GANDHI – Um contraste entre a fraqueza física e a força interior

GANDHI – Um contraste entre a fraqueza física e a força interior

Vivemos num mundo marcado pelo culto à forma, onde a aparência se sobrepõe à essência, onde a beleza física vale mais, aos olhos da maioria, que o intelecto e o sentimento de cada um.

Mahatma Gandhi foi uma antítese disso tudo. Dono de um caráter inabalável, de uma fé obstinada, de uma força moral gigantesca, o homem que, por meio da desobediência civil e da resistência pacífica conseguiu libertar a Índia do jugo britânico era fisicamente frágil, vestia-se com simplicidade, andava de chinelos ou descalço mesmo quando representava a Índia em eventos internacionais.

Veja Gandhi nessa rara entrevista na qual ele fala de sua luta pela libertação da Índia e diga-nos, será que temos mesmo a capacidade, ao olhar a aparência de alguém, de dimensionar a sua grandeza interior?

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Menos é mais: entenda a inteligência por trás da poesia

Menos é mais: entenda a inteligência  por trás da poesia

Por Josie Conti

“Um poema é a projeção de uma ideia em palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-somente o meio de que a ideia se serve para se reduzir a palavras.” Fernando Pessoa

É, meus amigos, poesia não é coisa para qualquer um, não. É coisa de gente inteligente, gente criativa e sensível.

Sintetizar em versos curtos todo um contexto é trabalho complexo. O poeta vai lá, olha para algo e em 10 palavrinhas faz um verso que poderia arrebatar todo um capitulo de livro, senão o próprio livro. A poesia tem poder, é enigmática e atiça a fantasia. Desvendá-la exige atividades mentais nas áreas humanamente mais superiores do cérebro. Mas o poeta, assim como quem lê a poesia,  tem olho treinado para sintetizar distâncias, desvendar a idade oculta das coisas, seus sentimentos, seus enigmas. É só ler uns versinhos e os amantes da poesia preenchem suas lacunas com seus desejos, ensejos e a própria biografia.

A poesia empresta sentimento e sentido ao mundo. Tem jeito não, o poema emociona, arrebata e escorre dentro da gente.

Abaixo, para estimular os sentidos, poemas de Paulo Becker justapostos com fotografias de Tom Chambers.

Onde estão?

Me colocaram a guardar o fogo.
Sozinho no pátio.
Era Semana da Pátria?
Era Semana Farroupilha?
O simbolismo se desfez em cinzas.
O próprio fogo há muito jaz extinto.

Onde andará a professora Olívia?
Meus amigos Hilário e Adalberto?
A princesa Anelise? A Ângela cigana?
Grito ou riso nenhum corta o pátio deserto.

Só eu estou lá, de pé, guardando o fogo.

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Tom Chambers

Do Parnaso ao pão nosso

Fogos de artifício
no céu do papel
espocam e se apagam.

Cadê os poetas do nosso tempo?
Dos nossos sonhos, ossos, esperas?
Da nossa língua dividida em classes?

Jogam seu frio dominó?
Extraem faturas ou notas?
Voltaram ao parnasianismo?

Atarefados, compilam
manuais de esoterismo
e metafísicas sem dor?

Garimpam rimas pra vida
no dicionário de rimas?
Produzem releases, layouts?

Autografam? Infestam coquetéis?
Alagam livros e suplementos
com destroçamentos gratuitos?

Cadê os poetas, pergunto,
que possam nutrir nossas almas
com alguma emoção do mundo?

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Tom Chambers

Poeminha à maneira de Emily Dickinson

Para a minha velhice
Só espero merecer
Um quintal para a horta
E tempo para escrever.

Se faltar a horta,
Bastará a memória
Dos dias bem vividos.

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Tom Chambers

Manuel Bandeira, não eu

Manuel Bandeira, não eu, confesso,
escreveu o poema sobre a estrela,
que entre as colegas da escola me deu glórias de poeta.
Também de Bandeira, a declaração de amor
que fiz num bilhete para a Alice
– mas ela, insensível, não devia gostar de poemas…

De Bandeira, os versos torrenciais, dilacerados e alegres
sobre a alegre vida pungente,
que repercutiam no meu cérebro como numa câmara de ecos,
como eram invenção dele todas as verdades simples
que eu mesmo queria ter descoberto.

E, mais que meus, eram de Bandeira os suspiros
que eu dava, presa de futuras nostalgias,
humildemente pensando na vida e nas mulheres que amaria.

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Tom Chambers

Fim de festa

Não se brinca mais
quando a carne e os nervos se foram
e a faca raspa o osso

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Tom Chambers

Gaiota

Como não tinha
um pintor expressionista
naquele instante
a atravessar a avenida?

Como não tinha
um fotógrafo que fosse?
Um repórter de tevê
com a câmera a postos?

Só cruzou por ali
um poeta novato
e registrou a cena
em versos telegráficos:

O anjo nu dormita
sobre sacos de lixo
na gaiota. A mãe
é tração animal.

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Tom Chambers

Final feliz

Morte, minha princesa,
somos poeira de estrelas.
Vem deitar-te comigo.
O círculo se fecha.
Volto a ser o que eu era

antes de haver nascido.

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Tom Chambers

O poeta:

PAULO BECKER graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é mestre e doutor em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Leciona na graduação e no mestrado em Letras da Universidade de Passo Fundo. Participa das comissões organizadora e executiva das Jornadas Nacionais de Literatura e da coordenação da Jornadinha Nacional de Literatura. É roteirista e consultor de textos do programa televisivo infantil Mundo da Leitura, que integra, desde 2005, a grade nacional do Canal Futura e é retransmitido para 105 países pela Globo Internacional.

Blog do autor Meus demônios cantam

Seleção de Poemas Nara Rúbia Ribeiro

O fotógrafo:

TOM CHAMBERS nasceu e foi criado em uma fazenda no país Amish de Lancaster, Pensilvânia. Tom completou um BFA em 1985 a partir de Ringling School of Art, Sarasota, Florida, com ênfase em design gráfico e forte interesse em fotografia. Por muitos anos, Tom trabalhou como designer gráfico, incluindo o design de embalagens e de revistas. Desde 1998, Tom dedicou-se a fotomontagem para compartilhar as histórias intrigantes não ditas, que refletem a sua visão do mundo e provocam sentimentos no espectador. Atualmente, Tom é representado por um número de galerias nos Estados Unidos e na Europa. Seu trabalho tem sido mostrado nacional e internacionalmente através de exposições individuais e coletivas, bem como em uma ampla gama de publicações impressas e online.

Site oficial Tom Chambers

Filho de vítimas do holocausto mostra que uma barbárie não justifica outra

Filho de vítimas do holocausto mostra que uma barbárie não justifica outra

“Diante das mais tristes tragédias pessoais ou coletivas, podemos tirar diferentes lições de vida. Veja a lição que Norman Finkelstein*, judeu cujos pais estiveram em campos concentração nazistas, aprendeu do holocausto.

Você vai se surpreender.”

*Norman Finkelstein é autor de “A Indústria do Holocausto” entre outras obras de grande valor para o conhecimento acadêmico real do conflito EUA/Israel versus Palestina.

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“Vida Maria”, impactante por sua profunda realidade

“Vida Maria”, impactante por sua profunda realidade

“VIDA MARIA” é um curta altamente premiado de 2006 dirigido por Márcio Ramos.

Produzido em computação gráfica 3D e finalizado em 35mm, o curta-metragem mostra personagens e cenários modelados com texturas e cores pesquisadas e capturadas no sertão cearense, no nordeste do Brasil, criando uma atmosfera realista e humanizada.

O filme mostra a história do que mais se vê no interior do nordeste (e não só lá):  crianças que têm sua infância interrompida para ajudar a família a sobreviver.

Imagem de capa via Livres Pensadores

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O valor das coisas

O valor das coisas

“Nunca dê as pessoas coisa alguma que peçam, até que ao menos um dia tenha se passado”, disse Nasrudin.

“Por que não, Nasrudin?”

“A experiência mostra que só dão valor a algo, quando têm a oportunidade de duvidar se irão ou não consegui-la.”

contioutra.com - O valor das coisas

Fonte: Os conselheiros

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Somos os infernos dos outros? – Leandro Karnal

Somos os infernos dos outros? – Leandro Karnal

“Toda e qualquer violência praticada contra um ser humano é um ato reprovável.

Mas não é só o corpo que se pode violentar. Afinal, o homem não é só a matéria corpórea que veste.

É o infinito de suas abstrações. Assim, podemos violentar o pensamento do outro. A vontade do outro. A sua liberdade.”

Nara Rúbia Ribeiro

8 passos para tirar zero na redação do ENEM

8 passos para tirar zero na redação do ENEM

Por Nara Rúbia Ribeiro

Tirar um dez em redação não é fácil. Mas tirar zero também é um feito.

Mais de 500 mil alunos zerando a redação no ENEM? É hora de comemorar a dizer a receita desse sucesso às avessas. Seguem as dicas de como tirar um zero bem redondo em qualquer redação.

1 – Faça as suas pesquisas na internet copiando e colando os conteúdos.
2 – Não elabore as respostas de suas tarefas escolares. Sempre há alguém de quem você pode copiar.
3 – Não leia os livros indicados na escola. Jogue vídeo-game. É muito melhor.
4 – Quando tiver a infeliz obrigação de ler algo, só passe os olhos. Nunca tente entender ou interpretar nada.
5 – Faça caretas para poesia. Não se envolva com isso.
6 – Use sempre a linguagem digital, na qual palavras inteiras são substituídas por códigos como “sqn”, acentos são elididos e frases emotivas são substituídas por “carinhas/emotions”.
7 – Se o seu amigo disser que leu um livro com a história muito boa, não leia. Espera que, se prestar mesmo, o cinema logo tratará de gravar.
8 – Despreze totalmente gramática. A genialidade desta geração não precisa dela.

E sabe qual foi a maior descoberta? Os alunos, em sua maioria, não tiraram zero porque não foram bem e sim porque viram a área da redação “ENEM” começaram. A redação foi entregue em branco.

Espero que, mais que consternação e brincadeiras, essa analogia da reação de nossos jovens frente à folha em branco seja um indicador da necessidade de reformulação de todo um sistema de modo a inibir o crescente analfabetismo funcional da nação.

Isso mostra que muitos dos nossos jovens, embora tenham acesso online a conhecimento de todo o mundo, talvez não enxerguem nessas informações, por não saberem interpretá-las, algo além de “uma folha em branco”.

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - 8 passos para tirar zero na redação do ENEM

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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A receita para arrancar poemas presos de Viviane Mosé

A receita para arrancar poemas presos de Viviane Mosé

Viviane Mosé (Vitória, 16 de janeiro de 1964) é uma poetisa, filosofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005 pela editora Civilização Brasileira.

Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana. Tem diversos livros de poesia, filosofia e psicanálise publicados. Hoje é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento, comentarista do programa Liberdade de Expressão, na Rádio CBN, com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo e palestrante.

Doenças

Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
palavra suor é melhor do que palavra cravo
que é melhor do que palavra catarro
que é melhor do que palavra bílis
que é melhor do que palavra ferida
que é melhor do que palavra nódulo
que nem chega perto da palavra tumores internos
palavra lágrima é melhor
palavra é melhor
é melhor poema

Viviane Mosé

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Você viu a cena do filme do Tim Maia que não passou na TV?

Você viu a cena do filme do Tim Maia que não passou na TV?

Josie Conti

Há cerca de 15 dias uma das mais importantes emissoras de TV nacionais (mencionar o nome é dispensável) exibiu uma reedição de “Tim Maia”, filme do cineasta Mauro Lima lançado em dezembro de 2014 e baseado no livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta.

Entretanto, a versão que foi apresentada em dois capítulos apresentou cortes que causaram grande polêmica na mídia nacional. Abaixo, a cena que foi o principal alvo das críticas (contém spoilers).

Nela está representada a luta de Tim Maia para conseguir falar com Roberto Carlos e a humilhação sofrida ao ganhar um par de botas de numeração menor. Também aparece o momento em que um membro da equipe do cantor amassa e joga dinheiro no chão. Depois disso Roberto foi ao lugar onde Tim tocava e lhe deu a oportunidade de mostrar seu talento.

O próprio diretor do filme, após a exibição, renegou a forma como a mesma foi feita com cortes e edições.

Fontes: Sedentário, Pipoca Moderna, Claudio Giliolli

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“Hugh” curta metragem baseado em uma lenda apache.

“Hugh” curta metragem baseado em uma lenda apache.

Por Josie Conti

Baseado em uma lenda apache, esse curta metragem francês encanta ao nos lembrar da magia de ouvir uma boa história.

O  xamã , próximo a fogueira,  conta para as crianças da tribo sobre como era quando o céu era baixo demais e os homens não conseguiam andar eretos…

Muito significado pela beleza, pela simbologia e pela riqueza de que hoje somos tão carentes: a transmissão da cultura oral.

Créditos: MATHIEU NAVARRO, SYLVAIN NOUVEAU, AURORE TURBE, FRANCOIS POMMIEZ

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Invictus: o poema que inspirou Nelson Mandela em seus 27 anos de de prisão

Invictus: o poema que inspirou Nelson Mandela em seus 27 anos de  de prisão

Willian Ernest Henley, ao escrever o poema abaixo, jamais sonharia que os seus versos poderiam inspirar um homem com grandeza de Nelson Mandela a suportar, por vinte e sete anos, o cativeiro, condenado por sua luta contra o apartheid.

Foi esse mesmo poema que deu o título ao filme de 2009 com Morgan Freeman e Matt Damon.

Declamado por Alan Bates e legendado em Português para uso da Academia Ubuntu.

INVICTUS
William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

***

INVICTO
William Ernest Henley

Da noite escura que me cobre,
Como uma cova de lado a lado,
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.

Nas garras ardis das circunstâncias,
Não titubeei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.

Além deste vale de ira e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos ameaçadores,
Encontram-me sempre destemido.

Não importa quão estreita a passagem,
Quantas punições ainda sofrerei,
Sou o senhor do meu destino,
E o condutor da minha alma.

***

Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta

William Ernest Henley (23/08/1849 – 11/07/1903)

Nelson Mandela (18/07/1918 – 05/12/2013)

Fonte das tradução: A Magia da Poesia

Nota: Se as legendas não aparecerem automaticamente, lembre-se de ativá-las no canto inferior direito do vídeo.

E o bullying? Também não seria “liberdade de expressão”?

E o bullying? Também não seria “liberdade de expressão”?

Por Nara Rúbia Ribeiro

Vejo que hoje muitas pessoas demonstram um entendimento equivocado acerca da livre manifestação de pensamento. Por exemplo. Se o coleguinha do seu filho o chama, de modo recorrente, de “gordo”, “crente burro”, “idiota católico”, “branquelo azedo”, isso é “bullying”. Mas se um jornalista faz isso, o nome é outro: é liberdade de expressão.

Precisamos, então, ponderar acerca desse direito tão importante às bases democráticas, mas devassador quando tem exorbitados seus limites.

Ocorre que a liberdade de expressão não é absoluta. Essa liberdade, assim como todos os outros direitos, é relativa. Precisa amoldar-se, no contexto social, a várias outras garantias que a lei dá ao indivíduo.

Aquilo que você pensa, é algo seu. Inerente a você e isso é indiferente à sociedade. A partir do momento em que você manifesta o seu pensamento, ele terá repercussão em dado local, num determinado período de tempo e, se ferir direito de terceiros, teremos que colocar na balança o que vale mais: o seu direito de dizer ou o direito que foi ferido pela sua fala. A sociedade estabelece leis para que possamos aferir o que é mais importante.

Por exemplo, talvez você não goste de negros. Conheço muitos que não gostam. É um direito seu. Cada um cultiva internamente aquilo que bem lhe aprouver: flores ou abrolhos. Pavimenta estradas de esperança ou  margeia lamaçais de podridão. Ser preconceituoso é um direito íntimo seu. Agora, se você disser que não gosta de negros, aí a coisa muda de figura. Afinal, você externou uma opinião sua que qualifica homens e mulheres não por sua essência, mas por  sua cor. E isso é racismo e trata-se de um crime passível de severa punição.

Você pode achar o seu vizinho esnobe e feio. E se isso ficar com você, que problema há? Mas se você o disser, ele poderá se sentir ofendido, e isso poderá caracterizar um crime de injúria.

contioutra.com - E o bullying? Também não seria “liberdade de expressão”?Talvez você não goste do credo de alguém. Direito seu. Mas se você ridicularizar esse credo, você pode ferir intimamente o outro. E ele possui, assegurado constitucionalmente, o direito ao livre exercício de seu credo, de modo a garantir que sua crença não seja um motivo de escárnio. Se você fizer isso, pode infringir o art. 208 do Código Penal, que diz que é crime “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa”.

Você pode achar que, por exemplo, todo político é ladrão. Pode achar (veja que pensamento vulgar, mas tem gente que até pensa) que todo padre é pedófilo. Mas se você o disser, assim mesmo: genericamente, incorre em crime tanto de injúria quanto de calúnia. Como são ações penais de natureza privada, (aquelas situações em que é a própria pessoa ofendida e não o ministério público leva o caso a julgamento) se qualquer político ou padre se ofender (seguindo com o exemplo acima mencionado), você responde por esses crimes. Afinal, é crime mesmo.

E não interessa se quem achincalha, ofende, agride ou calunia é você, um menininho que estuda com o seu filho ou se é um jornalista de uma grande revista internacional. Ninguém tem o direito de usar o verbo para humilhar e ofender gratuitamente, movido por preconceito, pela necessidade de hierarquizar o humano, de colocar o outro em um patamar inferior ao seu (ou aos seus). Afinal, assim como os indivíduos coexistem e devem conviver harmonicamente, assim também a integralidade dos nossos direitos, e não apenas o direito à liberdade de expressão, deve ser respeitado.

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - E o bullying? Também não seria “liberdade de expressão”?

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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Beatles Selfie- paródia

Beatles Selfie- paródia

“Muitas vezes ficamos tão ocupados controlando a imagem, que iremos revelar ao mundo que acabamos perdendo o verdadeiro contato com os momentos que constituem a singularidade da vida concreta.

Quando capturar algo que na câmera tem a prioridade sobre o que acontece à nossa volta, isso pode ser indicativo de um problema real, ou seja, passamos a ficar conectados com as imagens, mas desconectados de nós mesmos, ao criar um verdadeiro dilema: como eu posso esperar que os outros prestem atenção a mim se nem eu mesmo consigo descrever o que está acontecendo à minha volta?…

Documentar a experiência não pode, jamais, ser mais importante do que vivê-la.” Dr Cristiano Nabuco

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