O amor de verdade é leve e não incomoda

O amor de verdade é leve e não incomoda

Você pode querer encontrar os mais variados significados do amor, mas nenhum deles vai bater com o que sente. Sabe porquê? Porque o amor não é isso que você tira de uma caixa, montado e pronto para consumo. O amor de verdade não tem um manual, mas só dura se for leve.

Nunca acreditei quando me falaram que o amor de verdade é uma utopia. Que é uma sorte na vida esbarrar com outro coração que saiba despejar intensidade, parceria e paciência. Discordo plenamente de quem desistiu de ver o amor com o olhar da realidade. Não é como se eu tivesse desenhado o jeito certo do amor dentro de mim e que só as coisas que sinto devam ser consideradas. Apenas penso que, na disposição ideal, é possível fazer de uma relação amorosa algo saudável e recíproco.

Depende dos envolvidos, lógico. Mas não é um grande mistério abraçar o amor compartilhado. Entender que um relacionamento não é uma competição já é meio caminho andado. Deixar os egos de lado, também. Trocar farpas e coices com quem você ama é descuidar daquilo que os uniu. A leveza de um amor de verdade está naquilo que cada metade procura entregar. É uma conversa entre corações, sabe? É olhar nos olhos e respeitar os caminhos da pessoa que está com você. Sem nada forçado. Simplesmente porque vocês são diferentes que combinaram de serem melhores para o mundo e para cada um.

O amor de verdade não incomoda, não tira o ar do lugar e nem traz peso para o instante. Ele é tão natural quanto consegue ser. E isso é uma das maiores recompensas de estar num relacionamento maduro, onde o amor provoca e te empurra para sensações maiores e de paz.

Leve. Precisa ser leve em qualquer dia, em qualquer situação. Se doer no peito é tudo, menos amor. Só perca o sono por amor em caso de consenso para uma noite de urgências.

Imagem de capa: Anna Berdnik, Shutterstock

Gatos e ratos

Gatos e ratos

Não são todas as pessoas que vibram e buscam viver experiências diferentes. Não são todas que ousam experimentar iguarias exóticas de outras culturas, ou que buscam viver um “friozinho na barriga” dentro de uma montanha russa, ou saltam de paraquedas para ter a sensação de um voo, ou elegem um esporte radical…

Encontramos pessoas que preferem lugares conhecidos, sabores familiares e se sentem temerosas, incapazes de enfrentar aquilo que lhes é estranho.

Pessoas que percorrem os mesmos caminhos, moram a vida inteira na mesma casa, acreditando que o mais seguro e agradável é o caminho conhecido.

Elas não têm o ímpeto dos grandes navegadores, nem a paixão de chegarem ao topo de grandes montanhas, assim como os alpinistas.

Entretanto, quando esse jeito de ser e de pensar torna-se um dogma, uma verdade absoluta, instala-se a desunião entre os seres humanos, a discórdia, os preconceitos, os desrespeitos e tantos outros males que afetam a humanidade como um todo.

Indivíduos que não suportam ideias ou comportamentos diferentes, com dificuldade em compreender a singularidade de cada pessoa, acarretam o empobrecimento e estancamento do seu crescimento psíquico e provocam conflitos e cisões no âmbito familiar, profissional e social.

A vida é uma grande escola, isso é consenso! Não estamos aqui para viver como se estivéssemos num piquenique. Há muitas tarefas a serem assimiladas, o que nos faz sair da ignorância rumo à sabedoria, como bem nos ensinam os filósofos.

Um quesito difícil de ser alcançado é anunciado pelo poeta Paulo Mendes Campos, na sua crônica Para Maria da Graça: “Se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato”.

Prova difícil… Talvez, muitos de nós tiraríamos zero ao deparar com a dificuldade em respeitar um outro ponto de vista, o qual nada mais é do que a vista de um ponto.

Ao ficarmos frente às pessoas que não têm as nossas convicções, precisamos “acolher” e não “tolerar”, pois tolerar é suportar, aguentar, ficar indiferente, enquanto que acolher é receber o outro na qualidade de alguém como eu, lembra Mario Sérgio Cortella.

É preciso assimilar que pessoas diferentes de nós podem, sim, ter muito a nos ensinar, desde que deixemos nossas resistências de lado.

Afinal… O que seria do azul se todos gostassem do vermelho, não é verdade?

Imagem de capa: Eric Isselee/shutterstock

Umberto Eco alerta: “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos.”

Umberto Eco alerta: “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos.”
SPETT.UMBERTO ECO A NAPOLI (SUD FOTO SERGIO SIANO)

Uma das maiores dificuldades comunicativas diz respeito à capacidade de expor pontos de vista sem exagerar no tom impositivo ou mesmo agressivo com que se defendem argumentos, mesmo os mais incoerentes. Cada vez mais intolerantes, as pessoas parecem precisar revestir seus discursos de agressividade, para que pareçam convincentes.

Com o advento da Internet, todos possuímos espaços virtuais onde podemos nos expressar, expondo nossos pontos de vista sobre assuntos vários. Ilusoriamente protegidos pela distância que a tela fria traz, muitas vezes excedemos no radicalismo com que pontuamos nossos comentários, sem levar em conta a maneira como aquelas palavras atingirão o outro.

A frieza do cotidiano e a concorrência de mercado acabam por contaminar nocivamente os relacionamentos humanos, que se tornam cada vez menos afetivos, tão robóticos quanto as máquinas de café que nos entopem os sentidos. Importamo-nos quase nada com os sentimentos alheios, com a historia de vida alheia, com a necessidade de entender as razões que não são nossas, pois queremos a todo custo extravasar tudo isso que se acumula dentro de nós em meio à velocidade estressante de nossas vidas.

Nesse contexto, quando expomos aquilo que pensamos sobre determinado assunto, principalmente relacionados à política e/ou à religião, acabamos sendo vítimas de contra-ataques violentos que não rebatem o que expusemos, mas tão somente tentam neutralizar nossa verdade com destemperos emocionais isentos de criticidade. Aceitável seria, entretanto, uma contra-argumentação pautada por reflexões plausíveis, o que não ocorre, em grande parte dos casos.

O fato é que poucos estão dispostos a se abrir ao que o outro tem a oferecer, a dizer, a mostrar, a trazer de diferente para suas vidas, porque é trabalhoso refletir sobre idéias já postas e cristalizadas dentro de nós, ao passo que manter intacto aquilo que carregamos há tempos é cômodo e tranquilo. E quem não quer não muda, não recebe o novo, somente dá em troca o pouco que tem e, pior, muitas vezes de forma deselegante e depreciativa.

Portanto, é necessário que aprendamos a nos expressar e a debater nossas ideias com quem realmente estiver pronto para trocar conhecimentos, com quem possui uma postura receptiva para com o novo e que não se importa com a quebra de certezas. Não percamos nosso precioso tempo com quem só ouve o que quer e da forma que lhe convém, diminuindo-nos por conta da diversidade de opiniões. Esses definitivamente não merecem nem mesmo nossa presença.

Imagem de capa: Reprodução

Adultização: a infância descartada

Adultização: a infância descartada

Os olhos, a boca e a cabeça são de menina; olhos enormes em tamanho, mas miúdos em experiências; boca de riso fácil e paladar infantil, apaixona-se pelos sabores doces da vida, mas não é capaz de articular palavras em defesa de sua infância; cabeça cheia de ideias e fantasias que não dão conta de se proteger das armadilhas dos apelos publicitários.

Meninas transformadas precocemente em mulheres. Meninas expostas a uma mídia cada vez mais agressiva que tira das pequenas o gosto pelas coisas tão simples da infância. Meninas cujos responsáveis abrem mão do direito e dever de protegê-las e garantir a elas que as etapas da vida sigam o processo natural da maturação.

Os olhos, boca e cabeça dos nossos meninos, tampouco escapam da aceleração do ingresso no mundo adulto. Garotos ainda bem pequenos são estimulados a interessar-se pela beleza física e explícita feminina, emitindo opiniões “masculinas” acerca de sua aparência. Garotos que deveriam andar com o rosto sujo e o corpo suado de brincadeiras, vivem numa rotina atrofiada e cheia de compromissos; passam horas em estado quase vegetativo tragados pelas telas do computador, do celular ou do videogame. Meninos que carregam nas costas a expectativa de pais ansiosos em vê-los transformados em adultos de sucesso.

Meninos e meninas sofrem o impacto de agendas superlotadas; enfrentam currículos apertadíssimos em escolas “puxadas”; correm de um lado para o outro envolvidos em atividades que variam de aulas de inglês a treinos de esgrima. Padecem da falta de tempo para estar na própria casa, inventar brincadeiras, descansar ou simplesmente passar algum tempo fazendo absolutamente nada, gastar algum tempo do dia perdidos na maravilhosa e única experiência da infância.

A sociedade contemporânea olha para o ócio como se fosse uma droga perniciosa, levando ao extremo a premissa de que precisamos permanecer produtivos as 24 horas do dia. Os adultos, enterrados em rotinas desumanas de trabalho, aprimoramento profissional e consumismo desenfreado, incluem suas crianças nessa cultura cega de acúmulo de coisas, necessidades e funções. O que se vê, lamentavelmente, é o encurtamento da infância, essa fase da vida que dura no máximo até os 12 anos de idade vem sofrendo golpes eficazes em sua durabilidade.

É excessivamente comum observarmos pais exibindo orgulhosamente a postura precoce de seus filhos; alardeando o quanto são maduros, espertos para a idade, extremamente inteligentes e capazes de dar conta da rotina da escola que é tão exigente e ainda, serem dignos de admiração em atividades esportivas que envolvem horas de treino semanal. É preciso cautela para não deixarmos passar desapercebido que essas expectativas além da conta podem colocar em perigo o desenvolvimento emocional dos pequenos.

Estimular os meninos e meninas a ter responsabilidade com suas atribuições escolares, oferecer-lhes a oportunidade de aprender uma outra língua e proporcionar-lhes a chance de praticar um esporte que favoreça a socialização e contribua para a saúde física, são comportamentos esperados de pais cujo intuito genuíno é garantir condições plenas de desenvolvimento para seus filhos. O perigo se esconde nos excessos. É muito fácil errar a mão na quantidade de atribuições sob o pretexto de preparar seus filhos para a vida.

É preciso refletir sobre o descompasso que existe entre o desenvolvimento cognitivo e o emocional. Muitas vezes, embora a criança apresente de fato um excelente desempenho intelectual e pareça assimilar com facilidade novos desafios, ocorre que ela não tem condições emocionais para suportar uma sobrecarga de compromissos e o enfrentamento de preocupações advindas da expectativa que se projeta sobre elas; é muita pressão.

O resultado é a ocorrência cada vez mais frequente de crianças sofrendo de “males de gente grande”. Crianças estressadas, ansiosas e até deprimidas. Por estarem sempre às voltas com situações que envolvem a conquista de resultados, podem ocorrer dificuldades de relacionamento com outras crianças. Essas dificuldades acontecem em função da formação de uma postura competitiva e desprovida da capacidade de respeitar o diferente ou o menos apto. Outra questão muito importante é a falta de habilidade para lidar com frustrações e situações não planejadas que podem levar, inclusive, a bloqueios no processo de aprendizagem.

Além das questões relativas ao comportamento, a saúde física da criança adultizada também sofre um grande impacto. Incentivados a reproduzir o comportamento dos mais velhos, a criança acaba aderindo a uma dieta pobre em nutrientes e rica em calorias. O resultado é o número alarmante de meninos e meninas às voltas com problemas de saúde tipicamente adultos como pressão alta e alteração nas taxas de colesterol.

Uma boa oportunidade para comprovar a indiscutível ocorrência da adultização infantil em nossa sociedade pode ser a observação de uma inocente festa de aniversário de criança. Detalhes que aparecem inofensivos, mas não são: letras de música cujo conteúdo é de arrepiar os pelos da nuca; coreografias sensuais reproduzidas por crianças que mal aprenderam a andar; meninas calçando sapatos de salto e usando maquiagem; meninos vestidos como pequenos adultos e exibindo cortes de cabelo no melhor estilo “estrela do futebol”.

O fato é que nada disso é normal; e, pior, parece nos proporcionar um retrocesso a tempos em que não se sabia que há diferenças cruciais e orgânicas entre as necessidades físicas, psíquicas e sociais de adultos e crianças. A boa notícia é que ainda dá tempo. Dá tempo para parar, observar e refletir sobre as consequências dessa adultização precoce. Dá tempo para assumir a responsabilidade adulta que precisamos ter em relação à proteção, manutenção e respeito à infância de nossas crianças.

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Afinal, existe a pessoa certa na hora errada?

Afinal, existe a pessoa certa na hora errada?

Como disse Caio: “O amor não se tem na hora que se quer, ele vem no olhar […]”. Sendo assim, não há como controlar os acasos da vida, tampouco o amor. Ele pode chegar de repente, quando menos esperamos. E aí? O que fazer? Agarrar essa oportunidade ou esperar um momento mais oportuno? Afinal, existe a pessoa certa na hora errada?

Muita gente responde que sim. E digo, não estão totalmente erradas. Nem sempre estamos em um bom momento para viver o que uma relação de verdade exige. Podemos estar dando um foco no trabalho, na faculdade, ou preparando-nos para uma temporada fora do país, aquela viagem tão esperada. E, de repente, você se pega apaixonado. O que fazer? Amar ou não amar? Eis a questão.

No entanto, todas as questões supracitadas parecem um pouco clichê e deterministas, como se somente essas coisas impedissem um amor. Não viver uma relação amorosa pode acontecer por motivos muito mais “banais” e, em todos os casos, dependem de você. Trocando em miúdos, querer amar é fácil, difícil é viver o que o amor exige. Enquanto você restringir o amor a um evento casuístico e querer alguém que se amolde perfeitamente a sua vida, a pessoa certa sempre aparecerá no momento errado.

O amor é também uma ação positiva e, como tal, depende de alguém disposto a praticá-lo. Da mesma forma, não existe alguém perfeito que chegará e se encaixará perfeitamente à sua vida. As pessoas têm defeitos, têm problemas, têm dores, têm angústias e não, não sorriem o tempo inteiro, pelo menos as de bem. Assim, amar alguém é, antes de qualquer coisa, estar disposto a permitir que alguém bagunce a sua vida.

Obviamente, existem momentos mais conturbados e difíceis para se viver um amor, mas, mesmo em momentos que parecem mais “oportunos”, haverá muitas dificuldades, pois o amor exige esforço.

Desse modo, não importa se o momento é mais ou menos oportuno, a pessoa certa sempre parecerá aparecer no momento errado, uma vez que a vida é um contraste perene. Ou seja, sempre há bagunça a arrumar e, embora um amor de verdade traga coisas maravilhosas, também traz bagunça e talvez você não esteja disposto a ter mais essa bagunça na sua vida.

Por isso, não existe o momento certo ou adequado para viver um grande amor. Existem oportunidades e estas não aparecem quando queremos, elas simplesmente aparecem. Cabe a cada um aproveitar a sua oportunidade e fazer da hora errada o momento certo. Não que seja fácil, mas, se não quiser se arrepender de ter deixado a oportunidade de amar alguém de verdade passar, é necessário fazer com que a relação dê certo.

Esse, talvez, seja o grande problema. Não estamos muito dispostos a sair da nossa zona de conforto para nos dedicar a alguém. Essa é a razão de jogar a culpa do insucesso amoroso no momento. Não! A culpa não é do momento, por mais que ele seja difícil, a culpa é da falta de esforço, da falta de querer, da falta de fazer, da falta de agarrar essa oportunidade como se fosse única. Outras oportunidades podem aparecer ao longo da vida, mas também não podem, ou não da mesma forma, então, deixá-la passar nunca é a melhor opção.

Independentemente do momento, sempre haverá alguma coisa que precisa ser arrumada, que precisa melhorar, além do medo de entregar-se a um desconhecido e tornar-se vulnerável. Assim, o momento sempre será errado, às vezes mais, outras vezes menos, mas sempre errado, essa é a regra. A exceção é a pessoa certa, que aparece em raras oportunidades na vida e, como raras, deveriam ser valorizadas ao máximo.

De repente, a gente acorda, olha no espelho e percebe que os anos se passaram. Percebe a brevidade da vida. Percebe que a vida não comporta reprises. Percebe que o amor é como um poço no deserto. Não sabemos onde está, mas, quando encontrado, deve ser abraçado com imensa alegria. A beleza da vida está nesses encontros que ela nos proporciona. Então, o momento pode não ser o ideal, mas, se existe amor, há beleza até mesmo no deserto. A escolha entre beber ou não beber a água é sua.

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Esqueça o príncipe encantado, fuja com o lobo mau

Esqueça o príncipe encantado, fuja com o lobo mau

Certa vez um amigo me perguntou se eu concordava com essa história de que as mulheres preferem o lobo mau ao bom moço. Não respondi. Ou melhor, respondi sim, apenas com um sorriso meio cínico. É que a verdade eu não sei, eu me furto de pensar sobre isso, mas depois resolvi gastar um tempo e umas doses de uísque pensando no assunto e cheguei às seguintes conclusões.

Da mesma maneira forma que “quem nasceu pra lagartixa nunca vai ser crocodilo”, quem nasceu pra príncipe Disney nunca vai ser lobo mau. Não tem a ver com DNA. Tem a ver com atitude e postura, pequeno gafanhoto. De maneira semelhante, homens e mulheres sentem-se atraídos pelo perigo, é da nossa natureza – quer perigo afetivo maior do que dormir na mesma cama que um lobo ou uma loba? Eu, sinceramente, não consigo imaginar.

Em primeira instância, nossas relações são movidas pelo desejo. Negar isso é como negar que a Terra é redonda, ou que o jazz é a maior invenção americana de todos os tempos até o momento, ou ainda, e mais grave, que o Ferroviários é o melhor time de futebol em atividade. Pura blasfêmia.

Não conheço viva alma que não se interesse primeiro pelo que pode acontecer na cama pra, só então, pensar no futuro, tipo casa, filhos, cachorro e todas essas coisas que só quem acredita em felicidade conjugal pensa. Buscamos movimento, ficar em movimento sempre e, convenhamos, andar pra cima e pra baixo num cavalo branco financiado por papai pode até ser legal, mas poder uivar pra lua tomado por um instinto selvagem é bem mais.

Ei, você aí. É, você mesmo que nesse momento está me achando um ogro. Vem cá, me responde uma coisa. Você nunca flertou com o proibido? Nunca se interessou por quem não devia? Nunca pensou por um momento sequer em como seria bom experimentar daquilo que não pode? Pra você que respondeu que não, aposto duas garrafas de Sailor Jerry que está mentindo descaradamente só pra impressionar alguém com quem quer desesperadamente trepar.

Ronaldo Bôscoli, lobo por excelência, sintetiza bem o que estou querendo dizer nos seguintes versos: “Talvez a mulher do próximo/Cismada com meu mistério/Com meu sapato, meu drama/Ou simplesmente adultério”. Coisa de gente de verdade, feita de carne e osso, constato.

Se há uma coisa que a clássica fábula nos ensina é que o lobo mau é o único que vai realmente prestar atenção em você, já que é ele quem te vê melhor, te escuta melhor, te cheira melhor e ainda por cima te come melhor.

Não devemos nos enganar. Somos facilmente impressionáveis e qualquer coisa que nos cause um pouco de medo ou espanto nos fascina. Afinal, é mais fácil ter medo de alguém que usa colán, com cabelo super bem penteado e lavado três vezes ao dia com shampoo de babosa havaiana ou de algo com garras, presas e de temperamento indefinido?

Às minhas companheiras de lua e mesa, fica também o aviso para que tomem cuidado pra não se deixarem enganar, pois há muito carneirinho em pele de lobo por ai. Gente que na rua rosna, uiva e sai mijando em tudo quanto é poste, mas que na cama faz “miau”.

No fundo, todo mundo procura um lobo mau pra chamar de seu.

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10 filmes para quem vê a vida com os olhos do coração

10 filmes para quem vê a vida com os olhos do coração

A lista é pessoal, variada, não técnica e baseada em um único critério: filmes que eu vi e adorei.

Ou seja, se pelo conteúdo apresentado você achar que pode gostar das dicas, espero sinceramente que  as aproveite! Esses são alguns dos filmes que eu indico para meus amigos.

1- Bagdad Café (Percy Adlon, 1987)

Depois de brigar com seu marido e abandoná-lo na estrada, a turista alemã Jasmin (Marianne Sägebrecht) caminha pelo deserto do Arizona até chegar ao posto-motel Bagdad Café. Recebida com aspereza por Brenda (CCH Pounder), a dona do local que acabou de colocar o marido para fora de casa, Jasmin aos poucos se acostuma com os clientes e hóspedes do motel.

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2- Intocáveis (Eric Toledano e Olivier Nakache, 2012)

“Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas. Aos poucos ele aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais a Driss por ele não tratá-lo como um pobre coitado. Aos poucos a amizade entre eles se estabelece, com cada um conhecendo melhor o mundo do outro.”

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3- Memórias de uma Gueixa (Rob Marshall, 2005)

Chiyo (Suzuka Ohgo) foi vendida a uma casa de gueixas quando ainda era menina, em 1929, onde é maltratada pelos donos e por Hatsumomo (Gong Li), uma gueixa que tem inveja de sua beleza. Acolhida por Mameha (Michelle Yeoh), a principal rival de Hatsumomo, Chiyo ao crescer se torna a gueixa Sayuri (Zhang Ziyi). Reconhecida, ela passa a desfrutar de uma sociedade repleta de riquezas e privilégios até que a 2ª Guerra Mundial modifica radicalmente sua realidade no Japão.

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4- O Exótico Hotel Marigold (John Madden, 2011)

Os aposentados Muriel (Maggie Smith), Douglas (Bill Nighy), Evelyn (Judi Dench), Graham (Tom Wilkinson) e mais três amigos decidem curtir a aposentadoria em lugar diferente e o destino é a Índia. Encantados com o exotismo do local e com imagens do recém restaurado Hotel Marigold, a trupe parte para lá sem pestanejar e são recebidos pelo jovem sonhador Sonny (Dev Patel). O único detalhe é que nada era muito bem como parecia ser, mas as experiências que eles irão viver mudarão para sempre o futuro de todos.

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5- Quem Quer Ser um Milionário? (Danny Boyle, 2009)

“Jamal K. Malik (Dev Patel) é um jovem que trabalha servindo chá em uma empresa de telemarketing. Sua infância foi difícil, tendo que fugir da miséria e violência para conseguir chegar ao emprego atual. Um dia ele se inscreve no popular programa de TV “Quem Quer Ser um Milionário?”. Inicialmente desacreditado, ele encontra em fatos de sua vida as respostas das perguntas feitas.”

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6- O Amante (Jean-Jacques Annaud, 1991)

1929, em uma colônia francesa no Vietnam, uma menina francesa, cuja família passa por dificuldades monetárias, acaba de retornar de um colégio interno. Ela está no porto, tentando pegar um transporte público quando um homem de negócios chinês oferece uma carona em sua carruagem. Durante o percurso, os dois sentem uma atração incontrolável um pelo outro, que se transforma em amor.

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7- Filhos do Paraíso (Majid Majidi, 1998)

Ali (Amir Farrokh Hashemian) é um menino de 9 anos proveniente de uma família humilde e que vive com seus pais e sua irmã, Zahra (Bahare Seddiqi). Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu próprio par de sapatos com ela, com ambos revezando-o. Enquanto isso, Ali treina para obter uma boa colocação em uma corrida que será realizada, pois precisa da quantia dada como prêmio para comprar um novo par de sapatos para a irmã.

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8-Shirley Valentine (Lewis Gilbert, 1989)

No Papel que lhe rendeu o aclamado prêmio Tony da Broadway, Pauline Coulins é a hilariante e meiga Shirley Valentine, uma irônica e completamente imprevisível dona-de-casa inglesa que prova nunca ser tarde demais para retomar seus sonhos. Aborrecida com sua vida suburbana, Shirley resolve arriscar uma aventura quando uma amiga a convida para umas férias na Grécia. Em pouco tempo ela retorna às suas rebeldes origens adolescentes e diz sim a uma aventura romântica com um bonitão (Tom Conti). Dos criadores do filme “O Despertar de Rita” essa deliciosa comédia romântica vai fazer o público sorrir mesmo depois da cena final.

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9- Medianeras (Gustavo Taretto, 2011)

Martin (Javier Drolas) está sozinho, passa por um momento de depressão e não se conforma com a maneira com a cidade de Buenos Aires cresceu e foi construída. Web designer, meio neurótico, pouco sai e fica grande parte do tempo no computador. É através da internet que conhece Mariana (Pilar López de Ayala), sua vizinha também solitária e desiludida com a vida moderna numa grande cidade.

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10- O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro, 2006)

Espanha, 1944. Oficialmente a Guerra Civil já terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte de Navarra. Ofelia (Ivana Baquero), de 10 anos, muda-se para a região com sua mãe, Carmen (Ariadna Gil). Lá as espera seu novo padrasto, um oficial fascista que luta para exterminar os guerrilheiros da localidade. Solitária, a menina logo descobre a amizade de Mercedes (Maribel Verdú), jovem cozinheira da casa, que serve de contato secreto dos rebeldes. Além disso, em seus passeios pelo jardim da imensa mansão em que moram, Ofelia descobre um labirinto que faz com que todo um mundo de fantasias se abra, trazendo consequências para todos à sua volta.

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As resenhas oficiais são do site Adoro Cinema.

Veja também: Os 10 filmes mais cheios de significado que eu vi na Netflix

Imagem de capa: Reprodução

O amor é perfeito. As pessoas que amam, não.

O amor é perfeito. As pessoas que amam, não.

A gente erra, sim. Erra o tempo todo, em todo canto. Erra porque só assim se vai adiante. Quem nunca errou na vida? Não, não se trata de justificar uma falta e outra aqui e ali. Reconhecer uma falha não é o mesmo que livrar-se dela e de seus efeitos. É só se dar conta de que erramos. É só o primeiro passo para não errar de novo e, se errar, saber o que fazer nessas horas.

Todo mundo erra. Na vida, na obra, em casa, na rua. Erra no trabalho, no trato com o outro, no jeito de cuidar de si mesmo. Erra no amor. Ahh… como a gente erra no amor!
Atire a primeira flecha o cupido que nunca cometeu um erro. Acontece, ué. O arqueiro amoroso se engana, aproxima pessoas incompatíveis, mistura vinho com água, empurra gente boa para péssimos partidos, fere de amor quem já andava casado com outro. Essas coisas das quais quase ninguém escapa. A gente quando se apaixona é fogo: ama primeiro e pergunta depois!

É assim mesmo. A gente confunde amor e paixão, sim. E daí? Paixão a gente não explica, não defende. Quando bate é indefensável. A paixão faz o que quer com a gente. Inclusive acreditar que encontramos enfim o amor da nossa vida.

Não nos culpemos. Na paixão, todos somos principiantes. Quem se apaixona começa tudo de novo. Volta a ser inocente, bobo, desprovido de lucidez. Deixemos de culpa. Larguemos as conjecturas. Abandonemos as ponderações. Quem se encanta se lança sem mais. Paixão com o pé atrás é avião que não decola, bomba que não explode, espirro que não acontece. Gente apaixonada erra, ué. Fazer o quê?

Paixão, quando é prenúncio de amor, é a coisa mais bonita. E a gente não pergunta antes mesmo: sai amando como se o mundo fosse acabar ali e depois vê o que faz. Tomados de paixão, somos precipitados, impacientes, irrefletidos. Porque paixão não combina com sensatez. Combina com amor.

A paixão e o amor se parecem demais, nasceram um para o outro. Daí a confusão que a gente faz toda vez que acontece. E não adianta o velho discurso dos especialistas, tão ponderados, apregoando que amor não é paixão e blá blá blá. Vá lá. Não é mesmo. Mas que eles se parecem, ahh, eles se parecem, sim.

Concordo. Nem sempre o amor acontece depois da paixão. Às vezes o fogo apaga tão logo os apaixonados acordam do transe. Mas antes as labaredas chamuscam tudo. Ardem a pele dos amantes, fervem-lhes o lago de prata que repousa no jardim de seus corações. Então que importa se a paixão vai dar em amor ou não? A gente ama primeiro e pergunta depois. E que sejamos felizes enquanto der, do jeito que tiver de ser.

Além do mais, nada nos impede de amar antes, durante e depois também. Quando chegar a hora de fazer as perguntas, amaremos de novo. Depois de novo e de novo e para sempre de novo, infinitamente renovados num amor eterno e quente, porque nunca haveremos de abrir mão dos sintomas afogueados da paixão.

Deus nos permita viver tomados de paixão e amor até a hora mais avançada da vida. Seremos velhos de pele flácida e coração largo, amando nosso estado de permanente e infinito apaixonamento. Quem sabe?

A gente quando se apaixona erra. De vez em quando erra feio. Mas sabe o quê? Aqui pra nós, eu acho que o maior erro mesmo, o mais escandaloso engano de todos é perder a chance de cair de quatro numa paixão louca. É ficar de coisa e não se apaixonar. Se virar amor, muito que bem. Se não der, e daí? É da vida. Que seja. Já valeu.

No meio da paixão que a gente pensa ser amor, cadê a diferença? Não tem. Não tem porque a gente quando se apaixona já sai amando. Feito filho de peixe parido em água fria que sai nadando exímio, bicho profissional, a gente se apaixona e logo se ama sem mais o quê. Ama primeiro e pergunta depois. A gente ama e depois vê o que faz.

Imagem de capa: 4 PM production/shutterstock

A beleza dos acontecimentos mora no olhar de quem os enxerga.

A beleza dos acontecimentos mora  no olhar de quem os enxerga.

A felicidade é muito democrática, já pensaram sobre isso? Ela, justamente, por ter um conceito individualizado, está ao alcance de todos. Ocorre que, equivocadamente, incorremos nessa ideia de associá-la ao ter dinheiro, ao ter coisas, ao ter poder, ao ter beleza, ao ter sucesso enfim. Não estou afirmando que esses requisitos não possam ser aliados da felicidade, não é isso. Contudo, eles, por si só, não são garantias para tê-la. O que percebo é que a felicidade é muito mal interpretada, mal compreendida e, com frequência, desperdiçada. Talvez, por “glamurizar” demais essa dádiva, não a percebemos em nosso cotidiano, contudo, ela fica bem palpável quando a perdemos de vista, justamente por buscá-la longe da simplicidade.

Certamente, você já ouviu, pensou ou verbalizou a frase “ah, eu era tão feliz e não sabia”. Eis aí o X da questão, a felicidade e o cotidiano se misturam então, só a percebemos quando nos distanciamos daquilo que, por ironia do destino, não demos o devido valor. Sabe quando você se depara com um filho ou alguém querido doente, acamado num leito de hospital? Bem, nessa circunstância, você se dá conta do quão feliz foi ao ter seu filho bagunçando pela casa, enquanto sentia-se estressado(a) clamando por sossego. Pois é, a saúde é uma amostra da felicidade. Contudo, nem sempre a valorizamos devidamente. Por vezes, é necessário perdê-la para nos conscientizarmos do quão rico somos por tê-la.

Particularmente, já vivi tantas felicidades recheadas de simplicidade. Eu só pude perceber a riqueza dessas vivências, tempos depois, olhando à distância, um passado cheio de saudades. Verdadeiras tatuagens que carrego na alma. Uma das viagens mais felizes que já fiz não foi internacional, tampouco fiquei hospedada em hotel de luxo. Foi uma que fiz passando por longos trechos de estradas de chão, num poeirão terrível e um sol escaldante de agosto. O que fez aquele viagem tão feliz? Bem, eu estava ao lado de um grande amor e tudo tornou-se incrível. As músicas que ouvíamos, a atmosfera de cumplicidade e paixão, a expectativa de chegarmos à minha terra natal e o abraço da minha mãe esperando por mim. A paisagem natural não tinha beleza, estava tudo seco, queimadas para todo lado, mas eu consegui enxergar beleza em tudo.

Atuando como Bombeira, pude constatar, de perto, a queda do mito de que ter dinheiro, é, necesseriamente, ter felicidade. Atuei em muitas ocorrências em mansões fenomenais tentando evitar suicídios em todas as faixas etárias. Lamentavelmente, me senti impotente em muitas delas. Era tarde demais, o fato estava consumado. Ao redor da vítima, o luxo imperava, na garagem, uns 6 carros importados, contudo, as vidas que ali habitavam estavam com a alma na mais absoluta miséria.

Já presenciei, também, o oposto dessa realidade em minha atuação profissional. Já vi moradias bem simples, pobres do ponto de vista do conforto e da estrutura. Contudo, em seus interiores, vi pessoas extremamente felizes e gratas. Pessoas que sorriam com os olhos porque só com a boca não era suficiente. Numa visita que fiz à uma família levando orientação sobre o controle do mosquito da dengue, uma senhora veio toda eufórica me confidenciando a realização de um sonho: fez o contrapiso do pequeno quintal para as crianças brincarem com mais higiene.

Em 2015, meu irmão que teve a perna amputada num acidente de trânsito. Esse acontecimento foi o meu maior aprendizado sobre gratidão que tive na vida. Eu nunca vi meu irmão reclamar pela perna perdida. Pelo contrário, ele sente uma gratidão tremenda por ter ficado vivo. É que sua moto chocou-se na lateral de uma carreta numa BR, logo, o fato de ele ter sobrevivido pode ser perfeitamente encarado como um milagre. Então escolheu agradecer pela vida que foi preservada ao invés de se lamentar pelo membro que perdeu. Durante o tempo em que ficou internado no hospital, os parentes ligavam querendo saber do ocorrido, e ele respondia: “eu tô bem, só perdi uma perna.” Ele falava da perna amputada como quem fala de uma unha quebrada, era o que parecia. Eu me dei conta de que nenhum guru em autoajuda nesse mundo me ensinará mais sobre gratidão e resiliência do que meu irmão que tem apenas a quarta série primária.

É isso, a felicidade é algo que mora dentro da gente, mas a gente insiste em procurar desesperadamente em outros quintais. A nossa capacidade de encarar os revezes da vida e ressignificá-los é o que faz a diferença. Diante disso, um mesmo acontecimento ganha significados diferentes para pessoas diferentes. O que para um signifca o fim, para o outro significa a chance de recomeçar.

Imagem de capa: Yuganov Konstantin/shutterstock

Não dedique os seus sentimentos a quem não os merecem

Não dedique os seus sentimentos a quem não os merecem

Já notou que as pessoas que nos despertam raiva, mágoa ou ressentimento, são as únicas que não merecem nem nossa lembrança? O problema é que, embora saibamos que ninguém vale a nossa paz e que as atitudes alheias não deveriam nos atingir, permitimos que alguns sentimentos ruins se alojem em nossa alma, nos deixando doentes, descrentes e desequilibrados.

A vida está repleta de relacionamentos que não deram certo. E a gente podia deixar passar batido, esquecer rapidamente e seguir em frente. Mas, não. Gostamos de um drama mexicano, de lágrimas desnecessárias e de desperdiçar sentimentos com quem não merece.

Toda situação contrária aos nossos princípios ou que capaz de destruir nosso campo de expectativas, gera um esgotamento físico e emocional absurdo. Isso além de nos fazer mal, nos envolve em um sentimento de inferioridade que nos faz desacreditar das pessoas.

Acredito que, a essa altura do texto, seu coração já esteja formulando argumentações contrárias para justificar os sentimentos ruins que você carrega: “tenho direito de sentir raiva, porque fui injustiçada” ou “mereço odiar tal pessoa diante de tanta traição”. O problema é que essas justificativas são tão ilusórias quanto perigosas, já que há uma grande diferença entre merecer de querer sentir algo.

Aliás, cá entre nós, essa história de “eu mereço” é uma válvula de escape para as atitudes erradas. Ninguém diz “eu mereço fazer dieta”, “eu mereço perdoar” ou “eu mereço ficar sem viajar esse ano”. Sempre que dizemos “eu mereço” é para justificar alguma atitude errada que iremos praticar. Como se o cérebro funcionasse como a validação de recompensa e bônus.

A grande sacada da vida é não desperdiçar sentimentos com quem não merece. Entenda que há pessoas que não merecem nem a raiva sentida por elas, que dirá saudade. Entenda: traição, mentira e ofensas revelam o caráter do agressor e não do agredido.

Não desperdice seus sentimentos, sejam eles bons ou ruins, com quem não os merecem. Segue teu caminho, abandone as cargas pesadas e seja livre. Como dizia Bukowski: “Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente”.

Imagem de capa: Tanasan Sungkaew/shutterstock

Enterremos o passado, antes que ele volte para nos enterrar!

Enterremos o passado, antes que ele volte para nos enterrar!

O nosso corpo e a nossa mente são uma espécie de museu vivo da nossa própria história. Cada vivência, cada passagem, cada experiência que vivemos, vai ficando registrada em finas camadas de memória que vão se sobrepondo umas às outras.

Há partes do enredo pelas quais desenvolvemos um apego mais visceral e apaixonado; temos dificuldades de nos desprendermos delas. São como aquelas comidas que não caem muito bem e ficam nos mandando lembranças do encontro, sabe como é? Mas, insistimos em prova-las novamente em banquetes futuros.

Num caso desses temos algumas escolhas a serem feitas. Em verdade, em todos os casos temos algumas escolhas a serem feitas. Contudo, nesse caso específico de digestão mal resolvida, é imprescindível decidir o que fazer com o refluxo mental o mais rápido possível. Caso contrário, corremos o iminente perigo de desenvolver feridas crônicas, quer seja no sentido literal ou figurado.

Há situações que de tão impactantes em nossa vida, fazem uma espécie de trava temporal em nossa programação interna. Mudamos de canal, de frequência, de operadora, mas nada é capaz de nos salvar. Basta algum descuido, e lá estamos nós curtindo num “vale a pena ver de novo”, pela milionésima vez, um episódio, ou a série inteira de uma narrativa cujo começo já sabemos de cor, o desenrolar está na ponta da língua e o final… Bem, o final é que é o enrosco… Essa ruminação toda acontece, justamente porque fazemos a tolice de acreditar que uma história que já se repetiu até a exaustão, seguindo o mesmo script, tem chance de acabar num novo desfecho. Haja falta de discernimento, não é mesmo?!

E nem adianta torcer o narizinho, revirar ou olhos ou bufar, como se estivesse completamente à salvo de cometer tamanha burrice, porque ninguém está. Todos nós, em algum nível – uns mais e outros nem tanto -, temos nossas caveirinhas guardadas com desvelo nos armários secretos da alma.

E, muitas vezes, guardamos esses esqueletinhos traiçoeiros, porque à época real da experiência, nós os arrumamos com a melhor roupa, caprichamos na maquiagem e nas flores ao seu redor, fazendo com que a sua morte fosse empurrada para uma área pouco visitada da memória. Fingimos que os projetos mortos, estão apenas adormecidos, ou na pior das hipóteses, sofreram um desmaio reversível.

Apegos ao passado, às histórias idealizadas, às roubadas travestidas de desafios, fazem a gente ficar patinando num limbo viscoso e enganador; fazem-nos acreditar que nos cabe render tributos e homenagens a elas, como se negá-las fosse tirar de nós o direito de pertencer.

No entanto, no final das contas, o que nos rouba de verdade os direitos, são essas correntes invisíveis que nos fazem ver beleza, onde já não há mais nada para ver. Nosso passado é certamente parte da nossa história. Mas, não é a história toda. Paremos, então, de brincar de mortos vivos. E enterremos o nosso passado, antes que ele volte para nos enterrar!

Imagem de capa meramente ilustrativa: Lady Mary, personagem de Downtown Abbey

Sábio é aquele que se cala!

Sábio é aquele que se cala!

Abstrair e fingir demência. É isso que devemos fazer quando uma pedra nos é lançada. Tem gente que não pensa antes de fazer certos comentários, e a melhor forma de poupar conflitos é fingindo-se de surdo.

É como diz o velho ditado “Em boca fechada, não entra mosca”.

Pessoas que vivem de discussões não carregam paz em si, e por onde passam, levam discórdia. Guarde as energias apenas para emanar coisas boas. Sua serenidade vale muito mais.

Aprenda que quanto mais você se cala, mais o “agressor” se cansa. E quanto mais você dá corda, mais argumentos ele terá para continuar.

Imagine duas crianças brigando. Vamos supor que uma quer discutir, mas a outra não está interessada. Uma tentará se defender, e a outra cantará o “lálálá”. Imaginou? Sei que é um exemplo bobo, mas faça isso mentalmente.

Cante, coloquei os fones, vá para outro canto, mas fuja.

As crianças podem não entender quando fazem isso, mas sem perceberem e cantarolando evitam maiores discussões.

Mesmo adultos, sabemos quão difícil é engolir sapo, e não retrucar, entretanto, é melhor fingir que não se importa, do que perder a razão.

É tão fácil jogar toda a culpa em cima do outro. Difícil, é parar para ouvir o outro lado da moeda. Difícil, é deixar o orgulho de lado, e assumir a culpa quando se é culpado. Difícil, é perdoar quando se é ferido. Difícil, é se calar-se diante das discussões.

Que saibamos agir com sabedoria diante dos dissabores. Deixemos a poeira baixar para depois dialogar, que saibamos assumir nossos erros e perdoar quando temos razão, e acima de tudo, que saibamos manter nossa serenidade.

Certas coisas não merecem respostas. Em situações onde o diálogo é inviável, sábio é aquele que se cala.

Imagem de capa: Aaron Amat/shutterstock

“Eu sou amor da cabeça aos pés”

“Eu sou amor da cabeça aos pés”

Já diziam Os Novos Baianos acertadamente: pela lei dos encontros, eu deixo e recebo um tanto!

Absorve isso em sua grandeza, rapaz!

A consequência da tal lei dos encontros, do deixar e receber um tanto, é que nos conectemos uns aos outros, formemos laços fortes o suficiente para nos fazer transbordar dor e alegria dependendo do momento. Esta é a dádiva e o fardo que carrega o ser humano. Carrega contigo este dom e este peso, menino!

Não deixa que as armaduras que o mundo te oferece vistam tua alma e matem o jardim lindo que a habita! Se deixe tocar, se deixe sentir, se deixe se conectar com o outro, se deixe viver. Cada um só poderá conhecer a dor e a delícia de ser o que é – a lá Caetano – quando se deixar levar pela lei dos encontros.

Esses dias transbordei paz, transbordei alegria.

Senti uma gratidão imensa, imensurável por sentir.

Senti o mar e as gotas que dele respingavam em meu rosto. Senti e observei o amigo que brincava com as ondas. Que por elas era levado, que caia e mesmo caído, se divertia, sorria. Era terno, era autêntico e real o que eu sentia. Todas as minhas armaduras tinham sido postas de lado.

O vento batia leve em meu rosto e em meu coração o medo não fazia morada. A preocupação parecia estar em outra praia qualquer. Não naquela onde eu estava. É isso que nos é eterno afinal.

Sentia e soube que a vida é sobre isso.

Sobre esses pequenos fragmentos em que o coração aquece, a gente se sente parte do cenário, a gente ama de graça, a gente vê a beleza de nosso laço com o outro, a gente olha ao redor e sente essa gratidão que nos deixa leves. Eu estava totalmente desarmada, e por assim estar, senti.

Pois é, rapaz, esse dias eu fui amor, amor da cabeça aos pés. Tu tens noção da raridade deste tipo de vivência? Cada átomo que forma meu corpo era amor, menino. Parece loucura não, é? Talvez até seja mesmo. E daí se for?

Olho para trás agora, repito aquelas cenas tão singelas em minha mente e lembro-me que a lei dos encontros tem também suas consequências dolorosas e quando estas chegarem, talvez eu me arrependa um tanto por leva-la – a lei dos encontros – tão ao pé da letra.

Sinto que quando a dor me tomar me tomará também por inteira, me ocupará da cabeça aos pés. A letra d’Os Novos Baianos esquece-se disso, moço, mas esse detalhe precisa ser lembrado. Aqueles que são amor por inteiro, também podem, de repente, pela dor ser preenchidos, então cuidado. Prepara-te, porque dançar a vida assim, de corpo e alma também é doloroso.

Por hora, sigo me dizendo que depois que sentir essa tal dor, serei capaz de me refazer, me reinventar e mostrar que apesar de tudo, depois de tudo, tudo estar virado, a menina ainda seguirá sabendo dançar. Nas palavras dos Novos Baianos novamente, dentro da menina, a menina seguirá dançando, rapaz.

* Texto com referências às músicas “Mistério do Planeta”, “Dê um rolê”, “A menina dança” dos Novos Baianos e “Dom de Iludir” de Caetano Veloso

Imagem de capa: Zolotarevs/shutterstock

As panelas da minha mãe

As panelas da minha mãe

Minha mãe sempre teve o hábito de preparar comida a mais, especialmente para os almoços de domingo. Ela enchia as panelas, com mais do que o suficiente para nossa família. Mas ela não pretendia desperdiçar nenhum grão, não. Tampouco esperava ninguém em especial. A gente vivia uma expectativa constante do tipo: “vai que chega alguém…”.

Naquela época não usávamos telefone nem nada e eu me perguntava por que ela fazia aquilo, já que tudo não passava de suposição. O fato é que ela fazia com frequência e as panelas cheias tornaram-se uma espécie de convite. As visitas, que se revezavam entre parentes e amigos, passaram a ser uma constante em nossa casa simples.

Hoje penso que as panelas dela não se enchiam apenas de comida. Que se enchiam também de afeto e consideração, mesmo sem saber a quem serviriam. Acho até que o coração dela era maior do que as próprias panelas. Tudo isso se tornou um atrativo e o que não passava de suposição tornou-se nossa realidade. Percebi conforme o tempo passava que, embora as pessoas viessem sem aviso, chegavam com a certeza de que ela estaria pronta para recebê-las.

Que lições aquelas panelas quentinhas sobre o fogão à lenha foram capazes de me ensinar!

Talvez nossas “panelas” estejam ficando vazias demais. Estamos nos satisfazendo com coisas que não deveriam nos deixar satisfeitos. Não nos esperamos mais, nem queremos recebermo-nos. Cada um por si, sem nenhuma chama acesa e sem nos encontrarmos de fato.

Por mais que se insista em dizer que o afeto se liquefez, a maioria das pessoas ainda está à procura de aconchego e carinho. E pensar que já fomos melhores nisso! Que já demos mais importância às outras pessoas, na época em que elas eram o que tínhamos de mais precioso.

Agora se diz “família, meu tudo”, sem que haja uma verdade sendo dita na íntegra. A família tornou-se digital e vê-se muito mais pela tela. Os amigos têm-se enveredado por este mesmo caminho.

A verdade é que a gente anda mesmo é sem tempo pra acolher quem quer vir ao nosso encontro, embora tenha muita gente querendo ser esperada e necessitando ser encontrada, com fome que não é exclusiva de arroz e feijão.

Bem que poderíamos adotar a tática das panelas cheias, abarrotando-nos com sentimentos de amor e de espera pelo outro; bem que poderíamos aumentar nossa abertura e nossa receptividade. Porque faz bem para nosso crescimento pessoal. O encontro com quem está à procura de alívio para as necessidades que sente.

Oferecer um sorriso, um abraço ou uma refeição de vez em quando não faz mal a ninguém, e deixa o coração cheio de coisas deliciosas. Pelo menos foi o que eu aprendi com as convidativas panelas da minha mãe.

Imagem de capa: wavebreakmedia/shutterstock

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