de expectadores e vira protagonista da própria vida. Quando se torna dono de si e não projeta no outro a responsabilidade da própria felicidade. Quando você entende que antes de amar o próximo, você tem que se amar.

Sabe, quando paramos de nos importar com sentimentos pequenos, as coisas fluem de forma natural. Começamos a respeitar o próprio tempo e a entender a própria bagunça.

Quando paramos de dar ouvidos à dor, paramos de arrumar desculpas para justificar a presença do outro em nossas vidas. Não aceitamos metades, relacionamentos mornos e mentiras sutis. Em outras palavras: o pouco não interessa mais.

Importe-se menos. Viva mais. Se é verdade que não existe aprendizagem sem dor, é verdade, também, que nem tudo valha a sua.

Imagem de capa: brickrena/shutterstock

Ei… Diga-me o que você é, uma lagarta ou uma borboleta?

Ei… Diga-me o que você é, uma lagarta ou uma borboleta?

Quero começar esse texto, fazendo um questionamento:

O que você é? Uma lagarta ou uma borboleta? Alguém que traz repulsa ou simpatia. Alguém que destrói ou alguém que edifica?

Existem pessoas que tem o “estranho dom” de afastar outras pessoas. É como se fosse um imã partido quando tentamos juntar os polos, os pedaços na mesma peça. Elas estão sempre carregando em si, algo negativo e fúnebre. Entretanto existem pessoas tão amáveis, que ainda que não digam uma única palavra conseguem cativar outras pessoas, apenas com a sua atitude e seu sorriso. Essas pessoas tem sempre o dom de levar alegria por onde passam.

Eu me atrevo a citar o exemplo das lagartas e das borboletas devido ao seu aparente antagonismo. Enquanto as lagartas destroem as plantas, aquelas mais viçosas e queridas, a borboleta, com sua beleza admirável, transmite vida ao colaborar com a polinização. As borboletas são importantes agentes polinizadores, entretanto não é isso o que nelas nos chama atenção e sim, o seu colorido diversificado, que servem como um documento de identidade. É interessante observar que apenas os pesquisadores querem ter contato com lagartas, considerando o fato de algumas serem tóxicas. Por outro lado, qualquer pessoa, quando não se interessa em tocar, quer ao menos admirar a beleza da borboleta, com curiosidade. E tudo isso devido a uma metamorfose e que acontece com a maioria dos insetos.

Bem, creio que algumas pessoas deveriam passar por esse processo de metamorfose, mas teria que ser uma transformação completa, por dentro e por fora. Sim, porque um estudo realizado numa universidade chinesa mostrou que as pessoas simpáticas são mais bonitas. O que quer dizer que, pode-se economizar com produtos de beleza, apenas exercendo a simpática. Eis ai um dos grandes segredos de algumas pessoas que conhecemos e que fazem parte do nosso dia a dia. Isso é uma realidade. Assim também como é muito comum, encontrarmos pessoas – especialmente aquelas que não se enturmam – que vivem como se fossem lagartas. Isso as torna feias, desinteressantes e até são tratadas com indiferença. Quando essas pessoas aparecem, muitos sentem vontade de saírem do recinto. No entanto, se é uma pessoa que se parece com uma borboleta que aparece, as pessoas se sentem até mesmo encantadas e, muitas vezes, a alegria contagia o recinto. Então, para muitos, esses pequenos seres nojentos e repugnantes, ou atrativos e simpáticos, são a representação daquilo que existe no interior das pessoas com as quais convivemos. Trazendo influência positiva ou negativa ao local onde estão. Trazendo cheiro de vida ou não, dependendo do modo de ser e agir de cada uma delas, individualmente.

O mais importante é nos lembrarmos, no entanto, que muitas pessoas se esquecem de que lagartas e borboletas são o mesmo ser. Elas se diferem apenas por um ciclo da vida, uma transformação. E que para acontecer a metamorfose, a lagarta tem que se trancar num casulo. Então devemos parar de hostilizar as pessoas enquanto estão trancadas nos seu mundo, pode ser que depois de recebem ajuda, elas se transformem numa linda borboleta.

Há então, um desafio sob nova perspectiva. A folha que alimenta a lagarta, o casulo que a esconde para a transformação e a flor que mostra a beleza em sua simplicidade para receber o pouso da borboleta.

Então decida: Lagarta ou borboleta?

Imagem de capa: Doreen Salcher/shutterstock

Ficar sozinho (a) também é assumir um relacionamento sério

Ficar sozinho (a) também é assumir um relacionamento sério

Quem foi que disse que só é amor quando junto de outra pessoa? Não ter ninguém além de si para compartilhar vários inteiros é para os corajosos. Porque ficar sozinho (a) também é assumir um relacionamento sério. É pra valer saber desfrutar do próprio amor.

Tem gente que acha que a vida só faz sentido se tiver uma companhia. Que para ser feliz e conhecer as coisas boas do mundo alguém precisa estar, em diversas ocasiões, participando e completando possíveis lacunas emocionais. Essa gente esquece que, para viver de verdade, tanto faz quem está do lado. É maravilhoso poder contar com pessoas que saibam distribuir reciprocidades, não tenha dúvida. Mas, se em dias solitários você não tiver a coragem para aproveitar momentos seus, ligue o alerta, você não está se dando o respeito que merece.

Porque ficar sozinho (a) exige comprometimento. É uma jornada de autoconhecimento que sempre deve ser levada a sério. Investir nas próprias pernas é um tipo de intimidade que você não encontra em qualquer esquina. É contraditória essa onda de corações que saem por aí correndo atrás de um amor para chamar de seu e que, no fundo, não sabem absolutamente nada dos primeiros cuidados do coração. A solidão também é um relacionamento. Você se leva para sair, para crescer e para, intencionalmente, enxergar todos os melhores lados que possui.

Aprender a se curtir é um exercício leveza. Não ignore os sinais do sim que você cultiva dentro da alma. Cuide-se, valorize-se e, o mais importante, ame-se. Assuma de uma vez por todas um relacionamento sério consigo. Pare de adiar conversas interiores e felicidades particulares com a desculpa de que precisa conhecer o amor em abraços desconhecidos.

O seu amor está aí, não percebe?

Imagem de capa: polinaloves, Shutterstock

Gatos pelados, uma exótica opção para os alérgicos.

Gatos pelados, uma exótica opção para os alérgicos.

Imagine viver em um mundo peludo e fofo, onde os Pets chegam dominando nossos lares, e não poder tocar ou compartilhar o mesmo ambiente com eles? Desesperador, não? Pois esta é a realidade de muitas pessoas extremamente alérgicas que não podem sequer frequentar lugares onde hajam pelos. Mas e se por alguma mágica, ops, ciência, isso fosse possível de se reverter?

Para a alegria dos gatófilos, uma boa notícia. Algumas raças de gatos pelados, como os Shpynxs e Devon Rex, já circulam entre os gatis mais exóticos, proporcionando o que seria um distante sonho em realidade. Cientistas descobriram que um em cada 50 mil felinos não tem a proteína Fel d1, responsável pelas reações alérgicas, dessa maneira iniciaram uma seleção para cruzamentos, isentando filhotes dessa proteína. Muitos acreditam que somente os pelos causam alergia, mas essa proteína também é encontrada na saliva e urina dos animais. Dessa forma fica mais claro entender que mesmo com a ausência de pelagem, algumas pessoas continuavam a ter reações sem entender as causas.

Algumas raças de gatos pelados já não comportam essa proteína, portanto, pessoas alérgicas não desencadeiam o mal ao manusear esses felinos. Os peladinhos não chegam a ser deslumbrantes a lá o gato Persa, mas são dotados de uma peculiar aparência, personalidade amável, brincalhona e muito especial. São gatinhos sensíveis, que demandam alguns cuidados. Por não possuírem pelos, precisam de protetor solar todos os dias, e limpezas com lenços umedecidos para controlar a oleosidade da pele evitando dermatites e odores desagradáveis. Demandam uma certa atenção quanto a temperatura corporal, já que não possuem a pelagem como proteção natural. A alimentação a base de proteínas também auxiliam nesse controle da pele e temperatura.

Há quem sinta repulsa pelo aspecto exótico e quase alienígena desses felinos, em contrapartida, criadores afirmam a paixão que seus clientes relatam por esses pelados, onde não trocam por nenhuma outra raça. Mesmo pessoas não alérgicas se renderam aos encantos desses simpáticos peladinhos.

A pele se assemelha a borracha, são tão ativos quanto os seus primos peludinhos, e necessitam de tanto amor quanto eles. Se alguma falta de esperança batia na porta, e o desejo de ter alguns miadinhos alegrando a vida estava apenas na imaginação, é hora de correr para um gatil especializado e realizar o grande sonho de ter um gato em sua vida.

Imagem de capa: Dmitruj/shutterstock

Existem pessoas que nos impulsionam, outras são o que podemos chamar de “sugadores de alma”.

Existem pessoas que nos impulsionam, outras são o que podemos chamar de “sugadores de alma”.

Gostaria de começar esse texto fazendo uma observação ou mesmo dando um conselho: Não permita que pessoas pessimistas te derrubem, não deixe que inundem de desânimo a sua alma.

Uma pessoa pode ser tecnicamente brilhante, inteligente e com suas habilidades bem ali, transbordando para todo lado, mas acredite… Dependendo das pessoas que estão ao seu lado, tudo pode terminar num rótulo de fracasso. É muito comum vivermos cercados de pessoas que nos admira até que as superemos em algo. Daí então surgem as “más conversações” que podem se tornar um “fardo” na vida de muita gente. Eu diria que são pessoas que costumam semear em terrenos áridos e não querem que a outras semeiem em terreno fértil para que não haja concorrência na venda dos frutos. Porque obviamente, o sucesso alheio lhes traz inveja, ansiedade, etc. Claramente se vê nessas pessoas, o motivo do seu fracasso, são na verdade “sugadores de alma”. Em muitos casos, são pessoas que nunca serão felizes no casamento, que jamais terão sucesso financeiro, que nunca serão promovidas no trabalho e assim por diante, simplesmente porque se sentem impotentes, e como isso as incomoda, não querem ver o sucesso de seus pares. Ficam tristes com a felicidade dos outros, como se o sucesso alheio as incomodasse, por isso tratam o tempo todo, de desanimar outras pessoas, ao invés de motivá-las. Não aplaudem e até se afastam em alguns casos. Toda essa insatisfação na verdade, é fruto de inveja. Lembro-me muito bem que durante o meu tempo num curso profissionalizante, juntamente com mais 51 alunos, ouvi numa palestra, um instrutor desqualificar um aluno, simplesmente pelo fato de ser negro. Ele chegou a afirmar: “Você nunca vai chegar aonde eu cheguei, nunca será um… porque você é negro”. Bem, tudo que ouvimos ali foi um disparate, porque sabíamos que raça alguma tem privilégio numa ascensão profissional. Cito o que já dizia Albert Einstein: “Todos nós somos gênios, mas se você julgar um peixe pela sua capacidade de escalar uma árvore, ele passará o resto da vida acreditando ser um idiota”.A capacidade individual de cada um deve ser medida por si mesmo. Isso é pessoal e tem um papel muito importante no desenvolvimento social e profissional de cada pessoa. Durante os anos, vamos nos especializando e desenvolvendo certos conhecimentos, levando em consideração a capacidade e aptidão daquilo que basicamente está dentro de nós, e isso tem um papel importante e fundamental para o nosso desenvolvimento como ser humano. Enquanto houver um ser determinado a lutar pra vencer, haverá sempre outro que quererá vencer sem lutar. Então eis ai mais um conselho:

Não se entregue, salve a si mesmo desses sugadores de alma. Aproxime-se de pessoas que o veja como vencedor.

Imagem de capa: YuriyZhuravov/shutterstock

Abra os olhos! Não perca os detalhes poéticos nas cenas da vida

Abra os olhos! Não perca os detalhes poéticos nas cenas da vida

É fim de tarde de outono, há uma nuvem enorme cor de rosa no céu e tudo em volta dela é amarelo ouro, um céu de baunilha brilha em cima de sua cabeça e você não vê. Absorvido pelo celular, perdeu o show gratuito.

As paredes descascadas daquela casa antiga que você passa todos os dias formam desenhos de bichos e rostos; a janela quebrada da mesma casa é uma moldura para um jardim selvagem, mas você, imerso em preocupações, nunca olhou para o lado, não perde tempo com terrenos baldios.

No caminho ainda, há uma porta aberta para um brechó antigo e uma senhora idosa, talvez a dona do estabelecimento, toma chá numa cadeira de balanço, quase tornando-se parte do insólito lugar. Mas você não se interessa por lugares tão escondidos, roupas tão velhas e pessoas que já saíram de moda.

Na estrada para a praia, você no carro olhando pela janela e tudo parece monótono, mas as várias espécies de plantas – samambaias, trepadeiras, bromélias… – se emaranham, crescem, sobem umas nas outras, confundindo-se, criando um mutualismo loucamente brasileiro em vários tons de verde e ainda por cima nasce uma flor roxa no meio. Mas você não viu, porque, impaciente, matava o tempo jogando no celular.

Seu amigo fez a janta, colocou folhinhas de manjericão colhidas na hora em cima do simples macarrão com molho vermelho, você nem olhou a refeição que engolia quase sem paladar. Seu amor beijou seus olhos e suas mãos quando você se queixou da canseira do trabalho, mas você não tinha mais energia para sentir e perceber o gesto de carinho.

Uma criança cisma em chamar a sua atenção, subindo e descendo o rosto no banco do ônibus a sua frente, você quase se distrai, mas respira fundo, expira a monotonia que vem de dentro e volta a se embrenhar nas nuvens densas e importantes dos seus pensamentos.

Desenharam um coração com chocolate em pós no seu cappuccino, mas você só consegue ficar mergulhada na lembrança do seu coração machucado.

Tanta coisa a ser resolvida, tanta coisa a ser digerida, é preciso foco no que importa, é preciso seguir rápido, é preciso pensar no amor, no trabalho, nas conquistas a serem atingidas, nas frustrações de não ter chegado aonde queria ainda, é preciso não se deixar perder nas pequenas coisas, o tempo urge, a vida é curta, as pessoas se atropelam, a corrida é injusta, a canseira toma seu corpo e sua alma. É preciso ver a vida em preto e branco por todos os lados cegos que se olha até que, depois de muita luta, você conquiste finalmente o direito de se libertar e apreciar as singelezas da vida. Se é que até lá seu olhar saberá encantar-se novamente.

Mas agora, a vida, os detalhes, as pequenas belezas… ficam para quem tem tempo de se permitir ser criança para sempre. Não é mesmo?

Imagem de capa: HBRH/shutterstock

Resiliência: levantar-se toda vez que a vida ferra com tudo

Resiliência: levantar-se toda vez que a vida ferra com tudo

Constantemente, passamos por situações que esgotam as nossas forças e minimizam os nossos ânimos. Por mais que tentemos escapar, inevitavelmente nos decepcionaremos com as pessoas, seremos rejeitados por alguma paixão, reprovaremos em provas e concursos, seremos preteridos em vagas de empregos ou em promoções em nosso trabalho, choraremos o luto de pessoas especiais, dentre tantos outros reveses pelo caminho.

Estamos sempre preparados para receber o melhor em nossas vidas, ao passo que fugimos à necessidade de estarmos prontos a enfrentar o avassalamento que certos momentos trarão – e eles virão. Parece-nos ser muito natural expormos os sucessos, as conquistas, tudo aquilo que deu certo em nosso caminho, porém, dividirmos nossos equívocos e fracassos chega a ser quase impossível, uma vez que negar algo parece afastar aquilo de nós. Doce ilusão.

Negar nossos fracassos não os impedirá de baterem à nossa porta, obrigando-nos a encarar nossas fraquezas, a refletir sobre o que viemos fazendo de nossas vidas, para que possamos repensar e operar mudanças que nos tornem habilitados a deixar de cometer os mesmos erros. É inevitável despendermos tempo para voltarmos nossas atenções ao nosso pior, digerindo aquilo tudo e renascendo para novas tentativas, com a mente reoxigenada.

O tempo nos ensina a confiar nele e nas verdades que ele sempre nos traz, bem como na infalibilidade da colheita a que todos estaremos sujeitos, de acordo com a qualidade das semeaduras que deixamos pelos caminhos. É preciso que estejamos conscientes de que muito do que sofremos é resultado tão somente de nossas ações, ou seja, agir com vistas às futuras consequências do que fazemos hoje nos poupará de amanhãs dificultosos.

Após as devastações emocionais que passam por nossas vidas, derrubando tudo o que há pela frente, minando nossos sentidos e roubando nosso fôlego, será o momento de decisão, de retomada, de reerguimento. A dor, a revolta e o alquebramento que fatalmente nos invadirão serão úteis, para que esgotemos nossa tristeza, sorvendo-a até que se esvazie e sejamos preenchidos pela construção paulatina de certezas cheias de esperança, com a ajuda dos amigos, da família, do parceiro, de quem, indubitavelmente, estará sempre conosco, junto, disposto, com acolhimento sincero e sorriso verdadeiro.

Trata-se de um processo lento, que requer paciência e resignação, fé e confiança em nós mesmos, em nossa capacidade de nos reinventarmos, de solucionarmos o que parecia impossível, de enxergar refletidamente o mundo à nossa volta, aprendendo e reaprendendo a cada dia. Não poderemos agir e escolher corretamente o tempo todo, mas poder contar com amor verdadeiro nos apoiando fará toda a diferença nos momentos em que a vida não dá certo. É assim que a gente cresce e é assim que a gente vira gente de verdade.

Imagem de capa: Petrenko Andriy/shutterstock

Da vida quero o melhor

Da vida quero o melhor

Houve um tempo em minha vida que eu não sabia desejar.

Desejava pouco, não me achava à altura de receber tanto, e não estava pronta para querer o melhor.

O algodão doce, com aquela textura que desmancha na boca e enche os olhos, não era pra mim. Preferia brincar de riscar o chão com o palito que sobrava a me lambuzar com o açúcar colorido daquela nuvem açucarada.

Imaginava que podia ser feliz sem desejar muito. É certo que podia, mas será que lá no fundo eu não tinha medo de ser feliz por completo?

O medo de desejar e não conseguir, a dúvida de correr o risco de me frustrar e a pequena estima que eu tinha por mim mesma me isolavam de tudo de bom que a vida me reservava.

Mas a vida me surpreendeu, e me deu de presente o algodão doce inteiro, gigante, colorido e muito açucarado.

Aprendi a aceitar os presentes da vida. Aprendi a permitir que a doçura me encontrasse e saciasse meu paladar. Aprendi a não recusar o melhor que pode me acontecer, e finalmente entendi que mereço boas surpresas sem me sentir endividada.

A auto sabotagem é muito perigosa. Diferente da humildade, que aceita e agradece, a auto sabotagem é orgulhosa, afasta as boas surpresas e se presenteia com avareza. Aceita farelos, recusando a fatia inteira por não ter aprendido a reconhecer-se merecedor.

Quero mais nuvens de algodão em minha vida. Quero pedaços inteiros derretendo em minha boca e sujando meus dedos. Quero açúcar colorido borrando meus dentes e enfeitando minha língua. Já não me contento em riscar o chão usando o palito do algodão doce que não provei.

Que você deseje o melhor da vida e descubra que não há mal nenhum em aceitar a felicidade inteira, doce, completa.

Que você recuse o café morno, o vinho insosso, o leite rançoso.

E perceba que merece o dia que começa com um bule cheio de café quentinho, xícara de porcelana, beijo de bom dia, pãozinho da padaria, roupa que serve, sapato que não aperta, cabelo que coopera.

E, enfim, que reconheça que não há mal nenhum em desejar o melhor da vida a si mesmo.

A vida _ e os algodões doces _ agradecem…

Para adquirir o livro “A Soma de Todos os Afetos”, de Fabíola Simões, clique aqui: “Livro A Soma de todos os Afetos”

Imagem de capa:r Kseniia Perminova/shutterstock

Pode quebrar a cara, moça, só não pode desistir de amar.

Pode quebrar a cara, moça, só não pode desistir de amar.

Ah, o amor. Tão bom senti-lo, tão amargo afastá-lo. Imponente, arrebatador, gigante, inexplicável. Descrito em poemas, filmes, romances, o amor move a história de cada um de nós, bem como a roda da humanidade, acordando nossos sonhos e enterrando as ilusões. Preenche tão prazerosamente nosso ser, que, quando fere, assola nossos sentidos com força dolorosamente insuportável. E quantas vezes então prometemos a nós mesmos nunca mais amar de novo.

Não escolhemos a quem amaremos, pois independem de nossa razão o sentimento de carinho, a química, a completude que nos toca, quando nos encontramos com certas pessoas. Até poderemos tentar nos forçar a gostar de alguém, para que consigamos conviver pacificamente, na escola, no trabalho, nos ambientes sociais, porém, certas pessoas entram em nossos corações sem pedir licença, sem senão nem por quê, como se já estivesse reservado a eles um lugar especial dentro de nós. Amor que adentra, preenche, amor tempestade de verão, que vem com tudo.

Outros nos conquistam aos poucos, de mansinho, sorrateiramente, à medida que vamos conhecendo melhor. Não fazem alarde, não se destacam em meio aos demais, mantendo a autenticidade ali, silenciosamente, mas sempre presente. Quando nos damos conta, eles já estão dentro de nós, fazendo parte do nosso melhor, assim do jeitinho que são. Nada forçam, nunca se negam, sempre a postos. Amor que se constrói, que se conquista, que se instala e ponto. Que vem feito música.

Inevitável, porém, infeliz certeza, encontrarmos o vazio, a dor, as lágrimas, para além da afetividade gostosa que o amor traz. O tempo esfria as coisas, distancia, revela. O tempo descortina o véu das ilusões, pois ele anseia pela verdade – e ela então chega. Chega muitas vezes de forma desagradável e antipática, mas sempre transparente. E é assim que iremos reafirmar algumas certezas e amargar o que não era, quem nunca deveria ter sido é nada junto de nós.

Infelizmente, traremos para junto de nossas vidas quem nos decepcionará, quem nos trairá, quem não nos ama, porque não se ama, porque não sabe amar. Ficaremos arrasados, descrentes de tudo, rebelando-nos contra o amor, tentando expulsá-lo da gente, fugindo e negando. Pois é, será tudo em vão. O amor não pede permissão, simplesmente acontece.

Sim, iremos amar e amar, de novo e de novo, à revelia de nós mesmos, felizmente. Porque mais triste do que chorar a desilusão amorosa é passar o resto de nossos dias sem partilhar amor. Não desista de amar. Quebre a cara, mas não deixe de amar. Alguém haverá de te devolver inteireza, verdade, riso e lágrima na medida certa, para sempre. É assim que tem de ser e assim será.

Imagem de capa: sergey causelove/shutterstock

A batalha mais difícil é aquela que a gente ainda não lutou

A batalha mais difícil é aquela que a gente ainda não lutou

Nem sempre somos muito espertos em relação ao que deixamos entrar, passar, sair ou continuar em nossas vidas. Em geral, fazemos opções movidos pela emoção. E este, talvez, seja o maior e mais perigoso equívoco sobre o qual temos total e intransferível responsabilidade. Decisões precisam ser tomadas no plano da razão. Depois de tomada a decisão, aí sim, podemos nos emocionar com, e por ela.

Também não é muito do nosso feitio entender, assim de pronto, as coisas que nos acontecem. Corremos o grande risco de supervalorizar ninharias e menosprezar aqueles acontecimentos que de fato deveríamos entender como experiências de conhecimento, autoconhecimento e transformação.

Não raras vezes, o que nos modula é o quanto aquilo que nos acontece causa impactos imediatos em nossas vidas, em vez de buscarmos compreender que absolutamente tudo, tudo mesmo, se dilui e se ressignifica com o tempo. Também não é nada incomum termos percepções doloridas ou cheias de empolgação, baseados num estado de ânimo temporário, em vez de nos lembrarmos que é da nossa natureza a inconstância das emoções e da intensidade naquilo que sentimos.

Quantas vezes já não nos aconteceu de acharmos graça em algo que nos aconteceu no passado; e que, naquele momento parecia ser o fim do mundo, o fim da picada, o fim do fim? Quantas vezes já não nos arrependemos por não termos dado a devida importância à desolação de um amigo, só porque ele andava assim meio melodramático e aquilo já parecia ter virado um hábito a esgotar a nossa paciência? E, quantas outras vezes não nos lamentamos por termos esquecido de lembrar, que para cuidar de quem quer que seja precisamos, antes, estar inteiros, porque não adianta querer curar feridas alheias enquanto as nossas próprias feridas ainda sangram?

É… não é mesmo nada simples conviver. Também não é nada menos complexo viver com a nossa própria pessoa. E não há garantias de acerto, assim como não soam alarmes ou sirenes antes de cometermos algum erro, seja ele pequeno e corriqueiro ou terrivelmente grave. E, não, não há como escapar das coisas inesperadas e nem como prever o último dia de nada, nem de ninguém. Somos todos guerreiros travando batalhas pessoais, encarando novos desafios todo santo dia. E a batalha mais difícil não é aquela da qual ainda guardamos lembranças, arranhões e cicatrizes. A batalha mais difícil é aquela que a gente ainda não lutou!

Imagem de capa: Tomsickova Tatyana/shutterstock

INDICADOS