“O fim do mundo”, uma crônica de Cecília Meireles

“O fim do mundo”, uma crônica de Cecília Meireles

A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.

Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.

Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.

contioutra.com - "O fim do mundo", uma crônica de Cecília MeirelesOra, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste – mas que importância tem a tristeza das crianças?

Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.

Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.

O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos – além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.

Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.

Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus – dono de todos os mundos – que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos – segundo leio – que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.

Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos – insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.

Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês…


Texto extraído do livro “
Quatro Vozes”, Distribuidora Record de Serviços de Imprensa – Rio de Janeiro, 1998, pág. 73.

Saiba tudo sobre a vida e a obra de Cecília Meireles visitandoBiografias“.

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

“Paciência”, de Lenine – duas versões

“Paciência”, de Lenine – duas versões

Por Luis Gonzaga Fragoso

Uma sutileza perceptível em algumas joias do cancioneiro nacional está na ligação estreita entre letra, melodia e arranjos.

É o que acontece com “Paciência”, de Lenine. Se você tiver o cedê Na Pressão, ficará mais fácil me acompanhar. No final deste texto, transcrevo a letra.

No cedê, a canção foi gravada duas vezes. Uma audição desatenta das duas versões poderá levar o ouvinte à conclusão: “Ué, mas são iguais!”.

Não: a segunda delas tem uma levada mais pop, acentuada pela presença da guitarra. E é mais curta: 56 segundos a menos – uma eternidade, para os padrões da mídia.

No meio da canção, o solo de piano dura 35 segundos na primeira versão; 17, na segunda.

“Paciência” tocou (e toca) no país inteiro: fez parte da trilha sonora de “Vila Madalena”, novela da Globo. No encarte do cedê, vemos que a faixa 3 é a versão “normal”; a faixa 12 foi literalmente batizada de “Versão Vila Madalena”.

Uma hipótese plausível: teria havido um acordo prévio entre o compositor e a gravadora, segundo o qual a canção só poderia entrar na novela caso se adequasse a alguns padrões. Teria de ser regravada, numa versão mais curta e uma “levada mais pop”, menos “cult”.

Até aqui, tudo coerente, nada de extraordinário. Fazer concessões faz parte do meio artístico.

O encanto da brincadeira é que os versos da canção são a ilustração de todo o conjunto – “Será que temos esse tempo pra perder?”, diz a letra. Não, não temos – resposta que é confirmada pelo próprio formato das gravações. Afinal, o ouvinte/internauta jamais ou raramente tem acesso à primeira versão.

No YouTube, tento achar um link com a primeira versão, e nada. Encontro apenas a que toca nas rádios, a chamada “faixa de trabalho”, trilha da novela.

Em compensação, encontro o videoclip abaixo, cujas imagens estão em finíssima sintonia com os versos de “Paciência”: “Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu faço hora, me demoro, vou na valsa. A vida é tão rara…”. Compare-a com a versão da novela (isto é, se você “tiver este tempo pra perder…”).

Divirta-se!

Paciência

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)

Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para, não… a vida não para)

LUIS GONZAGA FRAGOSO

Tradutor e Revisor

[email protected]

Nota da CONTI outra: A publicação do texto acima foi autorizada pelo autor.

“Se”, um poema de Alice Ruiz

“Se”, um poema de Alice Ruiz

Se
Alice Ruiz

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer,
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso,
de noite uma farra
a gente ia viver com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo,
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí, vá ficando por aí,
eu vou ficando por aqui,
evitando, desviando,
sempre pensando,
se por acaso a gente se cruzasse

contioutra.com - "Se", um poema de Alice Ruiz
“ISADORA DUNCAN” by S. Colloredo

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

8 passos da Antroposofia para o caminho da auto-evolução

8 passos da Antroposofia para o caminho da auto-evolução

Antroposofia*, um desafio

Marina Fernandes Calache Rudolf Steiner aborda em um de seus livros que, se pudesse, a cada dia ele chamaria a Antroposofia de um modo diferente, para que ela não se cristalizasse em torno de um conceito, tão viva e dinâmica deve ser ela. Durante este ano, desde março, vocês leitores do Peregrino puderam ter acesso a um grupo de pessoas e entidades que trabalham em suas diversas áreas, expondo seus pensamentos todos apoiados na visão antroposófica.

A intenção do grupo sempre foi a de aproximar este conjunto de ideias, esta maneira de olhar o mundo, numa oportunidade de fazer chegar a um número maior de pessoas, de se tornar mais próximo, mais conhecido. Ao lado da carreira profissional também acontece o desenvolvimento pessoal; quem se entrega a esses conteúdos também é exigente consigo mesmo. Para fazer este caminho Steiner estabeleceu alguns passos que, se olharmos os dias atuais, veremos o quanto precisamos deles. Se faz necessário a prática de algumas qualidades anímicas para que possamos fazer frente a variedade de problemas e decisões em que devemos atuar com consciência, sendo este o primeiro passo a caminho da auto-evolução.

A primeira delas é a calma interior, é a possibilidade de entrarmos em nossa vida anímica e independente do que ocorre fora de nós, nos colocarmos numa situação de calma, sem sermos assolados pela variedade de pensamentos, sem deixarmos que o exterior adentre nesse espaço com sons, luzes, etc. Enfim, é ter o total controle desse espaço interno e só permitir a calma.

A segunda é a intensa observação do mundo, observar sem se derramar em conceitos e preconceitos sobre as coisas do mundo, observar uma planta, uma pessoa, uma paisagem, o céu, a água, e nessa observação se abster de si, deixar o objeto observado mostrar as leis inerentes a ele.

A terceira é a serena observação dos próprios atos, colocar-se como objeto de observação e tanto quanto conseguirmos observar desprovido de sentimentalismos.

O quarto é a imparcialidade em relação às outras pessoas, agir imparcialmente significa isentarmo-nos dos sentimentos que nos ligam ás pessoas e somente perceber os atos que devem, estes sim, estarem vinculados a um código de valores desenvolvidos durante a vida.

A quinta é a tolerância ao encarar opiniões, saber ouvir pontos de vista contrários com respeito e tolerância, manter-se sereno, sem levar as opiniões para o âmbito pessoal. A sexta são os calorosos sentimentos positivos com relação ao outro, este é o sentimento de quem se alegra com o desenvolvimento do outro, esperar sempre o melhor do outro.

A sétima é a gratidão pelo que se tem recebido do mundo e do outro, esta qualidade nos coloca num caminho de abertura para com o mundo e para com os outros.

A  oitava é a equanimidade de sentimentos sem tornar-se frio, ter equilíbrio, não se deixar arrastar pelos sentimentos provocados pelas experiências, não subir nas nuvens quando tudo está bom, nem descer ao fundo do poço quando nada corre bem, perceber que nós não somos àquele momento, nós estamos nele, não fazê-lo maior do que é, e preservarmos o que somos.

Estas são qualidades que se forem desenvolvidas com determinação livre e seguida de forma persistente se torna parte do próprio caráter, transformando a pessoa em um ser melhor. A importância disso é reconhecida por qualquer um. Por agora ficarei somente com esse primeiro passo, que se conseguir ser efetuado fará do nosso mundo um lugar melhor.

Marina Fernandes Calache: Pedagogia Curativa, Terapeuta do Movimento, Visão Ampliada pela Antroposofia

Fonte: Antroposophy

contioutra.com - 8 passos da Antroposofia para o caminho da auto-evolução

Nota: O que é a antroposofia?

É uma filosofia introduzida no início do século 20 pelo austríaco Rudolf Steiner, que busca ter uma visão mais global do indivíduo. Isso significa que os profissionais que atuam baseados nesta filosofia, buscam olhar para além dos aspectos físicos do paciente: eles consideram também as emoções, a ligação com o Universo e a forma como essa pessoa conduz a sua vida e a sua vitalidade. Resumindo, são profissionais que olham para a disposição do sujeito, que pode estar prejudicada se todos estes fatores não estiverem em harmonia, abrindo espaço para o surgimento de doenças.

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Quando o amor de um pai é maior que a própria vida.

Quando o amor de um pai é maior que a própria vida.

Este vídeo nos faz pensar que, de fato, o verdadeiro amor não tem limites ou fronteiras.

No curta Ami, a ternura é vestida de coragem e toma forma pela abnegação de um pai.

Vejamos.

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Como desmotivar pessoas e destruir equipes em 13 passos

Como desmotivar pessoas e destruir equipes em 13 passos

• Mantenha a pessoa na ignorância de como está seu desempenho. Ela não precisa saber se está indo bem ou mal, se está atendendo às expectativas, e, principalmente, ela não tem porque saber no que ela realmente precisa melhorar.

• Faça-a pensar que o trabalho dela não tem a menor relevância e que qualquer um poderia substituí-la.

• Nunca diga: “por favor”, nem “como vai”, e muito menos “obrigado” para sua equipe.

• Quando vierem te perguntar algo, mantenha os olhos no computador. Responda sem parar o que você estiver fazendo.

• Mude todo o trabalho que ela fez e não dê a menor explicação.

• Não se preocupe em saber da vida pessoal. Se é casado, solteiro ou se está com algum problema sério. Aliás, “nunca” toque nesse assunto, e nem tampouco fale de suas coisas pessoais (essa observação: vale para países latinos).

• Não elogie, não dê “feedback” de reforço – algumas pesquisas sugerem que você deve elogiar quatro vezes mais do que criticar para ter um efeito significativo -. Elogiar pouco, também está valendo.

• Estimule sempre a competição entre os subordinados.

• Nunca admita seus erros ou fraquezas.

• Não seja claro quando pedir alguma coisa, ela é que tem que saber o que é melhor.

• Nunca converse sobre o futuro, as aspirações de carreira, ambições, etc.

• Peça a mesma coisa para pessoas diferentes sem avisá-las. Elas vão acabar descobrindo sozinhas.

• Nunca deixe de mostrar por palavras e atos quem é o chefe por aqui. (fonte da lista)

Alguns dos itens acima fez sentido para você? Então talvez seja o momento de repensar as relações.

contioutra.com - Como desmotivar pessoas e destruir equipes em 13 passos

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

A diferença entre obrigado e gratidão

A diferença entre obrigado e gratidão

A origem da palavra obrigado como forma de agradecimento vem do latim obligatus,
particípio do verbo obligare, ligar, amarrar. É a forma abreviada da expressão fico-lhe
obrigado, ou seja, fico-lhe ligado pelo favor que me fez.

Quando nos tornamos devedores de outrem por serviço que nos foi prestado, criamos
um elo de ligação, mesmo que momentâneo.

Já a gratidão vem do latim “gratia”, que significa literalmente graça, ou gratus, que se
traduz como agradável. Significa reconhecimento agradável por tudo quanto se recebe
ou lhe é reconhecido. É uma emoção, que envolve um sentimento e portanto, não há
obrigações, ligações ou amarrações.

contioutra.com - A diferença entre obrigado e gratidão

Memórias do aluno Mia Couto

Memórias do aluno Mia Couto

(Trecho de uma palestra proferida por Mia Couto, intitulada ” Da cegueira colectiva à aprendizagem da insensibilidade”, em Maputo/2012)

Durante anos, fui professor. E quando digo isto há uma emoção fortíssima que me atravessa. Eu não sei se há profissão mais nobre do que a de ensinar. E digo ensinar porque existe uma diferença sensível entre ensinar e dar aulas. O professor no sentido de mestre é aquele que dá lições.

Os professores que mais me marcaram na vida foram os que me ensinaram coisas que estavam bem para além da matéria escolar. Não esqueço nunca um professor da escola primária que um dia leu, comovido, um texto escrito por ele mesmo. Logo na declaração da sua intenção nasceu o primeiro espanto: nós, os alunos, é que fazíamos redações, nós é que as líamos em voz alta para ele nos corrigir. Como é que aquele homem grande se sujeitava àquela inversão de papéis? Como é que aceitava fazer algo que só faz quem ainda está a aprender?

Lembro-me como se fosse hoje: o professor era um homem muito alto e seco e, nesse dia, ele subiu ao estrado da sala segurando, nos dedos trémulos, um caderno escolar. E era como se ele se transfigurasse num menino frágil, em flagrante prestação de provas. Parecia um mastro, solitário e desprotegido. Só a sua alma o podia salvar.

Depois, quando anunciou o título da redação veio a surpresa do tema que parecia quase infantil: o professor iria falar das mãos da sua mãe. Éramos crianças e estranhámos que um adulto (e ainda por cima com o estatuto dele) partilhasse connosco esse tipo de sentimento. Mas o que a seguir escutei foi bem mais do que um espanto: ele falava da sua progenitora como eu podia falar da minha própria mãe. Também eu conhecera essas mesmas mãos marcadas pelo trabalho, enrugadas pela dureza da vida, sem nunca conhecerem o bálsamo de nenhum cosmético. No final, o texto acabava sem nenhum artifício, sem nenhuma construção literária. Simplesmente, terminava assim, e eu cito de cor: “é isto que te quero dizer, mãe, dizer-te que me orgulho tanto das tuas mãos calejadas, dizer-te isso agora que não posso senão lembrar o carinho do teu eterno gesto.”

Havia qualquer coisa de profundamente verdadeiro, qualquer coisa diversa naquele texto que o demarcava dos outros textos do manual escolar. É que não surgia ali, em destacado, uma conclusão moral afixada como uma grande proclamação, uma espécie de bandeira hasteada. Aquele momento não foi uma aula. Foi uma lição que sucedeu do mesmo modo como vivemos as coisas mais profundas: aprendemos, sem saber que estamos aprendendo. Lembro este episódio como uma homenagem a todos os professores, a esses abnegados trabalhadores que todos os dias entregam tanto ao futuro deste país.

[sociallocker id=”25408″]http://www.cd25a.uc.pt/media/pdf/Textos%20jornalisticos/dacegueiracolectiva.pdf[/sociallocker]

contioutra.com - Memórias do aluno Mia Couto

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Queremos ser normais ou bem comportados?

Queremos ser normais ou bem comportados?
Agnes (Despicable Me)

Fonte Revista Carta Capital

Tivemos sorte por não ver visionários como Einstein, Newton e Beethoven em uma sala de aula. Com dificuldade de aprendizado, seriam transformados em bons alunos, diagnosticados e medicados.

_______

“Foco” é a palavra de ordem nas escolas e no mercado de trabalho. Para vencer na vida, a dispersão de atenção para outros interesses além das tarefas do dia a dia é não apenas mal vista: é diagnosticável como um transtorno mental passível de cura. De acordo com uma ala da psiquiatria, essa ideia de “transtorno” parte de duas premissas. Uma é semântica. Ela suaviza a ideia de “doença mental” e passa a ser usada como uma espécie de identidade psíquica por meio de nomenclaturas como “TOC”, “TDAH”, “hiperatividade”, “bipolaridade”, “ansiedade” e “transtornos de humor”.

A outra dita que, por trás da desordem, existe uma ordem. Nesta ordem, o estudante estuda e o trabalhador trabalha. Em nome dela nos medicamos. Cada vez mais e, segundo especialistas, sem que sejam levados em conta os impactos, para as crianças e suas famílias, do diagnóstico e da medicação.

Quem analisa os índices de tratamento à base de drogas psicoativas imagina que o planeta enfrenta hoje uma “epidemia” de transtornos mentais. Nos EUA, uma em cada 76 pessoas são hoje consideradas incapacitadas por algum tipo de transtorno – em 1987, este índice era de uma em cada 184 americanos. O número de casos registrados aumentou 35 vezes desde então.

contioutra.com - Queremos ser normais ou bem comportados?
Agnes (Despicable Me)

Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, 46% da população se enquadrariam nos critérios de doenças estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria. Tais diagnósticos criaram um mercado poderoso de medicamentos psicoativos – o que significa medicar tanto pacientes com crises agudas de ansiedade até crianças diagnosticada com grau leve de “hiperatividade” ou “espectro de autismo”, a chamada síndrome de Asperger. Essas crianças precisam manter o “foco” na sala de aula se quiserem ter alguma chance de passar no vestibular.

A pressão sobre elas em um mundo cada vez mais competitivo cria um consumidor fidelizado: a criança que hoje precisa de medicamento para se manter em alerta será, no futuro, o adulto dependente de medicamentos para dormir. Essa pressão, apontam estudos, tem origem na sala de aula, passa pela sala da direção, chega aos pais como advertência e desemboca na sala do psiquiatra, incumbido da missão de enquadrar o sujeito a uma vida sem desordem.

Mas como cada categoria de transtorno mental é construída e delimitada? Quais pressupostos fazem com que determinados comportamentos e/ou estados emocionais sejam considerados normais e outros, não? Quem definiu que uma criança com foco na sala de aula é normal e uma desconcentrada é anormal? Qual é, enfim, a “ordem” que a prática psiquiátrica visa a garantir?

Se for esta a normalidade que tanto buscamos, o mundo teve sorte por não ver visionários como Bill Gates, Einstein, Newton e Beethoven em uma sala de aula nos dias atuais. Todos eles tinham dificuldade em socialização, comunicação e aprendizado. Sofriam, em algum grau, de espectro de autismo, e seriam facilmente transformados em bons alunos, diagnosticados, tratados e medicados. O mundo perderia quatro gênios, mas ganharia excelentes funcionários-padrão, contentes e domesticados.

Para tratar do tema o psicanalista Mário Eduardo Costa Pereira, da Unicamp, critica o uso do diagnóstico clínico na psiquiatria para tentar adaptar o sujeito a uma vida de regras pouco questionadas.

Timidez e dependência do olhar

Timidez e dependência do olhar

Por Silvana Schultze

do blog www.meunomenai.com

O olhar do outro sobre uma pessoa tímida pode produzir sofrimento, tais como embaraço e humilhação. O pesquisador Julio Verztman, autor do estudo “Embaraço, humilhação e transparência psíquica: o tímido e sua dependência do olhar”, discute em seu artigo os impasses experimentados pelo sujeito caracterizado como tímido na sua relação com o olhar.

O autor destaca que no projeto-piloto da pesquisa, que envolveu o atendimento a dois pacientes com o diagnóstico de fobia social, duas possibilidades de experiência da vergonha chamaram a atenção: a vergonha vivida como embaraço e a vergonha vivida como humilhação.

contioutra.com - Timidez e dependência do olharO paciente um, que sentia vergonha como embaraço, conseguia nomear alguns de seus medos diante da exposição ao olhar do outro, e também era capaz de evitar situações nas quais poderia sentir vergonha. “O motivo de sua vergonha lhe escapava inteiramente, e não percebia qualquer animosidade intencional no outro, mesmo que isto fosse constantemente temido”, ressalta o pesquisador. O paciente dois, que sentia vergonha como humilhação, ao contrário, era muito mais retraído e desconfiado. “Ele não conseguia sequer definir o que sentia e se precavia permanentemente da possibilidade palpável de sofrer humilhação intencional por parte do outro”, descreve Julio Verztman.

O autor aponta ainda que o tímido sente-se constantemente como um réu durante um julgamento, o julgamento do olhar do outro. Neste julgamento, qualquer gesto ou texto do tímido o coloca mais ainda em evidência. Citando outro pesquisador, J. F. Costa, autor do estudo “Os sobrenomes da vergonha: depressão e narcisismo”, Julio Verztman ressalta que as pessoas envergonhadas enfrentam um paradoxo: ao mesmo tempo em que querem ser reconhecidos como objeto de investimento de outra pessoa, temem não corresponder às expectativas que acreditam que essa outra pessoa tem sobre eles. Em síntese, o tímido nem quer ser visto nem quer deixar de ser visto.

[sociallocker]http://www.scielo.br/pdf/agora/v17nspe/11.pdf[/sociallocker]

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Ubuntu: humanidade para com os outros

Ubuntu: humanidade para com os outros

Ubuntu é uma ética ou ideologia de África (de toda a África). É uma filosofia africana que existe em vários países de África que foca nas alianças e relacionamento das pessoas umas com as outras. A palavra vem das línguas dos povos Banto; na África do Sul nas línguas Zulu e Xhosa. Ubuntu é tido como um conceito tradicional africano.

Uma tentativa de tradução para a Língua Portuguesa poderia ser “humanidade para com os outros”. Uma outra tradução poderia ser “a crença no compartilhamento que conecta toda a humanidade”e ainda “Sou o que sou pelo que nós somos”.[carece de fontes]
Uma tentativa de definição mais longa foi feita pelo Arcebispo Desmond Tutu:
Uma pessoa com ubuntu está aberta e disponível aos outros, não-preocupada em julgar os outros como bons ou maus, e tem consciência de que faz parte de algo maior e que é tão diminuída quanto seus semelhantes que são diminuídos ou humilhados, torturados ou oprimidos.

Conheça o grupo Ubuntu no Facebook

contioutra.com - Ubuntu: humanidade para com os outros
Photographer MICHELE ZOUSMER

10 razões pelas quais você precisa de pelo menos 8 abraços por dia

10 razões pelas quais você precisa de pelo menos 8 abraços por dia

“Quando foi a última vez que tiveste um abraço? Não digo um daqueles abraços falsos, um bocado forçados, tipo saudação social, mas um verdadeiro abraço, sincero, honesto e bom? Espero que não tenha sido há muito tempo. Nunca subestime os benefícios de um abraço. Um abraço pode fazer-nos sentir muito melhor e contribuir para o nosso bem-estar, verdadeiramente. Os Abraços realmente têm um poder incrível!

Mesmo quando não há ninguém por perto para nos abraçar ou para abraçarmos, podemos obter algum conforto abraçando uma almofada, um animal de estimação, um peluche ou mesmo uma árvore. Quantas vezes já viste uma criança a abraçar um urso de peluche ou a sua boneca favorita? Isso dá-lhes uma sensação de segurança e fá-los sentir melhor. Embora a maioria dos adultos não admita isso, eles também provavelmente tem um objecto favorito para recorrer ou um animal de estimação, quando não há parceiro abraço humano nas proximidades. Os Abraços são terapêuticos!” (Ser único)

contioutra.com - 10 razões pelas quais você precisa de pelo menos 8 abraços por dia

Para Marcus Julian Felicetti a Terapia do Abraço é definitivamente um poderoso caminho para cura. Pesquisas mostram que o abraço (assim como o riso) é extremamente eficaz na cura de mal estares, solidão, depressão, ansiedade e estresse. Além disso, que um abraço apertado onde os corações são pressionados junto ao peito, podem trazer benefícios nas seguintes situações:

  1. O toque carinhoso de um abraço gera confiança e senso de segurança. – o que ajuda na possibilidade de uma comunicação entre o receptor e o doador do abraço..
  2. Abraços podem aumentar instantaneamente os níveis de oxigênio no sangue reduzindo sentimentos de solidão, isolamento e raiva.
  3. Um abraço apertado e longo eleva os níveis de serotonina, melhorando o humor e criando sentimento de felicidade.
  4. Abraços reforçam o sistema imunológico. Uma pressão suave sobre o esterno gera uma carga emocional que ativa o chakra plexo solar ², estimula a glândula do timo que regula e equilibra a produção de leucócitos (células brancas do sangue) e que por sua vez, mantém uma pessoa saudável e livre de doenças.
  5. Abraços aumentam a autoestima. Desde o momento do nascimento o toque de pessoas da família nos ensina que somos amados e especiais. A associação do amor próprio e sensações táteis guardadas desde a tenra idade ainda continuam gravadas no sistema nervoso de adultos. Afagos que recebemos do pai e da mãe durante o crescimento ficam impressos no nível das células. Abraços, portanto, nos conectam à nossa capacidade de amor próprio.
  6. Abraços relaxam os músculos e aliviam tensões no corpo. Abraços podem aliviar dores pelo aumento de circulação nos tecidos moles.
  7. Abraços equilibram o sistema nervoso. Respostas galvânicas da pele de alguém que recebe ou dá um abraço mostram alterações na condutância da pele.  O efeito da umidade e da eletricidade na pele sugerem um melhor equilíbrio no sistema nervoso parasimpático.
  8. Abraços são lições de como dar e receber. Abraços nos ensinam que o amor flui nos dois sentidos entre quem dá e quem recebe.
  9. Abraços são muito semelhantes à meditação e ao riso. Eles nos ensinam a viver o momento presente. Eles nos encorajam a fazer fluir a energia da vida. Abraços nos tiram de pensamentos circulares e nos conectam com o coração, os sentimentos e a respiração.
  10. A troca de energia entre pessoas que se abraçam é um investimento no relacionamento. Ela encoraja a empatia e o entendimento. E, é sinérgico, o que significa que o resultado final é maior que a somas das partes. Esta sinergia produz relacionamentos do tipo “ganha-ganha”, onde todos ganham – quem dá e quem recebe. (Tradução dos tópicos via: Terceira Idade Melhor)

Como diz Virginia Satir ³, a respeitável terapeuta de família:

“Precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver.

Precisamos de 8 abraços por dia para nos manter.

Precisamos de 12 abraços por dia para crescer. “

E, um complemento aqui com uma nota da CONTIoutra, mesmo quem aparentemente poderia não querer ou não conseguir ter contato físico, pode ter necessidade ou interesse no abraço. Lembrem-se da história e/ou filme sobre a autista savant Temple Graudin onde uma de suas invenções foi uma “máquina do abraço”.

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Aimee Mullins e seus 12 pares de pernas

Aimee Mullins e seus 12 pares de pernas

A atleta, atriz e ativista Aimee Mullins fala de suas pernas protéticas – ela tem 12 incríveis pares – e dos superpoderes que elas a oferecem: velocidade, beleza, 15 centímetros a mais de altura. De maneira bem simples, ela redefine o que o corpo pode ser.

“A poesia é o que eleva o objeto banal e negligenciado a um reino de arte.

Ela pode transformar aquilo que amedronta as pessoas

em algo que as convide a olhar

e olhar um pouco mais.

E talvez até entender”

Aimee Mullins

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

Cansado da rotina? Pare tudo e ouça as palavras de David Foster Wallace.

Cansado da rotina? Pare tudo e ouça as palavras de David Foster Wallace.

A rotina pode ensandecer. Pode nos tirar o brilho dos olhos e a sede de vida. Mas ela só fará isso se você assim o permitir.

“Você escolhe”: essa é a palestra de David Foster Wallace, proferida em 2005, aos formandos da Kenyon College. Assim, você decide entre irritar-se, angustiar-se pela rotina ou buscar a “unidade mística com todas as coisas”.

Uma fala repleta de verdade, chamando-nos à responsabilidade por nossas escolhas cotidianas e contínuas.

Nota: Em 2008, David Foster Wallace suicidou-se após duas décadas às voltas com a depressão. Sua obra literária tem sido apontada como uma das coisas mais inteligentes produzidas nas últimas décadas.

Você achou esse conteúdo relevante? Compartilhe!

INDICADOS