“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
Paulo Freire
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
Paulo Freire
Por Alan Lima
O bem vai mal, o barato está caro. Diz o jornal na tevê. Em cada reportagem, eu me sentia assistindo uma reprise.
Meu espírito escapou da sala e, encontrei abrigo num assunto que eu gosto bastante e pouco entendo. Música. Revelo a você, o caminho do meu pensamento.
Nunca acompanhei ao vivo uma orquestra. A disponibilidade de espetáculos do tipo é escassa no Brasil. Este fato, penso eu, rouba boa parte da minha autoridade quando o assunto é música clássica. Poderia listar muitos motivos ( falta de instrução, experiências no campo ), que deixassem bem claro; sou apenas alguém leigando no assunto.
Mas lembre-se. Eu tenho uma cabeça. Às vezes a danada resolve pensar, ignorando se é sábia ou comum.
Surgiu do embaraço a questão:
– Que raio torna uma música clássica?!
Por razões desconhecidas, lembrei-me da trilha sonora de O Auto da Compadecida, filme baseado no livro de Ariano Suassuna. Começo a pesquisar e descubro. Todas as canções do filme são do Grupo Instrumental Sagrama.
Aperto play e minhas reflexões perdem o interesse em conceituar o clássico, culto, erudito.
Ouvindo Presepada, tema do personagem João Grilo, tive certeza.
Se eu fosse “classificador musical” ao ouvir esta canção, diria:
– É música muito brasileira. Só sei que é assim.
https://www.youtube.com/watch?v=c5kH015YVWY
“A criança que vive com o ridículo aprende a ser tímida.
A criança que vive com crítica aprende a condenar.
A criança que vive com suspeita aprende a ser falsa.
A criança que vive com antagonismo aprende a ser hostil.
A criança que vive com afeição aprende a amar.
A criança que vive com estímulo aprende a confiar.
A criança que vive com a verdade aprende a ser justa.
A criança que vive com o elogio aprende a dar valor.
A criança que vive com generosidade aprende a repartir.
A criança que vive com o saber aprende a conhecer.
A criança que vive com paciência aprende a tolerância.
A criança que vive com felicidade conhecerá o amor e a beleza.”
Ronald Russel
Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos.
Abaixo, uma homenagem às mulheres pelo dia 08 de março!
Parabéns mulheres!
A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.
Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.
Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.
Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste – mas que importância tem a tristeza das crianças?
Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.
Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.
O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos – além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.
Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.
Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus – dono de todos os mundos – que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos – segundo leio – que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.
Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos – insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.
Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês…
Texto extraído do livro “Quatro Vozes”, Distribuidora Record de Serviços de Imprensa – Rio de Janeiro, 1998, pág. 73.
Saiba tudo sobre a vida e a obra de Cecília Meireles visitando“Biografias“.
Por Luis Gonzaga Fragoso
Uma sutileza perceptível em algumas joias do cancioneiro nacional está na ligação estreita entre letra, melodia e arranjos.
É o que acontece com “Paciência”, de Lenine. Se você tiver o cedê Na Pressão, ficará mais fácil me acompanhar. No final deste texto, transcrevo a letra.
No cedê, a canção foi gravada duas vezes. Uma audição desatenta das duas versões poderá levar o ouvinte à conclusão: “Ué, mas são iguais!”.
Não: a segunda delas tem uma levada mais pop, acentuada pela presença da guitarra. E é mais curta: 56 segundos a menos – uma eternidade, para os padrões da mídia.
No meio da canção, o solo de piano dura 35 segundos na primeira versão; 17, na segunda.
“Paciência” tocou (e toca) no país inteiro: fez parte da trilha sonora de “Vila Madalena”, novela da Globo. No encarte do cedê, vemos que a faixa 3 é a versão “normal”; a faixa 12 foi literalmente batizada de “Versão Vila Madalena”.
Uma hipótese plausível: teria havido um acordo prévio entre o compositor e a gravadora, segundo o qual a canção só poderia entrar na novela caso se adequasse a alguns padrões. Teria de ser regravada, numa versão mais curta e uma “levada mais pop”, menos “cult”.
Até aqui, tudo coerente, nada de extraordinário. Fazer concessões faz parte do meio artístico.
O encanto da brincadeira é que os versos da canção são a ilustração de todo o conjunto – “Será que temos esse tempo pra perder?”, diz a letra. Não, não temos – resposta que é confirmada pelo próprio formato das gravações. Afinal, o ouvinte/internauta jamais ou raramente tem acesso à primeira versão.
No YouTube, tento achar um link com a primeira versão, e nada. Encontro apenas a que toca nas rádios, a chamada “faixa de trabalho”, trilha da novela.
Em compensação, encontro o videoclip abaixo, cujas imagens estão em finíssima sintonia com os versos de “Paciência”: “Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu faço hora, me demoro, vou na valsa. A vida é tão rara…”. Compare-a com a versão da novela (isto é, se você “tiver este tempo pra perder…”).
Divirta-se!
Paciência
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para, não… a vida não para)
LUIS GONZAGA FRAGOSO
Tradutor e Revisor
Nota da CONTI outra: A publicação do texto acima foi autorizada pelo autor.
Se
Alice Ruiz
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer,
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso,
de noite uma farra
a gente ia viver com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo,
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí, vá ficando por aí,
eu vou ficando por aqui,
evitando, desviando,
sempre pensando,
se por acaso a gente se cruzasse

Antroposofia*, um desafio
Marina Fernandes Calache Rudolf Steiner aborda em um de seus livros que, se pudesse, a cada dia ele chamaria a Antroposofia de um modo diferente, para que ela não se cristalizasse em torno de um conceito, tão viva e dinâmica deve ser ela. Durante este ano, desde março, vocês leitores do Peregrino puderam ter acesso a um grupo de pessoas e entidades que trabalham em suas diversas áreas, expondo seus pensamentos todos apoiados na visão antroposófica.
A intenção do grupo sempre foi a de aproximar este conjunto de ideias, esta maneira de olhar o mundo, numa oportunidade de fazer chegar a um número maior de pessoas, de se tornar mais próximo, mais conhecido. Ao lado da carreira profissional também acontece o desenvolvimento pessoal; quem se entrega a esses conteúdos também é exigente consigo mesmo. Para fazer este caminho Steiner estabeleceu alguns passos que, se olharmos os dias atuais, veremos o quanto precisamos deles. Se faz necessário a prática de algumas qualidades anímicas para que possamos fazer frente a variedade de problemas e decisões em que devemos atuar com consciência, sendo este o primeiro passo a caminho da auto-evolução.
A primeira delas é a calma interior, é a possibilidade de entrarmos em nossa vida anímica e independente do que ocorre fora de nós, nos colocarmos numa situação de calma, sem sermos assolados pela variedade de pensamentos, sem deixarmos que o exterior adentre nesse espaço com sons, luzes, etc. Enfim, é ter o total controle desse espaço interno e só permitir a calma.
A segunda é a intensa observação do mundo, observar sem se derramar em conceitos e preconceitos sobre as coisas do mundo, observar uma planta, uma pessoa, uma paisagem, o céu, a água, e nessa observação se abster de si, deixar o objeto observado mostrar as leis inerentes a ele.
A terceira é a serena observação dos próprios atos, colocar-se como objeto de observação e tanto quanto conseguirmos observar desprovido de sentimentalismos.
O quarto é a imparcialidade em relação às outras pessoas, agir imparcialmente significa isentarmo-nos dos sentimentos que nos ligam ás pessoas e somente perceber os atos que devem, estes sim, estarem vinculados a um código de valores desenvolvidos durante a vida.
A quinta é a tolerância ao encarar opiniões, saber ouvir pontos de vista contrários com respeito e tolerância, manter-se sereno, sem levar as opiniões para o âmbito pessoal. A sexta são os calorosos sentimentos positivos com relação ao outro, este é o sentimento de quem se alegra com o desenvolvimento do outro, esperar sempre o melhor do outro.
A sétima é a gratidão pelo que se tem recebido do mundo e do outro, esta qualidade nos coloca num caminho de abertura para com o mundo e para com os outros.
A oitava é a equanimidade de sentimentos sem tornar-se frio, ter equilíbrio, não se deixar arrastar pelos sentimentos provocados pelas experiências, não subir nas nuvens quando tudo está bom, nem descer ao fundo do poço quando nada corre bem, perceber que nós não somos àquele momento, nós estamos nele, não fazê-lo maior do que é, e preservarmos o que somos.
Estas são qualidades que se forem desenvolvidas com determinação livre e seguida de forma persistente se torna parte do próprio caráter, transformando a pessoa em um ser melhor. A importância disso é reconhecida por qualquer um. Por agora ficarei somente com esse primeiro passo, que se conseguir ser efetuado fará do nosso mundo um lugar melhor.
Marina Fernandes Calache: Pedagogia Curativa, Terapeuta do Movimento, Visão Ampliada pela Antroposofia
Fonte: Antroposophy

Nota: O que é a antroposofia?
É uma filosofia introduzida no início do século 20 pelo austríaco Rudolf Steiner, que busca ter uma visão mais global do indivíduo. Isso significa que os profissionais que atuam baseados nesta filosofia, buscam olhar para além dos aspectos físicos do paciente: eles consideram também as emoções, a ligação com o Universo e a forma como essa pessoa conduz a sua vida e a sua vitalidade. Resumindo, são profissionais que olham para a disposição do sujeito, que pode estar prejudicada se todos estes fatores não estiverem em harmonia, abrindo espaço para o surgimento de doenças.
Este vídeo nos faz pensar que, de fato, o verdadeiro amor não tem limites ou fronteiras.
No curta Ami, a ternura é vestida de coragem e toma forma pela abnegação de um pai.
Vejamos.
• Mantenha a pessoa na ignorância de como está seu desempenho. Ela não precisa saber se está indo bem ou mal, se está atendendo às expectativas, e, principalmente, ela não tem porque saber no que ela realmente precisa melhorar.
• Faça-a pensar que o trabalho dela não tem a menor relevância e que qualquer um poderia substituí-la.
• Nunca diga: “por favor”, nem “como vai”, e muito menos “obrigado” para sua equipe.
• Quando vierem te perguntar algo, mantenha os olhos no computador. Responda sem parar o que você estiver fazendo.
• Mude todo o trabalho que ela fez e não dê a menor explicação.
• Não se preocupe em saber da vida pessoal. Se é casado, solteiro ou se está com algum problema sério. Aliás, “nunca” toque nesse assunto, e nem tampouco fale de suas coisas pessoais (essa observação: vale para países latinos).
• Não elogie, não dê “feedback” de reforço – algumas pesquisas sugerem que você deve elogiar quatro vezes mais do que criticar para ter um efeito significativo -. Elogiar pouco, também está valendo.
• Estimule sempre a competição entre os subordinados.
• Nunca admita seus erros ou fraquezas.
• Não seja claro quando pedir alguma coisa, ela é que tem que saber o que é melhor.
• Nunca converse sobre o futuro, as aspirações de carreira, ambições, etc.
• Peça a mesma coisa para pessoas diferentes sem avisá-las. Elas vão acabar descobrindo sozinhas.
• Nunca deixe de mostrar por palavras e atos quem é o chefe por aqui. (fonte da lista)
Alguns dos itens acima fez sentido para você? Então talvez seja o momento de repensar as relações.

A origem da palavra obrigado como forma de agradecimento vem do latim obligatus,
particípio do verbo obligare, ligar, amarrar. É a forma abreviada da expressão fico-lhe
obrigado, ou seja, fico-lhe ligado pelo favor que me fez.
Quando nos tornamos devedores de outrem por serviço que nos foi prestado, criamos
um elo de ligação, mesmo que momentâneo.
Já a gratidão vem do latim “gratia”, que significa literalmente graça, ou gratus, que se
traduz como agradável. Significa reconhecimento agradável por tudo quanto se recebe
ou lhe é reconhecido. É uma emoção, que envolve um sentimento e portanto, não há
obrigações, ligações ou amarrações.

(Trecho de uma palestra proferida por Mia Couto, intitulada ” Da cegueira colectiva à aprendizagem da insensibilidade”, em Maputo/2012)
Durante anos, fui professor. E quando digo isto há uma emoção fortíssima que me atravessa. Eu não sei se há profissão mais nobre do que a de ensinar. E digo ensinar porque existe uma diferença sensível entre ensinar e dar aulas. O professor no sentido de mestre é aquele que dá lições.
Os professores que mais me marcaram na vida foram os que me ensinaram coisas que estavam bem para além da matéria escolar. Não esqueço nunca um professor da escola primária que um dia leu, comovido, um texto escrito por ele mesmo. Logo na declaração da sua intenção nasceu o primeiro espanto: nós, os alunos, é que fazíamos redações, nós é que as líamos em voz alta para ele nos corrigir. Como é que aquele homem grande se sujeitava àquela inversão de papéis? Como é que aceitava fazer algo que só faz quem ainda está a aprender?
Lembro-me como se fosse hoje: o professor era um homem muito alto e seco e, nesse dia, ele subiu ao estrado da sala segurando, nos dedos trémulos, um caderno escolar. E era como se ele se transfigurasse num menino frágil, em flagrante prestação de provas. Parecia um mastro, solitário e desprotegido. Só a sua alma o podia salvar.
Depois, quando anunciou o título da redação veio a surpresa do tema que parecia quase infantil: o professor iria falar das mãos da sua mãe. Éramos crianças e estranhámos que um adulto (e ainda por cima com o estatuto dele) partilhasse connosco esse tipo de sentimento. Mas o que a seguir escutei foi bem mais do que um espanto: ele falava da sua progenitora como eu podia falar da minha própria mãe. Também eu conhecera essas mesmas mãos marcadas pelo trabalho, enrugadas pela dureza da vida, sem nunca conhecerem o bálsamo de nenhum cosmético. No final, o texto acabava sem nenhum artifício, sem nenhuma construção literária. Simplesmente, terminava assim, e eu cito de cor: “é isto que te quero dizer, mãe, dizer-te que me orgulho tanto das tuas mãos calejadas, dizer-te isso agora que não posso senão lembrar o carinho do teu eterno gesto.”
Havia qualquer coisa de profundamente verdadeiro, qualquer coisa diversa naquele texto que o demarcava dos outros textos do manual escolar. É que não surgia ali, em destacado, uma conclusão moral afixada como uma grande proclamação, uma espécie de bandeira hasteada. Aquele momento não foi uma aula. Foi uma lição que sucedeu do mesmo modo como vivemos as coisas mais profundas: aprendemos, sem saber que estamos aprendendo. Lembro este episódio como uma homenagem a todos os professores, a esses abnegados trabalhadores que todos os dias entregam tanto ao futuro deste país.
