Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro

Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitro

Por Clara Dawn

Enquanto o vento pincelava nuvens, transfigurando-as em jocosos animaizinhos, Deus cumpria o Regulamento da Casa e deixava apenas doze girassóis no jardim. Colhê-los-ia Van Gogh tempos depois. Tempos depois ainda seriam doze. Doze girassóis sedentos num vaso tosco e cheio de vincos. Impressionam-me, não os girassóis. Os vincos… Impressionam-me.

Impressiona-me, também, a curta e interminável vida de Van Gogh. Impressiona-me a tela pintada com tons de amarelo e marrom insinuando um mundo belo, rico e cheio de esperança. Mas, na época que pintou “Girassóis“, o mundo interior de Van Gogh fugia de seu controle… É o que sugere a superfície do quadro? O tom agitado e a textura desarmônica revelariam, assim, o estado de espírito do artista? Os vincos no vaso eram prenúncios de que a vida de Van Gogh estava prestes a um trágico fim?

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Van Gogh

Doze girassóis num vaso – doze meses – uma primavera a menos… E os gonzos da existência se oxidam, ainda que de barro sejam.  Por Cristo, por que os girassóis estão num vaso? Não teria Deus os deixado no jardim?

Há de se compreender essa metáfora. Ora, os girassóis representam a vida, os dias, os meses do ano – um ano inteiro – uma vida inteira. Inteira? Inteira, não estaria num vaso repleto de vincos… Inteira seria a vida dos girassóis se eles estivessem no jardim: juntos olhando para a mesma direção, buscando ideais de um bem comum – conduzidos vitalmente à luz.

Ah! Fascina-me o fato de que na ausência da luz os girassóis se viram uns para os outros como se buscassem absorver o que têm de melhor nos outros, como se quisessem dar aos outros também, o melhor de si…

Pobre Van Gogh – uma vida, não inteira, dentro de um vaso! Chorei por Van Gogh, chorei por mim, chorei por tantos. Porque de repente aprisionamos nossos dias, nossas vidas, nossa essência em diminutos vasos, em diminutas expansões, em diminutas expectativas… Em diminuta existência.

Mas a existência de Van Gogh não foi grandiosa? Sim, deveras, mas ninguém disse isso a ele. Ele não sabia – sua vida in vitro era murcha. Sua razão de ser pairava no limbo da ressonância psicossocial. Com isso,os doze girassóis, doze, após doze, se fatigaram cedo demais.

Assim, Van Gogh não quis esperar o envelhecer dos vincos de sua face e, embora soubesse que o vaso onde ele se guardava era cheio de rachaduras atemporais, ousou, então, a coragem daqueles que decidem morrer e espatifou o próprio vaso com violência – numa belíssima noite de inverno neerlandês.

Que pena! Van Gogh não precisava viver num vaso, afinal, alguns dos jardins mais bonitos do mundo estão na Holanda. Afinal, o sopro da criação Divina passeia por todos os jardins, fazendo respirar os girassóis. Todos eles, até mesmo os que já foram colhidos, pois quem disse que não há vida após a morte, não sabe que é um vaso: vestido para girassóis.

Nota da CONTI outra: o texto acima foi reproduzido com a autorização da autora.

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Vincent van Gogh pintando girassóis – de Gauguin

 

 

contioutra.com - Doze girassóis num vaso – ou doze meses in vitroCLARA DAWN

Nome que vem conquistando espaço e respeito no cenário das letras brasileiras, é uma escritora goiana de perspicácia ímpar na construção de personagens e na descrição das sutilezas da alma.

É autora de sete livros, dentre eles, “Sofia Búlgara e Tabuleiro da Morte” e “Alétheia”, publicado em 2008 pela Editora Kelps.

http://www.claradawn.com/

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos

ByNina |Carolina Carvalho

Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentos.
…pelo menos até acabar de ler esse texto.

Vamos começar com aquela história de que quando é para dar certo até o Universo conspira.
Isso não é uma verdade absoluta.

Se você busca alguém para fazer parte da tua vida, esqueça os contos de fadas, as histórias das amigas, as dicas de revistas, os filmes românticos.
Antes da busca você precisa se encontrar. E isso tem a ver com estar de bem consigo mesma, em estar feliz sozinha, em transbordar amor próprio.
A busca nunca deve vir para preencher os seus vazios.
Só existe a possibilidade de encontro quando você abre o seu coração, e sem escudos ou amarras, se joga ao mundo com a certeza do que você realmente quer.
Não aceite menos do que isso.

Conhecer alguém leva tempo.

Por isso, preste atenção:

1) Não se submeta ao que não te faz bem.

Se você começar a se relacionar com alguém e estiver gostando, não esconda os teus sentimentos. Você não precisa dizer que está apaixonada, mas deve deixar claro o que espera da relação. Manter um mistério pode ser instigante, mas joguinhos, nunca.
A sinceridade pode afastar quem não está nem aí para você, mas vai manter do teu lado quem realmente vale a pena.

2) Não confunda intensidade com impulsividade.

Vá com calma. Nada de exigir, cobrar, pegar no pé, ter crise de ciúmes.
Namorar vai além de rótulos. Você não precisa mudar status de relacionamento no Facebook e sair postando fotos com o cara já no começo. Aliás, nem deve. Namoro é intimidade. Intimidade cresce com o tempo. Preserve a mágica entre vocês, intensamente, a dois.

3) Observe.

Quanto mais você deixar o outro livre, mais você vai conhecer como ele é.
Não queira mudar a vida dele. Não interfira em nada. Somente assim e com o tempo, você vai perceber o quanto é prioridade na vida dele. E assim decidir se ele se encaixa na tua vida.
E lembre-se, o teu comportamento estará sendo observado por ele também.

4) O tempo do outro é diferente do teu.

Está aí uma coisa que a gente sabe, ouve, mas custa a entender.
Geralmente o homem demora mais para se entregar. Homens são racionais. Então, se você é mulher, desacelere.
Não tem coisa pior do que exigir do outro alguma coisa. Se ele diz não uma vez, não insista.
Lembre que o relacionamento é a dois. Se com o tempo, o comportamento dele não te agradar e ele deixar a desejar, converse.
Deixe claro o que você espera.
Se nada mudar, desista.
Mesmo gostando do cara, você sempre deve gostar muito mais de si mesma.

5) Cuidado com os impulsivos.

Mal vocês começaram a sair e ele já se declara, faz planos, te liga e manda mensagens o tempo todo, fala tudo que você sempre sonhou ouvir e faz coisas que homem nenhum fez pra você.
Sim, para muitas pode parecer contos de fadas, mas não se engane. Homem assim tende a desapegar com a mesma intensidade e rapidez que se entregou. Nesse caso, você tem que desacelerar e não cair no ritmo frenético dele. Tome cuidado.
Isso é típico de homem mulherengo, depois da conquista vai te manter em “banho-maria” como faz com as outras. Ah, mas não se esqueça, tem mulher que faz a mesma coisa.

6) Visualizada e não respondida não é o fim do mundo.

Se você tem amigos homens, com certeza já mandou textos enormes falando sobre cinco assuntos diferentes e ele, teu amigo, respondeu dois dias depois sobre algo que não tinha a ver com nada do que você escreveu.
E nem por isso você surtou e achou que ele não era mais teu amigo.
O celular é uma faca de dois gumes. As pessoas trabalham, têm compromissos, preocupações e nem sempre estão disponíveis e com vontade de falar. A maioria dos homens tem preguiça de muito “mimimi”. Se ele não respondeu, espere ele te procurar. Se não procurar e sumir, não era pra ser. Existe muito homem babaca, mas também existe muita mulher sem noção:
se ele sumir depois que você mandou dezenas de mensagens em tudo quanto é rede social, ligou, esperneou e foi uma chata, ele sumiu com razão. Essa facilidade e rapidez de comunicação que as redes sociais trouxeram, transformaram as mulheres em adolescentes no quesito “como agir”.
Um dos maiores erros que cometemos é julgar o outro. Antecipamos problemas que nem existem, surtamos e depois, chamadas de loucas, ainda reclamamos. E obviamente, perdemos.
Acredito que muitas pessoas já cometeram esse erro. Mas, por favor, que não se repita.
Ninfguém nenhum gosta de se sentir pressionado. Respeite a individualidade do outro.

7) Fuja de relacionamento com pessoas folgadas.

Um exemplo é o cara que sempre tem uma desculpa quando você quer sair, para não te ver, mas ainda assim te procura de vez em quando.
Você aceita na hora, mesmo que já esteja de pijama, quase dormindo, ou larga “seja lá o que estiver fazendo” para sair com ele.
E em menos de uma hora está pronta, arrumada, linda, maravilhosa e ainda sai atrás de onde ele mandar você ir. Valorize-se. Você não é “Disk Pizza”. Homem folgado não te merece. E se você vive algo parecido porque está apaixonada, saia dessa agora!

8) Valores.

Preste atenção nos valores que ele carrega. Em como ele se relaciona com a família, amigos e com as pessoas no geral. Boa educação é fundamental. O modo como ele trata os outros será exatamente o mesmo que ele tratará você.

9) Seja para para o outro como você gostaria que o outro fosse para você.

Ninguém quer do lado uma pessoa amargurada, pesada, que só fala de problemas e vive reclamando de tudo. Dê o teu melhor. Seja autêntica, carinhosa, mas equilibrada. Não exagere para não sufocar.
E não espere que ele retribua da mesma forma que você.
Os homens têm maneiras diferentes de mostrar o que sentem. E geralmente são bem melhores nas atitudes do que nas palavras. E se assim for, fique tranquila.

10) Fuja de regras. Inclusive de algumas dessas.

Pode parecer contraditória essa regra.
Mas tudo que foi dito aqui é generalizado e talvez alguma coisa não se encaixe para você.

A verdade é que cada relacionamento é único.
O mais importante é você estar vivendo algo que te faça bem e feliz.
É viver intensamente cada momento, sem se preocupar tanto com o dia de amanhã.

E quanto à frase citada no início do texto sobre o Universo conspirar a favor, ele conspira somente quando o casal está disposto a fazer dar certo. O sucesso de um relacionamento não depende só do amor, mas também de como as dificuldades e diferenças são contornadas por ambos.
É quando além da química, existe a confiança, o respeito, a cumplicidade, o companheirismo.
É a energia boa do relacionamento que vai fazer o amor permanecer.

E se um dia não der mais certo, as lembranças serão boas e o carinho será mantido.

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contioutra.com - Esqueça tudo que você acha que sabe sobre relacionamentosByNina |Carolina Carvalho

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Nina tem 40 anos, é Professora de Yoga e SUP Yoga, surfista e escritora.
Trabalha com Social Media e ama tudo o que faz.

Escritora, desenhista, baterista, filósofa? A minha filha tem o direito de ser o que ela quiser.

Escritora, desenhista, baterista,  filósofa? A minha filha tem o direito de ser o que ela quiser.

Por Nara Rúbia Ribeiro

Eu estava lendo um livro, mais precisamente “Os trabalhadores do Mar”, de Victor Hugo, quando sou despertada do meu transe encantatório por um grito da minha filha, numa ocorrência totalmente inusitada. Ela, então com sete anos de idade, subiu as escadas com máxima pressa, e começou a gritar antes mesmo de terminar de abrir a porta:

– Mãe! (pausa para a respiração) Eu acho que fiz um poema!

Ela estava emocionada, o coração batendo apressado tanto pela pressa com que subira as escadas quanto pela súbita inspiração.

 – Mesmo, Mariana?  Onde você escreveu o poema?

– Não, mãe. Eu só pensei.

Foi quando corri, peguei lápis e papel e disse:

– Então vamos anotar aqui para que não o esqueçamos nunca mais!

 E assim a Mariana declamou-se a sua primeira composição poética, escreveu o poema em seu caderno e fez as pertinentes ilustrações.

Conto aqui a história da Mariana para lamentar as centenas de “Victor Hugos” perdidos, os inúmeros “Da Vinci” desperdiçados, os “Bethovens” que a humanidade não conheceu e jamais conhecerá, porque os adultos andam ocupados demais para perceberem os lampejos de genialidade de suas crianças.

Como se não bastasse essa grave omissão, por estamos desfocados dos valores essenciais, queremos criar filhos não para encantarem o mundo na plenitude da originalidade que possuem. O que queremos é forjar meros imitadores das celebridades, queremos que trilhem caminhos de sucesso que nós traçamos ou que terceiros criaram. Assim, desrespeitamos os nossos filhos desde a infância por retirarmos deles a possibilidade de serem autores de suas próprias histórias de vida.

O pai que ainda não percebeu que tem mais a aprender com o filho que a ensinar, ainda não entendeu a paternidade. Quanto a mim, eu aprendo muito mais do que ensino e ainda não sei se já posso considerar-me uma mãe.

Penso que o nosso maior papel não é ensinar. É ver em nossos filhos as inclinações boas, os magníficos talentos, as superiores vocações e darmos  tamanho holofote, incentivo, tanto fomento à amplitude dessas benesses íntimas, que as más inclinações se escondam, ofuscadas e envergonhas pela grandeza das primeiras.

– Mãe!  (continuou a conversa) Se eu quiser ser escritora, eu posso?

– Claro que sim, filha. Você poderá fazer com que as pessoas pensem muitas coisas boas, lendo  as suas palavras.

– Mas e se eu quiser tocar numa banda de rock, eu posso também?

– Claro! E você ainda pode escrever as letras das músicas da banda, não é o máximo?

– É sim. Mas eu acho que vou ser é pintora mesmo. Eu gosto muito do verde. O verde é minha cor preferida.

E foi correndo brincar, deixando o poema na minha mão. Hoje, já transcorridos vários anos, penso comigo que talvez a Mariana venha a ser poeta. Talvez desenhista… Pode ser mesmo que integre alguma banda de rock. Talvez venha a ser tudo isso junto e mais uma centena de outras coisas. Quem de nós não é múltiplo e multifacetado não pode ser singular. O que tenho certeza é de que a Mari sempre soube muito das indagações da vida. Já aos sete anos se inclinava à Filosofia. Desde sempre soube que sabia pouco, como você observará ao ler o poema abaixo. Ser socrática aos sete anos é saber-se muito… E fico aqui imaginando: ter uma filha escritora, desenhista, baterista e filósofa… isso não é demais?

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Uma animação para quem ama os Beatles: “The Beatles: Rockband”

Uma animação para quem ama os Beatles: “The Beatles: Rockband”

“The Beatles”, uma banda de rock britânica formada em Liverpool, em 1960. É o grupo musical mais bem-sucedido e aclamado da história da música.

Eu o desafio a assistir ao vídeo abaixo sem sentir vontade de entrar na animação e tocar, dançar e cantar com os Beatles. É contagiante!

The Beatles: Rockband

Foi um filme promocional do Annecy Festival 2010.

Pete Candeland é o criador desta introdução cinematográfica para o jogo The Beatles: Rockband.

RockBand Beatles Intro from Quentin Vien on Vimeo.

Fonte: Blog Illustratus

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Papiroflexia, usando a arte para reinventar o mundo

Papiroflexia, usando a arte para reinventar o mundo

Reinventar o mundo. Transformar o estressante cotidiano urbano em recantos naturais e harmônicos, fazendo dos elementos ruidosos que os compõem delicadas dobraduras de papel. Um sonho que, hoje, só pela arte pode ser vivido.

Papiroflexia (Spanish for “Origami”) de Joaquin Baldwin, é uma das animações finalistas do Festival de Cannes em 2008.

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3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistas

3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistas

Por Lara Vascouto

Síndrome de Jerusalém

A cidade de Jerusalém recebe milhares e milhares de visitantes por ano por ser o marco central das três maiores religiões no mundo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Por esse motivo, não é nenhuma surpresa o fato de que a maior parte dos visitantes sejam crentes fiéis de suas respectivas religiões e que se sintam glorificados ao visitar o Muro das Lamentações, por exemplo, ou a Basílica do Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo teria sido crucificado. O que não é normal, no entanto, é quando um deles surta repentinamente e começa a usar túnicas feitas de lençóis e a pregar para quem quiser ouvir sobre como agora se chama João Batista e está pronto para batizar alguns fiéis.

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Jesus, Sansão, João Batista, Virgem Maria são alguns dos principais personagens que encarnam nos pobres turistas.

Parece que eu estou inventando, mas a Síndrome de Jerusalém é real e acomete algumas dezenas de turistas todos os anos. Os principais sintomas incluem ansiedade, vontade de querer vagar sozinho pela cidade e pelos lugares santos, recitar versos religiosos e, como já mencionado, vestir o lençol do hotel como se fosse uma túnica e sair pregando pelas ruas. Apesar de real, a síndrome não é, no entanto, considerada uma doença psiquiátrica específica, principalmente porque cerca de 80% dos turistas acometidos costumam apresentar histórico prévio de alguma outra doença mental.  Quanto aos 20% restantes, os médicos acreditam que a síndrome seja apenas uma reação exagerada a um lugar com um simbolismo muito forte em suas vidas, seja ele escancarado ou não. É normal, por exemplo, a síndrome acometer indivíduos que tiveram uma infância muito religiosa, mas abandonaram a religião depois de adultos. Seja como for, se em Jerusalém o seu amigo começar a se enrolar no lençol do hotel como quem não quer nada, você já sabe o que está acontecendo.

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Síndrome de Paris

A síndrome de Paris não é tão maluca quanto a de Jerusalém (será?) . Ela costuma acometer somente turistas japoneses e chineses viajando pela primeira vez, obviamente, para Paris. Os sintomas costumam incluir alucinações, mania de perseguição, ansiedade extrema, tontura, taquicardia e suor excessivo e geralmente acometem em torno de vinte pessoas por ano, de acordo com a embaixada japonesa em Paris (que possui uma linha aberta 24h para atender turistas japoneses nessa situação).

De acordo com especialistas, o motivo para o transtorno é, em suma, o choque cultural e o choque de expectativas. Em primeiro lugar, existe a dificuldade de comunicação, que se agrava pelo fato de os franceses (principalmente os que trabalham no setor de serviços) não terem o hábito se esforçar muito para entender os turistas ou mesmo de se fazer entender.

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É esse o nível de felicidade dos garçons franceses.

Some a isso a exaustão da viagem e o fato de que Paris e os parisienses não terem absolutamente nada a ver com o que se esperava que eles fossem, e você tem em suas mãos um japonês alucinado que só vai melhorar 100% quando voltar para casa. De fato, a grande causa da Síndrome de Paris costuma ser atribuída  às altas expectativas que os turistas japoneses têm do lugar (alimentadas por filmes, revistas e a mídia japonesa em geral) e o choque que levam quando percebem que Paris é incrível, sim, mas suja e um tanto quanto bagunçada, como qualquer outra grande cidade. A desilusão é simplesmente grande demais.

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Já chega, cansei dessa bagunça! Cadê minha embaixada?

Síndrome de Stendhal (ou de Florença)

Outra síndrome que parece inventada, mas de fato acontece, a síndrome de Florença é o nome dado ao mal-estar que alguns turistas experimentam ao admirar grandes obras de arte ou mesmo muitas obras de arte em um curto espaço de tempo. O nome da síndrome vem do autor francês Stendhal (pseudônimo de Henri-Marie Beyle), o primeiro a descrever os sintomas ao visitar Florença no século XIX. Os sintomas incluem tontura, taquicardia, confusão mental, desmaios e,  às vezes, até alucinações.

Apesar de ter sido descrita por Stendhal no século XIX, foi só na década de 1970 que a psiquiatra italiana Graziella Magherini estudou e compilou mais de 100 casos similares – todos em Florença (daí o fato de o transtorno também ser conhecido como síndrome de Florença). O grande acervo artístico da cidade parece ser o responsável pelos casos de turistas que chegam ao hospital Santa Maria Nuova passando mal depois de um dia de turistagem na galeria Uffizi. Magherini concluiu que o transtorno normalmente acomete turistas apaixonados por arte ou turistas estressados que querem ver todas as obras da cidade, mas tem o tempo limitado. A recomendação dos especialistas é intercalar atividades culturais e artísticas em Florença com atividades esportivas, como uma caminhada em um parque, um jantar descontraído ou até uma tarde de compras.

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Recomendações médicas!

Nota da CONTIoutra:  Nó de Oito é uma página parceiro e o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

Lara Vascouto

contioutra.com - 3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistasInternacionalista, ex-Googler e fanática por ler e escrever textos bem-humorados. Optou por ser pobre e feliz na praia ao invés de rica e triste em São Paulo.

Para mais artigos da autora acesse seu blog Nó de Oito

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“Todas as Vidas”, um poema de Cora Coralina

“Todas as Vidas”, um poema de Cora Coralina

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

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A eternidade é agora

A eternidade é agora

Por Nara Rúbia Ribeiro

O futuro e o passado são tempos ausentes. Eles só existem em nossa mente e têm a cor e a forma que os nossos pensamentos lhes emprestam. Aquele que relembra, bem como aquele que, em pensamento, tenta antever o futuro, abre, na mente, a janela que naquele momento melhor lhe favorece. Assim, um mesmo acontecimento pode desencadear, ao ser relembrado ou antevisto, emoções diferentes e até antagônicas.

Escolhemos o que relembrar e aquilo que devemos esquecer. Criamos fantasmas que nos visitam ou se alojam em nós… Forjamos frestas de esperança, ou de medo, num futuro que construímos nos recantos da alma. E, displicentes, nos descuidamos da única e absoluta realidade do tempo: o agora.

Só o agora é real. De resto, tudo é abstração. É criação da mente dos homens a quem é dada a tarefa de criar e recriar, de reinventar a si mesmos. Mas só nos reinventamos hoje. Só vivemos no agora. Só o instante é permanente. Só o agora existiu ontem, é hoje e será no amanhã a nossa possibilidade de ser o aquilo que almejamos.

E constato que a cada dia é mais difícil viver no presente. Ora a depressão nos aponta para aquilo que não fomos, para o que não fizemos, para as metas não alcançadas e nos estaciona no passado, lamentando tudo o que “deveríamos” ter sido. Doutra vez, é a ansiedade que nos faz viajar ao futuro no afã de burlar o tempo e de nos fazer prisioneiros do amanhã, procrastinadores da existência, desperdiçadores do hoje.

E nos esquecemos de que já nos é dado vivenciar o infinito: cada segundo é uma réplica, uma miniatura da eternidade. E o eterno só existe em nós e por nós. E é agora.

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Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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“Não serei o poeta de um mundo caduco” Carlos Drummond de Andrade

“Não serei o poeta de um mundo caduco” Carlos Drummond de Andrade

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

O texto acima foi publicado originalmente no blog Modos de olhar e reproduzido aqui com autorização.

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Existem limites para a delicadeza? Os trabalhos de Lucy Grossmith

Existem limites para a delicadeza? Os trabalhos de Lucy Grossmith

“Minhas pinturas são uma interpretação mágica do que vejo misturado com pensamentos felizes ou sentimentos sobre um lugar Ilustrando um momento especial no tempo. Meu objetivo é inspirar os outros e captar a sua imaginação também. ” Lucy Grossmith

+ Lucy Grossmith

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O que “O profeta” de Kalil Gibran, fala sobre o Tempo

O que  “O profeta” de Kalil Gibran, fala sobre o Tempo

Um astrônomo disse: Fala-nos do Tempo.

E ele respondeu:

Se dependesse de vós mediríeis o imedível e o incomensurável.

Ajustaríeis a vossa conduta e até dirigiríeis o rumo do vosso espírito de acordo com as horas e e as estações.

Do tempo faríeis um ribeiro em cuja margem vos sentaríeis a vê-lo fluir.

No entanto, o intemporal em vós está consciente do intemporal da vida, e sabe que o ontem não é senão a memória do hoje, e o amanhã é o sonho de hoje.

E aquele que dentro de vós canta e contempla, habita ainda dentro dos limites daquele primeiro momento que espalhou as estrelas no firmamento.

Quem, dentre vós, não sente que a sua capacidade para amar é ilimitada?

E, no entanto, também sente que esse mesmo amor, embora ilimitado, está confinado no âmago do seu ser, não se movendo de pensamento amoroso para pensamento amoroso, nem de atos de amor para atos de amor.

E não será o tempo, tal como o amor, indivisível e imóvel?

Mas se em pensamento quiserdes medir o tempo em estações, deixai que cada estação abrace todas as outras.

Kalil Gibran

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O direito à tristeza – Contardo Calligaris

O direito à tristeza – Contardo Calligaris

Por Contardo Calligaris

As crianças têm dois deveres. Um, salutar, é o dever de crescer e parar de ser crianças. O outro, mais complicado, é o de ser felizes, ou melhor, de encenar a felicidade para os adultos. Esses dois deveres são um pouco contraditórios, pois, crescendo e saindo da infância, a gente descobre, por exemplo, que os picolés não são de graça. Portanto, torna-se mais difícil saltitar sorrindo pelos parques à espera de que a máquina fotográfica do papai imortalize o momento. Em suma, se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.A descoberta dessa contradição pode levar uma criança a desistir de crescer. E pode fazer a tristeza (às vezes o desespero) de outra criança, incomodada pela tarefa de ser, para a família inteira, a representante da felicidade que os adultos perderam (por serem adultos, porque a vida é dura, porque doem as costas, porque o casamento é tenso, porque não sabemos direito o que desejamos).

A ideia da infância como um tempo específico, bem distinto da vida adulta, sem as atrapalhações dos desejos sexuais, sem os apertos da necessidade de ganhar a vida, é recente. Tem pouco mais de 200 anos. Idealizar a infância como tempo feliz é uma peça central do sentimento e da ideologia da modernidade.É crucial lembrar-se disso na hora em que somos convidados a espreitar índices e sinais de depressão nas nossas crianças.

O convite é irresistível, pois a criança deprimida contraria nossa vontade de vê-la feliz. Um menino ou uma menina tristes nos privam de um espetáculo ao qual achamos que temos direito: o espetáculo da felicidade à qual aspiramos, da qual somos frustrados e que sobra para as crianças como uma tarefa. “Meu filho, minha filha, seja feliz por mim.”É só escutar os adultos falando de suas crianças tristes para constatar que a vida da criança é sistematicamente desconhecida por aqueles que parecem se preocupar com a felicidade do rebento. “Como pode, com tudo que fazemos e fizemos por ela?” ou “Como pode, ele que não tem preocupação nenhuma, ele que é criança?”. A criança triste é uma espécie de desertor; abandonou seu lugar na peça da vida dos adultos, tirou sua fantasia de palhaço.Conselho aos adultos (pais, terapeutas etc.): quando uma criança parece estar deprimida, o mais urgente não é reconhecer os “sinais” de uma doença e inventar jeitos de lhe devolver uma caricatura de sorriso.

O mais urgente, para seu bem, é reconhecer que uma criança tem o DIREITO de estar triste, porque ela não é apenas um boneco cuja euforia deve nos consolar das perdas e danos de nossa existência; ela tem vida própria.Mais uma observação para evitar a precipitação. Aparentemente, nas últimas décadas, a depressão se tornou uma doença muito comum. Será que somos mais tristes que nossos pais e antepassados próximos? Acredito que não. As más línguas dizem que a depressão foi promovida como doença pelas indústrias farmacêuticas, quando encontraram um remédio que podiam comercializar para “curá-la”. Mas isso seria o de menos. É mais importante notar que a depressão se tornou uma doença tão relevante (pelo número de doentes e pela gravidade do sofrimento) porque ela é um pecado contra o espírito do tempo. Quem se deprime não pega peixes e ainda menos sobe no bonde andando.Será que vamos conseguir transformar também a tristeza infantil num pecado?Claro que sim. Aliás, amanhã, quando seu filho voltar da escola, além de verificar se ele não está com frieiras, veja também se ele não pegou uma deprê. E, se for o caso, dê um castigo, pois, afinal, como é que ele ousa fazer cara feia quando acabamos de lhe comprar um gameboy? Ora! E, se o castigo não bastar, pílulas e terapia nele. Qualquer coisa para evitar de admitir que a infância não é nenhum paraíso.

Texto via Laboratório de Sensibilidade

“Cidade Colorida”, uma bela animação que nos alerta sobre como as cores afetam nossas emoções.

“Cidade Colorida”, uma bela animação que nos alerta sobre como as cores afetam nossas emoções.

Aqui, uma bela animação que nos alerta sobre como as cores afetam nossas emoções.
Numa cidade destituída de boas vibrações, um rapaz, o único atento ao poder das cores, observa que tudo silencia no preto e no branco. Assim, ele decide dizer palavras coloridas, sabedor de que estas palavras têm o poder de emprestar cor, vida, encantamento. Mas, talvez, só as palavras não bastem…

“Cidade Colorida” por – Nebula Studios

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Apartheid e Carnaval

Apartheid e Carnaval

Não posso imaginar nenhum cidadão da cidade do Rio de Janeiro que tenha conseguido crescer sem carregar uma dor interna causada pelo descaso e pela discrepante diferença social. Passei a minha infância sem conseguir entender porque podíamos viver com tanto conforto enquanto as crianças que viviam nos morros vizinhos a nossa casa, mal tinham o que comer ou vestir.

Na minha adolescência a situação foi se agravando, pois as favelas só aumentavam. Governo após governo, a situação sempre piorava. Fique completamente chocada certo dia ao ver três crianças passando por um restaurante. De repente, elas meteram as mãos no prato de um cliente distraído sentado na varanda, pegarem a comida do prato as pressas e enfiarem na boca quase em desespero.

Na época, a maioria dos moradores das favelas era de negros. Na década de oitenta, continuavam sendo e assim a realidade é perpetuada até hoje. Os mesmos a quem, desde a colônia, foi negado o direito a educação, a dignidade e a vida. Quinhentos anos depois eles continuam sendo mortos, torturados e desrespeitados. Milhares de jovens morrem assassinados todos os dias, mas não são notícia. Hoje esses crimes passaram quase a ser um alívio para muitos que os acham um incômodo. A zona sul da cidade não os quer em “suas” praias”, suas praças ou calçadas mas os tolera durante a maior festa do país senão do mundo, o carnaval.

Vivemos um apartheid há cinco séculos. Até hoje é raro, não só no Rio, mas em todo país, ver um negro nas escolas privadas, universidades, dirigindo um bom carro ou em bons cargos profissionais e o país, acostumado a essa hipocrisia, aparenta não se lembrar, por falta de conhecimento ou por não querer mesmo, de que o Brasil é terra onde o europeu teve a “audácia” de se misturar aos nativos e escravos criando, assim, o povo brasileiro, portanto, com raras exceções, somos todos um pouco “raspa do mesmo tacho”.

A história do carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos.

Foram os  negros nos deram o ritmo, o samba, o vatapá, o candomblé, a yemanjá, a capoeira e um número infinito de coisas maravilhosas da nossa cultura, além, é claro, do que hoje é o carnaval no país que, mesmo não tendo origem brasileira, tem aqui a mais linda e glamorosa festa realizada em todo o mundo.

O carnaval que conhecemos, que atrai milhares de turistas todos os anos, que fornece milhares de empregos, que tira jovens das drogas e da vida precária, que gera milhões para governos corruptos e absolutamente negligentes foi, e é ainda é feito pelos descendentes de africanos, pela maioria favelada, que até hoje, boa parte das classes alta e média, insiste em escravizar e a tratar com desprezo 360 dias do ano, exceto quando pretendem sublimar seus preconceitos para poder participar da festa “deles”. E durante estes quatro dias de folia, os papéis podem ser invertidos. “Brancos” se fingem de negros e “negros”, de senhores. É o grande momento quando o negro, generosamente, recebe o branco que passa o ano o rejeitando, em sua escola.

São horas preciosas, onde eles não morrem de bala perdida, não fogem da polícia ou usam o elevador de serviço. São os raros momentos do ano onde podem andar de cabeça erguida.

Aos olhos do mundo, somos todos pardos fazendo um grande espetáculo, mas aos olhos da nossa mídia perversa e hipócrita, o foco da festa são as celebridades e os convidados “brancos”. Além disso, quem faz a festa e não desfila não tem como assistir. Alguém já viu algum artesão da festa nos caros camarotes do samba?

Somos um país medieval de coronéis e senhores de engenho, mas como dizia o sábio Milton Santos, geógrafo e pensador, um dos raros negros deste país a conseguir escapar deste perverso sistema: ” Existem apenas duas classes sociais, a dos que não comem e a dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem.” Isso definiria a população do Rio de Janeiro que hoje em dia não dorme mesmo.

Amo essa mistura de gente, raças e cores, mas não suporto mais tanta injustiça.

Estamos no meio de uma guerra civil interrompida até quarta feira de cinzas. Mas fazendo minhas as palavras de Miltom Santos: “Os negros ainda sorriem. Preocupa-me o momento que começarem a ranger os dentes.” Este dia acho que chegou.

Na imagem de capa- ilustrativa-  um exemplo da beleza do povo e do espetáculo que é o carnaval brasileiro.

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