Quanto lhe é suficiente?

Quanto lhe é suficiente?

Por Tatiana Nicz

Existe uma fábula antiga* que me marcou muito. Ela conta a história de dois amantes que não tinham nenhuma riqueza aparente e acabam descobrindo de maneira inusitada que seu amor era suficiente para eles. Essa fábula trouxe pela primeira vez uma reflexão sobre algo que nunca me ensinaram: o que exatamente seria “suficiente”?

Acho que ninguém define o que é suficiente, porque suficiente é demasiadamente relativo. O que basta para mim não é a mesma quantidade do que basta para você, sendo assim, apesar da definição existir no dicionário ela me parece um tanto quanto utópica no contexto de sociedade. Mas apesar de utópica no contexto plural, ela se faz fundamental para evolução espiritual de qualquer indivíduo. Buda chegou a fazer essa reflexão, na verdade ela é um dos pilares mais importantes do budismo onde (no meu entendimento) “suficiente” pode ser chamado de “o caminho do meio”. Sabiamente e não por acaso que não encontramos nas escrituras budistas uma definição do que seria esse caminho na prática, portanto o convite é que cada pessoa trabalhe para encontrar o seu próprio caminho do meio.

É difícil falar de suficiente para uma geração que conhece muito bem a abundância, sabemos que abundância é algo crucial para que a roda do capitalismo gire, em um mundo onde necessidades são criadas, onde quantidade é melhor que qualidade, não é interessante para o sistema que aprendamos sobre “suficiente”, então o que nos ensinam desde muito cedo é sobre a importância de acumular. Portanto acumulamos. Acumulamos amigos e amores. Acumulamos diplomas. Acumulamos dores. Acumulamos bens.

Nessa busca incessante e seguindo “à risca” o que nos é ensinado, queremos sempre mais: comemos mais do que precisamos, temos mais roupas do que necessitamos, compramos mais coisas do que precisamos, moramos em lugares maiores, gastamos mais do que precisamos e consequentemente precisamos de mais dinheiro para dar impulso à esse ciclo sem fim. Nada parece nos bastar.

E se para a matéria é um pouco mais fácil entender o conceito de suficiente (talvez uma muda de roupa seja suficiente para vencer o dia, um carro seja suficiente para me transportar, etc), o mesmo não vale para as emoções. O que acontece é que na era da abundância a sociedade te exige mais, sua família te exige mais, você se exige mais. Muito mais. Seja mais feliz, mais magro, mais rico, obtenha mais sucesso, seja mais bondoso, mais paciente, tenha mais amigos, seja sempre mais. Nada, absolutamente nada, nos convida ou incentiva a bastar. Se contentar é quase sinônimo de fracassar.

E ao abordar suficiente é ainda fundamental que tomemos um momento para olhar para o “copo menos cheio”, porque suficiente significa equilíbrio e no equilíbrio igualmente não há espaço para a escassez. Na lista de 72 nomes de Deus da Kabbalah encontramos no número 50 “IUD NUN DALED” (ou YOD NUN DALET), que com sabedoria aborda o conceito de suficiente e nos convida a meditar sobre o que nos é dado de menos: “Desperto a persistência e a paixão para nunca – nunca mesmo – contentar-me com menos!”.

É paradoxal que apesar de vivermos em uma aparente era de abundância, vivenciamos cada vez mais um período de muita falta. E assim nos acostumamos a viver com menos. Menos amor. Menos cumplicidade. Menos tolerância. Menos olho no olho. Menos honestidade. E como menos realmente não deve bastar à ninguém, mais uma vez nos ensinam a buscar mais. Então desde que contei a tal fábula pela primeira vez, e talvez muito antes disso, venho refletindo sobre meus limites:

Quanto me é suficiente?

Quanto amor é suficiente? Quanto do que dou é suficiente? Quanto do que recebo é? Quanta luta basta? Quanta alegria é suficiente? Quanta dor me basta? Qual a linha entre a persistência e o desapego? Quanto de ambição me basta? Qual é o tanto que me preenche? Qual é a gota d´agua? Quanto de informação é suficiente?

Se como já disse anteriormente “suficiente” é algo muito pessoal, seria tolice então dar respostas prontas para essas perguntas. O que posso fazer é falar de algumas descobertas apenas: que a linha do suficiente além de pessoal é ajustável; que nós vivemos adaptando-a de acordo com nossos interesses e dos outros; que geralmente nos esforçamos mais do que devíamos nesse processo, talvez na esperança de que um dia o que temos realmente nos baste ou talvez buscando reconhecimento; que ninguém nos ensina sobre a beleza do bastar; que somos imprudentes e vivemos ultrapassando o limite do que seria saudável para nós e para os outros; que frequentemente nos esquecemos de respeitar e até celebrar nossas limitações e com isso sofremos.

Então se assim como eu, também não lhe ensinaram sobre a importância desse conceito, faço aqui um convite à reflexão: quanto lhe é suficiente?

E o meu palpite é que no momento que passarmos a olhar com mais cuidado e atenção para nossas limitações e aprendermos a respeitá-las, nos liberaremos de muita carga e culpa e então descobriremos que é provável que “suficiente” more em quantidades muito maiores ou menores do que aquelas que nos foram ensinadas.

***

 

* A Fábula do que era suficiente

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“O amor, como eu o sinto” um texto de Nara Rúbia Ribeiro, obras de Kathe Fraga

“O amor, como eu o sinto” um texto de Nara Rúbia Ribeiro, obras de Kathe Fraga

Por Josie Conti

As pinturas de Kathe Fraga evocam as paredes gastas , pintadas à mão de uma grande mansão antiga parisiense. Painéis decorativos trazem uma mistura do romântico vintage francês e pinturas chinesas.

Os Escritos De Nara Rúbia Ribeiro trazem delicadeza, encantamento e a poesia.

Na cominação abaixo: o tom poético é agraciado pela beleza estética.

Convido-os para um passeio pelas letras e pelas cores da sensibilidade.

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Kathe Fraga

O AMOR, ASSIM O SINTO

Por Nara Rúbia Rbeiro

Quando menina, o Amor era o peito presente da minha mãe. Ou o meu pai chegando suado, sujo e cansado
dos seus trabalhos braçais, dizendo-me: “Eô!!! O papai chegou!!!”

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Kathe Fraga

Um pouco maior, o amor era um grande circo, com malabares, palhaços engraçados e poemas flutuantes ou um grupo fadas-madrinhas, em suas asinhas translúcidas.

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Kathe Fraga

Aos quinze, o Amor era um príncipe que chegaria, tomar-me-ia em seus braços e me conduziria a uma terra de sonho e palácios, onde as rosas me reverenciassem e as estrelas me nutrissem de alguma  seiva mágica, numa incandescente alegria.

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Kathe Fraga

Já adulta, o Amor tornou-se uma fera a rosnar pelos poros, a cegar-me o sentido no desejo de fundir-me ao outro. Furacão de desejos… Um cheiro libidinoso infiltrado na alma. O amor era o desespero da perpetuação da espécie.

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Kathe Fraga

Hoje, o Amor é tecelão a tecer-se em mim. É um sino que retine e me ensina o que não sei. É uma fresta na porta de minha ignorância e que me faz ver o quão mais sábia fui quando era uma pequena criança.

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Kathe Fraga

Hoje o Amor é um andarilho que me percorre a alma: sem pouso certo, sem forma fixa, sem afixação ao que vê.

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Kathe Fraga

Hoje o Amor é um lago a refletir a soma dos afagos que não tive, a amplidão dos corações que não amei, mas que estão ali, eu sei.

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Kathe Fraga

Hoje, o Amor é mais que dor, mais que emoção, muito maior que a razão.
O Amor é a pilastra que arrima o meu peito. É a rima que ritima o meu verso. É um cipreste que se alastra pelos astros do peito e faz com que eu me firme nas paragens etéreas.

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Kathe Fraga

É assim que eu o sinto. O Amor é o sangue da alma. É a maior metáfora da Suprema Alquimia a levar o oxigênio da vida a quem padeceu em extrema agonia.


NARA RÚBIA RIBEIRO

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Kathe Fraga

Nota da CONTIoutra: As lindas gravuras de Kathe Fraga foram encontradas no blog Modos de Olhar, indicado por Beatriz Arte Confeitaria. Nara Rúbia Ribeiro faz parte da equipe de colunistas do site e a artista Kathe Fraga reconheceu e autorizou a publicação.

Site oficial de Kathe Fraga

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Pedras da infância

Pedras da infância

Por Gustl Rosenkranz

Veja como as coisas vividas na infância atrapalham nossa felicidade

Bom, você com certeza leu o título e se pergunta agora: o que ele quer dizer com “pedras da infância”?

Chamo de “pedras da infância” tudo aquilo que foi colocado em nossa “mochila” quando ainda éramos pequenos e à medida que fomos crescendo, coisas que nos foram dadas ou mesmo impostas como condição para sobreviver e para ser aceito no seio da família e da sociedade. Essas pedras não são boas, mas foram necessárias, pois precisamos delas na infância para que possamos crescer, ficar fortes e adultos e caminhar com as próprias pernas.

Acredito que todo ser humano nasce com um espírito livre, mas um corpo frágil, pequeno, indefeso e dependente (em primeira linha dos pais). E nosso espírito sabe que é preciso proteger esse corpo para que ele um dia se torne robusto o suficiente para finalmente ser igualmente livre, como nosso espírito. E assim aceitamos as regras, tropeçamos nas pedras colocadas em nossos caminhos e carregamos nas costas aquelas depositadas em nossa “mochila”. Essas pedras são praticamente as estratégias que desenvolvemos para que possamos sobreviver, como, por exemplo, aquela pedra que uma criança recebe do pai colérico, que não gosta que a criança fale alto e dá bronca gratuita quando isso acontece. Assim, a criança aceita a pedra “fale baixo para não levar bronca do pai”, se tornando então alguém que fala baixo e que estremece só de ouvir alguém falando alto. Ou mesmo a pedra que uma criança recebe dos pais quando conta uma história fictícia, fruto da fantasia inerente à infância, mas é repreendida por estar “mentindo”. Assim a criança recebe a pedra “fantasia é mentira!”. Ou mesmo quando uma criança chega em casa com o boletim da escola com notas boas. Essa criança vê então a alegria dos pais, que saem mostrando o boletim a todo mundo, aos parentes, aos vizinhos, para que todos vejam o quanto seu filho ou sua filha é inteligente. Assim, sem que se perceba e mesmo que a intenção dos pais seja boa, a criança recebe a pedra “seja boa na escola para ver seus pais felizes!”.

Fico no exemplo da criança com boas notas na escola. Poderíamos pensar que esse elogio dos pais seria uma coisa boa e, em princípio, isso é verdade. Mas o que acontece então quando a criança não consegue manter suas notas boas e termina “fracassando” em uma ou outra matéria? Bom, depende então do tamanho assumido pela pedra do elogio dos pais: se ela for pequena, a criança pode até sentir um pouco de vergonha, mas sem maiores complicações. Mas se o elogio dos pais tiver se tornado para a criança uma pedra grande e pesada, a vergonha será enorme e a criança fará de tudo para esconder a nota ruim dos pais, mentindo, disfarçando e fugindo da realidade, sem perceber que com isso a pedra só fica ainda maior e mais pesada. E é esse crescimento que é problemático, pois, a depender do meio no qual vivemos quando crianças e do nível de maturidade de nossos pais e das pessoas à nossa volta, ele pode se tornar um crescimento selvagem, uma excrescência, fazendo com que uma pedra (ou mesmo várias) cresça tanto que um dia, mesmo já adultos, nos encontremos praticamente embaixo dela, tendo então muita dificuldade de se livrar novamente desse peso.

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Quero dizer que nosso sofrimento como pessoas adultas tem muitas vezes sua origem nessas pedras da infância, que recebemos e que tivemos que carregar conosco durante muitos anos, na verdade décadas, na verdade nossa vida inteira até aqui, sem que muitas vezes percebamos que nosso corpo já cresceu, não é mais tão frágil, que já nos tornamos adultos e, ao invés de finalmente juntar essa liberdade do corpo à liberdade do espírito do momento em que nascemos e sermos finalmente livres em plenitude, mantemos nosso corpo preso a essas pedras, prendendo assim igualmente o espírito, e aquele ser humano que nasceu “meio livre”, com espírito livre e corpo dependente, se torna um prisioneiro completo, encarcerado em sua infância, detido por suas próprias pedras. A solução para muitos de nossos problemas atuais seria então reconhecer que estamos carregando essas “pedras da infância”, que não são mais necessárias, pois já ficamos adultos, abrindo a mochila, esvaziando-a e continuando a caminhar, ou melhor ainda: voando, livre, leve e solto, começando finalmente a ser feliz.

Há pedras de todas as cores, formas e tamanhos. Umas são pequenas e fáceis de carregar, outras são grandes e são carregadas com muito sacrifício. Umas são tão pequenas que passamos sem problemas por cima delas, outras são tão enormes que bloqueiam nosso caminho. Umas são feias, outras são brilhantes e lindas e já outras são muito feias, mas parecem bonitas porque queremos vê-las assim. Mas todas elas têm algo em comum: elas pesam e, como tudo que pesa, elas atrapalham nossa andança neste mundo.

Há vários tipos de “pedras da infância” que costumamos carregar conosco, umas menos, outras extremamente pesadas, umas lisas, outras extremamente ásperas. Aqui apenas algumas delas:

– É aquela pedra que uma menina recebe da mãe, que mesmo mal casada e sofrendo, defende a tese de que casamento não pode ser desmanchado de forma alguma. A criança cresce então com essa pedra, casa-se mais tarde com o homem errado, mas não se separa por causa da pedra “casamento é eterno, mesmo que se sofra” recebida da mãe;

– É aquela pedra que um garoto sensível recebe do pai quando esse diz que “homem não chora”, fazendo com que o menino perca realmente essa capacidade ou passe a chorar escondido, mesmo mais tarde, como homem adulto;

– É aquela criança que cresce em um ambiente violento e recebe a pedra “violência é normal”;

– É aquela pedra que uma menina recebe da mãe frustrada quando essa diz que “todo homem não presta!”;

– É aquela “pedra da decepção” e a “pedra da perda de confiança” enorme que uma criança recebe quando confia em uma pessoa adulta de sua família, mas é abusada sexualmente;

– É aquela “pedra do medo” que uma criança recebe quando tem um pai ou mãe altamente cuidadosa, que nunca a deixa brincar do lado de fora;

– É aquela “pedra da rejeição” dada pela mãe ou pelo pai quando a criança se comporta de uma forma diferente da esperada e o pai ou a mãe diz então que “preferia não ter um filho (ou filha)”;

– É aquela “pedra da fofoca e da inveja” recebida pela criança que cresce em uma família fofoqueira e invejosa;

– É a “pedra do racismo” quando uma criança escuta constantemente em casa que pessoas com outra cor de pele não têm o mesmo valor;

– É a pedra “não vale a pena ser honesto” quando uma criança rouba e os pais passam a mão pela cabeça, deixando valer a desonestidade;

– É a pedra “não há justiça no mundo” quando pais tratam filhos de forma diferente, favorecendo uns, prejudicando outros.

Essas pedras são nossos medos, nossa solidão, nossa insegurança. nossos conceitos errados, nossa frustação, enfim, todas essas coisas que adquirimos na infância.

 

Exemplos não faltam. Mas prefiro contar uma história concreta, que ilustra bem como as pedras de nossa infância podem nos fazer sofrer como adultos:

Conheci uma mulher muito inteligente, com um coração do tamanho do mundo, uma pessoa muito agradável e que teria de tudo para ser feliz. Mas não era. Ela tinha problemas sérios de saúde e sofria de muito de problemas físicos, sem que nenhum médico descobrisse o que ela tinha, restando somente a possibilidade dela sofrer de um mal psicossomático. Bom, como ela tentava de tudo para parar de sofrer, ela aceitou esse diagnóstico e iniciou uma psicoterapia. Muitos meses depois, após passar por uma fase difícil de autoconhecimento e reflexão com ajuda do psicoterapeuta, ela descobriu o que a fazia sofrer:

Quando criança, ela sentia muita falta de receber carinho do pai, que era uma pessoa extremamente intelectual, distante emocionalmente e muito severa com os filhos. Ainda pequena, ela colocou na cabeça que queria escutar do pai que ele a amava e fazia de tudo para agradá-lo, sem sucesso, pois o pai se mantinha reservado nesse sentido. Pois bem, ela foi tentando, tentando, tentando… E a “pedra” foi crescendo… Um dia ela se tornou uma mulher adulta, mas o comportamento era o mesmo, pois ela continuava tentando agradar ao pai e pior ainda: também ao marido, ao chefe e a todas as figuras masculinas em sua vida (até mesmo ao filho!) – aqui vemos como a pedra cresceu! Mas nada adiantou: um belo dia, o pai faleceu sem dizer à filha que a amava e, como ela então sabia inconscientemente que jamais escutaria o que esperava, ela adoeceu, teve uma forte depressão e seus problemas físicos pioraram. Hoje, essa mulher tem 45 anos de idade e continuava sofrendo com isso, sem entender direito por que. Com ajuda da terapia, ela descobriu que estava tão agarrada a essa “pedra da infância” que não conseguia ser feliz. E essa infelicidade fez com que ela terminasse adoecendo, já que a pedra a prendia e evitava que ela fosse livre, tanto no nível espiritual como no nível físico. Somente após reconhecer isso é que ela teve a coragem e a força de simplesmente largar a pedra que recebera do pai (através de sua incapacidade de dizer que a amava!), percebendo que era uma “pedra da infância” não mais necessária na vida adulta, que a segurava em sua caminhada, evitando que ela pudesse ser realmente feliz. Foi um processo difícil e doloroso, mas que valeu a pena, pois hoje ela está bem, mais feliz, mesmo que a “pedra” do pai tenha deixado marcas, mesmo que a tristeza de nunca ter escutado do pai o que tanto queria escutar ainda exista. Largar uma pedra não significa esquecer o motivo de sua existência, mas sim aceitar que ela existe, fazendo parte,porém, do passado e não tem mais importância no presente e muito menos no futuro. Sua decisão de largar essa pedra (= aceitar que teve um pai que nunca disse que a amava!) permitiu que ela finalmente conseguisse deixar de carregar consigo um sofrimento do passado, voltando a sentir a liberdade de seu espírito e assim voltando também a se sentir saudável, livre fisicamente, e feliz.

Pode ser você prefira insistir em carregar as suas “pedras da infância”, talvez por costume ou medo. Não haveria nada de errado nisso, pois cada um tem o direito de carregar suas pedras pelo tempo que quiser ou precisar, mas talvez valesse a pena refletir que sentido faz carregar uma mochila pesada, cheia de coisas (pedras) que não lhe têm (mais) qualquer utilidade. Assim, lhe peço: dê uma parada você também. Verifique em você e em sua vida quais as “pedras” que você ainda carrega consigo e perceba quais delas lhe fazem mal e lhe impedem de caminhar e quais as que não atrapalham. Depois, abra a “mochila” e tire uma por uma, livrando-se do que lhe prende, evitando que você seja feliz. Vou até mais longe e proponho um exercício prático: pegue realmente uma mochila, procure pedras e coloque-as dentro da mochila, dando a cada uma delas um nome: esta pedra é a “pedra do medo” que eu sentia quando era criança, esta outra é a “pedra da solidão”, já que me senti muito só na infância, já esta outra é a “pedra da expectativa de minha mãe”, que fez com que eu vivesse minha vida de acordo com o que ela esperava e não conforme meus sonhos e desejos, e assim por diante. Depois, escolha um lugar especial, o lugar da despedida, vá até lá com a mochila e se livre das pedras, uma por uma, deixando-as lá e voltando para casa com a mochila vazia. Isso não vai resolver seus problemas completamente, já que é preciso tempo para consertar o que foi quebrado por uma vida inteira, mas será um bom começo para seu crescimento e para sua libertação pessoal.

O Cântico da Terra, poesia de Cora Coralina

O Cântico da Terra, poesia de Cora Coralina

O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

Cora Coralina

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Goddess of earth by ~phungvulienphuong on deviantART

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Do lado de dentro

Do lado de dentro

Por Joana Nascimento

Resiliência. Desde que conheci o significado dessa palavra, introjetei-a no meu imaginário, sem me desapegar dela. Usaria quando fosse necessário. Era o meu curinga. E todo ser humano que se deixa ser humano vai precisar recorrer a esse imponente vocábulo em determinada(s) etapa(s) da vida.

O senso comum que dita que a nossa felicidade é conquista individual, talvez seja uma das únicas verdades absolutas da vida. Ser feliz tem como lastro movimentos muito mais internos do que externos.

Para absorver bem os pulsos positivos que os acasos da vida nos oferecem, o nosso introspectivo deve estar afiado. Assim como o organismo da mãe precisa estar preparada para gestar um bebê; como a terra deve estar arada para que as raízes cresçam; como a vela do barco deve estar na posição certa para chegar ao destino almejado.

Nessa mesma lógica, nós precisamos estar com o coração limpo e leve, com a mente em plena atividade, com as sinapses acontecendo de forma efetiva e harmônica para que, consequentemente, as boas possibilidades que a vida nos proporciona sejam apreendidas com todo fulgor. O sorriso é nossa grande assinatura, mas é bom lembrar que, os sinceros, que estampam nosso rosto, vêm do lado de dentro.

Imbuída da frase que eu mesma fiz para ser meu talismã – nunca estou sozinha, tenho minha cabeça e meu coração – busquei nas minhas referências exemplos – ficcionais ou não – que endossassem todo essa delonga de raciocínio. Me lembrei de vários filmes aos quais assisti, livros que li, músicas que ouvi e, em vários casos, reconheci peculiaridades que aproximaram personagens e eu líricos da minha idiossincrasia.

Para indicar alguns: Sofia, que tinha um mundo todo dentro de sua imaginação (O mundo de Sofia – Jostein Gaarder); Andy Dufresne (Tim Robbins), de Um sonho de liberdade (1994) que aturou anos numa prisão, onde ficou, injustamente, sofrendo mazelas de alto grau, porque tinha dentro de si utopias tangíveis. Ou ainda o protagonista do fantástico ‘Peixe grande e suas histórias maravilhosas’ (2003 – Tim Burton), que, em suas fantasias, vivenciava seus mais valiosos sonhos.

A mistura dos conceitos resiliência e felicidade neste texto foi proposital. São termos que têm relação sucessiva: primeiro a resiliência, depois a felicidade, embora os dois também possam caminhar lado a lado.

***

Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

contioutra.com - Do lado de dentroJoana Nascimento

Sou jornalista e aspirante a produtora e crítica cultural, e, bem incipiente, roteirista de cinema.
Acredito piamente no conhecimento do maior número de textos teóricos, narrativos e imagens como forma de evolução mental e espiritual.
Embora tenha vontade, sei que uma pessoa não muda o mundo, mas creio que cada cabeça individual é um universo diferente, e este, nós podemos melhorar sempre. O impacto positivo no todo externo será sempre progressivo e crescente.
Gosto de escrever sobre existencialismo e condutas de vida, sempre fazendo analogias com filmes, livros, música e teatro.

Posturas do facilitador na condução de dinâmicas de grupo

Posturas do facilitador na condução de dinâmicas de grupo

São possibilidades que lhe são apresentadas: o propósito é você conduzir uma reflexão sobre como se comporta quando está à frente de um grupo em atividades que pedem para ser lúdicas, instigantes, plenas de reflexões de oportunidades de aprendizado.

Deixe claro aos participantes que eles se encontram em um laboratório de vivências – um ambiente propício para se exercitar um diversificado repertório de experimentos-, tendo o direito de testar possibilidades, cometer erros e refletir, depois, sobre a experiência e seus aprendizados.

Não se deve iniciar a atividade dizendo: “Agora nós vamos fazer um “quebra-gelo”, ou então: “Para vocês descontraírem um pouco, nós vamos…”. Ao proferir uma dessas frases poderá acabar com o encanto da situação e com o suspense no grupo (a surpresa pode constituir um forte aliado).

Antes de solicitar voluntários – se for o caso -, explique o tipo de atividade a ser desenvolvida, principalmente se for uma técnica que exija habilidades especiais (esforço físico, encenação, capacidade de memória, agilidade corporal, exercícios de solo), deixando-os à vontade para decidir se irão participar.

Aqueles que não quiserem ou puderem participar convide-os a serem observadores com o compromisso de percorrerem os diferentes grupos, anotando o que lhes despertar o interesse, além de algumas instruções específicas suas: virtudes de cada participante e do grupo, abordagens e posturas inadequadas, lideranças, omissões, conflitos.

Explicite as regras do jogo: em que consiste a atividade, o grau de participação esperado. Você pode omitir os possíveis mecanismos de avaliação (às vezes, falar antes acaba estragando a surpresa).

Atue como observador: não queira ser um participante. Não diga “Nós” como se você fizesse parte daquele grupo: você é um Facilitador, que deve interagir com o grupo, dentro das possibilidades do papel que desempenha, ficando, porém, do “lado de fora”. É uma maneira de manter a isenção, além de se preservar na hora de eles vivenciarem papéis e, assim, não se deixar contagiar pela disputa.

Se a atividade for por tempo determinado, informe que você sinalizará quando faltarem alguns minutos para o seu término. Se você quiser enfatizar a importância da gestão do tempo não informe a duração da atividade, por uma das razões abaixo, pois você quer:

– avaliar o grau de maturidade ou de conhecimento do grupo;
– esperar a maioria dos grupos terminar a tarefa para informar que se esgotou o tempo para a execução da tarefa;
– observar se os participantes tentam negociar a duração da atividade;
– observar mais um pouco, já que a atividade está tão interessante;
– usar o fator surpresa para informar o término da atividade como forma dos treinandos se educarem para a utilização racional do tempo (depois, sugira ao treinando que lance mão de algumas estratégias para o bom uso do tempo disponível, tais como: fazer um Brainstorming, elaborar um planejamento mínimo e desenvolver de forma concisa o que se pede para, caso o tempo o permita, voltar ao assunto e complementar o conteúdo);
– interromper a atividade antes que todos consigam concluí-la, para verificar em que estágio chegaram e qual a velocidade de resposta de cada um;
– observar a reação/postura emocional do grupo diante de diferentes desafios, ou ao ter a atividade interrompida abruptamente.

Após o final da dinâmica, depois de ouvir os participantes, você passa a palavra aos observadores, informando-lhes o foco a ser dado e o tempo disponível para as observações.

Não use palavras no diminutivo (“filminho”, “joguinho”), pois são autodesqualificantes. Cuidado com frases que revelam autodepreciação: “Vou tentar…”, “Não sou o mais indicada para estar aqui…”, “Vai ser meio chato”; “Acho que não vai ficar bom”.

Nesse papel de observador terá melhores condições de chegar a pertinentes conclusões (anotações e observações). Escreva sinteticamente as observações e conclusões mais interessantes: a memória pode falhar. Em certos momentos você pode delegar a um participante a condução da atividade (será um treino para ele, ao mesmo tempo em que você terá mais liberdade para observar).

Seja um discreto diretor do espetáculo, com forte atuação nos bastidores. Avise-lhes que, se julgar necessário, você interromperá a atividade, para repassar novas informações, como se fosse um diretor de um espetáculo.

Sempre que possível, delegue a um treinando a condução da atividade, repassando-lhe as regras: é uma forma de deixar os holofotes para eles, além de permitir que vivenciem papéis de liderança. Escolha para liderar, algumas vezes, treinandos que não fiquem à vontade nesse papel (por não gostarem ou por timidez). Deixe que eles aconteçam do jeito que souberem ser, independente de estarem sendo bem-sucedidos (cuidado apenas com excessos, para não trazer riscos à imagem deles ou constrangimentos).

Nos casos em que a atividade irá transcorrer em várias rodadas, e há espaço para um clima de “competição”, informe resultados parciais dos grupos, como forma de:

– estimular quem está à frente para garantir a liderança;
– instigar a reação dos que não estão se saindo muito bem;
– observar a reação dos grupos quando trabalham sob pressão;
– observar que tipo de resposta os grupos oferecem à medida que são informados de suas performances;
– descobrir quais grupos apresentam flexibibilidade e resiliência, conseguindo mudar suas estratégias e serem mais bem sucedidos daí em diante na empreitada;
– permitir aos grupos saberem qual o referencial de uma boa performance.

Se constatar que a atividade está perdendo a graça em função dos extremos (grupo que dispara na liderança ou grupo que fica muito para trás) crie novas regras e novas formas de pontuação para revigorar a atividade e dar chance de reação aos que não estão sendo produtivos.

Fique atento nas observações feitas pelos participantes, para poder incluí-las em seus comentários alguns aspectos interessantes a serem valorizados: para ser produtivo em grupo é preciso se conhecer bem, fazer bom uso da autocrítica, ser criativo, saber fazer concessões, ter humildade, valorizar o planejamento, a pesquisa, ter consciência das suas limitações e das suas possibilidades, ser participativo, questionador, saber respeitar os limites do outro, ter espírito de corpo, contribuir para a sinergia do grupo.

Ao final de cada vivência reúna os participantes em um círculo e abra espaço para os depoimentos. Busque a participação valorizando a espontaneidade: deixe-os, durante um certo tempo, livres para abordarem o que julgarem mais relevante. Assim você poderá observar a capacidade de autocrítica e o nível de percepção da realidade dos participantes, além do grau de maturidade do grupo.

Extraia do grupo o máximo de significados em cada atividade desenvolvida. À medida que os depoimentos acontecem, corrija as possíveis distorções de foco de abordagem, direcionando-os para os propósitos a serem atingidos.

Enfatize os casos em que grupos criaram obstáculos na execução da atividade (“Isso não é permitido”), com “barreiras” não verbalizadas por você e que tiveram impacto limitante no resultado. Evidencie que, em termos de regras, é teoricamente permitido tudo o que não é claramente proibido.

Escolha um momento de passar a palavra aos observadores. Conforme o caso informe-lhes o foco a ser dado e o tempo disponível para as observações.

Caso a discussão não evolua para o propósito da sua realização, eis algumas sugestões de tópicos a serem incluídos na discussão – pode ser, também, por escrito – , como forma de conduzir a uma maior reflexão:

– qual o propósito da atividade;
– como foi a participação dele;
– como foi a liderança do grupo;
– o que contribuiu para o bom resultado;
– o que atrapalhou para o resultado;
– quais os aprendizados;
– o que faria de diferente se tivesse a oportunidade de participar novamente da atividade.

Uma reflexão sobre um princípio sociológico muito interessante e apropriado para as dinâmicas e vivências: “Quanto pior, melhor”: quando estiver conduzindo alguma vivência comportamental não se assuste se o resultado for caótico ou deixar a desejar: aprende-se muito com o que “não se deve fazer” no ambiente de trabalho.

Se houver inadequações na condução, prepare-se para saber extrair o melhor de cada um desses aspectos: confusão no desempenho dos papéis, precipitação e imaturidade, não-conclusão da atividade, dificuldade na compreensão do que era para ter sido feito, performance pífia, egoísmo exacerbado.

Quando as coisas dão errado torna-se, pois, muito mais fácil se trabalhar o conteúdo e as dificuldades do grupo (em termos de relacionamento, liderança, gestão, comunicação, etc.): ficarão mais claramente identificáveis os pontos nevrálgicos de postura, comportamento, liderança, relacionamento, de gestão, que merecerão, daí em diante, uma abordagem diferenciada.

Afinal de contas cada participante tende a deixar transparecer muito do seu modo de ser nessas atividades: se ele não se organiza, se não planeja suas atividades na vivência, é muito provável que faça e aja da mesma forma na sua vida pessoal e, principalmente, no seu ambiente de trabalho. Aí estará sua preciosa chance de fazê-lo ver as inadequações, propiciando-lhe uma chance de reflexão e uma forma prática de aprendizado.

Limite-se, encerradas as participações do grupo, a complementar as idéias relevantes não abordadas, os ganhos e os aprendizados, dando um fecho estruturado ao assunto, deixando, de preferência, para o final da atividade, um desfecho de impacto – uma mensagem, sugestões de possíveis aplicações práticas, ganhos do grupo.

O propósito da reciclagem é de todos, incluindo você; não perca de vista que também está ali para aprender. Aproveite da melhor forma as oportunidades que aparecerem: poderá ser alguém melhor para si mesmo e estará mais bem preparado e à vontade nas próximas oportunidades semelhantes de intervenção.

LOURIVAL  ANTONIO CRISTOFOLETTI

contioutra.com - Posturas do facilitador na condução de dinâmicas de grupoPaulista de Rio Claro e residente em Vitória/ES. É mestre em Administração pela UnB – Universidade de Brasília, Analista Organizacional e Consultor em Recursos Humanos. Atualmente atua como professor na Graduação e MBA na FAESA – Faculdades Integradas Espírito-Santenses; Instrutor na UFES – Universidade Federal do ES e na ESESP– Escola de Governo do ES.

Livro publicado: COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES
Livraria Logos (vendas pelo site)

E-mail de contato: : [email protected]
No Facebook: Lourival Antonio Cristofoletti No Instagram: lourivalcristofoletti

Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro

Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro

Por Clara Dawn

Enquanto o vento pincelava nuvens, transfigurando-as em jocosos animaizinhos, Deus cumpria o Regulamento da Casa e deixava apenas doze girassóis no jardim. Colhê-los-ia Van Gogh tempos depois. Tempos depois ainda seriam doze. Doze girassóis sedentos num vaso tosco e cheio de vincos. Impressionam-me, não os girassóis. Os vincos… Impressionam-me.

Impressiona-me, também, a curta e interminável vida de Van Gogh. Impressiona-me a tela pintada com tons de amarelo e marrom insinuando um mundo belo, rico e cheio de esperança. Mas, na época que pintou “Girassóis“, o mundo interior de Van Gogh fugia de seu controle… É o que sugere a superfície do quadro? O tom agitado e a textura desarmônica revelariam, assim, o estado de espírito do artista? Os vincos no vaso eram prenúncios de que a vida de Van Gogh estava prestes a um trágico fim?

contioutra.com - Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro
Van Gogh

Doze girassóis num vaso – doze meses – uma primavera a menos… E os gonzos da existência se oxidam, ainda que de barro sejam.  Por Cristo, por que os girassóis estão num vaso? Não teria Deus os deixado no jardim?

Há de se compreender essa metáfora. Ora, os girassóis representam a vida, os dias, os meses do ano – um ano inteiro – uma vida inteira. Inteira? Inteira, não estaria num vaso repleto de vincos… Inteira seria a vida dos girassóis se eles estivessem no jardim: juntos olhando para a mesma direção, buscando ideais de um bem comum – conduzidos vitalmente à luz.

Ah! Fascina-me o fato de que na ausência da luz os girassóis se viram uns para os outros como se buscassem absorver o que têm de melhor nos outros, como se quisessem dar aos outros também, o melhor de si…

Pobre Van Gogh – uma vida, não inteira, dentro de um vaso! Chorei por Van Gogh, chorei por mim, chorei por tantos. Porque de repente aprisionamos nossos dias, nossas vidas, nossa essência em diminutos vasos, em diminutas expansões, em diminutas expectativas… Em diminuta existência.

Mas a existência de Van Gogh não foi grandiosa? Sim, deveras, mas ninguém disse isso a ele. Ele não sabia – sua vida in vitro era murcha. Sua razão de ser pairava no limbo da ressonância psicossocial. Com isso,os doze girassóis, doze, após doze, se fatigaram cedo demais.

Assim, Van Gogh não quis esperar o envelhecer dos vincos de sua face e, embora soubesse que o vaso onde ele se guardava era cheio de rachaduras atemporais, ousou, então, a coragem daqueles que decidem morrer e espatifou o próprio vaso com violência – numa belíssima noite de inverno neerlandês.

Que pena! Van Gogh não precisava viver num vaso, afinal, alguns dos jardins mais bonitos do mundo estão na Holanda. Afinal, o sopro da criação Divina passeia por todos os jardins, fazendo respirar os girassóis. Todos eles, até mesmo os que já foram colhidos, pois quem disse que não há vida após a morte, não sabe que é um vaso: vestido para girassóis.

Nota da CONTI outra: o texto acima foi reproduzido com a autorização da autora.

contioutra.com - Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro
Vincent van Gogh pintando girassóis – de Gauguin

 

 

contioutra.com - Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitroCLARA DAWN

Nome que vem conquistando espaço e respeito no cenário das letras brasileiras, é uma escritora goiana de perspicácia ímpar na construção de personagens e na descrição das sutilezas da alma.

É autora de sete livros, dentre eles, “Sofia Búlgara e Tabuleiro da Morte” e “Alétheia”, publicado em 2008 pela Editora Kelps.

http://www.claradawn.com/

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos

ByNina |Carolina Carvalho

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos.
…pelo menos até acabar de ler esse texto.

Vamos começar com aquela história de que quando é para dar certo até o Universo conspira.
Isso não é uma verdade absoluta.

Se você busca alguém para fazer parte da tua vida, esqueça os contos de fadas, as histórias das amigas, as dicas de revistas, os filmes românticos.
Antes da busca você precisa se encontrar. E isso tem a ver com estar de bem consigo mesma, em estar feliz sozinha, em transbordar amor próprio.
A busca nunca deve vir para preencher os seus vazios.
Só existe a possibilidade de encontro quando você abre o seu coração, e sem escudos ou amarras, se joga ao mundo com a certeza do que você realmente quer.
Não aceite menos do que isso.

Conhecer alguém leva tempo.

Por isso, preste atenção:

1) Não se submeta ao que não te faz bem.

Se você começar a se relacionar com alguém e estiver gostando, não esconda os teus sentimentos. Você não precisa dizer que está apaixonada, mas deve deixar claro o que espera da relação. Manter um mistério pode ser instigante, mas joguinhos, nunca.
A sinceridade pode afastar quem não está nem aí para você, mas vai manter do teu lado quem realmente vale a pena.

2) Não confunda intensidade com impulsividade.

Vá com calma. Nada de exigir, cobrar, pegar no pé, ter crise de ciúmes.
Namorar vai além de rótulos. Você não precisa mudar status de relacionamento no Facebook e sair postando fotos com o cara já no começo. Aliás, nem deve. Namoro é intimidade. Intimidade cresce com o tempo. Preserve a mágica entre vocês, intensamente, a dois.

3) Observe.

Quanto mais você deixar o outro livre, mais você vai conhecer como ele é.
Não queira mudar a vida dele. Não interfira em nada. Somente assim e com o tempo, você vai perceber o quanto é prioridade na vida dele. E assim decidir se ele se encaixa na tua vida.
E lembre-se, o teu comportamento estará sendo observado por ele também.

4) O tempo do outro é diferente do teu.

Está aí uma coisa que a gente sabe, ouve, mas custa a entender.
Geralmente o homem demora mais para se entregar. Homens são racionais. Então, se você é mulher, desacelere.
Não tem coisa pior do que exigir do outro alguma coisa. Se ele diz não uma vez, não insista.
Lembre que o relacionamento é a dois. Se com o tempo, o comportamento dele não te agradar e ele deixar a desejar, converse.
Deixe claro o que você espera.
Se nada mudar, desista.
Mesmo gostando do cara, você sempre deve gostar muito mais de si mesma.

5) Cuidado com os impulsivos.

Mal vocês começaram a sair e ele já se declara, faz planos, te liga e manda mensagens o tempo todo, fala tudo que você sempre sonhou ouvir e faz coisas que homem nenhum fez pra você.
Sim, para muitas pode parecer contos de fadas, mas não se engane. Homem assim tende a desapegar com a mesma intensidade e rapidez que se entregou. Nesse caso, você tem que desacelerar e não cair no ritmo frenético dele. Tome cuidado.
Isso é típico de homem mulherengo, depois da conquista vai te manter em “banho-maria” como faz com as outras. Ah, mas não se esqueça, tem mulher que faz a mesma coisa.

6) Visualizada e não respondida não é o fim do mundo.

Se você tem amigos homens, com certeza já mandou textos enormes falando sobre cinco assuntos diferentes e ele, teu amigo, respondeu dois dias depois sobre algo que não tinha a ver com nada do que você escreveu.
E nem por isso você surtou e achou que ele não era mais teu amigo.
O celular é uma faca de dois gumes. As pessoas trabalham, têm compromissos, preocupações e nem sempre estão disponíveis e com vontade de falar. A maioria dos homens tem preguiça de muito “mimimi”. Se ele não respondeu, espere ele te procurar. Se não procurar e sumir, não era pra ser. Existe muito homem babaca, mas também existe muita mulher sem noção:
se ele sumir depois que você mandou dezenas de mensagens em tudo quanto é rede social, ligou, esperneou e foi uma chata, ele sumiu com razão. Essa facilidade e rapidez de comunicação que as redes sociais trouxeram, transformaram as mulheres em adolescentes no quesito “como agir”.
Um dos maiores erros que cometemos é julgar o outro. Antecipamos problemas que nem existem, surtamos e depois, chamadas de loucas, ainda reclamamos. E obviamente, perdemos.
Acredito que muitas pessoas já cometeram esse erro. Mas, por favor, que não se repita.
Ninfguém nenhum gosta de se sentir pressionado. Respeite a individualidade do outro.

7) Fuja de relacionamento com pessoas folgadas.

Um exemplo é o cara que sempre tem uma desculpa quando você quer sair, para não te ver, mas ainda assim te procura de vez em quando.
Você aceita na hora, mesmo que já esteja de pijama, quase dormindo, ou larga “seja lá o que estiver fazendo” para sair com ele.
E em menos de uma hora está pronta, arrumada, linda, maravilhosa e ainda sai atrás de onde ele mandar você ir. Valorize-se. Você não é “Disk Pizza”. Homem folgado não te merece. E se você vive algo parecido porque está apaixonada, saia dessa agora!

8) Valores.

Preste atenção nos valores que ele carrega. Em como ele se relaciona com a família, amigos e com as pessoas no geral. Boa educação é fundamental. O modo como ele trata os outros será exatamente o mesmo que ele tratará você.

9) Seja para para o outro como você gostaria que o outro fosse para você.

Ninguém quer do lado uma pessoa amargurada, pesada, que só fala de problemas e vive reclamando de tudo. Dê o teu melhor. Seja autêntica, carinhosa, mas equilibrada. Não exagere para não sufocar.
E não espere que ele retribua da mesma forma que você.
Os homens têm maneiras diferentes de mostrar o que sentem. E geralmente são bem melhores nas atitudes do que nas palavras. E se assim for, fique tranquila.

10) Fuja de regras. Inclusive de algumas dessas.

Pode parecer contraditória essa regra.
Mas tudo que foi dito aqui é generalizado e talvez alguma coisa não se encaixe para você.

A verdade é que cada relacionamento é único.
O mais importante é você estar vivendo algo que te faça bem e feliz.
É viver intensamente cada momento, sem se preocupar tanto com o dia de amanhã.

E quanto à frase citada no início do texto sobre o Universo conspirar a favor, ele conspira somente quando o casal está disposto a fazer dar certo. O sucesso de um relacionamento não depende só do amor, mas também de como as dificuldades e diferenças são contornadas por ambos.
É quando além da química, existe a confiança, o respeito, a cumplicidade, o companheirismo.
É a energia boa do relacionamento que vai fazer o amor permanecer.

E se um dia não der mais certo, as lembranças serão boas e o carinho será mantido.

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contioutra.com - Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentosByNina |Carolina Carvalho

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Nina tem 40 anos, é Professora de Yoga e SUP Yoga, surfista e escritora.
Trabalha com Social Media e ama tudo o que faz.

Escritora, desenhista, baterista, filósofa? A minha filha tem o direito de ser o que ela quiser.

Escritora, desenhista, baterista,  filósofa? A minha filha tem o direito de ser o que ela quiser.

Por Nara Rúbia Ribeiro

Eu estava lendo um livro, mais precisamente “Os trabalhadores do Mar”, de Victor Hugo, quando sou despertada do meu transe encantatório por um grito da minha filha, numa ocorrência totalmente inusitada. Ela, então com sete anos de idade, subiu as escadas com máxima pressa, e começou a gritar antes mesmo de terminar de abrir a porta:

– Mãe! (pausa para a respiração) Eu acho que fiz um poema!

Ela estava emocionada, o coração batendo apressado tanto pela pressa com que subira as escadas quanto pela súbita inspiração.

 – Mesmo, Mariana?  Onde você escreveu o poema?

– Não, mãe. Eu só pensei.

Foi quando corri, peguei lápis e papel e disse:

– Então vamos anotar aqui para que não o esqueçamos nunca mais!

 E assim a Mariana declamou-se a sua primeira composição poética, escreveu o poema em seu caderno e fez as pertinentes ilustrações.

Conto aqui a história da Mariana para lamentar as centenas de “Victor Hugos” perdidos, os inúmeros “Da Vinci” desperdiçados, os “Bethovens” que a humanidade não conheceu e jamais conhecerá, porque os adultos andam ocupados demais para perceberem os lampejos de genialidade de suas crianças.

Como se não bastasse essa grave omissão, por estamos desfocados dos valores essenciais, queremos criar filhos não para encantarem o mundo na plenitude da originalidade que possuem. O que queremos é forjar meros imitadores das celebridades, queremos que trilhem caminhos de sucesso que nós traçamos ou que terceiros criaram. Assim, desrespeitamos os nossos filhos desde a infância por retirarmos deles a possibilidade de serem autores de suas próprias histórias de vida.

O pai que ainda não percebeu que tem mais a aprender com o filho que a ensinar, ainda não entendeu a paternidade. Quanto a mim, eu aprendo muito mais do que ensino e ainda não sei se já posso considerar-me uma mãe.

Penso que o nosso maior papel não é ensinar. É ver em nossos filhos as inclinações boas, os magníficos talentos, as superiores vocações e darmos  tamanho holofote, incentivo, tanto fomento à amplitude dessas benesses íntimas, que as más inclinações se escondam, ofuscadas e envergonhas pela grandeza das primeiras.

– Mãe!  (continuou a conversa) Se eu quiser ser escritora, eu posso?

– Claro que sim, filha. Você poderá fazer com que as pessoas pensem muitas coisas boas, lendo  as suas palavras.

– Mas e se eu quiser tocar numa banda de rock, eu posso também?

– Claro! E você ainda pode escrever as letras das músicas da banda, não é o máximo?

– É sim. Mas eu acho que vou ser é pintora mesmo. Eu gosto muito do verde. O verde é minha cor preferida.

E foi correndo brincar, deixando o poema na minha mão. Hoje, já transcorridos vários anos, penso comigo que talvez a Mariana venha a ser poeta. Talvez desenhista… Pode ser mesmo que integre alguma banda de rock. Talvez venha a ser tudo isso junto e mais uma centena de outras coisas. Quem de nós não é múltiplo e multifacetado não pode ser singular. O que tenho certeza é de que a Mari sempre soube muito das indagações da vida. Já aos sete anos se inclinava à Filosofia. Desde sempre soube que sabia pouco, como você observará ao ler o poema abaixo. Ser socrática aos sete anos é saber-se muito… E fico aqui imaginando: ter uma filha escritora, desenhista, baterista e filósofa… isso não é demais?

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Uma animação para quem ama os Beatles: “The Beatles: Rockband”

Uma animação para quem ama os Beatles: “The Beatles: Rockband”

“The Beatles”, uma banda de rock britânica formada em Liverpool, em 1960. É o grupo musical mais bem-sucedido e aclamado da história da música.

Eu o desafio a assistir ao vídeo abaixo sem sentir vontade de entrar na animação e tocar, dançar e cantar com os Beatles. É contagiante!

The Beatles: Rockband

Foi um filme promocional do Annecy Festival 2010.

Pete Candeland é o criador desta introdução cinematográfica para o jogo The Beatles: Rockband.

RockBand Beatles Intro from Quentin Vien on Vimeo.

Fonte: Blog Illustratus

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Papiroflexia, usando a arte para reinventar o mundo

Papiroflexia, usando a arte para reinventar o mundo

Reinventar o mundo. Transformar o estressante cotidiano urbano em recantos naturais e harmônicos, fazendo dos elementos ruidosos que os compõem delicadas dobraduras de papel. Um sonho que, hoje, só pela arte pode ser vivido.

Papiroflexia (Spanish for “Origami”) de Joaquin Baldwin, é uma das animações finalistas do Festival de Cannes em 2008.

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3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistas

3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistas

Por Lara Vascouto

Síndrome de Jerusalém

A cidade de Jerusalém recebe milhares e milhares de visitantes por ano por ser o marco central das três maiores religiões no mundo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Por esse motivo, não é nenhuma surpresa o fato de que a maior parte dos visitantes sejam crentes fiéis de suas respectivas religiões e que se sintam glorificados ao visitar o Muro das Lamentações, por exemplo, ou a Basílica do Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo teria sido crucificado. O que não é normal, no entanto, é quando um deles surta repentinamente e começa a usar túnicas feitas de lençóis e a pregar para quem quiser ouvir sobre como agora se chama João Batista e está pronto para batizar alguns fiéis.

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Jesus, Sansão, João Batista, Virgem Maria são alguns dos principais personagens que encarnam nos pobres turistas.

Parece que eu estou inventando, mas a Síndrome de Jerusalém é real e acomete algumas dezenas de turistas todos os anos. Os principais sintomas incluem ansiedade, vontade de querer vagar sozinho pela cidade e pelos lugares santos, recitar versos religiosos e, como já mencionado, vestir o lençol do hotel como se fosse uma túnica e sair pregando pelas ruas. Apesar de real, a síndrome não é, no entanto, considerada uma doença psiquiátrica específica, principalmente porque cerca de 80% dos turistas acometidos costumam apresentar histórico prévio de alguma outra doença mental.  Quanto aos 20% restantes, os médicos acreditam que a síndrome seja apenas uma reação exagerada a um lugar com um simbolismo muito forte em suas vidas, seja ele escancarado ou não. É normal, por exemplo, a síndrome acometer indivíduos que tiveram uma infância muito religiosa, mas abandonaram a religião depois de adultos. Seja como for, se em Jerusalém o seu amigo começar a se enrolar no lençol do hotel como quem não quer nada, você já sabe o que está acontecendo.

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Síndrome de Paris

A síndrome de Paris não é tão maluca quanto a de Jerusalém (será?) . Ela costuma acometer somente turistas japoneses e chineses viajando pela primeira vez, obviamente, para Paris. Os sintomas costumam incluir alucinações, mania de perseguição, ansiedade extrema, tontura, taquicardia e suor excessivo e geralmente acometem em torno de vinte pessoas por ano, de acordo com a embaixada japonesa em Paris (que possui uma linha aberta 24h para atender turistas japoneses nessa situação).

De acordo com especialistas, o motivo para o transtorno é, em suma, o choque cultural e o choque de expectativas. Em primeiro lugar, existe a dificuldade de comunicação, que se agrava pelo fato de os franceses (principalmente os que trabalham no setor de serviços) não terem o hábito se esforçar muito para entender os turistas ou mesmo de se fazer entender.

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É esse o nível de felicidade dos garçons franceses.

Some a isso a exaustão da viagem e o fato de que Paris e os parisienses não terem absolutamente nada a ver com o que se esperava que eles fossem, e você tem em suas mãos um japonês alucinado que só vai melhorar 100% quando voltar para casa. De fato, a grande causa da Síndrome de Paris costuma ser atribuída  às altas expectativas que os turistas japoneses têm do lugar (alimentadas por filmes, revistas e a mídia japonesa em geral) e o choque que levam quando percebem que Paris é incrível, sim, mas suja e um tanto quanto bagunçada, como qualquer outra grande cidade. A desilusão é simplesmente grande demais.

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Já chega, cansei dessa bagunça! Cadê minha embaixada?

Síndrome de Stendhal (ou de Florença)

Outra síndrome que parece inventada, mas de fato acontece, a síndrome de Florença é o nome dado ao mal-estar que alguns turistas experimentam ao admirar grandes obras de arte ou mesmo muitas obras de arte em um curto espaço de tempo. O nome da síndrome vem do autor francês Stendhal (pseudônimo de Henri-Marie Beyle), o primeiro a descrever os sintomas ao visitar Florença no século XIX. Os sintomas incluem tontura, taquicardia, confusão mental, desmaios e,  às vezes, até alucinações.

Apesar de ter sido descrita por Stendhal no século XIX, foi só na década de 1970 que a psiquiatra italiana Graziella Magherini estudou e compilou mais de 100 casos similares – todos em Florença (daí o fato de o transtorno também ser conhecido como síndrome de Florença). O grande acervo artístico da cidade parece ser o responsável pelos casos de turistas que chegam ao hospital Santa Maria Nuova passando mal depois de um dia de turistagem na galeria Uffizi. Magherini concluiu que o transtorno normalmente acomete turistas apaixonados por arte ou turistas estressados que querem ver todas as obras da cidade, mas tem o tempo limitado. A recomendação dos especialistas é intercalar atividades culturais e artísticas em Florença com atividades esportivas, como uma caminhada em um parque, um jantar descontraído ou até uma tarde de compras.

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Recomendações médicas!

Nota da CONTIoutra:  Nó de Oito é uma página parceiro e o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

Lara Vascouto

contioutra.com - 3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistasInternacionalista, ex-Googler e fanática por ler e escrever textos bem-humorados. Optou por ser pobre e feliz na praia ao invés de rica e triste em São Paulo.

Para mais artigos da autora acesse seu blog Nó de Oito

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“Todas as Vidas”, um poema de Cora Coralina

“Todas as Vidas”, um poema de Cora Coralina

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

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A eternidade é agora

A eternidade é agora

Por Nara Rúbia Ribeiro

O futuro e o passado são tempos ausentes. Eles só existem em nossa mente e têm a cor e a forma que os nossos pensamentos lhes emprestam. Aquele que relembra, bem como aquele que, em pensamento, tenta antever o futuro, abre, na mente, a janela que naquele momento melhor lhe favorece. Assim, um mesmo acontecimento pode desencadear, ao ser relembrado ou antevisto, emoções diferentes e até antagônicas.

Escolhemos o que relembrar e aquilo que devemos esquecer. Criamos fantasmas que nos visitam ou se alojam em nós… Forjamos frestas de esperança, ou de medo, num futuro que construímos nos recantos da alma. E, displicentes, nos descuidamos da única e absoluta realidade do tempo: o agora.

Só o agora é real. De resto, tudo é abstração. É criação da mente dos homens a quem é dada a tarefa de criar e recriar, de reinventar a si mesmos. Mas só nos reinventamos hoje. Só vivemos no agora. Só o instante é permanente. Só o agora existiu ontem, é hoje e será no amanhã a nossa possibilidade de ser o aquilo que almejamos.

E constato que a cada dia é mais difícil viver no presente. Ora a depressão nos aponta para aquilo que não fomos, para o que não fizemos, para as metas não alcançadas e nos estaciona no passado, lamentando tudo o que “deveríamos” ter sido. Doutra vez, é a ansiedade que nos faz viajar ao futuro no afã de burlar o tempo e de nos fazer prisioneiros do amanhã, procrastinadores da existência, desperdiçadores do hoje.

E nos esquecemos de que já nos é dado vivenciar o infinito: cada segundo é uma réplica, uma miniatura da eternidade. E o eterno só existe em nós e por nós. E é agora.

contioutra.com - A eternidade é agora

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

contioutra.com - A eternidade é agora

Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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